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"Entre muros": os loucos contam o hospício

Resumos

Narrativas construídas durante períodos de internação em instituições psiquiátricas expressam, de formas diversas, o modo como certos sujeitos, que viveram a experiência manicomial, problematizaram esse viver. As narrativas oferecem informações, pistas, vestígios, que ampliam significativamente a compreensão historiográfica sobre tais espaços, de sua constituição em tempos passados até a contemporaneidade, abrindo instigantes questionamentos acerca dos limites do saber e do poder psiquiátrico e, especialmente, acerca dos sujeitos que os ocuparam. A descoberta e a exploração dessas novas fontes, pelos historiadores, delinearam um novo cenário analítico no campo da chamada história da loucura e da psiquiatria, questão discutida na primeira parte deste artigo. Na segunda parte, são apresentadas algumas narrativas elaboradas dentro dos muros institucionais com a intenção, tanto de ouvir o que contam, quanto de mostrar sua contribuição para que os estudos históricos transpusessem alguns de seus "muros".

loucura; instituição psiquiátrica; narrativas; história da loucura e da psiquiatria; historiografia.


Narratives constructed during periods of hospitalization in psychiatric institutions express, in various forms, how certain individuals who lived the experience of the asylum, reflected on this experience. The narratives provide information, clues, traces, which considerably increase the understanding of historiography on such spaces, of its constitution in the past until the present, opening intriguing questions about the limits of psychiatric knowledge and power, and especially about the subject that occupied these spaces. The discovery and exploitation of these new sources by historians, has outlined a new scenario in the analytical field known history of madness and psychiatry, discussed issue in the first part of this article. The second part presents some narratives developed within the institutional walls with the intention, as to hear what tells as demonstrating its contribution that historical studies transpose some of their "walls".

madness; psychiatric institution; narratives; history of madness and psychiatric; historiography.


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  • WAHBA, Liliana L. Camille Claudel: criação e loucura. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1996.
  • 1
    Trecho da "Carta n. 11 - Meditações e previsões sobre o futuro" (Hospital Psiquiátrico São Pedro. Prontuário n. 7.381 - T. R. - APRS/Cx.3). Esta foi uma das 12 cartas escritas por Ulysses Xavier do Rego, um pseudônimo utilizado por T.R. (iniciais do nome e sobrenome), escritas no período em que esteve internado no Hospital Psiquiátrico São Pedro de Porto Alegre, no ano de 1937. Tais cartas encontram-se anexadas ao seu Prontuário Psiquiátrico, atualmente sob a guarda do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul (APRS) e são citadas neste texto a partir de sua transcrição na tese de doutorado de: SANTOS, Nádia M. W. Histórias de sensibilidades: espaços e narrativas da loucura em três tempos (Brasil, 1905/1920/1937). Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da UFRGS. Porto Alegre, 2005a (Tomo II). Esta tese foi publicada como: SANTOS, Nádia M. W. Narrativas da loucura e histórias de sensibilidades. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008. As cartas também são citadas em outra obra da autora: SANTOS, Nádia M. W. Histórias de vidas ausentes: a tênue fronteira entre a saúde e a doença mental. Passo Fundo: Ed. da UPF, 2005b.
  • 2
    PATROCÍNIO, Stela do. Reino dos bichos e dos animais é o meu nome. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2001, p. 55. O trecho citado é parte de poema-falado por Stella do Patrocínio (nome real). Seus poemas falados foram gravados entre os anos de 1986-1989 e no ano de 1991, parte do período de sua internação na Colônia Juliano Moreira, e posteriormente transcritos. Na apresentação do livro, a organizadora Viviane Mosé explica os procedimentos adotados para o que chama "transposição" da fala de Stela para a escrita.
  • 3
    Apresentado na mesa-redonda "Os guardiões dos muros: sobre as instituições de controle", no âmbito do Simpósio Inter-nacional História e Margem, promovido pelo Programa de Pós-graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), entre 18 e 20 de outubro de 2010.
  • 4
    Conforme o Novo Dicionário Básico da Língua Portuguesa, a primeira definição de "muro" - substantivo masculino - é "parede forte que circunda um recinto ou separa um lugar do outro". Figuradamente significa "defesa, proteção". Estas duas grandes definições servem com perfeição para definir as instituições psiquiátricas - hospícios ou manicômios, como são mais conhecidas - que, ao longo de sua configuração histórica, construíram muros reais (paredes fortes) para separar a população que abrigava do restante da população, mas que também foi construída no imaginário social, como lugar de "defesa e proteção" daqueles que viveram no seu espaço sendo internados como doentes mentais, loucos, alienados etc., e mais comumente, como lugar que, por sua existência, defendia e protegia os normais, sadios, racionais etc., dos perigos da anormalidade, da doença, da irracionalidade etc., atributos historicamente dados a loucura. Cf. FERREIRA, Aurélio B. H. Novo Dicionário Básico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro / São Paulo: Nova Fronteira / Folha de São Paulo, 1994-5, p. 388.
  • 5
    É muito difícil saber se as "opiniões" sobre as instituições manicomiais nas quais viveram foram compartilhadas na medida da quase inexistência de relatos pessoais de quem passou pela experiência do internamento. Foram poucos, dentre os vários sujeitos anônimos ou famosos que foram internados e viveram curtos ou longos períodos em asilos ou hospitais psiquiátricos, que relataram em escritos (na forma de bilhetes, cartas, poesias, diários, romances...), em imagens (desenhadas no que encontravam pela frente, nas paredes das instituições, em telas ou papéis oferecidos nas "oficinas terapêuticas") ou mesmo através da fala (capturada em gravações), suas experiências no interior das instituições.
  • 6
    Entendo experiência, na perspectiva de Michel Foucault, como "a correlação, em uma cultura, entre campos de saber, tipos de normatividade e formas de subjetividade". Neste sentido, experiência não é algo que um sujeito possui, pois os sujeitos se constituem na - e pela - experiência. Assim, conforme Scott, "Experiência (...) torna-se, então, não a origem de nossa explanação, não a evidência legitimadora (porque vista ou sentida) que fundamenta o que é conhecido, mas sim o que procuramos explicar, sobre o que o conhecimento é apresentado. Pensar sobre a experiência desse modo é historicizá-la, bem como historicizar as identidades que ela produz". Cf.: FOUCAULT, Michel. O uso dos prazeres e as técnicas de si. In: FOUCAULT, Michel. Ética, sexualidade, política (Ditos e Escritos, v. V). 2 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006, p. 193; SCOTT, Joan. A invisibilidade da experiência. In: Projeto História, n. 16, São Paulo, fev. 1998, p. 304.
  • 7
    Estou nomeando como história da loucura e da psiquiatria um conjunto de discussões e pesquisas que tendo como tema central a loucura, em temporalidades e espacialidades diversas, a partir de perspectivas teóricas e metodológicas, e de áreas do conhecimento também diversas (Ciências da Saúde, Ciências Humanas etc.), desdobra-se em problemáticas diferenciadas como a da constituição dos próprios conceitos (loucura / doença mental / saúde mental), da sua relação com a configuração da ciência psiquiátrica, da constituição de aparatos institucionais e políticas de assistência ou atenção, dos dispositivos disciplinares, das experiências dos sujeitos, entre tantas outras possíveis. A maioria dos autores referidos neste texto, a partir de suas revisões sobre a constituição desse campo do conhecimento histórico, prefere nominá-lo atualmente como história da psiquiatria, em contraponto a um momento histórico em que se preferia o termo história da loucura, especialmente em razão de seu conteúdo contestador e das lutas encetadas à época, contra os excessos visualizados do saber e do poder psiquiátrico. Cf. HUERTAS, Rafael. Historia de la Psiquiatría, ¿Por qué?, ¿Para qué? Tradiciones Historiográficas y Nuevas Tendencias. Frenia: Revista de Historia de la Psiquiatría. Madrid, v.I, n. 1, p. 9-36, 2001.
  • 8
    Vários trabalhos apresentam uma periodização desta "tradição" historiográfica. Cf.: HUERTAS, R. Op. cit., 2001; SACRISTÁN, Cristina. Historiografía de la locura y de la psiquiatría en México. De hagiografía a la historia posmoderna. Frenia: Revista de Historia de la Psiquiatría. Madrid, v. V, n. 1, 2005, p. 9-33; STAGNARO, Juan C. Evolución y situación actual de la historiografía de la psiquiatría en la Argentina. Frenia. Revista de Historia de la Psiquiatría, Madrid, v.VI, n. 1, 2006, p. 7-37; CAMPOS MARÍN, Ricardo; HUERTAS, Rafael. Los lugares da la locura: reflexiones en torno a los manicomios y su papel en la génesis y el desarrollo de la psiquiatría. Arbor. Ciencia, Pensamiento y Cultura, v. CLXXXIV, n. 731, mayo-junio 2008, p. 471-480; SACRISTÁN, Cristina. La locura se topa con el manicomio. Una historia por contar. Cuicuilco, v.16, n. 45, enero-abril 2009, p. 163-189, disponível em <http://redalyc.uaemex.mx/pdf/351/35112428008.pdf>; VENÂNCIO, Ana T. A e CASSILIA, Janis. A doença mental como tema: uma análise dos estudos no Brasil. Espaço Plural, v. 22, p. 24-34, 1o sem. 2010. Tais revisões são utilizadas neste texto para estabelecer as tendências da história da loucura e da psiquiatria e referem-se a países como Espanha, México, Argentina e Brasil. Limito-me a tais revisões na medida em que delineiam, de forma semelhante, as grandes tendências deste campo historiográfico, bem como porque dialogam entre si e com autores que estabelecem periodizações relativas a outros países, como França, Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos da América.
  • 9
    Cf. HUERTAS, op. cit., 2001; SACRISTÁN, op. cit., 2005; STAGNARO, op. cit., 2006; VENÂNCIO e CASSILIA, op. cit., 2010.
  • 10
    STAGNARO, op. cit., 2006.
  • 11
    HUERTAS, op. cit., 2001.
  • 12
    VENÂNCIO e CASSILIA, op. cit., 2010, p. 26.
  • 13
    HUERTAS, op. cit., 2001.
  • 14
    SACRISTÁN, op. cit., 2009.
  • 15
    HUERTAS, op. cit., 2001.
  • 16
    SACRISTÁN, op. cit., 2005.
  • 17
    A primeira edição francesa do livro de Foucault foi publicada em 1961, com o título Folie et Deraisón. Histoire de la folie à l'âge classique. Utiliza-se neste artigo a tradução brasileira: FOUCAULT, Michel. A história da loucura na idade clássica. 2a ed. São Paulo: Perspectiva, 1989.
  • 18
    Huertas discute de forma mais detalhada tais tradições, cujo aprofundamento extrapola os objetivos deste texto. Cf. HUERTAS, op. cit., 2001.
  • 19
    SACRISTÁN, op. cit., 2009.
  • 20
    CAMPOS MARÍN; HUERTAS, op. cit., 2008, p. 473. Assim como em relação a esta obra, todas as citações de obras em língua estrangeira, não traduzidas para o português foram neste texto livremente traduzidas pela autora.
  • 21
    SACRISTÁN, op. cit., 2009, p. 174.
  • 22
    CAMPOS MARÍN; HUERTAS, op. cit., 2008, p. 473.
  • 23
    HUERTAS, op. cit., 2001, p.29.
  • 24
    Para uma breve apresentação sobre a chamada "história vista de baixo", cf.: SHARPE, Jim. A história vista de baixo. In: BURKE, Peter (Org.). A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Ed. da UNESP, 1992. p. 39-62. Cf. também HUERTAS, op. cit., 2001.
  • 25
    HUERTAS, op. cit., 2001, p. 29.
  • 26
    SACRISTÁN, op. cit., 2009, p.167.
  • 27
    Idem, ibidem, p.181.
  • 28
    Cf. SACRISTÁN, op. cit., 2009; HUERTAS, op. cit., 2001; CAMPOS MARÍN; HUERTAS, op. cit., 2008.
  • 29
    SACRISTÁN, op. cit., 2009, p.178.
  • 30
    Sobre as noções de poder e subjetivação em Michel Foucault, cf.: FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. 7 ed. Petrópolis: Vozes, 1989; FOUCAULT, M. O sujeito e o poder. In: RABINOW, P; DREYFUS, H. Michel Foucault, uma trajetória filosófica: para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995, p.231-249; FOUCAULT, M. História da sexualidade. 1: A vontade de saber. 7 ed. Rio de Janeiro: Graal, 1988; FOUCAULT, M. Introdução. In: História da sexualidade. 2: O uso dos prazeres. 5 ed. Rio de Janeiro: Graal, 1990; FOUCAULT, M. A vida dos homens infames. In: O que é um autor? Lisboa: Vega, 1992, p. 89-128; DELEUZE, G. Um retrato de Foucault. In: Conversações (1972 - 1990). São Paulo: Ed. 34, 1998a, p. 127-147.
  • 31
    DELEUZE, Gilles. A vida como obra de arte. In: Conversações (1972 - 1990). Op. cit., p. 123.
  • 32
    Segundo Alvarez, "(...) fica evidente que a noção de poder em Foucault não pode ser reduzida nem a um simples diag-nóstico da intensificação do controle social nem a uma visão do poder como unidimensionalmente repressivo pois, embora o poder produza certamente controle, ele produz certamente outras coisas. Ao enfatizar o poder como rede de relações de força, como mecanismo que tanto obriga quanto habilita para a ação, ao colocar igualmente a resistência no cerne das práticas de poder, ao negar que os efeitos do poder sejam uniformizadores ou unitários, Foucault distancia-se das teses simplistas acerca da intensificação crescente do controle social." Sobre a noção de controle social e o mau uso do conceito de poder de Michel Foucault, cf.: ALVAREZ, Marcos C. Controle social: notas em torno de uma noção polêmica. São Paulo em Perspectiva, v. 18, n. 1, 2004, p. 168-176.
  • 33
    Cf. VENÂNCIO e CASSILIA, op. cit., 2010.
  • 34
    O autor nomeia esta história apenas como história da psiquiatria.
  • 35
    HUERTAS, op. cit., 2001, p. 30.
  • 36
    PORTER, Roy. História social da loucura. 2ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1991, p. 8.
  • 37
    Idem, ibidem, p. 9.
  • 38
    Idem, ibidem, p. 11.
  • 39
    FLORENCE, Maurice. Foucault. In: FOUCAULT, Michel, op. cit., 2006, p. 237-8.
  • 40
    Para Pesavento, "o imaginário compõe-se de representações sobre o mundo do vivido, do visível e do experimentado, mas também sobre os sonhos, os desejos e os medos de cada época, sobre o não tangível e o não-visível visível, mas que passa a existir e ter força de real para aqueles que o vivenciam." Cf. PESAVENTO, Sandra. Cultura e representações, uma trajetória. Anos 90, v. 13, n. 23/24, jan./dez. 2006, p. 50.
  • 41
    WAHBA, Liliana L. Camille Claudel: criação e loucura. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1996, p. 104.
  • 42
    Cf. DUARTE, Luiz F. D. Investigação antropológica sobre doença, sofrimento e perturbação: uma introdução. In: DUARTE, Luiz F. D.; LEAL, Ondina F. (Orgs.). Doença, sofrimento, perturbação: perspectivas etnográficas. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1998, p. 9-27.
  • 43
    PORTER, op. cit., 1991, p. 8.
  • 44
    Carta 8 - Ilmo Redator Chefe do Correio Paulistano, São Paulo - TR, apud SANTOS, op. cit., 2005a, p. 31.
  • 45
    SANTOS, op. cit., 2008, p. 103.
  • 46
    Idem, ibidem.
  • 47
    Idem, ibidem, p. 83. Na sequência desse texto, a autora faz uma interessante discussão sobre a construção deste "diagnóstico", desde a época em que foi cunhado - final do século XIX - até a atualidade.
  • 48
    Idem, ibidem, p. 97, 98. A autora utiliza sempre as iniciais TR para referir-se a Ulysses, mas para manter a fluidez da leitura substitui sempre estas iniciais pelo pseudônimo.
  • 49
    Idem, ibidem, p. 85.
  • 50
    Carta 11- À imprensa, Meditações e previsões sobre o futuro - TR, apud SANTOS, op. cit., 2005a, p. 43.
  • 51
    Dados comemorativos, prontuário TR, apud SANTOS, op. cit., 2008, p. 82-3.
  • 52
    Carta 11..., apud SANTOS, 2005a, p. 44.
  • 53
    SANTOS, 2008, p. 111.
  • 54
    Cf. Art. 28. RIO GRANDE DO SUL. Secretaria dos Negócios do Interior e Exterior. Regulamento do Hospício São Pedro. Porto Alegre, 7 de fevereiro de 1903 (AHRS / CL 637). O regulamento vigente em 1937 não foi localizado em nenhum dos arquivos que guardam documentação referente ao hospital na cidade de Porto Alegre.
  • 55
    ENGEL, Magali. Os delírios da razão: médicos, loucos e hospícios (Rio de Janeiro, 1830-1930). Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2001, p. 157. O exame atento de "quaisquer documentos procedentes da pena do alienado", era obrigação de todo médico que tivesse sob sua "observação e cuidado" um deles, recomendava o Dr. A. F. Santos já em 1875. Para este, segundo Engel, "A análise destes escritos deveria pautar-se não apenas sobre o seu conteúdo, mas também sobre o seu aspecto gráfico: 'O traçado das letras, a direção e intervalo das linhas, a construção das frases, a integridade das palavras e a sua ortografia, a pontuação e mesmo o estado do papel, deverão ser atentamente examinados pelo médico-legista'". Em teses como a do referido doutor, os principais indícios que evidenciariam uma provável "desordem das faculdades mentais" e o "delírio" dos autores, seriam "o erro e a confusão (...) expressos tanto na forma quanto na substância da palavra escrita". Por tudo isso, "os manuscritos dos alienados deveriam ser confrontados com suas palavras, pois, frequentemente, observa[ria]-se um antagonismo entre eles, facilitando a definição de certos diagnósticos". Mas não eram somente as "combinações cacográficas" dos alienados que deveriam ser observados, era necessário também observar seus "desenhos e pinturas", recomendava ainda o Dr. Santos.
  • 56
    CUNHA, Maria C. P. O espelho do mundo: Juquery, a história de um asilo. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1986.
  • 57
    Idem, ibidem, p. 118.
  • 58
    Carta 11..., apud SANTOS, op. cit., 2005a, p. 45.
  • 59
    Carta 6 - Ilmo. Sr. Vianna Moog - TR, apud SANTOS, op. cit., 2005a, p. 27.
  • 60
    Carta 3 - Excia. Revma. D. João Becker, Arcebispo Metropolitato, Porto Alegre - TR, apud SANTOS, op. cit., 2005a, p. 8.
  • 1
    Carta 7 - Ilmo. Sr. General José Antônio Flores da Cunha, D. D. Governador do Estado - TR, apud SANTOS, op. cit., 2005a, p. 30.
  • 62
    Carta 9 - Ilmo. Sr. Aristides Milão (no envelope Ilmo Sr. Vianna Moog - Correio do Povo) - TR, apud SANTOS, op. cit., 2005a, p. 36.
  • 63
    SACRISTÁN, 2009, op. cit., p.180.
  • 64
    Uma discussão sobre a vida e a obra de Stela, da qual esta parte do texto é uma versão, foi publicada em: WADI, Yonissa M. Um lugar (im)possível: narrativas sobre o viver em espaços de internamento. In: WADI, Yonissa M.; SANTOS, Nádia M. W. História e loucura: saberes, práticas e narrativas. Uberlândia: EDUFU, 2010. Uma interessante análise sobre a obra de Stela do Patrocínio foi realizada por: SILVA, Gislene M. B. L. F. Olhando sobre o muro: representação de loucos na literatura brasileira contemporânea. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Literatura da UnB. Brasília, 2008.
  • 65
    MOSÉ, Viviane. Apresentação: Stela do Patrocínio - uma trajetória poética em uma instituição psiquiátrica. In: PATRO-CÍNIO, Stela do. Reino dos bichos e dos animais é o meu nome. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2001, p. 21.
  • 66
    MOSÉ, op. cit., 2001, p. 20-1.
  • 67
    VENÂNCIO, Ana T. A. O eu dividido: uma análise antropológica da categoria esquizofrenia. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional/UFRJ. Rio de Janeiro, 1998; TEIXEIRA, Mônica. Estigma e esquizofrenia: repercussões do estudo sobre discriminação experimentada e antecipada. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, São Paulo, v. 12, n. 2, jun. 2009. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S1415-47142009000200009&lng=pt&nrm=iso>. Acessos em 11 out. 2010. Doi: 10.1590/ S1415-47142009000200009.
  • 68
    MOSÉ, op. cit., 2001, p. 21.
  • 69
    Idem, ibidem, p. 20.
  • 70
    Idem, ibidem, p. 21.
  • 1
    Sobre o movimento da Reforma Psiquiátrica no Brasil, cf.: AMARANTE, Paulo. Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1998; AMARANTE, Paulo. Saúde mental e atenção psicossocial. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2007.
  • 72
    AQUINO, Ricardo. Estrela. In: PATROCÍNIO, op. cit., 2001, p. 14.
  • 73
    PELBART, Peter P. Os loucos, trinta anos depois. Novos Estudos CEBRAP, n. 42, São Paulo, jul. 1995, p. 176. Grifos do autor.
  • 74
    SILVA, op. cit., 2008, p. 184.
  • 75
    PATROCÍNIO, op. cit., 2001, p. 51. A organizadora do livro, Viviane Mosé, estruturou-o em partes a partir de sua percepção dos encadeamentos entre os assuntos, a conexão de temas, a malha de sentido expressa nas falas. Segundo ela, na primeira parte, intitulada "Um homem chamado cavalo é o meu nome", da qual faz parte o fragmento citado aqui, bem como os citados na sequência deste texto, Stela fala de sua situação no hospital.
  • 76
    PATROCÍNIO, op. cit., 2001, p. 55.
  • 77
    Idem, ibidem, p. 51.
  • 78
    Idem, ibidem, p. 54.
  • 79
    Idem, ibidem, p. 63. Esse fragmento de poema citado, bem como os que são referidos nas notas 78 e 79, estão agrupados na segunda parte do livro, intitulada "Eu sou Stela do Patrocínio, bem patrocinada". Segundo Mosé, nos poemas desta parte, Stela se distingue do contexto hospitalar, adquirindo nome próprio e palavra.
  • 80
    Idem, ibidem, p.63.
  • 1
    Idem, ibidem, p. 66.
  • 82
    DELEUZE, op. cit., 1998b, p. 141.
  • 83
    PATROCÍNIO, op. cit., 2001, p. 109. Para Mosé, os poemas que compõem a parte VI do livro, intitulada "Reino dos bichos e dos animais é o meu nome", retomam as falas de Stela relativas à condição asilar, sob a metáfora dos animais e do zoológico.
  • 84
    Idem, ibidem, p. 142. Segundo Mosé, esta VIII parte da obra, "Procurando falatório", traz poemas que mostram a consciência que Stela tinha dos significados de sua palavra.
  • 85
    Idem, ibidem, p. 143.
  • 86
    MOSÉ, op. cit., 2001, p. 21.
  • 87
    FLORENCE, op. cit., 2006, p. 237.
  • 88
    BARRETO, Afonso H. de Lima. O cemitério dos vivos: memórias. São Paulo: Brasiliense, 1956, p. 186.
  • 89
    CANÇADO, Maura L. Hospício é Deus. Rio de Janeiro: José Álvaro Editor, 1965, p. 106.
  • 90
    O homem infame, segundo Foucault, não é àquele que é baixo, torpe, vil ou abjeto, mas sim aquele que é comum, que não é famoso, segundo a etimologia latina da palavra: in=elemento negativo, fama=célebre. Cf. FOUCAULT, op. cit., 1992.
  • 91
    PATROCÍNIO, op. cit., 2001, p. 118.
  • 92
    FLORENCE, op. cit., 2006, p. 238.
  • 93
    PELBART, Peter P. Manicômio mental: a outra face da clausura. Saúde e loucura. 3 ed. São Paulo, n. 2, 1990, p. 131-138.
  • 94
    FOUCAULT, op. cit., 1992.
  • 95
    PELBART, op. cit., 1995, p. 176.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Jun 2011
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