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Uma leitura sobre o Império do Brasil no contexto do século XIX: diálogo com Ricardo Salles

Reading the Brazilian Empire in the Nineteenth Century Context: a Dialogue with Ricardo Salles

Resumo

O presente artigo analisa o texto O Império do Brasil no contexto do século XIX. Escravidão nacional, classe senhorial e intelectuais na formação do Estado, procurando ressaltar a sua contribuição para o debate historiográfico acerca da construção do Estado Imperial brasileiro durante o Segundo Reinado.

Palavras-chave:
Estado; classe senhorial; intelectual orgânico; elite estadista

Abstract

This article analyzes the essay The Brazilian Empire in the Nineteenth Century. National Slavery, Planter Class, and Intellectuals in the Process of the State Building, seeking to highlight its contribution to the historiographical debate on the construction of the Imperial State of Brazil during the Second Empire.

Keywords:
State; planter class; organic intellectual; elite-statesman

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  • 1
    GRAMSCI, Antonio. Maquiavel, a política e o Estado Moderno. Tradução de Luiz Mario Gazzeano. 5ª edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1985; _____. Os Intelectuais e a organização da Cultura. 8ª edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991; MATTOS, Ilmar Rollof. O Tempo Saquarema. São Paulo: HUCITEC, 1986.
  • 2
    Segundo Ricardo Salles, a presença dos representantes da classe senhorial com sede no Rio de Janeiro foi maior do que a naturalidade de cada presidente do gabinete conforme ressaltou José Murilo de Carvalho. Cf. CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem e Teatro das Sombras. Rio de Janeiro, EDUFRJ/Relume Dumará, 1996.
  • 3
    BARBOSA, Silvana. O Conselho de Ministros no Império do Brasil. Locus: revista de história, Juiz de Fora, v.13, n.1, p.52-62, 2007.
  • 4
    BERNARDO, João. Gestores, Estado e Capitalismo de Estado. São Paulo: Ensaio, 1985. Agradeço ao prof. João Pinto, Departamento de História da Universidade Federal de Goiás, pelo conhecimento do autor mencionado.
  • 5
    Há uma extensa literatura sobre a obra de Antonio Gramsci e a Teoria do Estado Ampliado. Além do próprio Gramsci já destacado, conferir os trabalhos de Nicos Poulantzas e de autores brasileiros como da Profa. Sonia Regina de Mendonça do PPGH/ UFF. Cf. POULANTZAS, Nicos. O Estado, o Poder, o Socialismo. Traduzido por Rita Lima. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Graal, 1985; MENDONÇA, Sonia Regina. Economia e Política na Historiografia Brasileira: http://www.historia.uff.br/estadoepoder/files/ art01_mendonca_economiaepolitica.pdf; Idem. O Patronato Rural no Brasil Recente. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2010; Idem. A pesquisa sobre Estado e Poder: balanço historiográfico. In: SILVA, Carla Luciana, CALIL, Gilberto Grassi e KOLING, Paulo José (org.). Estado e Poder: Questões Teóricas e Estudos Históricos. Cascavel: EDUNOESTE, 2011. p.13-34.
  • 6
    MARTINS, Maria Fernanda Vieira. A velha arte de governar. Um estudo sobre política e elites a partir do Conselho de Estado (1842-1889). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2007.
  • 7
    MARTINS, Maria Fernanda. A velha arte de governar: um estudo sobre política e elites a partir do Conselho de Estado (1842-1889). 2005, 407 f. Tese (Doutorado em História). Programa de Pós-graduação em História Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005; Idem. O Círculo dos grandes: Um estudo sobre política, elites e redes no segundo reinado a partir da trajetória do visconde do Cruzeiro (1854-1889). Loccus: Revista de História, Universidade Federal de Juiz de Fora, v.13, n.1, p.93-122, 2007.
  • 8
    A respeito de família e de rede de sociabilidade cf. BERTRAND, Michel. De la familia a la red de sociabilidad. Revista Mexicana de Sociologia, n.2, v.61, abril-junho de 1999; LEVI, Giovanni. A Herança Material: trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII. Prefácio de Jacques Revel; tradução de Cynthia Marques de Oliveira. Rio de Janeiro: Civilizção Brasileira, 2000. A respeito da micro-história italiana cf. LIMA, Henrique Spada. A micro-história italiana: escalas, indícios e singularidades. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. Uma crítica à micro-história muito importante resgatando a longa duração e a estrutura está no texto de TOMICH, Dale. A Ordem do Tempo Histórico: a Longue Durée e a Micro-História. Almanack, Guarulhos, n.02, p.38-51, 2º semestre de 2011. http://www.almanack.unifesp.br/index.php/ almanack/article/view/746
  • 9
    CARVALHO, José Murilo de. Op. Cit, p.327-358.
  • 10
    MARTINS, Maria Fernanda Vieira. A Velha arte de governar: o Conselho de Estado no Brasil Imperial. Topoi, v.7, n.12, jan-jun-2006, p.196.
  • 11
    TILLY, Charles. Coerção, capital e estados europeus (990-1992). Tradução de Geraldo Gerson de Souza. São Paulo: EDUSP, 1996.
  • 12
    Ibidem, p.213.
  • 13
    Ibidem.
  • 14
    PANG, Eul-Soo. In Pursuit of Honor and Power: Noblemen of the Southern Cross in NineteenthCentury Brazil. Tuscaloosa: University of Alabama Press, 1988.
  • 15
    SALLES, Ricardo. O Império do Brasil no contexto do século XIX. Escravidão nacional, classe senhorial e intelectuais na formação do Estado. Almanack, Guarulhos, n.04, nov/2012, p.8. Uma "curiosidade": Maria Carolina Soares Torres, uma das filhas de Cândido José Rodrigues Torres (Barão de Itambi) e irmão do visconde de Itaboraí, casou-se com José Antônio Soares Ribeiro, grande proprietário rural, futuro barão de Inoã. Do consórcio, nasceu em Paris Evelina Torres Soares Ribeiro, e que foi casada com Joaquim Nabuco. O "inimigo" político dos saquaremas, o liberal e abolicionista Nabuco foi casada com uma saquarema, o que possibilitou a ele a transferência de um capital simbólico e familiar muito importante. A respeito do capital simbólico e familiar cf. BOURDIEU, Pierre. Razões Práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996.
  • 16
    MUASE, Mariana. As Memórias da Viscondessa: Família e Poder no Império. Rio de janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008. Verificar também FERREIRA, Marieta de Moraes. Histórias de Família: Casamentos, Alianças e Fortunas. Rio de Janeiro, Léo Chritino Editorial, 2008.
  • 17
    SALLES, Ricardo. O Império do Brasil no contexto do século XIX, Op. Cit., p.9.
  • 18
    A respeito da trajetória de Paulo Barbosa cf. COSTA, Maria Cristiane da. Práticas de pensões de estudos no Império: um olhar sobre pensionários militares (1825). Niterói, 2012. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal Fluminense, Programa de Pós-graduação, 2012.
  • 19
    SALLES, Ricardo. O Império do Brasil no contexto do século XIX, Op. Cit., p.10.
  • 20
    SALLES, Ricardo. Nostalgia Imperial: a Formação da Identidade Nacional no Brasil do Segundo Reinado. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996.
  • 21
    O peso sobre as províncias do Norte na Guerra do Paraguai fez com que as "velhas rusgas" entre o Norte e o Sul, desde os tempos de D. João VI e de D. Pedro I, retornassem pós-1870. MELLO, Evaldo Cabral de. O Norte Agrário e o Império, 1871-1889. 2ª ed. revista. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999.
  • 22
    Eu tenho muitas dúvidas se José Maria da Silva Paranhos, o Visconde do Rio Branco, pai do famoso Barão do Rio Branco, se considerava um baiano, defendendo os interesses de um grupo regional específico. A sua vida política e profissional foi feita no Rio de Janeiro.
  • 23
    Embora datado, e necessitando de uma revisão bibliográfica, Ricardo Salles tem um livro muito interessante sobre a Guerra do Paraguai. Cf. SALLES, Ricardo. Guerra do Paraguai, escravidão e cidadania na formação do exército. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1990.
  • 24
    SALLES, Ricardo. O Império do Brasil no contexto do século XIX, Op. Cit., p.42.
  • 25
    Nas matrículas do Tribunal do Comércio, criado com o Código Comercial de 1850, os negociantes se matriculavam como negócio de grosso. Como exemplo temos João P. Darrigue Faro, 2º barão, depois Visconde do Rio Bonito, matriculado como Comércio de Comissão de Grosso Trato de Comissão. GUIMARÃES, Carlos Gabriel. A presença inglesa nas Finanças e no Comércio no Brasil Imperial: os casos da Sociedade Bancária Mauá, MacGregor & Co. (1854-1866) e da firma inglesa Samuel Phillips & Co. (1808-1840). São Paulo: Alameda/FAPERJ, 2012 (no prelo).
  • 26
    A imobilização do capital em bens imóveis era, e é até hoje, uma estratégia de acumulação da riqueza. Embora o trabalho de João Fragoso e Manolo Florentino tinha como principal preocupação compreender a reprodução da economia colonial, particularmente a do Rio de Janeiro, na fase descendente (de crise) do ciclo de Kondratief da economia mundial, que corresponderia à crise do Antigo Sistema Colonial, os investimentos em propriedades e bens semoventes (escravos e outros) faziam parte de uma racionalidade econômica que não era arcaica. A economia escravista, ou melhor, a formação econômica e social escravista não era capitalista e, para analisá-la, assim como a atuação dos indivíduos, temos que compreendê-la como um todo, articulando o econômico, social, político e cultural. Como destacou Karl Polanyi, "a economia do homem encontra-se, regra geral, submergida nas suas relações sociais". CF. POLANYI, Karl. A nossa obsoleta mentalidade mercantil. Revista Trimestral de História e Idéias, n.1, 1977, p.7-19; FRAGOSO, João Luiz R. e FLORENTINO, Manolo. O arcaísmo como projeto: mercado atlântico, sociedade agrária e elite mercantil em uma economia colonial tardia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
  • 27
    O clássico trabalho do Maurice Godelier também possibilita pensar sobre a racionalidade econômica dos fazendeiros, que não era a moderna racionalidade capitalista. GODELIER, Maurice. Racionalidade e Irracionalidade na Economia. Rio de Janeiro: Ed. Tempo Brasileiro, 1976.
  • 28
    GUIMARÃES, Carlos Gabriel. A presença inglesa nas Finanças e no Comércio no Brasil Imperial, Op. Cit.
  • 29
    Em trabalho recente, numa documentação do State of Papers do governo britânico de 1829, encontrei o nome de Antonio Clemente Pinto, futuro barão de Nova Friburgo, empreendendo uma carregação de escravos. No mesmo documento apareceu João Rodrigues Pereira de Almeida, Barão de Ubá, o primeiro barão de café do vale do Paraíba fluminense, com 3 carregações de escravos no ano. GUIMARÃES, Carlos Gabriel. O "comércio de carne humana" no Rio de Janeiro: o negócio do tráfico negreiro de João Rodrigues Pereira de Almeida e da firma Joaquim Pereira de Almeida & Co., 1808-1830 - primeiros esboços In: BITTENCOURT, Marcelo, GEBARA, Alexsander e RIBEIRO, Alexandre (org.). África passado e presente: II encontro de estudos africanos da UFF. Niterói: PPG-HISTÓRIA-UFF, 2010 (e-book)
  • 30
    FRAGOSO, João L. Ribeiro e RIOS, Ana Maria Lugão. Um empresário brasileiro no oitocentos. In: MATTOS, Hebe M. de e SCHNOOR, Eduardo (org.). Resgate: uma janela para o oitocentos. Rio de Janeiro: Topbooks, 1995. p.199.
  • 31
    A respeito do papel do intermediário, principalmente dos comissários, conferir o importante trabalho de SWEIGART, Joseph E. Coffe factorage and the emergence of a Brazilian Capital Market, 1850/1888. New York/London: Garland Publishing, 1987.
  • 32
    WERNECK, Luiz Peixoto de Lacerda. Estudos sobre o crédito rural e hipotecário. Rio de Janeiro: Garnier, 1857.
  • 33
    SOUZA FRANCO, Bernardo de. Os Bancos do Brasil: sua história, defeitos de organização atual e reforma no sistema bancário. 2ª ed. Brasília: Ed. UNB, 1984 (a primeira edição foi de 1848).
  • 34
    SALLES, Ricardo. O Império do Brasil no contexto do século XIX, Op. Cit., p.42.
  • 35
    PANG, Eul-Soo. Op. Cit.
  • 36
    SALLES, Ricardo. O Império do Brasil no contexto do século XIX, Op. Cit., p.31.
  • 37
    CAIN, J.P. & HOPKINS, A.G. Gentlemanly Capitalism and British Expansion Overseas I. the Old Colonial System, 1688-1850. The Economic History Review, 2nd ser.XXXIX, n.4 (1986), p.501525; JONES, Charles. International Business in the 19th century. The rise and fall of a cosmopolitan burgeoisie. Great Britain: Wheatsheaf Books, 1987.
  • 38
    A respeito do conceito de habitus cf. BOURDIEU, Pirre. Sociologia (organização de Renato Ortiz). São Paulo: Ática, 1983; SETTON, Maria da Graça J. A teoria do habitus em Pierre Bourdieu: uma leitura contemporânea. Anped, 2002: http://www. anped.org.br/rbe/rbedigital/RBDE20/RBDE20_06_ MARIA_DA_GRACA_JACINTHO_SETTON.pdf
  • 39
    A respeito do conceito de elite há uma extensa bibliografia. Para o nosso estudo Cf. BOBBIO, Norberto. Elite, Teoria das. In: BOBBIO; Norberto, MATTEUCCI, Nicola, PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. Vol.1. Tradução de Carmem C Varriale et alli; Coord. Trad. João Ferreira; Revisão Geral João Ferreira e Luiz Guilherme Pinto Cacais. Brasília: Ed. UNB, 1998. p.385-391; GRYSNPAN, Mario. Ciência, política e trajetórias sociais: uma sociologia histórica da teoria das elites. Rio de Janeiro: Ed. fundação Getúlio Vargas, 1999.
  • 40
    A respeito da influência do conceito de elite no marxismo verificar BOOTOMORE, Tom. Elite. _____ (ed.). Dicionário do Pensamento Marxista. Tradução de Waltensir Dutra; Revisor técnico e pesquisa bibliográfica Antonio Monteiro Guimarães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1988. p.122-123.
  • 41
    SALLES, Ricardo. O Império do Brasil no contexto do século XIX, Op. Cit., p.32. Destaque meu.
  • 42
    Ibidem. Destaque meu.
  • 43
    Ibidem, p.10.
  • 44
    Ver o verbete sobre Antonio Gramsci, In: BOTTOMORE, Tom (ed). Dicionário do Pensamento Marxista. Edição brasileira organizada por Antonio Monteiro Guimarães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.1988. p.166. Recebido para publicação em setembro de 2012 Aprovado em setembro de 2012

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2012

Histórico

  • Recebido
    Set 2012
  • Aceito
    Set 2012
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