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Do consumidor de mercadorias ao leitor de jornal: peculiaridades da indústria cultural nas páginas do semanário Flan (1953-1954)

Resumos

Este texto analisa algumas estratégias do jornal semanal Flan para se estabelecer como veículo de repercussão nacional. Ele era parte do grupo Última Hora, fundado e dirigido por Samuel Wainer, e promoveu o governo Vargas durante os anos de 1953 e 1954. O periódico pode ser considerado um dos introdutores da indústria cultural no Brasil. Muitos estudiosos apontaram como esta última esvaziou crescentemente as discussões públicas, ao implantar a lógica da produção de mercadorias na cultura. Contudo, em seus primeiros passos no país, a indústria cultural, como se nota nas páginas de Flan, parece ter favorecido a formação de leitores de jornais e de mensagens politizadas.

indústria cultural; imprensa; Flan; consumo; política.


This paper analyses some strategies of the weekly newspaper Flan to achieve national repercussion. It was part of the Última Hora Group, founded and directed by Samuel Wainer, and promoted Vargas government during 1953 and 1954.The newspaper might be considered as a pioneer of the cultural industry in Brazil. Many scholars have pointed out how such phenomenon increasingly emptied the public debate, by introducing the logic of merchandise production in culture. However, in its -rst steps in the country, the cultural industry seems to have favored the formation of readers, of newspapers as well as of political messages.

industrial culture; press; Flan; consumerism; politics.


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  • 1
    1 Pesquisa financiada pelo CNPq. Agradeço as sugestões do parecerista anônimo.
  • 2
    2 GOLDENSTEIN, Gisela Taschner. Do jornalismo político à indústria cultural. São Paulo: Summus, 1987. p. 33-55.
  • 3
    3 A principal matriz teórica de Gisela T. Goldenstein é o seguinte trabalho conjunto de Theodor W. Adorno e Max Horkheimer: A Indústria Cultural: o esclarecimento como mistificação das massas. In: ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985. p. 113-157.
  • 4
    4 GOLDENSTEIN, Gisela T. Do jornalismo político à indústria cultural, op. cit. p. 33-55.
  • 5
    5 ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira: cultura brasileira e indústria cultural. São Paulo: Brasiliense, 2006. p. 134.
  • 6
    6 RIBEIRO, Ana Paula Goulart. Jornalismo, literatura e política. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 1, n. 31, p. 156, 2003.
  • 7
    7 WAINER, Samuel. Minha razão de viver: memórias de um repórter. Rio de Janeiro: Record, 1988. p. 166.
  • 8
    8 Ibid., p. 168.
  • 9
    9 Flan, 14-20 jun. 1953. O leitor escreve a Flan, p. 2.
  • 10
    10 Flan, 3-9 maio 1953. Flan escreve ao leitor, p. 2.
  • 11
    11 Flan, 19-25 abr. 1953. Flan escreve ao leitor, p. 2.
  • 12
    12 Flan, 12-18 abr. 1953. Flan escreve ao leitor, p. 2.
  • 13
    13 Ibid.
  • 14
    14 Flan, 26 abr.-2 maio 1953. Flan escreve ao leitor, p. 2.
  • 15
    15 Flan, 27 dez. 1953-2 jan. 1954. O leitor escreve a Flan, p. 46.
  • 16
    16 THOMPSON, John B. -e media and modernity. California: Stanford University, 1995. p. 25.
  • 17
    17 Sobre o papel criativo dos consumidores de mensagens, ver: CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. 1. Artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1994. p. 37-47.
  • 18
    18 Em estudo que lida com cartas enviadas à equipe encarregada da produção do Almanaque Abril, Mateus Henrique de Faria Pereira identificou não apenas casos de consumidores críticos do conteúdo da publicação, como também numerosos casos de missivistas que aceitaram os conteúdos dela. PEREIRA, Mateus Henrique de Faria. A máquina da memória: o tempo presente entre a história e o jornalismo. Bauru: Edusc, 2009. p. 108-124.
  • 19
    19 Flan, n. 5, 11-16 maio 1953. O leitor escreve a Flan, p. 02.
  • 20
    20 Flan, n. 5, 11-16 maio 1953. O leitor escreve a Flan, p. 2.
  • 21
    21 Flan, n. 20, 23-29 ago. 1953. O leitor escreve a Flan, p. 4.
  • 22
    22 Flan, 7-13 jun. 1953. p. 2.
  • 23
    23 Flan, 14-20 jun. 1953. O leitor escreve a Flan, p. 2.
  • 24
    24 Flan, 21-27 mar. 1954. O leitor escreve a Flan, p. 7.
  • 25
    25 Flan, 24-30 maio 1953. O leitor escreve a Flan, p. 2.
  • 26
    26 Ibid., p. 2.
  • 27
    27 Flan, 17-23 maio 1953. O leitor escreve a Flan, p. 2.
  • 28
    28 Flan, 18-24 out. 1953. O leitor escreve a Flan, p. 59.
  • 29
    29 ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. São Paulo: Perspectiva, 1990. p. 246.
  • 30
    30 Flan, 20-26 jun. 1954. Terceiro caderno, O leitor escreve a Flan, p. 6.
  • 31
    31 Flan, 3-9 maio 1953. Terceiro caderno, Prêmios para toda a família, p. 10.
  • 32
    32 NOVAIS, Fernando; MELLO, João Manuel Cardoso. Capitalismo tardio e sociabilidade moderna. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz (Org.). História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 562 e 604.
  • 33
    33 ARRUDA, Maria Arminda do Nascimento. A embalagem do sistema: a publicidade no capitalismo brasileiro. Bauru: Edusc, 2004. p. 76.
  • 34
    34 Ibid., p. 141-142.
  • 35
    35 Segundo Nelson Werneck Sodré, na década de 1950, "A concentração da imprensa seguia seu curso inexorável; tornava-se cada vez mais difícil lançar jornal novo; o número dos que desapareciam era crescente. Finda a Guerra Mundial, abria-se amplo horizonte à liberdade de pensamento; cada vez mais se verificava, na prática, que tal liberdade era meramente retórica: só grandes capitais poderiam montar grandes empresas, como os jornais". SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999. p. 395.
  • 36
    36 Flan, 13-19 set. 1953. p. 61.
  • 37
    37 Ibid. 3
  • 38
    8 Flan, 20-26 set. 1953. p. 52.
  • 39
    39 Flan, 3-9 maio 1953. Que é o clube dos assinantes de FLAN?, p. 10
  • 40
    40 Flan, 11-16 maio 1953. O que é o clube dos assinantes de FLAN?, p. 10.
  • 41
    41 Em sua crítica conservadora à sociedade de massas, Gabriel Tarde percebeu o potencial dos jornais em erigir e manter laços sociais. Em sua observação, homens que não se veem nem se tocam podem constituir liames por meio da imprensa: "estão sentados cada um em sua casa, lendo o mesmo jornal e dispersos num vasto território. Qual é, pois, o vínculo que existe entre eles? Esse vínculo é, juntamente com a simultaneidade de sua convicção ou de sua paixão, a consciência que cada um deles possui de que essa ideia ou essa vontade é partilhada no mesmo momento por um grande número de outros homens". TARDE, Gabriel. A opinião e as massas. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 6 e 7. Benedict Anderson, por sua vez, vislumbrou na imprensa um dos grandes agentes na conformação de "comunidades imaginadas" em torno de distintos ideais de nação. ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 54-55.
  • 42
    42 Flan, 3-9 maio 1953. Terceiro caderno, Prêmios para toda a família, p. 10.
  • 43
    43 Flan, 11-16 maio 1953. Terceiro caderno, p. 11.
  • 44
    44 Flan, 23-29 ago. 1953. p. 61.
  • 45
    45 Flan, 19-25 jul. 1953. p. 7.
  • 46
    46 HUIZINGA, Johan. Homo ludens. São Paulo: Perspectiva, 2010. p. 18.
  • 47
    47 Flan, 11-16 maio 1953. Terceiro caderno, p. 11.
  • 48
    48 Flan, 17-23 maio 1953. Terceiro caderno, p. 11.
  • 49
    49 Flan, 24-30 maio 1953. Segundo caderno, p. 11.
  • 50
    50 Flan, 13-19 set. 1953. p. 29.
  • 51
    51 Flan, 24-30 jan. 1954. p. 39.
  • 52
    52 Flan, 27 jun.-3 jul. 1954. Terceiro caderno, p. 5.
  • 53
    53 Flan, 17-23 jan. 1954. p. 35.
  • 54
    54 Flan, 14-20 fev. 1954. p. 43.
  • 55
    55 Flan, 21-27 fev. 1954. p. 37.
  • 56
    56 Flan, 11-17 abr. 1954. Caderno 3, p. 5.
  • 57
    57 THOMPSON, John B. -e media and modernity, op. cit. p. 117.
  • 58
    58 ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira, op. cit. p. 124.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Jun 2013

Histórico

  • Recebido
    14 Fev 2013
  • Aceito
    08 Maio 2013
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