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Poaceae do Rodoanel Mario Covas, Trecho Sul, São Paulo, SP, Brasil: florística e potencial de uso na restauração de áreas degradadas

Poaceae of the environs of the Mario Covas ring road, São Paulo, São Paulo State, Brazil: floristics and potential use in land restoration

Resumos

Foi realizado o levantamento florístico das gramíneas nas áreas direta e indiretamente afetadas pelo Rodoanel "Mario Covas", Trecho Sul, localizado nos municípios de Mauá, São Bernardo do Campo e São Paulo, além das áreas dos plantios compensatórios em 15 municípios nos arredores da capital. Os objetivos deste trabalho foram ampliar o conhecimento sobre as Poaceae nessas regiões, identificar as espécies ameaçadas e contribuir com dados para auxiliar a restauração de áreas degradadas. A família Poaceae está representada por 62 gêneros e 160 espécies, entre nativas (125 espécies, 78,1%) e introduzidas (35, 21,9%). Cinco espécies foram consideradas ameaçadas de extinção e foram constatadas três novas ocorrências (Reimarochloa acuta, Merostachys kleinii e Sacciolepis indica) para o Estado de São Paulo. Recomenda-se que as espécies nativas pioneiras sejam mantidas na área, e também que seja feita a introdução de certas espécies nativas para o enriquecimento da biodiversidade local e controle de invasoras, de acordo com a vocação ecológica de cada espécie (espécies encontradas em áreas úmidas, paludosas, margens de matas, etc.). Sugere-se pesquisar técnicas de semeadura de espécies nativas, como uma alternativa ao uso de braquiárias e capim-gordura em taludes às margens de rodovias, cuja agressividade pode prejudicar os ambientes naturais.

espécies ameaçadas; gramíneas; novas citações


A floristic survey of the grasses was undertaken in the areas directly and indirectly affected by the Mario Covas ring road, located in the municipalities of Mauá, São Bernardo do Campo and São Paulo, plus 15 other municipalities around São Paulo city. The objectives of the survey were to increase the knowledge of the family Poaceae in these areas, to identify the different threats for the conservation of the local grass flora, and to contribute with data directed towards the restoration of degraded areas. The family is represented by 62 genera and 160 species, including 125 native species (78.1%) and 35 that were introduced (21.9%). Five species were considered threatened with extinction and three new occurrences were recorded for São Paulo State (Reimarochloa acuta, Merostachys kleinii and Sacciolepis indica). It is recommended that the pioneer species should be maintained in the area, as well as that some native species could be introduced to enrich the local biodiversity and to control the invasive species. Research projects involving direct planting of native species as an alternative to the use of Urochloa spp. and Melinis minutiflora (molasses-grass) in disturbed areas are suggested.

grasses; new citations; threatened species


ARTIGOS

Poaceae do Rodoanel Mario Covas, Trecho Sul, São Paulo, SP, Brasil: florística e potencial de uso na restauração de áreas degradadas

Poaceae of the environs of the Mario Covas ring road, São Paulo, São Paulo State, Brazil: floristics and potential use in land restoration

Regina Tomoko Shirasuna* * Autor para correspondência: regina.shirasuna@hotmail.com ; Tarciso de Sousa Filgueiras; Luiz Mauro Barbosa

Instituto de Botânica, Caixa Postal 68041, 04045-972 São Paulo, SP, Brasil

RESUMO

Foi realizado o levantamento florístico das gramíneas nas áreas direta e indiretamente afetadas pelo Rodoanel "Mario Covas", Trecho Sul, localizado nos municípios de Mauá, São Bernardo do Campo e São Paulo, além das áreas dos plantios compensatórios em 15 municípios nos arredores da capital. Os objetivos deste trabalho foram ampliar o conhecimento sobre as Poaceae nessas regiões, identificar as espécies ameaçadas e contribuir com dados para auxiliar a restauração de áreas degradadas. A família Poaceae está representada por 62 gêneros e 160 espécies, entre nativas (125 espécies, 78,1%) e introduzidas (35, 21,9%). Cinco espécies foram consideradas ameaçadas de extinção e foram constatadas três novas ocorrências (Reimarochloa acuta, Merostachys kleinii e Sacciolepis indica) para o Estado de São Paulo. Recomenda-se que as espécies nativas pioneiras sejam mantidas na área, e também que seja feita a introdução de certas espécies nativas para o enriquecimento da biodiversidade local e controle de invasoras, de acordo com a vocação ecológica de cada espécie (espécies encontradas em áreas úmidas, paludosas, margens de matas, etc.). Sugere-se pesquisar técnicas de semeadura de espécies nativas, como uma alternativa ao uso de braquiárias e capim-gordura em taludes às margens de rodovias, cuja agressividade pode prejudicar os ambientes naturais.

Palavras-chave: espécies ameaçadas, gramíneas, novas citações

ABSTRACT

A floristic survey of the grasses was undertaken in the areas directly and indirectly affected by the Mario Covas ring road, located in the municipalities of Mauá, São Bernardo do Campo and São Paulo, plus 15 other municipalities around São Paulo city. The objectives of the survey were to increase the knowledge of the family Poaceae in these areas, to identify the different threats for the conservation of the local grass flora, and to contribute with data directed towards the restoration of degraded areas. The family is represented by 62 genera and 160 species, including 125 native species (78.1%) and 35 that were introduced (21.9%). Five species were considered threatened with extinction and three new occurrences were recorded for São Paulo State (Reimarochloa acuta, Merostachys kleinii and Sacciolepis indica). It is recommended that the pioneer species should be maintained in the area, as well as that some native species could be introduced to enrich the local biodiversity and to control the invasive species. Research projects involving direct planting of native species as an alternative to the use of Urochloa spp. and Melinis minutiflora (molasses-grass) in disturbed areas are suggested.

Key words: grasses, new citations, threatened species

Introdução

O "Rodoanel Mario Covas" é uma das maiores obras viárias do Governo do Estado de São Paulo. O plano original previu a construção de 177 km de extensão, interligando dez rodovias: Anchieta, Anhanguera, Ayrton Senna, Bandeirantes, Castelo Branco, Dutra, Fernão Dias, Imigrantes, Raposo Tavares e Régis Bittencourt, que dão acesso ao interior e litoral do Estado, na tentativa de desafogar o trânsito nas principais avenidas da capital. O primeiro trecho concluído foi o oeste, com 32 km de extensão, entregue em outubro de 2002, interligando cinco rodovias: Anhanguera, Bandeirantes, Castelo Branco, Raposo Tavares e Régis Bittencourt. Com a conclusão do trecho sul, em abril de 2010, com 61,4 km de extensão, obteve-se a interligação de mais duas rodovias: Anchieta e Imigrantes.

Em todos os projetos de construção de rodovias, o impacto ambiental é inevitável, pois ocorre a supressão da vegetação nativa e a consequente diminuição da biodiversidade. Para tentar mitigar os impactos da obra, foi criada a parceria entre o Instituto de Botânica (IBt) e a Desenvolvimento Rodoviário S.A. (DERSA) (contrato PT.CPRN/DAIA/044/2006). Essa parceria ocorreu no período compreendido entre maio de 2007 e setembro de 2012 para o trecho sul, sendo renovado, posteriormente, para o trecho norte (Contrato n˚ 4261/12 e SMA n˚ 01/2012). Os objetivos deste último contrato, no que se refere ao Instituto de Botânica, são: concluir o levantamento florístico, monitorar a vegetação nas áreas indiretamente afetadas, e orientar o resgate da flora e a restauração em áreas degradadas (RAD).

Barbosa & Catharino (2007) desenvolveram metodologia para a restauração ecológica de matas ciliares no Rodoanel, trecho sul. As técnicas empregadas vão de encontro às exigências legais constantes nos Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e à necessidade de realização de obras de interesse social, porém com grande impacto ecológico.

Barbosa et al. (2009, 2011) consideraram algumas premissas envolvendo a restauração ecológica em áreas degradadas, relacionando uma série de informações e ferramentas para auxiliar essas atividades. As gramíneas estão inseridas nesse contexto de informações ecológicas essenciais para a compreensão da dinâmica da RAD.

Os representantes da família Poaceae habitam principalmente locais abertos, como campos naturais e antrópicos, mas também estão presentes nos sub-bosques das florestas, onde desempenham papel ecológico importante no revestimento do solo e na reciclagem de nutrientes.

O estudo das gramíneas nativas é fundamental na compreensão dos processos ecológicos nos ambientes naturais, pois elas são capazes de substituir, com sucesso, espécies exóticas e invasoras, as quais comprometem o equilíbrio ecológico dos ecossistemas.

Material e métodos

Os estudos florísticos foram realizados nos trechos direta e indiretamente afetados pela obra do Rodoanel Norte, nos municípios de Embu das Artes e Itapecerica da Serra (lote 5), Mauá (lote 1), São Bernardo do Campo (lotes 2 e 3) e São Paulo (bairro de Parelheiros, lote 4). O levantamento florístico iniciou-se em julho de 2007 e foi concluído em setembro de 2011. Simultaneamente a esse levantamento, foram feitas coletas complementares em áreas de plantios compensatórios do projeto Rodoanel "Mario Covas", trecho sul, até setembro de 2012, abrangendo os municípios de Biritiba Mirim, Cotia, Mairiporã, Mogi das Cruzes, Nazaré Paulista, Piracaia, Ribeirão Pires, Salesópolis, Santo André e Taiaçupeba. Observações de populações naturais e avaliação do grau de antropização das áreas estudadas em campanhas foram realizadas em todos esses locais.

As técnicas de coleta de material botânico seguiram Soderstrom & Young (1983) e Mori et al. (1985); as amostras foram incorporadas ao acervo do Herbário do Instituto de Botânica (SP); duplicatas foram doadas a diversos herbários do Brasil e do exterior, priorizando o Herbário da Prefeitura do Município de São Paulo (PMSP).

Para classificação adotaram-se os trabalhos de Clark & Judziewicz (1996) e Longhi-Wagner et al. (2001). Seguiu-se o "Livro Vermelho das Espécies Vegetais Ameaçadas do Estado de São Paulo" (Mamede et al. 2007), para classificar as espécies segundo as diversas categorias de ameaças a que estão sujeitas. A nomenclatura dos binômios seguiu a Lista de Espécies da Flora do Brasil (Filgueiras et al. 2013).

Resultados e Discussão

Foram coletadas aproximadamente 525 espécimes de Poaceae classificados em 160 espécies pertencentes a 62 gêneros, sendo 125 nativas (78,1%) e 35 exóticas (21,9%) (tabela 1).

As 125 espécies nativas estão distribuídas em dez subfamílias e 50 gêneros; deste total, 114 (91,2%) são perenes e 11 (8,8%) anuais, ocorrendo nas seguintes fitofisionomias: campo (64 espécies), campo antrópico (24), campo úmido (sete), mata (24), mata ciliar (quatro) e borda de mata (duas). Reimarochloa é citado pela primeira vez para o Estado de São Paulo (R. acuta), duas espécies (Merostachys kleinii e Sacciolepis indica) constituem novos registros para o Estado, e uma (Panicum trichidiachne Doll) é considerada rara.

A tabela 2 apresenta 37 espécies nas categorias cultivadas (8 espécies), forrageiras e invasoras (10), invasoras (17) e subespontâneas (duas).

Cinco espécies são consideradas ameaçadas de extinção no Estado de São Paulo (Mamede et al. 2007), sendo duas classificadas na categoria vulnerável (VU) e três na categoria "quase ameaçada". Com base nesse mesmo levantamento, Filgueiras & Shirasuna (2009) registraram a presença de duas espécies que, à época, eram consideradas presumivelmente extintas (EX).

As duas espécies da categoria vulnerável (VU) são: Streptochaeta spicata Schrad. ex Nees e Aulonemia aristulata (Döll) McClure. A primeira espécie, pertencente à subfamília Anomochlooideae (Judziewicz et al. 1999), é bastante rara com apenas três coletas no Estado. Uma pequena população foi encontrada às margens da Represa Billings, no entorno de clareira e margem de trilhas na mata, sempre em locais úmidos e sombreados. Pelo seu hábito herbáceo e perene, com lâminas pseudopecioladas, largas e brilhantes, possui grande potencial ornamental. Até o presente momento, é a única população fora de Unidade de Conservação (UC), localizada na capital paulista, merecendo especial atenção para sua conservação. Esta espécie pode ser utilizada no enriquecimento do estrato herbáceo do sub-bosque das áreas reflorestadas.

Aulonemia aristulata (Döll) McClure, pertence à subfamília Bambusoideae, foi encontrada em matas do bairro de Parelheiros e no município de Embu das Artes. A espécie teve também sua ocorrência registrada nas seguintes UCs: Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI), Parque Natural do Pedroso e Parque Estadual do Rio Turvo. Portanto, sugere-se a revisão da categoria de conservação na qual a espécie está atualmente inserida (Mamede et al. 2007), de modo a refletir o atual nível de conhecimento. Por apresentar hábito pendente a escandente, não é recomendada para introdução em plantios que ainda não estejam bem estabelecidos, pois cresce sobre a vegetação arbóreo-arbustiva, prejudicando o desenvolvimento das plântulas, porém pode ser utilizada em locais que apresentam estágios de vegetação mais avançados.

Três espécies são consideradas "quase ameaçadas" (QA): Imperata tenuis Hack., herbácea pertencente à subfamília Panicoideae, coletada em área de campo antrópico no município de Embu das Artes e no bairro de Parelheiros, em São Paulo; Axonopus aureus P.Beauv. e Axonopus capillaris (Lam.) Chase, ambas herbáceas pertencentes à subfamília Panicoideae, encontradas somente no bairro de Parelheiros na capital paulista. Indica-se o uso dessas três espécies de campo aberto, para constituir o estrato herbáceo natural das áreas a serem restauradas. O estabelecimento destas espécies nativas pode contribuir para o controle das plantas invasoras.

Com base nesse mesmo levantamento, Filgueiras & Shirasuna (2009) registraram a presença de duas espécies que, à época, eram consideradas presumivelmente extintas (EX), Merostachys neesii Rupr. e Leersia ligularis Trin.. A primeira, bambu de grande porte, habita somente o sub-bosque das florestas, portanto, recomenda-se a sua introdução em plantios mais estabelecidos como forma de enriquecimento da diversidade. Por se tratar de bambu que apresenta rizomas paquimorfos com pescoço curto, forma touceiras, não sendo considerada espécie agressiva ou invasora. A segunda espécie apresenta hábito herbáceo e decumbente, e cresce em ambientes úmidos e sombreados, sendo indicada para áreas úmidas a serem restauradas.

Uma espécie rara foi encontrada no Parque do Pedroso no município de Mauá, Panicum trichidiachne Döll, de hábito herbáceo e decumbente. Trata-se de espécie que cresce nas bordas de matas, portanto, indicada na recuperação desses ambientes.

Registrou-se também a ocorrência de um novo gênero para o Estado de São Paulo, Reimarochloa Hitchc., com a espécie R. acuta (Flügge) Hitchc., que apresenta hábito herbáceo e cresce em locais úmidos, coletada às margens da Represa Guarapiranga. A espécie é recomendada para recuperar as margens de mananciais, lagos, rios e brejos.

A ocorrência de Merostachys kleinii Send. constitui novo registro para a flora do Estado de São Paulo. Iniciou a floração em setembro/2009, em São Bernardo do Campo, em pequeno fragmento de mata às margens da Represa Billings. Trata-se de bambu de grande porte, crescendo em touceiras, inflorescências castanho-esverdeadas e espiguetas densamente aglomeradas em fileira dupla. Como Merostachys neesii, habita o sub-bosque das florestas, não se comportando como espécie invasora e podendo ser introduzida em ambientes florestais em recuperação, como forma de enriquecimento da diversidade.

O primeiro registro da ocorrência de Sacciolepis indica (L.) Chase e Polypogon imberbis (Phil.) Johow, para o Estado de São Paulo, foi documentada em 2011, com dados obtidos no presente trabalho (Wanderley et al. 2011). Uma pequena população de S. indica foi localizada no município de Itapecerica da Serra, em campo aberto, úmido, antropizado, utilizado para pastagem, e outra população às margens da Represa Billings em São Bernardo do Campo. Sendo a espécie subespontânea, não é indicada para recompor a flora nativa. Polypogon imberbis foi coletada em campo antrópico, em aterro sanitário. Comporta-se como planta ruderal, crescendo nas calçadas no município de Mauá. Tratando-se de espécie nativa, é recomendada sua utilização no enriquecimento do estrato herbáceo de campos naturais, ou em plantios recentes, como forma de estabelecimento de espécies nativas contribuindo para o controle das invasoras.

Aulonemia setosa, pertencente à subfamília Bambusoideae, é comum no litoral paulista e teve seu primeiro registro para o planalto paulista no município de São Bernardo do Campo. A espécie habita o sub-bosque das florestas, e, embora apresente rizomas paquimorfos com pescoço curto, tem hábito apoiante a escandente sobre a vegetação, não sendo recomendável a sua introdução nos plantios não estabelecidos, porém poderá ser utilizada em plantios de estágios mais avançados.

Diversas espécies nativas ocorrem naturalmente nos campos de reflorestamento como: Andropogon spp., Aristida jubata e Dichanthelium hebotes.

Sugere-se pesquisar técnicas de plantio de sementes de espécies nativas em áreas de restauração sem cobertura vegetal por meio de semeaduras diretas, em solo que sofreu prévia incorporação de matéria orgânica. O plantio de espécies nativas é uma alternativa ao uso de braquiárias e capim-gordura em taludes às margens de rodovias, cuja agressividade pode prejudicar os ambientes naturais circunvizinhos.

Com base no realizado, registrou-se a ocorrência de 35 espécies exóticas, sendo 27 invasoras.

As espécies podem apresentar elevado crescimento populacional, ocupando nichos das espécies nativas, promovendo alterações prejudiciais ao meio ambiente e às atividades humanas.

Duas espécies africanas, Urochloa arrecta e Urochloa ruziziensis, encontradas na área, não foram mencionadas na publicação sobre a listagem das Spermatophyta do Estado de São Paulo (Wanderley et al. 2011). Todas as espécies de Urochloa listadas no presente estudo têm comportamento invasor e a espécie de braquiária mais amplamente disseminada em São Paulo é Urochloa brizantha e não Urochloa decumbens (Filgueiras et al. 2012), como encontrado em literatura (Pivello 2011), sendo que esta última não foi registrada neste estudo. Outra espécie, africana altamente invasora, é o capim-gordura, Melinis minutiflora, amplamente disseminada em áreas antropizadas e com ocorrência nos plantios compensatórios.

As espécies de braquiárias, Urochloa spp., capim-gordura, Melinis minutiflora, e capim-colonião, Megathyrsus maximus, são as principais causadoras dos altos índices de mortalidade das mudas, e, consequentemente, da dificuldade de implantação e estabelecimento dos reflorestamentos (Silva Filho 1991, Piña-Rodrigues et al. 1997, Vieira & Pessoa 2001). A técnica de roçada que vem sendo amplamente utilizada na área, não é a mais indicada para combatê-las, pois ao contrário causa efeito indesejável, estimulando ainda mais a rebrota pela interrupção do fluxo do hormônio auxina, produzido pela gema apical (Cechin 1987); portanto, recomenda-se a capina, desprendendo-se os rizomas e raízes do solo, ou então o uso de substâncias químicas recomendadas e que sejam biodegradáveis.

Alguns bambus exóticos como o bambu-folha-de-samambaia ou bambu-imperial (Bambusa multiplex), bambu ou bambu-crioulo (Bambusa tuldoides), bambu-crioulo, bambu-verde ou bambu-vulgar (Bambusa vulgaris) e bambu-balde ou bambu-gigante (Dendrocalamus asper) são amplamente cultivados tanto pelo seu aspecto ornamental, como para uso no artesanato, alimentação, dentre outros usos. Entretanto, essas espécies não oferecem riscos de se tornarem invasoras, devido ao tipo de rizoma paquimorfo com pescoço curto. Entretanto, bambus como a cana-da-índia, bambu-mirim ou vara-de-pescar (Phyllostachys aurea) e o bambu-mossô (Phyllostachys edulis) tendem a se comportar como invasoras, adentrando as matas e competindo com as espécies nativas. Vários fragmentos às margens do Rodoanel "Mario Covas", trecho sul, abrigam populações dessas espécies de bambus que se alastram dentro dos fragmentos de mata, causando a perda da biodiversidade local. Recomenda-se a retirada das moitas dessas espécies a partir dos rizomas, ou então a utilização de substâncias químicas recomendadas e que sejam biodegradáveis. Sugere-se também procurar alternativas para o uso sustentável das varas desses bambus por comunidades carentes do entorno das áreas a serem restauradas.

Essas espécies exóticas e invasoras estão alta-mente adaptadas no território brasileiro. Por não possuírem inimigos naturais como predadores, pragas e doenças, e por apresentarem alta plasticidade, não encontram dificuldades de sobrevivência. Além do mais, esses bambus possuem rizoma tipo leptomorfo, ou seja, alastrante, emitindo os rizomas subterrâneos e espalhando-se entre a vegetação nativa. A introdução de espécies exóticas e invasoras é considerada a segunda maior causa de extinção de espécies nativas, perdendo somente para a destruição dos ecossistemas pela exploração humana (Ziller 2001).

Existe deficiência de trabalhos com relação às espécies de Poaceae nos arredores da capital paulista, somando-se à escassez de coletas específicas do grupo, principalmente de espécies herbáceas anuais, que passam imperceptíveis aos coletores. Ainda há muito a descobrir desse grupo tão fascinante e importante, do ponto de vista taxonômico, ecológico e conservacionista.

Literatura citada

Recebido: 16.05.2013

Aceito: 16.09.2013

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  • *
    Autor para correspondência:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      29 Out 2013
    • Data do Fascículo
      Set 2013

    Histórico

    • Recebido
      16 Maio 2013
    • Aceito
      16 Set 2013
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