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A sociabilidade britânica no Rio de Janeiro do século XIX: os clubes de Cricket*

The british sociability in 19TH century of Rio de Janeiro: the cricket clubs

Resumo

Assim como ocorreu em muitos países, no Brasil as primeiras iniciativas esportivas foram protagonizadas por britânicos, que no Rio de Janeiro passaram a se instalar em maior número a partir da chegada da família real portuguesa (1808). Ainda que, a princípio, se mantivessem como um grupo à parte na sociedade fluminense, no decorrer do tempo se percebem mudanças nessa postura. Houve diversos espaços de interface, ocasiões em que suas práticas puderam ser conhecidas por diferentes estratos da população. Tendo em conta discutir a sociabilidade britânica no Rio de Janeiro do século XIX, o objetivo deste estudo é investigar as experiências dos clubes de críquete fundados na Corte/Distrito Federal e em Niterói. Deve-se considerar que a modalidade era encarada como uma expressão de um ethos típico dos que possuíam algum grau de relação com a Grã-Bretanha. Para alcance desse intuito, como fontes foram utilizados periódicos publicados na cidade, especialmente os editados em inglês, que tinham como público-alvo os anglófonos que viviam na capital do país e nas províncias.

Palavras-chave:
História do Brasil; História do Rio de Janeiro; História do Esporte; Críquete

Abstract

As it occurred in many countries, in Brazil the first sports initiatives were organized by British, who in Rio de Janeiro began to settle in greater numbers from the arrival of the Portuguese royal family (1808). Although, in principle, they remain as a separate group in the fluminense society, over time it is possible to perceive changes in this posture. There have been several interface spaces, occasions that their practices could be known by different strata of the population. In order to discuss the British sociability in 19th century Rio de Janeiro, the objective of this study is to investigate the experiences of cricket clubs founded in Court/Federal District and Niteroi. It must be considered that this sport was seen as an expression of a typical ethos of those who had some degree of relationship with Britain. To reach this aim, as sources were used periodicals published in the city, especially those published in English, that had the audience of Anglophones living in the country capital and the provinces.

Keywords:
Brazil History; Rio de Janeiro History; Sport History; Cricket

Introdução

Assim como ocorreu em muitos países, no Brasil as primeiras iniciativas esportivas foram protagonizadas por britânicos, que no Rio de Janeiro passaram a se instalar em maior número a partir da chegada da família real portuguesa (1808), atuando na diplomacia e no comércio1 1 MELO, Victor Andrade de. Antes do club: as primeiras experiências esportivas na capital do Império (1825-1851). Projeto História, São Paulo, v. 49, p. 197-236, abr. 2014. . Estiveram entre os principais promotores das pioneiras corridas de cavalo, organizadas desde a década de 1810, bem como das inaugurais regatas, realizadas nos anos 18502 2 MELO, Victor Andrade de. O sport em transição: Rio de Janeiro, 1851-1868. Movimento, Porto Alegre, v. 21, n. 2, p. 363-376, 2015; MELO, Victor Andrade de. Entre a elite e o povo: o sport no Rio de Janeiro do século XIX (1851–1857). Tempo, Niterói, v. 20, n. 37, p. 1-22, 2015. .

Esse envolvimento com os esportes e certas recreações é uma das facetas que marcam sua presença e influência em várias esferas do Rio de Janeiro do século XIX, onde se destacava sua atuação no âmbito da economia (no comércio, no setor financeiro, na indústria). Tratava-se de uma expressão da tentativa de recriar, em terras tupiniquins, um estilo de vida usual na Grã-Bretanha. Ainda que, a princípio, os britânicos se mantivessem, em boa medida, como um grupo à parte na sociedade fluminense, no decorrer do tempo se percebem mudanças nessa postura. Houve diversos espaços de interface, ocasiões em que suas práticas puderam ser conhecidas por diferentes estratos da população3 3 Para mais informações, ver: GRAHAM, Richard. Grã-Bretanha e o início da modernização no Brasil. 1850-1914. São Paulo: Brasiliense, 1973; FREYRE, Gilberto. Ingleses no Brasil. 2ª edição. Rio de Janeiro: José Olympio/MEC, 1977; NORTON, Luís. A corte de Portugal no Brasil. 3ª edição. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008; RICUPERO, Rubens. O Brasil no mundo. In: SILVA, Alberto da Costa (coord.). História do Brasil Nação (1808-2010) – volume 1 – Crise colonial e independência (1808-1830). Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. p. 115-160; BETHELL, Leslie. O Brasil no mundo. In: CARVALHO, José Murilo (coord.). História do Brasil Nação (1808-2010) – Vol. 2 – A construção nacional (1830-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. p. 131-178. Ver também: GUENTHER, Louise H. British merchants in nineteenth-century Brazil: business, culture, and identity in Bahia, 1808-50. New York, Oxford University Press, 2004. .

Tendo em conta discutir a sociabilidade britânica4 4 Neste artigo, denominaremos de colônia britânica e britânicos não somente os que, vivendo no Brasil, nasceram na Grã-Bretanha, mas todos que possuíam laços com essa nação, inclusive os descendentes natos em nosso ou outros países. no Rio de Janeiro do século XIX, o objetivo deste estudo é investigar as experiências dos clubes de críquete fundados na Corte/Distrito Federal e em Niterói. Deve-se considerar que a modalidade era encarada como uma expressão de um ethos típico dos que possuíam algum grau de relação com a Grã-Bretanha5 5 Para mais informações sobre o esporte na Grã-Bretanha, ver: MANGAN, James A. Athleticism in the Victorian and Edwardian public school. Cambridge: University Press, 1981; MANGAN, James A. The games ethic and imperialism: aspects of the diffusion of an ideal. New York: Viking, 1986; HOLT, Richard. Sport and the British: a modern history. New York: Oxford University Press, 1989. Ver também: BURKE, Peter; PALLARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia. Os ingleses. São Paulo: Contexto, 2016. . Na representação de Eça de Queirós, em suas Cartas de Inglaterra: “Estranha gente, para quem é fora de dúvida que ninguém pode ser moral sem ler a bíblia, ser forte sem jogar o críquete e ser gentleman sem ser inglês!”6 6 QUEIRÓS, Eça de. As Cartas de Inglaterra, Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 24 out. 1882, p. 1. , crônicas escritas por Eça de Queirós quando atuava no serviço diplomático português em Londres, foram publicadas na seção Folhetim do periódico brasileiro. .

Para alcance do objetivo, como fontes utilizamos periódicos publicados no Rio de Janeiro, especialmente os editados em inglês, que tinham como público-alvo os anglófonos que viviam na capital do país e nas províncias. O The Anglo-Brazilian Times: Political, Literary and Commercial foi lançado num momento em que crescera na cidade a intolerância com os britânicos em função da Questão Christie (1862-1865), quando o ministro plenipotenciário da Grã-Bretanha adotou uma postura intransigente e belicosa frente ao governo brasileiro7 7 ARAUJO NETO, Miguel Alexandre de. Great Britain, the Paraguayan War and free immigration in Brazil, 1862-1875. In: Irish Migration Studies in Latin America, Bakersfield, v. 4, n. 3, July 2006. .

Publicado entre os anos de 1865 e 1884, o jornal se dispunha a representar os interesses da colônia, se posicionando no que tangia aos acontecimentos nacionais em consonância com alguns pontos de vista da coroa britânica (como no caso da causa abolicionista). Para nosso estudo, relevante é o fato de que em suas páginas conseguimos informações sobre o cotidiano dos anglófonos na cidade, inclusive no tocante às suas atividades esportivas. Uma ocorrência merece destaque - o editor e proprietário, o irlandês William Scully, tinha participação ativa no British Cricket Club8 8 Para mais informações sobre Scully, ver: <http://www.irlandeses.org/dilab_scullyw.htm>. Acesso em: 24 mar. 2016. .

Já o The Rio News era editado pelo norte-americano Andrews Jackson Lamoureux, que chegou ao Rio de Janeiro em 1877, se envolveu com o periódico em 1879 e tornou-se seu único proprietário em 1882. Graças a suas iniciativas, o jornal se engajou na luta abolicionista, servindo mesmo de ponte entre os brasileiros e estrangeiros envolvidos com o tema, notadamente com a British and Foreign Anti-Slavery Society9 9 ROCHA, Antonio Penalves. The Rio News de A. J. Lamoureux: um jornal abolicionista carioca de um norte-americano. Projeto História, São Paulo, n. 35, p. 141-159, dez. 2007. .

O periódico circulou entre 1874 e 1901, publicando informações que julgava relevantes para as colônias britânica e norte-americana no Rio de Janeiro e em outras cidades estabelecidas10 10 Embora houvesse diferenças entre os britânicos e norte-americanos, em várias ocasiões compartilharam iniciativas. Para mais informações, ver: JEHA, Silvana Cassab. Anphitheatrical Rio! Marítimos americanos na baía do Rio de Janeiro – século XIX. Almanack, Guarulhos, n. 6, p. 110-132, 2013. . O cotidiano aparece em vários momentos, sendo os jogos de críquete um dos temas de interesse, notavelmente na virada dos séculos XIX e XX (quando chegou-se a criar uma coluna dedicada à modalidade, a “Cricket Items”).

Em mais de uma ocasião, o editor chegou a requisitar maior contribuição para que pudesse veicular informações sobre os eventos esportivos: “Devemos chamar a atenção dos dois clubes de críquete sobre a necessidade de nos enviar o mais cedo possível seus resultados”11 11 The Rio News, Rio de Janeiro, 28 mai. 1901, p. 5. . Vale destacar que Lamoureux morava em Niterói e era habituée do Rio Cricket.

Dada a popularidade do esporte entre os britânicos, outro periódico ligado à colônia, o The Brazilian Review, a partir de certo momento também passou a dar maior atenção à modalidade: “Em virtude das solicitações de muitos assinantes, decidimos dedicar duas páginas para notícias gerais do Brasil e iremos nos preparar para publicar resultados dos jogos de críquete, atletismo e outros encontros”12 12 The Brazilian Review, Rio de Janeiro, 19 fev. 1901, p. 135. .

The Brazilian Review era editado por Joseph Phillip Wileman, que desde 1896 esteve envolvido com a gestão financeira brasileira. Entre os anos de 1900 e 1908, foi diretor do Serviço de Estatística Comercial. Publicado entre 1898 e 1914, o periódico era, de fato, eminentemente dedicado à economia13 13 Sobre o The Brazilian Review, ver: SOUZA, Emily Oliveira de; SILVA, Elder Leandro da; TESSARI, Cláudia Alessandra. Investimento estrangeiro no Brasil e a informação econômica: uma análise do The Brazilian Review. A weekly record of trade and finance (1898-1914). In: ABPHE. Anais da 6a Conferência Internacional de História Econômica & VIII Encontro de Pós Graduação em História Econômica. São Paulo: USP, 2016. Disponível em: <http://www.abphe.org.br/uploads/Textos%20Encontro%20P%C3%B3s%20ABPHE%202016/Emily_Souza.pdf>. Acesso em: 19 mar. 2017. .

Boa parte do material analisado é de anúncios publicados a mando dos clubes. Outra parte são posicionamentos de cronistas sobre eventos, jogos, iniciativas diversas. Tomamos o cuidado de entendê-los como representações que devem ser prospectadas na sua materialidade. Dentro do possível e do que consideramos esclarecedor, tivemos em conta o perfil do periódico e do autor da matéria.

No caso dos jornais editados em inglês, percebe-se que claramente se dirigiam à colônia britânica - considerando os projetos, desejos e dificuldades dos anglófonos -, mas não deixavam de ter em conta os grandes temas da sociedade brasileira, uma relação de ambivalência usual nas iniciativas de estrangeiros na cidade estabelecidos.

A nosso ver, a potencial contribuição deste estudo é lançar um olhar para as ações de um grupo que atuava de maneira influente em um momento importante da história brasileira, no qual ainda eram recentes as iniciativas de construção da ideia de nação e transitava-se do regime monárquico para o republicano.

Perceber-se-á que a todo tempo estaremos tratando de uma ambiguidade. De um lado, os britânicos, como já citado, formavam um grupo reservado, nem sempre afeito ao contato com a sociedade fluminense. De outro lado, essa postura foi mudando no decorrer do tempo, inclusive porque alguns membros da colônia nasceram no Brasil e expandiram seus círculos sociais.

Durante todo o período, a colônia transitou - por motivos diversos, como veremos - entre posturas mais fechadas ou mais abertas ao contato. Esse processo acabou por ser importante no que tange à tomada de conhecimento e difusão de alguns de seus costumes, entre os quais o esporte.

Primeiras iniciativas: uma sociabilidade britânica

Graham Hamond, oficial da Marinha Britânica, esteve no Rio de Janeiro em dois períodos. Em 1825, capitaneou a nau que trouxe Charles Stuart, embaixador responsável por negociar o reconhecimento da independência brasileira por parte de Portugal, bem como privilégios comerciais e sociais para os britânicos que na cidade viviam. Já entre 1834 e 1838, assumiu a condição de comandante da esquadra do Atlântico Sul. Nos seus diários, encontramos alguns indícios da prática do críquete na Corte da primeira metade do século XIX.

Em dois momentos, Hamond citou a modalidade. Em 8 de setembro de 1836, registrou que alguns britânicos se organizaram para realizar uma partida do tão valorizado esporte: “Soube que nas vizinhanças de São Cristóvão haverá um jogo de críquete, mas, infelizmente, não poderei ir porque fiz convites para jantar. Há grande interesse no jogo e lamentarei não ter ido”14 14 HAMOND, Graham Eden. Os diários do Almirante Graham Eden Hamond. Rio de Janeiro: Editora JB, 1984. p. 131. . Exatamente um ano depois, 8 de setembro de 1837, deixa-nos mais um indício: “Aguardava-se, com o feriado de hoje, um grande jogo de críquete por jogadores ingleses, mas a chuva não permitiu”15 15 Ibidem, p. 170. .

Na ocasião, boa parte dos britânicos de mais posses vivia no bairro de Botafogo - o que na ocasião causava surpresas a alguns setores da sociedade fluminense, ainda não sensíveis à valorização das redondezas do mar. Todavia, muitos anglófonos moravam em São Cristóvão, próximo da residência da família imperial, a Quinta da Boavista. Na região, nos anos 1820, se instalou um quartel de irlandeses contratados para servir ao Brasil no imediato pós-independência16 16 A contratação desses irlandeses gerou polêmicas e tensões na cidade. Para mais informações, ver: POZO, Gilmar de Paiva dos Santos. Imigrantes irlandeses no Rio de Janeiro: cotidiano e revolta no Primeiro Reinado. 2010. 189f. Dissertação (Mestrado em História Social). Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Departamento de História, São Paulo, 2010. . Naqueles arredores, na Gamboa, inaugurou-se inclusive o Cemitério dos Ingleses, o primeiro do Rio de Janeiro, ainda ativo até os dias de hoje.

Além disso, desde o final dos anos 1830, o Campo de São Cristóvão, uma área antes mais usada para negócios com gados, se tornou um espaço de entretenimentos. Por lá se instalou um anfiteatro de propriedade de Manoel Luiz Alves de Carvalho, onde foram apresentados espetáculos circenses, ginásticos e tauromáquicos17 17 MELO, Victor Andrade de. “Pois temos touros?”: as touradas no Rio de Janeiro do século XIX (1840-1852). Análise Social, Lisboa, v. 50, n. 2, p. 382-404, 2015. .

Há maior número de evidências sobre a prática da modalidade nos anos 1850. Uma das primeiras é um anúncio do Instituto Colegial de Nova Friburgo, escola que dedicava denotada atenção à educação física, com o intuito de “dar aos alunos uma constituição forte e corpo robusto, desenvolvendo as suas forças”18 18 Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 12 jun. 1853, p. 3. . Para tal, informava oferecer “jogos atléticos como o críquete” (além da ginástica, esgrima e corridas). Numa das imagens desse colégio, uma litografia de 1843, podemos ver alguns jovens disputando uma partida do esporte19 19 Vista dos fundos do Instituto de Nova Friburgo, 1843. Litografia da oficina Ludwig & Briggs. Disponível em: <http://historiadefriburgo.blogspot.com.br/2010/05/o-colegio-freese-formacao-da-elite.html>. Acesso em: 14 abr. 2016. .

Não surpreende tal ênfase. O britânico João Henrique Freese (seu nome original era John Henry) instalara sua escola na mais amena e rural Nova Friburgo procurando organizá-la de acordo com as mais recentes inovações europeias. Sua inspiração para as aulas de educação física eram as experiências inglesas, nas quais o críquete ocupava um espaço importante20 20 No decorrer do século, em algumas ocasiões, sempre com inspiração no que ocorria na Inglaterra, se aventou a contribuição do críquete para a educação física. Ver, por exemplo, Jornal do Comércio,Rio de Janeiro, 30 jan. 1879, p. 1. .

Destaque mesmo merecem as notícias sobre o British Cricket Club, aparentemente a primeira agremiação melhor estruturada dedicada à modalidade fundada no Rio de Janeiro. Os anúncios surgem nos jornais em 1854, mas não podemos precisar que essa seja a data de criação21 21 Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 14 ago. 1854, p. 2. . Podemos supor que isso tenha ocorrido nessa primeira metade da década. Importa observar que a direção foi sempre ocupada por britânicos. Os jogos continuavam a ser realizados no mesmo bairro indicado por Hamond nos seus diários. Naqueles anos 1850, o Campo de São Cristóvão foi reformado e renomeado para Campo de D. Pedro, fortalecendo-se sua vocação para a diversão.

Os anúncios publicados em inglês, a nacionalidade dos dirigentes e o fato de que se reuniam também na British Subscription Library - uma sociedade dedicada à difusão de literatura na língua inglesa, fundada em 182622 22 Para mais informações sobre essa instituição, ver: SCHAPOCHNIK, Nelson. Uma biblioteca desaparecida: the Rio de Janeiro British Subscription Library. In: ABREU, Márcia (org.). Trajetórias do romance: circulação, leitura e escrita nos séculos XVIII e XIX. São Paulo: Mercado Letras, 2005. -, e no Exchange Hotel (de propriedade de Robert M. & Dowall), indicam o grupo majoritário envolvido. O clube de críquete era mais uma das agremiações da colônia britânica, o mesmo que se pode identificar com outros estrangeiros, como alemães, franceses e portugueses.

Melo e Peres, dialogando com o estudo de Fonseca23 23 FONSECA, Vitor Manoel Marques da. No gozo dos direitos civis: associativismo no Rio de Janeiro, 1903-1916. Niterói: Muiraquitã, 2008. , sugerem que tais agremiações “eram tanto uma forma voluntária de reunião com uma intencionalidade específica quanto uma estratégia que permitia estabelecer algum controle sobre determinada comunidade”24 24 MELO, Victor Andrade de; PERES, Fabio de Faria. A gymnastica no tempo do Império. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2014. p. 96. . Da mesma forma, dramatizavam, em maior ou menor grau, ambivalências no que tange entre certos fatos internacionais (a crescente consolidação da ideia de Estado-Nação) e nacionais (como a maior liberdade associativa e o aumento da preocupação com os estrangeiros e imigrantes num momento em que se começava a consolidar uma cultura nacional):

Distantes geograficamente da pátria de origem, os estrangeiros e seus descendentes procuravam, através de uma vida associativa em comum, não apenas se manterem próximos de seus conterrâneos, celebrando determinados símbolos identitários, como também partilhar, dentro dos limites possíveis, certos valores da nação “anfitriã”, criando laços com a mesma e explicitando seu respeito ao “novo lar”25 25 MELO, Victor Andrade de; PERES, Fabio de Faria. Loc. Cit. .

No caso dos britânicos, havia peculiaridades. Desde a primeira metade do século XIX, eram usuais problemas com os brasileiros, tensões não poucas vezes relacionadas aos privilégios que gozavam na cidade26 26 Freyre aborda esse tema em algumas passagens. Ver: FREYRE, Gilberto. Op. Cit. . Além disso, já tinham fortalecida em sua formação cultural a valorização dos clubs27 27 Para mais informações, ver: SOARES, Luiz Carlos. A Albion revisitada. Rio de Janeiro: 7 Letras/Faperj, 2007. , instituições que a partir dos anos 1850 progressivamente se consolidaram na sociedade fluminense, não só agremiações de natureza recreativa, como beneficente, política, econômica, entre outras28 28 FONSECA, Vitor Manoel Marques da. Op. Cit. .

É possível que o British Cricket Club atraísse os interessados nas práticas esportivas em geral. Um indício é o envolvimento da agremiação com a organização de uma importante regata promovida na cidade, em 17 de maio de 1855, na Enseada de Botafogo29 29 Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 16 mai. 1855, p. 2. . É provável também que entre os sócios estivessem os remadores da Albion, embarcação que participou de um dos páreos realizados, no mesmo mês, no Saco da Raposa (Ponta do Caju), enfrentando os brasileiros do barco São Jorge30 30 MELO, Victor Andrade de. O sport em transição. Op. Cit. . Um detalhe importante é que nessas ocasiões o jogo de críquete não era cancelado, apenas antecipado.

Não se têm indícios sobre o público que frequentava as atividades do British Cricket Club. A falta de uma sede mais confortável, anúncios cheio de termos técnicos, convocatórias muito direcionadas31 31 Ver, por exemplo, Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 22 mai. 1856, p. 2. , são indicadores de que se tratava mesmo de encontros de cricketeres, voltados eminentemente para os que desejassem jogar. De toda forma, até 1862, a agremiação seguiu bastante ativa - partidas constantes, reuniões frequentes, alternância na diretoria.

Depois de alguns anos de inatividade, em março de 1865, celebrou-se um estímulo para que o clube retomasse seu funcionamento, a generosa doação de material esportivo feita por J. J. Aubertin32 32 The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 24 mar. 1865, p. 1. - negociante britânico estabelecido em Santos, envolvido com a construção da Estrada de Ferro de São Paulo.

No mês seguinte, tornaram a se reunir os associados, registrando um explícito agradecimento a Aubertin, agraciado com o título de membro honorário. Em maio, quando retomou suas atividades - já renomeado para Rio British Cricket Club -, surgiu também uma nova agremiação - o Artisan Amateur Cricket Club, sobre o qual não conseguimos mais informações, aparentemente de vida curta.

Os jogos se deslocaram para um lugar mais central, o Campo de Santana (na ocasião oficialmente denominado Campo da Aclamação)33 33 The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro,24 mai. 1865, p. 4. , espaço que desde o período colonial veio se estabelecendo com um sítio importante da cidade, inclusive no que tange à diversão:

A criação de um jardim de amenidades e festejos (...) - alternativo ao Passeio Público setecentista - indiciava o papel relevante e oficial que o Campo de Santana gradativamente iria assumindo ao longo do século 19. Efetivamente, a Corte elegeu - e a família imperial brasileira endossou - aquele espaço como cenário de suas exibições de pompa e circunstância em diversas oportunidades34 34 SEGAWA, Hugo. Ao amor do público: jardins no Brasil. São Paulo: Studio Nobel/Fapesp, 1996. p. 159. .

Ao conceder autorização para o Rio British instalar seu ground35 35 Também é chamado de ground o campo onde o críquete é jogado, um gramado em geral oval ou poligonal com muitos lados. no Campo de Santana, a Câmara Municipal considerou que se tratava de um divertimento saudável e civilizado, bem ao espírito do que certos setores pretendiam para a capital. Todavia, Mascarenhas observa bem, a despeito de na cidade já se conhecer largamente outros esportes (como o turfe e o remo), um dos vereadores pediu esclarecimentos sobre o que era o críquete, um indicador de que era praticado mesmo de forma restrita36 36 MASCARENHAS, Gilmar. Construindo a cidade moderna: a introdução dos esportes na vida urbana do Rio de Janeiro. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 13, n. 23, p. 17-39, 1999. .

A partir de então, houve três tipos de jogos: entre os dois clubes (Artisan e Rio British), entre esses e equipes de embarcações britânicas ancoradas na Baía de Guanabara e entre times dessas naus. Deve-se ter em conta que o Rio de Janeiro era uma cidade com grande movimentação marítima. Os oficiais, em geral, mais facilmente podiam desembarcar, se envolvendo com algumas atividades de seus compatriotas na capital estabelecidos37 37 Os outros marinheiros não tinham tanta liberdade, e quando vinham à terra não poucas vezes se envolviam em ruidosas confusões. Ver: JEHA, Silvana Cassab. Op. Cit. , contribuindo, assim, com o dinamismo de certas iniciativas.

Deve-se ter em conta que a partir da década de 1860 reconfigurou-se a presença do capital inglês na economia nacional, fato observável em várias cidades. Isso se deu em função da participação dos britânicos na instalação de ferrovias, na fundação de casas bancárias, bem como na instalação das primeiras iniciativas industriais do país38 38 PAULA, João Antônio de. O processo econômico. In: CARVALHO, José Murilo (coord.). História do Brasil Nação (1808-2010) – volume 2 – A construção nacional (1830-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. p. 179-224; CASTRO, Ana Célia. As empresas estrangeiras no Brasil: 1860-1913. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. .

Nas equipes de críquete, foi possível identificar apenas um nome em português: Kenyon Santos. A despeito disso, não é improvável que ele fosse também ligado à colônia britânica, como aparentam ser todos os outros jogadores e a maior parte dos que assistiam às partidas. Assim celebrou um cronista ao comentar uma disputa entre o Rio British e a equipe do navio H. B. M. S. Esquadron: “O dia está excepcionalmente bom, e o comparecimento de público mais numeroso do que qualquer outra ocasião antes”39 39 The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 24 set. 1865, p. 2. .

Pela primeira vez, se observa nos jornais a veiculação de propagandas de venda de roupas para a modalidade, especialmente bonés e cintos, oferecidos pela Clark & C., loja de propriedade de britânicos40 40 Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 15 ago. 1868, p. 2. . Tratava-se de um sinal de que o críquete se espraiava pela cidade? Em geral, a gestação de um mercado consumidor é um indicador de maior estruturação de um esporte. Nesse caso, todavia, parece ter atendido ao aumento provisório do interesse pela prática no interior da colônia. Perceba-se que o mesmo estabelecimento publicou dois anúncios na mesma página, um abaixo do outro. O de calçados, estava em português. O de produtos do críquete, em inglês, como a indicar que o público-alvo eram os anglófonos41 41 Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 15 ago. 1868, p. 2. .

Outro indicador do caráter mais restrito da modalidade é a pequena veiculação de notícias nos jornais de grande circulação. Ao contrário dos eventos de turfe e remo, constantemente divulgados e comentados, quase não há informações sobre o críquete. Basicamente o que encontramos, e apenas no Jornal do Comércio - o que se entende por ser um dos principais periódicos da Corte -, são anúncios pagos pelo próprio Rio British, avisos e convocatórias de suas atividades. Ainda assim, esses sumiram quando foi lançado, em fevereiro de 1865, o The Anglo-Brazilian Times: Political, Literary and Commercial, adotado pelas agremiações como veículo para difusão de notícias sobre seus eventos e decisões.

Em julho de 1868, um anônimo recém-chegado à cidade, provavelmente já conhecedor de outras localidades nas quais havia britânicos instalados, demonstrou surpresa por saber que o Rio British estava inativo, não havendo outras agremiações esportivas da colônia42 42 The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 8 jul. 1868, p. 3. . Para ele, era inconcebível que seus patrícios deixassem isso ocorrer, negligenciando algo que fazia parte da sua tradição. O editor do The Anglo-Brazilian Times claramente aderiu a tal contestação.

Em dezembro do mesmo ano, outro anônimo clamou por cuidados com o ground do Campo de Santana. Mais ainda, sugeriu que se deveria fundar um novo clube43 43 The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 23 dez. 1868, p. 2. . Outros personagens demonstraram insatisfação com a situação, esgrimindo mesmo acusações de que se estava a perder as referências culturais britânicas. Um cronista dramatizou: “Esperamos melhores coisas de nossos jovens ingleses do que o abandono de um jogo nacional que tem seguido os ingleses ao redor do mundo?”44 44 The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 23 dez. 1868, p. 3. .

Naqueles anos 1850 e 1860, já se identifica algo que foi constante na trajetória da modalidade. Havia uma certa mobilidade entre os britânicos, notadamente daqueles que atuavam nos negócios comerciais ou instalando fábricas e ferrovias. Impactos disso se sentiam nos clubes de críquete.

Em alguns momentos se percebe que não havia número suficiente de interessados para garantir as rivalidades que alimentam o campo esportivo45 45 Um exemplo se observa em julho de 1865, quando se promoveu um jogo entre o British Club e uma equipe composta por jogadores de várias origens não ligados a nenhuma agremiação (The Anglo-Brazilian Times, 8 jul. 1865, p. 4). . Além disso, constantemente se perdiam importantes lideranças dinamizadoras. Um exemplo vemos em agosto de 1865, quando se informou que o capitão do Rio British se mudaria para a Argentina, desfalcando a equipe de um “valioso e entusiasta cricketer”46 46 The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 24 ago. 1865, p. 3. .

Deve-se também considerar a interferência do quadro contextual. Por exemplo, o clube tornou-se menos ativo no momento em que cresceram as tensões com os britânicos em função da Questão Christie (1862-1865)47 47 Para mais informações, ver: GRAHAM, Richard. Os fundamentos da ruptura de relações diplomáticas entre o Brasil e a Grã-Bretanha em 1863: a “Questão Christie”. Revista de História, São Paulo, v. 24, n. 49 e 50, p. 117-137 e p. 379-400, 1962. Ver também: SINÈSIO, Daniel Jacuá. A Questão Christie e a atuação do secretário João Batista Calógeras (1862-1865). 2013. 146f. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História, Niterói, 2013. . Da mesma forma, nos anos finais da década de 1860, a agremiação sentiu os impactos da crise financeira de alcance internacional, dos desdobramentos materiais e simbólicos da Guerra do Paraguai e do aumento de preocupações com as epidemias que grassaram na Corte. Na ocasião, várias diversões chegaram a fechar as portas48 48 Esse assunto foi discutido em: MELO, Victor Andrade de; KARLS, Thaina Schwan. Novas dinâmicas de lazer: as fábricas de cerveja no Rio de Janeiro do século XIX (1856-1884). Movimento, Porto Alegre, 2017. No prelo. .

Iniciativas mais duradouras ligadas ao críquete podem ser observadas nos anos 1870, quando recrudesceu a cena pública fluminense, não somente no que tange às atividades de entretenimento como também no tocante à efervescência política, motivada pela emergência de reivindicações abolicionistas e republicanas.

Iniciativas melhor estruturadas: uma sociabilidade anglo-brasileira?

Em 1872, foi fundado o Rio Cricket Club, na Rua Berquó (atual General Polidoro), bairro de Botafogo, com uma partida disputada entre uma equipe capitaneada por R. L. Price e outra por George Cox, personagem que merece destaque pelas contribuições que deu à estruturação das agremiações de críquete, como também por ser considerado um típico britânico - ainda que nascido no Equador -, um verdadeiro sportsman, um líder admirado pela colônia49 49 Além do seu envolvimento notável com agremiações de críquete, Cox foi presidente do City Club, do Club das Laranjeiras, donatário do Hospital dos Estrangeiros e da British Church. Um relato da admiração que havia ao seu redor pode ser visto em The Rio News, Rio de Janeiro, 21 mar. 1899, p. 7 e The Rio News, 26 set. 1899, p. 7. . No Brasil atuou como comerciante e diplomata. Casou-se com a fluminense Minervina Dutra (filha do conhecido farmacêutico João Correa Dutra com Luiza Santos Xavier Dutra). Seus filhos, como ele, tiveram intensa vida esportiva, entre os quais Oscar Cox, que passou para a história como um dos protagonistas da introdução do futebol na cidade.

Entre os associados do Rio Cricket encontravam-se importantes nomes da colônia britânica. Havia apenas um brasileiro, Eugenio Tourinho, futuro 2º Visconde de Tourinho50 50 The Rio News, Rio de Janeiro, 6 set. 1898, p. 3. , membro de uma família influente. No anúncio de convocatória, se tem a impressão de que havia uma clara linha de continuidade com a iniciativa anterior do Rio British51 51 Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 8 abr. 1872, p. 2. .

Nesse mesmo ano de 1872, surgiu a notícia de uma nova agremiação, o Anglo Brazilian Cricket Club52 52 Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 11 jul. 1872, p. 4. . Ao contrário do Rio Cricket, seus anúncios eram publicados em português, bem como lusófonos integravam a direção, como o brasileiro J. B. Carvalho53 53 Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 12 jul. 1872, p. 4. e o negociante português Eduardo A. de Brito e Cunha54 54 Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 11 ago. 1872, p. 3. . Os jogos eram realizados no Campo de São Cristóvão.

Não deixou muitos registros essa primeira tentativa de criação de um clube de críquete não exclusivamente britânico. A agremiação não parece ter tido vida longa, ao contrário do Rio Cricket que, já em 1873, começou a disponibilizar sua sede, em certos dias, para a prática livre da modalidade, para além dos dias das partidas. A direção fez notáveis esforços para melhor estruturar a iniciativa, atraindo mais adeptos e organizando o quadro de associados.

A ambiência da sociedade fluminense ajudou o processo de consolidação da agremiação, mas persistiam antigos problemas. Como sanar as lacunas ocasionadas pelo trânsito constante de britânicos? Como lidar com a falta de interessados para alimentar as rivalidades55 55 De fato, os britânicos nunca foram o maior grupamento de estrangeiros estabelecidos no Rio de Janeiro. No censo de 1872, identifica-se que eram superados pelos portugueses, franceses, italianos, espanhóis e alemães. ? Em 1875, vemos uma primeira notícia de um evento que parece de alguma forma ter em conta esses dois desafios. Uma equipe de associados do Rio Cricket Club viajou à província vizinha para disputar partidas com o São Paulo Cricket Club, formado por anglófonos naquela cidade estabelecidos56 56 O Globo, Rio de Janeiro, 4 jun. 1875, p. 3. .

O encontro foi marcado por muitas celebrações e tornou-se possível graças ao apoio da colônia britânica das duas cidades (inclusive no que tangia ao transporte por trem57 57 A implantação da ferrovia ligando Rio de Janeiro e São Paulo certamente facilitou tais encontros. ). No jantar de encerramento, a propósito, se fez questão de saudar tanto o imperador brasileiro quanto a rainha da Inglaterra58 58 O Globo, Rio de Janeiro, 5 jun. 1875, p. 3. . Reiterar certos traços culturais foi uma constante nessas ocasiões que periodicamente foram promovidas a partir de então, no decorrer do século, tanto no Rio quanto em São Paulo59 59 Ver, por exemplo, The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 23 jul. 1878, p. 4. . Em geral, eram eventos prestigiados por anglófonos, eventualmente por algum brasileiro mais bem relacionado60 60 Ver, por exemplo, Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 9 jul. 1878, p. 3. .

Na transição dos anos 1880 e 1890, se chegou a pensar em estabelecer um calendário anual desses encontros interprovinciais, bem como em promover desafios com equipes de outros países, especialmente da Argentina61 61 Em 1888, de fato, houve uma viagem para disputar partidas em Montevidéu, Rosário e Buenos Aires, visita retribuída por uma equipe de argentinos em 1890. . Na transição dos séculos XIX e XX, tais jogos se tornaram bem frequentes62 62 Estratégias semelhantes foram também utilizadas pelas equipes de São Paulo e Campinas (posteriormente também de Santos). Já em Salvador e Recife, onde havia núcleos de britânicos praticando o críquete, não era tão possível em função da distância, sendo as partidas realizadas mais esporadicamente. Para mais informações, ver: MELO, Victor Andrade de. Para inglês ver? Os clubes de cricket e a sociabilidade britânica em Recife (1865-1906). Territórios e Fronteiras, Dourados, 2017. No prelo. .

Nos anos 1880, teve início uma nova fase no Rio Cricket Club, graças à mudança de sede. As instalações da Rua Berquó eram modestas e não atendiam bem aos interesses atléticos dos associados. A agremiação alugou do Conde D´Eu, a princípio por nove anos, um grande terreno (aproximadamente 150 x 110 jardas, isso é, cerca de 13.700 metros quadrados) na esquina das Ruas Paissandu e Guanabara63 63 The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 9 jan. 1880, p. 2. .

A Rua Paissandu foi construída em 1864. O intuito era estender a antiga Rua de Dona Thereza até a Praia do Flamengo, de maneira a facilitar o acesso ao palácio com o qual D. Pedro II presenteou sua filha Isabel por ocasião do seu casamento com o Conde D’Eu (o Palácio Guanabara). A beleza do logradouro, que se mantém até os dias de hoje, está no fato de que foram plantadas palmeiras em toda sua extensão, uma determinação do Imperador. Até mesmo pela proximidade com a residência de membros da família imperial, muitos casarões foram construídos nas redondezas64 64 Na ocasião, a Rua Guanabara se encerrava no Morro do Mundo Novo, numa área de pedreira. A sede do Rio Cricket ficava colada a esse obstáculo natural que futuramente seria cortado para ligar Laranjeiras a Botafogo pela Rua Farani. .

Na ocasião, o clube possuía 50 sócios, que pagavam 20$000 por ano65 65 A título de comparação, esse era o valor da assinatura anual do The Anglo-Brazilian Times. , além de 10$000 para admissão. O empolgado cronista do The Rio News não deixou de observar que seria um desafio pagar 90$000 por mês pelo aluguel do novo terreno, além dos custos necessários à construção e manutenção das instalações e equipamentos esportivos. A conta não fechava, o déficit era previsível. Em nome da direção da agremiação, conclamou o apoio da colônia para conseguir manter ativo o “jogo nacional (...) que pode ser encontrado em todo lugar em que há comunidade britânica”66 66 The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 9 jan. 1880, p. 2. .

As novas instalações não estariam disponíveis somente para o críquete, como também para outras modalidades, entre as quais os sports athleticos, as corridas e saltos, primórdios do atletismo. Esperava-se ainda atender às mulheres que desejassem praticar o tênis e o arco e flecha. O intuito era tornar a nova sede num centro de entretenimentos para os britânicos, local de culto das suas tradições culturais.

Deve-se observar que os anglófonos criaram outras agremiações de entretenimento. Fundado em 1873, o British and American Club inaugurou, em 1878, uma sede na Rua Dois de Dezembro, no bairro de Laranjeiras, onde havia um salão de dança. Desde o primeiro ano de funcionamento, promovia, na sede do Rio Cricket67 67 O Rio Cricket, por sua vez, em diversas ocasiões se reuniu na sede do British and American Club. Ver, por exemplo, Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 9 dez. 1874, p. 3. , festivais anuais de atletismo abertos a britânicos e norte-americanos, inclusive não associados68 68 Ver, por exemplo, The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 23 mai. 1878, p. 3. .

A despeito de serem atividades muito direcionadas à colônia, aparentemente havia algum grau de abertura para a participação de fluminenses, pelo menos assim sugeriu um cronista: “Ao lado do grande comparecimento de famílias britânicas e americanas, muitos brasileiros e suas famílias com sua presença contribuíram com o embelezamento e brilhantismos dos esportes”69 69 The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 8 jul. 1878, p. 3. . Esses encontros entre nacionais e estrangeiros se tornariam usuais nos eventos do Rio Cricket.

Três personagens da colônia britânica lideraram a iniciativa de instalação da nova sede do Rio Cricket. E. W. May, que assumiu a função de presidente, era um comerciante de destaque, além de superintendente de uma empresa de navegação que fazia a ligação entre Southampton e o Rio de Janeiro70 70 Foi também presidente da British Subscription Library. . O tesoureiro J. C. Cochrane era membro de uma família influente, envolvida com companhias de transportes públicos (bondes e ferrovias) e com os avanços da medicina71 71 Sobre os bondes fluminenses e a família Cochrane, ver: VON DER WEID, Elisabeth. O bonde como elemento de expansão urbana no Rio de Janeiro. Siglo XIX, Cidade do México, n. 16, p. 78-103, 1994. Disponível em: <http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/o-z/FCRB_ElisabethvonderWeid_Bonde_elemento_expansao_RiodeJaneiro.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2017. . Como secretário, atuava o já citado George Cox.

A expectativa de envolver a comunidade britânica na construção da nova sede do Rio Cricket parece ter logrado sucesso. Já em junho de 1880, por lá foi promovido o British Amauter Athletic Sports - uma festividade anual de atletismo72 72 Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 22 mai. 1881, p. 4. . A agremiação, a propósito, construiu uma das primeiras pistas de corridas e instalações para saltos da cidade.

Esses eventos, divulgados nos jornais, paulatinamente atraíram maior número de interessados, a princípio mais britânicos, a posteriori também brasileiros, que começaram mesmo a tomar parte em algumas provas. Em setembro de 1880, por exemplo, E. de Moraes ganhou uma das corridas, sendo saudado enfaticamente pelos fluminenses que assistiam73 73 The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 15 out. 1880, p. 4. . No futuro, muitos nacionais se envolveriam com a modalidade, participando de competições cujos programas foram se tornando cada vez mais diversificados74 74 Para um olhar sobre o aumento da participação de brasileiros nos sports athleticos, ver The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 9 jul. 1881, p. 2. .

Mais um indicador da popularização desses jogos athleticos inglezes foi o surgimento de clubes que promoviam seus eventos na sede do Rio Cricket. Em 1882, por exemplo, anunciou-se uma competição do Club Athletico Inglez (também apresentado como British Athletic), sobre o qual não se obteve mais informações.

Perceba-se que, em 1883, foi criado, em Niterói, o Club Olympico Guanabarense, agremiação que dividiria com o Club Athletico Fluminense - fundado em 1885, na Tijuca - o protagonismo do desenvolvimento das corridas a pé75 75 MELO, Victor Andrade de; PERES, Fabio de Faria. Op. Cit. . Atenta a essa maior difusão da modalidade, expressão de uma cidade que voltou a valorizar e melhor estruturar as diversões e espetáculos públicos, a direção do Rio Cricket passou a promover mais eventos de atletismo, contando com grande assistência e constante presença da família imperial.

Tais atividades eram anunciadas na seção dos periódicos dedicada às propagandas dos entretenimentos da cidade. Na Gazeta de Notícias, em 188476 76 Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 31 ago. 1884, p. 4. , se encontravam ao lado de corridas de cavalos, touradas, circos, teatros. Em 1885, o clube chegou a publicar, no mesmo jornal, anúncios simultâneos em português e inglês, um indicador de que se pretendia ampliar o público77 77 Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 24 mai. 1885, p. 4. . Sem dúvida, uma sensível mudança de perfil para uma agremiação que fora tão restrita à colônia britânica.

O críquete não perdeu seu espaço. Continuava interessando, todavia, mais aos britânicos, sendo suas atividades pouco anunciadas ou mesmo compreendidas. Quando o Diário de Notícias anunciou, em 1890, como “Curiosa Luta” um jogo entre brasileiros e argentinos realizado na sede da Rua Paissandu78 78 Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 4 jul. 1890, p. 1. , o cronista do The Rio News reagiu com ironia e certa indignação ao que considerou ignorância do seu colega de imprensa79 79 The Rio News, Rio de Janeiro, 7 jul. 1890, p. 4. .

Nas equipes, seguiam sendo poucos os brasileiros envolvidos. Mesmo entre os britânicos, o interesse ainda era restrito. Como não havia diversidade, para evitar a repetição de jogos internos (por exemplo, entre solteiros e casados, entre mais jovens e mais velhos), os confrontos com times de embarcações britânicas é que movimentaram a temporada80 80 Ver, por exemplo, The Rio News, Rio de Janeiro, 5 ago. 1885, p. 5. . Quando chegava um navio, entre os cricketeres gerava-se uma expectativa de que pudesse haver um grupo disposto a disputar algumas partidas81 81 Ver, por exemplo, The Rio News, Rio de Janeiro, 5 jul. 1885, p. 4. . Outra alternativa era recorrer às excursões entre Rio e São Paulo. Com as instalações da Rua Paissandu, ficou inclusive mais fácil receber a visita dos paulistanos.

De toda forma, os eventos de críquete aparentemente eram muito animados, embalados por bandas de música, bebida e comida, organizados à moda britânica dos encontros no country. A presença feminina era muito celebrada: “Eu ouvi um jovem solteiro enfatizar que nada estimula mais um cricketer do que a presença de garotas”82 82 The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 15 set. 1880, p. 4. . Os grounds viraram, como outros espaços esportivos da cidade, locais de flerte.

Tal fato tinha relação com o aumento do protagonismo social feminino e podia se verificar em várias outras ocasiões, especialmente nos eventos esportivos83 83 MELO, Victor Andrade de. Mulheres em movimento: a presença feminina nos primórdios do esporte na cidade do Rio de Janeiro (século XIX-primeira década do século XX). Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 27, n. 54, p. 127-152, jul.-dez. 2007. , mas também eram exponenciadas pelas características britânicas do Rio Cricket. Um cronista comentou sobre uma competição de atletismo organizada pela agremiação: “As arquibancadas regurgitavam de senhoras e por todos os lugares destinados aos espectadores se viam senhoras e cavalheiros distintos que esperavam ansiosos o começo daquele belo divertimento”84 84 Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 16 ago. 1882, p. 1. .

As mulheres também praticavam alguns esportes. No atletismo, já há alguns anos, desde pelo menos a década de 1870. Os torneios de tênis sempre contavam com a participação feminina. Além disso, no fim do século, em 1900, pelo menos em duas situações disputaram partidas de críquete, jogos contra equipes masculinas, denominados ladies X gentlemen85 85 The Rio News, Rio de Janeiro, 1 mai. 1900, p. 8; The Rio News, 13 nov. 1900, p. 5. .

Alguns comentários nos permitem especular o perfil majoritário do público que comparecia aos jogos de críquete. Na coluna “Mundo Elegante” do jornal Brazil, um cronista em tom poético sugeriu de forma elogiosa:

Enquanto o vento farfalhava as ramagens no dia de São João, uns louros filhos da Albion, cheios de vida e robustos entregavam-se ao jogo do críquete. Na arena da rua de Paissandu, enquanto a bola zunia no ar, os campeões corriam de um lado para outro, um grupo de elegantes senhoras inglesas acompanhavam com interesse as peripécias do match. Um bando de crianças como uma revoada alegre saltavam e batiam palmas, contentes, e todos viam nesses pequeninos rosados, de cabelos luminosos e de olhos cor de turquesa, futuros atletas do tênis e do críquete86 86 Brazil, Rio de Janeiro, 26 jun. 1884, p. 2. .

Em outras ocasiões, se reconheceu a diferença de ethos dos frequentadores do Rio Cricket. Em crônica publicada em A Estação87 87 Era um jornal dedicado à moda e aos bons costumes – preconizador de modernização da sociedade fluminense, dirigido ao público feminino. Para mais informações sobre o periódico, ver: CRESTANI, J. L. O perfil editorial da revista A Estação: jornal ilustrado para a família. Revista da ANPOLL, Brasília, v. 25, p. 323-353, 2008. , na coluna “A cidade e os teatros”, na qual se comentava a vida social da cidade, J. Dantas Junior estabeleceu um contraste entre as touradas, por ele consideradas como anacrônicas, e o esporte praticado pelos ingleses. Segundo seu olhar, o “civilizado” evento foi marcado pela presença de “muitas cabeleiras louras, muitos olhos azuis”88 88 A Estação, Rio de Janeiro, 30 jun. 1888, p. 136. .

Para o mesmo cronista, que não escondeu sua simpatia, as partidas de críquete eram situações em que se explicitava bem os intuitos britânicos, ser forte para fazer preponderar seu poderio em mar e terra: “O cultivo da inteligência, a educação do espírito é muito bom. Mas não é mau ter força. Um braço forte é às vezes de grande utilidade”. A seu ver, havia que se aprender com essas lições89 89 A Estação, Rio de Janeiro, 30 jun. 1888, p. 136. .

De fato, os jogos seguiam sendo encarados pelos britânicos como ocasiões ideais para fortalecer seus laços. Procurava-se, ao máximo, respeitar os rituais tradicionais - dinâmica da partida, confraternizações antes e depois, saudações etc. -, uma forma de celebrar uma cultura em comum. A propósito, não poucas vezes o Rio Cricket homenageou datas importantes da Grã-Bretanha. Em 1887, o jubileu da Rainha Vitória foi comemorado em alto estilo, com partidas de críquete e tênis, bem como corridas diversas90 90 O Paiz, Rio de Janeiro, 19 jun. 1887, p. 2. .

Vejamos com um cronista narrou uma situação de uma partida disputada entre equipes do Rio e São Paulo: “uma dúzia de homens esfuziantes e jogando ao ar seus bonés, dando o reconhecido hip-hip-hip-hurranhing dos anglo-saxões, quando estão se confraternizando para beber uma cerveja, junto com outros homens, para brindar sua adorável amizade” 91 91 The Rio News, Rio de Janeiro, 24 set. 1886, p. 3. . O críquete era apresentado como expressão de um estilo de vida de um povo que prezava pelo cavalheirismo e respeito às liberdades individuais. Para os que estavam distantes da Grã-Bretanha, alguns sequer a conheciam, era uma forma de fortalecer sentimentos de pertença.

É verdade que, os cronistas identificavam, nem sempre eram adequadas as condições de jogo (havia constantes problemas com o ground), tampouco a performance dos “atletas” (todos amadores que não tinham muitas ocasiões para praticar). Isso não era mesmo o aspecto central, mas sim a possibilidade de recriar um hábito que, ao ver dos britânicos, os diferenciava.

Percebe-se, portanto, que o Rio Cricket tinha duas dinâmicas de funcionamento. Uma mais restrita, da qual os jogos de críquete são exemplos, frequentada majoritariamente pela colônia britânica. Outra mais aberta, na qual havia maior presença de brasileiros, da qual a melhor expressão eram os sports athleticos (corridas e saltos) e outros eventos que passaram a usar o privilegiado espaço da Rua Paissandu, bem localizado numa região da cidade que crescia e se valorizava.

De novo, resvalamos com a ambiguidade das iniciativas dos anglófonos, o jogo de afastamento e proximidade entre a colônia e os nacionais. Veremos que, no futuro, isso vai mesmo desencadear novos arranjos no Rio Cricket.

Em 1887, o clube teve aprovada pela Câmara Municipal uma licença para a construção de arquibancadas melhor estruturadas, a fim de acolher com mais conforto e segurança o público que comparecia aos eventos promovidos em sua sede92 92 Arquivo Geral do Rio de Janeiro. Notação: 42.3.14. Descrição: Diversões particulares: pedidos de licenças para ranchos de reis, danças dos jardineiros, de índios, batuques e tocatas de pretos e diversos, etc. Datas-limites: 1833-1908. 112 páginas. . Alguns estavam mais de acordo com os princípios do Rio Cricket. Além dos já comentados festivais de sports athleticos, vale citar as atividades do Veloce Club do Rio de Janeiro, primeira agremiação da cidade dedicada ao ciclismo93 93 O Paiz, Rio de Janeiro, 9 nov. 1887, p. 8. (modalidade que eventualmente já vinha sendo inserida na programação das competições organizadas na Rua Paissandu).

Outros eventos eram, contudo, em certa medida, mais esdrúxulos. Em 1888, grandes anúncios informaram que no English cricket ground, em frente ao Palácio Isabel, seriam apresentados os “Fogos Artificiais do Sr. James Pain” 94 94 Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 1 jul. 1888, p. 8. , espetáculo que atraiu grande público. Em função do interesse despertado, várias sessões foram realizadas.

É possível que essa maior popularização tenha sido resultado e/ou motivadora de mudanças na constituição do clube. A estratégia de alugar as instalações para outras agremiações e eventos pode ter ajudado a arcar com os altos custos da sede, mas também incomodado a alguns sócios que desejavam manter uma convivência mais restrita.

Em 1883, a direção chegou a revogar uma autorização que dera para a organização de um evento95 95 Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 21 fev. 1883, p. 3. , decisão reiterada, alguns dias depois, de forma ainda mais explícita: “O Rio Cricket Club nada tem com as corridas anunciadas pelo Club Athlético Anglo-Brasileiro para hoje domingo 4 de março, nem terão elas lugar no terreno daquele Club, à rua Paissandu”96 96 Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 4 mar. 1883, p. 7. .

O evento athletico programado era mesmo diferente dos que o Rio Cricket acolhia até então. Aparentemente, sequer se tratava de uma agremiação propriamente dita, mas sim de uma iniciativa empresarial, destinada a obter lucros, dirigida pelo “fundador, gerente e encarregado de todos os negócios - M. Fleiuss”97 97 Ver O Globo, Rio de Janeiro, 1 fev. 1883, p. 1. . Todavia, há que se reconhecer que a autorização foi concedida em outras ocasiões da mesma maneira estranhas aos princípios do clube.

Outro incômodo para uma parte dos associados foi a existência de apostas em alguns eventos, muito criticadas pelos defendiam o valor atlético em si dos esportes98 98 Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 14 ago. 1884, p. 8. Sobre o valor concedido aos esportes e atividades físicas, ver Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 9 ago. 1897, p. 1. . Além disso, se ajudavam a atrair mais gente e aumentar a emoção, não poucas vezes desencadearam tumultos diversos99 99 MELO, Victor Andrade de. Cidade Sportiva: primórdios do esporte no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Relume Dumará/Faperj, 2001. .

Em mais de uma ocasião, essas tensões, por motivos diversos, chegaram aos periódicos. Uma das mais contundentes foi publicada em inglês no Jornal do Comércio. T. O. Gunton conclamou os britânicos a demonstrarem sua indignação pelo fato de que um clube pretensamente constituído segundo os moldes da Grã-Bretanha estivesse organizando eventos nos domingos, ferindo injunções religiosas. Clamou para que essa decisão fosse revista, afinal, sugeriu, mesmo em terras estrangeiras dever-se-ia ter em conta os padrões culturais da nação de origem100 100 Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 2 set. 1884, p. 4. .

Outros indícios dessas tensões podem ser identificados na assembleia anual de 1889101 101 The Rio News, Rio de Janeiro, 14 jan. 1889, p. 3. . Uma constatação da direção foi a ausência e afastamento de muitos membros antigos, o que causava preocupação. Um comunicado publicado na sequência exultou os sócios, especialmente os jogadores de críquete, a não abandonarem seus compromissos para com a agremiação102 102 The Rio News, Rio de Janeiro, 21 jan. 1889, p. 3. .

Do ponto de vista financeiro, informou-se que se tinha em caixa 612$400. Se considerarmos o valor do aluguel do terreno (os mesmos 90$000 estabelecidos em 1880), o total era menos do que o necessário para pagar sete meses. Os problemas iriam se acentuar. Em 1890, com a proclamação da República, o terreno da Rua Paissandu passou a ser propriedade do Banco da República dos Estados Unidos do Brasil. De pronto, comunicou-se o aumento do aluguel para 200$000.

O cronista do The Rio News demonstrou apreensão com o fato, lembrando que o Rio Cricket já tinha beneficiado muito o terreno103 103 The Rio News, Rio de Janeiro, 8 dez. 1890, p. 4. . Sua preocupação é que se tratasse de uma manifestação de preconceito. Tinha em conta as diversas ações que houve referentes aos estrangeiros que viviam no Brasil no início do período republicano. Deve-se considerar que, embora muitos britânicos estivessem ligados a causas mais liberais, como o abolicionismo, a colônia desfrutava de proximidade com a família imperial, além de sempre louvar seus monarcas, o que a tornava suspeita.

Certamente, esse quadro impactou a colônia no que tangia às suas ambiguidades entreno que tange a maior ou menor aproximação com a sociedade fluminense. Pode ter fortalecido o ponto de vista daqueles que desejavam iniciativas mais restritas aos britânicos. Isso terá impactos claros na organizações das agremiações de críquete.

Há que se também considerar possíveis desdobramentos da política econômica na vida dos associados. A crise do Encilhamento pode ter impulsionado os negócios de muitos britânicos, mas também causado muitos problemas para alguns. De toda forma, era mais um interveniente a impactar o cotidiano do Rio Cricket.

Os primeiros anos pós-república, portanto, por razões internas e contextuais, parecem ter sido marcados para o Rio Cricket por uma intensa crise.

Novos arranjos: britânicos e anglo-brasileiros

Somente em 1892, o clube retomou sua movimentação. Uma mudança imediata foi o fim dos eventos “externos” de corridas e saltos. De um lado, é possível que se trate de uma decisão da nova diretoria, mais disposta a recuperar uma convivência mais restrita. De outro lado, há que se ter em conta que algumas agremiações foram construindo sedes próprias, além de se tornar mais usual utilizar espaços públicos, como o Campo de Santana, para promover festivais esportivos.

No que tange ao críquete, destaca-se o surgimento de mais equipes integradas por membros da colônia não necessariamente associados à agremiação. Exemplos são o “Copacabana and Lagoa” e o “World”104 104 The Rio News, Rio de Janeiro, 3 nov. 1891, p. 4. , definições relacionadas ao lugar de moradia dos jogadores. Já na contenda entre “Niggers” e “Whites”, a primeira era formada pelos que nasceram na América do Sul105 105 The Rio News, Rio de Janeiro, 30 ago. 1892, p. 4. , enquanto a segunda pelos natos na Grã-Bretanha.

O Rio Cricket manteve a posse do terreno da Rua Paissandu, a título de empréstimo. Essa situação incomodava os dirigentes. Mesmo assim, depois de anos sem investimento, a diretoria eleita em 1893 - destacando-se Basil Freeland, H. L. Wheatley e George Cox, resolveu fazer algumas reformas na sede, bem como aumentar a anuidade (para 30$000), mantendo-se a taxa de inscrição (10$000)106 106 The Rio News, Rio de Janeiro, 27 dez. 1892, p. 4. . Tentava-se retomar o bom funcionamento da agremiação, convocando-se antigos sócios e oferecendo-se a possibilidade de novas filiações.

Todavia, novos percalços estavam surgindo. No mesmo ano de 1893, o Club Brazileiro de Cricket - fundado provavelmente no início da década de 1890 -, solicitou também utilizar a sede da Rua Paissandu. Não sendo proprietário do terreno, o Rio Cricket não teve alternativa se não compartilhar o espaço.

Mesmo com indisfarçado desconforto, o cronista do The Rio News sugeriu que seria uma contribuição para o desenvolvimento do gosto pela modalidade entre os fluminenses. De outro lado, demonstrou preocupação e chamou a atenção para que não se permitisse qualquer forma de aposta, costume que, a seu ver, era comum entre os brasileiros107 107 The Rio News, Rio de Janeiro, 14 Mar.1893, p. 5. .

Como já citamos, para os britânicos, a presença de jogos de azar feria o caráter cavalheiresco e os princípios do críquete. Enquanto isso, no Rio de Janeiro ainda eram recentes os debates sobre o tema no âmbito do esporte. Ainda demoraria alguns anos para que as apostas fossem eliminadas da maior parte das modalidades, com exceção do turfe108 108 MELO, Victor Andrade de. Cidade sportiva: primórdios do esporte no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Relume Dumará/Faperj, 2001. . . Choques culturais se anunciavam.

Ao contrário dessa possível tensão, acomodou-se a convivência e a sede da Rua Paissandu tornou-se ainda mais movimentada. Voltaram a ser promovidos eventos de sports athleticos. Uma partida de beisebol foi organizada109 109 The Rio News, Rio de Janeiro, 8 ago.1893, p. 4. , uma iniciativa dos norte-americanos que frequentavam a agremiação110 110 Em outras ocasiões, no decorrer do tempo, os clubes de críquete acolheram jogos da modalidade. Ver, por exemplo, The Rio News, Rio de Janeiro7 jul. 1898, p. 7. . O críquete começaria a florescer como nunca antes.

Ainda em 1893, equipes dos dois clubes que passaram a compartilhar o ground se enfrentaram, com vitória para o Club Brazileiro, integrado, como se pode ver pelos nomes dos jogadores, por brasileiros e britânicos. Apareceu até mesmo uma nova sociedade, o Rio United Cricket Club, fundada por ingleses que viviam em São Cristóvão111 111 The Rio News, Rio de Janeiro17 out.1893, p. 5. . Por toda a cidade, em vários bairros, os membros da colônia parecem ter se mobilizado. É verdade que muitas iniciativas não duraram muito tempo, mas são importantes indícios desse novo momento da modalidade.

Destaca-se a participação de empresas britânicas que, naquele fim de século, numericamente aumentaram na cidade112 112 Para mais informações, ver: LOBO, Eulalia Maria Lahmeyer. História do Rio de Janeiro: do capital comercial ao capital industrial e financeiro. Local/Editor Rio de Janeiro: IBMEC, 1978. . Em 1895, houve uma pioneira disputa entre uma equipe de anglófonos que trabalhavam na Companhia de Fiação e Tecelagem Carioca (localizada no Jardim Botânico/Horto) e outra dos que eram empregados na Companhia Fiação e Tecidos Aliança (situada em Laranjeiras), Companhia de Fiação e Tecelagem Corcovado (Jardim Botânico) e Fábrica de Tecidos São Cristóvão (no bairro de mesmo nome)113 113 The Rio News, Rio de Janeiro, 23 abr. 1895, p. 5. .

No futuro, desses encontros entre britânicos de estratos altos e médios que atuavam em fábricas e brasileiros operários gestar-se-ia uma importante condição para o espraiamento do futebol. Vejamos que, em 1895, também disputou uma partida de críquete uma equipe da Companhia Progresso Industrial de Bangu114 114 The Rio News, Rio de Janeiro, 28 mai. 1895, p. 8. , na qual, cerca de uma década depois, foi fundado o Bangu Athletic Club.

No meio de tantas atividades, sumiu dos jornais, sem que se saiba bem o porquê, o nome do Rio Cricket Club. Em 1895, no Jornal do Comércio ainda se encontra um comunicado em nome dessa agremiação, assinado por George Cox, na condição de secretário, convidando os sócios para uma reunião a ser realizada no Club Laranjeiras115 115 Típica agremiação de “cavalheiros” britânicos, de caráter mais social, fundada em 1885, com sede na Praça Duque de Caxias (atual Largo do Machado), o Club de Laranjeiras promovia bailes e concertos e possuía salas de estar, de bilhar, de esgrima. Algumas reuniões do Rio Cricket Club foram realizadas nessas dependências , tendo como pauta os problemas com a manutenção da sede da Rua Paissandu116 116 Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 14 jul. 1895, p. 2. .

No ano seguinte, nos jornais somente aparece o Club Brazileiro de Cricket, com um quadro de associados integrado por britânicos e brasileiros, dedicado a, como se informou em um periódico, “desenvolver toda sorte de jogos atléticos (...) sem que vise o menor interesse a não ser o desenvolvimento físico dos seus associados, não admitindo a menor espécie de apostas”117 117 Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 29 mai. 1896, p. 4. . Aparentemente, algum ajuste foi feito entre os dois grupos que ocupavam a Rua Paissandu.

Muitos jogadores do antigo Rio Cricket passaram a atuar na equipe do Club Brazileiro de Cricket. A diretoria também era mista. Eram brasileiros, Luiz Leonel de Moura (presidente) e Joaquim Fontoura do Amaral (secretário). Eram britânicos, A. Reeves (tesoureiro), A. C. E. Skey (capitão de críquete) e N. W. Jackson (capitão de tênis) 118 118 Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 29 mai. 1896, p. 4. .

Em 1897, percebemos que os antigos sócios do Rio Cricket Club não ficaram parados. Mesmo que a convivência no Club Brazileiro não fosse conflituosa, um grupo de lideranças da colônia, depois de procurar um terreno adequado no Rio de Janeiro, com apoio de empresas britânicas, em Niterói fundou o Rio Cricket and Athletic Association119 119 IORIO, Vitor; IORIO, Patrícia. Rio Cricket e Associação Atlética: mais de um século de paixão pelo esporte. Rio de Janeiro: Arte Ensaio, 2008. . Um anúncio convocara os interessados “em críquete e atletismo” para eleger a primeira direção e discutir as normas da agremiação120 120 The Rio News, Rio de Janeiro, 14 dez. 1897, p. 4. . Estiveram presentes trinta e duas pessoas, apenas dois brasileiros (Francisco de Sampaio e Augusto Amaral)121 121 The Rio News, Rio de Janeiro, 21 dez. 1897, p. 4. .

Entre os fundadores encontravam-se três diretores do Club das Laranjeiras (George Cox, H. L. Wheatley, H. W. Tacey). Era mesmo forte o envolvimento dos britânicos com aquela região. O cronista do The Rio News procurou, inclusive, desfazer a ideia de que era distante a sede do Rio Cricket and Athletic, informando que se localizava próxima à estação das barcas. Além disso, exaltou a propriedade do espaço, “tão conveniente como nunca”122 122 The Rio News, Rio de Janeiro, 30 nov. 1897, p. 6. . Havia, a propósito, um bom número de anglófonos vivendo em Niterói, cidade que já apresentava melhores condições de urbanidade123 123 BEZERRA, Maria Cristina Caminha. Britânicos e alemães em Niterói: um estudo de imigração urbana. 2015. 350f. Tese (Doutorado em História). Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História, Niterói, 2015. .

Um dos motivos alegados para a criação do novo clube foi a instabilidade no que tangia à posse da sede da Rua Paissandu124 124 IORIO, Vitor; IORIO, Patrícia. Op. Cit. . Não se deve, contudo, negar a possibilidade de os britânicos desejarem ter de novo uma agremiação mais exclusiva. Sem desprezar o Club Brazileiro, que chegou a ter sua importância reconhecida125 125 The Rio News, Rio de Janeiro, 16 nov. 1897, p. 6. , era claro o intuito de se reunirem num club com um modus operandi mais de acordo com suas tradições.

Esse, aliás, foi o tom da matéria do The Rio News sobre a cerimônia de inauguração da sede do Rio Cricket, realizada em 1898, um evento tipicamente britânico, conduzido por dois importantes personagens da colônia, George Cox e sua esposa Minervina (curiosamente, lembremos, ele equatoriano e ela brasileira de nascença).

Para o cronista, tratava-se de um espaço representativo da cultura anglo-saxã, adequado para atender uma necessidade da colônia, a possibilidade de praticar “os jogos que têm dado ossos, músculos e força, cérebro e saúde e hábitos comedidos para os súditos da Rainha em cada pedaço do planeta”126 126 The Rio News, Rio de Janeiro, 14 jun. 1898, p. 5. .

A sede possuía 98.340 metros quadrados, bem maior do que o espaço da Rua Paissandu. O terreno foi beneficiado pelo trabalho liderado pelo engenheiro Philippe Carpenter, ao custo total de 75 contos de réis127 127 Jornal do Comercio, Rio de Janeiro, 21 jun. 1898, p. 2. . Mesmo modestas, as instalações foram consideradas adequadas ao bom convívio e à prática de esportes, tais como o críquete, o tênis, o atletismo e o futebol128 128 A prática precoce do futebol no Rio Cricket and Athletic Association ainda no século XIX já chamou a atenção de: MELO, Victor Andrade de. Evidência e especulação: a “origem” do futebol no Rio de Janeiro (1898-1902). Porto Alegre: Movimento, 2017. No prelo. .

Em Niterói, o Rio Cricket and Athletic usava também as chácaras de algumas companhias britânicas, entre as quais as das que tinham colaborado com a aquisição da nova sede e a utilizariam para alguns de seus eventos (como a Leopoldina Railway, London and Brazilian Bank, Western Telegraph)129 129 IORIO, Vitor; IORIO, Patrícia. Op. Cit. . Da mesma forma, estabeleceu uma parceria com o Club Internacional, instalado nas redondezas de sua sede, fundado em 1899, agremiação de caráter mais social, promotora de bailes e concertos. Além disso, mantinha relações com o Club de Laranjeiras, até mesmo pelo fato de terem em comum o mesmo presidente, George Cox130 130 Para uma notícia interessante sobre essa relação, ver The Rio News, Rio de Janeiro, 9 jul. 1901, p. 5. .

Para o cronista do The Rio News, britânicos e norte-americanos acolheram com entusiasmo o novo clube131 131 The Rio News, Rio de Janeiro, 16 ago. 1898, p. 5. . No seu olhar, nos dias de eventos, nas barcas para Niterói só se ouvia o inglês dos que em grande número prestigiavam os esportes. Não poucas vezes, havia também algumas famílias brasileiras entre os presentes. Era bem clara a representação construída. Os anglófonos desejam um espaço para celebrar suas tradições culturais, aquilo que com orgulho passava de pai para filho, mas de forma alguma desejavam se afastar totalmente dos outros grupos citadinos. Se soubessem bem aproveitar (e respeitar) o seu ethos, nacionais e outros estrangeiros eram bem-vindos.

O sucesso do Rio Cricket provava que eram infundados os temores de que a criação de um novo clube fosse dividir a colônia, inclusive em função de possíveis rivalidades132 132 The Rio News, Rio de Janeiro, 19 jul. 1898, p. 5. . Ao revés, se estabeleceram boas relações entre as agremiações, até mesmo porque muitos eram os que se associavam a ambas (um número significativo, inclusive, permaneceu somente na agremiação do Rio de Janeiro). Quando se enfrentavam as equipes de críquete, precisavam mesmo de uma reunião anterior para decidir a formação, já que alguns jogadores atuavam nas duas.

Abriram-se mais oportunidades para potenciais praticantes, gente que se sentiu estimulada pela nova ambiência. Chegou a ser formada uma “seleção” com cricketeres dos dois clubes para representar o Rio de Janeiro em jogos realizados contra um combinado de Santos e São Paulo133 133 Ver The Rio News, Rio de Janeiro, 23 ago. 1898, p. 5. . Marcada por grande festa e celebração, essa foi considerada por alguns como uma das mais importantes ocasiões do críquete nacional até então134 134 Ver The Rio News, Rio de Janeiro, 13 set. 1898, p. 5. .

Em 1899, uma mudança ocorreu no âmbito do Club Brazileiro de Cricket, àquela altura já com menos associados do que sua irmã de Niterói135 135 The Rio News, Rio de Janeiro, 3 jan. 1899, p. 7. . A agremiação do Rio de Janeiro seguia enfrentando problemas financeiros, até mesmo porque de novo fora retirada a gratuidade do uso da sede da Rua Paissandu; o aluguel mensal passou a custar 150$000136 136 The Brazilian Review, Rio de Janeiro, 3 jan. 1899, p. 3. .

A situação era preocupante. O Club Brazileiro declarava ter em caixa 255$670, uma dívida de 154$000 e a necessidade de investir 2:000$000 em material137 137 The Brazilian Review, Rio de Janeiro, 3 jan. 1899, p. 3. . Enquanto isso, o Rio Cricket and Athletic publicou um detalhado orçamento, onde constavam todos os investimentos realizados, ao final ainda sobrando 690$430138 138 The Rio News, Rio de Janeiro, 7 mar. 1899, p. 7. .

Esses problemas talvez estejam na raiz da mudança do nome do Club Brazileiro. Passou a se chamar Paysandú Cricket Club. Uma boa parte da direção e do quadro de sócios permaneceu a mesma139 139 The Rio News, Rio de Janeiro, 21 mar. 1899, p. 7. . O que nos parece é que não houve quebra da continuidade das ações.

A despeito das dificuldades enfrentadas pela agremiação do Rio de Janeiro, os dois clubes de críquete integraram ativamente a movimentada vida esportiva da capital, num momento em que havia constantes regatas, eventos de natação, páreos de corridas a pé e de bicicleta, frontões de jogo da pelota e boliche, provas turfísticas, funções tauromáquicas140 140 MELO, Victor Andrade de. O corpo esportivo nas searas tupiniquins – panorama histórico. In: DEL PRIORE, Mary; AMANTINO, Marcia (orgs). História do corpo no Brasil. São Paulo: Editora Unesp, 2011. p. 507-530. .

As partidas de críquete se mostravam melhor organizadas (inclusive previstas em calendários anuais) e animadas. Para além de diversas equipes que se mantinham atuantes, havia o incentivo da rivalidade que se gestou entre o Rio Cricket and Athletic e o Paysandú, nos quais o interesse pelo esporte dos tacos suplantava o pelo tênis, atletismo e outros esportes, como o beisebol141 141 Sobre esse esporte, ver, por exemplo, The Rio News, Rio de Janeiro, 4 jul. 1899, p. .

Foi criado até mesmo um novo ground em Copacabana142 142 The Rio News, Rio de Janeiro, 19 jul. 1898, p. 5. , aproveitando que o acesso àquele bairro se tornara melhor desde 1892, quando a Companhia do Jardim Botânico concluiu um túnel até a Rua Barroso (atual Siqueira Campos). Com a chegada do bonde, paulatinamente a região passou a ser mais habitada, urbanizada, valorizada.

Lembremos que havia ingleses por lá morando desde o segundo quartel do século XIX, funcionários da empresa de cabos submarinos de telégrafo criada por Mauá. No início da centúria seguinte, a colônia britânica ocupou ainda mais a região. Na Zona Sul, no futuro criariam algumas agremiações143 143 A The Rio de Janeiro Athletic Association, fundada, em 1914, em São Cristóvão, ligada à Companhia Carris, Luz e Força – em 1927 foi instalada no Leme. A partir de 1944, ampliou-se o quadro de associados e passou a se chamar Leme Tênis Clube, que existe até hoje no mesmo local. Devemos lembrar ainda do The Rio de Janeiro Country Club, criado em 1916, no Leblon, e do Gávea Golf & Country Club, a princípio chamado de Rio de Janeiro Golf Club, fundado em 1921. .

O críquete jamais alcançou o mesmo patamar de popularidade de outras modalidades. A experiência do Rio Cricket and Athletic dá a impressão de que tampouco isso era desejado pelos seus protagonistas, mais interessados em manter os seus arranjos mais tradicionais. Uma vez mais nos defrontamos com a tão citada ambiguidade dos britânicos: manter-se fechado em clubes exclusivos ou abrir para os brasileiros?

De toda forma, o que se percebe nesse momento é uma estabilidade da modalidade, pari passu com a dos clubes de críquete, que administraram bem suas rivalidades e sempre mantiveram clima de amistosidade. A colônia, enfim, seguia unida, em maior ou menor grau mantendo alguma relação com os brasileiros.

Conclusão

Não era barato manter as sedes dos clubes de críquete, tampouco o eram os materiais esportivos necessários para a prática. No caso do Paysandu, havia ainda o problema da propriedade do terreno. Mesmo com dificuldades, com aportes de membros da colônia britânica (e brasileiros associados) - anuidades, doações ou empréstimos - as agremiações foram se consolidando. Ambas existem até os dias de hoje. A de Niterói, no mesmo lugar, com o nome de Rio Cricket e Associação Atlética. A do Rio de Janeiro, renomeada para Paissandu Atlético Clube, com sede na Lagoa, depois de passar por outros bairros144 144 IORIO, Vitor; IORIO, Patrícia. Paissandu Atlético Clube: pioneiro do esporte no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: PAC, 2001. .

Na transição dos séculos XIX e XX, se estabilizou a prática do críquete. Os calendários eram cumpridos com jogos nos quais tomavam parte as duas agremiações, times formados em empresas (fábricas, bancos, de telégrafo, ferroviárias) ou diversos grupos de gente da colônia britânica. Partidas eram disputadas com clubes de Minas Gerais e São Paulo, no Rio de Janeiro ou nas províncias. Eventualmente se jogava com equipes de embarcações ou delegações diversas da Grã-Bretanha. Para além disso, de forma mais modesta, havia contendas de tênis, beisebol, atletismo e futebol.

Nessas ocasiões, como sempre ocorreu na trajetória de diversos clubes ligados aos britânicos, celebravam-se as tradições culturais da Grã-Bretanha, entre as quais as esportivas. A maior parte dos interessados era de anglófonos, mas brasileiros eram bem-vindos, segundo os parâmetros estabelecidos por um modo específico de estruturar as agremiações, que sempre foram uma alternativa para a colônia fortalecer seus laços.

As diversas conformações dos clubes de críquete são expressões das estratégias de sociabilidade britânica, das diversas formas que encontraram para se estabelecer na sociedade fluminense. Uma nova fase se inauguraria em 1901, quando melhor se organizaram as atividades daquele que no futuro seria o esporte-rei brasileiro - o futebol.

O fato de, no Rio de Janeiro, a modalidade ter surgido no Rio Cricket and Athletic e no Paysandú Cricket é mais um indicador das relações anglo-brasileiras que se consolidaram no decorrer do século XIX, dos contatos que houve entre anglófonos e nacionais em um momento em que se forjava o Brasil enquanto nação, dos trânsitos culturais que ocorreram.

No meio das ambiguidades típicas das agremiações de britânicos, fortalecidas por haver membros da colônia no Brasil nascidos, possibilitaram-se encontros que foram importantes na formação da cultura brasileira pela difusão de diferentes hábitos e costumes, entre os quais a prática esportiva.

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  • *
    A investigação que deu origem a este artigo contou com apoio do CNPq (bolsa de produtividade em pesquisa), da Faperj (Programa Cientista de Nosso Estado) e do Ministério do Esporte (Programa Rede Cedes).
  • 1
    MELO, Victor Andrade de. Antes do club: as primeiras experiências esportivas na capital do Império (1825-1851). Projeto História, São Paulo, v. 49, p. 197-236, abr. 2014.
  • 2
    MELO, Victor Andrade de. O sport em transição: Rio de Janeiro, 1851-1868. Movimento, Porto Alegre, v. 21, n. 2, p. 363-376, 2015; MELO, Victor Andrade de. Entre a elite e o povo: o sport no Rio de Janeiro do século XIX (1851–1857). Tempo, Niterói, v. 20, n. 37, p. 1-22, 2015.
  • 3
    Para mais informações, ver: GRAHAM, Richard. Grã-Bretanha e o início da modernização no Brasil. 1850-1914. São Paulo: Brasiliense, 1973; FREYRE, Gilberto. Ingleses no Brasil. 2ª edição. Rio de Janeiro: José Olympio/MEC, 1977; NORTON, Luís. A corte de Portugal no Brasil. 3ª edição. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008; RICUPERO, Rubens. O Brasil no mundo. In: SILVA, Alberto da Costa (coord.). História do Brasil Nação (1808-2010) – volume 1 – Crise colonial e independência (1808-1830). Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. p. 115-160; BETHELL, Leslie. O Brasil no mundo. In: CARVALHO, José Murilo (coord.). História do Brasil Nação (1808-2010) – Vol. 2 – A construção nacional (1830-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. p. 131-178. Ver também: GUENTHER, Louise H. British merchants in nineteenth-century Brazil: business, culture, and identity in Bahia, 1808-50. New York, Oxford University Press, 2004.
  • 4
    Neste artigo, denominaremos de colônia britânica e britânicos não somente os que, vivendo no Brasil, nasceram na Grã-Bretanha, mas todos que possuíam laços com essa nação, inclusive os descendentes natos em nosso ou outros países.
  • 5
    Para mais informações sobre o esporte na Grã-Bretanha, ver: MANGAN, James A. Athleticism in the Victorian and Edwardian public school. Cambridge: University Press, 1981; MANGAN, James A. The games ethic and imperialism: aspects of the diffusion of an ideal. New York: Viking, 1986; HOLT, Richard. Sport and the British: a modern history. New York: Oxford University Press, 1989. Ver também: BURKE, Peter; PALLARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia. Os ingleses. São Paulo: Contexto, 2016.
  • 6
    QUEIRÓS, Eça de. As Cartas de Inglaterra, Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 24 out. 1882, p. 1. , crônicas escritas por Eça de Queirós quando atuava no serviço diplomático português em Londres, foram publicadas na seção Folhetim do periódico brasileiro.
  • 7
    ARAUJO NETO, Miguel Alexandre de. Great Britain, the Paraguayan War and free immigration in Brazil, 1862-1875. In: Irish Migration Studies in Latin America, Bakersfield, v. 4, n. 3, July 2006.
  • 8
    Para mais informações sobre Scully, ver: <http://www.irlandeses.org/dilab_scullyw.htm>. Acesso em: 24 mar. 2016.
  • 9
    ROCHA, Antonio Penalves. The Rio News de A. J. Lamoureux: um jornal abolicionista carioca de um norte-americano. Projeto História, São Paulo, n. 35, p. 141-159, dez. 2007.
  • 10
    Embora houvesse diferenças entre os britânicos e norte-americanos, em várias ocasiões compartilharam iniciativas. Para mais informações, ver: JEHA, Silvana Cassab. Anphitheatrical Rio! Marítimos americanos na baía do Rio de Janeiro – século XIX. Almanack, Guarulhos, n. 6, p. 110-132, 2013.
  • 11
    The Rio News, Rio de Janeiro, 28 mai. 1901, p. 5.
  • 12
    The Brazilian Review, Rio de Janeiro, 19 fev. 1901, p. 135.
  • 13
    Sobre o The Brazilian Review, ver: SOUZA, Emily Oliveira de; SILVA, Elder Leandro da; TESSARI, Cláudia Alessandra. Investimento estrangeiro no Brasil e a informação econômica: uma análise do The Brazilian Review. A weekly record of trade and finance (1898-1914). In: ABPHE. Anais da 6a Conferência Internacional de História Econômica & VIII Encontro de Pós Graduação em História Econômica. São Paulo: USP, 2016. Disponível em: <http://www.abphe.org.br/uploads/Textos%20Encontro%20P%C3%B3s%20ABPHE%202016/Emily_Souza.pdf>. Acesso em: 19 mar. 2017.
  • 14
    HAMOND, Graham Eden. Os diários do Almirante Graham Eden Hamond. Rio de Janeiro: Editora JB, 1984. p. 131.
  • 15
    Ibidem, p. 170.
  • 16
    A contratação desses irlandeses gerou polêmicas e tensões na cidade. Para mais informações, ver: POZO, Gilmar de Paiva dos Santos. Imigrantes irlandeses no Rio de Janeiro: cotidiano e revolta no Primeiro Reinado. 2010. 189f. Dissertação (Mestrado em História Social). Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Departamento de História, São Paulo, 2010.
  • 17
    MELO, Victor Andrade de. “Pois temos touros?”: as touradas no Rio de Janeiro do século XIX (1840-1852). Análise Social, Lisboa, v. 50, n. 2, p. 382-404, 2015.
  • 18
    Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 12 jun. 1853, p. 3.
  • 19
    Vista dos fundos do Instituto de Nova Friburgo, 1843. Litografia da oficina Ludwig & Briggs. Disponível em: <http://historiadefriburgo.blogspot.com.br/2010/05/o-colegio-freese-formacao-da-elite.html>. Acesso em: 14 abr. 2016.
  • 20
    No decorrer do século, em algumas ocasiões, sempre com inspiração no que ocorria na Inglaterra, se aventou a contribuição do críquete para a educação física. Ver, por exemplo, Jornal do Comércio,Rio de Janeiro, 30 jan. 1879, p. 1.
  • 21
    Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 14 ago. 1854, p. 2.
  • 22
    Para mais informações sobre essa instituição, ver: SCHAPOCHNIK, Nelson. Uma biblioteca desaparecida: the Rio de Janeiro British Subscription Library. In: ABREU, Márcia (org.). Trajetórias do romance: circulação, leitura e escrita nos séculos XVIII e XIX. São Paulo: Mercado Letras, 2005.
  • 23
    FONSECA, Vitor Manoel Marques da. No gozo dos direitos civis: associativismo no Rio de Janeiro, 1903-1916. Niterói: Muiraquitã, 2008.
  • 24
    MELO, Victor Andrade de; PERES, Fabio de Faria. A gymnastica no tempo do Império. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2014. p. 96.
  • 25
    MELO, Victor Andrade de; PERES, Fabio de Faria. Loc. Cit.
  • 26
    Freyre aborda esse tema em algumas passagens. Ver: FREYRE, Gilberto. Op. Cit.
  • 27
    Para mais informações, ver: SOARES, Luiz Carlos. A Albion revisitada. Rio de Janeiro: 7 Letras/Faperj, 2007.
  • 28
    FONSECA, Vitor Manoel Marques da. Op. Cit.
  • 29
    Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 16 mai. 1855, p. 2.
  • 30
    MELO, Victor Andrade de. O sport em transição. Op. Cit.
  • 31
    Ver, por exemplo, Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 22 mai. 1856, p. 2.
  • 32
    The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 24 mar. 1865, p. 1.
  • 33
    The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro,24 mai. 1865, p. 4.
  • 34
    SEGAWA, Hugo. Ao amor do público: jardins no Brasil. São Paulo: Studio Nobel/Fapesp, 1996. p. 159.
  • 35
    Também é chamado de ground o campo onde o críquete é jogado, um gramado em geral oval ou poligonal com muitos lados.
  • 36
    MASCARENHAS, Gilmar. Construindo a cidade moderna: a introdução dos esportes na vida urbana do Rio de Janeiro. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 13, n. 23, p. 17-39, 1999.
  • 37
    Os outros marinheiros não tinham tanta liberdade, e quando vinham à terra não poucas vezes se envolviam em ruidosas confusões. Ver: JEHA, Silvana Cassab. Op. Cit.
  • 38
    PAULA, João Antônio de. O processo econômico. In: CARVALHO, José Murilo (coord.). História do Brasil Nação (1808-2010) – volume 2 – A construção nacional (1830-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. p. 179-224; CASTRO, Ana Célia. As empresas estrangeiras no Brasil: 1860-1913. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
  • 39
    The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 24 set. 1865, p. 2.
  • 40
    Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 15 ago. 1868, p. 2.
  • 41
    Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 15 ago. 1868, p. 2.
  • 42
    The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 8 jul. 1868, p. 3.
  • 43
    The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 23 dez. 1868, p. 2.
  • 44
    The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 23 dez. 1868, p. 3.
  • 45
    Um exemplo se observa em julho de 1865, quando se promoveu um jogo entre o British Club e uma equipe composta por jogadores de várias origens não ligados a nenhuma agremiação (The Anglo-Brazilian Times, 8 jul. 1865, p. 4).
  • 46
    The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 24 ago. 1865, p. 3.
  • 47
    Para mais informações, ver: GRAHAM, Richard. Os fundamentos da ruptura de relações diplomáticas entre o Brasil e a Grã-Bretanha em 1863: a “Questão Christie”. Revista de História, São Paulo, v. 24, n. 49 e 50, p. 117-137 e p. 379-400, 1962. Ver também: SINÈSIO, Daniel Jacuá. A Questão Christie e a atuação do secretário João Batista Calógeras (1862-1865). 2013. 146f. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História, Niterói, 2013.
  • 48
    Esse assunto foi discutido em: MELO, Victor Andrade de; KARLS, Thaina Schwan. Novas dinâmicas de lazer: as fábricas de cerveja no Rio de Janeiro do século XIX (1856-1884). Movimento, Porto Alegre, 2017. No prelo.
  • 49
    Além do seu envolvimento notável com agremiações de críquete, Cox foi presidente do City Club, do Club das Laranjeiras, donatário do Hospital dos Estrangeiros e da British Church. Um relato da admiração que havia ao seu redor pode ser visto em The Rio News, Rio de Janeiro, 21 mar. 1899, p. 7 e The Rio News, 26 set. 1899, p. 7.
  • 50
    The Rio News, Rio de Janeiro, 6 set. 1898, p. 3.
  • 51
    Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 8 abr. 1872, p. 2.
  • 52
    Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 11 jul. 1872, p. 4.
  • 53
    Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 12 jul. 1872, p. 4.
  • 54
    Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 11 ago. 1872, p. 3.
  • 55
    De fato, os britânicos nunca foram o maior grupamento de estrangeiros estabelecidos no Rio de Janeiro. No censo de 1872, identifica-se que eram superados pelos portugueses, franceses, italianos, espanhóis e alemães.
  • 56
    O Globo, Rio de Janeiro, 4 jun. 1875, p. 3.
  • 57
    A implantação da ferrovia ligando Rio de Janeiro e São Paulo certamente facilitou tais encontros.
  • 58
    O Globo, Rio de Janeiro, 5 jun. 1875, p. 3.
  • 59
    Ver, por exemplo, The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 23 jul. 1878, p. 4.
  • 60
    Ver, por exemplo, Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 9 jul. 1878, p. 3.
  • 61
    Em 1888, de fato, houve uma viagem para disputar partidas em Montevidéu, Rosário e Buenos Aires, visita retribuída por uma equipe de argentinos em 1890.
  • 62
    Estratégias semelhantes foram também utilizadas pelas equipes de São Paulo e Campinas (posteriormente também de Santos). Já em Salvador e Recife, onde havia núcleos de britânicos praticando o críquete, não era tão possível em função da distância, sendo as partidas realizadas mais esporadicamente. Para mais informações, ver: MELO, Victor Andrade de. Para inglês ver? Os clubes de cricket e a sociabilidade britânica em Recife (1865-1906). Territórios e Fronteiras, Dourados, 2017. No prelo.
  • 63
    The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 9 jan. 1880, p. 2.
  • 64
    Na ocasião, a Rua Guanabara se encerrava no Morro do Mundo Novo, numa área de pedreira. A sede do Rio Cricket ficava colada a esse obstáculo natural que futuramente seria cortado para ligar Laranjeiras a Botafogo pela Rua Farani.
  • 65
    A título de comparação, esse era o valor da assinatura anual do The Anglo-Brazilian Times.
  • 66
    The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 9 jan. 1880, p. 2.
  • 67
    O Rio Cricket, por sua vez, em diversas ocasiões se reuniu na sede do British and American Club. Ver, por exemplo, Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 9 dez. 1874, p. 3.
  • 68
    Ver, por exemplo, The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 23 mai. 1878, p. 3.
  • 69
    The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 8 jul. 1878, p. 3.
  • 70
    Foi também presidente da British Subscription Library.
  • 71
    Sobre os bondes fluminenses e a família Cochrane, ver: VON DER WEID, Elisabeth. O bonde como elemento de expansão urbana no Rio de Janeiro. Siglo XIX, Cidade do México, n. 16, p. 78-103, 1994. Disponível em: <http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/o-z/FCRB_ElisabethvonderWeid_Bonde_elemento_expansao_RiodeJaneiro.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2017.
  • 72
    Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 22 mai. 1881, p. 4.
  • 73
    The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 15 out. 1880, p. 4.
  • 74
    Para um olhar sobre o aumento da participação de brasileiros nos sports athleticos, ver The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 9 jul. 1881, p. 2.
  • 75
    MELO, Victor Andrade de; PERES, Fabio de Faria. Op. Cit.
  • 76
    Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 31 ago. 1884, p. 4.
  • 77
    Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 24 mai. 1885, p. 4.
  • 78
    Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 4 jul. 1890, p. 1.
  • 79
    The Rio News, Rio de Janeiro, 7 jul. 1890, p. 4.
  • 80
    Ver, por exemplo, The Rio News, Rio de Janeiro, 5 ago. 1885, p. 5.
  • 81
    Ver, por exemplo, The Rio News, Rio de Janeiro, 5 jul. 1885, p. 4.
  • 82
    The Anglo-Brazilian Times, Rio de Janeiro, 15 set. 1880, p. 4.
  • 83
    MELO, Victor Andrade de. Mulheres em movimento: a presença feminina nos primórdios do esporte na cidade do Rio de Janeiro (século XIX-primeira década do século XX). Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 27, n. 54, p. 127-152, jul.-dez. 2007.
  • 84
    Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 16 ago. 1882, p. 1.
  • 85
    The Rio News, Rio de Janeiro, 1 mai. 1900, p. 8; The Rio News, 13 nov. 1900, p. 5.
  • 86
    Brazil, Rio de Janeiro, 26 jun. 1884, p. 2.
  • 87
    Era um jornal dedicado à moda e aos bons costumes – preconizador de modernização da sociedade fluminense, dirigido ao público feminino. Para mais informações sobre o periódico, ver: CRESTANI, J. L. O perfil editorial da revista A Estação: jornal ilustrado para a família. Revista da ANPOLL, Brasília, v. 25, p. 323-353, 2008.
  • 88
    A Estação, Rio de Janeiro, 30 jun. 1888, p. 136.
  • 89
    A Estação, Rio de Janeiro, 30 jun. 1888, p. 136.
  • 90
    O Paiz, Rio de Janeiro, 19 jun. 1887, p. 2.
  • 91
    The Rio News, Rio de Janeiro, 24 set. 1886, p. 3.
  • 92
    Arquivo Geral do Rio de Janeiro. Notação: 42.3.14. Descrição: Diversões particulares: pedidos de licenças para ranchos de reis, danças dos jardineiros, de índios, batuques e tocatas de pretos e diversos, etc. Datas-limites: 1833-1908. 112 páginas.
  • 93
    O Paiz, Rio de Janeiro, 9 nov. 1887, p. 8.
  • 94
    Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 1 jul. 1888, p. 8.
  • 95
    Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 21 fev. 1883, p. 3.
  • 96
    Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 4 mar. 1883, p. 7.
  • 97
    Ver O Globo, Rio de Janeiro, 1 fev. 1883, p. 1.
  • 98
    Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 14 ago. 1884, p. 8. Sobre o valor concedido aos esportes e atividades físicas, ver Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 9 ago. 1897, p. 1.
  • 99
    MELO, Victor Andrade de. Cidade Sportiva: primórdios do esporte no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Relume Dumará/Faperj, 2001.
  • 100
    Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 2 set. 1884, p. 4.
  • 101
    The Rio News, Rio de Janeiro, 14 jan. 1889, p. 3.
  • 102
    The Rio News, Rio de Janeiro, 21 jan. 1889, p. 3.
  • 103
    The Rio News, Rio de Janeiro, 8 dez. 1890, p. 4.
  • 104
    The Rio News, Rio de Janeiro, 3 nov. 1891, p. 4.
  • 105
    The Rio News, Rio de Janeiro, 30 ago. 1892, p. 4.
  • 106
    The Rio News, Rio de Janeiro, 27 dez. 1892, p. 4.
  • 107
    The Rio News, Rio de Janeiro, 14 Mar.1893, p. 5.
  • 108
    MELO, Victor Andrade de. Cidade sportiva: primórdios do esporte no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Relume Dumará/Faperj, 2001. .
  • 109
    The Rio News, Rio de Janeiro, 8 ago.1893, p. 4.
  • 110
    Em outras ocasiões, no decorrer do tempo, os clubes de críquete acolheram jogos da modalidade. Ver, por exemplo, The Rio News, Rio de Janeiro7 jul. 1898, p. 7.
  • 111
    The Rio News, Rio de Janeiro17 out.1893, p. 5.
  • 112
    Para mais informações, ver: LOBO, Eulalia Maria Lahmeyer. História do Rio de Janeiro: do capital comercial ao capital industrial e financeiro. Local/Editor Rio de Janeiro: IBMEC, 1978.
  • 113
    The Rio News, Rio de Janeiro, 23 abr. 1895, p. 5.
  • 114
    The Rio News, Rio de Janeiro, 28 mai. 1895, p. 8.
  • 115
    Típica agremiação de “cavalheiros” britânicos, de caráter mais social, fundada em 1885, com sede na Praça Duque de Caxias (atual Largo do Machado), o Club de Laranjeiras promovia bailes e concertos e possuía salas de estar, de bilhar, de esgrima. Algumas reuniões do Rio Cricket Club foram realizadas nessas dependências
  • 116
    Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 14 jul. 1895, p. 2.
  • 117
    Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 29 mai. 1896, p. 4.
  • 118
    Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 29 mai. 1896, p. 4.
  • 119
    IORIO, Vitor; IORIO, Patrícia. Rio Cricket e Associação Atlética: mais de um século de paixão pelo esporte. Rio de Janeiro: Arte Ensaio, 2008.
  • 120
    The Rio News, Rio de Janeiro, 14 dez. 1897, p. 4.
  • 121
    The Rio News, Rio de Janeiro, 21 dez. 1897, p. 4.
  • 122
    The Rio News, Rio de Janeiro, 30 nov. 1897, p. 6.
  • 123
    BEZERRA, Maria Cristina Caminha. Britânicos e alemães em Niterói: um estudo de imigração urbana. 2015. 350f. Tese (Doutorado em História). Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História, Niterói, 2015.
  • 124
    IORIO, Vitor; IORIO, Patrícia. Op. Cit.
  • 125
    The Rio News, Rio de Janeiro, 16 nov. 1897, p. 6.
  • 126
    The Rio News, Rio de Janeiro, 14 jun. 1898, p. 5.
  • 127
    Jornal do Comercio, Rio de Janeiro, 21 jun. 1898, p. 2.
  • 128
    A prática precoce do futebol no Rio Cricket and Athletic Association ainda no século XIX já chamou a atenção de: MELO, Victor Andrade de. Evidência e especulação: a “origem” do futebol no Rio de Janeiro (1898-1902). Porto Alegre: Movimento, 2017. No prelo.
  • 129
    IORIO, Vitor; IORIO, Patrícia. Op. Cit.
  • 130
    Para uma notícia interessante sobre essa relação, ver The Rio News, Rio de Janeiro, 9 jul. 1901, p. 5.
  • 131
    The Rio News, Rio de Janeiro, 16 ago. 1898, p. 5.
  • 132
    The Rio News, Rio de Janeiro, 19 jul. 1898, p. 5.
  • 133
    Ver The Rio News, Rio de Janeiro, 23 ago. 1898, p. 5.
  • 134
    Ver The Rio News, Rio de Janeiro, 13 set. 1898, p. 5.
  • 135
    The Rio News, Rio de Janeiro, 3 jan. 1899, p. 7.
  • 136
    The Brazilian Review, Rio de Janeiro, 3 jan. 1899, p. 3.
  • 137
    The Brazilian Review, Rio de Janeiro, 3 jan. 1899, p. 3.
  • 138
    The Rio News, Rio de Janeiro, 7 mar. 1899, p. 7.
  • 139
    The Rio News, Rio de Janeiro, 21 mar. 1899, p. 7.
  • 140
    MELO, Victor Andrade de. O corpo esportivo nas searas tupiniquins – panorama histórico. In: DEL PRIORE, Mary; AMANTINO, Marcia (orgs). História do corpo no Brasil. São Paulo: Editora Unesp, 2011. p. 507-530.
  • 141
    Sobre esse esporte, ver, por exemplo, The Rio News, Rio de Janeiro, 4 jul. 1899, p.
  • 142
    The Rio News, Rio de Janeiro, 19 jul. 1898, p. 5.
  • 143
    A The Rio de Janeiro Athletic Association, fundada, em 1914, em São Cristóvão, ligada à Companhia Carris, Luz e Força – em 1927 foi instalada no Leme. A partir de 1944, ampliou-se o quadro de associados e passou a se chamar Leme Tênis Clube, que existe até hoje no mesmo local. Devemos lembrar ainda do The Rio de Janeiro Country Club, criado em 1916, no Leblon, e do Gávea Golf & Country Club, a princípio chamado de Rio de Janeiro Golf Club, fundado em 1921.
  • 144
    IORIO, Vitor; IORIO, Patrícia. Paissandu Atlético Clube: pioneiro do esporte no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: PAC, 2001.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Ago 2017

Histórico

  • Recebido
    19 Abr 2016
  • Aceito
    13 Mar 2017
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