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Fazendas de gado no Paraná escravista

Resumo:

A pecuária foi uma atividade econômica de importância central na formação dos mercados internos coloniais brasileiros. As fazendas cresceram e se fortaleceram na retaguarda dos setores de exportação. O presente artigo analisa as fazendas de gado existentes no Paraná em 1825, discutindo o emprego da mão-de-obra escrava, familiar e livre, bem como a composição dos rebanhos e a produção de alimentos no seu interior. Os fazendeiros aparecem, nessa conjuntura, como a classe mais poderosa e a principal detentora de terras e escravos.

Palavras-chave:
Fazendas de gado; escravidão; Paraná.

Abstract:

The livestock was an economic activity of central importance in the formation of the Brazilian colonial internal markets. The farms grew and they strengthened in the rearguard of the export sectors. The present article analyzes the cattle farms existent in Paraná in 1825, discussing the employment of the slave, family and free labor, as well as the composition of the flocks and the production of victuals in its interior. The farmers appear, in that conjuncture, as the most powerful class and the main owners of lands and slaves.

Key Words:
Cattle farms; Slavery; Paraná.

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  • 1
    O papel da pecuária como componente central no fomento do comércio inter-regional é demonstrado por Maria Thereza Schorer Petrone, O Barão de Iguape,São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976. Ver também da mesma autora, As áreas de criação de gado. Em: Sérgio Buarque de Holanda (org.). História Geral da Civilização Brasileira, 4ª ed., Rio de Janeiro: Difel, v. 2, pp. 218-227, 1977.
  • 2
    Sobre o Piauí existem dois trabalhos pioneiros: Luiz Mott, Piauí colonial: população, economia, sociedade, Teresina: Projeto Petrônio Portella, 1985, e Miridan Britto Knox Falci, Escravos do sertão: demografia, trabalho e relações sociais. Piauí, 1826-1888. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1995. A questão do abastecimento no Centro-Sul é tratada por Mafalda P. Zemella, O abastecimento da Capitania das Minas Gerais no século XVIII. São Paulo: Hucitec/Edusp, 1990; e Alcir Lenharo, As tropas da moderação: o abastecimento da Corte na formação política do Brasil, 1808-1842. São Paulo: Símbolo, 1979.
  • 3
    A pecuária é analisada no trabalho de Helen Osório, Estancieiros, lavradores e comerciantes na constituição da estremadura portuguesa na América, tese de doutorado, UFF, 1999. A charqueada recebe atenção no livro de Mário José Maestri Filho, O escravo no Rio Grande do Sul: a charqueada e a gênese do escravismo gaúcho, Porto Alegre: EST/Educs, 1984; no mais antigo de Fernando Henrique Cardoso, Capitalismo e escravidão no Brasil meridional, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977; e no mais recente de Stephen Bell, Campanha Gaúcha: A Brazilian Ranching Sustem, 1850-1920, Stanford: Stanford University Press, 1998. Caio Prado Júnior contextualiza a pecuária gaúcha dentro dos mercados internos em História econômica do Brasil, São Paulo: Brasiliense, 1977, pp. 94-100.
  • 4
    Brasil Pinheiro Machado, Contribuição ao estudo da história agrária do Paraná. I: Formação da estrutura agrária tradicional dos Campos Gerais, Anais do II Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História, 1962, p. 129-155; Altiva Pilatti Balhana & Cecília Maria Westphalen, Fazendas do Paraná provincial, Anais do VIII Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História, v. 2, 1976, pp. 391-406.
  • 5
    O levantamento de Curitiba foi realizado em 1826 e contabilizou 258 fazendas na vila (incluindo no cômputo as freguesias de São José dos Pinhais e Palmeira). Este número é a todas as luzes inverossímil frente a outros levantamentos contemporâneos: um arrolamento feito em 1772 registrou a existência de 29 fazendas na área dos Campos Gerais; em 1836 o número de fazendas de criar no Paraná havia aumentado para 88 segundo Daniel Pedro Müller, sendo que 38 localizavam-se em Curitiba e suas freguesias. E ainda em 1862 o total de fazendas de gado chegava no Paraná a apenas 233, levando-se em conta as existentes em Curitiba, Lapa, Ponta Grossa, Palmeira, Palmas, Guarapuava e Rio Negro (só não há dados para São José dos Pinhais). No que se refere a Castro e Ponta Grossa, o levantamento de 1825 enumera 45 fazendas para estas localidades, número que se harmoniza com os demais arrolamentos e com a curva ascendente que registra a pecuária no Paraná até a década de 1860. Cf. Brasil Pinheiro Machado, op.cit., p. 136; Daniel Pedro Müller, Ensaio d'um quadro estatístico da Província de São Paulo (1837),São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, 1978, p. 131; Altiva Pilatti Balhana & Cecília Maria Westphalen, op.cit., p. 395.
  • 6
    Horacio Gutiérrez, Senhores e escravos no Paraná, 1800-1830.Dissertação de mestrado em Economia, Universidade de São Paulo, mimeo, 1986.
  • 7
    Marina Lourdes Ritter, As sesmarias do Paraná no século XVIII, Curitiba: Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Parananense, 1980, p. 180.
  • 8
    Horacio Gutiérrez, "A estrutura fundiária no Paraná antes da imigração". Estudos de História, Franca, v. 8, n. 2, 2001, pp. 209-231.
  • 9
    Altiva Pilatti Balhana & Cecília Maria Westphalen, op. cit., p. 395.
  • 10
    Corcino Medeiros dos Santos, Economia e sociedade do Rio Grande do Sul, século XVIII, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1984, p. 82.
  • 11
    Corcino Medeiros dos Santos, op. cit., p. 85.
  • 12
    Aluísio de Almeida, Vida e morte do tropeiro, São Paulo: Martins/ Edusp, 1981; Herbert S. Klein, "A oferta de muares no Brasil Central: o mercado de Sorocaba, 1825-1880", Estudos Econômicos, v. 19, n. 2, 1989, pp. 347-372.
  • 13
    Maria Thereza Schorer Petrone, O Barão de Iguape. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976, pp. 18 e 39.
  • 14
    Daniel Pedro Müller, op.cit., p. 128; Altiva Pilatti Balhana & Cecília Maria Westphalen, op. cit., pp. 396 e 400.
  • 15
    Citado por Carlos Roberto Antunes dos Santos, História da alimentação no Paraná, Curitiba: Fundação Cultural, 1995, p. 133.
  • 16
    Daniel Pedro Müller, op. cit., p. 128.
  • 17
    Daniel Pedro Müller, op. cit., p. 128.
  • 18
    Auguste de Saint-Hilaire, Viagem a Curitiba e Província de Santa Catarina (1820). São Paulo: Edusp, 1978, p. 23.
  • 19
    Horacio Gutiérrez, Senhores e escravos no Paraná, 1800-1830.Dissertação de mestrado em Economia, Universidade de São Paulo, mimeo, 1986, p. 44.
  • 20
    Auguste de Saint-Hilaire, op. cit., pp. 42-44.
  • 21
    Horacio Gutiérrez, "Demografia escrava numa economia não-exportadora: Paraná, 18001830". Estudos Econômicos, v. 17, n. 2, 1987, pp. 310-311, e "Crioulos e africanos no Paraná, 1798-1830". Revista Brasileira de História, v. 8, n. 16, 1988, pp. 167-74.
  • 22
    Davi Carneiro, O drama da fazenda Fortaleza. Curitiba: Dicesar Plaisant, 1941.
  • 23
    Detalhes do episódio e sua construção histórica em Pedro do Rosário Neto, "O jogo das representações em torno do drama da fazenda Fortaleza", História: Questões e Debates, n. 20-21, 1990, pp. 103-121; Oney Barbosa Borba, "Seqüelas do atentado contra a vida do coronel José Félix da Silva Passos", Boletim do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense, v. 49, 1995, pp. 223-262.
  • 24
    Auguste de Saint-Hilaire, op. cit., pp. 42-47.
  • 25
    Daniel Pedro Müller, op. cit., p. 251; Jaelson Bitran Trindade & João Urban, Tropeiros, São Paulo: Editoração Publicações e Comunicações Ltda., 1992, p. 79.
  • 26
    Manuel Eufrásio de Azevedo Marques, Apontamentos históricos, geográficos, biográficos, estatísticos e noticiosos da Província de São Paulo (1879).São Paulo: Edusp/Itatiaia, 1980, vol. 1, pp. 34-35; vol. 2, pp. 51-52.
  • 27
    Auguste de Saint-Hilaire, op. cit., pp. 34-37; Marina Lourdes Ritter, A sociedade nos Campos de Curitiba na época da Independência, Porto Alegre: BRDE, 1982, p. 63.
  • 28
    Auguste de Saint-Hilaire, op. cit., pp. 38-39.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2004
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