Acessibilidade / Reportar erro

Cultura material e a experiência africana no sudeste oitocentista: cachimbos de escravos em imagens, histórias, estilos e listagens

Resumos

Este artigo aborda estratégias metodológicas no cruzamento de fontes de naturezas diferentes, considerando o uso de indícios e a construção de dados na produção acadêmica interdisciplinar. O interesse está em extrair informações sobre a produção, circulação, aquisição, uso e significados conferidos a cachimbos, tendo em vista a experiência e o comportamento de africanos e afrodescendentes na diáspora. São trabalhadas fontes iconográficas, arqueológicas e escritas (processos-crime e listagens comerciais).

cultura material; africanos; região sudeste; Brasil; século XIX.


This article approaches the methodological strategies in the use of sources of different natures, considering the use of signs and the construction of data in the interdisciplinary academic production. The interest is to approach the production, circulation, acquisition, use and meaning given to pipes, considering the experience and behavior of Africans and Afro descendents of the Diaspora. The sources we work with are iconographic, archaeological and written (criminal processes and lists of goods).

material culture; Africans; southeast Brazil; Nineteenth Century.


Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

  • AGOSTINI, Camilla. Cachimbos de escravos e a reconstrução de identidades africanas no Rio de Janeiro, século XIX. Monografiaapresentada na obtenção do Bacharelado em Arqueologia da Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, 1997.
  • AGOSTINI, Camilla. Resistência cultural e reconstrução de identidades: um olhar sobre a cultura material de escravos do século XIX. Revista de História Regional, UEPG: Ponta Grossa, 1998.
  • ALENCASTRO, Luiz Felipe de. Vida privada e ordem privada no Império. In: NOVAIS, F.A. Alencastro, L.F.(ed.). História da vida privada no Brasil, Império: a corte e a modernidade nacional, vol. 2. São Paulo: Cia das Letras, 1997.
  • BELLUZZO, Ana Maria de M. A construção da paisagem. Coleção: O Brasil dos viajantes, vol. 3. São Paulo: Fundação Emílio Odebrecht, 1994.
  • BINTLIFF, John. The Annales School and Archaeology. London/New York: Leicester University Press, 1991.
  • BRITTON, Rupert. Stuck in the past: a historically oriented archaeology. Archaeological Review from Cambridge, vol. 14 (1), 1997.
  • CHALHOUB, Sidney. Visões da Liberdade. Uma história das últimas décadas da escravidão na corte. São Paulo: Cia das Letras, 1998.
  • CONSENS, Mario. Os milagres das taxonomias, ou a arte de fazer arqueologia. Anais da IXReunião Científica sa Sociedade de Arqueologia Brasileira, Rio de Janeiro, 2000.
  • FEINMAN, Gary M. Thoughts on new approaches to Combining the archaeological and historical records. Journal of Archaeological Method and Theory, vol.4, n.os 3/4, 1997.
  • FERREZ, Gilberto. s.d. O velho Rio de Janeiro através das gravuras de Thomas Ender. São Paulo: Edições Melhoramentos.
  • FULLER, Dorian. The confluence of history and archaeology in lower Nubia: scales of continuity and change. Archaeological Review from Cambridge, vol. 14 (1), 1997.
  • GRAHAM, Sandra L. Proteção e obediência: criadas e seus patrões no Rio de Janeiro, 1860-1910. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
  • HERSCHEND, Frands. Historical or textual archaeology: an archaeology of critical rereadind. Archaeological Review from Cambridge, vol. 14 (1), 1997.
  • KNAPP, A.B. Archaeology, Annales and Ethnohistory, New Directions in Archaeology. Cambridge: Cambridge University Press, 1992.
  • KOWALEWSKI, Stephen A. A spatial method for integrating data of different types. Archaeological Review from Cambridge, vol.14 (1).s.d
  • LEITE, Miriam Lifchitz Moreira. Livros de Viagem. 1803-1900. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1997.
  • MORALES de los Rios, Adolfo, filho. (s.d.) O Rio de Janeiro Imperial. Ed. A Noite.
  • RUGENDAS, J.M. Viagem pitoresca através do Brasil. Coleção Reconquista do Brasil (3a série), vol. 8. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia Limitada, 1989.
  • SENATORE, Maria Ximena. Arqueoloía del contato europeo-americano: discusión teórica y modelos de análisis en áreas marginales. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia. Suplemento 3, Anais da IReunião Internacional de Teoria Arqueológica na América do Sul. São Paulo: USP, 1999.
  • SLENES, Robert W. Lares negros, olhares brancos: histórias da família escrava no século XIX. Revista Brasileira de História, 8: 16, 1988.
  • SLENES, Robert W. Bávaros e Bakongo na 'habitação de negros': Johann Moritz Rugendas e a invenção do povo brasileiro. Trabalho em elaboração, mimeografado, versão 1995c.
  • YOUNG, T. Cuyler. Desde Heródoto, a história tem sido um conceito válido? American Antiquity53(1):7-12 (tradução não publicada por Irmhild Wüst / Universidade Federal de Goiás), 1988.
  • VAN VELSEN, J. A Análise Situacional e o método de estudo de caso detalhado. In: Feldman-Bianco, Bela. Antropologia das sociedades contemporâneas - Métodos. Global Universitária, 1987.
  • 1
    v. especialmente Bintliff (1991); Knapp (1992); Archaeological Review from Cambridge. History and Archaeology, vol. 14 (1) 1997; Journal of Archaeological Method and Theory, vol. 4 (3/4) 1997, volumes dedicados ao uso de fontes históricas e arqueológicas em estudos com uma perspectiva holística.
  • 2
    v. também Ravn (1997).
  • 3
    Procedentes do RJ - 06 rurais, 02 semi-rurais, 01 urbano; de SP - 02 rurais, 02 urbano; de MG - 02 quilombos; ES - 01 ur-bano; PoA - 01 semirural; Museu - 02), tendo ainda consultado, sem desenvolver uma análise pormenorizada peças procedentes de Goiás, da Bahia, de Coleções etnográficas do Museu Nacional e do Museu da África Central (Tervuren / Bélgica).
  • 4
    Das 19 amostras analisadas sistematicamente (somando um total de 128 cachimbos) pode-se notar cerca de 38 formas de decora-ção distintas, sendo que 11 aparecem repetidamente, formando padrões de decoração que representam c. 61% da amostra total.
  • 5
    Para uma análise pormenorizada dessas amostras v. Agostini (1997).
  • 6
    As amostras são referentes aos seguintes sítios arqueológicos históricos: Fazenda da Mandioca, Solar Grandjean de Mon-tigny e Imperial Sociedade Amante da Instrução, pesquisados ao longo das décadas de 1980 e 1990, no âmbito do projeto "Arqueologia Histórica no Rio de Janeiro: o século XIX", coordenado pela Prof.a. Dr.a. Tania Andrade Lima.
  • 7
    Conotação semelhante à atual imagem do 'preto velho' que está sempre acompanhado de um cachimbo. Isto é, a presença do cachimbo participa na definição / representação do personagem.
  • 8
    v. e.g. prancha 'A Capoeira', de Rugendas (1989).
  • 9
    v. e.g. prancha 'O vendedor de ervas' de Debret (1993); 'Uma banca do mercado' de Clarke e Chamberlain (Belluzzo, 1994); 'O mercado de escravos'Alken e Chamberlain (Belluzzo, 1994).
  • 10
    Para uma discussão pormenorizada sobre os cuidados a serem tomados na análise da obra dos viajantes v. Slenes (1988).
  • 11
    Prancha 'Largo da Glória', de Alken e Chamberlain (Belluzzo, 1994).
  • 12
    A circulação de cativos no contexto urbano do Rio de Janeiro e a relação com a prática do fumo em cachimbos já foi apre-sentada em artigo anterior (v. Agostini, 1998).
  • 13
    Vale lembrar aqui, comparativamente, os ambientes em torno de fontes e chafarizes na Corte, descritos por Graham (1992) como locais de aglomerações e encontro de negros.
  • 14
    Processo-crime 082, Homicídio - 1879, p.22v. Centro de Documentação Histórica - Vassouras.
  • 15
    Processo-crime 088, Homicício - 1844, p.31. Centro de Documentação Histórica - Vassouras.
  • 16
    Processo-crime 045, Homicício - 1850, p.21. Centro de Documentação Histórica - Vassouras.
  • 17
    Processo-crime 066, Homicício - 1866, p.23v. Centro de Documentação Histórica - Vassouras.
  • 18
    Processo-crime 070, Homicício - 1867, p.18. Centro de Documentação Histórica - Vassouras.
  • 19
    Processo-crime 066, Homicício - 1866, p.23v. Centro de Documentação Histórica - Vassouras.
  • 20
    Arquivo Nacional, Alvará de licença para vários objetos - cód. 395, vol.1, 1823.
  • 21
    Com a morte do proprietário de uma casa de negócio espera-se encontrar arrolados, em seu inventário, as mercadorias en-contradas em seu estabelecimento, avaliando as posses do falecido.
  • 22
    Arquivo Nacional, Inventário de João Alves da Silva - cx. 4147, n. 1533, 1850. Neste mesmo inventário também são ar-roladas panelas de barro, outro item consideravelmente difícil de encontrar nas listagens que arrolam mercadorias. A indicação de venda de panelas de barro é feita por Morales de los Rios (s.d., p.247), no final do XIX, que as cita entre os itens importados pela Corte da Bahia e de Santa Catarina.
  • 23
    Biblioteca Nacional, Mapa das fazendas e gêneros importados na alfândega da cidade do Rio de Janeiro - I, 32, 14, 3, n.6, 1804. Agradeço a indicação deste documento pelo prof. Manolo G. Florentino (IFCH-UFRJ).
  • 24
    Desconhecemos de que matéria-prima seriam feitos os moldes, mas pelos detalhes e dimensões das decorações em relevo nos cachimbos, dificilmente estes seriam de madeira.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2009
Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro Largo de São Francisco de Paula, n. 1., CEP 20051-070, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21) 2252-8033 R.202, Fax: (55 21) 2221-0341 R.202 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: topoi@revistatopoi.org