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ALMANACK: DE GUARULHOS PARA O MUNDO

Às vésperas de completar 13 anos (2011-2024), a Almanack se consolida como uma das revistas de referência para historiadores do longo século XIX, que se debruçam sobre assuntos que perpassam as fronteiras do Brasil e da América Latina. Nesse período, a revista nascida em Guarulhos, a partir da antiga Almanack Braziliense (2005-2010), cresceu e se transformou, acompanhando as mudanças nas formas de produção e de disseminação do conhecimento histórico. Mais ainda, o periódico ampliou seu compromisso com a diversidade e a democratização do acesso aos autores e aos conteúdos publicados5 5 Para um panorama da revista nos últimos dez anos ver: Costa; Machado, 2021. .

A Almanack, além de contar com acadêmicos de diferentes universidades nacionais e internacionais em seu corpo editorial, tem o apoio da Sociedade para o Estudo do Oitocentos (SEO). A participação e o auxílio institucional permanente de uma associação de historiadores dedicados ao século XIX honra as origens da revista, remontando ao encontro dos centros “Brasil e Temas” e do “Centro para o Estudo do Oitocentos”, dirigidos por István Jancsó e José Murilo de Carvalho respectivamente. Esse vínculo privilegiado permite a organização conjunta de iniciativas intelectuais de produção e divulgação da história do oitocentos, potencializando a qualidade e a difusão dos resultados das pesquisas. Com tal parceria e suporte, a Almanack se consolida como o periódico de referência para a comunidade de estudiosos do oitocentos, congregando acadêmicos das mais variadas instituições e localidades. Ademais, vale destacar que o compromisso com a diversidade institucional não fica atrás do comprometimento com a internacionalização da revista.

Desde sua fundação, a Almanack nunca mudou sua prioridade com o rigor e a qualidade dos conteúdos publicados, fruto disso, foi a recente inclusão da revista no seleto grupo de periódicos brasileiros de História merecedores do selo Capes Qualis A1. Em grande parte, devido à visão e ao comprometimento do grupo fundador, a Almanack chega a uma nova fase, com seu editorial liderado por acadêmicos fora do Brasil, mas sempre ancorada em suas origens. Agora a revista desbrava as fronteiras do conhecimento histórico por meio de uma equipe e de conteúdos globais.

Em tempos de rápidas e profundas transformações na forma de produção e disseminação do conhecimento histórico, a Almanack se destaca pela diversidade de vozes, geografias e temas publicados, engajando os principais debates sobre o extenso século XIX, na América Latina e no mundo. Em suas páginas, publicaram historiadores de todos os continentes, com exceção da Oceania (e Antártida), contribuindo e influenciando debates regionais, nacionais e internacionais. Quando falamos em publicações de autores de diversas geografias, não falamos apenas de diferentes nacionalidades, mas também da publicação em diferentes idiomas e, principalmente, de temas e debates que transpassam as fronteiras nacionais. A produção historiográfica que aparece em suas páginas oferece diferentes perspectivas e debates interconectados, colocando em diálogo diferentes tradições historiográficas, trazendo aos nossos leitores artigos e resenhas que ofertam pontos de vista e métodos inovadores. A Almanack, enquanto revista temática, afirma-se como um fórum para a interação entre historiadores de diferentes países, perspectivas teórico-metodológicas e temáticas de investigação acerca do longo século XIX. A Almanack não apenas publica artigos sobre o oitocentos, como também é um espaço para os debates mais gerais, que transformam o campo historiográfico, consolidando o periódico como uma referência obrigatória aos estudantes da área.

O compromisso com o rigor acadêmico e a qualidade é acompanhado por esforços para a democratização e internacionalização da forma de produção do conhecimento histórico. Dessa forma, a Almanack optou por aderir aos critérios e diretrizes da Ciência Aberta (Open Science)6 6 Ver: https://periodicos.unifesp.br/index.php/alm/issue/view/879. , um movimento global que busca tornar o conhecimento científico acessível a todos e estimular internacionalmente a cooperação e interação de acadêmicos e curiosos. Tal paradigma é apoiado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que define o Ciência Aberta como “uma construção inclusiva que combina vários movimentos e práticas com o objetivo de tornar o conhecimento científico multilíngue disponível abertamente, acessível e reutilizável para todos, para aumentar as colaborações científicas e o compartilhamento de informações para o benefício da ciência e da sociedade, e para abrir os processos de criação de conhecimento científico, avaliação e comunicação aos atores sociais além da comunidade científica tradicional”7 7 Unesco, 2023. . Tais princípios sempre nortearam os objetivos da Almanack, sobretudo, o compromisso com a diversificação institucional e a internacionalização.

Nesse sentido, em 2022, publicamos um texto produzido pelos editores das revistas brasileiras de história reunidos no Fórum de Editores de Periódicos da Associação Nacional de História (Anpuh-BrasilANPUH-BRASIL. Nota do Fórum de Editores de periódicos da ANPUH-Brasil: por uma política de valorização das Revistas acadêmicas na área de História. Outros tempos, 7 jan. 2022. Disponível em:<Disponível em:https://outrostempos.uema.br/index.php/outros_tempos_uema/ announcement/view/26 >. Acesso em: 24 nov. 2023.
https://outrostempos.uema.br/index.php/o...
), em que se mencionava a preocupação com a função das revistas acadêmicas da área, à luz da pouca circulação e consumo de artigos científicos por parte dos pesquisadores e professores. A esse respeito, questionavam-se: “será que lemos e acompanhamos os artigos que saem nos periódicos, ao menos, nas áreas de nossas especialidades? A resposta parece ser não, o que pode indicar uma certa distorção: apesar de ser um elemento altamente valorizado na avaliação dos programas de pós-graduação, e envolver um grande trabalho de avaliação e edição por parte das equipes editoriais de periódicos, sua inserção no cotidiano do pesquisador em História não parece ser central”8 8 Anpuh-Brasil, 2022. Grifos nossos. . Esta análise adicionava outro elemento: o escasso reconhecimento do trabalho editorial em nosso meio tanto entre os colegas quanto nos espaços institucionais.

A tarefa que se inicia no momento em que o pesquisador deposita seu escrito no Open Journal Systems (sistema OJS) da revista e conclui com sua publicação requer um processo árduo que envolve a avaliação por pares - vale ressaltar que conseguir avaliadores é uma tarefa cada vez mais difícil, uma vez que essa atividade é voluntária e gratuita - em que ocorrem correções e leituras dos textos a serem publicados. Além disso, a falta de recursos financeiros para sustentar as publicações periódicas incide de modo conclusivo no trabalho editorial. Conscientes desse diagnóstico, nós, que integramos a equipe editorial da Almanack, reafirmamos a importância de nos mantermos como uma publicação aberta, sobretudo, por considerá-la a única forma de democratizar o conhecimento. Sabemos que o desafio e o compromisso das revistas científico-acadêmicas que optaram por seguir uma política de ciência aberta, tal qual a Almanack, é sustentar, de forma gratuita e ao longo do tempo, a comunicação dos avanços do conhecimento à comunidade científica. Mais ainda, afirmamos um propósito de estabelecer pontes, a longo prazo, com diferentes sistemas de conhecimento e diferentes setores sociais9 9 Oliveira, 2019; Beigel, 2022. .

A Almanack conta pela primeira vez, e de forma pioneira entre as revistas de ponta no Brasil, com os editores chefes baseados fora do Brasil, Valentina Ayrolo (Universidad Nacional de Mar del Plata) e Fabrício Prado (College of William & Mary). Mantendo sua tradição de diversidade institucional, a revista tem em seu corpo editorial acadêmicos de 19 universidades diferentes do Brasil, América Latina, América do Norte e Europa. Atingir esse grau de internacionalização só foi possível devido à visão dos fundadores do periódico, que construíram uma estrutura alicerçada no suporte financeiro e institucional, o que permitiu contar com acadêmicos do mundo todo em postos chaves de sua editoria.

Também é importante destacar a visão pioneira de historiadores como: Wilma Peres Costa, João Paulo Garrido Pimenta, Lucia Bastos Pereira das Neves, André Machado, Cecília Helena de Salles Oliveira, Jaime Rodrigues, Maria Elisa Noronha de Sá Mäder, Maria Luiza Ferreira de Oliveira, Cláudia Maria das Graças Chaves, Petrônio Domingues, entre outros, que não apenas acreditaram no projeto e no potencial da revista, como criaram as condições para a revista ultrapassar as fronteiras nacionais. Tal bastião de suporte institucional é exemplificado na figura Andréa Slemian, editora executiva chefe, que garante as gestões e agências necessárias para a manutenção e expansão da estrutura que permite os voos intelectuais da Almanack.

Com novos editores e visando ampliar mais ainda os horizontes da revista, nosso compromisso e desafio para os próximos anos é continuar incluindo a Almanack nas temáticas e nos debates atuais do campo da História. Por isso, além de continuar relembrando e celebrando efemérides com ajuda de novos pontos de vista, tais quais os bicentenários da Constituição de 1824 e da Confederação do Equador; nossa agenda de trabalho levará em consideração as novas formas de comunicar conteúdos, e também de gerá-los, considerando para isso as transformações da história digital. Além disso, propomos abordar áreas consideradas clássicas, por exemplo a economia, que, a partir das mudanças espaciais e materiais, foram revitalizadas. O gênero e as políticas de memória também se inserem no leque temático que propomos dar ênfase.

Prestes a completar 13 anos, a Almanack não está ingressando na adolescência, mas sim consolidando sua maturidade intelectual e institucional, fato que a coloca no mais alto patamar dos periódicos temáticos internacionais, como a revista francesa Revue du XIX e Siécle, a inglesa Nations and Nationalism e a estadounidense Journal of the Early Republic. É com entusiasmo e renovada curiosidade intelectual que vemos o futuro a frente da Almanack, estimulando o nosso editorial a caminhar em sua direção por meio do rigor acadêmico, do diálogo para além das fronteiras nacionais, do compromisso com a diversidade de perspectivas e do debate acadêmico marcados pelos ideais democráticos em intercâmbio com a sociedade para quem produzimos o conhecimento. Esperamos levar a Almanack a voos ainda mais altos, partindo de Guarulhos para o mundo.

Bibliografia

  • 5
    Para um panorama da revista nos últimos dez anos ver: Costa; Machado, 2021.
  • 6
    Ver: https://periodicos.unifesp.br/index.php/alm/issue/view/879.
  • 7
    Unesco, 2023.
  • 8
    Anpuh-Brasil, 2022. Grifos nossos.
  • 9
    Oliveira, 2019; Beigel, 2022BEIGEL, Fernanda. El proyecto de ciencia abierta en un mundo desigual. Relaciones Internacionales, Madrid, n. 50, p. 163-181, 2022. Disponível em:https://doi.org/10.15366/relacionesinternacionales2022.50.008. Acesso em: 22 nov. 2023.
    https://doi.org/10.15366/relacionesinter...
    .

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Dez 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    21 Nov 2023
  • Aceito
    22 Nov 2023
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