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Bode Francisco Orelana: uma representação humorística da intelectualidade brasileira entre patrulhas ideológicas, autocensura e odarização

Resumos

O artigo apresenta uma análise do personagem Bode Francisco Orelana criado pelo cartunista Henrique de Souza Filho - Henfil nos anos iniciais da década de 1970. Este personagem foi utilizado para colocar em discussão a coerção instaurada pela ditadura sobre os intelectuais e demais grupos produtores de cultura, o papel político da intelectualidade no contexto repressivo, os debates intraintelectuais e o problema da autocensura, fruto do terror propagado pela censura militar. A proposta central é assinalar a condição engajada do autor e de sua obra, apresentando-a como parte de um mecanismo de luta e um esforço de resistência que colaborou para o reavivamento e/ou para a formação de identidades nos sujeitos.

cultura política; intelectuais; ditadura militar.


The article presents an analysis of the personage Bode Francisco Orelana created by the cartunista Henrique de Souza Filho - Henfil in the initial years of the decade of 1970. This personage was used to place in quarrel the coercion restored for the dictatorship on the intellectuals and too much producing groups of culture, the paper politician of the intellectuality in the repressive context, the debates intraintelectuaisand the problem of the autocensura, fruit of the terror propagated for the military censorship.The proposal central is to designate the engaged condition of the author and its workmanship, presenting it as part of a mechanism of fight and an effort of resistance that collaborated for the revival and/or the formation of identities in the citizens.

political cultures; intellectuals; military dictatorship.


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  • HENFIL A Volta de Ubaldo, o paranóico: uma antologia histórica. São Paulo: Geração Editorial, 1994.
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  • 1
    Dicionário Aurélio Eletrônico, século XXI. 2004.
  • 2
    Entrevista a SEIXAS, Rozeny Silva. Zeferino: Henfil & Humor na revista Fradim. Dissertação de Mestrado em Comunicação. Escola de Comunicação da UFRJ, 1980. pp. 164-165.
  • 3
    SILVA, Marcos da. Rir das Ditaduras: os dentes de Henfil (ensaios sobre Fradim - 1971/ 1980). Tese de Livre Docência em Metodologia (História), SP: FFLCH/USP, 2000, p. 172.
  • 4
    GALVÃO, Walnice N. As Falas, os Silêncios. À Margem da Carta Em Desconversa. RJ: Ed. UFRJ, 1998.
  • 5
    SILVA, Marcos. op. cit. p. 166.
  • 6
    SEIXAS, Rozeny. Op. cit., p. 70.
  • 7
    VENTURA, Z. O Vazio Cultural. Em GASPARI, E.; HOLLANDA, H; VENTURA, Z. (orgs.). Cultura em Trânsito: da repressão à ditadura. RJ: Aeroplano, 2000, p. 48.
  • 8
    Instituto Nacional do Livro (INL), Instituto Nacional de Cinema (INC), Empresa Brasileira de Filmes (Embrafilme), etc.
  • 9
    HENFIL, Cartas de um Subdesenvolvido, publicada na Revista Fradim, n. 31, 1980, p. 17.
  • 10
    HOLLANDA, H.B.; PEREIRA, Carlos A. (orgs.). Patrulhas Ideológicas. Marca Reg. Arte e engajamento em debate. SP: Brasiliense, 1980, p.15.
  • 11
    MACHADO, Ana M. Da Resistência á Transição: a literatura na encruzilhada. Em SOSNOWSKI, Saul e SCHWARTZ, Jorge (orgs.). Brasil: o trânsito da memória. SP: Edusp, 1994, p. 83.
  • 12
    HOLLANDA, H. B. A Ficção da realidade Brasileira. In: NOVAES, Adauto (org.) Anos 70: ainda sob a tempestade. RJ: Aeroplano: Editora Senac Rio, 2005, p. 64.
  • 13
    Idem, pág. 74.
  • 14
    Idem.
  • 15
    Revista Fradim, n. 27, 1980.
  • 16
    HENFIL, Cartas de um Subdesenvolvido, publicada na Revista Fradim, n. 31, 1980, p. 18. Estas cartas foram, posteriormente, transformadas em livro com supressão de alguns trechos. Por este motivo utilizei as duas fontes para pesquisa: o livro e a revista.
  • 17
    Cartas de um Subdesenvolvido, Revista Fradim, n. 15, 1976, p.33.
  • 18
    A defesa acirrada, por parte de Orelana, da condição de condutor das massas por vez esse fundava numa enfática negação de quaisquer formas de contraposição dialógica, incidindo na composição de um discurso autoritário e monológico.
  • 19
    Revista Fradim, n. 16, 1977.
  • 20
    ORLANDI, Eni P. As Formas do Silêncio no Movimento dos Sentidos. Campinas: Ed. Unicamp, 2002, p. 80.
  • 21
    ROLLEMBERG, Denise. Esquerdas Revolucionárias e Luta Armada. In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucila de A.N. O Brasil Republicano: o tempo da ditadura - regime militar e movimentos sociais em fins do século XX. RJ: Civilização Brasileira, 2003, p. 53.
  • 22
    ORLANDI, Eni. Op. cit. p. 104.
  • 23
    Seção Fala Leitor!, revista Fradim, n. 16, 1977, p. 46.
  • 24
    Idem.
  • 25
    Sobre estes temas, ver entre outros: AQUINO, Maria A. Censura, Imprensa, Estado Autoritário (1968-1978). O exercicio cotidiano de dominação e da resistência O Estado de São Paulo e Movimento. Bauru: Edusc, 1999; ARAÚJO, Maria Paula N. A Utopia Fragmentada. As Novas esquerdas no Brasil e no mundo na década de 1970. RJ: Ed. Fundação Getulio Vargas, 2000; CAPARELLI, Sérgio. Comunicação de Massa sem Massa. RJ: Summus, 1986; KUCINSKI, B. A Primeira vítima: a autocensura durante o regime militar. In: CARNEIRO, M. Luiz T. (org.). Minorias Silenciadas: História da censura no Brasil. SP: Ed. USP/Imprensa Oficial do Estado/Fapesp, 2002; KUSHNIR, Beatriz. Cães de Guarda - jornalistas e censores, do AI-5 à Constituição de 1988. SP: Boitempo Editorial, 2004.
  • 26
    KUCINSKI, Bernardo. A Primeira vítima: a autocensura durante o regime militar. In: CARNEIRO, M. Luiz T. (org.) Minorias Silenciadas: História da censura no Brasil. SP: Ed. USP/Imprensa Oficial do Estado/Fapesp, 2002, p. 541.
  • 27
    KUCINSKI, Bernardo . Jornalistas e Revolucionários nos Tempos da Imprensa Alternativa. SP: Edusp, 2003, p. 538.
  • 28
    Seção Fala Leitor!, revista Fradim, n. 16, 1977, p. 44.
  • 29
    Cartas de Nova York, 11 de novembro de 1973, publicada na revista Fradim, n. 13, 1976, p. 28.
  • 30
    Carta escrita pelo cartunista Claudius, de Genebra, para Henfil, publicada na revistaFradim, n. 16, 1977, p. 41.
  • 31
    Trabalhei com as cartas escritas por Henfil como respostas às críticas realizadas aopersonagem. Não fica claro nas mesmas quem são estes críticos, mas o autor fala abertamente da forte pressão que vem recebendo contra o personagem argumentando-se que se trata de um riso banalizador do problema em questão.
  • 32
    Idem.
  • 33
    CHAUÍ, Marilena. Sobre o Medo. In: NOVAES, Adauto. (org.) Os Sentidos da paixão. SP: Cia das Letras, 1987.
  • 34
    Seção Fala Leitor!, revista Fradim, n. 16, 1977, pp. 44-46.
  • 35
    BAKHTIN, Mikhail. A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento. O contexto de François Rabelais. SP: Hucitec; Brasília: UNB, 1996, p. 81.
  • 37
    Revista Fradim, n. 19, 1977.
  • 39
    Fonte
  • 38
    Revistas Fradim: n.13, out. 1976; n.15, dez. 1976; n. 16, jan/fev. 1977; n. 19, mai/jun. 1977; n. 27, jul. 1980; n. 31, dez. 1980.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2007

Histórico

  • Recebido
    Ago 2006
  • Aceito
    Mar 2007
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