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A República em negativo: o sistema conceitual do padre Carapuceiro

The Conceptual Sistem of the Priest Carapuceiro

Resumo

Em 1791 nasceu em Recife o padre e professor de gramática e retórica Miguel do Sacramento Lopes Gama, autor de diversos livros e panfletos políticos, além de cerca de uma dúzia de periódicos publicados entre 1822 e 1852 em Pernambuco e no Rio de Janeiro. O presente artigo visa realçar, em primeiro lugar, o emprego pelo redator da semântica histórica como recurso retórico, tendo em vista refutar o ideário republicano. Em segundo lugar procura-se sublinhar a inflexão de suas ideias a partir das propostas de reforma constitucional durante o período regencial.

Palavras-chave:
semântica; retórica; imprensa

Abstract

In 1791 was born in Recife the priest Miguel do Sacramento Lopes Gama, author of many books and political panflets, besides almost twelve journals published between 1822 and 1852 in Pernambuco and Rio de Janeiro. This article deals with, in the first place, the way he used the semantic as a rethorical resourse. Secondly, it intends to underline the change of his ideas in the context of the constitucional reform in the regencial period.

Keywords:
semantic; rethoric; press

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  • 1
    COSTA, Francisco Augusto Pereira da. Diccionario Biographico de Pernambucanos Celebres. Recife: Typographia Universal, 1882. p.723.
  • 2
    BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionario bibliographico brazileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1900. p.287.
  • 3
    Dialogo entre hum carcunda, hum constitucional e hum federativo do Equador. Pernambuco: Typographia Nacional, 1825. Optou-se por aceitar a autoria de Lopes Gama, não apenas por ele dirigir naquele momento a Tipografia Nacional, mas sobretudo pela afinidade entre as ideias apregoadas então e aquelas enunciadas em seus jornais.
  • 4
    Outros jornais teriam sido escritos por Lopes Gama como: O Despertador, O Pernambucano (1844) e O Sete de Setembro (1845-1846). Cabe acrescentar a edição no Rio de Janeiro da série de artigos "O philosopho provinciano na côrte a seu compadre na provincia", além de poemas, sob o pseudônimo "O Solitario", inseridos na folha Marmota Fluminense em 1852, ano de seu falecimento. SODRÉ, Nelson Werneck. A história da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. p.164. Ver ainda a introdução de MELLO, Evaldo Cabral de. O Carapuceiro: crônicas de costumes. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. Também é referida a sua participação no Correio Mercantil do Rio de Janeiro por BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Op. Cit., p.287.
  • 5
    Entre as principais relacionam-se: TRACY, Conde Destutt de. Memorias sobre quais são os meios de fundar a moral de um povo. Pernambuco: Typographia Fidedigna, 1831; TOROMBERT, Honorio. Introdução aos princípios do Direito Politico. Recife: Typographia de M. F. Faria, 1837; SUZANNE, P. H. Principios gerais de Economia Publica e Industrial em forma de conversações. Pernambuco: Typographia de M. F. Faria, 1837; LYTELTON. A religião cristã demonstrada pela conversão e apostolado de São Paulo. Pernambuco: Typographia de M. F. Faria, 1839; GÉRUZEZ, E. Novo curso de philosophia, redigido segundo o novo programma para o bacharel em Letras. Pernambuco: Typographia de M. F. Faria, 1840; CARMIGNANI. Huma lição academica sobre a pena de morte. Pernambuco: Typographia de M. F. Faria, 1850; PELLICO. Silvio. Dos deveres dos homens. Pernambuco: Typographia de M. F. Faria, 1852.
  • 6
    GAMA, Miguel Sacramento Lopes. Selecta classica para leitura e analyse grammatical nas Escolas de Instrução Elementar e para Analyse Oratoria e Poetica nas aulas de Retorica, ordenada pelo Pe M. S. L. Gama . Recife: Typographia Classica, 1874, 4ª edição. Compete citar ainda a publicação do livro A pharpeleida, ou princípio, meio e fim das filhas de Jerusalem com seus visos de poema. Pernambuco: Typographia de M. F. Faria.
  • 7
    A respeito de Miguel do Sacramento Lopes Gama ver: QUINTAS, Amaro. O Padre Lopes Gama Político. Recife : Imprensa Universitária, 1958; MELLO, Evaldo Cabral de. Introdução. In: Idem (org.). O Carapuceiro... Op. Cit. Uma detalhada análise bibliográfica encontra-se em FELDMAN, Ariel. O Império das carapuças: espaço público e periodismo político no tempo das regências (1832-1842). Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Paraná, 2006. Este pesquisador enfatiza os aspectos políticos da obra do padre carapuceiro em detrimento do viés satírico, sublinhado pelos demais autores.
  • 8
    Sobre a presença das ideias de Tocqueville nos escritos de Lopes Gama, ver FELDMAN, Ariel. Uma crítica às Instituições representativas no período das regências (1832-1840). Almanack Braziliense, São Paulo, n.4, novembro de 2006. Disponível em http://www.revistasusp.sibi.usp. br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S180881392006000400004&lng=pt&nrm=iso
  • 9
    O Carapuceiro, n.30, 23 de agosto de 1834.
  • 10
    GUIZOT, François. Teoria do governo representativo. Pernambuco: Typographia de Santos & Companhia, 1845. p.15.
  • 11
    Ibidem, p.16.
  • 12
    Dialogo entre hum carcunda ..., Op. Cit., p.4.
  • 13
    Ibidem, p.9.
  • 14
    Ibidem, p.7.
  • 15
    O Constitucional, n.8, 27 de julho de 1829.
  • 16
    Sobre as diferentes identidades das facções políticas do período ver MOREL, Marco. As transformações dos espaços públicos: imprensa, atores políticos e sociabilidades na cidade imperial (1820-1840). São Paulo: Hucitec, 2005; FONSECA, Silvia C. P. de Brito. A idéia de República no Império do Brasil: Rio de Janeiro e Pernambuco (1824-1834). Tese de Doutorado em História. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de janeiro, 2004. Ver também BASILE, Marcello O. N. de Campos. O Império em construção: projetos de Brasil e ação política na Corte regencial. Tese de Doutorado em História. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de janeiro, 2004.
  • 17
    Para uma análise minuciosa do "dicionário político" da Nova Luz Brasileira ver BASILE, Marcello O. N. de Campos. Luzes a quem está nas trevas: a linguagem política radical nos primórdios do Império. Topoi: Revista de História, n.3, Rio de Janeiro, setembro de 2001.
  • 18
    Nova Luz Brasileira, n.16, 3 de fevereiro de 1830.
  • 19
    O Popular, n.11, 7 de julho de 1830. Pernambuco. Grifado originalmente.
  • 20
    Nova Luz Brasileira, n.11, 15 de janeiro de 1830.
  • 21
    O Popular, n.22, 14 de agosto de 1830.
  • 22
    O Popular, n.15, 21 de julho de 1830.
  • 23
    O Carapuceiro, n.30, 23 de agosto de 1834. Grifado no original.
  • 24
    Dialogo entre hum carcunda ..., Op. Cit., p.9-10.
  • 25
    O Constitucional, n.3, 9 de julho de 1829.
  • 26
    O Constitucional, n.30, 12 de outubro de 1829.
  • 27
    O Popular, n.1, 2 de junho de 1830.
  • 28
    Idem, n.7, 23 de julho de 1830. Grifos no original.
  • 29
    Ibidem.
  • 30
    Ibidem.
  • 31
    Idem, n.17, 28 de julho de 1830.
  • 32
    Idem, n.33, 22 de setembro de 1830.
  • 33
    Dialogo entre hum carcunda ..., Op. Cit.., p.18.
  • 34
    O Constitucional, n.11, 6 de agosto de 1830.
  • 35
    Dialogo entre hum carcunda ..., Op. Cit., p.20-21.
  • 36
    Sobre as negociações entre os grupos políticos acerca da reforma federalista, ver BASILE, Marcello O. N. de Campos. O "negócio mais melindroso": reforma constitucional e composições políticas no Parlamento regencial (1831-1834). In: NEVES, Lúcia M. B. Pereira das (org.). Livros e impressos: retratos do Setecentos e do Oitocentos. Rio de Janeiro: EdUerj, 2009. p.185-219.
  • 37
    O Popular, n.7, 23 de junho de 1830. Grifado originalmente.
  • 38
    O Popular, n.53, 12 de março de 1831.
  • 39
    GAMA, Miguel Sacramento Lopes. Lições de eloquencia nacional...Op. Cit., vol.1, p.36.
  • 40
    Ibidem, Introdução, p.III.
  • 41
    O Carapuceiro, n.3, 28 de abril de 1832.
  • 42
    Idem, n.29, 16 de agosto de 1834.
  • 43
    Ibidem.
  • 44
    Idem, n.30, 23 de agosto de 1834.
  • 45
    O Popular, n.56, 22 de março de 1831.
  • 46
    O Carapuceiro, n.19, 29 de agosto de 1832.
  • 47
    Idem, n.26, 26 de julho de 1834.
  • 48
    Idem, n.32, 6 de setembro de 1834.
  • 49
    Idem, n.21, 7 de setembro de 1832.
  • 50
    Ibidem.
  • 51
    Ibidem.
  • 52
    Ibidem.
  • 53
    Ibidem.
  • 54
    Ibidem.
  • 55
    Cativeiro neste caso tem uma conotação estritamente política, uma vez que coluna era a denominação conferida em Pernambuco aos caramurus.
  • 56
    O Carapuceiro, n.21, 7 de setembro de 1832.
  • 57
    Ibidem.
  • 58
    CARVALHO, Marcus J. M. de. Aí vem o CapitãoMor: as eleições de 1828-30 e a questão do poder local no Brasil imperial. Tempo, Universidade Federal Fluminense, Departamento de História, vol.7, n.13, p.157-187, 2002 .
  • 59
    O Carapuceiro, n.39, 9 de fevereiro de 1833.
  • 60
    Idem, n.49, 20 de abril de 1833.
  • 61
    Ibidem.
  • 62
    Ibidem.
  • 63
    Ibidem. Grifos no original.
  • 64
    GAMA, Miguel Sacramento Lopes. Selecta classica para leitura e analyse..., Op. Cit., p.33. Grifos no original.
  • 65
    HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1987. p.50 e ss.
  • 66
    O Carapuceiro, n.32, 6 de setembro de 1834. Grifo no original.
  • 67
    O Carapuceiro, n.24, 30 de setembro de 1832.
  • 68
    O Carapuceiro, n.37, 30 de janeiro de 1833.
  • 69
    Ibidem.
  • 70
    Ibidem.
  • 71
    O padre Gama chama a atenção em seu Lições de eloqüência nacional para a utilização de figuras como a prosopopéia definida por ele como a "introdução de falas do verdadeiro Deus ou das Divindades do Paganismo, ou ainda de pessoas já falecidas e, para assim dizer, evocadas do túmulo; que se chama Idolopeia." Op. Cit.., p.189.
  • 72
    O Carapuceiro, n.65, 16 de agosto de 1833.
  • 73
    Ibidem. Grifos no original.
  • 74
    O Carapuceiro, n.32, 6 de setembro de 1834.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2012

Histórico

  • Recebido
    Out 2011
  • Aceito
    Fev 2012
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