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Os interesses do governador: Luiz Garcia de Bivar e os negociantes da Colônia do Sacramento (1749-1760)* * A pesquisa de que resulta este artigo conta com auxílio do CNPq.

Resumos

O artigo enfoca o envolvimento do governador da Colônia do Sacramento, Luiz Garcia de Bivar (1749- 1760), com os negócios ilícitos realizados com os domínios espanhóis, possibilitados pelos contatos mercantis mantidos com Buenos Aires. Além dos gêneros tradicionais (manufaturas europeias, produtos do Brasil e fazendas) que faziam parte do comércio com Buenos Aires, na década de 1750, a praça portuguesa especializou-se no fornecimento de escravos africanos para a região platina. Esse comércio era realizado por uma comunidade mercantil bastante expressiva e fortemente conectada com seus pares do Rio de Janeiro. Traça-se um breve perfil desse grupo mercantil, mostrando sua relação com as atividades de contrabando protegidas pelo governador.

contrabando; tráfico de escravos; negociantes; Colônia do Sacramento.


The article focuses on the involvement of the governor of Colônia do Sacramento, Luiz Garcia de Bivar (1749-1760), in the illicit business conducted with Spanish territories, made possible by commercial contacts with Buenos Aires. In addition to merchandise (Brazilian and European goods) traditionally traded with Buenos Aires, in the 1750s the Portuguese possession specialized in the supply of African slaves to the Rio de la Plata region. This trade was carried out by a substantial mercantile community, strongly connected to their peers in Rio de Janeiro. The article draws a brief profile of this merchant group, showing its relations to the smuggling activities protected by the governor.

smuggling; slave trade; merchants; Colônia do Sacramento.


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    A pesquisa de que resulta este artigo conta com auxílio do CNPq.
  • 1
    Para um resumo da discussão, ver FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima; BICALHO, Maria Fernanda. Uma leitura do Brasil colonial: bases da materialidade e da governabilidade do Império. Penélope, n. 23, p. 67-88, 2000; SOUZA, Laura de Mello e. O Sol e a sombra: política e administração na América portuguesa do século XVIII. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 27-77; HESPANHA, António Manuel. Depois do Leviathan. Almanack Brasiliense, n. 5, p. 55-66, maio 2007.
  • 2
    HESPANHA, António Manuel. Antigo Regime nos Trópicos? Um debate sobre o modelo político do império colonial português. In: FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima (Org.). Na trama das redes: política e negócios no Império português, séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. p. 43-93.
  • 3
    Em 1759, comentando a remessa de 3 milhões de cruzados em prata que foram enviados para o Reino, o conde de Oeiras constatava que "é notório a todos que saíram da América Espanhola, porque este metal se não lavra nas Minas do Brasil". Segundo fontes britânicas, a frota de 1761 trouxe em prata do Rio de Janeiro cerca de 4 milhões de cruzados, produto do comércio da Colônia. Cf. ALDEN, Dauril. Royal government in colonial Brazil. Berkeley; Los Angeles: University of California Press, 1968. p. 96.
  • 4
    RIBEIRO, Monica da Silva. "Se faz preciso misturar o agro com o doce": a administração de Gomes Freire de Andrada, Rio de Janeiro e Centro-Sul da América Portuguesa (1748-1763). Doutorado (História) - Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2010. p. 132-165. Ver também FERREIRA, Mário Clemente. O Tratado de Madri e o Brasil Meridional. Lisboa: CNCDP, 2001. p. 315-318.
  • 5
    Arquivo Nacional - Torre do Tombo (ANTT). Ministério do Reino. Decretamentos de serviços. Maço 100, doc. 36, cx. 147.
  • 6
    Arquivo Histórico Ultramarino - Rio de Janeiro/Castro Almeida (AHU-RJ/CA). Cx. 59, no 13.711. DECRETO pelo qual se fez mercê a Luiz Garcia de Bivar de o nomear governador da Nova Colônia do Sacramento por três anos (26/7/1748). Os dados sobre remuneração de serviços constam da base de dados Optima Pars. Agradeço a Nuno Gonçalo Monteiro e Mafalda Soares da Cunha pelo acesso.
  • 7
    ANTT. Habilitação da Ordem de Cristo. Letra L, maço 3, no 18, 1757. Apesar de sua pureza ter sido comprovada, Bivar ainda teria de contornar outros dois impedimentos: a avançada idade (67 anos) e a origem mecânica (o avô materno fora marqueiro), considerados óbices para obtenção do hábito. Para maiores detalhes sobre as estratégias de acesso ao hábito da Ordem de Cristo, ver OLIVAL, Fernanda. As Ordens Militares e o Estado moderno: honra, mercê e venalidade em Portugal (1641-1789). Lisboa: Estar, 2001. p. 283-400.
  • 8
    No rateio de 100 mil pesos que foi feito entre os mercadores da praça para auxiliar a expedição de Gomes Freire, Manuel Gonçalves Machado & Companhia foi um dos maiores doadores registrados. PRADO, Fabrício. Colônia do Sacramento: o extremo sul da América portuguesa. Porto Alegre: Fumproarte, 2002. p. 201-202.
  • 9
    MELLO, Christiane Pagano de. Os Corpos de Ordenanças e Auxiliares. Sobre as relações militares e políticas na América portuguesa. História: Questões e Debates, v. 24, p. 29-56, 2006. Sobre as ordenanças da Colônia, informou o governador Bivar que "nesta Praça há três Companhias de Ordenanças, compostas de 165 homens dos moradores dela, e os capitães, exceto este, têm Patentes firmadas pela mão Real. (...) Sendo certo que as ditas três companhias são utilíssimas nesta Praça, porque como as tropas pagas são poucas, os auxiliares e ordenança suprem a sua falta". AHU-RJ/CA. Cx. 60, no 14.107. Informação do governador Luiz Garcia de Bivar, sobre as companhias das Ordenanças da Praça da Nova Colônia e a confirmação da patente do capitão Manuel Gonçalves Machado (2/7/1749).
  • 10
    AHU-CS. Cx. 5, no 446. Carta do governador da Nova Colônia do Sacramento, Luís Garcia de Bivar, ao rei d. João V (22/7/1749)
  • 11
    Para uma recente biografia de dom José, ver MONTEIRO, Nuno Gonçalo. D. José - Na sombra de Pombal. Lisboa: Temas & Debates, 2008.
  • 12
    AHU-CS. Cx. 5, no 456. Carta do governador da Nova Colônia do Sacramento, Luís Garcia Bivar, ao rei d. José, sobre o recebimento da notícia da morte do rei d. João V e da aclamação de d. José como rei (12/5/1751). Apesar dos pedidos dos moradores, a Coroa nunca determinou a instalação de uma Câmara na Colônia. Por não ser sede de um bispado (era dependente do Rio de Janeiro), não havia também cabido catedralício.
  • 13
    Museo Histórico Municipal, Montevidéu (MHM). Relaçam das festas que fez Luiz Gracia de Bivar, Fidalgo da Casa de Sua Majestade e Sargento Mayor de Batalha de seus Exércitos e Governador da Nova Colônia do Sacramento, pela feliz Aclamação de nosso Fidelíssmo Rey, o Senhor Dom José. Lisboa: Na Officina de Pedro Ferreira, Impressor da Augustíssima Rainha Nossa Senhora, Anno 1753.
  • 14
    Para as festas setecentistas, ver SOUZA, Laura de Mello e. Festas barrocas e a vida cotidiana em Minas Gerais. In: JANCSÓ, Istvan; KANTOR, Íris (Org.). Festa: cultura e sociabilidade na América portuguesa. São Paulo: Hucitec; Edusp; Fapesp; Imprensa Oficial, 2001. p. 183-195.
  • 15
    Os seis homens de negócio citados eram considerados os "principais da praça". Além de serem quase todos oficiais de ordenanças, alguns tinham vínculos com o aparato administrativo, como no caso de Manuel Pereira Franco, almoxarife da praça entre 1748 e 1761.
  • 16
    BERTRAND, Michel. De la familia a la red de sociabilidad. Revista Mexicana de Sociologia, v. 61, n. 2, p. 120-121, 1999. Como alerta esse autor, não devemos exagerar quando falamos em redes sociais, pois "não são mais que fragmentos de redes que operam em momentos dados que chegamos a identificar e a reconstituir a partir das nossas fontes".
  • 17
    FRAGOSO, João L. R. Homens de grossa aventura. 2. ed. ver. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998 [1. ed.: 1992]. Ver também FURTADO, Júnia Ferreira. Homens de Negócio: a interiorização da Metrópole e do comércio nas Minas setecentistas. São Paulo: Hucitec, 1999; OSÓRIO, Helen. O Império português no sul da América: estancieiros, lavradores e comerciantes. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007; RIBEIRO, Alexandre V. O comércio de escravos e a elite baiana no período colonial. In: FRAGOSO, João (Org.). Conquistadores e negociantes: história de elites no Antigo Regime nos trópicos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007; BORREGO, Maria Aparecida M. A teia mercantil: negócios e poderes em São Paulo colonial (1711-1765). São Paulo: Alameda, 2010.
  • 18
    SAMPAIO, Antônio Carlos Jucá de. Famílias e negócios: a formação da comunidade mercantil carioca na primeira metade do setecentos. In: FRAGOSO, João Luís Ribeiro; ALMEIDA, Carla Maria Carvalho de; _____ (Org.). Conquistadores e negociantes: histórias de elites no Antigo Regime nos trópicos: América lusa, séculos XVI a XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. p. 253.
  • 19
    SAMPAIO, Antônio Carlos Jucá de. Na encruzilhada do Império: hierarquias sociais e conjunturas econômicas no Rio de Janeiro (c.1650 - c.1750). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003. p. 233.
  • 20
    CALAINHO, Daniela. Agentes da fé: familiares da Inquisição portuguesa no Brasil colonial. Bauru: Edusc, 2006. p. 96- 99. Ver também KÜHN, Fábio. As redes da distinção: familiares da Inquisição na América Portuguesa do século XVIII. Varia Historia, Belo Horizonte, v. 26, n. 43, p. 177-195, 2010.
  • 21
    PEDREIRA, Jorge M. Negócio e capitalismo, riqueza e acumulação: os negociantes de Lisboa (1750-1820). Tempo, Niterói, v. 8, n. 15, p. 37-69, 2003.
  • 22
    JUMAR, Fernando A. Le commerce atlantique au Rio de la Plata (1680-1778). Vol. 1, Villeneuve d'Ascq. Presses Universitaires du Septentrion, 2000. p. 222.
  • 23
    PRADO, Fabrício. Colônia do Sacramento, op. cit. p. 146-168; POSSAMAI, Paulo. A vida quotidiana na Colônia do Sacramento. Lisboa: Editora Livros do Brasil, 2006. p. 352-362.
  • 24
    SANTOS, Corcino Medeiros dos. O tráfico de escravos do Brasil para o rio da Prata. Brasília: Edições do Senado Federal, 2010. p. 147-154.
  • 25
    AHU-CS. Cx. 7, no 591. Ofício do governador da Colônia do Sacramento, Pedro José Soares de Figueiredo Sarmento ao vice-rei conde de Azambuja, 28/10/1769.
  • 26
    Um exemplo, entre outros, seria o caso do capitão da ilha de São Gabriel, o homem de negócios José de Barros Coelho, estabelecido na praça desde 1728. Após casar, constituiu família e viveu na Colônia por cerca de quatro décadas, falecendo em 1769.
  • 27
    Agradeço a Paulo Possamai por esta sugestão, que ajuda a explicar o número relativamente elevado de familiares inquisitoriais na praça platina.
  • 28
    SAMPAIO, Antônio Carlos Jucá de. Os homens de negócio e a coroa na construção das hierarquias sociais: o Rio de Janeiro na primeira metade do século XVIII. In: FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima (Org.). Na trama das redes: política e negócios no Império português, séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. p. 470.
  • 29
    O denominado arquipélago de São Gabriel compreendia, além da ilha do mesmo nome, onde existiu uma fortificação portuguesa, a ilha das Duas Irmãs, a ilha de Fornos, a ilha dos Ingleses e a ilha Rasa. Atualmente, algumas dessas ilhas fluviais possuem denominações diferentes.
  • 30
    TURISO SEBASTIÁN, Jesús. Comerciantes españoles en la Lima borbónica: anatomía de una elite de poder (1701-1761). Valladolid: Universidad de Valladolid/Secretariado de Publicaciones e Intercambio Editorial, 2002. p. 57-58; SOCOLOW, Susan. Los mercaderes del Buenos Aires virreinal: família y comercio. Buenos Aires: Ediciones de la Flor, 1991. p. 26.
  • 31
    RIBEIRO, Alexandre V. O comércio das almas e a obtenção de prestígio social: traficantes de escravos na Bahia ao longo do século XVIII. Locus: Revista de História, Juiz de Fora, v. 12, n. 2, p. 16, 2006; CAVALCANTI, Nireu. O comércio de escravos novos no Rio setecentista. In: FLORENTINO, Manolo (Org.). Tráfico, cativeiro e liberdade: Rio de Janeiro, séculos XVII-XIX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. p. 67-72.
  • 32
    JUMAR, Fernando A. Le commerce atlantique au Rio de la Plata (1680-1778), op. cit. p. 315.
  • 33
    SAMPAIO, Antônio Carlos Jucá de. Na encruzilhada do Império, op. cit. p. 146-147.
  • 34
    PRADO, Fabrício P. Colônia do Sacramento, op. cit. p. 168-185.
  • 35
    Não obstante os trabalhos recentes de Fernando Jumar e Fabrício Prado tenham comprovado a cooperação de setores ou facções mercantis da Colônia com mercadores ingleses, existem evidências de que nem todos se beneficiavam com a presença britânica na região. Em finais de 1732, com a chegada dos navios do Asiento, uma carta do negociante José Meira da Rocha informava que "se suspendeu o comércio desta praça, de qualidade que se acha ao presente tudo parado, sem aparecer castelhano algum a procurar gêneros". Carta de Meira da Rocha a Francisco Pinheiro, Colônia, 31/1/1733, in: LISANTI FILHO, Luis. Negócios coloniais: uma correspondência comercial do século XVIII. Brasília: Ministério da Fazenda, 1973. v. 4, p. 360 apud POSSAMAI, Paulo. A vida quotidiana na Colônia do Sacramento, op. cit. p. 396. Para detalhes sobre o asiento inglês na região platina, ver STUDER, Elena. La trata de negros en el Río de la Plata durante el siglo XVIII. Buenos Aires: Universidad de Buenos Aires-Departamento Editorial, 1958. p. 201-238.
  • 36
    PAREDES, Isabel. Comercio y contrabando entre Colonia del Sacramento y Buenos Aires en el período 1739-1762. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL TERRITÓRIO E POVOAMENTO: A presença portuguesa na região platina, 2004, Colonia del Sacramento. Anais eletrônicos. Disponível em: <http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/bibliotecadigital-camoes/cat_view/75-coloquios-e-congressos/80-a-presenca-portuguesa-na-regiao-platina.html>
  • 37
    As cláusulas de autorização à busca de víveres em Buenos Aires aparecem desde 1737, após o final das hostilidades entre portugueses e espanhóis, quando da perda do entorno agrícola da Colônia do Sacramento. Em 1749 essas práticas são oficializadas, o que favoreceu o incremento do comércio ilícito.
  • 1
    PAREDES, Isabel. Comercio y contrabando entre Colonia del Sacramento y Buenos Aires en el período 1739-1762, op. cit. p. 11-12.
  • 39
    PRADO, Fabrício P. In the shadows of empires: trans-imperial networks and colonial identity in Bourbon Río de La Plata (c. 1750-c.1813). Tese (Doutorado) - Emory University, Atlanta 2009. p. 73 e 75. O autor se valeu dos dados disponibilizados pelo Slave Trade Database: <www.slavevoyages.org>.
  • 40
    MILLER, Joseph. Way of death: merchant capitalism and the Angolan slave trade, 1730-1830. Madison: The University of Wisconsin Press, 1988. p. 485.
  • 41
    PAREDES, Isabel. Comercio y contrabando entre Colonia del Sacramento y Buenos Aires en el período 1739-1762, op. cit. p. 12. Para um estudo sobre as demarcações do tratado de limites de 1750, ver FERREIRA, Mário Clemente. O Tratado de Madri e o Brasil Meridional, op. cit.
  • 42
    VILALOBOS, Sergio. Comercio y contrabando en el Río de la Plata y Chile. Buenos Aires: Eudeba, 1965. p. 19.
  • 43
    Arquivo Nacional - Rio de Janeiro (ANRJ). Cód. 94, v. 5. Ordem do governador Luiz Garcia de Bivar. Colônia do Sacramento, setembro de 1755.
  • 44
    Talvez os números do autor dos Discursos possam estar superestimados. Entre 1744 e 1745, quando governou interinamente a praça, o brigadeiro José da Silva Pais procurou aumentar a arrecadação da Fazenda Real e instituiu uma "contribuição" de 7.500 réis por escravo adquirido na praça pelos espanhóis. Segundo uma certidão passada no final de 1745 pelo escrivão da Fazenda Real da Colônia do Sacramento, tal taxação havia arrecadado, em cerca de um ano, o montante de 3:262$500 réis, o que equivalia à transação de 435 cativos para os domínios espanhóis. Cf. PIAZZA, Walter F. O brigadeiro José da Silva Paes - estruturador do Brasil Meridional. Florianópolis: Ed. da UFSC; Rio Grande: Editora da Furg; Edições FCC, 1988. p. 106.
  • 45
    O texto dos Discursos foi parcialmente divulgado em um artigo publicado em 1980, pelo historiador argentino Enrique Barba (BARBA, Enrique. Sobre el contrabando de la Colonia del Sacramento (siglo XVIII). Buenos Aires: Academia Nacional de la Historia, 1980. p. 57-76. Separata Investigaciones y ensayos, no 28.). O documento original pertence à Colección Ayala da Biblioteca do Palácio Nacional de Madri. Consultamos somente a transcrição existente na Academia Nacional de la Historia, em Buenos Aires.
  • 46
    AHU-CS. Cx. 6, no 513. Ofício do governador da Nova Colônia do Sacramento, Vicente da Silva Fonseca, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Tomé Joaquim da Costa Corte Real, sobre a sua posse do governo da Colônia (15/4/1760). Segundo o mapa populacional em anexo a esse ofício, em 1760 viviam na praça 2.693 pessoas (1.588 homens e 1.105 mulheres), estando incluídos nesse número os brancos livres, pardos e negros forros, além dos escravos. Estes últimos somavam a quantidade de 1.575 indivíduos (941 homens e 634 mulheres).
  • 47
    PRADO, Fabrício. In the shadows of empires, op. cit. p. 72 e 77. Agradeço a Fabrício Prado pelas importantes sugestões feitas a este trabalho, bem como pela leitura crítica de uma versão preliminar deste texto.
  • 48
    Pelo menos 207 escravos foram apreendidos pelas autoridades espanholas de Buenos Aires entre 1753 e 1760. Conforme STUDER, Elena. La trata de negros en el río de la Plata durante el siglo XVIII, op. cit. p. 260. Evidentemente, esse número representa aquela pequena parcela que não conseguiu ser introduzida ilicitamente.
  • 49
    Arquivo da Cúria Metropolitana - Rio de Janeiro (ACMRJ). Livro 4o de batismos de escravos - Colônia do Sacramento (1747-74); SOARES, Mariza. Os devotos da cor: identidade étnica, religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro, século XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. p. 111. Nos assentos de batismos de escravos adultos da cidade do Rio de Janeiro, a grande maioria dos batizandos era de origem mina, pois os cativos oriundos da região congo-angolana já viriam batizados de seus portos de embarque.
  • 50
    Alguns desses homens de negócio eram figuras de destaque na comunidade mercantil local, como os capitães Simão da Silva Guimarães e Manuel Gonçalves Machado. Também apareciam nomes como o já citado Diogo Gonçalves Lima e João Ivo dos Santos Chaves, todos eles apoiadores do governador Bivar.
  • 51
    FERREIRA, Roquinaldo. "A arte de furtar": redes de comércio ilegal no mercado imperial ultramarino português (c. 1690-c.1750). In: FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima (Org.). Na trama das redes, op. cit. p. 221.
  • 52
    PERUSSET, Macarena. Contrabando y sociedad en el río de la Plata colonial. Buenos Aires: Dunken, 2006. p. 116.
  • 53
    Para uma discussão sobre o tema da corrupção no mundo ibérico, ver o trabalho pioneiro de PIETSCHMANN, Horst. Burocracia y corrupción en Hispanoamérica colonial: una aproximación tentativa. Nova Americana, n. 5, p. 11- 37, 1982. Segundo esse autor, a corrupção seria sistemática na América hispânica, devido a uma tensão permanente entre o Estado metropolitano, a burocracia real e a sociedade colonial. Ver também os trabalhos de MOUTOUKIAS, Zacharias. Power, corruption, and commerce: the making of the local administrative structure in seventeenth-century Buenos Aires. Hispanic American Historical Review, v. 68, n. 4, p. 771-801, 1988 e Réseaux personnels et autorité coloniale: les négociants de Buenos Aires au XVIII siècle. Annales ESC, n. 4-5, p. 889-915, 1992. Uma reavaliação do tema pode ser encontrada em PIETSCHMANN, Horst. Corrupción en las Indias españolas: revisión de un debate en la historiografía sobre Hispanoamérica colonial. In: GONZÁLEZ JIMÉNEZ, Manuel et al. (Coord.). Instituciones y corrupción en la historia. Instituto Universitario de Historia Simancas; Universidad de Valladolid, 1998. p. 31-52.
  • 54
    PIJNING, Ernst. Contrabando, ilegalidade e medidas políticas no Rio de Janeiro do século XVIII. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 21, n. 42, p. 398-399 e 407, 2001.
  • 55
    AHU-RJ. Cx. 46, no 4.724. Carta do chanceler da Relação do Rio de Janeiro, João Pacheco Pereira de Vasconcelos, ao rei d. José, informando seu parecer sobre as irregularidades e violências cometidas pelo governador da Nova Colônia do Sacramento, Luís Garcia de Bivar (15/10/1753). Em anexo, consta a carta do pároco da Colônia, João de Almeida Cardoso, datada de 28 de dezembro de 1752.
  • 56
    Os comerciantes - todos moradores ou assistentes no Rio - que depuseram no termo de informação foram Francisco Xavier Lisboa, Domingos Fernandes de Oliveira (líder da facção adversária do governador), Inácio da Costa Machado, Crispim Fernandes e Antônio Rodrigues de Carvalho. Três deles têm atuação comprovada na Colônia.
  • 57
    AHU-RJ. Cx. 46, no 4.724. A palavra retém apresenta diversos significados, mas nesse caso refere-se à ação ou efeito de reter, ou ainda, àquela pessoa que se retém como reserva.
  • 58
    AHU-RJ/CA. Cx. 74, no 17.060. Atestado dos oficiais militares da guarnição da Nova Colônia do Sacramento, de pessoas eclesiásticas e seculares de distinção e do povo da mesma Praça, sobre o governo de Luiz Garcia de Bivar, 27/12/1753.
  • 1
    Além de Domingos Fernandes de Oliveira, que liderava o "bando", os demais adversários do governador eram Manuel Rodrigues Lisboa, Bartolomeu Nogueira, Antônio da Costa Quintão, Carlos Pereira de Andrade e João de Freitas Guimarães.
  • 60
    Em março de 1749, alguns homens de negócio da Colônia enviaram uma representação ao rei, em que pediam fosse suspensa a cobrança do resselo, que incidia sobre as mercadorias que entravam na Alfândega da Colônia. Alegavam que as mercadorias já tinham sido seladas nos portos de entrada e que a cobrança era ilegal, devendo o selador da Alfândega local ressarci-los pelos valores cobrados indevidamente. AHU-CS. Cx. 5, no 444. Carta dos homens de negócio da Nova Colônia do Sacramento, ao rei d. João V, sobre a cobrança indevida de selos pelo selador da Alfândega, José da Costa Pereira (1/3/1749).
  • 61
    AHU-CS. Cx. 5, no 480. Ofício do governador da Nova Colônia do Sacramento, Luís Garcia de Bivar, ao secretário de Estado da Marinha e Ultramar, sobre as acusações de que tem sido alvo por parte de alguns mercadores [c. 1754].
  • 62
    De acordo com a "atestação" antes referida, os inacianos deram seu apoio ao governador Bivar. Provavelmente, a afirmação de Gomes Freire deveria ser matizada, se levamos em conta a retórica antijesuítica vigente no período.
  • 63
    Carta do capitão-general Gomes Freire de Andrada para o secretário Diogo de Mendonça Corte Real (26/12/1754), in: MONTEIRO, Jônathas da Costa Rego. A Colônia do Sacramento (1680 - 1777). Porto Alegre: Livraria do Globo, 1937. v. II, p. 149-154. Gomes Freire advertiu que Bivar somente não enriquecera, pois havia "gasto o adquirido nos divertimentos que (...) segue a loucura de sua mulher". O alferes, depois tenente de granadeiros João Roiz de Carvalho, era também negociante, vivia na casa do governador e foi seu testamenteiro, o que denota a relação muito próxima que tinha com Bivar.
  • 64
    ACMRJ. Livro 3o de óbitos da Colônia de Sacramento, 1752-77. Registro de 16/2/1760. Bivar foi um dos poucos governadores que morreram na praça platina: seu registro de óbito indica que foi "amortalhado no hábito da Ordem de Cristo, de que era cavaleiro professo; e no hábito de São Francisco, de que era Terceiro".
  • 65
    AHU-CS. Cx. 6, no 513. OFÍCIO do governador da Nova Colônia do Sacramento, Vicente da Silva Fonseca, ao secretário de Estado da Marinha e Ultramar, Tomé Joaquim da Costa Corte Real, 15/4/1760.
  • 66
    BEUNZA, J. M. Imizcoz. Communauté, réseau social, élites. L'armature sociale de l'Ancien Régime. In: CASTELLANO, Juan Luis; DEDIEU, Jean-Pierre (Dir.). Réseaux, familles et pouvoirs dans le monde ibérique à la fin de l'Ancien Régime. Paris: CNRS Éditions, 1998. p. 40. Uma rede social pode ser definida como um sistema de laços que permitem englobar e também ultrapassar o conjunto de relações ou vínculos de toda a natureza mantidos por um determinado indivíduo. A partir das premissas da perspectiva micro-histórica, uma sociedade não existe senão através das redes relacionais: é a existência das redes que determinam sua configuração e existência. Os diversos laços - de sangue, amizade ou de dependência - constitutivos da sociedade do Antigo Regime permitiam a todo indivíduo integrar-se dentro dos vastos sistemas relacionais existentes. Ver BERTRAND, M. Familles, fideles et réseaux: les relations socials dans uns société d'Ancien Régime. In: CASTELLANO, Juan Luis; DEDIEU, Jean-Pierre (Dir.). Réseaux, familles et pouvoirs dans le monde ibérique à la fin de l'Ancien Régime, op. cit. p. 169-190 e MOUTOUKIAS, Zacarias. La notion de réseau em histoire sociale: um instrument d'analyse de l'action collective. In: CASTELLANO, Juan Luis; DEDIEU, Jean-Pierre (Dir.). Réseaux, familles et pouvoirs dans le monde ibérique à la fin de l'Ancien Régime, op. cit. p. 231-245.
  • 67
    ALDEN, Dauril. Royal government in colonial Brazil, op. cit. p. 157-164; VIDAL, Laurent. Mazagão: a cidade que atravessou o Atlântico. São Paulo: Martins, 2008. p. 15-49; PRADO, Fabrício. In the shadows of empires, op. cit. p. 83-121.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Jun 2012

Histórico

  • Recebido
    26 Mar 2012
  • Aceito
    08 Maio 2012
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