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ILUMINISMO E NARRATIVA HUMANITÁRIA NA OBRA BOSQUEXO DEL EN ESCLAVOS Y REFLEXIONES SOBRE ESTE TRÁFICO CONSIDERADO MORAL, POLÍTICA E CRISTIANAMENTE (1814) DE JOSÉ MARIA BLANCO

ENLIGHTENMENT AND HUMANITARIAN NARRATIVE IN THE WORK BOSQUEXO DEL EN ESCLAVOS Y REFLEXIONES SOBRE ESTE TRÁFICO CONSIDERADO MORAL, POLÍTICA E CRISTIANAMENTE (1814) BY JOSÉ MARIA BLANCO

RESUMO

O presente artigo3 3 Desdobramento dos resultados de pesquisa desenvolvida na Universidade de Granada, com o apoio do Programa de Mobilidade de professores brasileiros na Espanha da Fundación Carolina. propõe-se a demonstrar como o intelectual espanhol José Maria Blanco y Crespo (1775 - 1841) utilizou no seu libelo abolicionista acima citado uma técnica literária, conhecida como narrativa humanitária, derivada do ideário filantrópico iluminista, para sensibilizar os leitores contra o tráfico de escravos, com a intenção de despertar neles a compaixão pelos africanos transformados em mercadorias pelos agentes deste tipo de comércio. Desse modo, será defendido o argumento de que, apesar de o conteúdo crítico do seu referido libelo ser, em sua maior parte, um eco de outros textos, a forma estilística dele, a partir da qual ele articulou as críticas já conhecidas ao tráfico negreiro com os ideais humanitários então em voga, é um exemplo do discurso sentimental da filosofia moral iluminista. Assim, seu Bosquexo del en esclavos... pode ser considerado uma expressão literária do processo histórico da reinvenção moderna das emoções consolidada pelo Iluminismo, porque mobilizou uma gama de vocabulário para estruturar uma linguagem emotiva destinada a criar um elo, a partir do sentimento humanitário, de solidariedade entre leitores e o sofrimento de pessoas alheias à sua realidade social 4 4 Portanto, trata-se de um estudo sobre uma técnica literária, a narrativa humanitária, e sua possibilidade de ter sido usada para dar forma a textos críticos à continuidade do tráfico atlântico de africanos, criada pela situação histórica inaugurada pela emergência do abolicionismo, tendo como referência conceitual o texto de Laquer (1992) e como arcabouço metodológico o texto de Skinner (1996). .

PALAVRAS-CHAVE:
Iluminismo; narrativa humanitária; combate ao tráfico de escravos

ABSTRACT

This paper demonstrates how Spanish intellectual José Maria Blanco y Crespo (1775-1841), in his abolitionist work, used a literary technique known as humanitarian narrative, derived from the Enlightenment philanthropic ideology, to sensitize readers against the slave trade, awakening in them compassion for the African individuals turned into commodities by slave traders. As such, it argues that, although the critical content of his libel, for the most part, echoes other texts, his stylistic form, from which he articulated the already known criticisms of the slave trade with the humanitarian ideals then in vogue, is an example of the sentimental discourse of Enlightenment moral philosophy. His Bosquexo del en esclavos... can thus be considered a literary expression of the historical modern reinvention of emotions consolidated by the Enlightenment, as it mobilized vocabularies to structure an emotional language designed to create a link, based on humanitarian sentiment, of solidarity between readers and the suffering of people alien to their social reality.

KEYWORDS:
Enlightenment; humanitarian narrative; combat against the slave trade

1. Introdução

A escravidão é uma relação social de produção antiga que predominou nas formações sociais de quase todo o mundo até, pelo menos, o início da era industrial - momento em que começou a ser desmantelada. No Ocidente, ela foi revigorada com a formação de colônias pelos impérios ultramarinos, principalmente na América, onde tais impérios organizaram economias mercantis para exportação de monoculturas, utilizando, além do trabalho indígena, escravos de origem africana como mão de obra.

Estima-se que, após as Grandes Navegações, aproximadamente 12.5 milhões de africanos foram embarcados na África para serem escravizados na América e que 10.7 milhões chegaram vivos ao destino, sendo Brasil e Cuba dois dos maiores importadores dessa trágica diáspora5 5 A quantidade de escravos importados para a América e Brasil é informada por vários autores. Entre eles KLEIN, Herbert S. O tráfico de escravos no Atlântico. Ribeirão Preto, FUNPEC, 2004, p. 166; e FLORENTINO, Manolo. Em costas negras. São Paulo, Cia. das Letras, 1997, p. 23. .

Durante o século XVIII, essa forma de relação social de produção e a atividade comercial que a abastecia de mão de obra começaram a ser questionadas. Primeiro por intelectuais identificados com grupos religiosos, como os Quakers, e depois por intelectuais sintonizados com o pensamento e as práticas iluministas, como José Maria Blanco, autor da obra em estudo neste artigo6 6 Em Londres, o autor recebeu o apelido de Blanco-White, razão pela qual ele foi identificado em seu livro da maneira como segue: WHITE, Joseph Blanco. Bosquexo del en esclavos y reflexiones sobre este tráfico considerado moral, política e cristianamente. Londres: impreso por Ellerton e Henderson, 1814. .

Para escrevê-la, ele utilizou uma técnica literária, conhecida como narrativa humanitária, derivada do ideário filantrópico iluminista, para convencer a Coroa espanhola e, mais tarde, em outra versão traduzida (1821), a Coroa portuguesa, bem como a opinião pública destes países, a abolir a importação de africanos nas suas colônias.

2. O autor

José María Blanco White, batizado como José María Blanco y Crespo, que doravante será identificado como Blanco - nascido em Sevilha no dia 11 de julho de 1775 e morto em Liverpool no dia 20 de maio de 1841 - é um dos mais importantes intelectuais espanhóis. Atuando como escritor, pensador, periodista, poeta, sacerdote e teólogo, ele foi um dos maiores expoentes da Ilustração de seu país.

Filho do irlandês William White, espanholizado como Guillermo Blanco, um vice-consul do Reino Unido que se instalou em Sevilha durante o reinado de Fernando VI, e de María Gertrudis Crespo y Neve, também descendente de nobres, Blanco cresceu em um ambiente familiar fortemente marcado pelo catolicismo, o que, junto com a influência da Igreja Romana em seu país, o estimulou a se interessar pela vida religiosa.

Sua formação foi iniciada no colégio dominicano de Santo Tomás, impulsionada na Universidade de Sevilha - onde obteve título de bacharel em artes e humanidades respectivamente nos anos de 1792 e 1793 - e consolidada, na mesma instituição, com a graduação em teologia em 1796, o que lhe valeu a admissão, no ano seguinte, na ordem menor do subdiaconato. Foi nesse tempo que começou a publicar seus primeiros poemas e letras para cânticos, como La belleza (1798). Um ano depois, foi ordenado sacerdote, apesar de suas dúvidas sobre sua religião e do horror que sentiu ao ver sua irmã ser internada em um convento. Já em 1800, foi promovido a Reitor do Colégio de Santa Maria de Jesus e, ano mais tarde, foi nomeado capelão magisterial da Capela Real de São Fernando e acolhido como membro da Academia de Boas Cartas de Sevilha, onde leu suas Reflexões sobre a beleza universal, tendo, depois disso, iniciado uma série de escritos de diversas naturezas, tais como sermões, poesias, artigos, panfletos políticos e obras de caráter filosófico e de crítica social.

Quando Napoleão invadiu a Espanha, em 1808, Blanco declarou-se patriota, engajando-se na resistência, quando escreveu sua Ode à Junta Central, órgão que se encarregou de exercer o governo no vazio de poder criado por tal invasão7 7 RECIO, Luis Miguel Enciso et al. La nación recobrada. La España de 1808 y Castilla y Léon. Valladolid: Junta de Léon y Castilla/Caja Duero, 2009, p. 19. . Nessa conjuntura, com o avanço das tropas napoleônicas, ele foi para Cadiz, onde as Cortes do seu país estavam refugiadas e em debate para definição de reformas destinadas à reorganização do poder e da sociedade espanhola.

Foi nesse momento que suas relações com Fernando VII e com a maioria dos membros das Cortes tornaram-se muito ácidas, devido a divergências em torno da nova constituição e, principalmente, ao seu apoio, ou no mínimo simpatia, aos movimentos de independência na América. Por esse motivo, ele acabou sendo considerado persona não grata por grande parte da elite política e do monarca espanhol, o que o levou a se exilar no dia três de março de 1810 na Inglaterra, para nunca mais retornar.

Nesse país, teve uma vida intelectual intensa. Assim que se adaptou ao seu exílio, publicou O Espanhol (1810-1814), um periódico dedicado a temas políticos de sua nação, como a resistência à invasão francesa, a reorganização do governo em Cadiz, a reforma na estrutura da monarquia espanhola e sua nova carta constituicional, bem como o movimento de independência na América. Suas opiniões, marcadas por um leve jacobinismo e por um liberalismo bastante moderado, revelam um intelectual crítico ou, nas palavras de um de seus biógrafos, “um rebeldo ilustrado” 8 8 RAMOS, Antonio Cascales. Blanco-White, el rebelde ilustrado. Sevilha: Centro de Estudos Andaluces, 2009. .

Além desse jornal, Blanco escreveu muitos textos, entre os quais as Cartas de España, um conjunto de escritos divulgados em periódicos, a partir do início dos anos 1820, em um frenético contexto de reformas liberais que ressoavam em seu país, onde o antigo regime mostrava-se bastante resistente. Nele, abordou temas políticos, como o movimento reformista que limitou o absolutismo espanhol; culturais, como as touradas; sociais, como o atraso e a intolerância de uma sociedade fortemente influenciada pela Igreja Católica; e morais, como a crítica ao tráfico de africanos.

Escreveu também obras expressando seu anticlericalismo, sobretudo depois da sua crise de consciência religiosa, como Practical and internal Evidence against Catholicism (1825), que o fez abandonar o catolicismo, com o qual se reconciliou antes de morrer, e se converter ao anglicanismo, no qual atuou como sacerdote. Até o final da sua vida, além de outros textos de natureza teológica, como Observations on Heresy and Orthodoxy (1835), dedicou-se a escrever novelas, como Intrigas venecianas o Fray Gregorio de Jerusalén: ensayo de una novela española (1840), e El Mensajero de Londres, o Luisa de Bustamante o la huérfana española en Inglaterra publicada postumamente (1841).

A intensa e complexa vida de Blanco apresenta muitas faces, como mostraram diversos estudos9 9 O resumo da bibliografia acima elaborado foi feito com base em GOYTISOLO, Juan. Blanco White, ‘El Español’ y la independencia de América. Madrid: Ediciones Taurus, 2010; RAMOS, Antonio Cascales. Blanco-White, el rebelde ilustrado. Sevilha: Centro de Estudos Andaluces, 2009; ALONSO, Manuel Moreno. Divina libertad: la aventura liberal de Don José María Blanco White, 1808-1824. Sevilla: Ediciones Alfar, 2002; LÓPEZ, Fernando Durán. José María Blanco White, o, La conciencia errante. Sevilla: Fundación José Manuel Lara, 2005; MURPHY, Martin. Blanco White: Self-banished Spaniard. New Haven: Yale University Press, 1989; BEJARANO, Mario Méndez , Vida y obras de D. José M.ª Blanco y Crespo (Blanco-White). Madrid: Tip. de la Revista de archivos, bibliotecas y museos, 1921. . Todavia, a que nos interessa, nesta pesquisa, é a sua face intelectual, da qual provêm um conjunto de ideias que fizeram dele um dos mais representativos indivíduos que viveram, pensaram e escreveram em uma época agitada e conhecida, conforme expressão cunhada por Eric Hobsbawm, como uma “era de revoluções”.

Assim, seu resumo biográfico revela um personagem cuja existência foi consideravelmente dedicada a atender o apelo do movimento filantrópico promovido pelos iluministas às pessoas de “alma grande e sensível,” que foram chamadas a “percorrer o universo para abolir a escravidão, a superstição, o vício e a desgraça,” de acordo com as palavras de um deles utilizadas para definir na Encyclopédie o conceito de humanidade (“um sentimento de benevolência por todos os homens”)10 10 DIDEROT, Denis; D’ALEMBERT Jean. Encyclopédie ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et métiers. 2. ed., Lucques, Chez Vicent Giuntini, Tome VIII, 1766, p. 285. .

3. A obra

Originalmente, Bosquexo deveria ser uma tradução em espanhol do livro A letter on the abolition of the slave trade, escrita por William Wilberforce e publicada em Londres no ano de 180711 11 WILBERFORCE, William. letter on the abolition of the slave trade. Londres, Cadelland W. Davies, 1807. , a pedido da entidade abolicionista inglesa African Institute. No entanto, durante a tradução, Blanco acabou escrevendo outro texto, baseado no referido livro e em outras referências documentais e bibliográficas12 12 Entre elas, o relato de viagem de PARK, Mungo Travels in the Interior Districts of Africa: Performed Under the Direction and Patronage of the African Association, in the Years 1795, 1796, and 1797. London, W. Bulmer and Company, 1799; e livro do historiador CLARKSON, Thomas. The history of the rise, progress and accomplishment of the abolition of the slave trade by the British Parliament. Philadelphia: James P.Parke, 1808. , no qual reforçou a refutação das teses que defendiam a continuidade do tráfico de africanos, bem como postulou a sua abolição no Império Espanhol e, posteriormente, no Império Português.

Sua intenção, claramente expressa no início da obra, era conscientizar as autoridades e a sociedade de ambos os impérios sobre a necessidade de proibir a importação de negros, reafirmando, em sintonia com os ideais ilustrados ainda em voga no final da época napoleônica, que tal atividade comercial era contrária à dignidade humana e à essência cristã de amar incondicionalmente ao próximo.

Para isso, ele valeu-se de um conjunto de informações disponibilizadas por relatos de viajantes, que cortaram o continente africano e americano, e apoiou-se em tradições intelectuais que remontam ao tomismo, utilizando uma técnica narrativa, fortemente marcada por uma visão filantrópica das relações humanas, surgida durante o Iluminismo, e definida por Thomas Laqueur como narrativa humanitária: abordagem extraordinariamente minuciosa dos sofrimentos e da morte de pessoas comuns para criar uma consciência moral nos leitores e clamar por sua solidariedade. Trata-se de um novo padrão narrativo, por meio do qual escritores sintonizados com o filantropismo das Luzes expressaram uma nova sensibilidade em relação aos dramas da existência humana, caracterizada pelo sentimento de compaixão - que, a partir da segunda metade do século XVIII, veio a ser um elemento fundamental de compreensão dos problemas da vida social - e pelo ativismo intelectual altruísta dedicado a enfrentar os males que afligiam a humanidade13 13 LAQUER, Thomas W. Corpos, detalhes e narrativas humanitárias. In: HUNT, Lynn. A nova história cultural. São Paulo: Martins Fontes, p. 239-277, 1992, p. 239-241. Essa técnica literária é expressão intelectual da revolução sentimental, ou afloramento das emoções, que vinha ocorrendo na Europa, particularmente na França, após o impacto da obra Les passions de l’âme (1649), de René Descartes, e da situação histórica caracterizada por uma crise da consciência europeia conforme análise de HAZARD, Paul. O pensamento europeu no século XVIII. Lisboa: Editorial Presença, 2015, quando novas formas de percepção da vida social que estão na base do filantropismo iluminista começaram a se desenvolver, de acordo com o estudo de DEJEAN, Joan. Antigos e modernos: as guerras culturais e a construção de um fin de siècle. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005, especialmente cap. 3, p. 119-175. .

4. Hipótese e o seu suporte teórico

A hipótese defendida neste estudo é a de que Bosquexo é uma expressão dessa nova sensibilidade, e, Blanco, o primeiro intelectual a usá-la ampla e sistematicamente, como elemento estilístico, formal, estratégico da sua argumentação para provocar comoção nos leitores e, com efeito, lhes convencer de tomar partido a favor de uma causa humanitária. Quase todos os autores ilustrados, até agora conhecidos e estudados, que defenderam o fim do tráfico atlântico de africanos escravizados, antes de José Maria Blanco, utilizaram elementos da narrativa humanitária. No rol desses escritos, podemos citar Montesquieu (2007), os artigos de Jaucourt sobre escravidão (1755) e tráfico de escravos (1765), publicados na Enciclopédia dirigida por Denis Diderot e Jean d’Alembert; a História filosófica e política dos estabelecimentos e do comércio dos europeus nas duas Índias, de Raynal, e Reflexões sobre escravidão dos negros, de Condorcet, ambos editados em 1781; Um ensaio sobre a imprudência do tráfico de escravos, de Thomas Clarkson (1788); Memória a respeito dos escravos e tráfico de escravos entre a Costa da África e o Brasil (lido em 1793 na Real Academia das Ciências de Lisboa), de Luís Oliveira Mendes; Disertación sobre el origen de la esclavitud de los negros, motivos que la han perpetuado, ventajas que se le atribuyen y medios que podrían adoptarse para hacer prosperar sin ella nuestras colônias (1811), de Isidoro de Antillón y Marzo, entre outros.

No entanto, nestes textos, a narrativa humanitária aparece somente em algumas passagens nas quais os autores buscavam reforçar o carácter mais dramático da situação que procuravam descrever - como quando Mendes, por exemplo, descreve a depressão aguda, conhecida na sua época como banzo ou doença da melancolia, desenvolvida por uma africana a caminho do porto, para onde ela seguia para ser embarcada rumo ao Novo Mundo depois de ser separada de sua família em estado de gravidez avançado: “Seus olhos eram como dois rios e de contínuo tinha a cabeça sobre os joelhos” 14 14 MENDES, Luís Antônio de Oliveira. Memória a respeito dos escravos e tráfico da escravatura entre a Costa d’Africa e o Brasil. In: Memórias económicas da Academia das Ciências de Lisboa (1789-1815). Reedição dirigida por José Luís Cardoso. Lisboa, tomo IV, Banco de Portugal, 1991, p. 31-32. .

Utilizando a narrativa humanitária como técnica literária, isto é, como forma estilística para construir sua argumentação, Blanco contribuiu para a literatura dos textos especializados no campo de combate ao tráfico atlântico de africanos escravizados, ao transportar para esse campo uma linguagem, ainda pouco explorada pelos abolicionistas, que dava ênfase à dramatização da realidade como forma de provocar comoção. Desse modo, ao transformá-la no principal recurso narrativo de seu texto, ele trouxe para a arena de tal combate um novo instrumento discursivo na cruzada contra os navios negreiros.

Para sustentar tal hipótese, as proposições de Quentin Skinner serão úteis, porque ele demonstra como os textos podem ser interpretados como uma forma de seus autores intervirem no mundo social, motivados por questões enfrentadas pelas sociedades nas quais atuam e almejando determinados fins. Para isso, o intérprete precisa compreender os contextos sociais e intelectuais da produção textual que estuda. O contexto social é constituído pelo conjunto de problemas ligados ao tema abordado nos textos a serem interpretados. Já o contexto intelectual, é formado pelo vocabulário conceitual, pelas categorias de pensamento, pela cultura literária e pela ideologia usada para orientar, organizar e sustentar os argumentos dos escritores15 15 SKINNER, Quentin. As Fundações do Pensamento Político Moderno. São Paulo, Cia das Letras, 1996 e TULLY, James. Meaning and context: Quentin Skinner and his critics. Cambridge: Polity Press, 1988. Não pretendo fazer exatamente o que esse autor fez, e sim utilizar seu método para mostrar que o texto de Blanco é uma resposta a um problema do contexto histórico no qual ele escreveu seu libelo contra o tráfico, e que a forma que ele deu ao seu texto está fundamentada em um novo tipo de técnica literária da qual ele se apropriou para escrevê-lo. .

Com base nesse aporte teórico será possível compreender Bosquexo como uma obra das Luzes, inspirada no movimento filantrópico que seus expoentes promoveram, como uma narrativa humanitária que expressa o sentimento de missão deles de varrer do mundo os males que aflingiam a humanidade. No caso do seu autor, o mal a ser varrido é o tráfico de escravos, destinado às colônias ibero-americanas, que haviam sido revigoradas por um processo histórico definido por Tomish como segunda escravidão, decorrente da transformação do sistema econômico mundial que elevou a importação de africanos no espaço ibero-americano a uma escala de enormes proporções ao longo da primeira metade do século XIX, “para atender à crescente demanda mundial de algodão, café e açúcar” 16 16 TOMISH, Dale W. Pelo prisma da escravidão: trabalho, capital e economia mundial. São Paulo: Edusp, 2011, p. 83. .

5 .O contexto

Durante o Iluminismo, o homem consolidou a sua convicção na possibilidade de se resolver grande parte dos seus problemas por meio do avanço do conhecimento e da sua aplicação racional. Essa convicção, que já havia sido enunciada desde o final do Renascimento e reforçada durante a revolução científica do século XVII, estimulou, junto com outros fatores históricos, a formação de uma nova sensibilidade caracterizada pelo sentimento de compaixão em relação às vítimas dos males da humanidade e pela exigência de um conjunto de ações destinadas a mitigar os seus sofrimentos17 17 Conforme mostram ao longo de seus estudos GUSDORF, Georges. Dieu, la nature, l’homme au siécle des lumiéres. Paris, Payot, 1972; e HAZARD, Paul, Op Cit. .

Imbuídos dessa compaixão, que a partir da segunda metade do século XVIII veio a ser um elemento fundamental de compreensão dos problemas da vida social, muitos dos escritores da época, sob o impulso do pensamento ilustrado, desenvolveram o argumento de que as sociedades deveriam mobilizar as suas forças para a construção de um mundo melhor por meio da ciência, da justiça e da solidariedade, combatendo os infortúnios da condição humana.

Com isso, começa a se consolidar um sentimento - da qual a narrativa humanitária é uma das formas literárias que expressaram esse sentimento - definido pela noção de benevolência (transformada em uma das bases da agenda humanitária iluminista como do empenho intelectual de autores como David Hume), a partir do qual a compaixão pelos outros deixou de ser apenas um elemento da piedade religiosa para ser um fundamento da forma de se encarar as adversidades sociais18 18 Conforme mostrou ARMESTO, Felipe Fernandez. Do you think you’ re human: a brief history of humankind. Oxford: Oxford University Press, 2004, ao longo do seu estudo dedicado à historicidade do conceito de humanidade. .

Dessa maneira, os intelectuais ilustrados que assimilaram essa nova fundamentação, lentamente, passaram a conceber, a agenda da Ilustração, a escravidão como uma forma injusta de organização do trabalho e a colocaram, junto ao tráfico que a abastecia, como um mal a ser combatido, atacando suas bases legitimadoras19 19 Conforme mostra, entre outros, DAVIS, David Brion. O problema da escravidão na cultura ocidental. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 446-465. . Esse tipo de narrativa pode ser encontrado, por exemplo, na clássica obra de Montesquieu, Do espírito das leis, publicada em 1748, segundo o qual “a escravidão não é boa por sua natureza”, por ser “tão contrária ao direito civil quanto ao direito natural”, uma vez que “todos os homens nascem iguais”20 20 MONTESQUIEU, Do espírito das leis. Trad. Jean Melville. São Paulo: Martin Claret, 2007, respectivamente p. 249, p. 251 e p. 254. .

Assim, aos poucos, com as repercussões dessa obra, aparecem outros textos com a mesma finalidade combativa, gerando uma corrente intelectual da qual Bosquexo del en esclavos..., de José Maria Blanco, fez parte.

Quando ele a escreveu, de acordo com Ada Ferrer21 21 FERRER, Ada: Cuban Slavery and Atlantic Antislavery. Review (Fernand Braudel Center) v. 31, n. 3, p. 267-296, 2008, p. 280-282. , havia uma conjuntura crítica a respeito da escravidão, derivada da pressão psicológica da Revolução do Haiti e da pressão política do abolicionismo inglês sobre os grandes importadores de africanos, sobretudo Cuba. Se, por um lado, essas pressões apontavam para um possível declínio do tráfico de escravos, por outro, as mudanças no sistema econômico mundial, que transformaram esta porção do território imperial espanhol, bem como o Brasil, em grandes fornecedores, respectivamente, de açúcar e café para o mercado internacional, pressionaram para a revitalização em grande escala do referido tráfico.

Essa conjutura crítica ensejou uma situação tensa que levou, conforme pesquisa de Marquese, Parron e Berbel22 22 MARQUESE, Rafael de Bivar, PARRON, Tâmis e BERBEL, Márcia. Escravidão e politica: Brasil and Cuba, 1790 - 1850. São Paulo: Hucitec, 2010, p. 116-121. à crise do sistema atlântico ibérico, pois o problema da escravidão foi colocado na agenda política das elites inseridas neste sistema, inclusive gerando acalorados debates nas Cortes de Cádis, cuja reunião instaurou uma “experiência constitucional inauguradora” sobre esse tema, uma vez que diversos deputados apresentaram projetos para abolicionir o tráfico de escravos que, mesmo sendo derrotados, inflenciaram a adoção de leis restritivas contra tal tipo de comércio até ele ser abolido.

E foi graças a essa derrota, ao crescimento mundial da demanda de açúcar, à especialização cubana, e o seu quase monopólio desse produto, e à desarticulação da produção haitiana após a sua revolução antiescravista, que o porto de Havana começou a tornar-se o maior destino de africanos escravizados após a abolição do tráfico nas ex-colônias francesas e no império colonial inglês. Com isso, como mostra o estudo de Ada Ferrer e o de Marquese, Parron e Berbel, as tensões em Cuba em torno das relações sociais de produção escravistas aumentaram, gerando rumores conspiratórios entre escravos e entre aqueles que com eles se solidarizavam, como José Antonio Aponte, um mulato livre, artesão e ex-capitão de milícias, que liderou uma conspiração abolicionista, em 1812, reunindo escravos e libertos23 23 FERRER, Op Cit., p. 290 e MARQUESE et al, Op Cit., p. 127. .

Enquanto essas tensões encejavam movimentos como esse no Novo Mundo, do outro lado do Atlântico, o movimento abolicionista, principalmente o inglês, ganhava a cada dia mais adeptos. José Maria Blanco acabou sendo um deles. Sua personalidade rebelde, logo quando ele chegou à Londres, no mesmo ano da Conspiração de Aponte, começou a ser atraída pelos debates que circulavam pela opinião pública local.

Nesse momento, já havia sido criado, de acordo com Francisca Siqueira, “um ambiente favorável ao abolicionismo”, devido ao “desaparecimento dos temores do radicalismo,” ao “declínio das indústrias de açúcar e do comércio de escravos [,] o fracasso da expedição inglesa para tentar reconquistar São Domingos,” bem como à “revolta dos escravos em São Domingos,” e ao fato de, “por volta de 1805, muitas das possessões francesas e holandesas nas Índias Ocidentais” terem “caído em mãos britânicas, removendo assim o medo da concorrência que havia dominado grande parte do pensamento dos comerciantes e plantadores das Índias Ocidentais” 24 24 SIQUEIRA, Francisca Pereira. Abolicionismo inglês e francês (1787-1833) em perspectiva comparada. Revista de História Comparada, v. 12, n. 2, 2018, p. 35-64, 2018, p. 50. .

O libelo abolicionista de José Maria Blanco é resultado da relação entre esse contexto, a consciência crítica que ele, como um rebelde ilustrado, construiu dos problemas de sua época e o incentivo da entidade abolicionista inglesa African Institute, que o encomendou uma tradução para a língua espanhola de A letter on the abolition of the slave trade, de William Wilberforce, com base na qual ele produziu outro texto25 25 Não é a intenção desta pesquisa discutir o impacto do ideário abolicionista na sociedade espanhola e hispoanoamericana. Para os leitores interessados nisso, seguem a refererência de alguns autores que o fizeram: ALVARADO, J. El régimen de legislación especial para ultramar y la cuestión abolicionista en España durante el siglo XIX, In: GONZÁLEZ, Maria del Refugio (ed.) La supervivencia del derecho español en Hispanoamérica durante la época independiente. UNAM: Mexico City, 1998; BREÑA, Roberto. ‘Jose María Blanco White y la independencia de América: ¿una postura proamericana?’. Historia Constitucional, n. 3, p. 1-17, 2002; CRAWLEY, Charles William. French and English Influences in the Cortes of Cadiz, 1810-1814. Cambridge Historical Journal, v 6, n. 2, 1939, p. 176-208; GARCÍA, Albert. Antislavery before Abolitionism. Networks and Motives in Early Liberal Barcelona, 1833-1844. In: FRADERA, Josep. M.; NOWARA, Christopher Schmidt (eds.) Slavery and Antislavery in Spain’s Atlantic Empire. Berghahn: New York, p. 229-255, 2013; SANJURJO, Jesús. Comerciar con la sangre de nuestros hermanos: Early Abolitionist Discourses in Spain’s Empire. Bulletin of Latin American Research, v. 38, n. 4: p. 393-340, 2019, doi: https/doi.org/10.1111/blar.12746. que, se no essencial, reproduz as críticas deste último autor, as faz com outra técnica literária, conhecida como narrativa humanitária, caracterizada por uma linguagem essencialmente comovedora, a partir da qual ele elaborou uma nova maneira de combater intelectualmente o tráfico atlântico de africanos, e que expressa a filosofia moral ou a sensibilidade benevolente da “Era das Luzes.”

6. Historiografia

Muito já foi escrito, sobretudo em castelhano, sobre a obra de Blanco, principalmente a respeito de seus escritos poéticos. No entanto, os textos por ele dedicados à crítica ao tráfico de africanos não receberam igual atenção nem mesmo na sua língua materna. Isso talvez pelo fato de a historiografia de seu país refletir o desconforto da sociedade espanhola em relação à sua experiência com a escravidão. Afinal, tanto nas colônias, em escala maior, especialmente Cuba, quanto na metrópole, em escala menor, destacadamente na Andaluzia, o império espanhol utilizou trabalho escravo, garantido por abastecimentos regulares dos comerciantes portugueses e, posteriormente, ingleses26 26 TUDARES, 1983, p. 13-16 e GÓMEZ, Rocio Periañez. La introdución de los negros por La frontera extremeña y su distribuición posterior. In: CASARES, Aurelia Martins y BARRANCO, Margarida García (orgs.). La escavitud negroafricana en la historia de España, siglos XVI e XVII. Granada: Editorial Comares, 2010. .

Aos poucos, a partir do final dos anos 1970, quando a Espanha começava a superar o franquismo, uma onda historiográfica influenciada pela rebeldia que marcou a década no Ocidente criou as condições para que o referido libelo antiescravista de Blanco começasse a ser estudado. A partir daí vários trabalhos dedicados a ele foram publicados em castelhano e, posteriormente, em inglês. Eles podem ser classificados em dois grupos: os que o abordam sem tomá-lo como objeto de estudo27 27 SANTOS, Op Cit.; HERRADÓN, Op Cit.; SURWILLO, Op Cit.; BERQUIST, Op Cit.; MARQUESE et al, Op cit.; GALLEGO, Op Cit.; ALONSO, Op Cit. e os que o abordam como objeto28 28 BLADS, Luis Perdice; GOROSTIZA, José Luis Ramos. Blanco White, Spanish America and economic affairs: the slave trade and colonial trade. In: History of Political Economic, v. 46, n. 4, p. 573-608, 2014; NOWARA, Christopher Schmidt. Wilberforce spanished: Joseph Blanco White and the Spanish antislavery, 1808-1814. In: FRADERA, Joseph ; NOWARA, Christopher Schmidt;. Slavery and antislavery Spain’ Atlantic empire. Berghahan Books, 2013, p. 158 - 175; ALMEIDA, Joselyn M. Joseph (José) Blanco White’s Bosquexo del comercio en esclavos: British Abolition, Translation, and the Cosmopolitan Imagination. Bulletin for Spanish and Portuguese, v. 37, 2012; VILAR, Enriqueta Vila. El Abolicionismo de José M. Blanco White. Separata de: Actas del VII Congreso Internacional de Historia de América. Zaragoza, 1998, p. 1993-2000; PONS, Andre. Blanco White abolicionista. Cuadernos Hispanoamericanos, n. 559, 1997; Ibidem, n. 560 e Ibidem, n. 561; VILAR, Enriqueta Vila “Intelectuales españoles ante el problema esclavista”. Anuario de estudios americanos, n. 43, p. 201-214, 1986; e Idem “La esclavitud americana en la política española del siglo XIX”. Anuario de estudios americanos, n. 34, p. 563-588, 1977. .

Em relação ao primeiro grupo, os autores o utilizaram, na maior parte das vezes, de três maneiras: como prova documental do esforço do abolicionismo inglês para combater o tráfico, como instrumento político de entidades abolicionistas organizadas para lutar contra a escravidão e como empenho intelectual de indivíduos que abraçaram a cruzada contra essa forma de exploração do trabalho.Em relação ao segundo grupo, formado pelos trabalhos que o abordaram como objeto de estudo, destaca-se o de Andre Pons, que publicou três artigos sobre Bosquexo, de Blanco, nos Cuadernos Hispanoamericanos em 1997. O primeiro contextualiza tal obra. O segundo mostra como ela foi uma resposta à reabertura do tráfico pelas Cortes de Cadiz. O terceiro investiga a tradição intelectual na qual está embasada, descobrindo que seu autor valeu-se, implícita e intertextualmente, dos argumentos anti-aristotélicos de Las Casas (no debate contra Sepúlveda em torno da questão indígena no século XVI29 29 Debate ocorrido entre 1550 e 1551 no Colégio de São Gregório de Valladolid, motivado pela controvérsia originada em torno da questão sobre a natureza dos povos subjulgados pelos espanhóis durante a colonização do Novo Mundo, a partir da qual Bartolomé de las Casas e Juan Ginés de Sepúlveda confrontaram argumentos para elucidar dúvidas como: se os índios têm alma e se são seres livres ou escravos naturais. ) para organizar sua refutação às justificativas dos fazendeiros cubanos para convencer a Coroa espanhola a revogar a proibição da importação de africanos.

Como a argumentação desse dominicano está sustentada na Suma Teológica de São Thomas de Aquino, especialmente na ideia de que os homens são naturalmente iguais, (ideia contrária ao pensamento aristotélico da natureza desigual entre os homens utilizado durante séculos para justificar a guerra de conquista e a escravidão), Pons identifica em Las Casas a referência mais importante de Blanco, embora este não o cite explicitamente30 30 PONS, Op Cit., n. 561, p. 147. . E isso porque ele ainda era considerado, pela maioria dos intelectuais da época da publicação de Bosquexo (1814), responsável pelo incentivo ao tráfico de africanos nas colônias espanholas, pois sua vitória no debate contra Sepúlveda, segundo seus detratores, criou dificuldade moral e legislativa para escravização dos índios, levando os colonizadores a justificar a sua necessidade de recorrer ao comércio negreiro31 31 A esse respeito os seguintes textos são bastante esclarecedores: KNIGHT, 2003 e SANDERLIN, 1992. .

Após a publicação dessa trilogia de Pons, novos estudos sobre Bosquexo procuraram outras conexões entre o abolicionismo dessa obra com outros aspectos históricos do mesmo período, como o crescimento econômico posterior às guerras napoleônicas e sua pressão pelo aumento da oferta de mão de obra, que colocaram definitivamente o problema do tráfico na ordem do dia32 32 Por exemplo, VILAR, Op Cit., 1998; BERQUIST, Op Cit.; e NOWARA, Op Cit. . Alguns deles acabaram concentrando-se nas implicações econômicas das reações das elites coloniais, sobretudo a cubana, enquanto outros dedicaram-se à análise do quanto aquela obra ganhou importância política em um momento histórico em que o movimento abolicionista atraiu para sua luta o peso da diplomacia inglesa.

No entanto, a estratégia literária utilizada por Blanco para convencer seus leitores, por meio da comoção, a apoiar a sua causa continou sem estudo, o que motivou a elaboração dessa pesquisa cujo resultado será exposto a seguir.

7. A narrativa humanitária na obra Bosquexo

No início do século XVIII, uma nova técnica literária, batizada por Thomas Laquer de “narrativa humanitária,” começou a ser praticada para descrever o sofrimento e a morte de pessoas comuns, visando à criação de uma consciência moral nos leitores e clamar por sua solidariedade33 33 LAQUER, Op Cit., p. 239-241. . Fruto da sensibilidade das Luzes, ela é uma das suas expressões literárias mais marcantes, ao inaugurar um novo olhar sobre as tragédias humanas e apresentar um compromisso de contribuir, como uma missão, para combatê-las, fomentando uma espécie de cruzada filantrópica destinada, conforme palavras de Diderot, a “percorrer o universo para abolir a escravidão, a superstição, o vício e a desgraça” 34 34 DIDEROT, Op Cit., p. 285. .

Sendo assim, a narrativa humanitária foi praticada, como uma estratégia literária, para expor dramaticamente à sociedade as mazelas humanas e fornecer um modelo de ação social para superá-las, de modo a criar um efeito de realidade capaz de estimular no público a compaixão pelos que sofrem. Dessa maneira, esperava-se que as pessoas de alma sensível aderissem ao movimento ilustrado para varrer do planeta as calamidades que tanto golpes desferiam contra a felicidade humana, procurando soluções aqui mesmo, neste mundo, para resolver os problemas que tanto afligiam a humanidade, e para os quais já não se tinha esperança de receber respostas vindas do Céu35 35 Sobre os fundamentos do Iluminismo e as novas formas do pensamento e práticas humanas ilustradas, esse texto está apoiado, entre outros, em CASSIRER, 1994; FOUCAULT, 2003; GAY, 1977; GUSDORF, 1972; HAZARD, Op Cit. .

O trabalho escravo, de acordo com David Brion Davis, foi um desses problemas36 36 DAVIS, David Brion.The problem of slavery in the age of revolution (1770-1823). New York, Ithaca, 1976. . No século XVIII, aos poucos, essa forma de organização das relações sociais da produção já não era mais vista predominantemente, sobretudo nos meios intelectuais, como produto da desigualdade natural, como mostra Ehrard, ao longo do seu estudo37 37 EHRARD, Jean et al. Abolitions de l’esclavage. Vincennes: Presses Universitaires de Vincennes, 1995. . Pois, aos poucos, tal visão foi sendo demolida pelos iluministas, porque, para eles, a liberdade, além de ser inerente ao homem - um valor essencial da sua vida social - está na base na felicidade.

Foi o que fez, por exemplo, Montesquieu em sua clássica obra, Do espírito das leis, publicada em 1748, na qual argumenta que “a escravidão não é boa por sua natureza”, por ser “tão contrária ao direito civil quanto ao direito natural”, pois “todos os homens nascem iguais” 38 38 MONTESQUIEU, Op Cit., respectivamente p. 249, p. 251 e p. 254. . Tal argumento teve considerável repercussão, sendo ressoado, como mostra Davis, em diversos textos e debates sobre o prolema da escravidão39 39 DAVIS, Op Cit., p. 452. .

Com a crítica filosófica desses autores, iniciou-se um processo de destruição dos pilares sobre os quais essa forma de organização da produção estava apoiada. A começar pelo combate à sua principal fonte de abastecimento, o tráfico, contra o qual vários autores sintonizados com aquela argumentação de Montesquieu escreveram, mostrando como essa prática comercial era desumana.

Um deles foi José Maria Blanco, autor de Bosquexo del en esclavos y reflexiones sobre este tráfico considerado moral, política e cristianamente, publicado em 1814 - obra escrita em 144 páginas, dividida em duas partes, composta por três capítulos cada. Na primeira, ele descreve o processo de conversão dos negros em escravos, mostrando a crueldade dos agentes envolvidos nisso; avalia o caráter dos povos da África negra, refutando um dos argumentos utilizados para escravizá-los (o de que são brutos, feras, bárbaros etc.); e, por fim, retrata a travessia oceânica dos capturados, revelando a tragédia que se passava nos porões dos negreiros. Na segunda, apresenta três fundamentos contrários ao tráfico: moral (perante a dignidade humana); político (perante o bom senso civil); e cristão (perante leis de Deus).

Logo no início da referida obra, na advertência aos leitores, o autor explica:

Gran parte del siguiente Bosquexo está casi traducida de la Carta que el célebre Defensor de los Africanos Mr. Wilberforce dirigió á sus Constituyentes, quando se agitaba la question sobre el tráfico de esclavos en el Parlamento de Inglaterra. Valiera mucho más, si fuese una traducción completa de aquella Carta; pero no seria tan propria para el objeto con que se publica. Mr. Wilberforce debia discutir y tratar su asunto por todos los aspectos que tenían relación con la nación Inglesa; pero seria fuera de proposito dirigir las mismas razones al pueblo Español que se halla en muy diversas circunstancias. Como las Cortes Extraordinarias decretaron en 2 de Abril de 1811, la abolición del tráfico en esclavos, y luego suprimieron este decreto (a lo que se entiende) por consideración á las reclamaciones de la ciudad de la Havana, que es la única que levantó la voz contra aquella medida; es indispensable hacer ver a la nación la clase de argumentos en que se fundan los interesados en el tráfico, para pedir su continuación a la sombra de la bandera Española40 40 WHITE, Op Cit, p. III. .

Wilberforce, mencionado no trecho acima citado, foi parlamentar abolicionista inglês, autor de Letter on the abolition of the slave trade, publicada em 1807. Inicialmente, a missão de Blanco era traduzi-la para o espanhol. Mas, como ele mesmo esclarece, as circunstâncias espanholas eram diferentes das inglesas. Quando Blanco foi convidado pelo African Institute para tal empreendimento, o tráfico de africanos já havia sido abolido na Inglaterra e em suas colônias no mesmo ano da primeira edição do livro acima citado. Enquanto na Espanha, após de ter sido abolido em 1811, o tráfico foi restabelecido pela Constituição de Cadiz, após longos e acalorados debates, em 1812, depois que grandes fazendeiros Cubanos, liderados por um dos mais ricos e influentes deles, Francisco de Arango y Parrãno (1765 - 1837), membro da administração colonial, enviaram aos constituintes uma Representación (1811) contra a abolição do tráfico, alegando, como mostra Marquese, Parron e Berbel41 41 MARQUESE et al, Op Cit., p. 119-121. que tal abolição arruinaria os seus interesses, o de Cuba e o da Coroa.

Foi esse o motivo do abandono do projeto inicial de traduzir o livro de Wilberforce, segundo o trecho acima transcrito, pois, se as cisrcunstâncias eram outras, o libelo deveria ser adaptado a elas, sobretudo porque ele precisava responder aos argumentos da referida Representación.

Após a advertência aos leitores, esclarecendo as razões da alteração do seu projeto editorial, Blanco afirma, em claro tom de denúncia, que seu Bosquexo “es un Memorial dirigido a cada Español en nombre de las victimas que la codicia de algunos de sus paysanos está arracando todos los dias de la costa de Africa” (p. IV), por um tipo de comércio (comércio negreiro) que chama de “besta carnicera” (p. 13) 42 42 WHITE, Op Cit, respectivamente p. IV e 13. .

Objetivando convencer os leitores de que tal prática comercial era imoral (perante a moral humana), indígna (perante o bom senso civil), e pecaminosa (perante as leis de Deus), Blanco elaborou um texto marcado pela descrição detalhada de situações dramáticas, utilizando frases de efeito, fortes, visando a aguçar a sensibilidade, a emoção e a consciência moral dos leitores. Para isso, ele se apoia em obras de historiadores, como a de Thomas Clarkson, The history of the rise, progress and accomplishment of the abolition of the slave trade by the British Parliament (1808), e de viajantes, como a de Mungo Park, Travels in the Interior Districts of Africa (1799), dos quais retira as informações para elaborar a primeira parte do seu libelo dedicada à descrição da captura e transporte dos negros.

Esses autores lhe forneceram os dados que ele precisava para mostrar a crueldade como as pessoas eram convertidas em escravas, sendo o mais dramático as campanhas de raptos em massa, conduzidas pelos chefes guerreiros (seduzidos pelos produtos oferecidos em escambo pelos traficantes) de povos militarmente mais fortes contra os mais fracos a fim de vendê-los aos negreiros. Nessas ocasiões, “la masa de los habitantes se entrega a un terror pánico”, pois, “estas expediciones (nos dice Mungo Parke) son de más o menos extensión, y las hay desde 500 hombres a caballo capitaneados por el hijo del rey del pays, hasta un solo individuo armado de arco y flecha, que, escondiéndose entre las ramas, aguarda a que pase alguna persona joven, o desarmada. Entonces con una ligereza de tigre, acomete a la presa, la arrastra al bosque, y por la noche se la lleva hecha esclava”43 43 Ibidem, p. 4-5. .

Assim, explica o autor, “se excitan y perpetúan querellas hereditarias entre las naciones, tribus, pueblos y aun familias, por la vehemente tentación que el mercado de esclavos ofrece a los habitantes” 44 44 Ibidem, p. 9. . Tentação essa estimulada não somente pelo fato de “traficantes europeos los instigar a esta barbárie”, oferecendo-lhes “licores, pólvora, armas de fuego”, porque “saben que esta generosidad les será recompensada abundantemente en carne y sangre humana” 45 45 Ibidem, p. 17. , mas também porque, conforme mostra Manolo Florentino46 46 FLORENTINO, Op Cit., p. 100-101. , o tráfico “desempenhava um papel estrutural na África”, pois “a aquisição desses bens no litoral correspondia ao fortalecimento político e econômico dos grupos dominantes nativos”.

O resultado disso foi a proliferação dos conflitos no interior africano, o que provocava constantes desestabilizações da produção de alimentos, gerando “tiempo de extrema escassez”, e levando muitos a “venderse a sí mismos a cambio de algo que comer; y aun más frequentemente, los padres a vender a sus hijos para mantener al resto de la família” 47 47 WHITE, Op Cit, p. 14. .

Diante dessa catástrofe, afirma Blanco, “al ver correr las lagrimas de esos esclavos, desas victimas de la codicia Europea, ha de ser preciso recurrir a argumentos para probar que la aflicción que se las hace verter es tan amarga como la nuestra!” 48 48 Ibidem, p. 22-23. . Aqui, o autor se prepara para refutar uma das justificativas dos defensores da escravidão e do comércio internacional que a abastecia: o suposto caráter bruto, e selvagem, dos negros. Segundo ele, numa clara assimilação do ideário ilustrado então em voga, a condição humana é universal, razão pela qual os indivíduos submetidos a essas tragédias são tão sensíveis quanto nós, e que sua brutalidade não é fruto da sua natureza, e sim do impacto que a presença européia na África provocou nas relações entre os povos, entre as pessoas, daquele continente. Em suas próprias palavras, “los Europeos embrutecen a los Negros por el tráfico que hacen de ellos, y sus inevitables consequencias, y luego defienden este tráfico alegando que los Negros son semi-brutos”. Por isso, “el lector imparcial, el lector que jamás haya tomado el gusto a ganancias que son precio de sangre, se convencerá bien pronto de que los Negros no ceden en racionalidad y humanidade a los demás hombres”49 49 Ibidem, p. 25. .

Com isso, o autor mostra-se contrário à ideia da desigualdade natural da espécie humana; ideia essa presente desde pelo menos o tempo de Platão, em cuja República faz uma hierarquização dos homens tendo como referência a qualidade dos metais; e reutilizada por Aristólelies para legitimar a escravidão. De acordo com Pons, essa postura, a da “defesa da unidade humana” revela “um dos pontos mais importantes do humanismo de Blanco”, o que faz dele, segundo o mesmo historiador, “um antirracista antes mesmo do modernismo” 50 50 PONS, Op Cit., n. 560, p. 38. .

Dessa maneira, Blanco segue sua refutação às teses escravagistas, sendo outra delas, a de que “todos, los que no han manchado sus manos en sangre de Africanos, están persuadidos intimamente de que la causa principal del atraso de aquella parte del mundo nace [desde] que los Europeos fueron a convertirla en un mercado de carne humana”51 51 WHITE, Op Cit, p. 30. . Utilizando o livro de Thomas Clarkson (1808), ele desmonta essa argumentação, afirmando que, na verdade, quando os europeus chegaram à África, eles concorreram ainda mais para ampliar o saque de pessoas daquele continente: “La desgracia de las naciones Africanas que quando los adelantamientos de la navegación les ha hecho tener trato con los pueblos civilizados, ha sido para (...) depravarlas y oscurecer sus entendimientos; y si puede usarse una palabra nueva quando la desgraciada novedad del hecho nos obliga a ello, diremos, que para barbarizarlas”52 52 Ibidem, p. 43. .

Com essas palavras, o autor esperava instigar “a la imaginación de las personas sensibles que leyeran esta dolorosa historia”, que “solo podrá servir de aqui adelante de agravar la congoja [angústia] que les espera, al ver que esas criaturas racionales, esos hombres, mujeres, y niños, con quienes un innegable parentezco de humanidad los enlaza”, (ele se refere aos negros), “son victimas de una crueldad, que las estremecería si la oyeran referir como executada en bestias”, motivo pelo qual “la historia que va empezar, aunque desaliñada y diminuta, no se podrá leer sin lagrimas, a no ser por los comerciantes de esclavos”. E, por mais triste que ela seja, “la humanidad la exige,” porque “la noticia de estos horrores es lo que únicamente puede acabarles de poner remédio” 53 53 Ibidem, p. 47-48. .

Depois dessa exposição, ele conclui: “Si la disposición natural, la costumbre, y la necesidad se combinan para despojar a una clase de personas de todo sentimiento humano ¿que serán sino verdaderas fieras? Así es que todo el que se emplea activamente en la conducción de Negros es un monstruo por oficio”54 54 Ibidem, p. 59. .

É essa monstruosidade que Blanco procura enfatizar, descrevendo alguns casos ocorridos nos navios negreiros, para tentar convencer a seus leitores da necessidade de se abolir o tráfico. Certa vez, uma enorme embarção negreira encalhou próximo ao extremo oriental da Jamaica. Seus tripulantes acabaram a abandonando temporariamente com centenas de africanos entregues à sua própria sorte. No entanto, muitos destes conseguiram escapar e chegar a nado até a praia. Porém, “la tripulación, que los vio venir de este modo a tierra, discurrió que las provisiones y agua que habian salvado no bastarían por muchos días para todos, y determinaron matarlos quanto se fuesen acercando. De este modo asesinaron de tres a quatro cientos. De todo el cargamento, solo salvaron treinta y tres que fueron llevados a Kingston, y vendidos allí” 55 55 Ibidem, p. 60-61. .

Em outra ocasião, uma criança não conseguia comer. O capitão do navio então resolveu forçá-la a isso, açoitando-a repetidas vezes. Dois ou três dias depois, o capitão jurou que ela havia de comer ou a mataria e a açoitou de novo, até que ela morreu. “No cesó con esto aquel monstruo”, protesta o autor, que “llamó a la madre para que lo echara al mar. La infeliz se rehusaba a hacerlo: pero, el capitán la mandó azotar hasta que lo executase. Al fin ésta desgraciada madre, agarró al cadáver de su hijo, y volviendo la cara a otro lado, lo dejó caer en el agua”56 56 Ibidem, p. 61-62. .

Depois desses e outros exemplos, “de las escenas horrorosas que son proprias del tráfico”, a partir dos quais o autor procura conscientizar seu público dos descalabros ocorridos em alto-mar, não lhe restou outra conclusão, a não ser a que “la desolación y miseria es infinita en qualquier barco Negrero” 57 57 Ibidem, p. 63. . Diante disso, o autor questiona: “Qual será la congoja [angústia] interior, que peso de desesperación infernal, o de mortal abatimiento se apoderará de aquellas criaturas tratadas de este modo?” 58 58 Ibidem, p. 68. .

Assim, Blanco encerra a primeira parte do seu Bosquexo, mostrando o dramático sofrimento das vítimas do tráfico durante a travessia, motivo pelo qual “no es, pues, extraño que os Negros se hallan, durante el viage, tan ansiosos de darse la muerte” 59 59 Ibidem, p. 69. . Na segunda, ele reitera as críticas iluministas ao tráfico, refutando seus fundamentos, para despertar em seus leitores a indignação moral e o consequente sentimento de revolta contra essa forma de comércio. Com tal objetivo, ele começa afirmando que “las miserias, tormentos y horrores que produce el tráfico en Negros parece que, por si mismo, y por una especie de convencimiento intuitivo, debiera excitar la indignación de todos los hombres civilizados”, como um “dulce eco de la razón y la humanidade.” Mas, “la voz del interés es tan poderosa, y esta pasión, con quien todas las demás toman parte y casi se identifican, sabe producir tal confusión con sus calmores”. Aqui, ele se refere “al Memorial que el Cabildo, Sociedad Patriótica, y Cuerpo de Hacendados de la Havana presentó sobre este punto á las Cortes”, documento conhecido como Representación, que “contiene las únicas reclamaciones que hicieron cejar de su noble propósito a los legisladores de España” 60 60 Ibidem, p. 71 .

Contra tal documento, no qual os interessados em manter a importação de africanos para Cuba pediram para os deputados espanhóis revogarem o decreto de abolição dessa prática comercial, o autor inicia sua refutação com a seguinte questão:

Sabiendo, como sabemos con la mayor evidencia, como se procuran en Africa los esclavos que compran los Europeos, y quales son los efectos que produce este tráfico en aquel continente - como se traen estos esclavos a la costa - en manos de que clase de hombres son entregados allí - y quales son los males inevitables del pasage que tienen que hacer por mar antes de llegar a las colonias - ¿ See puede continuar éste tráfico, sin quebrantar las leyes de la moral y sin cometer un grave delito contra la humanidad? 61 61 Ibidem, p. 72. .

Ao que responde, ressoando a teoria iluminista da liberdade inata: “La sociedad tiene por principal objeto el defender este derecho natural del hombre; de modo que en qualquier aspecto en que miremos una criatura humana, ya en el estado natural, ya en el de sociedad; el privarla de su libertad personal, es un crimen, uma injusticia”. Tanto que, “este es un axioma tan evidente para qualquiera que no niegue la existencia de todo genero de deberes, que ninguno de los defensores del Tráfico en Negros se ha atrevido jamás a impugnarlo diretamente”, de maneira que “la única salida que buscan quando se ven acosados por este argumento es (¡apenas pudiera creerse!) que la esclavitud es un bien para los Negros, comparada con el estado en que se hallan en Africa”. E se fosse verdade, acrescenta o autor, “dificil seria adivinar por los principios de filosofía moral, el derecho de un hombre para apoderarse de otro, arrancarlo de su tierra, y condenarlo a esclavitud perpetua, a él y a toda su generación, solo porque a juicio del primero es mucho mejor trabajar a discreción de otro en America, que vivir libre en una choza de Africa”62 62 Ibidem, p. 75. .

Para reforçar o argumento (um dos poucos que ainda restavam depois das devastadoras críticas iluministas) de que a vida nas Américas como escravo seria melhor para o negro, em relação à que ele vivia e sua terra natal, os defensores da continuidade do tráfico afirmavam que os africanos por eles comprados já viviam como escravos na África63 63 Conforme o estudo de PONS, Op Cit., n. 560, p. 38. . Porém, Blanco, com base nas suas fontes, principalmente o viajante Mungo Parke e o historiador Thomas Clarkson, nos lembra de que já “hemos visto los medios de que se valen los Europeos y los mismos Negros a quienes emplean en estas horribles expediciones, para coger gentes de que llenar los buques”. Então, “libres y esclavos, personas que respecto al estado de Africa, son ricas y gozan de consideración entre sus mismos paysanos, hijos de gefes y reyes de aquellos pueblos, todos son envueltos frequentemente en la misma ruina”. Ou seja, “todos están en contínuo riesgo de ser arrastrados de sus casas, y sepultados en la bodega de un barco negreiro”, porque “ridículo sería el esperar que los capitanes y sobrecargos de semejantes buques entrasen en un menudo examen de la condición anterior del Negro que le presentan de venta: el precio y las condiciones personales es todo a cuánto se extiende su atención y su cálculo” 64 64 WHITE, Op Cit, p. 76. .

Quanto a isso, ainda nos esclarece o autor: mesmo que pudesse esperar pelo impossível, que os negreiros fossem carregados somente por negros já escravizados anteriormente, “de ningún modo podría compararse la miseria que se les hace sufrir arrancándolos de su pays, ni la suerte que les espera en las Colonias, el genero de esclavitud que se conoce y practica en el Africa”. Afinal, “la esclavitud Africana es solo una especie de vasallage”, na qual os escravizados não poderiam ser vendidos, a não se em caso de condenação por delito grave, e não era hereditária, o que quer dizer que seus filhos nasciam livres 65 65 Ibidem, p. 77. .

Dessa maneira, ele conclui sua argumentação: “Querer comparar semejante estado con el de los infelices que están esperando en grillos que llegue el barco, que los ha de llevar a una tierra enteramente desconocida”, onde “van a ser mirados como poco mejores que las bestias del campo, es una malignidad o un delírio”, razão pela qual “la esclavitud africana es un parayso comparada con la de las Colonias” 66 66 Ibidem, p. 78. .

Como uma das características funcionais da narrativa humanitária é estabelecer um elo “entre um infortúnio, uma vítima e um benfeitor,” para criar uma “paixão solidária” nos leitores que, assim, são solicitados a se solidarizarem, como esclarece Laquer67 67 LAQUER, Op Cit., p. 240-241. , Blanco, em uma clara manifestação de identificação com esse tipo de literatura típica da sensibilidade das Luzes, lembra a seu público que “nuestra compasión natural nace de lo que se llama sympatia; es decir, de la semejanza que hallamos entre la naturaleza y sensaciones de otra qualquier criatura con las nuestras”68 68 WHITE, Op Cit, p. 80. .

Assim, ele segue com uma crítica agressiva; uma implacável condenação dos agentes do comércio de importação de africanos, em uma longa passagem que, devido à sua precisão e condundência, vale a pena transcrever na íntegra:

Que la justicia no permite que a ningún hombre se le despoje de la propriedad de su persona, que es el origen natural de toda propriedad. Que la moral no consiente, que para cometer esta injusticia se le haga sufrir a un hombre la miseria y dolor que hemos visto ser inseparables del tráfico en esclavos. Que la moral hace responsables a los traficantes en esclavos, del número de muertes que se verifican en las guerras, y hostilidades que la compra de esclavos fomenta, y que no lo son menos de las vidas que se pierden por las enfermedades, y desesperación que el pasage por mar produce. Que la moral acusa a los traficantes en negros, del retardo que trescientos años de este horrible comercio ha producido en la civilización de Africa, y cuyo funesto influxo continuará infaliblemente hasta que los Africanos se persuadan de que no pueden sacar provecho de la venta de hombres, porque no hay quien vaya a sus costas a comprarlos. Que asi como son culpables de todas las miserias, muertes y delitos que causa el tráfico por su inmediato influjo, lo son también de todos los males que tienen que sufrir los hijos y descendientes de esos esclavos que cogen en Africa, igualmente que de las funestas resultas que algún dia debe producir en las Colonias la existencia de una multitud de hombres degradados que sienten el peso de la injusticia que los condena a un abatimiento perpetuo 69 69 Ibidem, p. 85-87. .

Essa crítica soa como eco da ideia de liberdade inata das Luzes e, além disso, reforça o argumento iluminista de que traficar africanos é uma afronta às leis da moral humana, bem como um obstáculo ao progresso da humanidade, motivo pelo qual tal prática não mais poderia ser tolerada em países civilizados.

Na sequência, o autor tenta persuadir o leitor de que o comércio negreiro era também uma má política. Tanto que “es esto tan evidente (…) que sus protectores no se atreven a defenderlo ilimitadamente, ni a pedir a sus Gobiernos que les mantengan el privilegio para siempre,” pois “todos los argumentos políticos, que se atreven a usar, están reducidos a que se les debe permitir traer Negros de Africa hasta que hayan llenado pretensión, las haciendas a su satisfacción” 70 70 Ibidem, p. 88-89. .

Esse pedido “para que las cortes tengan compasión de la Havana y le concedan el privilegio de colmar la medida de sus delitos contra la humanidad” está sustentado no argumento de que a população escrava cubana era pequena (p. 94). Ora, questiona o autor, (com base nos dados disponibilizados pelo Fith Report of the African Institution) como poderia ser pequena se mais de 110 mil negros foram importados por Cuba entre 1789 e 1810?71 71 Ibidem, p. 99.

E aí está, segundo ele, o que há de mau, em termos políticos, na continuação de importar africanos. Quanto mais esses indivíduos fossem importados, maior seria a dependência deles, porque sempre que eles não mais estivessem aptos ao trabalho ou morresem, mais deles teriam que ser trazidos por “este abominable comercio”72 72 Ibidem, p. 97. , perpetuando a escravidão nas colônias e a tragédia humana aos que a ela estavam submetidos.

Por isso, propõe uma política de reprodução natural, complementada pelo mercado local de escravos, já que sua visão de abolição da escravidão era gradual, por esgotamento. Afinal, os iluministas espanhóis não eram revolucionários, e sim reformistas, o que quer dizer que não defendiam mudanças radicais, a qualquer preço73 73 ARAÚJO, ARAÚJO, Gracineia dos Santos. Luces y sombras en el Siglo de las luces español. Estudios Literários, n. 30, v. 2, pp. 270-294, 2015, p. 283. .

Assim, em sintonia com as novas propostas de administração dos grandes plantéis de escravos surgidas na segunda metade do Século das Luzes74 74 Que apresenta um conjunto de práticas inovadoras para presevar a força de trabalho escravo, conforme mostra MARQUESE, Rafael de Bivar. Feitores do corpo, missionários da mente. São Paulo: Cia das Leteras, 2004, na segunda parte de seu estudo, especialmente nas p. 87-256. , Blanco gasta longas páginas a mostrar ao seu público que os fazendeiros consideravam mais fácil, rápido e barato repor sua escravaria por novas importações. Porque o custo colonial (quer dizer, o conjunto dos gastos de capital diretos e indiretos com as atividades econômicas das colônias), do qual a mão de obra escravizada consumia montante considerável, aumentaria mais do que gostariam os proprietários de grandes plantações, como os de Cuba, se eles prescindissem da importação de negros.

Sobre a preferência dos proprietários pelo tráfico, uma questão de custo-benefício, ele nos esclarece:

La esclava preñada y parida (dice la Representación) es inútil muchos meses, y en este largo periodo de inacción su alimento debe ser mayor y de mejor calidad. Esta privación de trabajo y aumento de costo en la madre sale del bolsillo del amo. De él salen también los largos y las más veces estériles gastos del mismo recien nacido, y a esto se unen los riesgos que se corren en las vidas de madre y hijo, y todo forma un desembolso de tanta consideración para el dueño, que el Negro que ha nacido en casa, ha costado mas quando puede trabajar y que el que de igual edad se compra aqui en pública feria. De aqui se infiere que de parte de los amos no hay ni puede haber interés en promover los partos de sus esclavas (p. 101-2).

“El cálculo es ciego y inhumano” (p. 105), julga o autor: desumano pelas razões já apresentadas (pois é contrário à humanidade). E cego, porque os defensores do tráfico não conseguiam vislumbrar um problema, o da segurança social, o da ameaça de revoltas de grandes proporções, inerente a uma sociedade composta, em sua esmagadora maioria, por escravos, que a experiência já havia mostrado, tão perto de Cuba e há tão pouco tempo, o quanto elas poderiam ser perigosas (como a que havia ocorrido no Haiti entre 1791 e 1804).

Para explicar isso aos seus leitores, ele discorre sobre o carácter, a moral, dos escravos. A escravidão degradava os africanos e seus descendentes, não somente por ser contrária ao direito à liberdade de todos os seres humanos, mas também pelo seu cortejo de horrores constituído por tantas negligências, como as da saúde, e tantos maus tratos, como os castigos. Consequentemente, essa situação tende a despertar a rebeldia nas pessoas a ela submetidas, aumentando de tal maneira as tensões sociais, que estas poderiam, a qualquer momento, gerar graves perturbações à ordem social. Nas palavras do autor, “el abatimiento de la clase de esclavos y libertos lo es de una perversidad de corazón, que los dispone a la crueldad, y venganza”, tanto que “la experiencia confirma lo que la razón recela sobre este punto”, pois “la Havana tiene en Santo Domingo el exemplo de lo que le amenaza”, de forma que “el único remedio y preservativo que le queda, es cortar el funesto origen del mal que está para oprimirla”75 75 WHITE, Op Cit, p. 111. . Ou seja, acabar de uma vez por todas com o tráfico, o que, além de diminuir a possibilidade de se repetir em Cuba a experiência hatiana, “ira progresivamente introduciendo los assalariados”, a começar pelos “muchos libertos que ahora pasan el tiempo en una ociosidad corrompida” e igualmente perigosa para a conservação da ordem pública 76 76 Ibidem, p. 113. .

Assim, Blanco encerra sua argumentação sobre o quanto o tráfico é contrário a uma boa política, para começar outra na qual mostra como essa modalidade comercial é, acima de tudo, uma ofensa às leis de Deus.

Desde a Antiguidade, há um conjunto de postulados que justificam a escravidão: resultado de um pecado, imperfeição moral ou natural, modelo de submissão para a necessária ordem social, ponto de partida para uma virada existencial - tal como a dos hebreus que se libertaram do cativeiro e conquistaram a terra prometida, conforme nos mostra Davis. Foi daí que, quando o trabalho escravo foi revigorado a partir da colonização das Américas, explica o mesmo autor, os cristãos buscaram as bases para conciliar sua fé em Cristo e a escravização, adapatando tal conciliação à sua época e aos seus interesses77 77 DAVIS, Op Cit., 2001, p. 109. .

Todas essas concepções foram reunidas na fundamentação da forma como predominantemente senhores, letrados e intelectuais, interpretaram a escravidão no tempo da colonização, para garantir mão de obra farta e barata sem pesar suas consciências. Para eles, os negros eram infiés (uma degradação moral), e sua escravização seria o preço a pagar pela purificação de suas almas no purgatório dos cativeiros do Novo Mundo78 78 Um dos intelectuais coloniais que melhor expressou essa interpretação foi o Padre Vieira, em seus Sermões, principalmente os dedicados aos escravos associados à Irmandade do Rosário, como mostrou VAINFAS, Ronaldo. Ideologia e escravidão. Petrópolis, Vozes: 1986, p. 125-129. .

Quando a escravidão começou a ser desmatelada, com a crítica ao comércio que a abastecia, aos poucos, os intelectuais da Ilustração foram mostrando o quanto essa forma de organização da produção era incompatível com o cristianismo. Em sintonia com eles, Blanco, tentando afetar a sensibilidade religiosa de seus leitores, argumenta: “Si aun resta alguna especie de respeto a la moral pura y benéfica del Evangelio, difícil será que se lean lo que antecede sin indignación y dolor”. Uma dor que não caberia em um coração cristão, conhecedor da Palavra de Deus, sobretudo no Novo Testamento, e das mensagens de seu Filho disseminadas pelos evangelistas, cujo “examen nos servirá como de una demonstración práctica de lo imposible que es conciliar la profesión del Cristianismo con el tráfico en esclavos” 79 79 WHITE, Op Cit, p. 115-116. .

Isso porque, contrariando a ideia de que a escravidão era o custo da libertação da alma dos negros, divulgada principalmente pelos jesuítas nas colônias, ele afirma que “la propagación del Cristianismo es un bien, (...) pero no es principio menos fundamental de la moral Cristiana, que no se puede hacer mal con objeto de que resulten bienes” para persuadir que “quién haya leido el bosquexo de la historia del tráfico condene su continuación como un pecado gravíssimo”. Pois, “decir que el Cristianismo debe propagarse a costa de las guerras, desolaciones, robos, y homicidios que el tráfico produce en Africa: a costa de la desesperación, suicidios, y muertes que causa el pasage por mar a la America”, enfim, “decir que todo esto lo aprueba el Cristianismo, porque algunas de estas victimas recibirán el bautismo, es un verdadero insulto a la religión que profesamos”. Então, “como pues, podría el Cristianismo aprobar el abysmo de delitos que son inseparables de las expediciones para esclavizar Negros, y sus consequencias escandalosas después de esclavizados, solo porque algunos de ellos se catequizan en la colonias?”80 80 Ibidem, p. 120-121. .

E, mesmo que fosse aceitável perder a liberdade do corpo pela libertação da alma, os senhores, de modo geral, se muito cumpriam os rituais exteriores da cristianização dos seus escravos (como o batismo), e mesmo que tivessem o zelo de cristianizá-los, o modo como são tratados não incentiva a nenhum deles a aceitarem uma religião de pessoas que lhes causam tantos sofrimentos. Assim, questiona o autor, “qual puede ser la mejora que la profesión exterior del Cristianismo puede causar en aquellos infelices agoviados con el peso de las aflicciones y tormentos que les causan los Cristianos?”81 81 Ibidem, p. 125. .

Com essas palavras, Blanco procura “excitar el zelo de los Españoles amantes de su religión, contra un abuso que ocasiona mas ofensas del cielo que acaso ningún otro de quantos atraen su indignación sobre los hombres”, uma vez que “el tráfico que causa tantas muertes, tantos robos, tantos tormentos a criaturas humanas”, ele é um dos “delitos más horribles y infames que el Cristianismo condena” desde seus fundadores, como São Paulo, cuja Epístola I a Timoteo (c. 1, v. 9 e 10) abertatamente coloca entre a classe dos mais bárbaros criminosos os “apresadores de hombres” (p. 127-128) 82 82 Ibidem, p. 127-128. .

Ao final de Bosquexo, o autor reafirma sua estratégia literária para comover seus leitores, para aguçar-lhes a consciência moral, inpirar-lhes a boa política e tocar-lhes o sentimento cristão, a fim de lhes atrair para a causa da abolição do tráfico, ao tentar estabelecer uma ligação entre eles e as vítimas deste tipo de comércio - o comércio de sangue, como ele o definiu:

Pongase cada qual en el lugar de estos infelices, figúrese que vive en un pays donde todos los que sean mas fuertes que él, pueden apresarlo quando quieran, que si él es capaz de defenderse, no lo son su mujer, ni sus hijos; que su casa puede ser incendiada de noche, y que su familia puede ser cautivada de dia; imaginese el que esto lea, en semejante estado, y vea si cada respiración no debe ser un gemido en tan infeliz situación83 83 Ibidem, p. 132-133. .

Em seguida, crítica, pela última vez, os traficantes de escravos que, para ele, deveriam se contentar “con que la humanidade, encubriendose los ojos, les abandone las victimas que ya han sido conducidas á las Colonias”. Finaliza com mais uma exortação aos seus concidadaõs, “Hombres sensibles, Españoles generosos!”, aos quais apela para acabar com o “cúmulo de miserias que presenta el tráfico de esclavos”. Diz ele: “Cerrad la puerta al aumento de esclavos por importación, (…) el mayor de quantos males prácticos ha conocido el mundo” como um “comercio de sangre”84 84 Ibidem, p. 139-141. , para que, em “nombre de la nación Española,” não permita mais, “sob vuestra bandera (…) esos cargamentos de dolor y de lagrimas que atraviesan todos los dias el océano”. Ouçam “los gemidos de esos pobres Africanos”, em cujas “venas la misma sangre que en las vuestras: el dolor que arranca sus gemidos, no es de otra naturaleza que el vuestro, iguales a las vuestras, las lagrimas que vierten sus ojos”85 85 Ibidem, p. 142-143. .

8. Considerações finais

Bosquexo expressa a assimilação tardia de ideias filantrópicas iluministas, que circulavam na Europa havia tempo, por grande parte dos intelectuais espanhóis86 86 Segundo: RAMOS, op cit, 2009, p. 13-14; BARRIENTOS, BARRIENTOS, Joaquím Alvarez. Literatura y escritores durante la Guerra de la Independencia. In: RECIO, Luis Miguel Enciso; et al. La nación recobrada. La España de 1808 y Castilla y Léon. Valladolid: Junta de Léon y Castilla/Caja Duero, 2009, pp. 205-215. 2009, p. 212-213; MARAVALL, José Antonio. Estudios de la historia del pensamento español (siglo XVIII). Madrid: Mondadori, 1991; PARODY, Francisco Sánchez-Blanco. Europa y el pensamento español del Siglo XVIII. Madrid: Alianza, 1991. . Como uma obra ilustrada, ela é mais um exemplo do empenho dos escritores sintonizados com a missão, que os expoentes das Luzes se atribuíram, de melhorar a condição humana, varrendo do mundo as suas injustiças e crueldades.

Fiel a esse afã missionário, seu autor engajou-se no combate ao tráfico de africanos, descrevendo, comoventemente, a trágica realidade dos indivíduos privados de sua liberdade pelos agentes dessa atividade comercial, por meio de uma técnica literária conhecida como narrativa humanitária, para provocar a compaixão dos leitores e, assim, sensibilizá-los a apoiar a sua causa abolicionista.

Isso ocorreu em um momento em que a importação de escravos começava a atingir novo auge, impulsionado pelo que Tomish batizou de segunda escravidão87 87 TOMICH, Dale W. The politics and of the second slavery. Albany: New York University, Press, 2016, p. 1-24. , processo de reestruturação e reforço dessa forma de exploração do trabalho para atender às demandas de mão de obra de alguns espaços coloniais, ou ex-coloniais, americanos em franco crescimento econômico.

Esse processo, e a bem-sucedida articulação dos defensores da continuidade do tráfico, conseguiram adiar a sua extinção, apesar de forte pressão contrária, particularmente a intelectual, da qual José Maria Blanco é um dos mais marcantes exemplos devido à inovação estilística da linguagem que empregou para expor seus argumentos.

Assim, ao empregar um novo estilo literário na arena do combate abolicionista, utilizando as técnicas da narrativa humanitária na elaboração de seu Bosquexo, ele pode ser considerado autor de uma das mais importantes obras que compuseram os elos da corrente ilustrada que, como um eco da razão e da humanidade, lutou contra uma das mais dramáticas formas de degradação da condição humana já registradas na história.

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  • WILBERFORCE, William. letter on the abolition of the slave trade Londres, Cadelland W. Davies, 1807.
  • 5
    A quantidade de escravos importados para a América e Brasil é informada por vários autores. Entre eles KLEIN, Herbert S. O tráfico de escravos no Atlântico. Ribeirão Preto, FUNPEC, 2004, p. 166; e FLORENTINO, Manolo. Em costas negras. São Paulo, Cia. das Letras, 1997, p. 23.
  • 6
    Em Londres, o autor recebeu o apelido de Blanco-White, razão pela qual ele foi identificado em seu livro da maneira como segue: WHITE, Joseph Blanco. Bosquexo del en esclavos y reflexiones sobre este tráfico considerado moral, política e cristianamente. Londres: impreso por Ellerton e Henderson, 1814.
  • 7
    RECIO, Luis Miguel Enciso et al. La nación recobrada. La España de 1808 y Castilla y Léon. Valladolid: Junta de Léon y Castilla/Caja Duero, 2009, p. 19.
  • 8
    RAMOS, Antonio Cascales. Blanco-White, el rebelde ilustrado. Sevilha: Centro de Estudos Andaluces, 2009.
  • 9
    O resumo da bibliografia acima elaborado foi feito com base em GOYTISOLO, Juan. Blanco White, ‘El Español’ y la independencia de América. Madrid: Ediciones Taurus, 2010; RAMOS, Antonio Cascales. Blanco-White, el rebelde ilustrado. Sevilha: Centro de Estudos Andaluces, 2009; ALONSO, Manuel Moreno. Divina libertad: la aventura liberal de Don José María Blanco White, 1808-1824. Sevilla: Ediciones Alfar, 2002; LÓPEZ, Fernando Durán. José María Blanco White, o, La conciencia errante. Sevilla: Fundación José Manuel Lara, 2005; MURPHY, Martin. Blanco White: Self-banished Spaniard. New Haven: Yale University Press, 1989; BEJARANO, Mario Méndez , Vida y obras de D. José M.ª Blanco y Crespo (Blanco-White). Madrid: Tip. de la Revista de archivos, bibliotecas y museos, 1921.
  • 10
    DIDEROT, Denis; D’ALEMBERT Jean. Encyclopédie ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et métiers. 2. ed., Lucques, Chez Vicent Giuntini, Tome VIII, 1766, p. 285.
  • 11
    WILBERFORCE, William. letter on the abolition of the slave trade. Londres, Cadelland W. Davies, 1807.
  • 12
    Entre elas, o relato de viagem de PARK, Mungo Travels in the Interior Districts of Africa: Performed Under the Direction and Patronage of the African Association, in the Years 1795, 1796, and 1797. London, W. Bulmer and Company, 1799; e livro do historiador CLARKSON, Thomas. The history of the rise, progress and accomplishment of the abolition of the slave trade by the British Parliament. Philadelphia: James P.Parke, 1808.
  • 13
    LAQUER, Thomas W. Corpos, detalhes e narrativas humanitárias. In: HUNT, Lynn. A nova história cultural. São Paulo: Martins Fontes, p. 239-277, 1992, p. 239-241. Essa técnica literária é expressão intelectual da revolução sentimental, ou afloramento das emoções, que vinha ocorrendo na Europa, particularmente na França, após o impacto da obra Les passions de l’âme (1649), de René Descartes, e da situação histórica caracterizada por uma crise da consciência europeia conforme análise de HAZARD, Paul. O pensamento europeu no século XVIII. Lisboa: Editorial Presença, 2015, quando novas formas de percepção da vida social que estão na base do filantropismo iluminista começaram a se desenvolver, de acordo com o estudo de DEJEAN, Joan. Antigos e modernos: as guerras culturais e a construção de um fin de siècle. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005, especialmente cap. 3, p. 119-175.
  • 14
    MENDES, Luís Antônio de Oliveira. Memória a respeito dos escravos e tráfico da escravatura entre a Costa d’Africa e o Brasil. In: Memórias económicas da Academia das Ciências de Lisboa (1789-1815). Reedição dirigida por José Luís Cardoso. Lisboa, tomo IV, Banco de Portugal, 1991, p. 31-32.
  • 15
    SKINNER, Quentin. As Fundações do Pensamento Político Moderno. São Paulo, Cia das Letras, 1996 e TULLY, James. Meaning and context: Quentin Skinner and his critics. Cambridge: Polity Press, 1988. Não pretendo fazer exatamente o que esse autor fez, e sim utilizar seu método para mostrar que o texto de Blanco é uma resposta a um problema do contexto histórico no qual ele escreveu seu libelo contra o tráfico, e que a forma que ele deu ao seu texto está fundamentada em um novo tipo de técnica literária da qual ele se apropriou para escrevê-lo.
  • 16
    TOMISH, Dale W. Pelo prisma da escravidão: trabalho, capital e economia mundial. São Paulo: Edusp, 2011, p. 83.
  • 17
    Conforme mostram ao longo de seus estudos GUSDORF, Georges. Dieu, la nature, l’homme au siécle des lumiéres. Paris, Payot, 1972; e HAZARD, Paul, Op Cit.
  • 18
    Conforme mostrou ARMESTO, Felipe Fernandez. Do you think you’ re human: a brief history of humankind. Oxford: Oxford University Press, 2004, ao longo do seu estudo dedicado à historicidade do conceito de humanidade.
  • 19
    Conforme mostra, entre outros, DAVIS, David Brion. O problema da escravidão na cultura ocidental. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 446-465.
  • 20
    MONTESQUIEU, Do espírito das leis. Trad. Jean Melville. São Paulo: Martin Claret, 2007, respectivamente p. 249, p. 251 e p. 254.
  • 21
    FERRER, Ada: Cuban Slavery and Atlantic Antislavery. Review (Fernand Braudel Center) v. 31, n. 3, p. 267-296, 2008, p. 280-282.
  • 22
    MARQUESE, Rafael de Bivar, PARRON, Tâmis e BERBEL, Márcia. Escravidão e politica: Brasil and Cuba, 1790 - 1850. São Paulo: Hucitec, 2010, p. 116-121.
  • 23
    FERRER, Op Cit., p. 290 e MARQUESE et al, Op Cit., p. 127.
  • 24
    SIQUEIRA, Francisca Pereira. Abolicionismo inglês e francês (1787-1833) em perspectiva comparada. Revista de História Comparada, v. 12, n. 2, 2018, p. 35-64, 2018, p. 50.
  • 25
    Não é a intenção desta pesquisa discutir o impacto do ideário abolicionista na sociedade espanhola e hispoanoamericana. Para os leitores interessados nisso, seguem a refererência de alguns autores que o fizeram: ALVARADO, J. El régimen de legislación especial para ultramar y la cuestión abolicionista en España durante el siglo XIX, In: GONZÁLEZ, Maria del Refugio (ed.) La supervivencia del derecho español en Hispanoamérica durante la época independiente. UNAM: Mexico City, 1998; BREÑA, Roberto. ‘Jose María Blanco White y la independencia de América: ¿una postura proamericana?’. Historia Constitucional, n. 3, p. 1-17, 2002; CRAWLEY, Charles William. French and English Influences in the Cortes of Cadiz, 1810-1814. Cambridge Historical Journal, v 6, n. 2, 1939, p. 176-208; GARCÍA, Albert. Antislavery before Abolitionism. Networks and Motives in Early Liberal Barcelona, 1833-1844. In: FRADERA, Josep. M.; NOWARA, Christopher Schmidt (eds.) Slavery and Antislavery in Spain’s Atlantic Empire. Berghahn: New York, p. 229-255, 2013; SANJURJO, Jesús. Comerciar con la sangre de nuestros hermanos: Early Abolitionist Discourses in Spain’s Empire. Bulletin of Latin American Research, v. 38, n. 4: p. 393-340, 2019, doi: https/doi.org/10.1111/blar.12746.
  • 26
    TUDARES, 1983, p. 13-16 e GÓMEZ, Rocio Periañez. La introdución de los negros por La frontera extremeña y su distribuición posterior. In: CASARES, Aurelia Martins y BARRANCO, Margarida García (orgs.). La escavitud negroafricana en la historia de España, siglos XVI e XVII. Granada: Editorial Comares, 2010.
  • 27
    SANTOS, Op Cit.; HERRADÓN, Op Cit.; SURWILLO, Op Cit.; BERQUIST, Op Cit.; MARQUESE et al, Op cit.; GALLEGO, Op Cit.; ALONSO, Op Cit.
  • 28
    BLADS, Luis Perdice; GOROSTIZA, José Luis Ramos. Blanco White, Spanish America and economic affairs: the slave trade and colonial trade. In: History of Political Economic, v. 46, n. 4, p. 573-608, 2014; NOWARA, Christopher Schmidt. Wilberforce spanished: Joseph Blanco White and the Spanish antislavery, 1808-1814. In: FRADERA, Joseph ; NOWARA, Christopher Schmidt;. Slavery and antislavery Spain’ Atlantic empire. Berghahan Books, 2013, p. 158 - 175; ALMEIDA, Joselyn M. Joseph (José) Blanco White’s Bosquexo del comercio en esclavos: British Abolition, Translation, and the Cosmopolitan Imagination. Bulletin for Spanish and Portuguese, v. 37, 2012ALMEIDA, Joselyn M. Joseph (José) Blanco White’s Bosquexo del comercio en esclavos: British Abolition, Translation, and the Cosmopolitan Imagination. Bulletin for Spanish and Portuguese, v. 37, 2012.; VILAR, Enriqueta Vila. El Abolicionismo de José M. Blanco White. Separata de: Actas del VII Congreso Internacional de Historia de América. Zaragoza, 1998, p. 1993-2000; PONS, Andre. Blanco White abolicionista. Cuadernos Hispanoamericanos, n. 559, 1997; Ibidem, n. 560 e Ibidem, n. 561; VILAR, Enriqueta Vila “Intelectuales españoles ante el problema esclavista”. Anuario de estudios americanos, n. 43, p. 201-214, 1986; e Idem “La esclavitud americana en la política española del siglo XIX”. Anuario de estudios americanos, n. 34, p. 563-588, 1977.
  • 29
    Debate ocorrido entre 1550 e 1551 no Colégio de São Gregório de Valladolid, motivado pela controvérsia originada em torno da questão sobre a natureza dos povos subjulgados pelos espanhóis durante a colonização do Novo Mundo, a partir da qual Bartolomé de las Casas e Juan Ginés de Sepúlveda confrontaram argumentos para elucidar dúvidas como: se os índios têm alma e se são seres livres ou escravos naturais.
  • 30
    PONS, Op Cit., n. 561, p. 147.
  • 31
    A esse respeito os seguintes textos são bastante esclarecedores: KNIGHT, 2003 e SANDERLIN, 1992.
  • 32
    Por exemplo, VILAR, Op Cit., 1998; BERQUIST, Op Cit.; e NOWARA, Op Cit.
  • 33
    LAQUER, Op Cit., p. 239-241.
  • 34
    DIDEROT, Op Cit., p. 285.
  • 35
    Sobre os fundamentos do Iluminismo e as novas formas do pensamento e práticas humanas ilustradas, esse texto está apoiado, entre outros, em CASSIRER, 1994; FOUCAULT, 2003; GAY, 1977; GUSDORF, 1972; HAZARD, Op Cit.
  • 36
    DAVIS, David Brion.The problem of slavery in the age of revolution (1770-1823). New York, Ithaca, 1976.
  • 37
    EHRARD, Jean et al. Abolitions de l’esclavage. Vincennes: Presses Universitaires de Vincennes, 1995.
  • 38
    MONTESQUIEU, Op Cit., respectivamente p. 249, p. 251 e p. 254.
  • 39
    DAVIS, Op Cit., p. 452.
  • 40
    WHITE, Op Cit, p. III.
  • 41
    MARQUESE et al, Op Cit., p. 119-121.
  • 42
    WHITE, Op Cit, respectivamente p. IV e 13.
  • 43
    Ibidem, p. 4-5.
  • 44
    Ibidem, p. 9.
  • 45
    Ibidem, p. 17.
  • 46
    FLORENTINO, Op Cit., p. 100-101.
  • 47
    WHITE, Op Cit, p. 14.
  • 48
    Ibidem, p. 22-23.
  • 49
    Ibidem, p. 25.
  • 50
    PONS, Op Cit., n. 560, p. 38.
  • 51
    WHITE, Op Cit, p. 30.
  • 52
    Ibidem, p. 43.
  • 53
    Ibidem, p. 47-48.
  • 54
    Ibidem, p. 59.
  • 55
    Ibidem, p. 60-61.
  • 56
    Ibidem, p. 61-62.
  • 57
    Ibidem, p. 63.
  • 58
    Ibidem, p. 68.
  • 59
    Ibidem, p. 69.
  • 60
    Ibidem, p. 71
  • 61
    Ibidem, p. 72.
  • 62
    Ibidem, p. 75.
  • 63
    Conforme o estudo de PONS, Op Cit., n. 560, p. 38.
  • 64
    WHITE, Op Cit, p. 76.
  • 65
    Ibidem, p. 77.
  • 66
    Ibidem, p. 78.
  • 67
    LAQUER, Op Cit., p. 240-241.
  • 68
    WHITE, Op Cit, p. 80.
  • 69
    Ibidem, p. 85-87.
  • 70
    Ibidem, p. 88-89.
  • 71
    Ibidem, p. 99.
  • 72
    Ibidem, p. 97.
  • 73
    ARAÚJO, ARAÚJO, Gracineia dos Santos. Luces y sombras en el Siglo de las luces español. Estudios Literários, n. 30, v. 2, pp. 270-294, 2015, p. 283.
  • 74
    Que apresenta um conjunto de práticas inovadoras para presevar a força de trabalho escravo, conforme mostra MARQUESE, Rafael de Bivar. Feitores do corpo, missionários da mente. São Paulo: Cia das Leteras, 2004, na segunda parte de seu estudo, especialmente nas p. 87-256.
  • 75
    WHITE, Op Cit, p. 111.
  • 76
    Ibidem, p. 113.
  • 77
    DAVIS, Op Cit., 2001, p. 109.
  • 78
    Um dos intelectuais coloniais que melhor expressou essa interpretação foi o Padre Vieira, em seus Sermões, principalmente os dedicados aos escravos associados à Irmandade do Rosário, como mostrou VAINFAS, Ronaldo. Ideologia e escravidão. Petrópolis, Vozes: 1986, p. 125-129.
  • 79
    WHITE, Op Cit, p. 115-116.
  • 80
    Ibidem, p. 120-121.
  • 81
    Ibidem, p. 125.
  • 82
    Ibidem, p. 127-128.
  • 83
    Ibidem, p. 132-133.
  • 84
    Ibidem, p. 139-141.
  • 85
    Ibidem, p. 142-143.
  • 86
    Segundo: RAMOS, op cit, 2009, p. 13-14; BARRIENTOS, BARRIENTOS, Joaquím Alvarez. Literatura y escritores durante la Guerra de la Independencia. In: RECIO, Luis Miguel Enciso; et al. La nación recobrada. La España de 1808 y Castilla y Léon. Valladolid: Junta de Léon y Castilla/Caja Duero, 2009, pp. 205-215. 2009, p. 212-213; MARAVALL, José Antonio. Estudios de la historia del pensamento español (siglo XVIII). Madrid: Mondadori, 1991; PARODY, Francisco Sánchez-Blanco. Europa y el pensamento español del Siglo XVIII. Madrid: Alianza, 1991.
  • 87
    TOMICH, Dale W. The politics and of the second slavery. Albany: New York University, Press, 2016, p. 1-24.
  • 3
    Desdobramento dos resultados de pesquisa desenvolvida na Universidade de Granada, com o apoio do Programa de Mobilidade de professores brasileiros na Espanha da Fundación Carolina.
  • 4
    Portanto, trata-se de um estudo sobre uma técnica literária, a narrativa humanitária, e sua possibilidade de ter sido usada para dar forma a textos críticos à continuidade do tráfico atlântico de africanos, criada pela situação histórica inaugurada pela emergência do abolicionismo, tendo como referência conceitual o texto de Laquer (1992) e como arcabouço metodológico o texto de Skinner (1996).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Ago 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    01 Nov 2020
  • Aceito
    31 Jul 2021
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