Acessibilidade / Reportar erro

In vino veritas: vinho e aguardente no cotidiano dos sodomitas lusobrasileiros à época da Inquisição

In vino veritas: wine and sugarcane spirit in the everyday life of the Luso-Brazilian sodomites uring the Inquisition times

Resumos

Com base nos processos e sumários inquisitoriais da Torre do Tombo, relativos ao nefando pecado de sodomia, interpretamos as informações relativas aos diferentes aspectos dos padrões de consumo de vinho e aguardente pelos sodomitas e fanchonos do mundo luso-brasileiro: ocasiões e situações em que se dava o consumo de bebidas alcoólicas; quantidade, medidas e utensílios ligados ao produto consumido; a utilização destas bebidas como ingrediente visando a socialização, sedução ou dirimente da culpa criminal dos amantes do mesmo sexo.

Sodomia; Escravidão; Vinho.


Sur la base des procès et sommaires de l´Inquisition Portugaise, conservés dans les archives Torre do Tombo de Lisbonne, relatifs à l'abominable péché de sodomie, nous analysons les informations concernant les différents aspects des normes de la consommation du vin et de l'eau-de-vie par les sodomites et "fanchonos" du monde luso-brésilien: les occasions et situations où ils s'adonnaient à la consommation de boissons alcooliques; la quantité, les mesures et les ustensiles rattachés au produit consommé; l'utilisation de ces boissons comme ingrédients visant la socialisation, la séduction ou l'empêchement de la culpabilité criminelle des amants du même sexe.

Sodomy; slavery; wine.


Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

  • 1
    Comunicação apresentada no Simpósio Drogas e Álcool na História do Brasil, séculos XVI-XIX, Universidade Federal de Ouro Preto, Mariana, 25/27-6-2003.
  • 2
    Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Inquisição de Lisboa, Inquisição Lisboa, Processo1467. [Doravante, abreviado ANTT, IL, Proc.]
  • 3
    Mott, Luiz. "Pagode português: a subcultura gay em Portugal nos tempos inquisitoriais"Ciência e Cultura, vol.40, fevereiro 1980:120-139.
  • 4
    Mott, Luiz. "Justitia et misericórdia: A Inquisição Portuguesa e a repressão ao abominávelpecado de sodomia", in Novinsky, A. & Tucci, M.L. (Eds) Inquisição: Ensaios sobre Mentalidade, Heresias e Arte. S. Paulo, EDUSP, 1992:703-739.
  • 5
    O problema do alcoolismo foi largamente reconhecido na sociedade ocidental desde o séculoXVIII, quando a disponibilidade de bebidas destiladas baratas tornou-as acessíveis a um largo número de pobres e outras pessoas excluídas que passaram a sufocar suas mágoas no licor. O papel que o álcool pode gozar no relaxamento das inibições sexuais também foi reconhecido desde a antiguidade, associando o deus Dionísio e Baco às celebrações orgásticas. Cf. Forest, Gary G. Alcoholism and Human Sexuality.Springfield, IL, Charles Thomas Editor, 1983; Hirschfeld, Magnus. Der Einfluss des Alkohols auf das Geschlechtsleben. Berlin, Michaelis, 1906; Israelstam, S. & Silvia Lambert. "Homosexuality as a cause of alcoholism: a historical review", International Journal of the Addictions, 18 (1983), p.1085-1107; O'Farrell, T. , Carolyn Weyland, Diane Logan. Alchool and Sexuality: An Annotated Bibliography on Alcoholism, and Sexual Behavior. Phoenix, Oryx Press, 1983.
  • 6
    Belini, Ligia. A Coisa Obscura: Mulher, sodomia e Inquisição no Brasil Colonial. São Paulo, Editora Brasiliense, 1987.
  • 7
    Aguardente, segundo o Dicionário Moraes, é "álcool extraído do vinho, dos cereais, da cana, das frutas doces e quaisquer outros produtos sujeitos a fermentação e destilação." Canada, segundo o mesmo dicionarista, é "antiga medida portuguesa de líquidos que continha quatro quartilhos ou a 12a parte de almude ou 2,662 litros".
  • 8
    ANTT, IL, Caderno do Promotor, n. 130. Segundo o dicionarista Moraes, pinga é sinônimo de vinho bom, licor ou rapé de boa qualidade. "Estar com a pinga" era usado no mesmo sentido de estar embriagado. Nenhuma associação direta a aguardente de cana. Cachaça, por sua vez, já no século XVIII referia-se a aguardente ordinária extraída do mel ou borras de melaço e das limpaduras da cana de açúcar. Já era usado no sentido de "gozo em fazer alguma coisa por paixão ou hábito".
  • 9
    ANTT, IL, Proc. 2557.
  • 10
    ANTT, IL, Proc. 1600.
  • 11
    Quartilho: segundo Moraes, "equivale a quarta parte de uma canada, ou 35 centilitros. No Brasil, correspondia à canada de Portugal". Quartinho: "moeda equivalente a quarta parte da moeda de 4$800 ou 1$200 réis". Segundo o Dicionário Aurélio, quartilho era "antiga unidade de medida de capacidade para litros, equivalente à quarta parte de uma canada, i. e., 0,6655 litro".
  • 12
    ANTT, Inquisição de Coimbra, Proc. 3094.
  • 13
    ANTT, IL, Proc. 10093.
  • 14
    ANTT, IL, Proc. 1619.
  • 15
    ANTT, IL, 13º Caderno do Nefando, 143-6-38, fl. 34.
  • 16
    ANTT, IL, 6º Caderno do Nefando, 143-6-33, fl. 136.
  • 17
    ANTT, IL, 20º Caderno do Nefando, 149-7-698, fl. 192.
  • 18
    ANTT, IL, Proc. 1467. Peroleira, segundo Moraes, é "botija de barro grossa e comprida, afunilada para baixo, em que se guardam azeitonas". Botija, por sua vez, é "o vaso de barro de forma cilíndrica, como a da garrafa, gargalo curto e pequena asa ou sem ela, para vinagres, azeites, etc." Segundo o Aurélio, botija é "vaso cilíndrico, de grés, de boca estreita, gargalo curto e uma pequena asa".
  • 19
    ANTT, IL, Proc. 9467.
  • 20
    ANTT, IL,1º Caderno do Nefando Évora, 145-5-23, fl. 26.
  • 21
    ANTT, IL, 14º Caderno do Nefando, 143-6-39, fl. 62. Pipa, segundo Moraes, continha 25 almudes, variando contudo seu volume de região para região. Um almude equivalia a 12 canadas, ou seja, 31,94 litros.
  • 22
    ANTT, IL, 19º Caderno do Nefando, 143-7-43, fl. 411.
  • 23
    ANTT, IL, Proc. 12894.
  • 24
    ANTT, IL, 15º Caderno do Nefando, 143-6-40, fl. 227.
  • 25
    Denunciações e confissões de Pernambuco, 1593-1595, p.280.
  • 26
    Segunda Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil, 1618, p.383.
  • 27
    Eis a definição que o Moraes dá para bêbedo(mais usado do que bêbado): "aquele que tem o juízo perturbado pelo excesso de vinho ou de qualquer outra bebida alcoólica ou por excessivo uso do ópio, do tabaco, etc. Pessoa dada a bebedice, a embriaguês; nome que se dá a um homem desprezível, diz-se: 'é um patife, um canalha, um bêbedo', também a mulher descarada, sem pejo".
  • 28
    Denunciações e confissões de Pernambuco, 1593-1595, p.355.
  • 29
    ANTT, Inquisição Évora, Proc. 5013.
  • 30
    ANTT, IL, Caderno do Nefando, nº 821.
  • 31
    ANTT, IL, Proc. 1312.
  • 32
    ANTT, IL, Proc. 1967.
  • 33
    ANTT, IL, Proc. 6789.
  • 34
    ANTT, IL, Proc. 1717.
  • 35
    Mott, Luiz. "A maconha na história do Brasil", in A . Hennan (Ed), Diamba sarambamba: Textos sobre a maconha no Brasil. São Paulo, Editora Ground, 1986:117-135.
  • 36
    ANTT, IL, 20º Caderno do Nefando, 149-7-698, fl. 89.
  • 37
    ANTT, IL, 20º Caderno do Nefando, 149-7-698, fl. 362 .
  • 38
    ANTT, IL, 20º Caderno do Nefando, 149-7-698, fl. 254.
  • 39
    ANTT, IL, Proc. 2033.
  • 40
    ANTT, Inquisição de Coimbra, Proc. 5437.
  • 41
    ANTT, IL, Proc. 5882.
  • 42
    ANTT, IL, 20º Caderno do Nefando, 149-7-698, fl. 138.
  • 43
    ANTT, IL, 12º Caderno do Nefando, 143-6-37, fl. 158.
  • 44
    ANTT, IL, 20º Caderno do Nefando, 149-7-698, fl. 121.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2005

Histórico

  • Recebido
    Maio 2004
  • Aceito
    Out 2004
Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro Largo de São Francisco de Paula, n. 1., CEP 20051-070, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21) 2252-8033 R.202, Fax: (55 21) 2221-0341 R.202 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: topoi@revistatopoi.org