Acessibilidade / Reportar erro

O olhar distanciado: Lévi-Strauss e a história

A distant glance: Lévi-Strauss and history

Resumos

O objetivo geral do artigo é o de analisar as relações entre a história e a etnografia, no século XX, a partir da obra do antropólogo Claude Lévi-Strauss. Seus trabalhos, desde As estruturas elementares do parentesco, passando por artigos sobre o tema, pelos Tristes trópicos e pelo Pensamento selvagem, até chegar à conferência Marc Bloch, em 1983, e a De perto e de longe, estimularam o debate entre as disciplinas, caracterizando meio século de discussões e disputas, que promoveram alterações no campo historiográfico. No centro dessa querela intelectual está a noção de "estrutura". De um lado, sempre Lévi-Strauss; de outro, aparecem, sucessivamente, Lucien Febvre, Ferdinand Braudel e o próprio projeto dos Annales.

história; etnografia; estrutura; história intelectual


The main purpose of this article is to analyse the relations between history and ethnography in the 20th Century, based on anthropologist Claude Lévi-Strauss' works. His works since The elementary mind, ranging from articles on the theme like Tristes Tropiques and The savage mind, up to Marc Bloch Conference, in 1983, and to Conversations with Claude Lévi-Strauss (De près et de loin), stimulated discussions among disciplines, which characterized half century of debates and controversy causing changes in the historiographic field. In the middle of that intellectual struggle is the notion of "structure". In one side, it´s always Lévi-Strauss, in the other, Lucien Febvre, Ferdinand Braudel and the very project of the Annales appear successively.

ethnography; structure; intellectual history


Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

  • 1
    LÉVI-STRAUSS, Claude/ÉRIBON, Didier. De près et de loin. Paris, Odile Jacob, 1988, p. 168, assim como o conjunto do capítulo intitulado "Dans la poubelle de l'histoire" ("Na lixeira da história"), pp. 168-176. (Edição brasileira: LÉVI-STRAUSS, C./ÉRIBON, D. De perto e de longe. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1990, pp. 155-162). (A frase de abertura citada por François Hartog encontra-se em LÉVI-STRAUSS, Claude. La pensée sauvage. Paris, Plon, 1962, p. 348; edição brasileira: O pensamento selvagem. Campinas: Papirus, 1989, p. 291 - NT).
  • 2
    LÉVI-STRAUSS, Claude. Mythologiques. Du miel aux cendres. Paris, Plon, 1990, p. 408.
  • 3
    LÉVI-STRAUSS, Claude. "Les limites e la notion de structure en ethnologie", in BASTIDE, R. (ed.), Sens et usage du terme structure dans les sciences humaines et sociales. Paris, Mouton, 1972, pp. 44-45. (Edição brasileira: BASTIDE, R. (coord.) Usos e sentidos do termo "estrutura". São Paulo, Edusp, 1971, pp. 38-39.)
  • 4
    Os fatos provêm de um tempo mecânico e reversível para a história dos historiadores,aqueles provêm de um tempo estático e irreversível para a história estrutural. LÉVISTRAUSS, Claude. Anthropologie structurale deux. Paris, Plon, 1958, p. 26. (LÉVI-STRAUSS, C. Antropologia estrutural dois. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1976, pp. 23-24)
  • 5
    REVEL, Jacques. "Histoire et sciences sociales: lectures d'un débat français autour de1900", in BÖDEKER, H.E./REILL, P.H./SCHLUMBOHM, J. (eds.) Wissenschaft als kutlerelle praxis, 1750-1900, Göttingen, Vandenhoecck & Ruprecht, 1999, pp. 377399.
  • 6
    HARTOG, François. Régimes d'historicité. Présentisme et expériences du temps. Paris, Le Seuil, 2003, em particular, as páginas 24-25, 33-36, consagradas a Lévi-Strauss.
  • 7
    SMITH, Pierre/SPERBER, Dan. "Mythologiques de Georges Dumézil", Annales, 3-4, 1971, pp. 580-586.
  • 8
    "O código só pode, então, constituir-se de classes de datas, em que cada data significa,quando mantém, com outras datas, relações complexas de correlação e oposição.", LÉVISTRAUSS, Claude. La pensée sauvage. Paris, Plon, 1962, pp. 343-344 (edição brasileira: O pensamento selvagem, Campinas, Papirus, 1989, pp. 287-288). Sobre a data de 1958, ver as variações do próprio Lévi-Strauss, no começo de sua aula inaugural.* Oflag, nome dado, na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial, aos campos de prisioneiros destinados aos oficiais (NT).
  • 9
    BRAUDEL, Ferdinand. La Méditerranée et le monde méditerranéen à l'époque de Philippe II. Paris, Armand Colin, 1949, p. 1094.
  • 10
    Os outros autores do número eram: H.I. Marrou, D. Parodi, P. Ricoeur, Tran Duc Tao,G. Darvy e R. Aron.
  • 11
    Trata-se das críticas endereçadas por Simiand a Hauser (e a Seignobos), a propósito desua rejeição do método comparativo. (Ver SIMIAND, François "Méthode historique et science social", Revue du synthèse historique, 1903, pp. 1-22 e 129-157); edição brasileira: Método histórico e ciência social. Bauru, Edusc, 2003 - NT)
  • 12
    Eu cito o texto tal como reproduzido em: FEBVRE, Lucien. Combats pour l'histoire. Paris, Armand Colin, 1953, n. 1, p. 420.
  • 13
    Ibid, p. 432.
  • 14
    Ibid, pp. 436-437.
  • 15
    LÉVI-STRAUSS, Claude. "Ethnologie et histoire", reproduzido em Anthropologie structurale. Paris, Plon, 1958, p. 22 (edição brasileira: Antropologia estrutural. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1967, p. 31).
  • 16
    Ibid, pp. 24-25 (ed. bras., pp. 33-34).
  • 17
    De fato, a frase de Marx diz: "mas em condições diretamente dadas e herdadas dopassado".
  • 18
    LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes tropiques, Paris, Plon, 1955, p. 60 (edição portuguesa: Tristes trópicos. Lisboa, Ed. 70, 1986, pp. 50-51).
  • 19
    BRAUDEL, Ferdinand. Écrits sur l'histoire. Paris, Flammarion, 1969, p. 62 (edição brasileira: Escritos sobre a história. São Paulo, Perspectiva, 1978, p. 60).
  • 20
    Ibid, p. 72 (ed. bras., p. 68).
  • 21
    LÉVI-STRAUSS, Claude. Anthropologie structurale deux, op. cit., p. 44. (ed. bras., p. 39) * "Désespérer Billancourt": referência à frase de Jean-Paul Sartre a respeito dos trabalhadores da fábrica da Renault em Boulogne-Billancourt, cidade da periferia parisiense que votava regularmente na esquerda . (NT)
  • 22
    LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes tropiques, op. cit., pp. 82-83. RENAN, Ernest. Œuvres completes. Paris, Calmann-Lévy, 1948, II, pp. 755-759 (ed. bras. 71-72).
  • 23
    LÉVI-STRAUSS, Claude. La pensée sauvage, op. cit., p. 347 (ed. bras. p. 290).
  • 24
    LÉVI-STRAUSS, Claude. Anthropologie structurale, op. cit., p. 368 (ed. bras. p. 376).
  • 25
    "Race et histoire", UNESCO, 1952, reproduzido em: LÉVI-STRAUSS, Claude.Anthropologie structurale deux, op. cit., pp. 377-431 (edição brasileira: 328-366).
  • 26
    LÉVI-STRfAUSS, Claude. Anthropologie structurale deux, op. cit., p. 394 (ed. bras., p. 361).
  • 27
    Ibid, p. 417 (ed. bras., p. 362).
  • 28
    Ibid, p. 421 (ed. bras., p. 366).
  • 29
    Annales, 6, 1960, pp. 625-637. Texto integral em LÉVI-STRAUSS, Claude. Anthropologie structurale deux, op. cit., pp. 11-44 (ed. bras., p. 11-40).
  • 30
    Ibid, p. 29 (ed. bras., p. 26)
  • 31
    Annales, 1, 1960, p. 83. REVEL, Jacques. "Histoire et sciences sociales", op. cit. Revel termina seu texto sobre a reedição de 1960, cujos conflitos ele decifra.
  • 32
    Annales, 19, 1964, 1, 1965.
  • 33
    LÉVI-STRAUSS, Claude. La pensée sauvage, op. cit., pp. 329, 347 (ed. bras. pp. 277, 284, 290).
  • 34
    Annales, 3-4, 1971. Ver também os volumes coletivos Faire de l'histoire, dirigidos por J. Le Goff e P. Nora, Paris, Gallimard, 1974.
  • 35
    Ibid, p. VI.
  • 36
    Ibid, p. VII.
  • 37
    Annales, 6, 1983, p. 1231. Com o comentário de Lévi-Strauss, De près et de loin, op. cit., pp. 172-173. (ed. bras., p. 157-159).
  • 38
    REVEL, Jacques (ed.). Jeux d'échelle. La micro-analyse à l'expérience. Paris, Seuil/ Gallimard/EHESS, 1996.
  • 39
    ABÉLÈS, Marc. "Avec le temps...", Claude Lévi-Strauss, Critique, janvier-février, 1999, pp. 42-60.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2006
Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro Largo de São Francisco de Paula, n. 1., CEP 20051-070, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21) 2252-8033 R.202, Fax: (55 21) 2221-0341 R.202 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: topoi@revistatopoi.org