Crioulizações internas: processos de transculturação nos Bantu angolanos

Soares, Francisco Manuel Antunes

doi:10.1590/2236-463320140806

Resumo

Este texto dá conta das investigações para levantar condições de surgimento de personalidades e comunidades em crioulização, nos espaços do que é hoje Angola e territórios circundantes. Privilegiei os espaços sob controle de autoridades não-europeias e levantei quatro tipos de crioulização conforme quatro atividades ou processos a ela conducentes: por sinergia; por trânsito comercial; por convívio de culturas no mesmo espaço; pela formação de um exército.

Palavras-chave:
crioulização; História da África; Angola; Serpa Pinto

Abstract

This paper investigates the conditions of emergence of personalities and communities in a process of creolization, within spaces of what are now Angola and surrounding territories. I gave more attention to areas under the control of non-European authorities and I investigated four types of creolization according to four activities or processes: synergy; commercial traffic; interaction of cultures in the same space; the creation of an army.

Keywords:
creolization; History of Africa; Angola; Serpa Pinto

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1
PINTO, Alexandre de Serpa. Como eu atravessei a África, v. I: A carabina d'el-rei. Londres: Sampson Low, Martson, Searle & Rivington, 1881.
2
MBEMBE, Achille. Critique de la raison nègre. Paris: La découverte, 2013, p. 34.
3
GARRET, J. B. de Almeida. O dia vinte e quatro de agosto. Lisboa, 1821, p. 18.
4
MENEZES, Joaquim António de Carvalho e. Demonstração geográfica e política do território português na Guiné Inferior {...}. Rio de Janeiro: Ed. do autor, 1848, p. 27.
5
PARSONS, T. Orientações teóricas. In: PARSONS, Tallcot. El sistema de las sociedades modernas. Cidade do México: Trillas, 1974, p. 13-29.
6
SOARES, Francisco. A autobiografia lírica de M. António: uma estética e uma ética da crioulidade angolana. Évora: Pendor, 1996.
7
MBEMBE, Achille. Op. Cit., p. 33-34.
8
BATTELL, Andrew. The strange adventures of Andrew Battell of Leigh, in Angola and the adjoining regions. Londres: Hakluyt Society, 1901.
9
TURNER, M. The literary mind. Oxford: OUP, 1996.
10
10SOARES, Francisco. Em busca inacabada: Popper, Lotman, Cadornega e o cristianismo angolano. Revista Angolana de Sociologia: dez./2008, p. 87-95.
11
BARBEITOS, Arlindo. Angola-Portugal: representações de si e de outrem ou o jogo equívoco das identidades. Luanda: Kilombelombe, 2011.
12
Uma vez que cito uma edição eletrónica do relato, que não reproduz os números de página do impresso, não indico esses números ao fim das citações.
13
LUANSI, Lukonde. Angola: movimentos migratórios e Estados precoloniais - identidade nacional e autonomia regional. Angola on the move: transport routes, communication and History. International Symposium held in Berlin, Germany. Berlim, 2003.
14
VANSINA, Jan. O Reino do Congo e seus vizinhos. In OGOT, B.A. (ed.). História geral da África, v. V: África do século XVI ao XVIII. Brasília: UNESCO, 2010, p. 647-694.
15
GELLNER, E. Antropología y política: revoluciones en el bosque sagrado. (A. L. Bixio, Trad.) Barcelona: Gedisa, 1997, p. 50.
16
CARVALHO, Henrique A. de. Etnografia e história tradicional dos povos da Lunda. Lisboa: IN, 1890, p. 58-59.
17
NZIEM, Ndaywel è. O sistema político luba e lunda: emergência e expansão. In AAVV, e OGOT, B.A. (eds.). Op. Cit., p. 695.
18
COELHO, V. Em busca de Kábàsà: estudos e reflexões sobre o reino do Ndòngò: contribuições para a História de Angola. Luanda: Kilombelombe, 2010.
19
Ibidem, p. 178-179.
20
VELLUT, J.-L. A bacia do Congo e Angola. In AJAYI, J.F.A. (Ed.), História Geral da África, vol. 6: África do século XIX à década de 1880. Brasília: UNESCO, 2010, p. 352.
21
Ibidem, p. 352.
22
Ibidem, p. 364.
23
Ibidem, p. 353.
24
Ibidem.
25
CARVALHO, Henrique A. de. Uma colônia portuguesa. In: Expedição portuguesa ao Muatiânvua (1884-1888): descrição da viagem à Mussumba do Muatiânvua, vol. 6: Do Liembe ao Calanhi e regresso a Lisboa, p. 205-211. Lisboa, 1894, p. 207-208.
26
Ibidem, p. 208.
27
Ibidem, p. 208.
28
PINTO, F. A. Angola e Congo: conferências. Lisboa: Liv. Ferreira, 1888, p. 52.
29
FLORÊNCIO, Fernando. Un reino, dos reyes: diferentes legitimidades en Bailundo (Angola). Revista CIDOB d'Afers Internacionals, 87: out./2009, p. 167-189.
30
PINTO, Alexandre de Serpa, Op. Cit.
31
ANÔNIMO. 45 dias em Angola. Porto: Ed. do autor, 1862.
32
PINTO, Alexandre de Serpa, Op. Cit.
33
VANSINA, Jan, Op. Cit.
34
PARREIRA, Adriano. Dicionário de Etnografia Angolana. Luanda: Plural, 2013, p. 658.
35
BONTINCK, F. Les quimbares: note sémantique. Africa: Rivista trimestrale di studi e documentazione dell'Istituto italiano per l'Africa e l'Oriente, 1 (31): mar/1976), p. 42.
36
Ibidem, p. 44-46.
37
Ibidem, p. 43.
38
BATTELL, Andrew. Op. Cit., p. 42.
39
BONTINCK, F. Op. Cit., p. 47.
40
Ibidem, p. 48.
41
Ibidem, p. 50 e 54.
42
BASTOS, Augusto T. Traços gerais da etnografia do Distrito de Benguela. 2ª ed., Famalicão: Minerva, 1911 p. 27.
43
YAMBO, F. X. Dossier Ngangela. Luanda: INALD, 1977, p. 19-20.
44
DIAGNE, Pathé. "Du pouvoir politique à la problematique de L'État". La problematique de L'État en Afrique Noire. Dakar: UNESCO, 1981, p. 4.
45
YAMBO, F. X., Op. Cit., p. 21.
46
Ibidem, p. 15.
47
Ibidem, p. 26.
48
As informações de Serpa Pinto não parecem coincidir inteiramente com as de Livingstone. Há, aqui, uma versão alternativa, provavelmente ouvida no local.
49
Era o nome de uma das onze mulheres de "Chibitano", segundo REIS, Luís Filipe Carmo. Visões de Império nas vésperas do "Ultimato": um estudo de caso sobre o imperialismo português (1889). Porto: CEAUP, 2008
50
Idem.
51
Não sei quem ele designa neste contexto. O Reino de Calabar era um reino da Nigéria.
52
BATTELL, Andrew, Op. Cit., p. 32-33.
53
NGCONGCO, Leonard D. O Mfecane e a ". emergência de novos Estados africanos J. F. A. (ed.). História geral da África _, Op. Cit., p. 105-146.
54
Ibidem, p. 138.
55
Ibidem, p. 139.
56
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Identidade étnica, identificação e manipulação. In: _____. Identidade, etnia e estrutura social. São Paulo: Pioneira, 1976, p. 117 e seguintes.

Datas de Publicação

Publicação nesta coleção
Dez 2014

Histórico

Recebido
Jan 2014
Aceito
Jun 2014

Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons

[1] 1
PINTO, Alexandre de Serpa. Como eu atravessei a África, v. I: A carabina d'el-rei. Londres: Sampson Low, Martson, Searle & Rivington, 1881.

[2] 2
MBEMBE, Achille. Critique de la raison nègre. Paris: La découverte, 2013, p. 34.

[3] 3
GARRET, J. B. de Almeida. O dia vinte e quatro de agosto. Lisboa, 1821, p. 18.

[4] 4
MENEZES, Joaquim António de Carvalho e. Demonstração geográfica e política do território português na Guiné Inferior {...}. Rio de Janeiro: Ed. do autor, 1848, p. 27.

[5] 5
PARSONS, T. Orientações teóricas. In: PARSONS, Tallcot. El sistema de las sociedades modernas. Cidade do México: Trillas, 1974, p. 13-29.

[6] 6
SOARES, Francisco. A autobiografia lírica de M. António: uma estética e uma ética da crioulidade angolana. Évora: Pendor, 1996.

[7] 7
MBEMBE, Achille. Op. Cit., p. 33-34.

[8] 8
BATTELL, Andrew. The strange adventures of Andrew Battell of Leigh, in Angola and the adjoining regions. Londres: Hakluyt Society, 1901.

[9] 9
TURNER, M. The literary mind. Oxford: OUP, 1996.

[10] 10
10SOARES, Francisco. Em busca inacabada: Popper, Lotman, Cadornega e o cristianismo angolano. Revista Angolana de Sociologia: dez./2008, p. 87-95.

[11] 11
BARBEITOS, Arlindo. Angola-Portugal: representações de si e de outrem ou o jogo equívoco das identidades. Luanda: Kilombelombe, 2011.

[12] 12
Uma vez que cito uma edição eletrónica do relato, que não reproduz os números de página do impresso, não indico esses números ao fim das citações.

[13] 13
LUANSI, Lukonde. Angola: movimentos migratórios e Estados precoloniais - identidade nacional e autonomia regional. Angola on the move: transport routes, communication and History. International Symposium held in Berlin, Germany. Berlim, 2003.

[14] 14
VANSINA, Jan. O Reino do Congo e seus vizinhos. In OGOT, B.A. (ed.). História geral da África, v. V: África do século XVI ao XVIII. Brasília: UNESCO, 2010, p. 647-694.

[15] 15
GELLNER, E. Antropología y política: revoluciones en el bosque sagrado. (A. L. Bixio, Trad.) Barcelona: Gedisa, 1997, p. 50.

[16] 16
CARVALHO, Henrique A. de. Etnografia e história tradicional dos povos da Lunda. Lisboa: IN, 1890, p. 58-59.

[17] 17
NZIEM, Ndaywel è. O sistema político luba e lunda: emergência e expansão. In AAVV, e OGOT, B.A. (eds.). Op. Cit., p. 695.

[18] 18
COELHO, V. Em busca de Kábàsà: estudos e reflexões sobre o reino do Ndòngò: contribuições para a História de Angola. Luanda: Kilombelombe, 2010.

[19] 19
Ibidem, p. 178-179.

[20] 20
VELLUT, J.-L. A bacia do Congo e Angola. In AJAYI, J.F.A. (Ed.), História Geral da África, vol. 6: África do século XIX à década de 1880. Brasília: UNESCO, 2010, p. 352.

[21] 21
Ibidem, p. 352.

[22] 22
Ibidem, p. 364.

[23] 23
Ibidem, p. 353.

[24] 24
Ibidem.

[25] 25
CARVALHO, Henrique A. de. Uma colônia portuguesa. In: Expedição portuguesa ao Muatiânvua (1884-1888): descrição da viagem à Mussumba do Muatiânvua, vol. 6: Do Liembe ao Calanhi e regresso a Lisboa, p. 205-211. Lisboa, 1894, p. 207-208.

[26] 26
Ibidem, p. 208.

[27] 27
Ibidem, p. 208.

[28] 28
PINTO, F. A. Angola e Congo: conferências. Lisboa: Liv. Ferreira, 1888, p. 52.

[29] 29
FLORÊNCIO, Fernando. Un reino, dos reyes: diferentes legitimidades en Bailundo (Angola). Revista CIDOB d'Afers Internacionals, 87: out./2009, p. 167-189.

[30] 30
PINTO, Alexandre de Serpa, Op. Cit.

[31] 31
ANÔNIMO. 45 dias em Angola. Porto: Ed. do autor, 1862.

[32] 32
PINTO, Alexandre de Serpa, Op. Cit.

[33] 33
VANSINA, Jan, Op. Cit.

[34] 34
PARREIRA, Adriano. Dicionário de Etnografia Angolana. Luanda: Plural, 2013, p. 658.

[35] 35
BONTINCK, F. Les quimbares: note sémantique. Africa: Rivista trimestrale di studi e documentazione dell'Istituto italiano per l'Africa e l'Oriente, 1 (31): mar/1976), p. 42.

[36] 36
Ibidem, p. 44-46.

[37] 37
Ibidem, p. 43.

[38] 38
BATTELL, Andrew. Op. Cit., p. 42.

[39] 39
BONTINCK, F. Op. Cit., p. 47.

[40] 40
Ibidem, p. 48.

[41] 41
Ibidem, p. 50 e 54.

[42] 42
BASTOS, Augusto T. Traços gerais da etnografia do Distrito de Benguela. 2ª ed., Famalicão: Minerva, 1911 p. 27.

[43] 43
YAMBO, F. X. Dossier Ngangela. Luanda: INALD, 1977, p. 19-20.

[44] 44
DIAGNE, Pathé. "Du pouvoir politique à la problematique de L'État". La problematique de L'État en Afrique Noire. Dakar: UNESCO, 1981, p. 4.

[45] 45
YAMBO, F. X., Op. Cit., p. 21.

[46] 46
Ibidem, p. 15.

[47] 47
Ibidem, p. 26.

[48] 48
As informações de Serpa Pinto não parecem coincidir inteiramente com as de Livingstone. Há, aqui, uma versão alternativa, provavelmente ouvida no local.

[49] 49
Era o nome de uma das onze mulheres de "Chibitano", segundo REIS, Luís Filipe Carmo. Visões de Império nas vésperas do "Ultimato": um estudo de caso sobre o imperialismo português (1889). Porto: CEAUP, 2008

[50] 50
Idem.

[51] 51
Não sei quem ele designa neste contexto. O Reino de Calabar era um reino da Nigéria.

[52] 52
BATTELL, Andrew, Op. Cit., p. 32-33.

[53] 53
NGCONGCO, Leonard D. O Mfecane e a ". emergência de novos Estados africanos J. F. A. (ed.). História geral da África _, Op. Cit., p. 105-146.

[54] 54
Ibidem, p. 138.

[55] 55
Ibidem, p. 139.

[56] 56
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Identidade étnica, identificação e manipulação. In: _____. Identidade, etnia e estrutura social. São Paulo: Pioneira, 1976, p. 117 e seguintes.

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