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O gênero Pythium no Parque Estadual da Serra da Cantareira, estado de São Paulo, Brasil

The genus Pythium from "Parque Estadual da Serra da Cantareira", São Paulo state, Brazil

Resumos

Durante o período de junho de 2005 a junho de 2006 foram coletadas trimestralmente, no Parque Estadual da Serra da Cantareira, amostras de água e solo para o levantamento das espécies do gênero Pythium. As amostras coletadas foram iscadas, em laboratório, com substratos celulósicos, quitinosos e queratinosos. Foram identificadas seis espécies, as quais são primeira citação para o Parque: Pythium dissotocum Drechsler, P. echinulatum Matthews, P. middletonii Sparrow, P. rostratum Butler, P. torulosum Coker & Patterson e P. vexans de Bary.

biodiversidade; Mata Atlântica; Oomicetos


To study the species of the genus Pythium, water and soil samples were collected, every three months, from June/2005 to June/2006, in the "Parque Estadual da Serra da Cantareira". The samples were baited, in the laboratory, with celulosic, quitinous and keratinous substrates, to isolate these organisms. Six species were identified and mentioned for the first time for this area: Pythium dissotocum Drechsler, P. echinulatum Matthews, P. middletonii Sparrow, P. rostratum Butler, P. torulosum Coker & Patterson and P. vexans de Bary.

Atlantic Rainforest; biodiversity; Oomycetes


O gênero Pythium no Parque Estadual da Serra da Cantareira, estado de São Paulo, Brasil1 1 Parte da dissertação de mestrado da primeira autora

The genus Pythium from "Parque Estadual da Serra da Cantareira", São Paulo state, Brazil

Maria Luiza de Miranda* * Autor para correspondência: mluizamiran@yahoo.com.br ; Carmen Lidia Amorim Pires Zottarelli

Instituto de Botânica, Seção de Micologia e Liquenologia, Caixa Postal 3005, 01061-970 São Paulo, SP, Brasil

RESUMO

Durante o período de junho de 2005 a junho de 2006 foram coletadas trimestralmente, no Parque Estadual da Serra da Cantareira, amostras de água e solo para o levantamento das espécies do gênero Pythium. As amostras coletadas foram iscadas, em laboratório, com substratos celulósicos, quitinosos e queratinosos. Foram identificadas seis espécies, as quais são primeira citação para o Parque: Pythium dissotocum Drechsler, P. echinulatum Matthews, P. middletonii Sparrow, P. rostratum Butler, P. torulosum Coker & Patterson e P. vexans de Bary.

Palavras-chave: biodiversidade, Mata Atlântica, Oomicetos

ABSTRACT

To study the species of the genus Pythium, water and soil samples were collected, every three months, from June/2005 to June/2006, in the "Parque Estadual da Serra da Cantareira". The samples were baited, in the laboratory, with celulosic, quitinous and keratinous substrates, to isolate these organisms. Six species were identified and mentioned for the first time for this area: Pythium dissotocum Drechsler, P. echinulatum Matthews, P. middletonii Sparrow, P. rostratum Butler, P. torulosum Coker & Patterson and P. vexans de Bary.

Key words: Atlantic Rainforest, biodiversity, Oomycetes

Introdução

Segundo Kirk et al. (2001), o gênero Pythium Pringsheim possui 127 espécies conhecidas, de distribuição cosmopolita, sapróbias em ecossistemas terrestres e aquáticos e/ou parasitas, muitas fitopatogênicas, as quais causam sérios problemas em plantas de interesse econômico, como a podridão de frutos, raízes e caules, tombamento de mudas e podridão de sementes em pré e pós-emergência ("damping off"). Pythium insidiosum de Cock, Mendoza, Padhye, Ajello & Kaufman se destaca por ser uma espécie extremamente patogênica em eqüinos, bovinos, caprinos, cães, gatos e para o homem (Alexopoulos et al. 1996), cuja ocorrência também é registrada no Brasil (Santurio et al. 1998, Leal et al. 2001, Sallis et al. 2003, Rech et al. 2004, Bosco et al. 2005). Por outro lado, Pythium oligandrum Drechsler atua como hiperparasita de outros fungos, possuindo um importante papel no controle biológico (Alexopoulos et al. 1996).

O gênero Pythium está inserido no Reino Chromista (Stramenopila, Straminipila), Filo Oomycota, Classe Oomycetes, Ordem Pythiales, Família Pythiaceae (Kirk et al. 2001). Estudos sobre esse gênero em áreas de Mata Atlântica do Estado de São Paulo foram iniciados por Viégas e Teixeira (1943), Joffily (1947) e Carvalho (1965), todos estes com enfoque fitopatológico. Estudos visando o levantamento da diversidade de Oomycota foram realizados por Beneke & Rogers (1962) e Rogers et al. (1970) e, mais recentemente, estudos mais abrangentes foram realizados por Pires-Zottarelli et al. (1995) e Pires-Zottarelli & Rocha (2007) no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI); por Pires-Zottarelli (1999) na região de Cubatão; por Rocha & Pires-Zottarelli (2002), na Represa do Guarapiranga e por Gomes (2006) e Gomes & Pires-Zottarelli (2006) na Reserva Biológica de Paranapiacaba. Para o Parque Estadual da Serra da Cantareira não existiam relatos do gênero, tendo sido objetivo do presente estudo, realizar o levantamento de seus representantes na área em questão.

Material e métodos

O Parque Estadual da Serra da Cantareira (23º32'36"S e 46º37'59"W) constitui um importante fragmento de Mata Atlântica, com aproximadamente 7.916 hectares, o qual abrange parte dos municípios de São Paulo, Caieiras, Mairiporã e Guarulhos. O Parque, sob jurisdição do Instituto Florestal do Estado de São Paulo, faz parte do cinturão verde da cidade de São Paulo (Rocha & Costa 1998, Secretaria do Meio Ambiente 1998), e está dividido em quatro núcleos: Águas Claras, Cabuçu, Pedra Grande e Engordador, sendo este último o local escolhido para o estudo.

Para o levantamento do gênero Pythium do Parque, foram realizadas coletas trimestrais de amostras de água e solo (35 amostras de cada compartimento), no período de junho de 2005 a junho de 2006, sendo as amostras submetidas ao método de iscagem múltipla, descrito em Milanez (1989), o qual consiste na colocação de substratos celulósicos, queratinosos e quitinosos nas amostras em laboratório. Os isolados obtidos foram purificados em meio de cultura específico (CMA - "Corn Meal Agar"), acrescido de estreptomicina, penicilina e vancomicina (Carvalho & Milanez 1989, modificado). A identificação das espécies foi realizada com auxílio de literatura específica (Matthews 1931, Frezzi 1956, Sparrow 1960, Plaats-Niterink 1981) e artigos contendo as descrições originais. Os espécimes identificados foram ilustrados por meio de câmara-clara acoplada à microscópio Leica.

A preservação dos espécimes foi feita em frascos "Wheaton" com água destilada e esterilizada em câmara fria, segundo metodologia descrita em Milanez (1989); pelo método de Castellani (Figueiredo & Pimentel 1975) e em tubos de ensaio com meio de cultura mantidos na Coleção de Culturas de Fungos do Instituto de Botânica (SPC). Os espécimes que apresentaram dificuldade de crescimento em meio de cultivo foram incorporados ao Herbário Científico do Estado "Maria Eneyda P. Kauffmann Fidalgo" (SP), em lâminas semipermanentes com azul de algodão e lactofenol.

Resultados e Discussão

Foram identificadas seis espécies, Pythium dissotocum Drechsler, P. echinulatum Matthews, P. middletonii Sparrow, P. rostratum Butler, P. torulosum Coker & Patterson e P. vexans de Bary, as quais são primeiras citações para o Parque e são aqui descritas, comentadas e ilustradas.

Pythium Pringsheim

Talo monóico ou dióico. Micélio delicado, freqüentemente com dilatações hifálicas. Zoosporângios geralmente presentes, filamentosos, esféricos, raramente piriformes, ocasionalmente com proliferação interna. Zoósporos, quando presentes, completando sua maturação dentro de uma vesícula evanescente formada no ápice do tubo de descarga do zoosporângio. Oogônios esféricos, ovais ou elipsoidais, parede lisa ou ornamentada. Anterídios ausentes ou presentes, ramos anteridiais monóclinos, díclinos e/ou hipóginos, alguns sésseis. Oósporos pleróticos ou apleróticos, geralmente 1 por oogônio (Sparrow 1960, Plaats-Niterink 1981).

Chave para espécies de Pythium isoladas no Parque Estadual da Serra da Cantareira 1. Zoosporângios esféricos 2. Zoosporângios com proliferação interna ................................. P. middletonii 2. Zoosporângios sem proliferação interna 3. Parede oogonial ornamentada ....................................... P. echinulatum 3. Parede oogonial lisa 4. Anterídios monóclinos ou díclinos; células anteridiais em forma
de sino ........................................................................ P. vexans 4. Anterídios monóclinos ou hipóginos; células anteridiais tubulares ou
clavadas ................................................................. P. rostratum 1. Zoosporângios filamentosos 5. Zoosporângios inflados formando complexos torulóides .............. P. torulosum 5. Zoosporângios não inflados ................................................ P. dissotocum

Pythium dissotocum

Drechsler, J. Wash. Acad. Sci. 20: 402. 1930.

Figuras 1-3


 






Micélio limitado; colônias com duas semanas em sementes de sorgo com 1,5 cm diâm. Zoosporângios filamentosos não inflados. Oogônios laterais, terminais, intercalares, raramente sésseis, esféricos, 17,5-22,5 µm diâm., alguns ovais; parede lisa; pedúnculo simples. Anterídios presentes; ramos anteridiais monóclinos, alguns díclinos, normalmente sésseis; células anteridiais simples, clavadas; tubo de fertilização presente, 1 a 2 por oogônio. Oósporos apleróticos, esféricos, 10-15 µm diâm. ou raramente ovais, 1 por oogônio; parede lisa, 2,5 µm de espessura.

Material examinado: BRASIL. São Paulo: Parque Estadual da Serra da Cantareira, sapróbio em semente de sorgo, amostra de água, 8-VI-2005, M.L. Miranda s.n. (SPC2024).

Distribuição geográfica no Brasil: São Paulo, Taubaté (Baptista 2007).

O espécime estudado apresentou oogônios e oósporos menores quando comparados com a descrição de Frezzi (1956), o qual menciona, respectivamente, 11,5-30,5 µm diâm. e 10-25,5 µm diâm. e oósporos menores que os descritos por Plaats-Niterink (1981), que cita (17-) 18-21 (-23) µm diâm. Após purificação em meio de cultura específico, o isolado tornou-se estéril, só havendo o reaparecimento das estruturas sexuais após aproximadamente um ano, fato também relatado por Frezzi (1956). A espécie foi observada pela primeira vez no Brasil por Baptista (2007), o qual a isolou de raízes sintomáticas de rúcula hidropônica, procedente da região de Taubaté, São Paulo.

Pythium echinulatum

Matthews, Studies on the Genus

Pythium

.: 101. 1931.

Figuras 4-5

Micélio em epiderme de cebola. Zoosporângios esféricos. Oogônios laterais ou intercalares, algumas vezes catenulados, esféricos, 21-30 µm diâm., raramente ovais;pedúnculosimples;paredeoogonial ornamentada, ornamentações espinhosas, 3-9 µm compr. Anterídios presentes, ramos anteridiais monóclinos, raramente díclinos; pedúnculo simples; célula anteridial simples; atracação lateral, 1 a 2 por oogônio; tubo de fertilização não observado. Oósporos apleróticos, esféricos, 15-22,5 µm diâm., 1 por oogônio.

Material examinado: BRASIL. São Paulo: Parque Estadual da Serra da Cantareira, sapróbio em epiderme de cebola, amostras de água e solo, 8-VI-2005, 21-IX-2005, 31-III-2006, M.L. Miranda s.n. (SP381887).

Distribuição geográfica no Brasil: Pernambuco, Recife (Cavalcanti 2001); Piauí, Parque Nacional de Sete Cidades, municípios de Piripiri, Brasileira e Piracuruca (Rocha et al. 2001); São Paulo, Luís Antônio (Baptista et al. 2004).

As características dos espécimes examinados concordaram com Matthews (1931), Milanez (1978), Plaats-Niterink (1981) e Baptista et al. (2004), porém, todos estes autores citam a existência de anterídios hipóginos, o que não foi verificado nos isolados examinados. Foram observados oogônios maiores do que os citados por Rocha et al. (2001), que mencionaram de 14-22 µm diâm. Os isolados estiveram presentes em epiderme de cebola, não apresentando crescimento em meio de cultura específico e, por isso, foram incorporados em lâmina no Herbário SP.

A espécie foi isolada pela primeira vez no Brasil por Cavalcanti (2001), de amostras de água e solo coletadas na "Reserva Florestal de Dois Irmãos", Estado de Pernambuco.

Pythium middletonii

Sparrow,Aquatic Phycomycetes.: 1038. 1960.

Figuras 6-11

Micélio limitado, colônias com duas semanas em semente de sorgo com 1 cm diâm. Dilatações hifálicas presentes. Zoosporângios laterais ou intercalares, esféricos, 17,5-25 µm diâm, globosos, limoniformes, 20-30 x 12,5-25 µm diâm.; com proliferação interna. Oogônios laterais, intercalares, alguns catenulados, esféricos, 17,5-25 µm diâm.; parede lisa, raramente papilada. Anterídios presentes; ramos anteridiais monóclinos, díclinos, hipóginos, alguns sésseis; 1 a 3 por oogônio; pedúnculos simples ou ramificados; células anteridiais simples; atracação apical ou lateral; tubo de fertilização presente. Oósporos apleróticos, esféricos, 15-20 µm diâm.; 1 a 2 por oogônio; parede lisa, 1-1,25 µm de espessura.

Material examinado: BRASIL. São Paulo: Parque Estadual da Serra da Cantareira, sapróbio em semente de sorgo, amostras de solo, 12-VI-2006, M.L. Miranda s.n. (SPC2125).

Distribuição geográfica no Brasil: Piauí, Parque Nacional de Sete Cidades, municípios de Piripiri, Brasileira e Piracuruca (Rocha et al. 2001); São Paulo, Cubatão (Pires-Zottarelli 1999), Pindamonhangaba (Baptista 2007).

As características do espécime estudado concordaram com Sparrow (1960), Plaats-Niterink (1981) e Rocha et al. (2001), apresentando zoosporângios menores do que os citados por Pires-Zottarelli (1999), a qual menciona 18-33(-38) µm diâm. O primeiro relato para o Brasil é de Pires-Zottarelli (1999), que isolou o material de amostras de água e solo coletadas nos Vales dos Rios Moji e Pilões, região de Cubatão, São Paulo.

Pythium rostratum

Butler, Mem. Dept. Agr. India, Bot. s. 1, 1: 84. 1907.

Figuras 12-14


 






Micélio limitado, colônias com duas semanas em semente de sorgo com 1 cm diâm. Dilatações hifálicas presentes. Zoosporângios terminais ou intercalares, esféricos, 22,5-30 µm diâm., alguns oblongos ou elipsóides. Oogônios terminais ou intercalares, ocasionalmente catenulados, esféricos, 17,5-22,5 µm diâm.; parede lisa, raramente papilada. Anterídios presentes, ramos anteridiais monóclinos, normalmente sésseis, raramente hipóginos; pedúnculo simples; células anteridiais simples ou divididas; atracação lateral ou apical; tubo de fertilização presente.

Material examinado: BRASIL. São Paulo: Parque Estadual da Serra da Cantareira, sapróbio em semente de sorgo, amostras de água e solo, 8-VI-2005, 21-IX-2005, M.L. Miranda s.n. (SPC2013).

Distribuição geográfica no Brasil: Minas Gerais, Ingaí (Oliveira, dados não publicados), Pernambuco, Caruaru (Upadhyay 1967); Piauí, Parque Nacional de Sete Cidades, municípios de Piripiri, Brasileira e Piracuruca (Rocha et al. 2001); Rio de Janeiro, Campos (Valdebenito-Sanhueza et al. 1984); São Paulo, Campinas (Joffily 1947), Jataí e Moji-Guaçu (Baptista et al. 2004), São Paulo (Silva et al. 1989).

As características dos espécimes isolados concordaram com Frezzi (1956), Plaats-Niterink (1981) e Baptista et al. (2004). Foi isolado pela primeira vez no Brasil por Joffily (1947), a partir de amostras de solo coletadas em Campinas (SP).

Pythium torulosum

Coker & P. Patt., J. Elisha Mitchell Sci. Soc. 42: 247. 1927.

Figuras 15-17

Micélio limitado; colônias com duas semanas em semente de sorgo com 1cm diâm. Dilatações hifálicas presentes. Zoosporângios filamentosos, inflados, formando complexos torulóides. Oogônios terminais ou intercalares, raramente catenulados, esféricos; 17,5-25 µm diâm.; parede lisa, raramente apiculada; pedúnculo simples. Anterídios monóclinos ou díclinos; células anteridiais simples, clavadas ou tubulares; atracação lateral ou apical; 1 a 2 por oogônio; tubo de fertilização presente. Oósporos pleróticos, ocasionalmente apleróticos, esféricos, 15-19,5 µm diâm., 1 por oogônio.

Material examinado: BRASIL. São Paulo: Parque Estadual da Serra da Cantareira, sapróbio em semente de sorgo, amostras de água, 13-XII-2005, M.L. Miranda s.n. (SPC2027).

Distribuição geográfica no Brasil: Amazonas, Manaus (Silva 2002); Distrito Federal, Brasília (Gauch & Ribeiro 1998); Minas Gerais, Ingaí (Oliveira, dados não publicados); Pernambuco, Recife (Jackisch-Matsuura & Menezes 1999, Cavalcanti 2001); São Paulo, Brotas-Itirapina (Pires-Zottarelli & Milanez 1993), Cubatão (Pires-Zottarelli 1999), Itirapina e Luís Antônio (Baptista et al. 2004), Santo André (Gomes 2006), São Paulo (Pires-Zottarelli et al. 1995, Rocha & Pires-Zottarelli 2002).

As características do isolado concordaram com Coker & Patterson (1927), Frezzi (1956), Plaats-Niterink (1981), Pires-Zottarelli (1999) e Gomes (2006). A espécie foi relatada pela primeira vez no Brasil por Pires-Zottarelli & Milanez (1993), de amostras de água e solo da Represa do Lobo ("Broa"), Brotas-Itirapina, São Paulo.

Pythium vexans

de Bary, J. Bot. Paris 14: 105. 1876.

Figuras 18-23

Micélio limitado; colônias com duas semanas em semente de sorgo com 1 cm diâm. Zoosporângios laterais, terminais ou intercalares, esféricos, 15-25 µm diâm., raramente globosos ou irregulares. Oogônios terminais, esféricos, 20-25 µm diâm.; parede lisa; pedúnculo simples. Anterídios monóclinos e díclinos, células anteridiais simples em forma de sino ou irregulares; atracação lateral e apical; 1 por oogônio; tubo de fertilização presente. Oósporos apleróticos, raramente pleróticos, esféricos, 15-20 µm diâm., parede lisa, 1,5 µm de espessura.

Material examinado: BRASIL. São Paulo: Parque Estadual da Serra da Cantareira, sapróbio em semente de sorgo, amostras de água e solo, 21-IX-2005, 12-VI-2006, M.L. Miranda s.n. (SPC2123).

Distribuição geográfica do Brasil: Pernambuco, Recife (Cavalcanti 2001); Piauí, Parque Nacional de Sete Cidades, municípios de Piripiri, Brasileira e Piracuruca (Rocha et al. 2001); Rio de Janeiro, Campos (Valdebenito-Sanhueza et al. 1984); São Paulo, Assis (Milanez 1970), Cotia (Carvalho 1965), Cubatão (Pires-Zottarelli 1999), Luís Antônio e Moji-Guaçu (Baptista et al. 2004), São Paulo (Pires-Zottarelli et al. 1995, Rocha & Pires-Zottarelli 2002).

As características dos espécimes observados concordaram com Frezzi (1956), Carvalho (1965) e Plaats-Niterink (1981); porém apresentaram zoosporângios menores do que os citados por Pires-Zottarelli et al. (1995), que relataram essa estrutura com 17-36 µm diâm. No Brasil, a espécie foi isolada pela primeira vez por Carvalho (1965), a partir de raízes apodrecidas de Strelitzia sp., na cidade de Cotia, Estado de São Paulo.

Os resultados obtidos neste estudo contribuíram para o conhecimento das espécies do gênero Pythiumdo Parque Estadual da Serra da Cantareira, bem como ampliaram o conhecimento de sua ocorrência e distribuição em áreas de Mata Atlântica do Estado de São Paulo e conseqüentemente do Brasil.

Agradecimentos

Ao Instituto Florestal, pela autorização concedida para a realização das coletas e suporte durante as mesmas; ao Instituto de Botânica, pela infra-estrutura oferecida para o desenvolvimento do trabalho e ao CNPq pelo auxílio financeiro na forma de bolsa de produtividade para a segunda autora.

Literatura citada

Recebido: 06.12.2007; aceito: 06.06.2008

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  • *
    Autor para correspondência:
  • 1
    Parte da dissertação de mestrado da primeira autora
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Maio 2013
    • Data do Fascículo
      Jun 2008

    Histórico

    • Aceito
      06 Jun 2008
    • Recebido
      06 Dez 2007
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