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Passifloraceae s.s. da Ilha de São Luís, Estado do Maranhão, Brasil 1 1 Parte do Trabalho de Conclusão de Curso do primeiro Autor

Passifloraceae s.s. from the São Luís Island, Maranhão State, Brazil

RESUMO

A Ilha de São Luís, Estado do Maranhão, configura-se como uma região ecotonal, um misto de floresta úmida, mata-de-cocais, vegetação de dunas, restingas e manguezais. Diferentemente do interior do Estado do Maranhão, suas zonas costeiras possuem uma lacuna sobre o conhecimento da família Passifloraceae. Aqui, por meio de expedições de campo e consulta a herbários, nós fornecemos o tratamento taxonômico, chave de identificação e comentários sobre as Passifloraceae da Ilha de São Luís. Foram registradas dez espécies: Passiflora auriculata Kunth, P. edulis Sims, P. foetida L., P. glandulosa Cav., P. laurifolia L., P. misera Kunth, P. nitida Kunth, P. picturata Ker Gawl., P. subrotunda Mast. e P. vespertilio L. As espécies P. picturata e P. misera foram registradas pela primeira vez na Ilha de São Luís.

Palavras-chave:
florística; maracujá; novos registros; Passiflora ; taxonomia

ABSTRACT

The São Luís Island, Maranhão State, is an ecotonal region, a mix of humid forest, cocais forest, dune vegetation, restingas and mangroves. Unlike the interior of the State, their coastal areas have a gap in knowledge of the Passifloraceae. Here, through field expeditions and herbaria visit, we provide a taxonomic treatment, identification key and comments on the Passifloraceae of the São Luís Island. Ten species were recorded: Passiflora auriculata Kunth, P. edulis Sims, P. foetida L., P. glandulosa Cav., P. laurifolia L., P. misera Kunth, P. nitida Kunth, P. picturata Ker Gawl., P. subrotunda Mast., and P. vespertilio L. Passiflora picturata and P. misera were recorded for the first time on São Luís Island.

Keywords:
floristics; new records; Passiflora ; passion fruit; taxonomy

Introdução

Passifloraceae sensu stricto distribui-se ao longo das regiões tropicais e subtropicais do globo (Nunes & Queiroz 2006Nunes, T.S. & Queiroz, L. 2006. Flora da Bahia: Passifloraceae. Sitientibus Série Ciências Biológicas 6: 194-226.). A família inclui duas tribos, 17 gêneros e cerca de 750 espécies, sendo a maioria delas (ca. 580 spp.) incluídas no gênero Passiflora L. (Feuillet & MacDougal 2007Feuillet, C. & Macdougal, J. 2007. Passifloraceae. In: Kubitzki K (Ed) The Families and Genera of Vascular Plants. Springer-Verlag: 270-280., Pérez & d'Eeckenbrugge 2017Pérez, J.O. & D’eeckenbrugge, G.C. 2017. Morphological characterization in the genus Passiflora L.: an approach to understanding its complex variability. Plant Systematics and Evolution 303: 531-558.). Passifloraceae s.s. possui características bem particulares, apresentando-se como arbustos ou pequenas árvores a trepadeiras herbáceas ou lenhosas com gavinhas, folhas alternas lobadas ou inteiras, muitas vezes variando em um mesmo indivíduo. As flores são vistosas, hermafroditas, com grande variedade em tamanhos e cores, geralmente com cinco pétalas livres, série de filamentos (corona), estames com anteras livres e ovário unilocular, tricarpelar. Os frutos de algumas espécies do gênero Passiflora, conhecidos majoritariamente como maracujás, são comestíveis e têm grande importância econômica, medicinal e ornamental (Killip 1938Killip, E.P. 1938. The American Species of Passifloraceae. Chicago, Publication of Field Museum of Natural History, Botanical Series 19, pp. 1-603., Abreu et al. 2009Abreu, P.P., Souza, M.M., Santos, E.A., Pires, M.V., Pires, M.M. & Almeida, A.A.F. 2009. Passion flower hybrids and their use in the ornamental plant market: perspectives for sustainable development with emphasis on Brazil. Euphytica 166: 307-315.).

No Brasil, estima-se a ocorrência de 166 espécies de Passifloraceae s.s., distribuídas em quatro gêneros: Ancistrothyrsus Harms, Dilkea Mast., Mitostemma Mast. e Passiflora (Bernacci et al. 2020Bernacci, L.C., Nunes, T.S., Mezzonato-Pires, A.C., Milward-De-Azevedo, M.A., Imig, D.C. & Cervi, A.C. (in memoriam). 2020. Passiflora in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 (acesso em 26-X-2022).
https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 ...
). Pesquisas em Passifloraceae no Brasil têm produzido trabalhos de revisões (e.g. Milward-de-Azevedo et al. 2012Milward-de-Azevedo, M.A., Baumgratz, J.F.A. & Gonçalves-Esteves, V. 2012. A taxonomic revision of Passiflora subgenus Decaloba (Passifloraceae) in Brazil. Phytotaxa 53: 1-68., Mezzonato-Pires et al. 2020Mezzonato-Pires, A.C., Milward-de-Azevedo, M.A., Mendonça, C.B.F. & Gonçalves-Esteves, V. 2020. A taxonomic Revision of Passiflora subgenus Astrophea (Passifloraceae sensu stricto) in Brazil. Phytotaxa 473: 1-60.), floras regionais (e.g. Mezzonato-Pires et al. 2013Mezzonato-Pires, A.C., Salimena, F.R.G. & Bernacci, L.C. 2013. Passifloraceae na Serra Negra, Minas Gerais, Brasil. Rodriguésia 64: 123-136., Koch & Ilkiu-Borges 2016Koch, A.K. & Ilkiu-Borges, A.L. 2016. Flora das cangas da Serra dos Carajás, Pará, Brasil: Passifloraceae. Rodriguésia 67: 1431-1436., Souza et al. 2021Souza, F.G.L.S., Cordeiro, L.S., Sampaio, V.S., Silva, M.A.P. & Loiola, M.I.B. 2021b. Flora of Ceará, Brasil: Passifloraceae s.s. Rodriguésia 72: 1-26.) e descobertas de novas espécies (e.g. Imig & Amano 2019Imig, D.C. & Amano, E. 2019. E. A new species of Passiflora (subgenus Passiflora, Passifloraceae) from Bahia, Brazil. Feddes Repertorium 131: 51-57., Koch & Ilkiu-Borges 2021Koch, A.K. & Ilkiu-Borges, A.L. 2021. Passiflora carajasensis (Passifloraceae), a new species of subgenus Passiflora, series Quadrangulares, from the Brazilian Amazon. Nordic Journal of Botany 39., Mezzonato-Pires et al. 2021aMezzonato-Pires, A.C., Silva, E.O. & Oliveira, E.A. 2021a. Passiflora bacabensis (Passifloraceae sensu stricto), a new species from Mato Grosso, central‐west region of Brazil. Nordic Journal of Botany 39: 1-7., 2021bMezzonato-Pires, A.C., Calazans, L.S.B. & Valadares, R.T. 2021b. Passiflora jorgeana, a New Species of Passiflora (Passifloraceae) from Bahia, Brazil. Novon 29: 1-8., 2021cMezzonato-Pires, A.C., Ribeiro, R.S. & Gonella, P.M. 2021c. Maracujá on the rocks: a new Passiflora species (Passifloraceae sensu stricto) from the rupicolous ecosystems of the Brazilian Atlantic rainforest. Willdenowia 51: 371-381.), além da extensão da distribuição geográfica de várias espécies ao longo dos diferentes domínios brasileiros (e.g. Milward-de-Azevedo & Fernandes 2021Milward-de-Azevedo, M.A. & Fernandes, N.B.G. 2021. Novos registros e conservação de Passiflora L. (Passifloraceae s.s.) no Rio de Janeiro, Brasil. Neotropical Biology and Conservation 16: 115-128., Sarmento et al. 2021Sarmento, S.N., Mezzonato-Pires, A.C. & Trovó, M. 2021. New records of Passiflora from Itatiaia National Park, Brazil. Check List 17: 1671-1679.).

Na flora maranhense, apenas Passiflora pardifolia Vanderpl. é endêmica do Estado (Vanderplank 2006Vanderplank, J. 2006. Passiflora pardifolia (Passifloraceae). Curtis’s Botanical Magazine 23 (3): 243-247.). Porém vários novos registros vêm sendo publicados nos últimos anos: P. tholozanii Sacco (Koch et al. 2014Koch, A.K., Cardoso, A.L.R. & Ilkiu-Borges, A.L. 2014. Novelties in Passifloraceae from the Brazilian Amazon. Check List 10: 453-456.), P. pedata L. (Silva et al. 2016Silva, E.O., Guarçoni, E.A.E., Ferreira, A.W.C., Oliveira, M.S. & Oliveira Jr., C.N. 2016. First record of Passiflora pedata L. (Passifloraceae) from Maranhão state, northeastern Brazil. Check List 12: 1958.), P. mansoi (Mart.) Mast. (Mezzonato-Pires et al. 2017Mezzonato-Pires, A.C., Mendonça, C.B.F., Milward-De-Azevedo, M.A. & Gonçalves-Esteves, V. 2017. The systematic value of pollen morphology of Passiflora subgenus Astrophea (Passifloraceae). Phytotaxa 298: 1-19.), P. cincinnata Mast., P. picturata Ker Gawl., P. vespertilio L. (Silva et al. 2018Silva, E.O., Milward-De-Azevedo, M.A., Sá, N.A.S., De Sousa, D.A. & Da Conceição, G.M. 2018. New records of Passiflora L. (Passifloraceae) species from Maranhão state and northeastern Brazil. Check List 14: 347-352.), P. auriculata Kunth e P. cisnana Harms (Silva et al. 2020) totalizando 24 espécies para o Estado, todas do gênero Passiflora (Bernacci et al. 2020Bernacci, L.C., Nunes, T.S., Mezzonato-Pires, A.C., Milward-De-Azevedo, M.A., Imig, D.C. & Cervi, A.C. (in memoriam). 2020. Passiflora in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 (acesso em 26-X-2022).
https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 ...
). O grande número de novos registros a partir de espécies de Passifloraceae de vários domínios fitogeográficos se dá pelo caráter ecotonal do Estado, uma área de transição entre os domínios amazônico, Cerrado e semiárido (Silva et al. 2020Silva, E.O., Milward-De-Azevedo, M.A., Ferreira, A.W.C. & Sobral, M.E.G. 2020. Rediscovery and new records of Passiflora auriculata Kunth and P. cisnana Harms (Passifloraceae) in Brazil. Check List 16: 441-449.). No entanto, os novos registros se limitam às áreas interioranas do Estado, permanecendo uma brecha no conhecimento das Passifloraceae nas regiões costeiras do Maranhão, principalmente na área pertencente à Ilha de São Luís, onde é notável os poucos registros da família. Buscando preencher essa lacuna, esse estudo fornece o tratamento taxonômico da família Passifloraceae na Ilha de São Luís, Maranhão, Brasil, através do qual fornecemos chave de identificação, descrições, fotos in vivo e comentários taxonômicos e ecológicos para as espécies inventariadas da ilha.

Material e Métodos

Área de estudo - A Ilha de São Luís, também denominada de Upaon-Açu, Ilha Grande ou Ilha do Maranhão, é composta por quatro municípios: São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa, com aproximadamente 831,7 km2 de área (Bandeira 2017Bandeira, A.M. 2017. Um novo horizonte cerâmico no Golfão Maranhense - Ilha de São Luís - MA. Arquivos do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG 25: 14-53.) (figura 1). A ilha configura-se como uma região ecotonal por estar localizada numa área de encontro de dois tipos vegetacionais bastante distintos: a amazônica, úmida e perene, e a nordestina, composta por matas secas e sazonais. A vegetação da Ilha de São Luís é um misto de floresta latifoliada, mata-de-cocais, vegetação de dunas, restinga e manguezal, apresentando solos do tipo latossolo amarelo, solos de mangue, argissolo vermelho amarelo e argissolo acinzentado sob influência marinha e fluvio-marinha (Gomes et al. 2019Gomes, E.S., Lopes, M.L.C., Santos, J.M., Lima, N.S., Veras, H.H.S., Almeida, J.L. & Silva, F.B. 2019. Caracterização da Geodiversidade da Ilha Upaon-Açu - Maranhão. In: Anais do XIX Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Santos, São Paulo, 2019 .. Anais eletrônicos. INPE, São José dos Campos ).

Figura 1
Mapa da Ilha de São Luís, Estado do Maranhão, Brasil, mostrando a divisão geopolítica dos quatro municípios que a compõem. Figure 1. Map of São Luís Island, Maranhão State, Brazil, showing the geopolitical division of the four municipalities that comprise it.

Expedições de coleta - Foram realizadas excursões à campo uma vez ao mês, no período entre outubro de 2020 e janeiro de 2022 nos quatro principais municípios da ilha, a fim de coletar material vivo para herborização, obter dados das espécies em seu habitat natural e realizar registros fotográficos. A maior parte das expedições foram realizadas nas Unidades de Conservação APA do Itapiracó, Parque Estadual do Sítio do Rangedor, Sítio Santa Eulália e Sítio do Físico. Os espécimes coletados foram herborizados seguindo os procedimentos adotados por Mori et al. (2011Mori, S.A., Berkovi, A., Gracie, C.A. & Hecklau, E.F. 2011. Tropical plant collecting: From the Field to the Internet. Tecc, Florianópolis.) e depositados no herbário MAR (acrônimo de acordo com Thiers 2023Thiers, B.M. 2023. Index Herbariorum. Disponível em http://sweetgum.nybg.org/ih (acesso em 26-X-2022).
http://sweetgum.nybg.org/ih ...
). Grande parte das descrições das espécies apresentadas neste estudo foram baseadas em material fresco.

Consulta às coleções - Foram realizadas consultas às coleções dos herbários da região de estudo: MAR e SLUI. Espécimes coletados na Ilha e disponíveis nos bancos de dados online do REFLORA (Reflora - Herbário Virtual 2022Reflora - Herbário Virtual. 2022. Disponível em http://reflora.jbrj.gov.br/ reflora/herbarioVirtual/ (acesso em 26-X-2022).
http://reflora.jbrj.gov.br/ reflora/herb...
) e speciesLink (CRIA 2022CRIA - Centro de Referência e Informação Ambiental. 2022. Specieslink - simple search. Disponível em http://www.splink.org.br/index (acesso em 26-X-2022).
http://www.splink.org.br/index ...
) foram também incluídos nas análises e material examinado.

Resultados e Discussão

Passifloraceae está representada por dez espécies na Ilha de São Luís, todas do gênero Passiflora e subordinadas a dois subgêneros. O subgênero Passiflora é o mais representativo com sete espécies: Passiflora edulis Sims, P. foetida L., P. glandulosa Cav., P. laurifolia L., P. nitida Kunth, P. picturata Ker Gawl. e P. subrotunda Mast.; e o subgênero Decaloba com P. auriculata Kunth, P. misera Kunth e P. vespertilio L. As espécies Passiflora picturata e P. misera foram registradas pela primeira vez na Ilha de São Luís. Dentre as espécies encontradas, P. foetida e P. glandulosa são as que possuem maior distribuição na ilha. Essas espécies se mostraram muito frequentes durante as expedições de campo, associadas principalmente a ambientes antropizados. Passiflora foetida também se estabelece sobre solos arenosos nas restingas e, assim como P. subrotunda, é encontrada frequentemente em dunas ou próximo a estas. Passiflora auriculata e P. nitida não foram encontradas durante as expedições de campo, sendo registradas apenas por material de herbário.

Chave de identificação para as espécies de Passifloraceae s.s. da Ilha de São Luís, Maranhão

1. Lâminas foliares inteiras

2. Lâminas foliares com ápice emarginado …....………...................….................. P. subrotunda

2. Lâminas foliares com ápice acuminado, mucronado ou cuspidado

3. Lâminas foliares com margens onduladas ou espaçadamente denticuladas .......... P. nitida

3. Lâminas foliares com margens inteiras

4. Pétalas e sépalas alvas com pontuações avermelhadas a roxas, corona de filamentos em 6 séries ...........................................................…........................................ P. laurifolia

4. Pétalas e sépalas vermelhas, corona de filamentos em 2 séries .............. P. glandulosa

1. Lâminas foliares lobadas a levemente lobadas

5. Lâminas foliares com manchas ocelares

6. Caule cilíndrico a anguloso, pecíolo com par de glândulas auriculadas, lâminas foliares raramente inteiras a levemente trilobadas ......................................................... P. auriculata

6. Caule subanguloso ou achatado, pecíolo sem glândulas, lâminas foliares 2-3-lobadas

7. Lâminas foliares membranáceas, filamentos da série interna unidos na base por uma membrana ……….......................................................................................... P. misera

7. Lâminas foliares cartáceas a coriáceas, filamentos da série externa unidos na base por uma membrana .............................................................................................. P. vespertilio

5. Lâminas foliares sem manchas ocelares

8. Lâminas foliares com margens serreadas ............................................................... P. edulis

8. Lâminas foliares com margens inteiras, levemente onduladas

9. Caule e lâminas foliares hirsutos, brácteas pinatissectas ................................ P. foetida

9. Caule e lâminas foliares glabros, brácteas oblongas .................................. P. picturata

1. Passiflora auriculata Kunth, Nov. Gen. S. 2: 131. 1817.

Figura 2 a-b

Figura 2
Passifloraceae s.s. da Ilha de São Luís, Estado do Maranhão, Brasil. a-b. Folhas de Passiflora auriculata Kunth. c-e. P. edulis Sims. c. Botão floral. d. Flor em antese, detalhe mostrando abelha Xylocopa visitando a flor. e. Fruto maduro. f-j. P. foetida L. f. Ramo com botão floral e flor sobre cerca, detalhe mostrando besouros (Chrysomelidae) e aranha-caranguejo (Thomisidae) visitando a flor. g. Folha em vista adaxial. h. Flor fechada após as primeiras horas da manhã. i. Flor em antese. j. Fruto imaturo. Fotos: E.O. Silva: 2a-b; A.B. Ewerton: 2c; A.L. Garcia: 2d; L.C. Marinho: 2e, 2g-j; A.W.C. Ferreira: 2f. Figure 2. Passifloraceae s.s. from the São Luís Island, Maranhão State, Brazil. a-b. Leaves of Passiflora auriculata Kunth. c-e. P. edulis Sims. c. Floral bud. d. Flower in anthesis, detail showing a Xylocopa bee visiting the flower. e. Mature fruit. f-j. P. foetida L. f. Branch with floral bud and flower over fence, detail showing beetles (Chrysomelidae) and crab spider (Thomisidae) visiting the flower. g. Adaxial surface of leaf blade. h. Flower closed after the early hours of the morning. i. Flower in anthesis. j. Immature fruit. Photos: E.O. Silva: 2a-b; A.B. Ewerton: 2c; A.L. Garcia: 2d; L.C. Marinho: 2e, 2g-j; A.W.C. Ferreira: 2f.

Liana de caule cilíndrico a anguloso, herbáceo, estriado, glabro a levemente pubescente; gavinhas delgadas; estípulas ca. 1 mm compr., linear-subuladas, caducas, glabras, ápice agudo. Folhas com pecíolos 1-4 cm compr., cilíndricos, pubescentes, glândulas 2, auriculadas; lâminas foliares 1,2-10,2 × 1-6,5 cm, simples, inteiras (raramente) a ligeiramente trilobadas, subcoriáceas, verdes in vivo, amarronzadas in sicco, ápice agudo, margem inteira, base obtusa, arredondada ou subcordada, oceolos presentes, nervuras actinódromas suprabasais. Inflorescência uniflora; pedúnculos 0,5-1,5 cm compr., cilíndricos, pubescentes; brácteas não vistas. Flores ca. 2 cm diam., eretas; hipanto 0,1-0,3 × 0,6-0,7 cm, verde-amarelado; sépalas 5, 0,8-1,3 × 0,2-0,4 cm, lanceoladas, ápice atenuado, margens inteiras, pubescentes na face externa, branco-esverdeadas; pétalas 5, 0,5-0,7 × 0,1-0,2 cm, lanceoladas, membranáceas, ápice obtuso a arredondado, margens inteiras, alvas; corona 0,3-1,5 cm compr., filamentos em 2 séries, filiformes, série externa verde-amarelada com base roxo-escuro, séries internas alvas; opérculo membranáceo, margem denticulada; límen anular, textura e margem não vistas; disco nectarífero presente; androginóforo 0,3-0,6 cm compr., verde-amarelado, ereto, glabro; filetes 0,4-0,6 cm, glabros a pubescente, verde-amarelado; anteras ca. 3 × 1 mm; ovário 1-2 × 1-2 mm, globoso a ovoide, pubescente, branco-esverdeado; estiletes 0,3-0,6 cm compr., curvados, glabros, verde-amarelado; estigmas captados, unilobados, verdes. Frutos ca. 0,7-2 cm diâm., globosos, epicarpo liso, roxo escuro a preto. Sementes ca. 3 × 2 mm, obovoide, sarcotesta transversalmente reticulada.

Material examinado: BRASIL. Maranhão: Ilha de São Luís, II/III-1939, (fl.) R. Fróes 11741 (NY).

Material adicional examinado: BRASIL. Amazonas: Coari, Base de Operações Geólogo Pedro Moura, estrada para Poço do Presidente, 2-V-2010, (fl. fr.) S. Sousa 442 (MG). Maranhão: Mirador, Parque Estadual do Mirador, 7-II-2016, (fl.) E.O. Silva & A.W.C. Ferreira 27 (UFMA).

Passiflora auriculata distribui-se desde a Nicarágua até a Bolívia (Milward-de-Azevedo et al. 2012Milward-de-Azevedo, M.A., Baumgratz, J.F.A. & Gonçalves-Esteves, V. 2012. A taxonomic revision of Passiflora subgenus Decaloba (Passifloraceae) in Brazil. Phytotaxa 53: 1-68.). No Brasil ocorre na Floresta Amazônica, em todos os Estados da região Norte, Maranhão e Mato Grosso, além de áreas de Floresta Atlântica dos Estados de Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro (Bernacci et al. 2020Bernacci, L.C., Nunes, T.S., Mezzonato-Pires, A.C., Milward-De-Azevedo, M.A., Imig, D.C. & Cervi, A.C. (in memoriam). 2020. Passiflora in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 (acesso em 26-X-2022).
https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 ...
). A espécie foi recentemente redescoberta no Estado do Maranhão por Silva et al. (2020Silva, E.O., Milward-De-Azevedo, M.A., Ferreira, A.W.C. & Sobral, M.E.G. 2020. Rediscovery and new records of Passiflora auriculata Kunth and P. cisnana Harms (Passifloraceae) in Brazil. Check List 16: 441-449.) após oito décadas de sua última coleta, em 1939, sendo essa a única coleta realizada na Ilha de São Luís. Pertencente ao subgênero Decaloba, P. auriculata pode ser confundida com P. vespertilio devido a característica de flores pequenas com pétalas alvas, diferenciando-se pelas folhas subcoriáceas, levemente trilobadas e raramente inteiras (figura 2 a) e oceoladas (figura 2 b), além da presença de um par de glândulas peciolares auriculadas, caractere este que remete ao epíteto desta espécie. É conhecida popularmente como maracujá-de-penca e maracujá-roxo (Bernacci et al. 2020Bernacci, L.C., Nunes, T.S., Mezzonato-Pires, A.C., Milward-De-Azevedo, M.A., Imig, D.C. & Cervi, A.C. (in memoriam). 2020. Passiflora in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 (acesso em 26-X-2022).
https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 ...
).

2. Passiflora edulis Sims, Bot. Mag. 45: pl. 1989. 1818.

Figura 2 c-e

Liana de caule cilíndrico a subanguloso, lenhoso, estriado, glabro; gavinhas robustas; estípulas ca. 2 mm compr., linear-subuladas, persistentes, glabras, ápice agudo. Folhas com pecíolos 2,5-4 cm compr., cilíndricos, glabros, canaliculados, glândulas 2; lâminas foliares 9,5-13 × 15,5-17 cm, simples, trilobadas, membranáceas a subcoriáceas, verde-claras in vivo, amarronzadas in sicco, ápice agudo a arredondado, margem glandular-serreadas, base cordada a subcordada, oceolos ausentes, nervuras peninérvias, broquidódromas. Inflorescência uniflora; pedúnculos 3,5-5 cm compr., cilíndricos, glabros; brácteas 2, 8-3,1 × 2,5-2,8 cm, esverdeadas, verticiladas, foliáceas, oblongo-ovadas, glabras. Flores ca. 6-8 cm diam., eretas; hipanto ca. 0,5 cm compr., esverdeado; sépalas 5, 3,5-4,2 × 1-1,5 cm, oblongas, ápice obtuso com arista, margens inteiras, glabras, face externa verde com glândulas circulares amarronzadas, face interna alvas; pétalas 5, 2,2-3,5 × 0,8-1,3 cm, oblongas, membranáceas, ápice obtuso, margens inteiras, alva em ambas faces; corona 0,2-2,5 cm compr., filamentos em 5-7 séries, filiformes a dentiformes, série externa purpúrea na metade inferior e branca até o ápice, séries internas purpúreas; opérculo membranáceo a carnoso, margem fimbriada; límen cupuliforme, membranáceo, margem crenulada; disco nectarífero ausente; androginóforo ca. 1 cm compr., verde a amarelado, ereto, glabro; filetes ca. 1 cm compr., glabros, verdes com máculas arroxeadas; antera ca. 8 × 3 mm; ovário 9 × 5-7 mm, ovoide-elíptico, glabro, verde-amarelado; estiletes ca. 1,5 cm compr., curvados, glabros, verdes com manchas arroxeadas; estigmas captados, levemente bilobados, verdes. Frutos ca. 7 cm diâm., globosos a subglobosos, epicarpo liso, verde com pontuações verde-claras a brancas, amarelo quando maduro. Sementes 3-5 × 2-2,8 mm, ovoide, sarcotesta reticulada-foveolada.

Material examinado: BRASIL. Maranhão: São José de Ribamar, 20-VII-2021 (bot.), A.B. Ewerton 15 (MAR). São Luís, Calhau, Sítio Santa Eulália, 20-I- 1988 (fl. fr.), E. Barroso 49 (SLUI); campus Dom Delgado, UFMA, 8-VII-2021 (est.), A.L. Garcia 09 (MAR). Raposa, avenida principal da Raposa, 24-V-2021 (fl. fr.), A.L. Garcia & F.S. Pereira 06 (MAR).

Nativa da América do Sul, Passiflora edulis é encontrada no Paraguai, no Nordeste da Argentina e em todas as regiões do Brasil (Killip 1938Killip, E.P. 1938. The American Species of Passifloraceae. Chicago, Publication of Field Museum of Natural History, Botanical Series 19, pp. 1-603., Nunes 2002Nunes, T.S. 2002. A família Passifloraceae no estado da Bahia, Brasil. Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana., Bernacci et al. 2020Bernacci, L.C., Nunes, T.S., Mezzonato-Pires, A.C., Milward-De-Azevedo, M.A., Imig, D.C. & Cervi, A.C. (in memoriam). 2020. Passiflora in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 (acesso em 26-X-2022).
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). No Maranhão e na Ilha de São Luís é frequentemente cultivada em residências e pequenas propriedades rurais, mas também ocorre de forma espontânea em áreas próximas à zona urbana. Passiflora edulis pertence ao subgênero Passiflora, diferenciando-se das demais espécies, pelas folhas trilobadas de margens serreadas (figura 2 e), pétalas alvas e corona em 5-7 séries com filamentos longos de coloração violácea da base ao meio e brancos do meio a extremidade (figura 2 d). É popularmente conhecida como maracujá-azedo, maracujá-amarelo e maracujá-roxo (Bernacci 2003Bernacci, L.C. 2003. Passifloraceae. In: M.G.L. Wanderley, G.J. Shepherd, A.M. Giulietti, & T.S. Melhem (coords.). Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo. FAPESP/RIMA 3: 247-274.).

3. Passiflora foetida L., Sp. Pl. 2: 959. 1753.

Figura 2 f-j

Liana de caule cilíndrico, herbáceo, estriado, densamente hirsuto, gavinhas delgadas; estípulas ca. 6 mm compr., lineares, persistentes, ápice agudo. Folhas com pecíolos 0,5-2 cm compr., cilíndricos, canaliculados, hirsutos; lâminas foliares 1,5-7 × 1,4-5,9 cm, simples, trilobadas, velutinas, com tricomas tectores e glandulares, verde-claras in vivo, amarronzadas in sicco, discolores, cordiformes, ápice agudo a cuspidado, margem inteira, base cordada; nervuras peninérvias, broquidódromas. Inflorescência uniflora; pedúnculos 2,5-4,5 cm compr., cilíndricos, pilosos; brácteas 1-3 cm compr., esverdeadas, verticiladas, involucradas, pinatissectas, pilosas. Flores 3-4 cm diam., curvadas; hipanto ca. 0,3 cm compr., verde; sépalas 5, 1,8-2 × 0,5-0,8 cm, ovadas, ápice agudo, margens inteiras, pilosas, face externa verde com arista dorsal, face interna alva; pétalas 5, 1,5-1,8 × 0,3-0,5 cm, oblongo-lanceoladas, membranáceas, ápice obtuso, margens inteiras, alvas em ambas as faces; corona 0,2-1 cm compr., filamentos em 4 ou 5 séries, filiformes, séries externas brancas na porção mediana com ápice e base azulados a purpúreos, séries internas violáceos; opérculo membranáceo, margem denteada; límen cupuliforme, membranáceo, margem lisa; disco nectarífero presente; androginóforo ca. 0,9 cm compr., branco a esverdeado pintalgado de púrpura, ereto, glabro; filetes 5-6 mm compr., glabros, verde-amarelados com máculas púrpuras; anteras ca. 5 × 2 mm; ovário ca. 2,5 × 2 mm, subgloboso, densamente piloso, verde; estiletes ca. 5 mm compr., curvados, glabros, glaucos; estigmas captados, verdes. Frutos ca. 1,5 diâm., globosos, epicarpo liso, verdes com manchas amarelas. Sementes ca. 6 × 2,5 mm, oblongas, sarcotesta reticulada.

Material examinado: BRASIL. Maranhão: São José de Ribamar, área rural do bairro São Paulo, estrada de terra à praia de Itabaiana, 24-X- 2020 (fl. fr.), A.L. Garcia et al. 02 (MAR). São Luís, Estrada de São José de Ribamar, Km 04, 9-XII-1987 (fl.), R. Nina 28 (SLUI); Calhau, estrada nas proximidades do Sítio Santa Eulália, 20-I- 1988 (fl. fr. im.), R. Nina 62 (SLUI); Fazenda escola da Universidade Estadual do Maranhão/UEMA, 16-VII-2014 (fl.), P.M. Santos 489 (SLUI); Parque Estadual do Bacanga, 21-VII-2017 (fl.), T.O. Reis s/n (SLUI 4867); Praia do Calhau, 11-IX-2015 (fl.), M.S. Silva & I.C.V. Silva s/n (SLUI 4547); São Cristovão, 1-II-2004 (fl.), L. Marques s/n (SLUI 1076); Sítio Santa Eulália, 15-V-2021 (fl.), A.L. Garcia et al. 05 (MAR).

Passiflora foetida está distribuída no Texas (EUA), México, América Central, Antilhas e América do Sul. É nativa do Brasil com ampla distribuição em praticamente todos os Estados e domínios fitogeográficos (Nunes & Queiroz 2006Nunes, T.S. & Queiroz, L. 2006. Flora da Bahia: Passifloraceae. Sitientibus Série Ciências Biológicas 6: 194-226., Bernacci et al. 2020Bernacci, L.C., Nunes, T.S., Mezzonato-Pires, A.C., Milward-De-Azevedo, M.A., Imig, D.C. & Cervi, A.C. (in memoriam). 2020. Passiflora in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 (acesso em 26-X-2022).
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). No Maranhão, a espécie ocorre em áreas degradadas e antropizadas. É comumente encontrada em áreas de restinga, apresentando comportamento de planta invasora (Nunes & Queiroz 2006Nunes, T.S. & Queiroz, L. 2006. Flora da Bahia: Passifloraceae. Sitientibus Série Ciências Biológicas 6: 194-226.). Na Ilha de São Luís, foi registrada nas praias de Araçagi (Amorim et al. 2016Amorim, G.S., Amorim, I.F.F. & Almeida Jr., E.B. 2016. Flora de uma área de dunas antropizadas na praia de Araçagi, Maranhão. Revista Biociências 22: 18-29.), da Guia (Guterres et al. 2020Gutteres, A.V.F., Amorim, I.F.F., Silva, A.F.S. & Almeida Jr., E.B. 2020. Levantamento florístico e fisionômico da restinga da praia da Guia, São Luís, Maranhão. Biodiversidade 19: 57-72.) e Panaquatira (Lima & Almeida Jr. 2018Lima, G.P. & Almeida Jr., E.B. 2018. Diversidade e similaridade florística de uma restinga ecotonal no Maranhão, Nordeste do Brasil. Interciência 43: 275-282.). Durante as expedições de campo, os indivíduos foram encontrados em espaços abertos (figura 2 f), degradados, rente ao solo, em borda de mata e em vegetação de restinga nas praias do Calhau, Litorânea e Ponta D’areia.

Pertence ao subgênero Passiflora, facilmente reconhecida em campo pelos seus ramos hirsutos e brácteas pinatissectas (figura 2 h). Se adapta rapidamente ao local, apresentando flores e frutos menores comparados a outras espécies de Passifloraceae. Quando estéril, assemelha-se com P. picturata pelo formato trilobado da folha (figura 2 g), porém esta última apresenta caule, pecíolo e folhas completamente glabros, folhas com face abaxial vinácea, pétalas róseas com margens arroxeadas e corona de filamentos brancos com faixas roxas, diferentemente de P. foetida que tem folhas verdes e pubescentes em ambas as faces e quando florida, apresenta pétalas alvas e corona com filamentos roxo-azulados (figura 2 i).

A espécie é conhecida pelos nomes: camapu, maracujá-de-cobra, maracujá-de-estalo, maracujazinho-do-mato, maracujá-fedorento e maracujá-de-cheiro (Nunes & Queiroz 2006Nunes, T.S. & Queiroz, L. 2006. Flora da Bahia: Passifloraceae. Sitientibus Série Ciências Biológicas 6: 194-226., Kinupp 2007Kinupp, V.F. 2007. Plantas alimentícias não convencionais da região metropolitana de Porto Alegre, RS. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.). Foi registrada sendo simultaneamente visitada por besouros da família Chrysomelidae e aranhas-caranguejo da família Thomisidae (ver detalhe na figura 2 f).

4. Passiflora glandulosa Cav., Diss. 10: 453 t. 281. 1790.

Figura 3 a-d

Figura 3
Passifloraceae s.s. da Ilha de São Luís, Estado do Maranhão, Brasil. a-d. Passiflora glandulosa Cav. a. Ramo mostrando a face abaxial das folhas. b. Botões florais. c. Flor em antese. d. Fruto maduro sendo visitado por insetos (Mesostenina). e-h. P. laurifolia L. e. Folha em vista adaxial. f. Botão floral. g. Flor em antese. h. Fruto imaturo. i-j. P. misera Kunth. i. Folhas em vista adaxial. j. Folhas em vista abaxial. Fotos: L.C. Marinho 3a-i; A.L. Garcia: 3j. Figure 3. Passifloraceae s.s. from the São Luís Island, Maranhão State, Brazil. a-d. Passiflora glandulosa Cav. a. Branch showing the abaxial surface of leaves. b. Floral buds. c. Flower in anthesis. d. Fruto maduro being visited by insects (Mesostenina). e-h. P. laurifolia L. e. Adaxial surface of leaf blade. f. Floral bud. g. Flower in anthesis. h. Immature fruit. i-j. P. misera Kunth. i. Adaxial surface of leaf blade. j. Abaxial surface of leaf blade. Photos: L.C. Marinho 3a-i; A.L. Garcia: 3j.

Liana de caule cilíndrico, lenhoso, levemente estriado, gavinhas robustas; estípulas ca. 2 mm compr., lineares, caducas, glabras, ápice agudo. Folhas com pecíolos 6-9 mm compr., cilíndricos, glabros, canaliculados, glândulas 2; lâminas foliares 6-9,5 × 2,8-4 cm, simples, inteiras, lanceoladas, cartáceas, verde-claras in vivo, amarronzadas ou verde-escuras in sicco, discolores, ápice agudo a cuspidado, margem inteira, base obtusa a levemente retusa, nervuras peninérvias, broquidódromas. Inflorescência uniflora; pedúnculos 1,5-2,7 cm compr., cilíndricos, glabros; brácteas 2-4 mm compr., esverdeadas, verticiladas, foliáceas, linear lanceoladas, glabras. Flores ca. 5,7-6,4 cm diâm., eretas; hipanto ca. 1 cm compr., rosa-esverdeado; sépalas 5, 2,6-3,2 × 0,5-0,8 cm compr., lanceoladas a oblongas, ápice agudo com arista, margens inteiras, glabras, face externa rosa-esverdeada com glândulas circulares amarronzadas, face interna vermelha com margem alva e base vinácea; pétalas 5, 2,3-2,6 × 0,6-0,8 cm, oblongas, membranáceas, ápice arredondado, margens inteiras, vermelhas, base vinácea; corona 0,6-0,8 mm compr., filamentos em 2 séries, filiformes a estreitamente triangulares, série externa branca, série interna rósea; opérculo membranáceo, margem denteada; límen cupuliforme, membranáceo, margem lisa; disco nectarífero presente; androginóforo ca. 3,8 cm compr., laranja com máculas avermelhadas, ereto, glabro; filetes ca. 9 mm compr., glabros, laranja com máculas avermelhadas, anteras ca. 8 × 3 mm; ovário ca. 11 × 3,5 mm, elipsóide, glabro, amarelo; estiletes ca. 5 mm compr., curvados, glabros, laranja com manchas avermelhadas; estigma captado, róseo. Frutos ca. 3,8 × 3 cm, oblongos, epicarpo liso, verde com pontuações verde-claras. Sementes ca. 5 × 4 mm, obovoides, sarcotesta levemente reticulada.

Material examinado: BRASIL. Maranhão: São José de Ribamar, área rural do bairro São Paulo, 24-X-2020 (fl. fr.), A.L. Garcia et al. 01 (MAR). São Luís, APA do Itapiracó, 23-X-2015 (fl.), M.S. Silva et al. s/n (SLUI 4490); APA do Itapiracó, 28-XI-2016 (fl.), M.S. Silva s/n (SLUI 4719); Capoeira média dos arredores do Sítio Santa Eulália, 20-I-1988 (fl. fr.), E. Barroso 52 (SLUI); Itapiracó, 15-XI-2009 (est.), J.A. Brito & A.M. Maciel s/n (SLUI 1801); Maiobinha, Vila Santa Terezinha, 19-XI-1987 (fl.), M. Ribeiro 20 (SLUI); Sítio Santa Eulália, 15-V-2021 (fl.), A.L. Garcia et al. 04 (MAR); campus Dom Delgado, UFMA, 8-VII-2021 (est.), A.L. Garcia & L.C. Marinho 07 (MAR).

Passiflora glandulosa é nativa do Brasil e amplamente distribuída na América do Sul, ocorrendo também na Venezuela, Guianas e Suriname (Koch & Ilkiu-Borges 2016Koch, A.K. & Ilkiu-Borges, A.L. 2016. Flora das cangas da Serra dos Carajás, Pará, Brasil: Passifloraceae. Rodriguésia 67: 1431-1436.). A espécie é frequentemente vista em orlas e clareiras de florestas (Cervi & Dunaiski Jr. 2004Cervi, A.C. & Dunaisk, A. Jr . 2004. Passifloraceae do Brasil: estudo do gênero Passiflora L. subgênero Distephana (Juss.) Killip. Revista Estudos de Biologia 26: 45-67.). No Brasil, ocorre em todos os Estados da região Norte e na Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Paraíba, Pernambuco e Piauí (Bernacci et al. 2020Bernacci, L.C., Nunes, T.S., Mezzonato-Pires, A.C., Milward-De-Azevedo, M.A., Imig, D.C. & Cervi, A.C. (in memoriam). 2020. Passiflora in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 (acesso em 26-X-2022).
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) e cultivada no Rio de Janeiro (Cervi & Dunaiski Jr. 2004Cervi, A.C. & Dunaisk, A. Jr . 2004. Passifloraceae do Brasil: estudo do gênero Passiflora L. subgênero Distephana (Juss.) Killip. Revista Estudos de Biologia 26: 45-67.). Na Ilha de São Luís, P. glandulosa é encontrada em Unidades de Conservação, próximo a lagos e margeando áreas abertas com vegetação baixa ou antropizadas.

Passiflora glandulosa pertence ao subgênero Passiflora e é reconhecida pelas folhas simples e inteiras com ápice agudo (figura 3 a), pétalas vermelhas e filamentos da corona em duas séries, além de um androginóforo ereto alaranjado com máculas avermelhadas (figura 3 c) e frutos oblongos (figura 3 d). É conhecida por maracujá-cabeça-de-gado e markoesa (Killip 1938Killip, E.P. 1938. The American Species of Passifloraceae. Chicago, Publication of Field Museum of Natural History, Botanical Series 19, pp. 1-603.). Em seus frutos foram registrados insetos da subtribo Mesostenina (figura 3 d).

5. Passiflora laurifolia L., Sp. pl. 2: 956. 1753.

Figura 3 e-h

Liana de caule cilíndrico, lenhoso, estriado, glabro; gavinhas robustas; estípulas 3-4 mm compr., estreitamente lineares, persistentes, coriácea, ápice agudo. Folhas com pecíolos 0,5-1,5 cm compr., cilíndricos, glabros, canaliculados, glândulas 2; lâminas foliares 5, 8-11 × 2-6 cm, simples, inteira, ovado-oblonga, cartácea a subcoriácea, verde-escuro in vivo, amarronzadas in sicco, ápice acuminado a mucronato; margem inteira, base arredondada, nervuras broquidódromas. Inflorescência uniflora; pedúnculos 2,5-3 cm compr., cilíndricos, glabros; brácteas 2-2,5 × 1,5 cm, esverdeadas, verticiladas, foliáceas, oblongas, pubescentes, glândulas marginais. Flores 4,5-5,5 cm diam., pendulares; hipanto ca. 0,7 cm compr., branco; sépalas 5, 3,5-4 × 1-1,7 cm, lanceoladas ápice agudo com arista, margens inteiras, glabras, face externa verde com pontos marrom-avermelhados, face interna alva com pontuações avermelhadas a roxas; pétalas 5, 3-4,5 × 0,8-1,1 cm, oblongas, membranáceas, ápice obtuso, margens inteiras, glabras, face externa e interna alvas com esparsas manchas e pontuações avermelhadas a roxas; corona 1-3,5 cm compr., filamentos em 6 séries, filiformes a dentiformes, séries externas listrado de branco e vermelho a roxo na metade inferior e faixas roxas até o ápice, séries internas brancas, avermelhadas na base; opérculo membranáceo, margem pouco fimbriada; límen anular, membranáceo; disco nectarífero presente; androginóforo ca. 1,5 cm compr., branco-esverdeado com máculas avermelhadas a arroxeadas, ereto, glabro; filetes 0,8-1 cm compr., piloso, verdes com máculas avermelhadas; anteras ca. 7 × 3 mm; ovário 5-8 × 3-4 mm, ovoide, pubescente, verde-amarelado; estiletes ca. 0,7 cm compr., curvados, glabros, branco com pontos avermelhados; estigmas captados, bilobados, amarelo. Frutos 3-5 cm diâm., elipsoide a ovoide, epicarpo liso, verde com pontuações brancas, laranja-amarelado quando maduro. Sementes ca. 5 × 4 mm, ovoide, sarcotesta reticulada.

Material examinado: BRASIL. Maranhão: São Luís, Estrada do Sacavém, II-1939 (fl.), R. L. Fróes 11514 (NY, US); estrada do Tirirical, II-1939 (fl. bot.), R. L. Fróes 11544 (NY, US); Sítio do Físico, 20-XI-2021 (fl. fr. im.), A.L. Garcia et al. 11 (MAR).

Passiflora laurifolia apresenta ampla distribuição nas ilhas do Caribe e América Central até o Peru (Cervi 1997Cervi, A.C. 1997. Passifloraceae do Brasil. Estudo do gênero Passiflora L. subgênero Passiflora. Fontqueria 45: 1-92.). No Brasil, ocorre nos Estados do Amazonas, Pará e Tocantins; distribui-se nos Estados do Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso e Roraima (Bernacci et al. 2020Bernacci, L.C., Nunes, T.S., Mezzonato-Pires, A.C., Milward-De-Azevedo, M.A., Imig, D.C. & Cervi, A.C. (in memoriam). 2020. Passiflora in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 (acesso em 26-X-2022).
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). No Maranhão, P. laurifolia ocorre em capoeiras e áreas degradadas, desde o litoral até as matas ciliares do interior do Cerrado e na Chapada das Mesas (Villamil Monteiro 2017Villamil Montero, D.A. 2017. Etnobotânica de Passiflora L. uma aproximação na biogeografia, agroecologia e conservação dos maracujazeiros. Tese de Doutorado, Universidade Estadual Paulista, Botucatu.). Na Ilha de São Luís, foi encontrada com flores e frutos em borda de floresta.

Pertence ao subgênero Passiflora. Dentre as espécies estudadas, P. laurifolia, quando estéril, assemelha-se à P. nitida, devido ao caule cilíndrico e folhas inteiras (figura 3 e), porém pode ser diferenciada por suas folhas com margens inteiras e flores com filamentos bandeados de branco, vermelho e roxo (figura 3 g), estípulas lineares, pétalas de face externa e interna alvas com esparsas manchas e pontuações avermelhadas a roxas. No Brasil é conhecida popularmente como maracujá-doce, maracujá-laranja, maracujá-peroba, maracujá-bravo e maracujá-do-mato (Cervi 1997Cervi, A.C. 1997. Passifloraceae do Brasil. Estudo do gênero Passiflora L. subgênero Passiflora. Fontqueria 45: 1-92., Souza et al. 2021Souza, F.G.L.S., Cordeiro, L.S., Sampaio, V.S., Silva, M.A.P. & Loiola, M.I.B. 2021b. Flora of Ceará, Brasil: Passifloraceae s.s. Rodriguésia 72: 1-26.b).

6. Passiflora misera Kunth, Nov. Gen. et Sp. 2: 136. 1817.

Figura 3 i-j

Liana de caule achatado, herbáceo, verrucoso, levemente estriado, gavinhas delgadas; estípulas ca. 1 mm compr., lineares, falcadas, caducas, glabras, ápice agudo. Folhas com pecíolos 0,5-1 cm compr., cilíndricos, glabros, sem glândulas; lâminas foliares 1-1,5 × 2,8-4 cm, simples, 2-3 lobadas, membranáceas, verdes in vivo, amarronzadas in sicco, discolores, flabeliformes, ápice retuso, margem inteira, base truncada a reniforme, face adaxial verde pintalgada de amarelo, face abaxial vinácea, oceolos presentes, nervuras peninérvias, broquidódromas. Inflorescência uniflora; pedúnculos ca. 2,1 cm compr., anguloso-achatados, glabros; brácteas ca. 0,4 cm compr., verde a marrom, alternas, lineares, glabras. Flores ca. 3,5 cm diâm., eretas; hipanto pateliforme; sépalas 2,5-1,7 × 0,4-0,5 cm, oblongo-lanceoladas, ápice obtuso a agudo, margens inteiras, glabras, verde na parte externa, alvas na parte interna; pétalas 1,7 × 1,8 cm, oblongo-lanceoladas, membranáceas, ápice obtuso a agudo, margens inteiras, alvas; corona 0,5-1 cm compr., filamentos em 2 séries, filiformes, série externa branca, série interna unida na base por uma membrana, branca; opérculo não visto; límen anular, cupuliforme, margem lisa; disco nectarífero ausente; androginóforo ca. 0,7 cm compr., verde com base roxa, ereto, glabro; filetes ca. 0,5 cm, glabros, verdes; anteras ca. 4 × 2 mm; ovário ca. 3 × 3 mm, elipsóide, glabro, verde; estiletes 0,5-0,6 cm compr., curvados, glabros, verdes; estigmas captados, unilobados, verdes. Frutos 1,1-1,3 cm diâm., globosos a subglobosos, verde-claro quando imaturo, escuros quando maduro. Sementes ca. 2 × 3 mm, obovoides ou elipsóides, sarcotesta transversalmente sulcada.

Material examinado: BRASIL. Maranhão: São Luís, campus Dom Delgado, UFMA, 8-VII-2021 (est.), A.L. Garcia & L.C. Marinho 08 (MAR).

Material adicional examinado: BRASIL. Maranhão: Governador Edson Lobão, Km 229 na BR-010 após bananal, margem direita da rodovia, 25-IX-2022 (fl. bot.), L.C. Marinho et al. 1932 (MAR).

Passiflora misera é nativa do Brasil e amplamente distribuída pelos demais países da América do Sul: Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Guiana e Paraguai; e na América Central apenas no Panamá (Milward-de-Azevedo & Baumgratz 2004Milward-De-Azevedo, M.A. & Baumgratz, J.F.A. 2004. Passiflora L. subgênero Decaloba (DC.) Rchb. (Passifloraceae) na região Sudeste do Brasil. Rodriguésia 55: 17-54.). No Brasil, ocorre em praticamente todos os Estados, exceto Amapá e Roraima (Bernacci et al. 2020Bernacci, L.C., Nunes, T.S., Mezzonato-Pires, A.C., Milward-De-Azevedo, M.A., Imig, D.C. & Cervi, A.C. (in memoriam). 2020. Passiflora in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 (acesso em 26-X-2022).
https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 ...
). A espécie é encontrada em bordas de matas, vegetação próxima à costa, margeando estradas, capoeiras e cerrado (Milward-de-Azevedo et al. 2012Milward-de-Azevedo, M.A., Baumgratz, J.F.A. & Gonçalves-Esteves, V. 2012. A taxonomic revision of Passiflora subgenus Decaloba (Passifloraceae) in Brazil. Phytotaxa 53: 1-68.). No Maranhão e nos municípios da Ilha de São Luís, é encontrada escandente em palmeiras, principalmente de babaçueiros. Passiflora misera é aqui registrada pela primeira vez na Ilha de São Luís. Pertencente ao subgênero Decaloba e pode ser reconhecida pelas lâminas foliares flabeliformes (Milward-de-Azevedo et al. 2012) Milward-de-Azevedo, M.A., Baumgratz, J.F.A. & Gonçalves-Esteves, V. 2012. A taxonomic revision of Passiflora subgenus Decaloba (Passifloraceae) in Brazil. Phytotaxa 53: 1-68.com manchas ocelares (figura 3 i) e face abaxial vinácea (figura 3 j).

É conhecida popularmente pelos nomes de maracujá-asa-de-morcego, maracujá-mirim, maracujázinho-da-serra (Bernacci & Vitta 1999Bernacci, L.C. & Vitta, F.A. 1999. Flora Fanerogâmica da Reserva do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, São Paulo, Brasil. Hoehnea 26: 135-147.), maracujá-bravo, maracujá-de-cobra, maracujá-de-sapo, maracujá-do-mato, maracujá-preto e tripa-de-galinha (Bernacci et al. 2020).

7. Passiflora nitida Kunth, Nov. gen. sp. 2: 130. 1817.

Figura 4 a-c

Figura 4
Passifloraceae s.s. da Ilha de São Luís, Estado do Maranhão, Brasil. a-c. Passiflora nitida Kunth. a. Flor em antese. b. Detalhe do androginóforo. c. Frutos. d-i. P. picturata Ker Gawl. d. Folha em vista adaxial. e. Folha em vista abaxial. f. Botão floral. g. Flor em vista basal. h. Corona de filamentos. i. Flor em antese. Fotos: E.O. Silva: 4a-c; L.C. Marinho: 4d-h; M.D. Caldas: 4i. Figure 4. Passifloraceae s.s. from the São Luís Island, Maranhão State, Brazil. a-d. Passiflora nitida Kunth. a. Flower in anthesis. b. Detail of the androgynophore. c. Mature fruit. d-i. P. picturata Ker Gawl. d. Adaxial surface of leaf blade. e. Abaxial surface of leaf blade. f. Floral bud. g. Flower in basal view. h. Corona of filaments. i. Flower in anthesis. Photos: E.O. Silva: 4a-c; L.C. Marinho: 4d-h; M.D. Caldas: 4i.

Liana de caule cilíndrico, lenhoso, estriado, glabro; gavinhas robustas; estípulas 5-6 mm compr., linear-subuladas, caducas, glabras, ápice agudo. Folhas com pecíolos 3-4 cm compr., cilíndricos, glabros, glândulas 2; lâminas foliares 11-14 × 6-10 cm, simples, inteira, membranáceas a subcoriáceas, verde-claras in vivo, amarronzadas in sicco, ápice agudo ou acuminado, margem inteira, levemente ondulada, glandular-denteadas, base arredondada a levemente atenuada, oceolos ausentes, nervuras peninérvias. Inflorescência uniflora; pedúnculos 3-6 cm compr., cilíndricos, glabros; brácteas 3,5-7 × 2,5-4,2 cm, esverdeadas, verticiladas, foliáceas, oblongas a ovadas, glabras. Flores 6-12 cm diâm., pendulares; hipanto 0,5-0,7 cm compr., verde; sépalas 5, 3-4,5 × 1-2 cm, oblongo-lanceoladas, ápice obtuso, margens onduladas ou espaçadamente denticuladas, glabras, face externa verde, face interna alva; pétalas 5, 3-4,5 × 0,7-1 cm, oblongas, membranáceas, ápice obtuso, margens inteiras, alvas em ambas faces; corona 0,2-0,3 × 4-4,5 cm compr., filamentos em 5-6 séries, filiformes, série externa roxo-azulado, última série interna alva; opérculo membranáceo, margem fimbriada; límen cupuliforme, membranáceo, margem lisa; disco nectarífero presente; androginóforo ca. 3 cm compr., verde-claro, ereto, glabro; filetes 0,7 × 1 cm compr., glabros, brancos a verde-amarelados; anteras não vistas; ovário 0,8-1 cm, obovoide ou globosos, glabro, verde-claro; estiletes 0,5-1 cm compr., curvados, glabros, alvos ou verdes-claro; estigmas captados, bilobados, verde-claros. Frutos ca. 8 × 6,5 cm diâm., globosos a subglobosos, epicarpo rugoso, quando imaturos verdes pintalgados de branco-amareloado, manchados verticalmente de verde-escuro, amarelos quando maduros. Sementes ca. 8 × 6 mm, obcordadas, sarcotesta foveolada, reticulada nas margens.

Material examinado: BRASIL. Maranhão: São José de Ribamar, MERCK, 23-II-2007, s/c s/n (MAR 3995). São Luís, sítio Santa Eulália, 29-I-2018 (fl.), B. Araújo 183 (MAR).

Passiflora nitida distribui-se pela Bolívia, Colômbia, Guiana, Guiana Francesa, Panamá, Perú, Suriname e Venezuela (Cervi 1997Cervi, A.C. 1997. Passifloraceae do Brasil. Estudo do gênero Passiflora L. subgênero Passiflora. Fontqueria 45: 1-92.). No Brasil é amplamente distribuída nas regiões Centro-Oeste (Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso), Norte (todos os Estados exceto Amapá) e Nordeste (Bahia e Maranhão) (Bernacci et al. 2020Bernacci, L.C., Nunes, T.S., Mezzonato-Pires, A.C., Milward-De-Azevedo, M.A., Imig, D.C. & Cervi, A.C. (in memoriam). 2020. Passiflora in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 (acesso em 26-X-2022).
https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 ...
). Na Ilha de São Luís, foi registrada em São Luís e durante as coletas de campo, foi encontrada vegetativa na Área de Proteção Ambiental do Itapiracó.

Passiflora nitida pertence ao subgênero Passiflora e pode ser confundida com P. laurifolia, devido às flores pêndulas (figura 4 a para P. nitida, figura 3 g para P. laurifolia) com uma corona longa ao redor do ovário (Ulmer & MacDougal 2004Ulmer, T. & MacDougal, J.M. 2004. Passiflora: Passion flowers of the world. Timber Press, Cambridge.). Pode ser diferenciada pelas folhas ovado-oblongas com margens denticuladas formadas por glândulas pouco proeminentes, pétalas e sépalas alvas. Passiflora nitida é a espécie do gênero mais importante e cultivada na Amazônia, por conta da comercialização de seus frutos, para rendas familiares e consumo de frutos maduros, conhecidos como maracujá-de-cheiro e maracujá-de-boto (Bernacci et al. 2020Bernacci, L.C., Nunes, T.S., Mezzonato-Pires, A.C., Milward-De-Azevedo, M.A., Imig, D.C. & Cervi, A.C. (in memoriam). 2020. Passiflora in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 (acesso em 26-X-2022).
https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 ...
, Villamil Monteiro 2017Villamil Montero, D.A. 2017. Etnobotânica de Passiflora L. uma aproximação na biogeografia, agroecologia e conservação dos maracujazeiros. Tese de Doutorado, Universidade Estadual Paulista, Botucatu.).

8. Passiflora picturata Ker Gawl., Bot. Reg. 8: pl. 673. 1822.

Figura 4 d-i

Liana de caule cilíndrico, lenhoso, levemente estriado, glabro; gavinhas delgadas; estípulas 1,7-2 × 0,9-1,5 cm compr., semiovadas, persistentes, glabras, ápice arredondado aristado. Folhas com pecíolos 1,5-3 cm compr., delgados, glabros, canaliculados, glândulas 2; lâminas foliares 4,3-5 × 5,5-6,5 cm, simples, trilobadas, membranáceas, verdes in vivo, amarronzadas in sicco, discolores, ápice obtuso a arredondado, margem inteira, levemente ondulada, base subcordada, face adaxial verde, face abaxial vinácea, oceolos ausentes nervuras broquidódromas. Inflorescência uniflora; pedúnculos ca. 9,5 cm compr., cilíndricos, glabros; brácteas ca. 3,5 × 2,4 cm, esverdeadas, verticiladas, foliáceas, oblongas, glabras, pecioladas. Flores 5,5-6 cm diam., eretas; hipanto ca. 0,5 cm compr., branco; sépalas 5, ca. 2,5 × 1 cm, oblongas, ápice obtuso com arista foliácea e aquilhada, margens inteiras, glabras, face externa verde, face interna rósea; pétalas 5, 2,5-3 × 1 cm, oblongas, membranáceas, ápice obtuso, margens inteiras, róseas com margens arroxeadas em ambas faces; corona 0,7-1,2 cm compr., filamentos em 2 séries, filiformes, série externa e interna branco com faixas roxas; opérculo membranáceo a carnoso, margem fimbriada; límen adnato ao androginóforo, membranáceo, margem lisa; disco nectarífero presente; androginóforo ca. 1,2 cm compr., verde a amarelado com pontuações avermelhadas, ereto, glabro; filetes ca. 0,8 cm compr., glabros, verde-amarelado com máculas avermelhadas; anteras ca. 7 × 2 mm; ovário ca. 8 × 6 mm, ovoide, glabro, verde; estiletes ca. 1 cm compr., curvados, glabros, branco com manchas arroxeadas; estigmas captados, unilobados, verdes. Frutos 3-5,4 cm diâm., globosos, epicarpo liso, verdes. Sementes ca. 5 × 3 mm, obovoides, sarcotesta foveoladas.

Material examinado: BRASIL. Maranhão: São Luís, Sítio Santa Eulália, 15-V-2021 (fl. bot.), A.L. Garcia et al. 03 (MAR).

Passiflora picturata é nativa do Brasil e distribui-se também pelo Suriname e Colômbia (Cervi 1997Cervi, A.C. 1997. Passifloraceae do Brasil. Estudo do gênero Passiflora L. subgênero Passiflora. Fontqueria 45: 1-92.). É amplamente distribuída nos Estados brasileiros, ocorrendo na região Norte, nos Estados do Acre, Pará, Rondônia e Roraima; na região Nordeste: Alagoas, Ceará, Maranhão e Piauí e no Estado do Mato Grosso da região Centro-Oeste (Bernacci et al. 2020Bernacci, L.C., Nunes, T.S., Mezzonato-Pires, A.C., Milward-De-Azevedo, M.A., Imig, D.C. & Cervi, A.C. (in memoriam). 2020. Passiflora in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 (acesso em 26-X-2022).
https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 ...
). Geralmente, os indivíduos são encontrados nas margens e no interior das florestas primárias e secundárias (Cervi 1997Cervi, A.C. 1997. Passifloraceae do Brasil. Estudo do gênero Passiflora L. subgênero Passiflora. Fontqueria 45: 1-92.). Há registros da espécie em áreas de mata seca e mata úmida, no Nordeste do Brasil, na Chapada do Araripe (Souza et al. 2021Souza, F.G.L.S., Cordeiro, L.S., Sampaio, V.S., Silva, M.A.P. & Loiola, M.I.B. 2021b. Flora of Ceará, Brasil: Passifloraceae s.s. Rodriguésia 72: 1-26.a), indicando que pode ocorrer nos mais diversos tipos de vegetação. No Maranhão, P. picturata foi registrada apenas em Caxias e Mirador (Silva et al. 2018Silva, E.O., Milward-De-Azevedo, M.A., Sá, N.A.S., De Sousa, D.A. & Da Conceição, G.M. 2018. New records of Passiflora L. (Passifloraceae) species from Maranhão state and northeastern Brazil. Check List 14: 347-352.), sendo essa a primeira coleta na Ilha de São Luís, onde foi encontrada em borda e interior de florestas.

Passiflora picturata pertence ao subgênero Passiflora e pode ser facilmente reconhecida pela face abaxial das folhas e pétalas róseas a arroxeadas, folhas trilobadas e brácteas pecioladas (figura 4 f-g), sendo este caráter único entre as espécies do gênero (Silva et al. 2013Silva, E.O., Santos, J.U.M. & Dias, A.C.A.A. 2013. Passifloraceae na área de proteção ambiental de Belém, PA, Brasil. Rodriguésia 64: 829-845.). É conhecida como maracujá-do-agreste, maracujá-de-estalo e maracujá-de-boi, (Souza et al. 2021Souza, F.G.L.S., Cordeiro, L.S., Sampaio, V.S., Silva, M.A.P. & Loiola, M.I.B. 2021b. Flora of Ceará, Brasil: Passifloraceae s.s. Rodriguésia 72: 1-26.a, Souza et al. 2021b).

9. Passiflora subrotunda Mast., Fl. bras. 13(1): 601. 1872.

Figura 5 a-c

Figura 5
Passifloraceae s.s. da Ilha de São Luís, Estado do Maranhão, Brasil. a-d. Passiflora subrotunda Mast. a. Folha em vista adaxial. b. Ramo com flor em antese. c. Corona de filamentos. d. Fruto imaturo. e-i. P. vespertilio L. e. Folha em vista abaxial. f. Botão floral e detalhe das glândulas na base da lâmina foliar. g. Androginóforo. h. Fruto maduro. i. Flor em antese. Fotos: A.L. Garcia: 5a, d, f, i; L.C. Marinho: 5b-c; A.W.C. Ferreira: 5e, g; E.O. Silva: 5h. Figure 5. Passifloraceae s.s. from the São Luís Island, Maranhão State, Brazil. a-d. Passiflora subrotunda Mast. a. Adaxial surface of leaf blade. b. Branch with flower in anthesis. c. Corona of filaments. d. Immature fruit. e-i. P. vespertilio L. e. Abaxial surface of leaf blade. f. Floral bud and detail of glands on the leaf blade base. g. Androgynophore. h. Mature fruit. Flower in anthesis. Photos: A.L. Garcia: 5a, d, f, i; L.C. Marinho: 5b-c; A.W.C. Ferreira: 5e, g; E.O. Silva: 5h.

Liana de caule cilíndrico, herbáceo, estriado, gavinhas delgadas; estípulas 12-20 mm compr., semi-ovadas a suborbiculares, persistentes, glabras, ápice agudo. Folhas com pecíolos 1-1,2 cm compr., cilíndricos, glabros, glândulas 2; lâminas foliares 4-4,5 × 3,4-4,2 cm, simples, inteiras, suborbiculares ou cordadas, membranáceas, verdes in vivo, amarronzadas, amarronzadas in sicco, discolores, ápice arredondado a emarginado, margem inteira, levemente ondulada, base cordada, oceolos ausentes, nervuras peninérveas. Inflorescência uniflora; pedúnculos ca. 2,7 cm compr., delgados, glabros; brácteas 0,8-1,2 × 0,5-0,6 cm, esverdeadas, verticiladas, foliáceas, ovado-lanceoladas, glabras. Flores ca. 4,2 cm diâm., eretas; hipanto ca. 0,3 cm compr., cor não vista; sépalas 5, ca. 2,4 × 0,4 cm, lineares, ápice obtuso, margens inteiras, glabras, face externa verde com manchas roxas, face interna roxo a azulado; pétalas 5, ca. 2 × 0,3 cm, lineares, membranáceas, ápice obtuso, margens inteiras, roxo-azuladas em ambas as faces; corona 0,9-1,7 cm compr., filamentos em 2 séries, filiformes, série externa e interna branco listrado com faixas roxa-azuladas; opérculo membranáceo, margem crenulada; límen cupuliforme, membranáceo, margem lisa; disco nectarífero ausente; androginóforo ca. 1,1 cm compr., branco-esverdeado, ereto, glabro; filetes ca. 0,6 cm compr., glabros, verde-amarelado com pontuações roxas; anteras ca. 4 × 1-2 mm; ovário ca. 4 × 4 mm, ovoide, glabro, verde; estiletes ca. 0,9 cm compr., curvados, glabros, arroxeados; estigmas captados, levemente bilobado, verde. Frutos ca. 0,7-1,1 cm diâm., ovoides, epicarpo liso, verde-escuro. Sementes ca. 4 × 3 mm, obovoides, sarcotesta foveolada.

Material examinado: BRASIL. Maranhão: São José de Ribamar, praia de Panaquatira, 25-I-2015 (fl.), G.P. Lima 544 (MAR); praia do Araçagy, 7-XI-2015 (fl.), G.S. Amorim 230 (MAR); praia de Panaquatira, próximo à base da UFMA, 20-VI- 2021 (fl. fr. im.), L.C. Marinho et al. 1718 (MAR). São Luís, praia da Guia, 10-VIII-2016 (fl. fr.), A.V.F. Guterres 459 (MAR).

Passiflora subrotunda é endêmica do Brasil, encontrada no litoral do Nordeste, nos Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba e Rio Grande do Norte (Bernacci et al. 2021Bernacci, L.C., Nunes, T.S., Mezzonato-Pires, A.C., Milward-De-Azevedo, M.A., Imig, D.C. & Cervi, A.C. (in memoriam). 2020. Passiflora in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 (acesso em 26-X-2022).
https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 ...
). Na Ilha de São Luís, foi registrada na praia do Araçagi (Amorim et al. 2016Amorim, G.S., Amorim, I.F.F. & Almeida Jr., E.B. 2016. Flora de uma área de dunas antropizadas na praia de Araçagi, Maranhão. Revista Biociências 22: 18-29.), praia da Guia (Lima & Almeida Jr. 2018Lima, G.P. & Almeida Jr., E.B. 2018. Diversidade e similaridade florística de uma restinga ecotonal no Maranhão, Nordeste do Brasil. Interciência 43: 275-282.) e praia de Panaquatira (Guterres et al. 2020Gutteres, A.V.F., Amorim, I.F.F., Silva, A.F.S. & Almeida Jr., E.B. 2020. Levantamento florístico e fisionômico da restinga da praia da Guia, São Luís, Maranhão. Biodiversidade 19: 57-72.).

Passiflora subrotunda pertence ao subgênero Passiflora e diferencia-se das demais espécies da ilha pela presença de estípulas suborbiculares, lâminas foliares de ápice emarginado (figura 5 a), brácteas distribuídas pelo pedúnculo, sépalas e pétalas lineares, roxo-azuladas, filamentos da corona brancos bandeados de roxo-azulados e estiletes arroxeados (figura 5 c). Conhecida pelos nomes populares de maracujá-de-rato e maracujá-de-praia (Bernacci et al. 2020Bernacci, L.C., Nunes, T.S., Mezzonato-Pires, A.C., Milward-De-Azevedo, M.A., Imig, D.C. & Cervi, A.C. (in memoriam). 2020. Passiflora in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 (acesso em 26-X-2022).
https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 ...
).

10. Passiflora vespertilio L., Sp. Pl. 2: 957. 1753.

Figura 5 e-i

Liana de caule subanguloso ou achatado, herbáceo, estriado, glabro a levemente pubescente; gavinhas delgadas; estípulas 3-6 mm compr., linear-subuladas a falcadas, persistentes, glabras, ápice agudo. Folhas com pecíolos 1-1,5 cm compr., cilíndricos, pubescentes, sem glândulas; lâminas foliares 5-5,5 × 7-8,3 cm, simples, bilobadas a trilobadas, obtriangulares a cuneiformes, cartáceas a coriáceas, verdes in vivo, amarronzadas in sicco, ápice agudo, margem inteira, base obtusa, arredondada ou truncada, oceolos presentes, nervuras peninérvias. Inflorescência uniflora; pedúnculos 0,5-1 cm compr., cilíndricos, levemente pubescentes; brácteas ca. 0,4 cm compr., cores não vistas, alternas, setáceas, lineares, levemente pubescentes. Flores ca. 2,5 cm diâm., eretas; hipanto não visto; sépalas 5, 1,4-1,9 × 0,4-1,1 cm, oblongas, ápice agudo, margens inteiras, glabras, verde-amareladas; pétalas 5, ca. 0,9 × 0,2 cm, oblongas, membranáceas, ápice obtuso a arredondado, margens inteiras, alvas; corona 0,3-1,3 cm compr., filamentos em 2 séries, liguliformes a lineares, série externa unida na base por uma membrana, branco a verde-amarelada, séries internas brancas; opérculo membranáceo, margem fimbriada; límen anular, cupuliforme, margem lisa; disco nectarífero ausente; androginóforo ca. 0,7 cm compr., vináceo, ereto, glabro; filetes ca. 0,5 cm, glabros, verdes com mancha vinácea; anteras ca. 4 × 15 mm; ovário ca. 3 × 2 mm, ovoide, glabro, verde; estiletes ca. 0,5 cm compr., curvados, glabros, vináceos; estigmas captados, unilobados, verdes. Frutos 0,8-3,4 cm diâm., subglobosos, verde-claros quando imaturo, escuros quando maduro. Sementes ca. 4 × 2 mm, obovadas, testa com ranhuras transversais.

Material examinado: BRASIL. Maranhão: São Luís, Mata do Cohafuma, próximo à lagoa, 6-I-2022 (est.), A.W.C Ferreira 506 (MAR); Cohafuma, 29-I-2022 (fl. bot.), A.L. Garcia & F.S. Pereira 12 (MAR).

Material adicional examinado: BRASIL, Maranhão: Codó, floresta de galeria, 25-I- 2016 (fl.), E.O. Silva 24 (HENAC).

Passiflora vespertilio ocorre no Brasil, Bolívia, Colômbia, Guiana Francesa, Equador, Peru, Suriname e Venezuela (Milward-de-Azevedo et al. 2012Milward-de-Azevedo, M.A., Baumgratz, J.F.A. & Gonçalves-Esteves, V. 2012. A taxonomic revision of Passiflora subgenus Decaloba (Passifloraceae) in Brazil. Phytotaxa 53: 1-68.). No Brasil, distribui-se em quase todos os Estados da região Norte, exceto Roraima, além do Mato Grosso e Maranhão (Bernacci et al. 2020Bernacci, L.C., Nunes, T.S., Mezzonato-Pires, A.C., Milward-De-Azevedo, M.A., Imig, D.C. & Cervi, A.C. (in memoriam). 2020. Passiflora in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 (acesso em 26-X-2022).
https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 ...
). A ocorrência de P. vespertilio no Maranhão foi recentemente reportada por Silva et al. (2018Silva, E.O., Milward-De-Azevedo, M.A., Sá, N.A.S., De Sousa, D.A. & Da Conceição, G.M. 2018. New records of Passiflora L. (Passifloraceae) species from Maranhão state and northeastern Brazil. Check List 14: 347-352.), os quais apontaram a ocorrência da espécie no norte, extremo leste e sul do Estado. Na Ilha de São Luís, P. vespertilio foi coletada em áreas urbanizadas de São Luís.

Passiflora vespertilio pode ser confundida com P. misera devido ao caule achatado e folhas bilobadas com manchas oceolares dispostas na face inferior da lâmina foliar. No entanto, P. vespertilio diferencia-se pelas lâminas foliares obtriangular a cuneiforme (Milward-de-Azevedo et al. 2012Milward-de-Azevedo, M.A., Baumgratz, J.F.A. & Gonçalves-Esteves, V. 2012. A taxonomic revision of Passiflora subgenus Decaloba (Passifloraceae) in Brazil. Phytotaxa 53: 1-68.) e pode ser diferenciada das demais espécies deste subgênero, pela estrutura da corona, geralmente com filamentos liguliformes a lineares unidos por membrana e medindo 0,3-1,3 cm compr. (Killip 1938Killip, E.P. 1938. The American Species of Passifloraceae. Chicago, Publication of Field Museum of Natural History, Botanical Series 19, pp. 1-603.). Passiflora vespertilio é conhecida por maracujá-bravo, maracujá-de-urubu e maracujá-do-mato (Bernacci et al. 2020Bernacci, L.C., Nunes, T.S., Mezzonato-Pires, A.C., Milward-De-Azevedo, M.A., Imig, D.C. & Cervi, A.C. (in memoriam). 2020. Passiflora in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB182 (acesso em 26-X-2022).
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).

Conclusões

Passifloraceae encontra-se bem distribuída em todas as fitofisionomias da Ilha de São Luís, a maior parte delas em áreas antropizadas. As espécies de floresta ocorrem em áreas mais preservadas (i.e. Passiflora auriculata, P. laurifolia, P. misera e P. picturata), entretanto ainda são pouco amostradas nas coleções. Isso se deve, possivelmente, à subamostragem nas áreas de floresta estacional do interior da ilha. Além da baixa amostragem, estas áreas vêm constantemente sofrendo intenso processo de desmatamento, principalmente em regiões próximas à zona urbana. Os novos registros para a ilha, bem como a coleta de espécimes tanto de áreas de restinga (e.g. P. subrotunda), quanto amazônicas (e.g. P. vespertilio) apontam o caráter ecotonal da Ilha de São Luís, onde há uma confluência de fitofisionomias, formando um mosaico vegetacional. Este estudo demonstra a necessidade de expedições de coleta em áreas interioranas da ilha e torna imperativo a produção de tratamentos taxonômicos para grupos ainda subamostrados na Ilha de São Luís.

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de Iniciação Científica concedida à ALG (152701/2020-6) e financiamento dessa pesquisa por meio do Edital Universal (#402943/2021-0). À Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), pelo suporte financeiro por meio do Edital Universal (#01312/2019). Os autores agradecem à Francinaldo Pereira, Alícia Ewerton, Leandro Menezes e aos demais colegas do Grupo de Pesquisa TaxA, pelo suporte durante as expedições de campo. Agradecemos também aos Curadores dos Herbários MAR e SLUI por disponibilizarem o acesso aos seus acervos.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2023

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