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DIÁLOGOS COM MARIA HELENA CAMARA BASTOS: A EXPERIÊNCIA DO DIZER FRENTE À MEMÓRIA DE UMA HISTORIADORA BRASILEIRA DA EDUCAÇÃO

DIÁLOGOS CON MARIA HELENA CAMARA BASTOS: LA EXPERIENCIA DEL DECIR FRENTE A LA MEMORIA DE UNA HISTORIADORA DE LA EDUCACIÓN BRASILEÑA.

DIALOGUES WITH MARIA HELENA CAMARA BASTOS: THE EXPERIENCE OF SAYING IN FRONT OF THE MEMORY OF A BRAZILIAN HISTORIAN OF EDUCATION.

DIALOGUES AVEC MARIA HELENA CAMARA BASTOS: L'EXPÉRIENCE DE DIRE DEVANT LA MÉMOIRE D'UNE HISTORIENNE BRÉSILIENNE DE L'ÉDUCATION.

INTRODUÇÃO

Maria Helena Camara Bastos, é uma das eminentes historiadoras, doutora em Educação que, desde a década de 1990, transita no cenário da pesquisa nacional em História da Educação. Ainda bem jovem, iniciou sua promissora carreira de docente e pesquisadora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade de Passo Fundo (UPF). Posteriormente, após sua aposentadoria na UFRGS, continuou sua carreira na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Sua experiência e respeitabilidade a credenciou como professora visitante em importantes universidades europeias, tais como, Université Paris Descartes (França), Università degli Studi di Macerata e Univesità degli Studi del Molise (Itália), mas, também, teve uma rápida passagem no Instituto Superior Politécnico Sol Nascente (Angola). Ademais associou suas pesquisas ao Institute National de Recerche Pedagogique (INRP, França), ao Instituto da Educação de Lisboa (Portugal) e ao Centro Internacional de la Cultura Escolar (CEINCE, Espanha). Seu reconhecimento como historiadora que se preocupou em investigar os fenômenos educacionais é responsável pela formação de quase uma centena de nova(o)s pesquisadora(e)s, entre mestres e doutores, que atuam no campo da História da Educação.

1 NO INÍCIO DA TUA TRAJETÓRIA ACADÊMICA É POSSÍVEL CONSIDERAR COMO SE DEU A TUA APROXIMAÇÃO COM O CAMPO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, QUANDO SE PREOCUPOU EM CONTEXTUALIZAR A CULTURA DOS EXAMES PARCELADOS DO SÉCULO XIX, PARA MELHOR EXPLICAR OS EXAMES SUPLETIVOS DE 1º GRAU, JÁ SÉCULO XX. POR SER TEU PRIMEIRO FÔLEGO, NOTAMOS UMA CERTA TIMIDEZ NESSE TRABALHO SE O COMPARAMOS AO MARCO QUE FOI A TUA PESQUISA SOBRE A REVISTA DE ENSINO DO RIO GRANDE DO SUL, CONSIDERADA ATÉ HOJE UMA IMPORTANTE REFERÊNCIA DE NOSSA HISTORIOGRAFIA. COMO VOCÊ EXPLICA ESTE DESLOCAMENTO NA TUA TRAJETÓRIA DE PESQUISA QUE DEIXA OS ESTUDOS SOBRE PLANEJAMENTO ESCOLAR E ABRAÇA A IMPRENSA PERIÓDICA NO CONTEXTO DO MOVIMENTO ESCOLANOVISMO NO RIO GRANDE DO SUL À ÉPOCA DO ESTADO NOVO? O QUE FOI DETERMINANTE PARA REALIZAR ESSA MUDANÇA?

Fiz Licenciatura Plena em História na UFRGS (1969 -1972). Quando cursei as disciplinas de formação docente na Faculdade de Educação, entrei em contato com professores da licenciatura e que também atuavam no Colégio de Aplicação, onde frequentei o Clássico (1966-1968). Desse contato, houve a oportunidade de atuar como docente na 6º série do ensino fundamental - classe polivalente1 1 A polivalência de 6ª série no Colégio de Aplicação, tinha sua história vinculada ao antigo ginásio (Lei nº 4024/61), quando os alunos ingressavam na Escola, oriundos do primário realizado em diferentes estabelecimentos de ensino, onde esse nível de ensino se caracterizava por ter um professor em sala de aula (unidocência). Havia a crença de que, aos alunos que entravam nesse novo ambiente escolar, para melhor integrarem-se aos princípios educativos e à dinâmica escolar, o mais indicado era terem o acompanhamento constante de um professor, com formação em nível superior. Essa experiência vinha se realizando desde 1964. Cumpre ainda assinalar o papel que o Colégio de Aplicação desempenhou como escola-laboratório e de ensino de excelência, durante muitos anos, como polo formador e espaço de passagem para um grande contingente de professores que compuseram/compõem o corpo docente da Faculdade de Educação e de outras faculdades, institutos e escolas superiores (BASTOS, 2002). - do Colégio de Aplicação, onde permaneci até 1982. Paralelamente a essa atividade, iniciei a docência no ensino superior: No Programa de Melhoria do Ensino Médio/ Premem; no Ciclo Básico da UFRGS, com a disciplina: Introdução à Sociologia (1976-77); Faculdade La Salle; Laboratório de Ensino Superior/LES (1978-1982). Em 1979, com a vinculação institucional do LES ao Departamento de Estudos Especializados (DEE/FACED) e a integração da equipe de professores ao quadro docente do departamento, fui escalada, devido a formação em História, para atuar na área de Administração da Educação, ministrando a disciplina Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º e 2º Graus (1979-1995). Nas minhas aulas de EstruFunc, sempre busquei abordar a historicidade das reformas e legislações educacionais no Brasil, foco central da disciplina.

Em 1982, ingressei no Programa de Pós-graduação em Educação (FACED/UFRGS), na área de Planejamento da Educação. Na dissertação de mestrado -“Os Deserdados da Educação Brasileira: Análise das Expectativas da Clientela aos Exames Supletivos” (1984), privilegiei estudar a exclusão produzida pelos exames supletivos de 1º grau, eliminando grande parcela de sua clientela e criando, assim, um afunilamento no acesso às oportunidades educacionais e ocupacionais, apesar de o discurso oficial afirmar o contrário (BASTOS, 1986BASTOS, Maria Helena Camara [HILDEBRAND, Maria Helena Bastos ]. Deserdados da Educação Brasileira: Análise das Expectativas da Clientela aos Exames Supletivos de 1º Grau. Educação em Revista, Belo Horizonte, n. 4, p. 18-21, 1986. ). Ao realizar estudos sobre a história da suplência - exames - na educação brasileira, identificando sua presença no século XIX, com os primeiros preparatórios ou exames parcelados, constatei um incipiente número de estudos e pesquisas sobre a História da Educação Brasileira, a precária conservação de documentos e difícil localização de fontes. Depois de uma década em que adentrei por diferentes campos das Ciências Humanas: sociologia, educação, estudos sociais, e outros, procurei retomar a minha formação em História, ainda timidamente.

A meta de realização de um Doutorado já havia sido estabelecida após a conclusão do Mestrado. Algumas condições precisavam ser colocadas: teria de ser na área da História da Educação e realizar-se fora da UFRGS, pois toda a minha formação e vida profissional vinham sendo desenvolvidas nesse contexto. Sentia necessidade de sair, viver outras experiências, a fim de que pudesse refletir sobre a minha prática docente, entrar em contato com outras realidades. Alguns entraves haviam para a perspectiva de realização no exterior: a vida familiar. Em 1986, procurei contato com os programas de pós-graduação em educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUCRJ), tendo em vista o fato de meus pais morarem no Rio de Janeiro. Com o divórcio (1987), retomei o projeto do Doutorado, mas dessa vez fui buscar informações na Universidade de São Paulo (USP), pois havia a área de História e Filosofia da Educação, credenciado pela CAPES/MEC. Realmente, o doutorado na USP (1988-1994) é o marco de minha inserção na área de História da Educação.

Iniciei o Doutorado, sob orientação do professor Celso de Rui Beisiegel e ficou acordado que, no momento oportuno, passaria para a orientação da professora Dra. Marta Maria Chagas de Carvalho, pelas vinculações com a área de conhecimento. O projeto de pesquisa submetido para ingresso foi “Uma leitura do pensamento político-pedagógico rio-grandense: três décadas da REVISTA DO ENSINO (1939-1978)”. Em 1986, quando da realização da pesquisa sobre “A Formação de Professores para a Educação Especial no Rio Grande do Sul (1954-1985)”, tomei contato com a Revista do Ensino, com a qual havia convivido no período ginasial. A proposta do INEP - Memória da Educação Brasileira (1984), levou-me a privilegiar esse periódico, que significativa presença teve nos meios educacionais regional, nacional e internacional.

Na constituição do campo para análise do objeto de pesquisa - Revista do Ensino - foi fundamental o estágio realizado no Service d´Histoire de l´Education2 2 Importante assinalar que meu contato inicial decorreu da leitura do artigo da historiadora da educação Eliane Teixeira Lopes (Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG) sobre o Service d’Histoire de l’Éducation, quando cursava o primeiro ano de doutorado. (LOPES, 1988). , do INRP/França (2 de janeiro a 28 de fevereiro de 1990), sob orientação do M. Pierre Caspard, coordenador do SHE e da linha de pesquisa: A Imprensa da Educação e do ensino do século XVIII a 1940. É importante assinalar que, a partir dos anos 1970, “se amplia a preocupação da escrita da História da imprensa por meio da imprensa, tomando os periódicos como objeto e sujeito da pesquisa histórica” (DE LUCA, 2005DE LUCA, Tania Regina. História dos, nos e por meio de periódicos. In: PINSKI, Carla Bassanezi (org.). Fontes Históricas, São Paulo, Contexto, 2005. , p.111). Esse movimento também pode ser observado na área da história da educação, a partir dos anos 1980, com as primeiras pesquisas (teses e dissertações) que tomam os impressos de educação e ensino editados pelo Estado, por associações docentes, escolas normais e outros, visando à formação docente. Para Nóvoa (1999NÓVOA, António (org.). Profissão Professor. Porto/PT: Porto editora, 1999., p.31), “a imprensa é, provavelmente, o dispositivo que facilita um melhor conhecimento das realidades educativas, uma vez que manifestam, de um ou outro modo, o conjunto dos problemas dessa área”. Considera que é “difícil imaginar um meio mais útil para compreender as relações entre teoria e prática, entre projetos e as realidades, entre tradição e inovação”.

Quando se submete um projeto de pesquisa, temos a tendência de superestimar o tempo e o volume de informações a serem analisadas. A Tese final abarcou somente o período que a revista foi editada no Estado Novo, de 1937 a 1942, quando era de responsabilidade da Universidade de Porto Alegre (então estadual, hoje UFRGS), por professores do ensino superior e do Instituto de Educação Gen. Flores da Cunha. A tese intitulada “O Novo e o Nacional em REvista: A Revista do Ensino do Rio Grande do Sul (1939-1942)”, foi defendida em 1994, publicada como livro somente em 2005.

Essa pesquisa continuou em andamento, envolvendo a segunda fase da Revista do Ensino (1951-1978), tendo resultado em artigos e capítulos de livro. Foi ampliada para o estudo da revista “Cacique: a revista da garotada gaúcha (1954-1963)”, também editada pelas professoras primárias da Secretaria de Educação/RS.

Foi com o doutorado, finalmente, que me inseri no campo da História da Educação, como disciplina e área de pesquisa. Em 1995, fiz concurso para professor titular no Departamento de Estudos Básicos para ministrar a disciplina História da Educação, que é a área que atuo desde então. Sem sombra de dúvida, a História foi fundamental, mas a inserção na área da Educação foi importante para adentrar nos saberes escolares, vivenciar a cultura escolar e as práticas educativas. São dois aportes que parecem diferentes, mas que se completam, ao pesquisador cabe articular de acordo com seu objeto de pesquisa.

Em 1996, ingressei no Programa de Pós-graduação em Educação da UFRGS e, em 1997, como pesquisadora junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), cadastrada como 2C na época, onde permaneço como pesquisadora 1B. Para os jovens pesquisadores, mesmo em tempos de crise, gostaria de aconselhar que não desistam nas primeiras avaliações de seus projetos, mas persistam, pois somente ingressei depois de três tentativas. Conheço casos de quatro e até cinco submissões. Façam recursos bem argumentados. O meu primeiro pós-doutoramento na França, o pedido foi negado, elaborei um recurso com argumentos que considerei consistentes e foi aprovado.

A UFRGS foi a principal instituição que me formou e profissionalizou, desde o Clássico do Colégio de Aplicação até o Pós-graduação, como professora, orientadora e pesquisadora. A partir dessa significativa experiência pessoal e acadêmica, fui chamada a atuar em outras Universidades gaúchas, após minha aposentadoria: a UFP, onde participei do início do curso de Mestrado em Educação, em 1997; igualmente na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), em 1999; e, por fim, na PUCRS, em que permaneci de 2002 a 2019.

2. HÁ DÉCADAS, TUAS RELAÇÕES COM A ACADEMIA FRANCESA SÃO BASTANTE PROFÍCUAS, EM ESPECIAL COM O CENTRE INTERNACIONAL D’ÉTUDES PÉDAGOGIQUES, O SERVICE D´HISTOIRE DE L´ÉDUCATION (SHE) DO INSTITUT NATIONAL DE RECHERCHE PÉDAGOGIQUE (INRP) E A UNIVERSITÉ RENÉ DESCARTES. COMO FOI CONVIVER COM GRANDES INVESTIGADORAS (E)S DO PORTE DE ANNE-MARIE CHARTIER, MADELEINE COMPÈRE, JEAN HÉBRARD, ALAIN CHOPIN, ANDRÉ CHERVEL, PIERRE CASPARD E DE QUE MODO SEUS CONCEITOS E IDEIAS FORAM IMPORTANTES PARA O TEU OFÍCIO DE HISTORIADORA DA EDUCAÇÃO?

Em 1982, já havia tido a oportunidade de fazer um estágio de aperfeiçoamento para administradores da educação no Centre Internacional d’Études Pédagogiques (CIEP), em Sévres/França (5 de janeiro a 21 de fevereiro). O estágio envolveu informações sobre o sistema educacional francês e visitas a vários estabelecimentos de ensino. Além do que significa uma viagem de estudos - alargamento de horizontes - representou uma grande vivência pessoal, de ampliação de mundo, de reformulações de posturas e perspectivas de vida. Recentemente, escrevi um capítulo de livro sobre a presença brasileira nos cursos do CIEP, no período dos anos 1950 a 1970, quando retornei e fiquei hospedada uma semana pesquisando (BASTOS, 2019BASTOS, Maria Helena Camara. Reflets du Brésil no Centre internacional d’études pédagogiques/Ciep (Sèvres/França - 1945- 1971). In: BOTO, Carlota; AQUINO, Júlio Groppa (orgs.) Democracia, Escola e Infância. São Paulo: USP/Faculdade de Educação, 2019. p. 123-151.).

Na constituição do campo para análise do objeto de pesquisa - Revista do Ensino - foi fundamental o estágio realizado no Service d’Histoire de l’Éducation (SHE), do INRP/França (2 de janeiro a 28 de fevereiro de 1990), sob orientação do M. Pierre Caspard, coordenador do SHE e da linha de pesquisa: A Imprensa da Educação e do ensino do século XVIII a 1940. No início do estágio, Pierre Caspard me recomendou entrar em contato com António Nóvoa, o que fiz por carta (prática usual nessa época). Imediatamente respondeu, enviando o repertório que estava fazendo em Portugal e solicitando contato com os pesquisadores brasileiros do campo, pois tentava isso fazia tempo. Enviei uma lista de pesquisadores, com respectivos endereços, para os quais enviou seu livro. Muitas vezes me disse que esse foi o primeiro contato com os pesquisadores brasileiros e que redundou em profícuas parcerias de encontros, pesquisas e divulgação da produção entre os dois lados do Atlântico. $#91;Até hoje, quando o encontro, lembro esse fato e brinco com ele, pois nunca recebi o seu livro$#93;.

O estágio propiciou contato com os pesquisadores elencados na pergunta e tantos outros. Mas especialmente com pesquisas que utilizavam outros objetos de estudo para analisar a história das instituições escolares, dos professores e suas práticas, do conteúdo de ensino, dos alunos, como o livro didático (Banque EMMANUELLE), o livro de registro de professores, os relatórios dos inspetores de ensino, dos professores; arquivos escolares, cadernos e trabalhos de alunos; mobiliário escolar; jornal escolar, de alunos e professores, livro de ocorrências disciplinares, etc. Considero que SHE foi um espaço fundamental para a constituição e consolidação da pesquisa no Brasil no campo, e, especialmente, na formação de jovens pesquisadores.

Em 1996, o convite para ser Maître de Conference, junto à Universidade René Descartes, em Paris/França, foi o reconhecimento dessa trajetória pessoal e profissional. Esses três meses, em que permaneci pesquisando e participando de reuniões com pesquisadores, significaram um grande crescimento como pesquisadora na área de História da Educação, direcionando as minhas pesquisas para o século XIX: A Gênese do Projeto Republicano para a Educação Brasileira: o discurso e a ação do Dr. Joaquim José de Menezes Vieira - médico e educador (1848-1897), que resultou, em 2002, no livro “Pro Patria laboremus. Joaquim José de Menezes Vieira (1848-1897)” (BASTOS, 2002aBASTOS, Maria Helena Camara. Leituras das famílias brasileiras do século XIX: O Jornal das Famílias (1863-1878). Revista Portuguesa de Educação, v. 15, n.2, p. 169-214, 2002b.).

De 1999 a 2001, fiz meu primeiro estágio de pós-doutoramento junto ao SHE, o qual foi repetido em 2010. Em 2005, fui novamente convidada como Maître de Conference. Esses eventos foram fundamentais para a estreita vinculação com pesquisadores franceses e de outras nacionalidades, pois, como um centro de pesquisa com reconhecimento internacional, permitia o contato com diversos pesquisadores do campo. Cabe ainda assinalar que inúmeros pesquisadores brasileiros em formação e orientadores de dissertação e teses, também frequentaram assiduamente o SHE. Acredito ser importante uma pesquisa sobre a presença brasileira no SHE, desde 1988 até a mudança para Lyon (França).

Também cabe afirmar que mantive contato permanente durante minha vida profissional com o SHE. Essa prática de buscar manter contatos, estreitar parcerias, caracterizou minha prática acadêmica - o persistente convite a pesquisadores da área, nacionais e internacionais (franceses, portugueses, espanhóis, argentinos, chilenos, suíços, belgas e, mais recentemente, italianos) para enviarem artigos, organizarem dossiês, proceder a tradução para publicação em revistas brasileiras. As palavras de Pierre Caspard, em entrevista publicada na revista História da Educação da Associação Sul-Rio-Grandense de Pesquisadores em História da Educação (ASPHE), em 2013, referendam essa afirmação: “As correntes de intercâmbio se prolongaram através de publicações. Umas seis obras e uns quarenta artigos de pesquisadores do SHE foram traduzidos e publicados no Brasil. É necessário salientar, particularmente, o papel desempenhado, neste âmbito, pela revista História da Educação/ASPHE, desde a sua criação”.

3. É POSSÍVEL PERCEBER QUE, ATÉ A DÉCADA DE 1990, NÃO ERA USUAL NA HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA TER A IMPRENSA PERIÓDICA EDUCACIONAL COMO OBJETO DE ESTUDO, MESMO QUE ELA FOSSE POUCO MANUSEADA COMO FONTE DE PESQUISA. ESSA IMPRENSA, EXPLICA VOCÊ, ALÉM DE GUIA PRÁTICO DO COTIDIANO EDUCACIONAL E ESCOLAR, FUNCIONOU COMO INSTRUMENTO DE PESQUISA QUE SE APRESENTAVA COMO IMPORTANTE FONTE DE INFORMAÇÃO PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO. MINHA QUESTÃO ESTÁ DIRECIONADA AS PARTICULARIDADES METODOLÓGICAS QUE ENCONTRASTE NA UTILIZAÇÃO DA IMPRENSA PERIÓDICA EDUCACIONAL COMO DOCUMENTO E OBJETO PARA OS ESTUDOS HISTÓRICOS, E, NESSE SENTIDO, QUAIS FORAM OS CUIDADOS QUE TOMASTE.

Após o doutorado, a imprensa periódica e a de educação e ensino ocupou uma significativa centralidade de minhas pesquisas, tanto com periódicos do século XIX como do XX: com periódicos em geral; impressos de professores, de instituições escolares, de sindicatos, de estudantes, em diferentes níveis de ensino. Os impressos são documentos importantes para analisar a cultura escolar e suas práticas, como instâncias privilegiadas para a apreensão dos modos de funcionamento do campo educacional.

Realizei inúmeros estudos pontuais com a imprensa - A Imprensa do CPERS/Sindicato: uma leitura do pensamento político-pedagógico rio-grandense (1945-1995) e A Organização e a Mobilização Sindical do Magistério Rio-grandense na Imprensa Periódica: Correio do Povo e Zero Hora (1945-1995); A Retórica Acadêmica: um estudo sobre a revista Educação & Realidade da Faculdade de Educação da UFRGS (1976-1995). Quando minhas pesquisas se direcionaram para o século XIX, analisei vários periódicos brasileiros e estrangeiros, que a elite ilustrada lia: Jornal das Famílias (1863-1878); Revista Liga do Ensino (1884); Instrução Pública (1872-1875/1887-1888); Revista Pedagógica (1892-1897); L'Illustration, Journal Universal (1843-1944).

A partir dos anos 2000, o foco tem se centrado em periódicos estudantis. Em 2013, publicamos o dossiê “Escritas estudantis em periódicos escolares” (História da Educação, v.17, 2013), organizado pela professora Maria Teresa Santos Cunha (Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC), com análise de diversos periódicos escolares, de 1910-1970. Os impressos de alunos, em diferentes níveis de ensino, são documentos importantes para analisar a cultura escolar e suas práticas. Na historiografia da História da Educação no Brasil, encontram-se vários estudos com impressos escolares ou impressos estudantis, mas são poucas as pesquisas que privilegiam aqueles produzidos por alunos, de diferentes níveis de ensino - ensino primário, ensino médio e ensino superior - que decorre da sua pouca conservação, pois muitos deles foram manuscritos.

Nessa perspectiva, também situa-se a tentativa de repertoriar a imprensa pedagógica, no Brasil e no Rio Grande do Sul, conforme o trabalho de Pierre Caspard (França), António Nóvoa (Portugal), Denice Cattani (São Paulo), que resultou no ensaio “Alguns apontamentos sobre a Imprensa Pedagógica no Brasil” (1808-1942). Todas essas atividades resultaram na publicação do livro - Educação em Revista. Imprensa Periódica e História da Educação - com organização de Denice Catani e minha (CATANI & BASTOS, 1997CATANI, Denice Bárbara; BASTOS, Maria Helena Camara (orgs.). Educação em revista. A imprensa periódica e a história da educação. São Paulo: Escrituras, 1997.), integrando estudos e pesquisas realizadas na França, Portugal e Brasil (1997), que considero a primeira publicação reunindo estudos e pesquisas com imprensa de educação e ensino no Brasil.

Outro foco de pesquisa tem sido os periódicos do campo da História da Educação, especialmente, da revista História da Educação/ASPHE. E passei a integrar o grupo internacional “Connecting History of Education Working Group”, com pesquisadores de vários países que analisam as tendências de produção no campo. Connecting Education. Global Information of History Education é uma ferramenta científica desenvolvida por FahrenHouse com o objetivo de canalizar, comentários ou opiniões pessoais, os fluxos globais de produção científica e promover o diálogo entre as diferentes tradições historiográficas de educação.

A partir de 2016, decorrente de um estágio de pesquisa na Universidade de Macerata e da Universidade de Molise/Itália, passei a me envolver com a temática da imigração italiana, especialmente, com a imprensa periódica em língua italiana publicada no Brasil. O projeto de pesquisa “A imprensa étnica italiana em Porto Alegre/RS: O jornal Stella d’Italia (1902-1925)” (CNPq, 2019-2023), com o objetivo de analisar a imprensa étnica italiana nas realidades urbanas rio-grandenses, que também acolheram um número significativo de imigrantes italianos. No interior de um projeto de pesquisa mais amplo iniciado em colaboração entre a PUCRS e a Università de Molise na Itália, com o objetivo de lançar um olhar mais atento sobre a capital do estado, Porto Alegre, cenário de numerosas iniciativas editoriais de periódicos em língua italiana, que se sucederam freneticamente até o período do Estado Novo. Em particular, o estudo analisa a contribuição do jornal mais longevo, o bissemanal - depois trissemanal - Stella d’Italia, que de 1902 a 1925, tornou-se o porta-voz mais creditado da numerosa comunidade italiana presente na cidade e no estado. Dirigido pelo milanês Adelchi Colnaghi, o jornal se proclamava independente, partidário dos interesses e das instituições italianas - principalmente de escolas e da educação - no Rio Grande do Sul, e promotor do associativismo italiano. A recente aquisição de todos os exemplares do periódico - fato extremamente raro na realidade brasileira - nos permite começar uma investigação mais sistemática seja pelo quanto se refere aos aspectos editoriais da iniciativa, seja no que diz respeito às orientações assumidas durante o seu longo período de existência. As questões iniciais de pesquisa são: qual a relevância do jornal no panorama das iniciativas editoriais introduzidas no contexto urbano rio-grandense e os conteúdos que se pretendiam evidenciar. Nesse sentido, serão analisadas não apenas as orientações de caráter político mais gerais assumidas pelo jornal, mas também aquelas relativas à outras dimensões da vida social e cultural porto-alegrense, com referência expressiva aos endereços expressos no âmbito das profissões, no campo relativo às iniciativas culturais e no setor escolar e educativo; destacar o papel desempenhado pelo periódico na construção de percursos de memória com a finalidade de reforçar a identidade étnica dos imigrantes italianos, da pequena e média burguesia no contexto dos seus quase quinze anos de publicações no princípio do século XX (BASTOS; BARAUSSE, 2019BASTOS, Maria Helena Camara. BARAUSSE, Alberto. Informing andeducating for Italianess on the pages of "Stellad'Italia" (Porto Alegre1902-1908). History of Education & Children's Literature. v.14, 2, p. 359-388, 2019.).

Esse projeto integra o grupo de pesquisa do CNPq “TRANSFOPRESS Brasil - Grupo de Estudos da Imprensa em língua estrangeira no Brasil”, uma rede de pesquisadores sediada na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) e que congrega pesquisadores de várias instituições brasileiras e estrangeiras, sendo coordenado pelas Profa. Dra. Valéria Guimarães (UNESP) e Profa. Dra. Tania Regina de Luca (UNESP), com o projeto “A imprensa étnica italiana em Porto Alegre/RS: o jornal Stella d’Italia (1902-1925)”, juntamente com o professor Dr. Alberto Barausse, da Universidade de Molise/Itália. Está vinculado à rede internacional TRANSFOPRESS - Transnational Network for the study of foreign language press, sob coordenação geral de sua idealizadora, Profa. Dra. Diana Cooper-Richet do Centre d’Histoire Culturelle des Sociétés Contemporaines - Université de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines (CHCSC-¬UVSQ).

Além da pesquisa com periódicos, devo mencionar que, desde 1997, tenho colaborado intensivamente com a revista História da Educação/ASPHE, espontaneamente ou como editora. Assim como avaliadora Ad Hoc em diferentes revistas do campo da História, da Educação e da História da Educação. Também integro Conselhos editoriais de inúmeras revistas nacionais e estrangeiras. Atualmente, colaboro com a Revista Brasileira de Educação (RBE), como editora associada, no período de 2020 a 2022.

Quanto à questão colocada sobre “as particularidades metodológicas que adotei na utilização da imprensa periódica educacional como documento e objeto para os estudos históricos”, vincularam-se aos postulados teóricos da História Cultural, no contexto da expansão do conceito de documento, percebe-se que esses impressos vêm conquistando cada vez mais espaço na historiografia. Os historiadores passam a se interessar por esses artefatos que, durante muito tempo, guardaram valor apenas como objetos memorialísticos. Estiveram, assim, negligenciados por um modo de entender a História que privilegiava as grandes estruturas e as meta narrativas. Para Chartier (2002, p.62), esses objetos constituem “os novos territórios do historiador por meio da anexação dos territórios dos outros (...)”.

Tomando os impressos em geral e os de educação e ensino como artefatos culturais e significativos como documentos para a construção de uma história da cultura escrita e da história da educação, os aportes teóricos e metodológicos são variados de acordo com as questões colocados pelo pesquisador. Também é importante confrontar com outros documentos (impressos ou não) para enriquecer a análise. Como a imprensa é uma iniciativa de um grupo, a análise deve focar tanto a materialidade- isto é, realizar uma “arqueologia dos objetos em sua materialidade” (CHARTIER, 1990CHARTIER, Roger. História Cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand, 1990.), como o ciclo de vida -da produção, dos atores envolvidos, da circulação, da apropriação dos impressos e as representações veiculadas. Complementando, Christophe Charle (2004CHARLE, Christophe. O nascimento dos intelectuais contemporâneos (1860-1898). História da Educação, Porto Alegre, v. 14, p. 141-156, set. 2003., p.17) também considera a imprensa como objeto de história social, cultural e política, que permite analisar o discurso social e as estratégias editoriais face diversos fenômenos - o público leitor; as mensagens (escolha dos títulos, as seções e sua evolução, a influência das modas estéticas e literárias), e revela-se rico de informações para a construção dos discursos.

Em estudo elaborado sobre pesquisas com impressos estudantis (BASTOS, 2019BASTOS, Maria Helena Camara. Reflets du Brésil no Centre internacional d’études pédagogiques/Ciep (Sèvres/França - 1945- 1971). In: BOTO, Carlota; AQUINO, Júlio Groppa (orgs.) Democracia, Escola e Infância. São Paulo: USP/Faculdade de Educação, 2019. p. 123-151.), constatamos que os suportes teóricos das produções analisadas se vinculavam, preferencialmente, aos referenciais da História Cultural e da História da Cultura Escrita, operacionalizados em diálogos com autores como: Roger Chartier, Peter Burke, Sandra Pesavento, Antonio Castillo Gomez, Veronica Sierra Blas. No âmbito da Cultura Escolar privilegiam-se as interpretações a partir de estudos de Augustin Escolano Benito, Antonio Viñao Frago, Dominique Julia e tantos outros. Por tratar-se de impressos, os estudos sobre história da leitura, são importantes, destacando-se Robert Darnton, Jean-Ives Mollier. A história dos impressos de educação e ensino são enriquecidos pelos diálogos com Pierre Caspard; Pénelope Caspard-Karadys; António Nóvoa; Denice Catani; Tania de Luca.

Para ampliar o foco de pesquisa com esses documentos, há a necessidade premente de realização de repertório de fontes, em nível regional e nacional. Assim como a interlocução com outros pesquisadores em âmbito internacional, constituindo redes, para que se possa avançar nas questões teórico-metodológicas. Também acredito que devemos considerar outras modalidades de imprensa, pela utilização das diferentes mídias: internet, televisão (produção dos alunos em TVs universitárias e/ou educativas), rádio, redes sociais. Considero, ainda, incipiente a análise historiográfica da produção de manuais voltados a orientar a produção de jornais, revistas, boletins, no espaço da sala de aula e/ou institucional, tanto na forma impressa com online.

4. FALASTE, CERTA VEZ, QUE NÃO ERA FIEL A UM ÚNICO OBJETO DE PESQUISA. CONTUDO, NOTA-SE A TUA ATRAÇÃO PELA SEGUNDA METADE DOS OITOCENTOS AO TRATAR, EM ESPECIAL, O ENSINO MÚTUO, QUE VOCÊ INTITULOU COMO “UMA HISTÓRIA POUCO CONHECIDA”. A AFINIDADE COM ESSE TEMA SE INTENSIFICA AO EXAMINAR A CIRCULAÇÃO DE SABERES PEDAGÓGICAS E DE PRÁTICAS EDUCATIVAS E ESCOLARES, NAS RELAÇÕES ENTRE O BRASIL E A FRANÇA. MINHA QUESTÃO É COMO ENTENDE A IMPORTÂNCIA DO ENFRENTAMENTO DE ESCALAS, ENTRE O REGIONAL, O NACIONAL E O INTERNACIONAL, PARA EXPLICAR A CONSTRUÇÃO DE MODELOS ESCOLARES.

O que me levou ao século XIX foi a curiosidade de saber qual seria a “primeira” revista de educação/ensino publicada no Brasil. No capítulo do livro “Educação em Revista” (1997), fiz um breve repertório de periódicos editados no século XIX, com auxílio dos bibliotecários da Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Em pesquisa na Biblioteca Ferdinand Buisson/INRP, no famoso “catálogo preto”, manuscrito do século XIX, localizei referências da Revista Pedagógica, editada pelo Pedagogium, da revista da Liga do Ensino, editada por Rui Barbosa, em 1884 (BASTOS, 1999aBASTOS, Maria Helena Camara. Idiossincrasias de uma professora. In: RAYS, Oswaldo Alonso (org.). Trabalho Pedagógico. Realidades e perspectivas. Porto Alegre: Sulina, 1999a, p. 166-193.) e da revista “Instrução Pública” (1872-1875/1887-1888), editada por Alambary Luz (BASTOS,2009BASTOS, Maria Helena Camara; BENCOSTTA, Marcus Levy; CUNHA, Maria Teresa Santos. Uma cartografia da pesquisa em História da Educação na Região Sul: Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul (1980-2000). Pelotas: Publicações SEIVA, 2004.).

Hoje ou em outros séculos, os intelectuais brasileiros buscam beber novos horizontes, ideias, tendências, temas em outros pagos (como dizem os gaúchos). No século XIX, esse olhar era para França. Paris foi definida por Walter Benjamin como a capital do século XIX. Esta definição, para Cristophe Charle (1999CHARTIER, Roger. História Cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand, 1990.), “remete tanto ao seu papel político na eclosão dos movimentos revolucionários europeus ao seu esplendor intelectual, mensurável através da presença de intelectuais de distintas procedências geográficas”. Para a intelectualidade brasileira, Paris-França exerceu uma imensa atração como capital cultural, com um significativo capital simbólico para a elite da época.

No Brasil, o século XIX pode ser considerado com um século de francofonia por excelência, nesse momento a nossa cultura absorveu tudo ou quase tudo o que se produzia na França. Vários têm sido os estudos sobre aspectos desta influência (BARBOSA, 1923BARBOSA, Mário de Lima. Os franceses na História do Brasil. Rio de Janeiro: Briguet, 1923.; FREYRE, 1960FREYRE, Gilberto. Um engenheiro francês no Brasil. Tomo 1. Rio de Janeiro: José Olympio, 1960.; ARAÚJO, 1973ARAÚJO, Carlos da Silva. L’Influence française sur la culture brésilienne, sur la pharmacie et sur la médecine en particulier. Rio de Janeiro: Gráfica Olimpia Ed, 1973.; MARTINS, 1977MARTINS, Wilson. História da Inteligência Brasileira. Vol. III (1855-1877). São Paulo: Editora Cultrix/EDUSP,1977.; CARELLI, 1987CARELLI, Mario; THÉRY, Hervé; ZANTMAN, Alain. France-Brésil: bilan pour une relance. Paris: Ed. Entente, 1987., 1989CARELLI, Mario. France-Brésil: cinq siècles de séduction. Rio de Janeiro: Editora Espaço tempo, 1989.; HAMBÚRGUER, 1996HAMBÚRGUER, Amélia Império; DANTES, Maria Amélia M.; PATY, Michel & PETITJEAN, Patrick (orgs.). A Ciência nas relações Brasil-França (1850-1950). São Paulo: EDUSP; FAPESP , 1996.). Frédéric Mauro (1991MAURO, Frédéric. O Brasil no tempo de Dom Pedro II. São Paulo: Companhia das Letras, 1991., p.229) assinala que a Guarda Nacional, a Escola de Minas e o Jornal das Famílias são três instituições marcadas pela influência e o prestígio da França. Também o positivismo de Auguste Comteé marca dessa influência e desse prestígio (BASTOS, 2002bBASTOS, Maria Helena Camara. Leituras das famílias brasileiras do século XIX: O Jornal das Famílias (1863-1878). Revista Portuguesa de Educação, v. 15, n.2, p. 169-214, 2002b.; 2015aBASTOS Maria Helena Camara. Jornal das Famílias: Balizas de um Ideário à Mulher Brasileira (1863- 1878). In: CAVALCANTE, Maria Juraci Maia; HOLANDA, Patrícia Helena Carvalho; QUEIROZ, Zuleide Fernandes de. (orgs.). História de mulheres: amor, violência e educação. Fortaleza: Edições UFC , 2015a, p. 97-114.).

A minha entrada no século XIX se deu predominantemente pelos impressos (periódicos, livros escolares, literatura), me aproximando do suporte teórico-metodológico dos pressupostos vinculados à história do livro e da leitura. Busquei conhecer quem eram os autores, o que escreviam, o que era traduzido no Brasil, quais suas ideias e ressonâncias nos autores brasileiros. Para Lyons (1999LYONS, Martin & LEAHY, Cyana. A Palavra Impressa. Histórias da leitura no século XIX. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 1999., p.8), a história da leitura é o estudo da maneira como os leitores penetram no mundo da cultura escrita e, também, uma história de gênero. Mauger (1999MAUGER, Gérard; POLIAK, Claude F. & PUDAL, Bernard. Histoire de lecteurs. Paris: Nathan, 1999.) considera que os usos sociais da leiturasão múltiplos - didáticos, maiores conhecimentos; leitura de divertimento, evasão no mundo fictício e divertimento no mundo real; imigração mental de um mundo a outro; identificação do leitor com o mundo do personagem; leitura de evasão que mobiliza experiências emocionais. Para Anne-Marie Thiesse (1984THIESSE, Anne-Marie. Le Roman du quotidien. Lecteurs et lectures populaires a la Belle Epoque. Paris: Le Chemin Vert, 1984., p.13) « a leitura deve ser examinada no terreno social onde ela está enraizada: só se centra a significação das práticas se se toma em consideração o conjunto das condições de existência do grupo social em questão e a relação que estabelece com os objetos e as práticas da cultura mais valorizada ».

Outra entrada ao século XIX foi pelo ensino mútuo/monitorial. Em 1997, no primeiro número da revista História da Educação/Asphe, publiquei o artigo “A Instrução Pública e o Ensino Mútuo no Brasil: uma história pouco conhecida (1808-1827)” (BASTOS, 1997BASTOS, Maria Helena Camara. A Instrução Pública e o Ensino Mútuo no Brasil: Uma história pouco conhecida (1808-1827). História da Educação, Pelotas, v. 1, n.1, p. 115-133, 1997.). O subtítulo “uma história pouca conhecida” decorria do fato de que em uma palestra à um grupo de professores-alunos, em nível de pós-graduação, uma pergunta sobre o que era o ensino mútuo/método lancaster suscitou minha preocupação com o pouco conhecimento do tema e, geralmente, abordado em poucas linhas nos manuais de história da educação destinados às Escolas Normais e/ou à Graduação. Além disso, naquela época, a maioria das pesquisas no campo se concentravam majoritariamente no século XX, com poucas pesquisas no século XIX.

Aliado a esse fato, em 1996, durante o estágio de pesquisa no SHE, visitei a exposição pedagógica intitulada: "Une Révolution Manquée. L'École Mutuelle-1815-1850", sob a direção de Yves Galeaupeau, realizada pelo Institut National de Recherche Pédagogique/ França, que me estimulou a realizar esta pesquisa. Na minha busca, deparei com a tese de Tronchot (1972TRONCHOT, Robert-Raymond. L'enseignement mutuel en France de 1815 a 1833: Les luttes politiques et religieuses autour de la question scolaire. 1972, 528 f. Thèse (Doctorat en Histoire de l'Éducation) - Université Paris I. Paris, 1972.) - "L'Enseignement mutuel em France de 1815 a 1833", que aborda a criação da Société pour l'instruction élémentaire e as Sociedades pela Instrução Elementar Estrangeiras, que introduziram o método mútuo em seus países. A Sociedade também editava o periódico "Journal d'éducation" (1815-1914/1921-1926), onde localizei notícias publicadas sobre a implantação do método no Brasil, no período de 1819 a 1827. A correspondência de brasileiros e franceses, residentes no Brasil, com a Sociedade publicadas na seção Étranger e nos relatórios da Assemblée générale de la Société pour l'instruction élémentaire. Com base nessas referências constatei outro elemento pouco conhecido da historiografia do ensino mútuo no Brasil: a aplicação do método para a alfabetização dos escravos domésticos das fazendas de residentes franceses no Brasil (BASTOS, 2005BASTOS, Maria Helena Camara. Esclaves, militaires et libéraux: les chemins de l'enseignement mutuel au Brèsil (1808-1854). Paedagogica Historica, v. 41, n.6, p. 677-697, 2005.; 2016aBASTOS Maria Helena Camara. A educação dos escravos e libertos no Brasil: vestígios esparsos do domínio do ler, escrever e contar (Séculos XVI a XIX). Cadernos de História da Educação, Uberlândia, v. 15, p.743-768, 2016a.; 2017aBASTOS, Maria Helena Camara. Quand des esclaves et des affranchis apprennent à lire et à écrire. Indices dans l'histoire du Brésil du XVI au XIX siècle. In: PIERROT, Alain et alii. Domination et Apprentissage. Anthropologie des formes de la transmission culturelle. Paris/FR: Hermann Éditeurs, 2017a. p. 41-54.). Cabe registrar que meu olhar para o método mútuo/monitorial se deu a partir de referências e documentos franceses, havendo ainda um hiato quanto às pesquisas com experiências em outros países.

Nessa primeira aproximação ao tema, elenquei uma série de questões que necessitavam ser pesquisados - a busca de documentação que explicitasse a experiência do método com negros escravos de ambos os sexos, bem como, da educação destinada aos escravos nesse período; pesquisas relativas ao grau de influência inglesa e francesa na operacionalização do método no Brasil; estudos regionalizados, relativos à cada província, que permitissem melhor avaliar a expansão e difusão do método; análise da questão docente, sua origem nos quadros militares e as modalidades de formação e treinamento no método; estudo das leituras que sinalizaram o conhecimento e orientaram a aplicação do método, por exemplo verificar a circulação do periódico "Journal d’Education" e do Boletim da "British and Foreign School Society", como o material didático e compêndios escolares utilizados. No entanto, hoje constato que foram poucos os pesquisadores do campo que se envolveram em pesquisas sobre o método e sua inserção oficial no Brasil após 1827.

Desse artigo, decorreu a publicação do livro “A Escola Elementar no século XIX. O método monitorial/mútuo” (BASTOS; FARIA FILHO, 1999bBASTOS, Maria Helena Camara; FARIA FILHO, Luciano Mendes (orgs.). A escola elementar no século XIX. Passo Fundo: Editora da UPF, 1999b.), reunindo autores da França, Portugal, Argentina e brasileiros. Nesse livro, me debrucei em analisar o manual para formação professores para o ensino mútuo do Barão De Gérando - Curso Normal para Professores de Primeiras Letras ou direções relativas a Educação Physica, Moral e Intelectual nas Escolas Primárias, traduzido e publicado no Brasil em 1839.Procurando estimular as pesquisas sobre o método, na seção Documentos da revista História da Educação (2005), foram reproduzidos os artigos do Correio Brasiliense publicados por Hipólito da Costa, entre abril e outubro de 1816, com o título Educação Elementar, em que pretendia dar publicidade às inovações educativas implantadas por André Bell (1753-1832) e por Joseph Lancaster (1778-1832), com o objetivo de apresentar ao Brasil um projeto de educação afinado com os ideais do liberalismo. A visita à exposição sobre o método em 1996 permitiu inúmeros estudos e acredito ser importante registrar, a recente publicação de 2021 - “Education Publique et indepéndances em Amérique Latine e au Brésil” (BASTOS, 2021BASTOS, Maria Helena Camara. “Education Publique et indepéndances en Amérique Latine e au Brésil”. In: FONTAINE, Alexandre (dir.). Penseur la circulation des savoirs scolaires dans l’espace transatlantique: émigrations, transferts, créations (XVIII - XX siécle). France: Editions Le Bord de L’Eau, 2021. p. 37-54.), resultado de um convite para falar sobre a implantação do método na América Latina e Brasil, na Universidade de Fribourg/Suíça. Com esse exemplo, quero dizer que estudos pontuais também permitem ser revisitados em uma perspectiva de longo duração, isto é, nunca tem um ponto final. Outros ficam em uma primeira aproximação para estimular outros pesquisadores, como é caso do padre Gregóire Girad (Fribourg/Suíça, 1765-1850), pouco conhecido no Brasil, mas um educador suíço do século XIX, defensor do método mútuo.

Quando da pesquisa sobre ideias que Menezes Vieira se apropriou de autores estrangeiros e Girad aparece muitas vezes citado. Também Rui Barbosa o cita, tendo em sua biblioteca a obra “De L’Enseignement de la Langue Maternelle (GIRAD, 1853GIRAD, Gregoire. De L'Enseignement Regulier de la Langue Maternelle: dans les Écoles et les Familles. Paris: Dezobry, E. Magdeleine et Cia, Lib-Éditeurs, 3Ed, 1853.). No entanto, não desenvolvi a pesquisa sobre esse personagem. Recentemente, pude aquilatar sua importância para a educação do século XIX no espaço europeu e no Brasil, pois a colonização de suíços em Nova Friburgo, no Estado do Rio de Janeiro, teve sua inspiração. Aliás, um vácuo na história do ensino mútuo no Brasil reside no pouco conhecimento dessa história3 3 Ver GARCIA (2021) e MESQUIDA; BERNZ & AKKARI (2017). .

Outro estudo que fiz, ao me voltar para o século XIX, foi sobre a Revista Pedagógica (1892-1897), que compôs um capítulo do livro sobre Menezes Vieira, pois o conheci e por esse dispositivo (BASTOS, 2002 BASTOS, Maria Helena Camara; CUNHA, Maria Teresa Santos & MIGNOT, Ana Cristina Venâncio. Destinos das Letras: história, educação e escrita epistolar. Passo Fundo: Editora da UPF , 2002c.).

Nesse estudo, tive contato com vários autores estrangeiros traduzidos e publicados no Brasil. A resenha de José Veríssimo, intitulada “A Educação do Caráter Nacional”, recomendando como leitura às crianças brasileiras o livro “O Coração”, de Edmondo de Amicis, na ausência de um similar nacional, foi outra pesquisa pontual que me senti estimulada a fazer, buscando saber sobre o autor, o livro, outras obras, sua circulação no Brasil e em outros países (ainda reeditado), em memórias de leitura, em imagens de capas, etc. O primeiro artigo publicado foi em 1998 (BASTOS, 1998BASTOS, Maria Helena Camara. A Educação do Caráter Nacional: Leituras de Formação. Educação & Filosofia, Uberlândia, v. 12, n.23, p. 31-50, 1998.) e o último em 2017 (BASTOS, 2017bBASTOS, Maria Helena Camara. An italian book for brazilian children. Heart, by Edmondo De Amicis. History of Education & Children's Literature, v. 12, p. 477-505, 2017b.).

Inúmeros estudos, com abordagens diferenciadas de aportes teóricos e metodológicos, foram abordados: a historicidade da ideia de escola laica e liberdade do ensino; a Sociedade Liga do Ensino e a Revista da Liga do Ensino (1883-1884); as ideias do Conselheiro Antonio de Almeida Oliveira para a educação no Brasil, na obra O Ensino Público (1874OLIVEIRA, Antônio Almeida. O Ensino Público. São Luiz: Typografia do Paiz, 1874.); a obra Democracia na América, de Aléxis Tocqueville; o periódico “A Instrução Pública”, editado por Alambary Luz, de 1872-1875/1887-1888;as exposições escolares e pedagógicas; as Conferências pedagógicas dos professores públicos primários do município da corte (1873-1886?); O congresso da instrução - Rio de Janeiro (1883-1884);as Conferências populares da Freguesia da Glória (1873-1883); Manoel Francisco Correia e as Conferências Populares (1873-1890); e tantos outros. Outra atividade que me dediquei ao longo dos anos, mas especialmente no período de minhas pesquisas no século XIX, foi proceder traduções e publicar estudos e pesquisas de autores francófonos, especialmente daqueles que integraram o SHE.

Assim, como depois da tese debandei para o século XIX, no final da década de 2000, retornei para o século XX, movida pelo desejo de ter um grupo de pesquisa que integrasse orientandos e ex-orientandos de mestrado, doutorado, bolsistas de Iniciação Científica, e pesquisadores de diferentes universidades. De maneira geral, minhas orientações se concentravam na segunda metade do século XX e, poucas, na primeira metade. Aliado a isso, a oportunidade de pesquisar um colégio centenário, onde havia realizado o ensino primário, foi um grande estímulo. A partir de 2008, constituímos o Grupo de pesquisa “Entre Memórias e Histórias da escola do Rio Grande do Sul: Do Deutscher Hilfsverein ao Colégio Farroupilha (1858-2018)” (PUCRS, UFRGS, Universidade do Vale do Rio dos Sinos/UNISINOS, Universidade Federal de São Paulo/UNIFESP, Colégio Farroupilha), que objetivava analisar a história dessa escola, desde a fundação de sua mantenedora - Associação Beneficente e Educacional de 1858 até hoje.

O Colégio Farroupilha é um dos mais tradicionais de Porto Alegre/RS e tem sua origem na fundação, em 1858, da Deutscher Hilfsverein (Sociedade Beneficente Alemã/Associação Beneficente e Educacional), mantenedora da instituição. Em 1886 é criado o colégio nas dependências da Comunidade Evangélica de Porto Alegre, sob o nome de Knabenschule des Deutscher Hilfsvereins, com setenta meninos como alunos. A partir de 1904, a escola passa a receber também meninas, com a escola Mädchenschule des Deutscher Hilfsvereins. Em 1911, é criado o Kindergarten (Jardim de Infância), considerado o primeiro de Porto Alegre. Em 1929, a escola torna-se mista. Em 1934, o colégio muda de nome, passa a se chamar Hindenburgschule, em homenagem ao presidente da República Alemã. Em 1936, passa a se chamar Ginásio Teuto-Brasileiro Farroupilha, em homenagem ao centenário da Guerra dos Farrapos, em decorrência do processo de nacionalização das instituições de ensino. Em 1942, outra alteração de nome, para “Ginásio Farroupilha”. A partir de 1950, adota a denominação “Colégio Farroupilha”. Nesse mesmo ano é também fundada a Escola Técnica de Comércio (Ensino Médio), noturna, que funcionou até 1982. A instituição também mantém um Memorial, criado em 5 de junho de 2001, como um lugar de memória para a preservação e a divulgação da ABE e do Colégio Farroupilha. Além dessas funções, cabe destacar o papel social e pedagógico para a comunidade escolar, pois é um referencial para a construção da identidade da instituição, bem como, atua no apoio pedagógico para professores e alunos se aproximarem do passado escolar.

O projeto de pesquisa congregou, entre 2008 e 2018, os pesquisadores Dóris Bittencourt Almeida (UFRGS), Luciane Sgarbi Grazziotin (UNISINOS), Maria Célia Leme (UNIFESP/Campus de Diadema), Elizabete ZardoBúrigo (UFRGS), Alice Rigoni Jacques (Colégio Farroupilha) com a participação de doutorandos (6), mestrandos (10), alunos de graduação (bolsistas de iniciação científica - 123), pós-doutorandos (5). Foram editados dois livros, com capítulos escritos pelos componentes do grupo - Do Deutscher Hilfsverein ao Colégio Farroupilha/RS: Memórias e histórias (1858 - 2008), com apoio do Edital Universal CNPq e CAPES, com 16 e 17 capítulos, respectivamente na edição de 2013 e 2015, totalizando 37 capítulos4 4 BASTOS; JACQUES & ALMEIDA (2013, 2015b). . Também cabe registrar três publicações internacionais, em capítulos de livros - duas na Espanha e uma na França. Além da participação em inúmeros eventos regionais, nacionais e internacionais; a realização de exposições, cursos de extensão. É importante assinalar a plena inserção de bolsistas de iniciação científica na pesquisa, tanto em atividades de museologia como de produção de conhecimento. Cada graduando tinha sob sua responsabilidade um tema vinculado ao projeto maior, com o compromisso de escrever um artigo e apresentá-lo em eventos locais e regionais, durante seu processo de formação. Hoje, muitos deles já são professores de ensino superior, no Brasil e no exterior.

5 JÁ QUE TOCAMOS NO TEMA DA MULTIPLICIDADE DE OBJETOS, VOCÊ SE APROXIMOU DA HISTÓRIA DOS INTELECTUAIS E DO GÊNERO BIBLIOGRÁFICO/BIOGRÁFICO, A PARTIR DA TRAJETÓRIA DO JOAQUIM MENEZES, MÉDICO-EDUCADOR QUE PARTICIPOU DA REDE DE COLABORADORES QUE ALMEJAVA CONSTRUIR UM PROJETO REPUBLICANO PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA. COMO DEMONSTRADO, O SR. JOAQUIM FOI UM INTELECTUAL BASTANTE ATUANTE NO SÉCULO XIX, TENDO SIDO PROFESSOR DO INSTITUTO DE SURDOS MUDOS E DIRETOR DO PEDAGOGIUM, ALÉM DE TER FUNDADO COM SUA ESPOSA, EM 1875, O COLÉGIO MENEZES VIEIRA. NESTE ÚLTIMO, ELE ADAPTOU PARA A REALIDADE BRASILEIRA AS INOVADORAS TEORIAS PEDAGÓGICAS DE FROEBEL, MME. PAPE-CARPANTIER, PESTALOZZI E GIRARD. AFINAL, O QUE A LEVOU SE INTERESSAR POR ESSE INTELECTUAL? E TRAZENDO ESSA DISCUSSÃO PARA O CAMPO DA TEORIA DA HISTÓRIA, COMO ENTENDE AS DIFERENTES ABORDAGENS HISTÓRICAS DADAS AOS ESTUDOS SOBRE OS INTELECTUAIS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA?

Ao adentrar no estudo da Revista Pedagógica, editada pelo Pedagogium (1892-1897), tomei contato com esse educador, que dirigia o museu pedagógico e editava o periódico. Reconheço que, até então, não tinha conhecimento de sua presença na educação do século XIX. Isso ocorreu em 1996, quando estava na França, e constatei que muitas de suas obras também faziam parte do acervo da Biblioteca Ferdinand Buisson e na Biblioteca Nacional da França. Voltando ao Brasil, localizei suas obras na Biblioteca Bourrol da Faculdade de Educação da USP, na Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, na Biblioteca de Rui Barbosa e em outros arquivos.

Quando nos detemos em quem pensa e escreve sobre a educação brasileira, na segunda metade do século XIX e na primeira metade do século XX, constatamos a presença significativa de médicos, advogados, engenheiros, jornalistas. Na época, algumas pesquisas em História da educação centravam-se nos discursos médicos sobre educação e alguns deles tiveram a iniciativa de fundar escolas e colégios. Analisava-se a partir da expressão médico-educador, mas, no desenvolvimento da pesquisa, a trajetória de Menezes Vieira me alertou de que foi mais educador e exerceu muito pouco a Medicina.

No século XIX e início do XX, as faculdades de Medicina exigiam a defesa de uma tese para conclusão do curso, que, muitas vezes, versavam sobre temas relacionados com educação5 5 Conheci o professor José Gonçalves Gondra em evento da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), em Caxambu, nos idos de 1990. Em visita ao Rio de Janeiro, me ciceroneou em uma visita à Academia de Medicina do Rio de Janeiro, onde estão depositadas as teses médicas do século XIX, posteriormente objeto de sua tese de doutorado. . Por exemplo, a tese de Menezes Vieira intitulou-se “Da surdez produzida por lesões materiais; acústica; aparelho da audição; sinais tirados da voz e da palavra”. Muito jovem assumiu a atividade de professor de linguagem escrita no Instituto dos Surdos-Mudos, no Rio de Janeiro.

Quando comecei a pesquisa, os estudos biográficos no campo da História da Educação ainda eram raros. Na área da História, a partir dos anos 1980, há um renascimento do gênero biográfico, como coloca Seixas (1998, p. 247), mais precisamente “sua reatualização como gênero historiográfico”. Muitos pesquisadores tinham uma atitude reticente com relação à história biográfica porque a identificavam com o modelo da história tradicional, mais sensível à cronologia do que às estruturas, e mais sensível aos grandes homens do que às massas. As novas tendências da historiografia, ao introduzir novos métodos e novas interrogações, atualizaram este gênero. A prosopografia/ biografia coletiva (HEINZ et alii, 2006HEINZ, Flávio (org.). Por outra história das elites. Rio de Janeiro: FGV, 2006.) - grupos unidos pela mesma vocação e por mesmas práxis - foram as primeiras formas que as novas tendências exploraram, quanto pela reconstituição dos laços entre o indivíduo e a sociedade, como um lugar de observação particularmente eficaz. Defendia que “fazer biografias de figuras da história da educação significava apreender não apenas o que essas biografias têm em comum com os debates correntes, mas também em que elas diferem destes, já que elas se inscrevem em regimes de historicidade descontínua, marcados por temporalidades múltiplas -a arte de observar o fim do século XIX e a imagem de um intelectual” (BASTOS, 2002 BASTOS, Maria Helena Camara; CUNHA, Maria Teresa Santos & MIGNOT, Ana Cristina Venâncio. Destinos das Letras: história, educação e escrita epistolar. Passo Fundo: Editora da UPF , 2002c., p.10).

Para Freitas (1998FERNANDES, Ana Lúcia Cunha. O Impresso e a circulação de saberes pedagógicos: apontamentos sobre a imprensa pedagógica na história da educação. In: MAGALDI, Ana Maria Bandeira de Mello; XAVIER, Libânea Nacif (orgs.). Impressos e História da Educação: usos e destinos. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008. p. 15-29., p.8), ao realizar a história das ideias e dos intelectuais necessariamente é preciso dar visibilidade às discussões correlatas que configuram tendências e hipóteses sobre a realidade brasileira. O estudo das condições da gênese de um projeto de modernização da educação brasileira não pode prescindir de um estudo comparativo com os modelos culturais internacionais citados pelos educadores para reforçar suas posições na cruzada da modernização urbana, na regulamentação do higienismo, no mito do progresso, no utilitarismo republicano, na missão civilizadora.

O conceito de intelectual tem diferentes abordagens, de diferentes teóricos e de áreas de conhecimento. Partindo de Le Goff, no seu célebre livro - Os Intelectuais na Idade Média (1985LE GOFF, Jacques. Os intelectuais na Idade Média. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.), em que situa o aparecimento dos primeiros intelectuais no século XII; ao artigo publicado de Émile Zola - Eu Acuso (1898), sobre o caso Dreyfus, que inaugura uma tradição de engajamento político dos intelectuais (CHARLE, 2003CHARLE, Christophe. O nascimento dos intelectuais contemporâneos (1860-1898). História da Educação, Porto Alegre, v. 14, p. 141-156, set. 2003.); e de outros autores do século XX - Gramsci e o papel do intelectual hegemônico, Edward Said, com as Conferências Reith de 1993, transmitidas pela BBC e publicadas no Brasil com o título de Representações do Intelectual (2005SAID, Edward Wadie. Representações de Intelectuais. São Paulo: Companhia das Letras , 2005.), Norberto Bobbio (1997BOBBIO, Norberto. Os intelectuais e o poder: dúvidas e opções dos homens de cultura na sociedade contemporânea. São Paulo: Editora da UNESP, 1997. ), Jean-François Sirinelli (2003SIRINELLI, Jean-François. “Os Intelectuais”. In: RÉMOND, René (org.). Por uma história política, Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003, p. 231-269.)6 6 Na historiografia da história da educação, Jean-François Sirinelli (2003, p. 231-269) tem sido uma referência muito utilizada, por considerar que os intelectuais, enquanto atores históricos, são portadores de redes de sociabilidades e em diálogo com suas trajetórias geracionais, condição que os torna um objeto particular em relação aos demais objetos de investigação historiográfica. , Michel Winock (2000WINOCK, Michel. O Século dos Intelectuais. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.) e tantos outros.

Adentrando no campo da história da educação, acredito que a contribuição do campo no Brasil reside nos dois volumes recentemente publicados - Pensadores Sociais e História da Educação v.1 e v.27 7 A obra “Pensadores Sociais e História da Educação” (LOPES & FARIA FILHO, 1995; 2012) tem o objetivo de apresentar a forma como os clássicos das ciências humanas e sociais têm sido mobilizados/apropriados pelos pesquisadores da história da educação brasileira em seus respectivos campos de estudo” (1995, p.7). e os estudos de Ângela de Castro Gomes sobre “intelectuais mediadores” (2016). Há inúmeros estudos e pesquisas sobre os intelectuais do século XX na área da Educação e, especialmente, aqueles que participaram da Associação Brasileira de Educação, que assinaram os Manifestos de 1932 e 1959. Acredito que há lacunas importantes se pensarmos em outros intelectuais que tiveram atuação no âmbito dos sistemas de educação regionais, estaduais.

6. EM 2004, TIVESTE A OPORTUNIDADE DE PUBLICAR, JUNTAMENTE COM A PROFESSORA MARIA TERESA SANTOS CUNHA E MARCUS LEVY BENCOSTTA, UMA CARTOGRAFIA DA HISTORIOGRAFIA DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DA REGIÃO SUL, ENTRE OS ANOS DE 1980-2000. DE FORMA GERAL, NO LIMITE DOS OBJETIVOS A QUE NOS PROPUSEMOS, AO ELENCAR OS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO PARA A FEITURA DESSA PUBLICAÇÃO, FOI POSSÍVEL PROBLEMATIZAR COMO SE DEU O CRESCIMENTO DO INTERESSE INVESTIGATIVO NO CAMPO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, NAS MAIS DIFERENTES TEMÁTICAS E PRESSUPOSTOS TEÓRICOS. APÓS DÉCADAS DAQUELA PESQUISA, COMO ENXERGA A IMPORTÂNCIA DESSE TIPO DE PRODUÇÃO? E DE QUE MODO ELA CONTRIBUI PARA O DEBATE E A CRÍTICA HISTORIOGRÁFICA COMO PARTE DA PRÓPRIA PESQUISA HISTÓRICA?

Compère (1995 COMPÈRE, Marie-Madeleine. L’Histoire de l’éducation en Europe. Essai comparatif sur la façon dont elle s’écrit. Paris: Peter Lang/INRP, 1995., p.58) afirma que, para “o reconhecimento de uma disciplina universitária ou um campo de pesquisa autônomo, deve-se, primeiramente, proceder a um inventário do conhecimento produzido”. Nessa perspectiva, a coordenação do Grupo de Trabalho História da Educação da ANPED estimula e coordena essa atividade. Em 2001, na Reunião Anual da Anped em Caxambu, os professores Denice Bárbara Cattani (USP) e Luciano Mendes de Faria Filho (UFMG) apresentaram um balanço das pesquisas em História da Educação da região Sudeste. Para 2002, foi nos solicitado um balanço da região Sul, que resultou na publicação do livro “Uma cartografia da pesquisa em História da Educação na Região Sul: Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul (1980-2000)” (BASTOS; BENCOSTTA & CUNHA, 2004BASTOS, Maria Helena Camara; BENCOSTTA, Marcus Levy; CUNHA, Maria Teresa Santos. Uma cartografia da pesquisa em História da Educação na Região Sul: Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul (1980-2000). Pelotas: Publicações SEIVA, 2004.). Em 2004, o coordenador do GT História da Educação da ANPEd, José Gonçalves Gondra organizou um encontro de pesquisadores da área para a apresentação atualizada dos repertórios das pesquisas em história da educação, em todas as regiões do Brasil, que resultou na publicação “Pesquisa em História da Educação no Brasil” (GONDRA, 2005GONDRA, José Gonçalves (org.). Pesquisa em História da Educação no Brasil. Rio de Janeiro: DP&A editora, 2005.). Nesses 15 anos desses estudos, realizaram-se alguns repertórios sobre os Congressos de História da Educação da Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE), dos eventos anuais para ASPHE.

No Brasil, há uma dificuldade decorrente das dimensões territoriais do país, para a constituição de repertórios de fontes e/ou bancos de dados, de espaços de preservação de documentos para o avanço dos estudos. Também há a necessidade de constituição de bancos de dados acessíveis via Internet, que facilitem ao pesquisador o acesso a repertórios de fontes documentais. O avanço da pesquisa na área sinaliza para uma ação urgente voltada à constituição de inventários de fontes local, regional e nacional, visando fundamentalmente a conservação, salvaguarda e preservação de uma memória da educação brasileira. $#91;Para citar alguns exemplos: a iniciativa do grupo de pesquisa do GHEMAT com o repositório de fontes sediados na Universidadde Federal de Santa Catarina (UFSC)$#93;.8 8 Repositório de conteúdo digital nas pesquisas de história da educação matemática. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/160925

Uma perspectiva seria de concentrar esforços em pesquisas sincronizadas, ou seja, interinstitucionais, de âmbito nacional e internacional. A necessidade de articulação nacional, a partir de repertórios temáticos do que está sendo pesquisado na área, por exemplo: na área da história da alfabetização, história das instituições escolares, história do livro e da leitura, história da educação das mulheres e dos homens, etc.

Às dificuldades das dimensões territoriais do Brasil soma-se a imensa produção do campo, quantitativamente falando, a partir dos anos 2000, com a ampliação dos grupos de pesquisa em História da Educação e, especialmente, a dispersão temática.

Em 2005, assinalei que o diálogo com a produção da área de História era, ainda, muito reduzido, que havia um “isolamento endogâmico com respeito aos circuitos da História”, como afirma Ascolani (2008ASCOLANI, Adrián Alberto. La investigación reciente en Historia de la Educación argentina. Campo interdisciplinar y problemáticas. In ASCOLANI, Adrián Alberto (org.). El sistema educativo em Argentina. Estudios de Historia. Rosário/Argentina: Laborde Editor, 2008. ). Atualmente, essa afirmação não é mais possível. Cada vez mais observa-se a incorporação da produção historiográfica da História e de outras disciplinas das ciências humanas. Cabe assinalar, no entanto, que grande parte dos historiadores desconhecem a produção da área de História da Educação. Esse fato decorre, em parte, da formação dos pesquisadores em história da educação no Brasil, grande parte oriunda da área da Educação, diferente de outros países em que a formação é, majoritariamente, em História ou em Ciências da Educação, com um amplo espectro analítico. Dessa formação decorre outra tendência de nossa produção de pesquisa - estudos histórico-descritivos - faltando um adensamento analítico do campo, pela não apropriação das contribuições de outras áreas do conhecimento, especialmente, da história e da sociologia. A historiografia contemporânea contribui significativamente para a história da educação, sobretudo na perspectiva das teorias culturais (críticas), da história intelectual, história social e história das mentalidades e das ideias (MARTINS, 2004MARTINS, Ernesto Candeias. Os caminhos da historiografia educativa portuguesa: da História à Educação. História da Educação, Porto Alegre, v.8, n. 16, p. 25-44, set. 2004., p.15). As fronteiras entre as áreas de conhecimento precisam ser menos herméticas e mais fluídas. Além disso, acredito que se deve buscar o diálogo com outras áreas de conhecimentos, isto é, alargar os horizontes teóricos, temáticos e metodológicos.

Um repertório importante seria das gerações de formadores no campo da História da Educação, desde a década de 1970. Quem são, afinal, os “novos” historiadores da educação brasileira? Identificar quem produz e orienta na área possibilita uma análise geracional e uma análise da modelagem teórico-metodológica da produção de pesquisa (prosopografia), a qual ainda está para ser feita. Em 1999, a ANPEd editou a obra “Quem pesquisa o quê em Educação”, na qual repertoriava os pesquisadores no ano de 1998. No Grupo de Trabalho História da Educação constou aproximadamente 20 referências, mas que já não representava o universo da área. Passados 20 anos, um repertório dessa natureza somente para a área de História da Educação seria uma tarefa hercúlea, mas não impossível, pois poderia começar pelos estados da federação, pelas universidades e/ou por temáticas (BASTOS, 2016bBASTOS, Maria Helena Camara. O que é a história da educação no Brasil hoje? Tempos de reflexão. Espacio, Tiempo y Educación, v.3, n.1, p. 43-59, jan. 2016b.).

7. O MEU FASCÍNIO PELOS DIÁLOGOS ESTABELECIDOS ENTRE HISTÓRIA E LITERATURA, VEM DESDE A MINHA PRIMEIRA LEITURA DAS CRÔNICAS DE RESTIF DE LA BRETONE (SÉCULO XVIII), “AS NOITES REVOLUCIONÁRIAS”, QUE TRATAM DO PERÍODO DA REVOLUÇÃO FRANCESA. E DEVO CONFESSAR O APREÇO AO TER CONTATO COM OS ESTUDOS QUE ORGANIZASTE COM MARIA TERESA SANTOS CUNHA E ANA CHRYSTINA VENANCIO MIGNOT. ESTOU FALANDO DAS OBRAS “REFÚGIOS DO EU: EDUCAÇÃO, HISTÓRIA E ESCRITA AUTOBIOGRÁFICA”, E “DESTINOS DAS LETRAS, HISTÓRIA, EDUCAÇÃO E ESCRITA EPISTOLAR”. A PARTIR DO ACÚMULO DE TAIS DISCUSSÕES, COMO VOCÊ ENTENDE AS PESQUISAS QUE UTILIZAM CARTAS ÍNTIMAS E PESSOAIS QUE FIRMAM NARRATIVAS DISCURSIVAS COMO ESBOÇOS DE SI MESMO, PODEM ESTABELECER FRONTEIRAS SEGURAS ENTRE OS ESTUDOS HISTÓRICOS E OS ESTUDOS LITERÁRIOS.

Ao adentar nas pesquisas sobre a educação no século XIX, também passei a me interessar especialmente por estudos no campo da história do livro e da leitura, em que me interessava pelas leituras indicadas na escola voltadas à formação moral-cívica, religiosa, pessoal e profissional, tanto para alunos como para professores; memórias de leitores; a circulação e apropriação de autores estrangeiros e sua circulação no Brasil. A análise de obras de literatura, livros de leitura escolar, manuais de História da Educação, manuais de Pedagogia, de autores nacionais ou estrangeiros, permite identificar as permanências e marcas que ainda hoje definem a formação de leitores.

O primeiro estudo que fiz foi sobre o livro “O Coração. Diário de um menino”, de Edmondo de Amicis (1846-1908), publicado no Brasil, desde 1886, a partir de um artigo de José Veríssimo, “A Educação Nacional” (1890), em que sugere como uma das mais necessárias reformas a do livro de leitura da escola, isto é, o seu abrasileiramento. Como exceção, enaltece a adoção da obra “Coração”, que na Itália, em quatro anos, teve 101 edições. O primeiro estudo dessa obra foi publicado em 1998, mas a pesquisa permaneceu por duas décadas, culminando com o capítulo “Coração, de Edmundo de Amicis (1886): um sucesso editorial” (BASTOS, 2016BASTOS, Maria Helena Camara. Coração, de Edmundo de Amicis (1886): um sucesso editorial. In: BRAGANÇA, Aníbal (org.). Rei do livro: Francisco Alves na história do livro e da leitura no Brasil. São Paulo: EDUSP, 2016c, p. 259-300.c). Costumo dizer aos alunos que uma pesquisa não tem ponto final, sempre temos novos olhares e outros documentos para (re)visitar o já realizado.

A partir desse estudo, realizei várias pesquisas sobre diferentes obras e autores: Celéstin Hippeau, Félix Ferreira, Ferdinand Buisson, Samuel Smiles, Afonso Celso, Mme Pape-Carpantier, Frederick Froebel, Jean Baptiste Daligault, Jules Paroz, Gabriel Compayré, Paul Rousselot, Theobaldo Miranda Santos, Maria de Lourdes de Arruda Aranha, Assis Brasil, Lourenço Filho e tantos outros.

Quanto às duas obras citadas, resultaram de parcerias com as colegas que partilhavam os mesmos interesses pela pesquisa com egodocumentos:“Refúgios do Eu” (BASTOS, CUNHA, MIGNOT, 2000BASTOS, Maria Helena Camara; CUNHA, Maria Teresa Santos & MIGNOT, Ana Cristina Venâncio. (orgs.). Refúgios do eu: educação, história, escrita autobiográfica Florianópolis: Mulheres, 2000.) foi desencadeado no Congresso de Leitura/COLE, organizado pela Associação de Leitura do Brasil, realizado na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), em 1999, que reuniu um grupo de pesquisadores que analisavam documentos pessoais (diários, agendas, álbuns de recordações, e-mails, cartas, arquivo pessoal, autobiografias). O “Destino das Letras” (BASTOS; CUNHA & MIGNOT, 2002c BASTOS, Maria Helena Camara; CUNHA, Maria Teresa Santos & MIGNOT, Ana Cristina Venâncio. Destinos das Letras: história, educação e escrita epistolar. Passo Fundo: Editora da UPF , 2002c.) resultou da participação no VI Congresso Internacional de História da Cultura Escrita, na Universidad de Alcalá/Espanha, 9 a 13 de junho de 2001. Ambas coletâneas reúnem estudos sobre escritas de pessoas comuns em diferentes suportes, compreendidas como escritas de si. Além desses documentos, posteriormente, também analisamos outros suportes: os manuais para escrever cartas do século XIX e XX, cadernos escolares, as escritas infantis em redações, composições, ditados e outros suportes. Sempre comento com Maria Teresa e Ana Chrystina que faltou o terceiro volume. Fica o desafio.

Acredito que os diferentes suportes de escrita de si sejam considerados documentos relevantes tanto para os estudos históricos como para a história da educação e da literatura. Ambos integram a história Cultural e a história dos intelectuais. Pessoalmente, não tive o prazer de analisar um conjunto de cartas familiares trocadas por décadas, como o fez a historiadora Stella Tillyard, na obra Aristocratas (2003TILLYARD, Stella. Aristocratas. Rio de Janeiro: Record, 2003.), em que analisou um acervo de cartas trocadas por uma família aristocrata inglesa, na segunda metade do século XVII e princípios do século XIX, e, especialmente, a adoção dos princípios de Jean-Jacques Rosseau na educação de seus filhos.

8. A HISTORIOGRAFIA CONTEMPORÂNEA DA EDUCAÇÃO TEM DEMONSTRADO UMA CRESCENTE APROXIMAÇÃO COM AS QUESTÕES INAUGURADAS PELA HISTÓRIA CULTURAL, QUER SEJA EM SEUS CONCEITOS, QUER POR SUAS TEMÁTICAS OU METODOLOGIAS DE ANÁLISE, O QUE DE CERTA FORMA SE CONTRAPÕE ALGUMAS DAS OPÇÕES ADOTADAS PELAS ANÁLISES MARXISTAS ORTODOXAS. A PROPÓSITO DOS OBJETOS CULTURAIS PRIVILEGIADOS EM TUAS PESQUISAS, ALÉM DE HISTORIADORA DA EDUCAÇÃO, VOCÊ TAMBÉM SE DEFINIRIA COMO HISTORIADORA CULTURAL? É POSSÍVEL PENSARMOS EM UMA HISTÓRIA CULTURAL DA EDUCAÇÃO?

Já em 1998, António Nóvoa nos alertava para a necessidade de o campo da História da Educação alargar as fronteiras disciplinares. Afirmava que “a ausência de um modelo teórico consensual e a emergência de um espírito científico que tende a privilegiar os espaços disciplinares de fronteira contribui para o alargamento do repertório metodológico da história da educação, num quadro de mobilização de referenciais antropológicos, culturais, linguísticos, psicológicos, sociológicos” (NÓVOA, 1998NÓVOA, António. L’histoire et l’histoire de l´éducation (Refléxions à propos de l’historiographie américaine. In: NÓVOA, António. Histoire & Comparaison (Essais sur l’Éducation). Lisbonne: Educa, 1998. p. 13-50., p.16).

Também se faz necessário ampliar o olhar sobre estudos de História da Educação produzidos em outros campos de pesquisa, isto é, para os programas de pós-graduação de História, Filosofia, Psicologia, Sociologia, consideradas ciências matrizes das ciências da educação. É imprescindível o diálogo permanente com a História e com outras ciências, na perspectiva interdisciplinar, para avançarmos como área de produção de conhecimento. As fronteiras entre as áreas de conhecimento precisam ser menos herméticas e mais fluídas.

Maria Teresa Santos Cunha (1999CUNHA, Maria Teresa Santos. Nas margens do instituído: Memória/Educação. História da Educação, Porto Alegre, v.5, p. 39-46, abr. 1999.) analisa a fecundidade das relações entre História Cultural e História da Educação por promover um alargamento das possibilidades investigativas do historiador, indo muito além dos aspectos mais formais da educação, em “direção a outros campos do conhecimento, sujeitos e objetos até então inexplorados” (p.41). Então, o que se vê é um diálogo cada vez mais próximo entre a História da Educação e História Cultural. Podemos dizer que aqui acabam-se as fronteiras (FONSECA, 2008FONSECA, Thais Nivea de Lima. História da Educação e História Cultural. In. VEIGA, Cynthia Greive; FONSECA, Thais Nivea de Lima (orgs.). História e Historiografia da Educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.), pois a primeira vale-se dos procedimentos metodológicos, conceitos e referenciais teóricos da segunda.

Chartier (2007, CHARTIER, Roger. História Cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand, 1990.p. 49) assinala que a “história cultural tem sido um dos campos mais vigorosos e debatidos do âmbito histórico”, e acrescenta que é “difícil traçar uma fronteira segura e clara entre a história cultural e outras histórias: a história das ideias, a história da literatura, a história da arte, a história da educação, a história dos meios de comunicação, a história das ciências”. Portanto, acredito que podemos pensar em uma história cultural da educação, pois permite analisar os diferentes processos educativos e escolares.

Os enquadramentos são sempre perigosos. Considero que sou uma historiadora da educação que transita em diferentes campos da História. Reconheço que os aportes da nova história e da história cultural foram importantes guias das minhas pesquisas. Pensar uma história cultural da educação é possível, mas sempre balizada pelos aportes teóricos e metodológicos da história.

Pierre Caspard (2009CASPARD, Pierre. A historiografia francesa da educação em um contexto memorialístico: reflexões sobre algumas problemáticas evoluções. História da Educação, Pelotas, v.13 (28), p. 9-28, mai./ago.2009., p.28) assinala que “as condições nas quais se escreve hoje a história da educação são problemáticas. De um lado, não param de multiplicar seus temas ou objetos de pesquisa e de afinar seus métodos de análise, procurando por sua vez uma legitimidade inédita no interior do campo de pesquisa histórica como aos olhos das ciências sociais vizinhas. Por outro lado, há um afastamento considerável entre as análises que se faz do passado e os estereótipos memoriais os mais conhecidos, inclusive pelos atores do mundo educativo. A diferença reside em um fato facilmente compreensível. Para fornecer as referências que demandam, para evocar ou invocar o passado basta a memória; não garante o conhecimento das evoluções e da compreensão da mudança, que são objetos próprios da história. Isso pode ter alguma relação com a capacidade dos sistemas educativos para reformar-se, e levantar a questão do lugar da história na cultura profissional de seus atores”.

9. ALÉM DE PESQUISADORA ASSOCIADA DE VÁRIAS AGREMIAÇÕES CIENTÍFICAS, TAIS COMO, A ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HISTÓRIA (ANPUH), ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO (ANPED), THE INTERNATIONAL STANDING CONFERENCE FOR THE HISTORY OF EDUCATION (ISCHE), VOCÊ É SÓCIA FUNDADORA DA ASSOCIAÇÃO SUL RIO-GRANDENSE DE PESQUISADORES EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO/ASPHE (DESDE 1995) E DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO/SBHE (DESDE 2001). COMO PROTAGONISTA DO CRESCIMENTO DESTAS SOCIEDADES CIENTÍFICAS, VOCÊ É TESTEMUNHA DA SUA IMPORTÂNCIA PARA O ESTÍMULO E A DIVULGAÇÃO DO CONHECIMENTO PELA PROMOÇÃO DE EVENTOS, CONSTITUIÇÃO DE GRUPOS DE PESQUISA E MANUTENÇÃO DE PERIÓDICOS. A PARTIR DA TUA EXPERIÊNCIA, QUE SUGESTÕES APRESENTARIA PARA PENSARMOS OUTRAS FORMAS DE INICIATIVAS QUE INCENTIVASSEM NOSSAS SOCIEDADES CIENTÍFICAS, PARA ALÉM DAS FRONTEIRAS ATUAIS, ABRIREM NOVOS ESPAÇOS DE INTERAÇÃO CIENTÍFICA E COMPROMISSO SOCIAL.

Esse é um desafio muito grande. Nos meus primeiros estudos sobre o campo pesquisa da História da Educação, me deparo na dificuldade de nos inserirmos em outras áreas, especialmente na definição das políticas públicas de educação. Viñao Frago (2003VIÑAO FRAGO, Antonio. La Historia de la Educación ante el siglo XXI: tensiones, retos y audiencias. Etnohistoria de la escuela. In: XII COLOQUIO NACIONAL DE HISTORIA DE LA EDUCACIÓN, 2003, Burgos/Espanha, Anais..., Burgos: Universidad de Burgos y Sociedad Española de Historia de la Educación (SEHE), 2003, p. 1063-1074.) sinaliza para a necessidade de “mostrar o passado nos debates, questões e problemas educativos de seu tempo; não só fazer a genealogia do presente, mas também desvelar os usos incorretos do passado, e, sobretudo, as apropriações, mitificações e manipulações do mesmo”. A partir desse desafio, gostaria de colocar algumas questões: qual tem sido nossa contribuição, como produtores de conhecimento sobre a História da Educação, para a formulação de políticas educacionais e ações escolares hoje? Mesmo considerando que nossas questões partem do presente, que ressonância têm tido nossas “respostas” para a mudança do quadro de referência. Há uma sensação de que estamos fazendo uma “arqueologia” da nossa história da educação para (re)escrevê-la e para conservá-la tão somente (repertório de fontes, dicionários), como “doutores da memória” escolar e educacional (BASTOS, 2016bBASTOS, Maria Helena Camara. O que é a história da educação no Brasil hoje? Tempos de reflexão. Espacio, Tiempo y Educación, v.3, n.1, p. 43-59, jan. 2016b.).

Destacaria a iniciativa do projeto “Pensar a Educação Pensar o Brasil”, da UFMG, coordenado pelos professores Luciano Mendes de Faria Filho e Tarcísio Mauro Vago, desde 2007, que articula ações de ensino, pesquisa e extensão em universidades públicas brasileiras, na busca de alternativas para se pensar o Brasil, a partir de uma reflexão sistemática sobre um dos grandes desafios do nosso tempo: a educação pública.

A pergunta direciona para pensar os desafios futuros para a História da Educação no Brasil. Acredito que as associações e as instituições superiores de ensino e pesquisa deveriam ter uma política de preservação de sua história e conservação do patrimônio histórico-educativo. Essa atitude é tanto de âmbito nacional, estadual, regional como escolar. Quando pesquisamos nos arquivos nos deparamos com os vazios documentais. Essa preocupação é um compromisso social dos pesquisadores do campo com o futuro de nossa história.

Em 2016, elencava como desafios do campo, diante do crescente processo de internacionalização da pesquisa, na perspectiva de dar maior visibilidade dos pesquisadores brasileiros em publicações estrangeiras, quantitativa e qualitativamente. Creio que parte desse desafio tem sido alcançado, com a presença de pesquisadores estrangeiros em número expressivo em eventos nacionais, assim como de pesquisadores brasileiros em diferentes fóruns internacionais da área. Quanto às publicações, constato a preocupação cada vez maior (diante dos desafios impostos pelas regras da CAPES e do CNPq) dos pesquisadores brasileiros em publicar a tradução de seus artigos para o inglês nas revistas nacionais e de submeter suas produções em revistas internacionais. Além disso, pesquisadores internacionais submetendo dossiês com ao menos um autor brasileiro (uma exigência na maioria das revistas nacionais), visto que a circulação do conhecimento tem sempre via dupla.

Como professores e pesquisadores em história da educação, somos “formadores do futuro”, o passado e o presente são nossas ferramentas. Assim, temos que ter como premissa profissional a construção de um sentido crítico e de uma atitude analítica interdisciplinar do campo e das várias situações sócias educacionais. Uma área superlativa como a nossa nos obriga a pensar cuidadosamente no que significa ser historiador da educação e no que é central para nosso ofício. Para Lowe (2005LOWE, Roy. ¿Necessitamos todavia uma Historia de la Educación: es ésta central o periférica? In: LORENZO, Manuel Ferraz (ed.). Repensar la historia de la educación. Nuevos desafios, nuevas propuestas. Madrid: Biblioteca Nueva, 2005. p. 83-104., p.96 e 101), o que nos distingue da história, são três elementos: “a natureza da investigação, o desenvolvimento de uma metodologia particular e a natureza das afirmações feitas pelos historiadores”. Mas acrescenta uma pergunta chave - “quantos de nós poderemos dizer, ao final de nossas carreiras, que nossa obra foi vanguardista no sentido que forçou a alunos e políticos a reparar de novo no que haviam feito? Esse continua sendo nosso desafio como historiadores da educação”.

10. DENTRE OS MUITOS TEMAS QUE PESQUISAMOS EM NOSSA VIDA ACADÊMICA, HÁ AQUELES QUE ABANDONAMOS PELAS MAIS VARIADAS CIRCUNSTÂNCIAS. OUTROS, NÃO PASSARAM DE BOAS IDEIAS QUE POR FALTA DE TEMPO, INSTRUMENTOS E ATÉ FINANCIAMENTOS, NÃO FORAM TRANSFORMADAS EM PESQUISAS E FUTURAS PUBLICAÇÕES. TALVEZ DESEJEMOS MUITO MAIS QUE NOSSO RELAMPEJANTE LIMITE DE TEMPO PERMITE. INVERTEREI A INTRODUÇÃO MELANCÓLICA DE MINHA PERGUNTA PARA UMA FINALIZAÇÃO ENTUSIASMADA DE QUAL SERÁ A TUA PRÓXIMA PESQUISA, ALÉM DE ME ATREVER A PERGUNTAR SE HÁ ALGUM TEMA QUE GOSTARIA DE TER PESQUISADO, MAS QUE AINDA NÃO O FEZ?

Essa entrevista serviu para um balanço da minha atuação como professora e pesquisadora, ao longo de 46 anos de atividades. Comecei em 1973, no Colégio de Aplicação da UFRGS, e encerrei as atividades em janeiro de 2019, junto ao Programa de Pós-graduação em Educação e de História na PUCRS. Nesse longo período, houve momentos de muitas alegrias e satisfações e outros de tristezas e frustrações, como é a vida para todos. Considero que a vida acadêmica é uma “cachaça”, pois não termina com a aposentadoria formal. Continuo de alguma forma ligada a grupos de pesquisas e de colegas, que estabeleceram laços de amizade, que transcendem os espaços acadêmicos. Como pesquisadora do CNPq, continuo com o projeto de pesquisa, “A imprensa étnica italiana em Porto Alegre/RS: O jornal Stella d’Italia (1902-1925)” (Cnpq, 2019-2023), em parceria com o professor Alberto Barausse da Universidade de Molise/Itália, e vinculada aos grupos Transforpress, coordenado por Tania De Luca e Valéria Guimarães, no Brasil. Também integro os grupos de pesquisa: Arquivos Pessoais, Patrimônio e Educação, coordenado por Dóris Bittencourt Almeida e Maria Teresa Santos Cunha; e o Grupo de Pesquisa “Disciplina História da Educação (GEPEDHE)”, coordenado por Décio Gatti Jr e Carlos Monarcha.

Confesso que com a pandemia do Covid-19, me bateu uma “certa” preguiça ou desânimo pela escrita acadêmica. Cumpri com as diversas demandas externas, mas não me dediquei a pensar projetos novos. Comecei um artigo sobre minhas viagens de formação, que foram muitas, especialmente as internacionais, mas não levei avante. Acredito que hoje, mais do que quando comecei minha vida acadêmica, nos idos de 1970, a circulação dos pesquisadores é fundamental para o avanço da pesquisa e os diálogos estabelecidos, tanto em âmbito local, regional, nacional e internacional, especialmente esse último.

Quando fiz um primeiro esboço dessa entrevista, em janeiro de 2021, e continuando em março, devo dizer que o ânimo é outro, mesmo com a manutenção do isolamento social e outras medidas restritivas. Essa mudança, decorre da escrita de um artigo em parceria com Dóris Bittencourt Almeida, em plenas férias de verão dela, na praia de Torres/RS, foi um estímulo muito grande. Além disso, o convite de Norberto Dallabrida para escrever um capítulo do livro que está organizando, sobre minha experiência como aluna das classes experimentais do Colégio Estadual Pio XII. Assim são novos desafios que resultam de estímulos externos.

Temas que gostaria de pesquisar ou continuar pesquisando? Durante minha trajetória de pesquisa fiz muitos estudos pontuais que mereceriam ter continuidade, mas pelo atropelo das demandas institucionais, ficaram restritos a uma produção e/ou apresentação em evento. Vários deles demandam aprofundamento e maior pesquisa documental. No entanto, estou gostando de curtir o tempo que a aposentadoria permite. Tenho aproveitado para ler muita literatura (romances variados, biografias, etc.); ver filmes e séries; e também fazer meus labores manuais, que sempre foram minha terapia ocupacional.

Mas não podemos esquecer, como nos alerta Rosa Monteiro (2019MONTEIRO, Rosa. A ridícula ideia de nunca mais te ver. São Paulo: Todavia, 2019., p. 104), que “para viver, temos de nos narrar; somos um produto da nossa imaginação. Nossa memória é, na verdade, um invento, uma história que reescrevemos a cada dia (o que lembro hoje da minha infância não é o que eu lembrava há vinte anos); o que significa que nossa identidade também é fictícia; já que se baseia na memória. Sem essa imaginação que completa e reconstrói nosso passado e que outorga ao caos da vida uma aparência de sentido”. É isso que tentei construir com essa narrativa.

Finalizando, considero que o panorama aqui apresentado é um olhar, entre tantos possíveis, para a pesquisa em História da Educação no Brasil. Muitos dos desafios, que aqui refleti, são também para todos os historiadores da educação e, especialmente, aos jovens em formação.

Fazer o balanço de uma trajetória é também um processo de pensar o futuro, sempre imponderável. Com novos desafios e interrogações... Como será o amanhã nesses tempos tão imprevisíveis?

Curitiba (PR) / Torres(RS), abril de 2021.

REFERÊNCIAS

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  • WINOCK, Michel. O Século dos Intelectuais. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
  • 1
    A polivalência de 6ª série no Colégio de Aplicação, tinha sua história vinculada ao antigo ginásio (Lei nº 4024/61), quando os alunos ingressavam na Escola, oriundos do primário realizado em diferentes estabelecimentos de ensino, onde esse nível de ensino se caracterizava por ter um professor em sala de aula (unidocência). Havia a crença de que, aos alunos que entravam nesse novo ambiente escolar, para melhor integrarem-se aos princípios educativos e à dinâmica escolar, o mais indicado era terem o acompanhamento constante de um professor, com formação em nível superior. Essa experiência vinha se realizando desde 1964. Cumpre ainda assinalar o papel que o Colégio de Aplicação desempenhou como escola-laboratório e de ensino de excelência, durante muitos anos, como polo formador e espaço de passagem para um grande contingente de professores que compuseram/compõem o corpo docente da Faculdade de Educação e de outras faculdades, institutos e escolas superiores (BASTOS, 2002BASTOS, Maria Helena Camara. Leituras das famílias brasileiras do século XIX: O Jornal das Famílias (1863-1878). Revista Portuguesa de Educação, v. 15, n.2, p. 169-214, 2002b.).
  • 2
    Importante assinalar que meu contato inicial decorreu da leitura do artigo da historiadora da educação Eliane Teixeira Lopes (Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG) sobre o Service d’Histoire de l’Éducation, quando cursava o primeiro ano de doutorado. (LOPES, 1988LOPES, Eliane Texeira. O Service d´Histoire de l´Éducation: a serviço de pesquisadores e docentes. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 8, p. 32-35, dez. 1988.).
  • 3
    Ver GARCIA (2021GARCIA, Paola Salomé Lopes. Fribourg - Nova Friburgo. De l’imigration de 1819 aux célébrations du bicentenaire. Mémoire, oubli et transferts culturelles. In: FONTAINE, Alexander. (dir.). Penseur la circulation des savoirs scolaires dans l’espace transatlantique: émigrations, transferts, créations (XVIII - XX siécle). France: Editions Le Bord de L’Eau , 2021. p. 55-68.) e MESQUIDA; BERNZ & AKKARI (2017MESQUIDA, Peri; BERNZ, Mauricio Eduardo e AKKARI, Abdeljalil. Uma pedagogia do diálogo e do coração: Grégoire Girard e Paulo Freire - Dois intelectuais católicos a dois continentes e dois séculos de distância. Teias, Rio de Janeiro, v. 18 n. 51, p. 175-188, out./dez. 2017.).
  • 4
    BASTOS; JACQUES & ALMEIDA (2013BASTOS, Maria Helena Camara. JACQUES, Alice Rigoni & ALMEIDA, Dóris Bittencourt (orgs.). Do Deutscher Hilfsverein ao Colégio Farroupilha/RS: Memórias e histórias (1858-2008), Porto Alegre: EDIPUCRS, v.1, 2013., 2015bBASTOS, Maria Helena Camara. JACQUES, Alice Rigoni & ALMEIDA, Dóris Bittencourt et alii (orgs.). Do Deutscher Hilfsverein ao Colégio Farroupilha/RS: Memórias e histórias (1858-2008), Porto Alegre: EDIPUCRS , v.2, 2015b.).
  • 5
    Conheci o professor José Gonçalves Gondra em evento da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), em Caxambu, nos idos de 1990. Em visita ao Rio de Janeiro, me ciceroneou em uma visita à Academia de Medicina do Rio de Janeiro, onde estão depositadas as teses médicas do século XIX, posteriormente objeto de sua tese de doutorado.
  • 6
    Na historiografia da história da educação, Jean-François Sirinelli (2003, SIRINELLI, Jean-François. “Os Intelectuais”. In: RÉMOND, René (org.). Por uma história política, Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003, p. 231-269.p. 231-269) tem sido uma referência muito utilizada, por considerar que os intelectuais, enquanto atores históricos, são portadores de redes de sociabilidades e em diálogo com suas trajetórias geracionais, condição que os torna um objeto particular em relação aos demais objetos de investigação historiográfica.
  • 7
    A obra “Pensadores Sociais e História da Educação” (LOPES & FARIA FILHO, 1995; 2012LOPES, Eliane Texeira. O Service d´Histoire de l´Éducation: a serviço de pesquisadores e docentes. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 8, p. 32-35, dez. 1988.) tem o objetivo de apresentar a forma como os clássicos das ciências humanas e sociais têm sido mobilizados/apropriados pelos pesquisadores da história da educação brasileira em seus respectivos campos de estudo” (1995, p.7).
  • 8
    Repositório de conteúdo digital nas pesquisas de história da educação matemática. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/160925

POST SCRIPTUM (POR MARIA HELENA CAMARA BASTOS)

Em 12 de outubro de 2020, recebo o convite do professor Marcus Levy Bencostta, para participar da “Coletânea “História da Educação em Memórias: formação e ofício” (título provisório), “que constaria de entrevistas com pesquisadores da História da Educação, que se constituíam como referências e expressassem tendências geracionais nos modos de produzir estudos em nosso campo”. Convite aceito, minha entrevista seria considerada piloto para submeter à Editora Unesp, acrescida da súmula com a nominata dos demais convidados. A entrevista piloto foi encaminhada e foram sugeridas reformulações, que decorreram três versões, enviadas em 2021.

Com a suspensão, em 2022, do projeto do Comitê de Publicações da SBHE com a Editora da UNESP para a produção do livro, no formato coletânea, intitulado, “História da Educação em Memórias: formação e ofício”, em comum com o professor Marcus Levy (coordenador da coletânea), submetemos a entrevista já realizada à revista História da Educação da Associação Sul-Rio-Grandense de Pesquisadores em História da Educação/ASPHE, razão pela qual resolvi fazer esse pós-escrito, pois essa data é muito simbólica de minha trajetória profissional. Em março de 1973, entrei como professora no Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em março de 2023, entrego o último relatório de pesquisa ao CNPq, sendo pesquisadora desde março de 1997, quando ingressei como Bolsista Produtividade em Pesquisa Nível - 2 C e concluo, agora, como Bolsista Produtividade em Pesquisa - Nível 1B. Esse interstício - 1973-2023 - compreende 50 anos de dedicação à docência e pesquisa em diferentes universidades gaúchas, além de estadas internacionais na França e Itália, em especial.

Torres, maio de 2022.

Editado por

Editora responsável:

Doris Bittencourt Almeida

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Maio 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    13 Jul 2022
  • Aceito
    13 Out 2022
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