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O Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro: um espaço para a ciência médica Oitocentista

Resumo:

Apresentamos, neste artigo, uma análise sobre o papel exercido pelo Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, durante a segunda metade do século XIX, no tocante à reunião e à guarda de livros de ciência médica. Com a análise dos livros que compõem o Catálogo organizado por Ramiz Galvão, publicado em 1906 (que reúne o acervo constituído pela instituição desde o ano de 1837), objetivamos compreender qual era a importância relativa do acervo de ciência médica, identificado em meio ao acervo geral do Real Gabinete Português de Leitura, e se esse era atualizado e relevante mediante o contexto de constituição do campo médico-científico no Brasil. Assim como, por meio de seu estudo detalhado, intentamos saber qual era o idioma preponderante das obras e a que público-alvo se direcionavam, e se a sua guarda se coadunava com o perfil da instituição de preservação de uma cultura lusófona.

Palavras-chave:
Real Gabinete Português de Leitura; História do livro e da leitura; História da medicina

Abstract:

This work presents an analysis on the role of the Royal Portuguese Cabinet of Reading during the second half of the 19th century regarding the collection and safekeeping of medical science books. By analyzing the books contained in the 1906 catalog by Ramiz Galvão (consisting of the institution's collection since 1837), we intend to understand the relative importance of the medical science collection found in the general collection of the Royal Portuguese Cabinet of Reading, and whether it was updated and relevant amidst the constitution of Brazil's medical science field. It is also intended to discover the preponderant idiom among its works and at which target audience they were aimed at, therefore, whether its guard matched the institution's outline of lusophone culture preservation.

Keywords:
Royal Portuguese Cabinet of Reading; History of books and Reading; Medical history

Apresentação

Desde a transferência da Corte para o Rio de Janeiro, em 1808, deu-se início à construção de um aparato institucional de cunho cultural/científico na cidade, com o intento inicial de reconstruir na nova sede da Coroa o ambiente cosmopolita lisboeta. Foram as primeiras ações nesse sentido representadas pela criação, por decreto, de instituições como a Real Biblioteca1 1 Criada por decreto real de D. João VI, em 1810, passou a ser denominada Biblioteca Imperial e Pública em 1822 e, em 1876, Biblioteca Nacional. Ver: SCHWARCZ, Lilia Moritz. A longa viagem da biblioteca dos reis: do terremoto de Lisboa à independência do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2002; BETTIOL, Maria Regina Barcelos. A fundação da Biblioteca Nacional: uma memória compartilhada entre dois mundos. Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul Disponível em:< http://www.ihgrgs.org.br/artigos/contibuicoes/Maria%20R.%20B.%20Bettiol%20-%20A%20Funda%C3%A7%C3%A3o%20da%20Biblioteca%20Nacional.pdf>. Acesso em: 15/12/2016. , o Real Horto2 2 Denominações: Real Horto (1808); Real Jardim Botânico (1818); Jardim Botânico da Lagoa Rodrigo de Freitas (1825); Jardim Botânico (1833); Jardim Botânico do Rio de Janeiro; Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (1998). Fonte: Horto Real. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930). Disponível em: <http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/pt/verbetes/jbotrj.htm>. Acesso em: 15/12/2015. Sobre este assunto ver também: DOMINGUES, Heloísa Maria Bertol. O Jardim Botânico do Rio de Janeiro. In: DANTES, Maria Amélia Mascarenhas. Espaços da Ciência no Brasil. 1800-1930. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2001. p. 27-56. e a Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro3 3 Denominações: Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro (1808); Academia Médico-Cirúrgica do Rio de Janeiro (1813); Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1832); Faculdade de Medicina e Farmácia do Rio de Janeiro (1891); Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1901); Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro (1920); Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil (1937); Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1965). Fonte: Escola Anatômica, Cirúrgica e médica do Rio de Janeiro. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930). Disponível em: < http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/pt/verbetes/escancimerj.htm>. Acesso em: 15/12/2015. Sobre este assunto ver também: DANTES, Maria Amélia Marcarenhas. Fases da implantação da ciência no Brasil. Quipu, México, v. 5, n. 2, p. 265-275, 1988; FERREIRA, Luiz Antonio;. FONSECA, Maria Rachel Fróes da; EDLER, Flavio Coelho. A Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro no Século XIX: a organização institucional e os modelos de ensino. In: DANTES, Maria Amélia Mascarenhas (Org.). Espaços da ciência no Brasil. 1800-1930. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2001. p. 59-79. , todas no mesmo ano de chegada da família real. Tal esforço se estenderia e se intensificaria na capital nos anos subsequentes com a fundação, em 1818, por decreto de D. João VI, do Museu Real e na transformação da Escola em Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, na década de 1830. Outras iniciativas particulares também seriam relevantes nesse processo de constituição de um aparato institucional de caráter cultural no Rio de Janeiro, no período anterior e pós-independência, dentre as quais destacamos: o Instituto Histórico e Geográfico do Brasil (1838), a Biblioteca da Associação "Germania" (1821), o Gabinete Inglês de Leitura (1826), o Real Gabinete Português de Leitura (1837), a Biblioteca Fluminense (1847) e a Biblioteca da Imperial Associação Tipográfica Fluminense (1854), somente para citar alguns desses empreendimentos.

Conforme destaca DeNipoti4 4 DENIPOTI, Cláudio. Normas e gestualidades da leitura em bibliotecas brasileiras do século XIX. Cultura - Revista de História e Teoria das Ideias, Lisboa, vol. 25, p. 235-252, 2008. , tais iniciativas vinculavam-se, sobretudo, a um processo mais amplo de definição da identidade nacional, que deveria estar vinculada a uma ideia de civilização ocidental e informada pela noção de progresso. Dessa forma, as bibliotecas cumpririam, de acordo com este autor, a função de "redentoras" de uma sociedade em processo de modernização de seus espaços públicos5 5 Sobre o processo de constituição dos espaços públicos no Brasil, na primeira metade do século XIX, ver: MOREL, Marco. As transformações dos espaços públicos: imprensa, atores políticos e sociabilidades na cidade imperial (1820-1840). São Paulo: Hucitec, 2005. , visto que, por sua documentação, esquadrinhavam uma forma de civilização ao mesmo tempo que visavam delimitar papéis sociais.

Outros empreendimentos de feição cultural/comercial, desde o final da década de 1820 e início dos anos 30, também proporcionavam aos letrados que moravam ou passavam pela cidade o acesso a livros e periódicos de procedências diversas e a preços "módicos", figurando entre eles: o Gabinete português e francês de Mongie6 6 Louis Mongie era dono da principal livraria da Rua do Ouvidor, segundo Joaquim Manoel de Macedo, tendo atuado nessa rua no nº 91 (depois renumerado como 87), de 1832 até a sua morte em 1853. Seria de Mongie também a segunda livraria carioca a possuir um gabinete de leitura. In: HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: Edusp, 2005. p. 153. , o Gabinete português e francês de Crémière7 7 A partir do leilão feito por Carlos Taniere, do Gabinete de Leitura de Justino Vitor Crémière (localizado na sua casa, na Rua da Alfândega, n. 135), após a morte do seu dono, em 2 de outubro de 1851, pode-se ter ideia de um negócio dessa natureza. Constavam, entre os bens leiloados e arrematados por Eduardo Augusto Ribeiro e Henrique da Luz Ayres, que mantiveram o gabinete aberto: "um gabinete de leitura composto de livros em português, francês, espanhol e inglês, dramas e novelas em folha, ditos em brochuras, 2 balcões, 3 vidraças, 1 escrivaninha, prateleiras e armários" (Jornal do Commercio¸02.10.1851, p. 3), além de uma tipografia (que fora vendida em conjunto). , o Gabinete francês de Dujardin8 8 Livraria belga-francesa de Désiré Dujardin, localizada na rua do Ouvidor, nº 105. Fonte: Almanak Administrativo, mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1850. Disponível em: <memoria.bn.br>. Acesso em 15/12/2015. , o Gabinete português e francês de Piacentini9 9 Joaquim Antonio Piacentini. Fonte: Almanak Administrativo, mercantil e Industrial do Rio de Janeiro. , entre outros. Tais estabelecimentos se assemelhavam aos tradicionais gabinetes de leitura inglês e francês que tinham o traço comum de serem espaços de caráter, ao mesmo tempo, comercial e cultural, já que possibilitavam aos seus subscritores a leitura e/ou a locação de livros e periódicos sem a necessidade de compra10 10 SOARES, Maria Angélica Lau Pereira. Visão da modernidade. A presença britânica no Gabinete de leitura (1837-1838). Dissertação (Mestrado em Estudos linguísticos e literários em inglês). São Paulo: Universidade de São Paulo, 2006. . Conforme destaca Soares, as primeiras "bibliotecas circulantes" fixadas no Rio de Janeiro, de proprietários franceses, datariam da primeira metade do século XIX, dentre as quais, uma das mais conhecidas era a Casa do Livro Azul11 11 A Casa do Livro Azul funcionou de 1828 a 1852, tornando-se o sebo mais conhecido da rua do Ouvidor, que vendia, comprava, trocava e alugava livros, recebendo em comissão também obras novas. Seu proprietário era o francês Albin Jourdan (abrasileirado para Albino Jordão). Fonte: HALLEWELL, Laurence. Op. Cit., p. 127. Os livros em língua portuguesa eram sempre o destaque dos anúncios da Casa do Livro Azul (localizada na Rua do Ouvidor, nº 121) que, nos diversos anúncios publicados nas páginas do Jornal do Commercio, até 24 de dezembro de 1851, sublinhava a venda de livros escritos em português ou traduzidos para o português sobre comércio, direito, história, filosofia e medicina, além de romances e novelas. , que funcionara de 1828 a 1852, e onde os clientes poderiam comprar, trocar ou alocar livros pagando uma taxa de "80 réis por dia e, por mês 2.000 réis"12 12 Jornal do Commercio, 23/12/1835 Apud SOARES, Op. Cit., p. 20. .

Já em meados do século, de acordo com Alessandra El Far, enquanto uma edição bem cuidada da Garnier ou dos irmãos Laemmert custava entre 3 e 5 mil réis (variando de acordo com o número de páginas e gênero), as obras da Livraria do Povo (em brochura) variavam de 100 a 2 mil réis. Em contraposição, um trabalhador especializado ganhava por uma diária de serviço, em média, 3.300 réis, enquanto um trabalhador sem especialização recebia 1.400 réis; e o salário de funcionários públicos variava de 60 mil réis a 100 mil réis por mês13 13 EL FAR, Alessandra. Ao gosto do povo: as edições baratíssimas de finais do século XIX. In: BRAGANÇA, Aníbal; ABREU, Márcia (Orgs.). Impresso no Brasil: dois séculos de livros brasileiros. São Paulo: Editora Unesp, 2010. p. 89-99. . Tais cifras evidenciam que existia, entre a pequena população de alfabetizados da Corte, uma parcela significativa de potenciais compradores ou "alugadores" de livros, que justificava a existência crescente de instituições dessa natureza na cidade, ao longo do Oitocentos.

Além do mais, tanto por agregar uma significa parcela de consumidores de impressos, como por atuar como a sede econômica do país, a capital se consolidaria, ao longo do século XIX, como o principal porto de entrada de impressos do Império, estando estabelecidos na cidade também o maior número de livreiros, editores e mercadores de livros de todo o país14 14 Ver: FERREIRA, Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz. Palácios de destinos cruzados: bibliotecas, homens e livros no Rio de Janeiro (1870-1920). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1997; HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: Edusp, 2005; BRAGANÇA, Aníbal; ABREU, Márcia (Orgs.). Impresso no Brasil. São Paulo: Ed. Unesp, 2010; GONÇALVES, Monique de Siqueira. Livros, teses e periódicos médicos na construção do conhecimento médico sobre as doenças nervosas na Corte Imperial (1850-1880). In: FERREIRA, Tania B. C; RIBEIRO, Gladys S.; GONÇALVES, Monique de S. (Orgs.). O Oitocentos entre livros, livreiros, impressos missivas e bibliotecas. São Paulo, Ed. Alameda, p. 59-87, 2013. . As principais ruas do centro da cidade passariam, paulatinamente, a ser povoadas por uma grande oferta de impressos, vendidos por mercadores de livros ou alfarrabistas que ofertavam toda espécie de gênero literário, fazendo com que, segundo Alessandra El Far15 15 EL FAR, Alessandra. Páginas de sensação. Literatura popular e pornográfica no Rio de Janeiro (1870-1924). São Paulo: Companhia das Letras, 2004. , dificilmente um leitor voltasse para a casa de mãos vazias, haja vista a grande oferta de livros para todos os gostos e bolsos.

Importante destacar que tal comércio seria incentivado, sobretudo, pela concentração de uma elite intelectual e política no Rio de Janeiro, cuja mola propulsora se encontrava tanto na centralização da burocracia imperial na cidade, como na existência de instituições como a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, responsável pela formação de muitos filhos da elite política, econômica e cultural de todo o Império.

Para aqueles que não dispunham de significativa soma mensal para adquirir seus livros nas afamadas prateleiras da rua do Ouvidor, era possível comprar obras usadas entre os alfarrabistas localizados nas ruas vizinhas, ou mesmo trocar ou alugar impressos a baixo custo nas "bibliotecas circulantes" ou gabinetes de leitura, de cunho comercial. Ainda para aqueles que dispunham de razoável quantia, seria possível se associar aos gabinetes formados inicialmente por círculos de emigrados como o Gabinete Português de Leitura16 16 Nas páginas do Almanak Laemmert de 1850 a 1873 é anunciado, pelo Gabinete Português de Leitura, que a anuidade custava 12 mil réis, constando ainda, a partir de fins dos anos 1860, a possibilidade de pagar 7 mil réis por seis meses. O valor de 12 mil réis anuais era o mesmo cobrado aos associados pela Biblioteca Fluminense. , a Biblioteca da Associação "Germania" e o Gabinete Inglês de Leitura. Além disso, haveria a possibilidade de acessar as obras desejadas por meio de bibliotecas públicas como a Biblioteca Nacional, a Biblioteca Fluminense ou ainda através das bibliotecas especializadas, a exemplo das bibliotecas da Faculdade de Medicina, da Escola Politécnica, do Exército e da Marinha.

Já na segunda metade do século do Oitocentos, os letrados do país encontravam tanto nas livrarias, nos gabinetes de leitura comerciais e de associações, como nas bibliotecas públicas, ambientes de sociabilidade em que o gosto pela leitura conferia aos seus frequentadores status elevado mediante uma sociedade altamente hierarquizada. As tipografias e as redações de jornais também cumpriam esse papel (somadas a ambientes como cafés e boticas), reunindo grupos de homens de letras que, circulando nesses espaços, se inseriam em fechadas redes clientelares a fim de adquirir prestígio através do estreitamento de laços afetivos, políticos e profissionais com os demais frequentadores17 17 FERREIRA, Tania Maria Tavares Bessone da Cruz. As bibliotecas públicas cariocas no século XIX. In: INTERCOM, 2011. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2001/papers/NP4FERREIRA.pdf. Acesso em: 20/06/2013. _______. O que liam os cariocas no século XIX? In: XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2005. Disponível em: http://galaxy.intercom.org.br:8180/dspace/bitstream/1904/17536/1/R2053-1.pdf. Acesso em: 02/06/2011. .

De maneira geral, acreditamos que as iniciativas de natureza institucional, colocadas em prática progressivamente, mas de forma descontínua e não ordenada − seja pelo Estado ou por grupos e/ou indivíduos pertencentes à sociedade civil − se davam no sentido de conformar na cidade do Rio de Janeiro, enquanto capital, um aparato institucional, de cunho cultural, que proporcionasse à pequena parcela da população alfabetizada, o acesso a leituras variadas e atualizadas, sobre os mais diversos assuntos18 18 Sobre este assunto ver também: GONÇALVES, Monique de Siqueira. Livros de ciência médica na Biblioteca Nacional: o acervo sobre as doenças nervosas (1860-1880). História Unisinos, São Leopoldo/RS, 18(1), p. 146-157, 2014. . A ciência médica seria, pois, um dos temas privilegiados por estes acervos, de acordo com as pesquisas realizadas por nós, principalmente porque se estabelecera na cidade a primeira Faculdade de Medicina do Império (criada em 1808) e os alunos careciam de meios alternativos para obterem os conhecimentos necessários à sua formação, haja vista o alto preço dos livros.

Outra razão para o incremento do acervo relativo à medicina seria a crescente procura pelos manuais de medicina popular19 19 Eram numerosas as propagandas de venda de manuais populares de medicina, nos principais jornais diários da Corte, como o Jornal do Commercio e o Correio Mercantil. − que circularam no Brasil desde a primeira metade do século XIX e com mais intensidade a partir dos anos de 1850 devido à erupção dos surtos epidêmicos de febre amarela e cólera −, pois possibilitavam o auto tratamento e a terapêutica de parentes, agregados e até mesmo dos escravos que serviam à família20 20 FIGUEIREDO, Betânia Gonçalves. Os manuais de medicina e a circulação do saber no século XIX no Brasil: mediação entre o saber acadêmico e o saber popular. Educar, Curitiba, n. 25, p. 59-73, 2005. .

Assim, intentamos apresentar as reflexões realizadas sobre o papel do Real Gabinete Português de Leitura em um contexto de construção e expansão de um aparato cultural/científico na cidade do Rio de Janeiro. Pretendemos, igualmente, enfatizar o acervo relacionado à ciência médica encontrado nos catálogos da instituição que, se em meados do século possuía cerca de 16 mil volumes, no fim do Império já contaria com acervo estimado em 50 mil volumes, figurando entre as principais bibliotecas do Império21 21 Só a partir de 1850 começaram a ser publicadas as quantificações do acervo do Real Gabinete Português de Leitura no Almanack Laemmert. . Segue abaixo o crescimento do acervo.

Tabela 1
Acervo do Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro (1850-1881)

O Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro e o seu acervo sobre ciências médicas

"É já tão avultado o número de portugueses estabelecidos por todo o Império do Brasil; e para ali afluem continuamente tantos centenares de concidadãos nossos, que a imprensa de Portugal tem a obrigação de repartir com eles o desvelo que emprega, e a solicitude que toma por todos quantos nascerão filhos desta gloriosa pátria (...) "Todas as mais relações de sociabilidade se podem estabelecer pelos jornais entre os dois povos. As publicações literárias, os trabalhos acadêmicos, os talentos que se estreiarem ou primarem nas artes ou nas letras folgarão de ser reconhecidos e festejados, na imprensa de Portugal, e na do Brasil os de Portugal. Há em todo o império institutos criados para Portugueses, que são dignos de ser mais conhecidos entre nós, tais como os gabinetes de leitura do Rio de janeiro e de Pernambuco, o hospital há pouco estabelecido na mesma cidade, e outras associações que provam a fraternidade e harmonia que existem entre aqueles nossos compatrícios, que nesta convivência suavizam as saudades da pátria (...)".22 22 Transcrições. Colonização. Correio Mercantil, 7/7/1856, p. 2.

O Gabinete Português de Leitura foi fundado em maio de 1837 por uma associação de emigrantes portugueses residentes na cidade do Rio de Janeiro. De acordo com Schapochnik23 23 SCHAPOCHNIK, Nelson. Os jardins das delícias: gabinetes literários, bibliotecas e figurações da leitura na corte imperial. 1999. Tese (Doutorado em História). São Paulo: Universidade de São Paulo, 1999. , o processo de formação do acervo dessa instituição se deu com base no seu caráter identitário, já que ela se organizara enquanto um espaço de salvaguarda da memória nacional. Ademais, como destaca Azevedo24 24 AZEVEDO, Fabiano Cataldo. Contributo para traçar o perfil do público leitor do Real Gabinete Português de Leitura: 1837-1847. Ci. Inf., v. 37, n.2, p 20-31, 2008. , o emigrado luso que aportava no Rio de Janeiro no século XIX encontrava poucos lugares para usufruir o que era editado em seu país, em função de um "francesismo" que alijara a cultura lusa dos espaços de leitura. Aspecto que certamente também deveria resultar da existência de um forte sentimento antilusitano na cidade do Rio de Janeiro, sobressaltado durante o período anterior e pós-independência do Brasil25 25 RIBEIRO, Gladys Sabina. A liberdade em construção: identidade nacional e conflitos antilusitanos no Primeiro Reinado. Tese (Doutorado em História). Campinas: Unicamp, 1997. .

O fortalecimento da identidade do idioma também permearia, de acordo com Azevedo26 26 AZEVEDO, Fabiano Cataldo. O acervo bibliográfico do Gabinete Português de leitura como lugar de memória e forma reconhecível: considerações acerca dessas aproximações. Convergência Lusíada, Rio de Janeiro, n. 25, p. 43-60, 2011. , a criação de bibliotecas associativas como o Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro. Estas bibliotecas convertiam-se em espaços de sociabilidade para os cidadãos falantes da mesma língua no Rio de Janeiro. Assim, a consolidação de um caráter identitário da cultura portuguesa na formação do acervo objetivava consolidar os ideais de manutenção de uma memória lusitana na cidade.

No acervo de ciências médicas do Gabinete, e constante no catálogo27 27 GALVÃO, Benjamin Franklin Ramiz Galvão (Org.). Catálogo do Gabinete Português de Leitura no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Typ. do Jornal do Commercio de Rodrigues & C., 1906. elaborado e publicado pelo bibliotecário Ramiz Galvão28 28 Benjamin Franklin Ramiz Galvão - bacharel em letras pelo colégio Pedro II, doutor em medicina pela Faculdade do Rio de Janeiro, foi nomeado bibliotecário da Biblioteca Nacional em 1870, lente substituto da seção de ciências acessórias da Faculdade de Medicina em 1871 e lente catedrático de botânica em 1881. Em 1882 foi escolhido pelo imperador para ser aio (preceptor) dos filhos da princesa Isabel, sendo jubilado dos dois cargos. (Fonte: BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionario bibliographico brasileiro. 1º volume. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1883. p. 395) em 1906, pudemos identificar a existência de quantidade substantiva de obras nas línguas portuguesa, francesa e inglesa. Tal aspecto destoava significativamente do acervo sobre a mesma temática existente na principal biblioteca pública do Rio de Janeiro, a Biblioteca Nacional. Nesta, a existência maciça de obras na língua francesa não só reafirmava o dito "francesismo"29 29 O Brasil foi marcado, no século XIX, por uma forte influência da cultura francesa, sendo os hábitos de leitura também fortemente influenciados por esse predomínio, dada a importância conferida às ideias que emergiam da pena de intelectuais franceses. A intensidade com que circulavam livros franceses no Rio de Janeiro dava-se, sobretudo, através de uma ostensiva presença de tipógrafos e livreiros na cidade, desde o início do século XIX. Sobre este assunto: MOREL, Op. Cit., 2005; HALLEWELL, Op. Cit., 2005. como refletia a proeminência da medicina francesa no Oitocentos, principalmente relacionada ao higienismo que circulava no ambiente intelectual dos médicos cariocas30 30 GONÇALVES, Monique de Siqueira. Op. Cit., 2014. .

No catálogo de 1906 − em que constam as obras adquiridas por compra ou doação desde a fundação do Gabinete Português de Leitura − contabilizamos 2.183 obras referentes à medicina31 31 Não são especificadas a quantidade total dos volumes. , figurando entre elas muitas edições publicadas por tipografias do Rio de Janeiro, de Lisboa e Londres, de autoria de médicos brasileiros, portugueses ou ingleses, respectivamente. Apesar da existência de significativa soma de livros na língua francesa − entre os quais foram identificados 533 títulos −, tais obras representavam somente cerca de 1/4 do acervo geral sobre medicina da instituição, o que, como já destacamos, destoava do perfil do acervo de outras bibliotecas públicas, com predomínio de obras na língua francesa.

Se comparado com o acervo de ciências médicas contabilizado no Catálogo dos livros do Gabinete, publicado em 1858, podemos inferir que foi ao longo da segunda metade do século XIX que este acervo adquiriu a sua relevância em termos numéricos. No catálogo de 1858 foram arrolados somente 211 livros de medicina − 86 títulos em francês, 68 em português, 47 em latim, 6 em inglês e 4 em espanhol. Destes, 136 tinham sido publicados no século XIX, o que já denotaria o empenho de seus administradores em adquirir títulos atualizados que pudessem ser consultados pelos leitores do Gabinete. Tal salto quantitativo, de 211 para 2.183 obras de ciências médicas, denota o esforço dos membros do Gabinete no incremento do acervo da instituição no tocante à temática da saúde32 32 Catálogo dos livros do Gabinete. Rio de Janeiro, 1858. .

Os temas dos livros, teses, memórias33 33 Trabalho de cunho dissertativo/científico que versava sobre alguma temática do campo médico. , relatórios, discursos, cartas impressas e periódicos nacionais e estrangeiros pertencentes ao acervo eram bastante diversificados, abarcando: prática médica, anatomia, fisiologia, medicina experimental, digestão, sistema linfático, fisiologia ótica, higiene, higiene popular, higiene pública, higiene militar/naval, higiene dos países quentes, climatologia, homeopatia, alimentação, águas, venenos, prostituição, história da medicina, falsificação de medicamentos, vinhos, geografia médica, terapêutica, farmácia (incluindo periódicos, farmacopeias, terapêuticas, livros de história da farmácia), patologia médica, puericultura, microscopia clínica, doenças específicas (como a febre amarela, cólera, tuberculose, bronquite, gota), dermatologia, doenças venéreas, medicina operatória/cirúrgica, entozoários, oftalmologia, entre outros. Esses assuntos foram deduzidos da análise do material, visto que não havia explícita divisão em temas ou assuntos na composição do catálogo, estando elas implícitas na disposição dos títulos.

Além das obras elencadas na subclasse "Medicina" (pertencente à Classe VI - Ciências aplicadas), as obras relativas à fisiologia e higiene mentais, assim como as obras que versavam sobre as patologias mentais constavam, no Catálogo organizado por Ramiz Galvão, na "Classe I - Filosofia", subclasse "O espírito e o corpo", figurando ao lado de outras classificações assim denominadas: "Alucinações. Magia, Adivinhações. Ocultismo e Espiritismo", "Magnetismo animal. Hipnotismo"; "Sono. Sonhos. Sonambulismo", "Características mentais", "Temperamentos", "Fisionomia" e "Frenologia". Dentro desta Classe, ainda figuravam as seguintes subclasses: "Filosofia em geral", "Metafísica", "Questões metafísicas", "Sistemas filosóficos", "Psicologia", "Lógica", "Moral", "Filósofos antigos" e "Filósofos modernos". Eram classificadas, pois, separadamente das obras relativas às ciências médicas que constavam na Classe VI - "Ciências aplicadas. Tecnologia", que reuniam as seguintes subclasses: "Medicina", "Artes úteis", "Engenharia", "Agricultura", "Economia doméstica", "Transporte. Comércio", "Indústrias químicas", "Manufaturas", "Indústrias mecânicas. Ofícios" e "Construção".

Entre as obras classificadas como "O espírito e o corpo" constavam muitos clássicos da medicina mental como: M. Bain, L'esprit et le corps considérés au point de vue de leurs rélations, de 1873; Louis Büchner, Essais de Philosophie et de Science naturelle (traduzido do alemão), de 1866; P. J. G. Cabanis, Rapports du physique et du moral de l'homme, de 1824; P. Flourens, De la vie et de l'intelligence, de 1858; P. Janet, Le cerveau et la penseé, de 1867; Ch. E H. Janiet, De la vie et de son interprétation dans les diférents ages de l'humanité, de 1860; Lélut, Physiologie de la pensée. Recherche critique des rapports du corps a l'espirit, de 1852; Maine de Biran, Nouvelles considérations sur les rapports du physique et du moral de l'homme (publicada postumamente por Victor Cousin), de 1851; E. Billod, Des maladies mentales et nerveuses. Pathologie, medicine legale, administration des asiles d'aliénés, de 1882; M. Bra, Manuel des maladies mentales, de 1883; E. Esquirol, Des maladies mentales considérées sous les rapports médical, hygiénique et médico-légal, de 1838; H. Maudsley, The Physiologie and pathology of mind, de 1868; J. Moreau, La psychologie morbide dans ses rapports avec la philosophie de l'histoire ou de l'influence des névropathies sur le dynamisme intellectuel, de 1859; C. Ollivier, Influence des affections organiques sur la raison ou pathologie morale, de 1867; E, Regis, Manuel pratique de medicine mentale, de 1885; A. Voisin, Leçons cliniques sur les maladies mentales et sur les maladies nerveuses profesées à Salpêtrière, de 1883; F. E. Foderé, Traité du délire, aplique a la medicine, a la morale et a la législation, de 1817; G. L. Harrison, Legislation on insanity, de 1884; Ph. Pinel, Traité médico-philosophique sur l'aliénation mentale, de 1809; I. Ray, A treatise on the medical jurisprudence of insanity, de 1838; J. Tissot, La folie considérée surtout dans ses rapports avec la psychologie normale, de 1877; G. Dumas, Les États intellectuels dans la mélancolie, de 1895; A. B. de La Grandiere, De la nostalgie ou mal du pays, de 1873; A. Mairet, De la démence mélancolique, de 1883; Th. Ribot, Les maladies de la mémoire, de 1881; L. Figuier, Histoire du merveilleux dans les temps modernes, de 1869; L. Bordelon, História das imaginações extravagantes de monsieur Oufle causadas pela leitura dos livros, de 1814; A. Brierre de Boismont, Des hallucionations ou histoire raisonée des apparitions, des visions, des sanges, de l'extase, du magnétisme et du somnambulisme, de 1852; Gougenot des Mousseaux, Les médiateurs et les moyens de la magie, les hallucinattions et les savants, le fantome humain et le príncipe vital, de 1863; F. Lélut, L'amulette de Pascal pour servir à l'histoire des hallucinations, de 1846; A. Maury, Des hallucinations du mysticisme Chrétien, s/d; F. Lélut, Du démon de Socrate, specimen d'une application de la science psychologique a celle de l'histoire, de 1836;

Reunidos nesta mesma subclasse constavam os seguintes títulos: W. Scott, Histoire de la démonologie et de la sorcelterie, de 1835-36; Duroy de Bruignae, Satan de la magie de nos jours - Réflexions pratiques sur le magnétisme, le spiritisme et la magie, de 1864; Léon Denis, O porquê da vida - solução racional do problema da existência (...), de 1898; Alan Kardec, L'évangelie sélon le spiritisme contenat l'explication des maximes Morales du Christ (...), de 1868; Alan Kardec, O que é o Spiritismo e noções elementares do Spiritismo. Introdução ao conhecimento do mundo invisível pela manifestação dos espíritos (versão portuguesa), de 1893; A. S. Morin, Du Magnétisme et des sciences occultes, de 1890, entre outros 125 livros.

No entanto, outras obras classificadas como referentes às doenças nervosas eram relacionadas entre os livros de medicina como: J. M. Charcot, Leçons sur les maladies du système nerveux, de 1880; R. Grenier, Des localisations dans les maladies nerveuses sans lésions appréciables, de 1886; C. M. S. Sandras, Traité pratique des maladies nerveuses, de 1851; A. Voisin, Leçons cliniques sur les maladies mentales et sur les maladies nerveuses, de 1883; e A. Vulpian, Maladies du système nerveux, de 1879, entre outros trinta títulos. O que nos leva à compreensão de que a disposição das obras já incorporava os processos de disputas jurisdicionais34 34 Conceito desenvolvido por Andrew Abbott (1998) para analisar o processo de disputas socioprofissionais que permearam a medicina mental no século XIX. Ver: ABBOT, Andrew. The systems of professions. An essay on the division of expert labor. Chicago/London: The University of Chicago Press, 1998. em curso desde o último quartel do século XIX em torno da constituição de uma medicina psiquiátrica no Brasil, que qualificava a adoção de uma perspectiva organicista em medicina mental como parte do processo de cientifização da psiquiatria. Este processo ocorria em contraposição à prática alienista constituída pelas tradições francesa e inglesa, cunhadas entre fins do XVIII e início do XIX. Tratava-se, pois, da incorporação, por Ramiz Galvão (enquanto médico), na confecção de um catálogo, da perspectiva socioprofissional demarcacionista, incorporando o resultado de uma controvérsia científica entre a medicina de tradição alienista (tida, a partir do fim da disputa, como não científica) e a medicina psiquiátrica organicista (esta sim considerada científica).

Outro aspecto interessante desse acervo, no tocante às obras classificadas na subclasse "Medicina", relaciona-se à significativa presença de manuais populares, que exerciam, segundo Betânia Figueiredo35 35 FIGUEIREDO, Op. Cit., 2005. , o papel de mediadores culturais entre o conhecimento médico e o conhecimento popular. Estes manuais tinham grande tiragem, várias reedições e intensa circulação no Brasil do século XIX. Sua utilização cotidiana por pessoas com formação ou sem formação acadêmica cumpria papel essencial em uma sociedade carente de médicos em grande parte do território. Ademais, ainda estava em curso o processo de transferência dos cuidados de saúde para especialistas que, aos poucos, angariavam legitimidade social e se distinguiam dos demais praticantes ou curadores, mediante um intenso processo de busca de legitimação socioprofissional36 36 PIMENTA, Tânia Salgado. O exercício das artes de curar no Rio de Janeiro (1828-1855). Tese (Doutorado em História). São Paulo: UNICAMP, 2003. . Acreditamos, pois, que a grande presença de obras de divulgação/popularização científica relacionava-se também com o público-alvo privilegiado pelo Gabinete, notadamente pessoas letradas, versadas na língua portuguesa, mas não especialistas em ciências médicas.

Nessa temática, figuravam as afamadas obras de Luiz Napoleão Chernoviz, Dicionário de Medicina Popular37 37 Os títulos dos livros em língua portuguesa foram atualizados de acordo com a norma da língua portuguesa atual, mas os nomes próprios foram mantidos conforme eram escritos. (impresso em Paris, na língua portuguesa); J. B. A. Imbert, Manual do fazendeiro, ou tratado doméstico sobre as enfermidades dos negros (editado no Rio de Janeiro e com edições de 1834 e 1839); e J. B. Dazille, Observações sobre as enfermidades dos negros, suas causas, seus tratamentos e meios de prevenir (editado em Portugal, na tipografia do Arco do Cego, em 1801). Cabe sublinhar que as referências aos dois últimos livros eram sucedidas pela observação de que essas obras não saíam da instituição. O que também indica a grande procura por esses manuais, pois somente os livros considerados raros continham tal restrição38 38 Chegamos a essa conclusão, pois sendo o catálogo do início do século XIX tais obras não constariam entre as raras naquele momento. .

Identificamos também outros sete títulos de divulgação científica de autores estrangeiros (publicados em português por tipografias nacionais ou estrangeiras), a exemplo de: Cazenave, Manual de medicina prática para uso das famílias, Paris (1886); Levy, Guia de higiene e saúde para facilitar os socorros em caso de acidentes ou de moléstias, de 1900; Jean François Macé, História de um bocadinho de pão - Cartas a uma menina acerca da vida do homem e dos animais, s/d; Chidloe, Homeopatia doméstica ou Instruções para qualquer pessoa poder curar homeopaticamente nos lugares onde não há médicos, (1853); Gouré, A homeopatia posta ao alcance de todos (1850); Benoît Mure, A prática elementar da homeopatia,(1855-56); Benoît Mure, O médico do povo (1868).

Além desses manuais, destacamos a presença de onze títulos de autores portugueses nessa categoria de livros (dez ditados em Lisboa e um no Porto), a saber: Cardoso Klerl, Formulário geral médico cirúrgico, ou guia prático do médico, do cirurgião e do farmacêutico (1842); Costa Paiva, Aforismos de medicina e cirurgia práticas (1837); Julio Arthur Lopes Cardoso, A medicina nos casos urgentes (1888); Julio Arthur Lopes Cardoso, Manual do enfermeiro (1889); M. R. d'Oliveira, Medicina doméstica (1883); Ayres B. Pinto, Guia médico-homeopático familiar ou modo de cada uma se tratar pronta e suavemente das moléstias mais comuns (1870); Francisco Soares da Ribera, Cirurgia metódica e química reformada (1721); Filipe José Rodrigues, Dicionário homeopático portátil de sintoma (1858); J. P. Almeida Brandão, O livro das famílias ou instruções acerca do matrimônio e das doenças mais comuns (1873); Antonio José de Sousa Pinto, Medicina política ou princípios necessários tanto aos professores como úteis aos enfermos (1822); e Manoel Joaquim Henriques de Paiva, Curso de medicina teórica e prática, destinado para os cirurgiões que andam embarcados, ou que não estudaram nas universidades (1792). Presença que reforça o esforço do Gabinete em constituir um acervo que fosse referência no tocante às obras de autores portugueses, haja vista que a maioria de tais títulos não constava nos catálogos de outras bibliotecas da cidade.

Outra característica marcante do acervo está relacionada à guarda de livros que versavam sobre a medicina homeopática, cujos seguidores, durante a segunda metade do século XIX, empreenderam grandes esforços na divulgação de seus princípios, ganhando notoriedade em meio à sociedade da Corte por meio da tradução e venda dos livros de Mure39 39 Benoît-Jules Mure (1809-1858) foi considerado um dos introdutores e grande incentivador da homeopatia no Brasil. Médico formado pela Faculdade de Montpellier, ele praticou a homeopatia pela Europa e veio para o Brasil em 1840. No ano seguinte, Mure tentou implantar um projeto de colonização com orientação franco-socialista no Saí (Santa Catarina), onde chegou a organizar a Escola Suplementar de Medicina e o Instituto Homeopático de Saí (1842). Fracassado seu projeto, em 1843, transferiu-se para o Rio de Janeiro, fundando o Instituto Homeopático do Brasil, do qual foi presidente até 1848, quando regressou à Europa. Fonte: Instituto Homeopático do Brasil. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930). Disponível em: <http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/pt/pdf/insthombr.pdf>. Acesso em: 28/12/2015. , entre outros. Ademais, a tradução de tais livros denota, para nós, um aspecto destacado por Figueiredo40 40 FIGUEIREDO, Op. Cit., 2005. de que a edição em língua portuguesa de tais obras visava tanto o reconhecimento profissional como a fortuna, dada a procura popular e a intensidade de circulação desses livros por todo o território.

A existência de representativo acervo sobre a homeopatia no Gabinete certamente se relacionava com a atuação de médicos homeopatas nesta instituição, a exemplo do primeiro bibliotecário, o Dr. José d'Almeida e Silva41 41 Poucas informações constam no dicionário bibliográfico redigido por Sacramento Blake sobre este personagem. Blake registrou somente que ele era um facultativo clínico de Minas Gerais, brasileiro, com nome presente no Catálogo da exposição médica brasileira de 1883 como autor do livro: Resumo da medicina prática, editado em 1848. (BLAKE, Op. Cit., vol. 4, p. 274) . Uma influência teórica que, apesar de rechaçada por grande parte da categoria médica pertencente à elite médica42 42 A elite médica não é formada necessariamente pelos melhores médicos, mas por aqueles indivíduos que tradicionalmente concentram em suas mãos os diferentes tipos de poder profissional. Ver sobre o conceito de elite médica no artigo de Weisz. Les transformations de l'Elite medicale em France. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, Paris, nº 74, p. 33-46, set. 1988. da Corte, angariara muitos seguidores, principalmente após a ocorrência da primeira grande epidemia de febre amarela na cidade − que se sucedera à introdução da homeopatia no Brasil −, representado pela figura do médico francês Benoît Jules Mure. Tal característica também se fazia presente na Biblioteca Nacional, refletindo o interesse por parte da categoria médica e por soma significativa da população pelas fórmulas infinitesimais homeopáticas.

Identificamos ainda outras obras não direcionadas ao público especializado em inglês, francês, italiano e espanhol, com destaque para as edições em língua inglesa, a exemplo de: G. H. Barkow, A manual of the practice of medicine (1856); Thomas Graham, Modern domestic medicine (1853); James Copland, A dictionary of pratical medicine (1866) e Edmund A. Parkes, A manual of practical hygiene, entre outras43 43 Esses nomes refletem uma pequena amostragem. . Essas obras eram provenientes de uma doação feita pelo boticário, formado em ciências em Bruxelas na década de 1860, e renomado pela sua atuação na Corte imperial, Antonio Alves Ferreira44 44 VELLOSO, Verônica Pimenta. Farmácia na Corte Imperial (1851-1887): práticas e saberes. Tese (Doutorado em História das Ciências). Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, 2007. .

De acordo com Azevedo45 45 AZEVEDO, Fabiano Cataldo. A doação da biblioteca João do Rio ao Real Gabinete Português de Leitura: aspectos de uma histórica pouco conhecida. Perspectivas em ciência da informação, Belo Horizonte/MG, v. 15, n. 3, p. 233-249, set./dez. 2010. , a coleção doada por Alves Ferreira era composta por 1.400 exemplares, dos quais identificamos 298 títulos46 46 A quantidade de livros é maior, pois muitos títulos tinham mais de um volume e sua doação continha também coleções de jornais de farmácia com vários números. Além disso, algumas obras não foram identificadas e a contagem efetuada poder conter imprecisões, visto que foi realizada título a título. classificados como "medicina"47 47 Na sua coleção constavam muitas obras que não versavam sobre medicina ou farmácia. . Dentre esses, 134 eram em inglês (115 editados em Londres, 7 em Dublin/Edimburgo e 12 nos Estados Unidos), 125 em francês, 12 em português (5 editados no Brasil e 7 em Portugal), 6 em italiano, 1 em alemão e 1 em espanhol. Apesar de estarem presentes nesse acervo obras que versassem sobre assuntos gerais de medicina, como prática médica, anatomia, medicina experimental e higiene (entre outras), havia uma concentração de obras sobre terapêutica e/ou farmacologia, história da farmácia, falsificação de medicamentos, além de uma grande variedade de farmacopeias e periódicos de farmácia, denotando o caráter eminentemente prático da biblioteca montada. Essa feição pode ser confirmada pela proeminência de livros editados na década de 1860 (perfazendo 94 títulos), seguido por 53 títulos da década de 1870, 44 da década de 1850, 33 da década de 1820, 16 da década de 1880 e, por fim, 10 da década de 1830, além de outras obras com data não especificada. O que significa que não se tratava de uma biblioteca de clássicos, mas composta por títulos relacionados à sua área de especialização e atuação cotidiana. Esse dado confirma a nossa hipótese de que havia, entre a categoria médica da Corte, intensa circulação de ideias científicas provenientes dos mais diferentes centros de produção de conhecimento, que era resultante de constante esforço de atualização por parte dos intelectuais médicos. Tais leituras, realizadas por meio da aquisição de livros e periódicos, se davam, pois, no sentido de atualizá-los sobre tudo o que era produzido no além-mar, sendo tais conhecimentos apropriados e ressignificados na prática cotidiana. É, entretanto, de suma importância destacar que a significativa presença de títulos em inglês no acervo do Gabinete, em oposição ao perfil das demais bibliotecas do Rio de Janeiro do século XIX, resultava principalmente da doação de Alves Ferreira, não sendo as obras adquiridas por compra e, por isso, não se constituindo o resultado de uma "política" de aquisição de livros.

Assim, apesar de uma importante presença de obras em inglês no Gabinete, era destacada a quantidade de obras em francês, figurando autores comumente apropriados pela literatura médica nacional como: A. Bouchardat, Le travail. Son influence sur la santé (1863); Broussais, Examen des doctrines médicales et des système de Nosologie (1829-34); A. Becquerel, Traité élémentaire d'Hygiene privée et publique (1864); Sandras, C. M. S., Traité pratique des maladies nerveuses (1851); Lélut, De la santé du peuple (1849); Claude Bernard, Rapport sur les progrès et la marche de la physiologie génerale em France (1867); A. Armand, Médicine et hygiène des pays chauds et spécialement de l'Algérie et des colonies (1853); e E. Bouchut, Dictionnaire de Thérapeutique médicale et chirurgicale (1867), entre muitos outros.

Os três últimos títulos compunham ainda a maior coleção doada ao gabinete no século XIX, − com um total de 5.628 volumes, de acordo com Azevedo48 48 AZEVEDO, Op. Cit., 2010. −, pelo português Francisco Manuel de Mello (que também tinha sido bibliotecário do Gabinete). Deste montante, identificamos 139 títulos49 49 Como no caso da coleção tratada anteriormente, tal cifra não representa o total de volumes. vinculados à categoria "medicina", entre outras obras classificadas também sob as temáticas: "psicologia", "espírito e corpo" e "metafísica e filosofia"50 50 Não se realizou o levantamento da coleção inteira. . Dentre os livros que versavam sobre medicina, 77 eram escritos em francês, 58 em português (sendo 36 editados em Portugal e 19 no Brasil), 1 em alemão e 1 em latim. Apesar de os livros catalogados sob a rubrica medicina comporem a menor parte de sua doação, eles são reveladores por conformarem uma coleção de um indivíduo sem formação em medicina. Ao lado de títulos de popularização da medicina como o Dicionario de medicina popular (1862), de Pedro Luiz Napoleão Chernoviz, figuravam títulos sobre homeopatia, a exemplo do Médico do povo (1868), de Benoît Mure, além de algumas produções nacionais como a do médico Joaquim Remédios Monteiro dos Santos, Hygiene e educação da infância (1868). Também estavam presentes na sua coleção livros de clássicos da medicina francesa como o de Th. Ribot, Les maladies de la mémoire (1881); e o de J. Tissot, La folie considérée surtout dans ses rapports avec la psychologie normale (1877).

Na coleção de Manuel de Mello também encontramos uma grande variedade de temáticas como prática médica, higiene dos países quentes, história da medicina, histologia, higiene popular, higiene militar/naval, puericultura, saneamento e terapêutica. Havia, no entanto, uma concentração de títulos sobre homeopatia, fisiologia e doenças venéreas. De forma geral, os títulos vinculavam-se às principais moléstias e problemáticas de saúde enfrentadas pelos habitantes do Brasil, evidenciando que os livros também possibilitavam, àqueles não formados em medicina, a aquisição de conhecimento sobre aquilo que era produzido sobre essa especialidade. Seus títulos também eram atualizados, sendo, majoritariamente, editados na década de 1860 (com um total de 74 livros), sucedidos por 25 da década de 1850, 16 da década de 1870, 5 de 1830, 3 de 1880, 3 de 1840, 1 de 1820, além de outros com data não identificada e uma edição rara de 1237, de autoria de J. de Vigo, sobre cirurgia.

Analisando, entretanto, o acervo de medicina adquirido por compra ou doação pelo Gabinete, de 1837 a 1906, nota-se um grande esforço na compilação de obras em língua portuguesa (originais ou versadas), pois elas compunham a sua grande maioria, contabilizando 1.263 títulos (dos quais 1.088 tinham sido editadas no Brasil, 173 em Portugal e 2 em Goa). Os autores lusos estavam presentes em maior quantidade neste acervo do que em qualquer outro acervo de bibliotecas públicas da cidade −, a exemplo dos livros de Julio Arthur Lopes Cardoso, A medicina nos casos urgentes (1888) e o Manual do enfermeiro (1889). Além dos livros de autoria de portugueses, havia também jornais de ciência médica impressos em Lisboa, como o Jornal de Sciencias Medicas de Lisboa (1835-64) ou ainda A Medicina Moderna (1899-1905), editado no Porto. Essas constatações corroboram a perspectiva defendida por Schapochnik51 51 SCHAPOCHNIK, Nelson. Contextos de leitura no Rio de Janeiro do século XIX: salões, gabinetes literários e bibliotecas. In: BRESCIANE, S. (Org.). Imagens da cidade séculos XIX e XX. São Paulo, Marco Zero/ANPUH/FAPESP, 1994. p. 147-162. e Azevedo de que tal acervo seria constitutivo de um esforço de consolidação de uma memória lusitana na ex-colônia portuguesa.

Observamos, no tocante aos livros editados em Portugal, que havia proeminência de livros de popularização em medicina, como o de M. R. d'Oliveira, Medicina doméstica (1883); o de Ayres B. Pinto, Guia médico-homeophatico familiar ou modo de cada uma se tratar prompta e suavemente das moléstias mais comuns (1870); ou ainda o de Filipe José Rodrigues, Diccionario homeopathico portátil de symptomas (1858). Estas obras figuravam ao lado de traduções como a de Hufeland, Arte de prolongar a vida humana ou moderno tratado d'Hygiene (1825) e de Guilherme Buchan, Medicina domestica, ou tratado completo de conservar a saúde, e de curar, e precaver as enfermidades (1788-1803).

O Gabinete também tinha sob a sua guarda substantiva soma de teses defendidas em instituições de ciências de Lisboa como a Dissertação sobre o novo systema do contraestímulo (1816), de autoria de Antonio José de Sousa Pinto, assim como de teses apresentadas por doutorandos da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia (essas em grande quantidade). Observa-se também a presença relevante de obras de medicina impressas por editores nacionais, constituindo-se versões de livros editados originalmente em línguas diversas, a exemplo do famoso Dicionário de medicina popular, de autoria de Chernoviz (3ª edição, editado em 1862), e do livro de Benoît Mure, O médico do povo, traduzido por Joaquim José da Silva Pinto, revisto pelo Dr. A de Castro Lopes e impresso pela tipografia de A de Castro Melo, no Rio de Janeiro, em 1868.

Por outro lado, identificamos neste acervo a presença de clássicos, como o livro de Hipócrates, e de outras edições de autores portugueses dos séculos XVII e XVIII (na sua maioria), além de muitos livros escritos na língua latina de procedências diversas, como o de autoria de Leopoldo Marc Antonio Caldani, Institutiones physiologicae et pathologicae, datado de 1784, ou ainda o de Caspari Hofmannus, intitulado Institutionum, de 1645.

No entanto, apesar de notarmos expressiva presença de clássicos, a grande maioria das obras resguardadas pelo Gabinete Português de Leitura, na área das ciências médicas, tinha sido editada no século XIX, principalmente na segunda metade do século. Tal aspecto denota o esforço perpetrado pelos dirigentes da instituição no sentido de construir um acervo atualizado que pudesse ser consultado pelos seus associados e que, sobretudo, incentivasse as associações, já que estas eram pagas.

No quadro de dirigentes do Gabinete pode estar a explicação para a existência deste rico e atualizado acervo de livros e periódicos de medicina, visto que não raro médicos atuavam como bibliotecários ou mesmo diretores da instituição, como se pode verificar na Tabela 1, anteriormente apresentada. Cabendo ainda ressaltar que o acervo referente à medicina perfazia cerca de 8% do acervo do Gabinete, o que denota a importância dessa área do conhecimento para a instituição. As cifras apresentadas na tabela referenciada também evidenciam o grande esforço realizado pelos seus representantes no incremento constante do acervo que, se inicialmente objetivara ser o representante da cultura lusitana na cidade, no fim do século XIX, se constituíra como uma das principais bibliotecas da capital, sobretudo pela variedade de títulos e autores disponíveis nas estantes da suntuosa sede inaugurada em 1887, na Rua Luís de Camões, em estilo manuelino, no coração da cidade, outrora sede do império luso-brasileiro.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2016

Histórico

  • Recebido
    22 Jan 2016
  • Aceito
    10 Maio 2016
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