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O ALMANACK, A HISTÓRIA PÚBLICA E OS PÚBLICOS DA HISTÓRIA

The Almanack, the public history and history publics

Resumo

O artigo oferece um breve panorama das publicações promovidas pelo Almanack no blog Brasil: Bicentenário das Independências, à luz de algumas considerações sobre a produção do conhecimento histórico no Brasil, a formação dos profissionais da história e a divulgação científica, chamando atenção para o problema da escrita para diferentes públicos.

Palavras-chave:
Blog Brasil: Bicentenário das Independências; história pública; escrita da história

Abstract

The article offers a brief overview of the publications promoted by Almanack on the blog Brasil: Bicentenario das Independências, in the light of some considerations about the production of historical knowledge in Brazil, the training of history professionals, the and scientific dissemination, drawing attention to the problem of writing for different audiences.

Keywords:
Blog Brasil: Bicentenário das Independências; public history; history writing

Dada a oportunidade de comentar as ações da revista Almanack por ocasião do Bicentenário da Independência, proponho pensar na contribuição do periódico para a chamada história pública, procurando refletir sobre o problema da divulgação científica na área de história.

Este texto está organizado em dois momentos. No primeiro, são feitas breves considerações quanto à produção do conhecimento histórico no Brasil, a formação dos profissionais da história e a divulgação científica, chamando atenção para o problema da escrita para diferentes públicos. No segundo, apresenta-se uma síntese das publicações promovidas pela parceria entre a Associação Nacional de História (ANPUH), a Sociedade de Estudos do Oitocentos (SEO) e a revista Almanack no blog Brasil: Bicentenário das Independências.

Sobre a produção de conhecimento histórico e a formação dos profissionais de história, sabemos o quanto a historiografia brasileira se desenvolveu na segunda metade do século XX, especialmente após a década de 1980. Observamos a expansão dos cursos superiores e da pós-graduação, o aumento do número de publicações, inclusive periódicas, revelando notável vigor acadêmico. Notamos, inclusive, a variedade crescente dos temas de pesquisa e o aprofundamento das especialidades. Isso ocorreu em meio a avanços e recuos no financiamento público das humanidades. A existência de uma revista como a Almanack, um dos poucos periódicos temáticos brasileiros especializado na história da formação do Estado Nacional entre os séculos XVIII e XIX, particularmente no Brasil e na América Ibérica, serve como exemplo da expansão da investigação histórica e do aprofundamento das subáreas de pesquisa.

Quanto à formação dos profissionais de história, desde a criação dos primeiros cursos superiores da área nos anos 1930 - quando a preocupação principal era a formação de docentes para atender à crescente demanda das escolas - até a afirmação da necessidade de formar quadros para o ensino superior e incentivar a pesquisa histórica, verifica-se a construção de uma espécie de modelo de treinamento dos profissionais da história, que valoriza a pesquisa em arquivos e o rigor metodológico, bem como a indissociabilidade entre ensino e pesquisa. Por um lado, porque a formação do historiador segue a ordem disciplinar que, desde o século XIX, definiu os parâmetros de uma prática que consiste na busca, na seleção, no exercício de uma leitura crítica e no aprendizado de uma escrita referenciada. Por outro lado, porque a formação do professor, para além do aprendizado teórico e prático relacionado às disciplinas pedagógicas, também é nutrida pelo aprendizado teórico e metodológico da pesquisa histórica, necessários para pensar historicamente. Esse processo de aprendizado, que forma o pesquisador-professor ou o professor-pesquisador, ainda que estabeleça como uma de suas exigências a prática da escrita e a produção textual, não necessariamente dá lugar a uma reflexão sobre o que fazemos quando escrevemos história. Por vezes, nós, historiadores e professores de história dos cursos superiores, eclipsamos a narrativa ou a reduzimos ao relato descritivo ou a um exercício de contextualização, que nem sempre é orientado por um problema ou nem sempre dá lugar a uma reflexão acerca das implicações éticas daquilo que escrevemos ou, dito de outro modo, sobre as implicações éticas do modo como usamos palavras, categorias e conceitos, ou ainda, sobre o modo como controlamos ou domesticamos o tempo ao narrar.

O fato é que, nos cursos superiores de história, o aprendizado da escrita é quase naturalizado, estimulado pelas avaliações e pelos trabalhos de conclusão de curso, bem como pela elaboração de fichamentos, resumos, resenhas e projetos. Chamo atenção para esse aspecto da escrita em nossa formação disciplinada, sobretudo, por supor que essa prática é parte essencial do nosso trabalho de comunicar, ainda que nem sempre os historiadores estejam atentos aos problemas da linguagem e da comunicação. Nesse ponto, é importante chamar atenção para um tema que, cada vez mais, parece interessar os profissionais da história, que é a divulgação do conhecimento produzido.

A operação historiográfica fundada no tripé do lugar social, das práticas e do texto remete ao problema da difusão do conhecimento. O conhecimento histórico legível e, graças aos meios audiovisuais e digitais, cada vez mais audível e visível, ainda tem no texto um produto fundamental, que todo aprendiz de historiador ou profissional da história deve produzir e submeter ao escrutínio dos pares. É o texto dado a ler, submetido à leitura crítica dos outros historiadores, que ainda orienta a produção do conhecimento histórico acadêmico. Texto em formato pré-determinado, que deve atender às exigências de um público muito específico, composto por pares. Por isso, cabe indagar: como produzir outros tipos de texto para alcançar públicos mais amplos? Essa produção textual para públicos diversificados pode ou deve ser objeto de preocupação dos cursos superiores, pode ou deve ser ensinada?

Segundo Bruno Leal Pastor de Carvalho e Ana Paula Tavares Teixeira, os historiadores não são protagonistas na divulgação de história hoje. Eles apresentam duas hipóteses para explicar esse fato: em primeiro lugar, argumentam que a divulgação da história para o grande público poucas vezes foi tomada como prioridade por historiadores, centros de pesquisa, departamentos e programas de pós-graduação em história; em segundo, defendem que é preciso levar em conta os impactos do paradigma digital no meio historiográfico, que alterou os mecanismos de consagração e autoridade, de modo que erudição, títulos, docência, pesquisa ou vínculo institucional não necessariamente garantem prestígio, credibilidade e autoridade ao produtor do discurso3 3 Carvalho; Teixeira, 2019. .

Concordando com Carvalho e Teixeira, penso que a história institucionalizada ou disciplinada foi bem-sucedida no plano escolar, na pesquisa e na montagem de um circuito de comunicação destinado aos pares, composto por eventos acadêmicos e publicações, sobretudo livros e artigos acadêmicos. Porém, a divulgação ao grande público, com algumas exceções, ficou a cargo de profissionais de outras áreas. Leal e Tavares também sugerem que esse desinteresse pela divulgação talvez se explique pela existência de uma certa desconfiança do processo de popularização da história, tido por muitos como capaz de enfraquecer o rigor científico4 4 Ibidem. . E isso teria contribuído para que os problemas da narrativa ficassem em segundo plano na produção historiográfica.

Passando a outro ponto, quanto à contribuição da revista Almanack para a história pública, por ocasião do bicentenário da Independência do Brasil, em 2022, chamo atenção para os 58 textos publicados no blog Brasil: Bicentenário das Independências5 5 Com o objetivo de reduzir o tamanho das notas, indico aqui o link do blog em que todos os textos comentados estão disponíveis na data de 18 de outubro de 2023. Nas demais notas informarei somente o nome do(a) autor(a), o título do texto e a data da publicação. Ver: https://www.historiaaberta.com/blog-das-independencias. . São textos sobre temas variados que oferecem ao público, em formato de síntese e com linguagem relativamente simples e didática, um conjunto de reflexões sobre as independências do Brasil. Os autores abordam aspectos e personagens conhecidos e menos conhecidos dos eventos que marcaram o processo de transformação do Reino Unido de Portugal e Algarves em Brasil independente, por vezes construindo pontes com temas e problemas atuais.

O primeiro texto divulgado recoloca a questão de saber se houve ou não uma independência do Brasil, explicando, em forma de síntese, a complexidade do processo que envolveu diversos agentes. Outros quatro textos abordam o problema do reconhecimento da nova monarquia por parte dos Estados Unidos, da Inglaterra, das repúblicas latino-americanas então recém-criadas e de Portugal. Um quarto texto analisa a “guerra de independência” do “Brasil” no “Uruguai”, apresentando uma breve história dos acontecimentos políticos que envolveram diferentes atores do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e do Reino Unido dos Braganças, resultando na criação do Estado Cisplatino Oriental ou Província Cisplatina6 6 Cf.: Pimenta, 2022; Fitz, 2022; Guimarães, 2022; Prado, 2022; Santos, 2022; Ferreira, 2022. .

As guerras de independência também são tema dos artigos que investigam as alternativas à centralização monárquica no Rio de Janeiro e as ideias republicanas, evidenciadas pela Revolução de 1817, em Pernambuco. O artigo de Heloisa Starling, por exemplo, chama atenção para a “Pedrosada”, única matriz do republicanismo no ciclo revolucionário da independência que integrou os africanos à ideia de república7 7 Cf.: Carvalho, 2022; Starling, 2022. .

As discussões acerca do perfil da monarquia e os significados políticos da inclusão de um Poder Moderador na Constituição de 1824 são tema de outro artigo. Além disso, o papel estratégico da Amazônia, antigo Grão-Pará, no início do século XIX, é analisado no texto que discorre sobre a política externa lusitana e os laços criados em meio a luta contra os franceses na região e o comércio de madeiras, necessário à construção naval em um contexto de guerra. Outro texto analisa a participação das câmaras municipais mineiras na independência8 8 Cf.: Oliveira, 2022; Ricci, 2022; Florindo, 2022. .

Por sua vez, três textos colocam em xeque o mito da independência pacífica, enquanto outro defende a hipótese de que as possibilidades de uma revolução violenta, nos moldes daquela ocorrida no Haiti, foram neutralizadas no Brasil9 9 Cf.: Araújo, 2022; Machado, 2022; Winter, 2022; Marquese, 2022. .

Outro tipo de violência, relacionada ao ódio contra os portugueses, é tema de dois artigos. Ambos analisam o processo de ruptura com a identidade portuguesa e a construção da identidade brasileira10 10 Cf.: Lima, 2022; Ribeiro, 2022. .

Apenas um artigo analisa as imagens produzidas no contexto da independência e sua relação com as culturas políticas da época. Uma delas é o Pano de Boca do Teatro da Corte, pintado sob encomenda pelo francês Jean-Baptiste Debret, por ocasião da Coroação do Imperador D. Pedro I. A autora identifica uma série de referências visuais da França revolucionária, além das figuras de populares, que aludem às ações de homens negros na defesa da cidadania dos libertos na Assembleia Constitucional Francesa. Trata-se da encenação imagética de um contrato político e cívico entre o governo imperial e os sujeitos de cor, sendo notável a ausência da figura de D. Pedro I. Outras imagens são consideradas e permitem observar os investimentos na construção do retrato do novo imperador e das autoridades políticas da corte, em que é possível perceber a valorização das aptidões liberais e das habilidades letradas, compondo uma retratística que exalta a virtude cívica da moderação e a meritocracia11 11 Schiavinatto, 2022. .

Um aspecto importante no contexto em questão diz respeito à circulação de ideias e informações. Esse é o tema de três artigos. Um deles aborda as crises políticas nas Américas portuguesa e espanhola e as ideias de independência que cruzaram fronteiras. Outro analisa as ações de espionagem e contraespionagem durante a independência do Brasil e, por fim, um terceiro artigo analisa a “guerra de palavras” presente nos folhetos, panfletos, jornais e pasquins, ampliando o debate de ideias e o público ao difundir, de forma didática, novos conceitos e valores12 12 Cf.: Bastos, 2022; Comissoli, 2022; Neves, 2022. .

Também encontramos artigos que iluminam o contexto da independência, contando um pouco da história da presença francesa no Brasil na primeira metade do século XIX, destacando sua contribuição para a disseminação da cultura do café e da escravidão; da história da educação na década de 1820, considerando as estratégias que permitiam que os não livres tivessem algum acesso à escolarização; do processo de reelaboração das heranças do império português após a independência, repercutindo na construção da língua brasileira; e ainda, um artigo que coloca questões sobre as línguas e identidades africanas na época da independência, estimulado por estudos sobre a diáspora africana que utilizam a linguística histórica13 13 Cf.: Costa, 2022; Pinheiro; Cury, 2022; Lima, 2022; Hertzman, 2022. .

Aspectos relacionados à economia e ao trabalho também foram contemplados. Um dos textos trata da construção das estradas com uso de trabalho compulsório no Brasil do início do século XIX, evidenciando a relação entre abrir caminhos e disseminar valores e expectativas sobre a formação da nova monarquia. Já a dimensão econômica do processo de independência é objeto do texto que analisa as demandas das elites locais no Ceará no contexto da Revolução do Porto e na análise do endividamento do Brasil no contexto da independência, evidenciando a fragilidade financeira e fiscal do Império em seus primórdios, tema de outro texto14 14 Cf.: Cravo, 2022; Araújo, 2022; Chaves, 2022. .

Outros historiadores e historiadoras analisam os significados do 7 de setembro no contexto da década de 1820. Tendo em vista o I Centenário, em 1922, um dos artigos investiga as iniciativas do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), tais quais, a realização do I Congresso Internacional de História da América e a publicação do Dicionário Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil (1922-2923); por sua vez, outro artigo comenta sobre a articulação entre a identidade nacional e o futebol; 100 anos depois, em 1972, durante a Ditadura Civil-Militar e, mais recentemente, durante o governo Bolsonaro. A cada conjuntura, a efeméride foi retomada e ressignificada. Por fim, o modo como a independência passou a fazer parte da memória cívica também é abordado pelo texto que analisa a presença do tema nos nomes das ruas das cidades do Brasil e no cinema brasileiro15 15 Cf.: Kraay, 2022; Guimarães, 2022; Silva, 2022; Cordeiro, 2022; Morais, 2022; Flores, 2022; Fittipaldi, 2022; Atique; Slemian; Natucci; Vieira, 2022; Maia, 2022. .

Outros textos tratam da atuação de agentes diversos no processo de independência, como os maçons, os bispos, os redatores de jornais e folhetos, muitos deles clérigos e advogados, além dos editores de livros e um poeta afrodescendente, Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa, autor do poema épico A independência do Brasil (1847/1855), obra com 12 cantos e mais de 12 mil versos, mais extensa que Os Lusíadas, de Camões16 16 Cf.: Barata, 2022; Santirocchi, 2022; Galves, 2022; Monteleone, 2022; Cardoso, 2022. .

Chamo atenção para os textos que lançam luz sobre a participação popular no processo de independência, bem como sobre a atuação dos afrodescendentes, dos indígenas, das mulheres e, mais especificamente, das mulheres negras. No caso do texto de Iamara Viana, a compreensão da incompletude do processo de independência ganha força quando a autora assinala que as mulheres negras, ontem como hoje, ao mesmo tempo em que continuam a sofrer todo tipo de violência, da física à simbólica, também continuam a transgredir as normas vigentes. Assim, a discussão acerca da cidadania e dos direitos das mulheres no final do século XVIII e no contexto da independência também é contemplada17 17 Cf.: Guerra Filho, 2022; Santos, 2022; Abrantes, 2022; Irffi, 2022; Silva, 2022; Hertzman, 2022; Domingues, 2022; Costa, 2022; Cancela, 2022; Kaingang, 2022; Moreira, 2022; Veiga, 2022; Viana, 2022; Slemian, 2022. .

Temos ainda uma reflexão sobre as continuidades, sobre as estruturas conservadoras relacionadas à emancipação política do Brasil e que foram preservadas ao longo do tempo. Jurandir Malerba chama atenção para essas persistências, cuja compreensão é necessária ao entendimento da fundação e perpetuação do agronegócio, com ênfase na produção de commodities, sustentada pelo controle da terra, o trabalho coercitivo e a monocultura desde o século XVI18 18 Malerba, 2022. .

A iniciativa do Almanack não deixa dúvida de que o bicentenário da Independência é um momento estimulante para pensarmos sobre como o Brasil chegou a ser o que ele é e como os mitos sobre sua história foram fabricados e reforçados ao longo do tempo.

E as diferentes temporalidades que atravessam a independência do Brasil e sua importância para o presente são problemas enfrentados por Rodrigo Turin19 19 Turin, 2022. . Seu texto trata do processo de homogeneização do tempo da nação, marcado por hierarquias, exclusões e assimetrias, refletindo quanto às diferentes formas como o passado se faz presente. Mais exatamente, o autor propõe uma reflexão sobre como o passado fundante da nossa ordem político-social, caso da independência, repercute na contemporaneidade. Trata-se de um duplo exercício e que resume bem a proposta do blog: entender o modo como esse passado fundante da nacionalidade ainda nos constitui e, ao mesmo tempo, as formas como nós constituímos esse passado. Por isso, segundo Turin, é tão importante entender como esse evento criou realidades que ainda nos afetam - como o Estado-nação e a ideia de povo brasileiro. Criou também uma certa forma de conceber o tempo, que deveria ser capaz de orientar e legitimar uma certa ideia de Estado e de sociedade. E a disciplina história serviu a esse propósito como uma das “tecnologias de sincronização nacional”, conforme a explicação do autor. Tecnologia de sincronização capaz de situar diferentes sujeitos, espacialmente distintos, em um mesmo tempo. Isso permitiu, em alguma medida, que esses sujeitos se reconhecessem em um mesmo presente como herdeiros de um mesmo passado e construtores de um mesmo futuro. Mas isso não ocorreu sem disputas, como evidenciam os artigos publicados.

O blog oferece exemplos dessas disputas, que hoje assumem a forma de objeto historiográfico, mas que também expressam a presença e a vitalidade dos tempos repetidamente apagados em nome da sincronização nacional. Esses outros tempos são marcados pelo compasso das lutas de hoje - refiro-me às lutas dos movimentos negro e feministas, dos povos originários (indígenas e quilombolas) e dos LGBTQIAP+, e que não se apresentam como meros apêndices identitários para uma história compreendida como monocultura temporal, uniformizadora e normativa dotada de um sentido linear.

Por fim, mas não menos importante, um dos textos registra o resgate de obras raras sobre o processo de independência do Brasil, produzidas por ocasião do centenário da Independência, em 1922. Essas obras faziam parte do acervo da Biblioteca Central Gabriela Mistral, em Petrópolis, estado do Rio de Janeiro, e foram danificadas durante uma enchente ocorrida em 202220 20 Monteiro, 2022. . O trabalho dos servidores e voluntários, incluindo o autor do texto, chama atenção para a importância dos acervos, que fazem parte da memória do centenário e servem como fontes para os estudos históricos.

É difícil medir a repercussão desses e de outros textos, sejam eles impressos ou digitais. O número de visitas à página do blog varia conforme o texto e não diz tudo sobre a recepção, não informa sobre a leitura, por exemplo. O total de compartilhamentos de cada texto indica a existência de interesse pela temática e/ou pelo autor do texto.

Já os comentários, embora sejam poucos ou nulos, dizem alguma coisa acerca do público leitor e a partir deles é possível deduzir que alguns leitores são alunos, que encontram boa síntese nos textos do professor especialista, ao passo que outros são professores e manifestam a possibilidade de usar os textos na escola, talvez como apoio para suas aulas. Esses leitores-professores, egressos dos cursos superiores, atuam como generalistas na escola e necessitam de materiais capazes de sintetizar diversos conteúdos da matéria ensinada, com os quais precisam lidar no dia a dia da escola. Por vezes recorrem aos livros didáticos, quando há. E, às vezes, podem recorrer a textos escritos por especialistas, que colocam questões de maneira resumida e didática e, ao mesmo tempo, complexa, procurando indicar problemas, questões e personagens que podem servir como estímulo para aprofundar o estudo dos conteúdos escolares, assim como, para incentivar novas leituras e pesquisas.

Concluindo e retornando ao início, ao problema da linguagem e da comunicação com públicos-leitores diversos e ao aprendizado dessa comunicação por meio do exercício de escrever em diferentes formatos (do trabalho de conclusão de curso à tese de doutorado, passando pelos resumos, resenhas e artigos, até os textos para blogs) e, mais que isso, pelo exercício de escrever para diferentes públicos (pares, alunos e público leigo), é possível identificar diferentes recursos mobilizados pelos autores dos textos do blog da Almanack. Listo alguns: o texto panorâmico, que explica as múltiplas dimensões de um processo; o texto mais descritivo, que apresenta exemplos extraídos das fontes para fundamentar um argumento principal; o texto biográfico que apresenta a trajetória de indivíduos ou grupos; e o texto ensaístico semelhante ao texto de opinião. Em comum, observo que todos eles procuram estabelecer a relação entre passado e presente e talvez seja esse movimento que permite abrir a ponte para públicos mais amplos, mostrando como o passado ainda nos constitui e, ao mesmo tempo, como esse passado pode ser constituído. O tamanho limitado, em linguagem simples e direta, assim como o uso de imagens ilustrativas e subtítulos que resumem o assunto tratado são recursos úteis para atrair o leitor. Até mesmo a informação sobre o tempo a ser utilizado para a leitura de cada texto é um recurso que pode incentivar o leitor a não sair da página sem ler. E o mais importante: são textos que permitem relativizar aquela escrita da história utilizada para sincronizar o passado nacional. Assim, o blog da revista Almanack abriu a possibilidade de experimentar tipos diferentes de texto, que contribuem para a divulgação científica e para a construção de um público-leitor mais amplo.

  • 3
    Carvalho; Teixeira, 2019.
  • 4
    Ibidem.
  • 5
    Com o objetivo de reduzir o tamanho das notas, indico aqui o link do blog em que todos os textos comentados estão disponíveis na data de 18 de outubro de 2023. Nas demais notas informarei somente o nome do(a) autor(a), o título do texto e a data da publicação. Ver: https://www.historiaaberta.com/blog-das-independencias.
  • 6
    Cf.: Pimenta, 2022; Fitz, 2022; Guimarães, 2022; Prado, 2022; Santos, 2022; Ferreira, 2022.
  • 7
    Cf.: Carvalho, 2022; Starling, 2022.
  • 8
    Cf.: Oliveira, 2022; Ricci, 2022; Florindo, 2022.
  • 9
    Cf.: Araújo, 2022ARAÚJO, Johny Santana de. A guerra que sacudiu o norte do Brasil. História Aberta, [s. l.], 29 ago. 2022. Disponível em:Disponível em:https://www.historiaaberta.com/post/a-guerra-que-sacudiu-o-norte-do-brasil . Acesso em: 1 nov. 2023.
    https://www.historiaaberta.com/post/a-gu...
    ; Machado, 2022; Winter, 2022; Marquese, 2022.
  • 10
    Cf.: Lima, 2022; Ribeiro, 2022.
  • 11
    Schiavinatto, 2022.
  • 12
    Cf.: Bastos, 2022; Comissoli, 2022; Neves, 2022.
  • 13
    Cf.: Costa, 2022; Pinheiro; Cury, 2022; Lima, 2022; Hertzman, 2022.
  • 14
    Cf.: Cravo, 2022; Araújo, 2022; Chaves, 2022.
  • 15
    Cf.: Kraay, 2022; Guimarães, 2022; Silva, 2022; Cordeiro, 2022; Morais, 2022; Flores, 2022; Fittipaldi, 2022; Atique; Slemian; Natucci; Vieira, 2022; Maia, 2022.
  • 16
    Cf.: Barata, 2022; Santirocchi, 2022; Galves, 2022; Monteleone, 2022; Cardoso, 2022.
  • 17
    Cf.: Guerra Filho, 2022; Santos, 2022; Abrantes, 2022; Irffi, 2022; Silva, 2022; Hertzman, 2022; Domingues, 2022; Costa, 2022; Cancela, 2022; Kaingang, 2022; Moreira, 2022; Veiga, 2022; Viana, 2022; Slemian, 2022.
  • 18
    Malerba, 2022.
  • 19
    Turin, 2022.
  • 20
    Monteiro, 2022.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Dez 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    19 Out 2023
  • Aceito
    20 Out 2023
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