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Estados Unidos, Segunda Escravidão e a Economia Cafeeira do Império do Brasil

United States, Second Slavery, and the Brazilian Coffee Economy

Resumo

O artigo comenta o ensaio de Edward E. Baptist, A Segunda Escravidão e a Primeira República Norte-Americana, com base na constatação de que o Sul dos Estados Unidos representou o coração da estrutura histórica da Segunda Escravidão. Neste sentido, a história da Primeira República NorteAmericana pode ser considerada como componente essencial da história do Império do Brasil. O artigo explora essa ideia por meio de um rápido exame da economia cafeeira brasileira.

Palavras-chave:
escravidão; café; Estados Unidos; Brasil

Abstract

The present article comments on Edward E. Baptist's essay The Second Slavery and the First American Republic considering his statement that the US South represented the core of the Second Slavery. Therefore, the history of the First American Republic can be considered an essential component of the history of the Brazilian Empire. The article explores such an idea by means of a brief exam of the Brazilian coffee economy.

Keywords:
slavery; coffee; United States; Brazil

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  • 1
    Ver os três ensaios de abertura de TOMICH, Dale. Pelo Prisma da Escravidão. Trabalho, Capital e Economia Mundial. (1ª ed. de 1967; trad.port). São Paulo: Edusp, 2011.
  • 2
    Um autor representativo dessa perspectiva, e que vem sendo bastante lido no Brasil, é BAILYN, Bernard. As origens ideológicas da Revolução Americana (trad.port.). Bauru: Edusc, 2003.
  • 3
    LYND, Staughton. Class Conflict, Slavery, and the United States Constitution (1ª ed. de 1967). Cambridge: Cambridge University Press, 2009; MORGAN, Edmund. American Slavery, American Freedom. The Ordeal of Colonial Virginia. New York: W.W.Norton, 1975; OAKES, James. Slavery and Freedom. An Interpretation of the Old South. New York: Vintage, 1990.
  • 4
    Ver, dentre outros trabalhos, MARQUESE, Rafael de Bivar. Feitores do Corpo, Missionários da Mente. Senhores, letrados e o controle dos escravos nas Américas, 1660-1860. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. p.259-376; SALLES, Ricardo. E o Vale era o escravo. Vassouras, século XIX. Senhores e escravos no coração do Império. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008; EL YOUSSEF, Alain. Imprensa e escravidão. Política e tráfico negreiro no Império do Brasil (Rio de Janeiro, 1822-1850). (Dissertação de Mestrado em História Social). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010; BERBEL, Márcia; MARQUESE, Rafael; PARRON, Tâmis. Escravidão e Política. Brasil e Cuba, c.1790-1850. São Paulo: Hucitec, 2010; PARRON, Tâmis. A política da escravidão no Império do Brasil, 1826-1865. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011; SALLES, Ricardo. O Império do Brasil no contexto do século XIX. Escravidão nacional, classe senhorial e intelectuais na formação do Estado. Almanack. Guarulhos, n.04, p.5-45, 2º semestre de 2012.
  • 5
    MARQUESE, Rafael de Bivar; PARRON, Tâmis Peixoto. Internacional escravista: a política da Segunda Escravidão. Topoi, v.12, n.23, p.97-117, dez. 2011.
  • 6
    FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. (1ª ed. de 1959). São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
  • 7
    GRAHAM, Richard. Economics or Culture? The Development of US South and Brazil in the Days of Slavery. In: GISPEN, Kees (ed.) What Made the South Different? Jackson: University Press of Mississippi, 1990. p.109. Versão reduzida desse artigo foi publicada anteriormente em português - GRAHAM, Richard. Escravidão e desenvolvimento econômico: Brasil e Estados Unidos no século XIX. Estudos Econômicos, v.13, n.1, p.223-257, 1983.
  • 8
    Ver nota 5.
  • 9
    Os dados sobre a produção mundial em 1845 foram retirados de SAMPER, Mario; FERNANDO, Radin. Historical Statistics of Coffee Production and Trade from 1700 to 1960. In: CLARENCESMITH, William Gervase; TOPIK, Steven.(eds). The Global Coffee Economy in Africa, Asia, and Latin América, 1500-1989. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. p.418 e p.432. A informação sobre as exportações brasileiras na década de 1890 foi obtida no "Apêndice Estatístico" preparado por Mauro Rodrigues da Cunha para o livro 150 anos de Café. São Paulo: Marcellino Martins & E.Johnston Exportadores Ltda., 1992. p.371.
  • 10
    McDONALD, Michelle Craig. From Cultivation to Cup: Caribbean Coffee and the North American Economy, 1765-1805. PhD Dissertation. Michigan: The University of Michigan, 2005. p.15.
  • 11
    TOPIK, Steven. The Integration of the World Coffee Market. In: CLARENCE-SMITH, William Gervase; TOPIK, Steven.(eds). The Global Coffee Economy... Op. Cit., p.37. Ver, também, McDONALD, Michelle Craig; TOPIK, Steven. Americaning Coffee: Remaking a Consumer Culture. In: TRENTMANN, Frank; NüTzENADEL, Alexander (ed.). Food and Globalization. Consumption, Markets and Politics in the Modern World. Oxford: Berg Publishers, 2008.
  • 12
    Todo o parágrafo está baseado no capítulo 3 de SCHOEN, Brian. The Fragile Fabric of the Union. Cotton, Federal Politics, and the Global Origins of the Civil War. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 2009.
  • 13
    Arquivo Histórico do Itamaraty. Ofícios enviados de Washington ao Rio de Janeiro, 233/3/1. Agradeço a Tâmis Parron, que me disponibilizou a reprodução desses documentos.
  • 14
    Os níveis de sobre-exploração do trabalho escravo na atividade algodoeira registrados por Edward Baptist são comparáveis ao que identifiquei para o café no Vale do Paraíba. Ver, a respeito, MARQUESE, Rafael de Bivar. Diáspora africana, escravidão e a paisagem da cafeicultura no Vale do Paraíba oitocentista. Almanack Braziliense, São Paulo, n.7, p.138-152, maio de 2008. PARRON, Tâmis. A política da escravidão no Império do Brasil... Op. Cit., p130, lembra que a primeira petição pela reabertura do tráfico transatlântico de escravos foi endereçada pela Câmara Municipal de Bananal (SP) à Assembleia Geral justamente em 1834.
  • 15
    O melhor trabalho sobre a trajetória da Maxwell, Wright & Co., e que serviu de base para as informações contidas neste e nos próximos parágrafos, é o livro de JARNAGIN, Laura. A Confluence of Transatlantic Networks. Elites, Capitalism, and Confederate Migration to Brazil. Tuscaloosa: The University of Alabama Press, 2008. p.111-147. Sobre as companhias inglesas de importação / exportação no Rio de Janeiro, ver GORENSTEIN, Riva. Comércio e política: o enraizamento de interesses mercantis portugueses no Rio de Janeiro (1808-1830). In: MARTINHO, Lenira Menezes; GORENSTEIN, Riva. Negociantes e caixeiros na sociedade da Independência. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1992. p.142.
  • 16
    ROOD, Daniel. An International Harvest: Slavery, the Virginia-Brazil Connection, and the Making of the McCormick Reaper. In: ROCKMAN, Seth; BECKERT, Sven (eds.). Slavery's Capitalism: A New History of American Economic Development. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, no prelo. Agradeço a gentileza de Dan Rood em me disponibilizar esse excelente artigo.
  • 17
    Anuário político, histórico e estatístico do Brasil - 1846 a 1847. Rio de Janeiro: Firmin Didot Irmãos, 1847, p.404; Jornal do Comércio, Ano XXI, n.26, 26 de janeiro de 1846, p.1.
  • 18
    Agradeço a Leonardo Marques pelas nossas conversas sobre o assunto. Sobre os demais trabalhos, ver CONRAD, Robert. Tumbeiros. O tráfico de escravos para o Brasil. (trad.port.) São Paulo: Brasiliense, 1985. p.165; JARNAGIN, Laura. Op. Cit., p.128; HORNE, Gerald. The Deepest South: The United States, Brazil, and the African Slave Trade. New York: New York University Press, 2007. p.9; GUIMARÃES, Carlos Gabriel. La independencia e las finanzas de Brasil: comentarios sobre la dependencia de Brasil a partir del comportamiento de las empresas británicas, 1820-1850: o caso da Samuel Phillips & Co. Paper apresentado ao X Congreso Internacional de la AEHE, Universidad Pablo de Olavide, Sevilla, Septiembre de 2011.
  • 19
    NABUCO, Joaquim. Um Estadista do Império. 3v. Rio de Janeiro: Garnier, 1897, vol.I, p.256-258. Todas as passagens doravante citadas foram retiradas daqui.
  • 20
    HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. (1ª ed: 1936). Rio de Janeiro: José Olympio, 1989, p.45.
  • 21
    Em suas palavras, "Maxwell, Wright had to contend with 'commercial dificulties' in the US engendered by the Panic off 1837, which seemed to get 'worse and worse'; 'if possible, failure of large houses' would be 'occcuring daily in N.York & New Orleans, some in Boston'. The message to Rio was 'do not take any new risks for the present'." HORNE, Gerald. The Deepest South: The United States, Brazil, and the African Slave Trade. New York: New York University Press, 2007. p.30.
  • 22
    SILVA, Lígia Osório. Terras Devolutas e Latifúndio. Efeitos da Lei de 1850. Campinas: Ed. Unicamp, 1996.
  • 23
    SWEIGART, Joseph E. Coffee Factorage and the Emergence of a Brazilian Capital Market, 1850-1888. New York: Garland Publishing, 1987.escravo feliz. Antes bons negros da costa d'áfrica para cultivar nossos campos férteis do que todas as tetéias da rua do Ouvidor, do que vestidos de um conto e quinhentos mil réis para as nossas mulheres.
  • 24
    "Administração da Fazenda". Relatório do Presidente da Província do Rio de Janeiro, 1837, p.34-35. Disponível em http://www.crl.edu/brazil/ provincial/rio_de_janeiro (acesso em 10 de junho de 2012)
  • 25
    É o que sugere a série relativa ao Vale do Paraíba preparada por MELLO, Pedro Carvalho de. A economia da escravidão nas fazendas de café: 1850-1888. Rio de Janeiro: Programa Nacional de Pesquisa Econômica, 1984, Vol.I, p.102. Para a tendência de preços dos escravos no mercado brasileiro, tendo por base a Província de Minas Gerais, ver BERGAD, Laird. Escravidão e História Econômica. Demografia de Minas Gerais, 1720-1888. (Trad.port.) Bauru, SP: Edusc, 2004. p.267. Sua série mostra um aumento considerável dos preços entre 1834-1850, mas bem menos agudo do que ocorreu entre 1829-1834 (sob o efeito da proibição legal do tráfico) e, em especial, após 1850 (em decorrência do fim definitivo do tráfico transatlântico).
  • 26
    Sobre a produtividade do solo e do trabalho, ver MARQUESE, Rafael; TOMICH, Dale. O Vale do Paraíba escravista e a formação do mercado mundial do café. In: GRINBERG, Keila; SALLES, Ricardo (org.). O Brasil Imperial. Volume II: 1831-1870. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, p.339-383. Sobre o câmbio, ver o trabalho esclarecedor de MOURA F., Heitor Pinto de. Câmbio de longo prazo do mil-réis: uma abordagem empírica referente às taxas contra a libra esterlina e o dólar (1795-1913). Cadernos de História, Belo Horizonte, v.11, n. 14, p.9-34, 1º sem. 2009.
  • 27
    Ver, a respeito, DELFIM NETTO, Antonio. O problema do café no Brasil (1ª ed: 1959). Campinas: Ed.FACAMP-Unesp, 2009; MELLO, Pedro Carvalho de. A economia da escravidão nas fazendas de café: 1850-1888. Rio de Janeiro: Programa Nacional de Pesquisa Econômica, 1984, v.I, p.12.
  • 28
    Aspecto bem salientado por GRAHAM, Richard. Economics or Culture?... Op. Cit., p.110.
  • 29
    Ver, a propósito, BERGAD, Laird W. The Comparative Histories of Slavery in Brazil, Cuba, and the United States. Cambridge: Cambridge University Press, 2007. p.158-161.
  • 30
    SWEIGART, Joseph E. Coffee Factorage and the Emergence of a Brazilian Capital Market, 1850-1888. New York: Garland Publishing, 1987. p.112-117

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2013

Histórico

  • Recebido
    Fev 2013
  • Aceito
    Mar 2013
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