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“Hail Arminius! O Pai dos Alemães!”: a construção mítica da Unificação Alemã entre 1808 e 1875

RESUMO

Ao longo dos séculos, a Batalha de Teutoburgo tornou-se um dos eventos mais dramáticos da Antiguidade, inspirando diversos mitos fundadores e uma série de sentimentos de caráter nacionalista e patriótico. Hoje, contudo, sabemos que a vitória dos germanos sobre Roma pode ser compreendida pelo menos de duas formas: a primeira, do ponto de vista histórico; e a segunda, do ponto de vista mítico. Visando a compreender a relação entre o passado histórico e o passado imaginado - e a importância deste para a formação dos Estados nacionais modernos -, buscamos neste artigo analisar a recepção da Batalha de Teutoburgo durante o período de Unificação Alemã, no intuito de compreender os processos de mitificação tanto da vitória germânica sobre o Império Romano, quanto da imagem de Arminius como herói nacional.

Palavras-chave:
Arminius; batalha de Teutoburgo; recepção da Antiguidade; nacionalismo; Alemanha.

ABSTRACT

Over the centuries, the Battle of the Teutoburg Forest became one of the most dramatic events of Antiquity, inspiring many founding myths, and a series of nationalistic and patriotic emotions. Today, however, we know the German victory over Rome can be understood in at least two ways: first, from a historical point of view; and second, from a mythical one. By examining the relationship between historical and imagined past -and the latter’s importance for the formation of modern nation states-,this paper seeks to analyze the reception of the Battle of Teutoburg during the German Unification period, in order to understand the mythification processes of the German victory over the Roman Empire, and Arminius’ image as a national hero.

Keywords:
Arminius; Battle of the Teutoburg Forest; Reception of Antiquity; Nationalism; Germany.

RESUMEN

A lo largo de los siglos, la Batalla de Teutoburgo se volvió en uno de los eventos más dramáticos de la Antigüedad, inspirando diversos mitos fundadores y una serie de sentimientos de carácter nacionalista y patriótico. Hoy día, sin embargo, sabemos que la victoria de los germanos sobre Roma puede ser comprendida por lo menos de dos formas: la primera, desde el punto de vista histórico; e la segunda, desde el punto de vista mítico. Para comprender la relación entre el pasado histórico y el pasado imaginado -y la importancia del último para la formación de los Estados nacionales modernos-, este artículo analiza la recepción de la batalla de Teutoburgo durante el periodo de Unificación Alemana, con la intención de entender los procesos de mitificación de la victoria germánica sobre el Imperio Romano y del imagen de Arminius como héroe nacional.

Palabras clave:
Arminius; batalla de Teutoburgo; recepción de la Antigüedad; nacionalismo; Alemania.

Introdução

Imperadores, heróis, narrativas orais… releituras, recepção, instrumentalização do passado; com essas estratégias, intelectuais e políticos lançam as bases para a construção nacional durante o século XIX. Como afirmado por Plessner, a

{c}onsciência nacional alemã busca ancorar-se na História, numa perspectiva nos princípios reais, mas como uma base de ancoragem oferece-se repetidamente apenas originalidade naturalista. E se defende-se, orgulhosa de sua barbárie eterna, contra o ocidente mais antigo, feliz e prosaico, parece como se constituísse todas as grandes convulsões da história alemã: a guerra contra Napoleão, a reforma de Lutero, a oposição de Widukind a Carlos uma batalha dos gigantes contra Roma, a qual Arminius, o querusco, começou.1 1 No original: “Deutsches Staatsbewußtsein sucht sich in der Geschichte zu verankern, in einer Perspektive auf die realen Anfänge, aber als Ankergrund bietet sich immer wieder nur naturhafte Ursprünglichkeit. Und wenn es sich, stolz auf sein ewiges Barbarentum, gegen den älteren, glücklicheren, nüchternen Westen verteidigt, scheint es, als bildeten alle großen Aufbrüche deutscher Geschichte: der Krieg gegen Napoleon, Luthers Reformation, Widukinds Widerstand gegen Karl, einen Kampf der Riesen gegen Rom, den Armin, der Cherusker, begann”, PLESSNER, Helmuth. Die verspätete Nation: Über die politische Verfürbarkeit bürgerlichen Geistes. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1982, p. 71-72, tradução nossa.

Nossa atenção neste artigo direciona-se a compreender a construção do mito criado em torno de Arminius (Hermann, o Querusco)2 2 A adaptação do nome para a língua alemã é geralmente atribuída a Martinho Lutero e sua pregação no salmo no 82, em que afirma ser Hermann o nome original do herói, tendo os romanos “corrompido” seu nome para Arminius: “Herman, a quem os latinos corromperam e chamam de Ariminum, chama-se, no entanto, um homem de armas (Her man), dux belli (líder de guerra), que é capaz, na tropa e na batalha, de salvar os seus e caminhar diante deles, colocando-se em risco ao fazê-lo” (No original: “Hermann, den die Latini übel verkehren, und Ariminium nennen, heisset aber ein Heerman, dux belli, der zum Heer und Streit tüchtig ist, die Seinen zu retten und forn an zu gehen, sein Leib und Leben darüber wagen”, LUTHER, Martin. Sämtliche Schriften. v. 5. Organizado por Johann Georg Walch. Halle: Johann Justinus Gebauer, 1741, p. 1052, tradução nossa). Para mais informações acerca da recepção durante o século XVI ver BENARIO, Herbert. Arminius into Hermann: History into Legend. Greece & Rome, v. 51, p. 83-94, 2004, aqui: p. 85. e a Varusschlacht (Batalha de Varus).3 3 Acerca do tema ver BALTRUSCH, Ernst et alii (Ed.). 2000 Jahre Varusschlacht: Geschichte, Archäologie, Legenden. Berlim; Boston: Walther de Gruyter, 2012. No entanto, devemos lembrar que um mito - seja ele nacional, regional, religioso ou de qualquer outro viés - não deve ser criticado/analisado apenas pela representação que este (mito) produz sobre determinado(s) acontecimento(s) histórico(s). Isso nos privaria de uma vasta gama de possibilidades analíticas muito relevantes, não só para a pesquisa em História, mas para as ciências humanas como um todo. Como afima Patrick Geary:

a História das nações europeias foi um grande sucesso, mas transformou nossa compreensão no passado em um depósito de lixo tóxico impregnado do veneno do nacionalismo étnico, que penetrou fundo na consciência popular. A limpeza deste lixo é o mais intimidante dos desafios enfrentados atualmente pelos pesquisadores.4 4 GEARY, Patrick. O mito das nações: a invenção do Nacionalismo. Tradução de Fábio Pinto. São Paulo: Conrad, 2005, p. 27

Não é nenhuma novidade que os fenômenos do imaginário, da memória social e coletiva, assim como das tradições e das identidades, quase nunca obedecem aos critérios da ciência moderna e às descobertas recentes dos pesquisadores. Pelo contrário, as narrativas populares, disseminadas pelo senso comum, seja através da literatura ou de clássicos, ou mesmo através das mídias, como o cinema, a música e os videogames, são as maiores responsáveis pela formatação de mapas cognitivos (schematas) culturais - que, em sua coletividade, constroem o imaginário social.5 5 WHITE, Hayden. The Practical Past. Historein, v. 10, p. 10-19, 2010. Basta-se apenas desconstruir os erros de interpretação, os elementos romanceados, os tropos, assim como os anacronismos, o ofício dos profissionais da história seria consideravelmente mais simples; muitas são as produções recentes que oferecem um quadro muito bem detalhado e palpável sobre a história de Arminius e seus feitos, contando com aportes teóricos atualizados e sofisticadas análises de cultura material.6 6 Cf. MATYSZAK, Philip. Os inimigos de Roma: de Aníbal a Átila, o Huno. Tradução de Sonia Augusto. Barueri: Manole, 2013; WELLS, Peter S. The Battle that Stopped Rome: Emperor Augustus, Arminius and the Slaughter of the Legions in the Teutoburg Forest. Londres: W. W. Norton, 2004; POWELL, Lindsay. Roman Soldier — VS — Germanic Warrior — 1 st Century AD. Oxford: Osprey Publishing, 2014; WINKLER, Martin M. Arminius the Liberator: Myth and Ideology. Oxford: Oxford University Press, 2016.

Assim sendo, pretendemos, através da análise comparada de fontes visuais e literárias, bem como de documentos políticos, compreender a ascensão/criação de um mito, sua relação com a sociedade, assim como a sua ressignificação durante o período da Unificação Alemã (1808-1875). O conceito de mito político aqui adotado atentará para o caráter simbólico e complexo de tais estruturas dentro de uma ordem política específica. Em outras palavras,

Pelo conceito de “mito político” refere-se aqui a um gênero semiótico específico, que se especializa no processamento de certos problemas de comunicação política. Mitos políticos são estruturas narrativas com um potencial de ação coletivo, relacionado a um problema de ordem de associações sociais. Tratam-se de símbolos políticos complexos cujos elementos são desdobrados narrativamente.7 7 No original: “Mit dem Begriff ’politischer Mythos’ ist hier eine spezifische semiotische Gattung gemeint, die auf die Bearbeitung bestimmter Probleme von politischer Kommunikation spezialisiert ist. Politische Mythen sind narrative Symbolgebilde mit einem kollektiven, auf das grundlegende Ordnungsproblem sozialer Verbände bezogenen Wirkungspotential. Es handelt sich um komplexe politische Symbole, deren Elemente jeweils narrativ entfaltet sind”, DÖRNER, Andreas. Politischer Mythos und symbolische Formen am Beispiel des Hermannsmythos. Opladen: Westdeutscher Verlag, 1995, p. 76-77, tradução nossa.

O mito é, portanto, uma sequência narrativa baseada em símbolos e estereótipos da cultura política. Destarte, esses mitos têm potencial de gerar significados, os quais não se conectam a uma verdade verificável, mas que criam uma crença em seu conteúdo. Ao lançarmos mão desse conceito, nosso enfoque é, portanto, atentar para a importância de novas perspectivas sobre a história antiga, que permitam:

uma percepção maior acerca de suas apropriações, acerca do papel que {esta área do conhecimento} desempenhou e desempenha em relação às construções identitárias, às reivindicações políticas, enfim, aos mais distintos jogos discursivos (...) desfazer seus mitos e melhor perceber, para além da capacidade e erudição, as interfaces entre passado e presente (...) {que permita a compreensão} não só {d}os problemas intra-epistemológicos inerentes à disciplina, mas, também, a face do funcionamento discursivo da História Antiga.8 8 SILVA, Glaydson José. História Antiga e usos do passado: um estudo de apropriações da Antiguidade sob o Regime de Vichy (1940-1944). São Paulo: Annablume, 2007, p. 29.

Essas construções míticas são implementadas, desta maneira, no campo político-ideológico com a finalidade de legitimação. Para Thomas Nipperdey, o nacionalismo político durante o século XIX é influenciado por correntes democráticas, liberais e conservativas-imperiais, sendo outra forma de nacionalismo, o cultural: “{t}oda cultura é nacional e é para ser compreendida nacionalmente; e: uma nação é definida através da coletividade de sua cultura”.9 9 No original: “Alle Kultur ist national und ist national zu verstehen; und: Eine Nation ist definiert durch die Gemeinsamkeit ihrer Kultur”, NIPPERDEY, Thomas. Auf der Suche nach der Identität: Romantischer Nationalismus. In: NIPPERDEY, Thomas. Nachdenken über die deutsche Geschichte: Essays. München: DTV, 1986, p. 110-125, aqui: p. 115, tradução nossa. Geary assevera que:

desse nacionalismo cultural emergiram elementos que, quando politizados, passariam a ser instrumentos formidáveis de mobilização política. Entre eles estava a crença de que a “nação” alemã havia existido desde o século I, quando Arminius derrotou o general romano Varus, destruindo seu exército na Floresta de Teutoburgo no ano 9 d.C.10 10 GEARY, Patrick. O mito das nações: a invenção do Nacionalismo, op. cit., p. 35.

Os mitos políticos, e aqui nos interessam as instrumentalizações da figura de Arminius (Hermann), são, portanto, construídos em prol dessa coletividade.11 11 Acerca da relação do indivíduo com o grupo (coletividade) no que tange o nacionalismo e a nação ver NIPPERDEY, Thomas. Deutsche Geschichte 1800-1866. Bürgerwelt und starker Staat. 4. ed. Munique: Verlag C. H. Beck, 1987, p. 300. Resta-no, portanto, analisar essas construções míticas com a finalidade de compreendê-las dentro da tradição de seu tempo.

Hermann, o libertador: Romantismo e Nacionalismo Oitocentistas

Na virada para o século XIX, o Sacro Império Romano Germânico era uma região decrépita, “formad{a} por centenas de insignificantes principados, cidades livres e estados eclesiásticos e aristocráticos {...}. Voltaire sarcasticamente comentou que ele não era nem santo, nem romano, e certamente não era grande coisa como Império”.12 12 KITCHEN, Martin. História da Alemanha Moderna: de 1800 aos dias atuais. Tradução de Claudia Gerpe Duarte. São Paulo: Cultrix, 2013, p. 19. Sua sobrevivência, mais simbólica do que prática, se encontrava em uma situação frágil; Napoleão - o “espírito do mundo a cavalo” nas palavras de Hegel - conquistara cada vez mais vitórias em várias frentes de batalha, tanto na Europa quanto nas colônias, quase sempre de forma esmagadora, agregando um número crescente de aliados políticos e militares. Em 1806, o Kaiser alemão, Francisco II, abdicara de seu posto como imperador, dissolvendo assim a débil e imaginária unidade existente entre os diferentes Estados germânicos. O império francês passara a governar grande parte da Germania, e não seria errôneo afirmar que os bordões da revolução - “liberdade, igualdade e fraternidade” - pouco (ou nada!) valiam para seus Estados satélites. A confederação do Reno fora forçada a conceder 119 mil soldados a Napoleão, enfraquecendo consideravelmente seu corpus militar; autoridades francesas supervisionavam detalhes minuciosos da administração de cada Estado, aplicando medidas de censura e cassação a manifestações nacionalistas e/ou de oposição; as indenizações à França (inicialmente acordadas em 20 milhões de francos) chegaram ao montante absurdo de 154 milhões de francos, gerando grande revolta em vários setores políticos e econômicos.13 13 Ibidem, p. 33.

Nesta conjuntura, a primeira onda nacionalista do século XIX, da qual também faz parte o romantismo,14 14 Para mais informações acerca do romantismo alemão, principalmente do romantismo nacional, ver SAFRANSKI, Rüdiger. Romantik: eine deutsche Affäre. Frankfurt am Main: Fischer, 2009, p. 172-209. encontrou espaços profícuos para manifestar sua indignação à dominação francesa, de forma que as artes e a literatura serviram como uma grande válvula de escape para a exaltação das virtudes espirituais (Volksgeist) e essenciais (Deutschtum) do povo alemão. Este nacionalismo germânico em seu estágio inicial tinha a liberdade (Freiheit) como ideal motivador, lançando pensadores de várias áreas do conhecimento em verdadeiras cruzadas, militando intelectualmente contra o imperialismo napoleônico. Tal como na Reforma, os acontecimentos do mundo antigo serviram de grande inspiração; via-se nos franceses, herdeiros da tradição latina, um espelho do Império Romano - uma entidade expansionista, opressora e moralmente corrupta.

Destacamos aqui a composição do drama Die Hermannsschlacht (1808), de Heinrich von Kleist. Todavia, a primeira edição data de 1821 e a primeira encenação levada a cabo somente em 1861. Tais condições teriam se dado graças à censura - “{o} manuscrito circula como uma forma de literatura samizdat nos círculos inclinados patriocamente”.15 15 No original: “Das Manuskript zirkuliert wie eine Art Samisdat-Literatur in patriotisch gesinnten Kreisen”, DÖRNER, Andreas. Die Inszenierung politischer Mythos. Ein Beitrag zur Funktion der symbolischen Formen in der Politik am Beispiel des Hermannsmythos in Deutschland. Politische Vierteljahrschrift, v. 34, n. 2, p. 199-218, 1993, aqui: p. 208, tradução nossa. A obra, como muitas que seguem esta tradição, reencena a Batalha de Teutoburgo, enaltecendo não apenas a figura de Arminius, mas a resistência da tribo dos Queruscos à Roma em um topos narrativo que se tornou o padrão para todas (ou pelo menos quase todas) as releituras deste evento histórico produzidas em território germanófono. É praticamente incontestável que o movimento romântico dera continuidade a várias idealizações do mundo germânico antigo; os “ancestrais” dos alemães, nesta ótica, mesmo que pouco sofisticados (ou mesmo retrógrados) se comparados aos romanos, possuíam uma moralidade impecável, eram incorruptíveis, espirituosos, e, através da não miscigenação com outros povos, mantiveram imaculadas suas instituições e costumes ancestrais. Essas características, perceptíveis em Die Hermannsschlacht e outras tantas obras, foram, literalmente, criadas a partir de uma leitura extremamente tendenciosa, ideologicamente conduzida, de Germania, documento atribuído a Tácito no século I d.C. e que teve grande relevância dentro do nacionalismo alemão em diversos momentos.16 16 Em 1905, o crítico de teatro Arthur Eloesser associa a figura kleistiana de Hermann com a de Bismarck, como pode se ver no trecho a seguir: “Hermann conduz seus planos sozinho como Bismarck, o qual também não se importava em ser mal interpretado e até mesmo desprezado. Ele burla Varus assim como Bismarck Napoleão III; ele redige o Despacho de Ems e usa no final, de acordo com todos os meios da astúcia, a declaração aberta de suas intenções e sua personalidade bem como Bismarck” (No original: “Hermann trägt seine Pläne allein in sich wie Bismarck, dem es auch nicht darauf ankam, mißverstanden und selbst verachtet zu werden. Er betölpelt den Varus wie Bismarck Napoleon III., er redigiert die Emser Depesche und nach allen Mitteln der List braucht er als letzles die offene auslieferung seiner Absichten und seiner Persönlichkeit wie Bismarck”, ELOESSER apud KREUTZER, Hans Joachim (Org.). Kleist-Jahrbuch 1986. Berlim: Erich Schmidt, 1986, p. 110, tradução nossa com revisão de Veronika Geith). Lembremos aqui que, graças ao Despacho de Ems, a França declara guerra à Prússia em 19 de julho de 1870.

Ao avaliar pelo ano de composição do drama de Kleist - dois anos após a derrota do Estado Prussiano - é tentador diagnosticá-lo como uma manifestação de relutância, um apelo à resistência, à autodeterminação, projetando os anseios do presente em um passado remoto. Robert E. Helbling questiona esta prerrogativa ao afirmar que o drama de Kleist não é apenas um apelo patriótico; ele ultrapassa suas influências mundanas, assim como as estruturas psicológicas e políticas que o cercam. Ou seja, o Arminius de Kleist seria muito mais um rebelde metafísico do que um libertador nacional.17 17 HELBLING, Robert E. The Major Works of Heinrich von Kleist. Nova York: New Directions Book, 1975, p. 183. Joep Leersen assevera, entretanto, que a obra de Kleist seria “um incentivo ao rei prussiano (...) para assumir a liderança da coalisão germânica antinapoleônica”.18 18 No original: “an incentiv for the Prussian king (...) to take on the leadership of an anti-Napoleonic German coalition”, LEERSEN, Joep. National thought in Europe: a cultural History. Amsterdã: Amsterdam University Press, 2006, p. 43, tradução nossa. Se retormamos, contudo, ao contexto de produção e à forma de circulação, Arminius torna-se a personificação da luta, “para a mobilização do próprio povo. O ódio como meio de mobilização na guerra precisa primeiramente ser produzido nos queruscos cansados de guerra - pois também a Prússia o está”.19 19 No original: “zur Mobilisierung des eigenen Volkes. Der Haß als Mobilisierungsmedium im Volkskrieg muß bei den kriegsmüden Cheruskern — ebenso wir bei den kriegsmüden Preußen”, DÖRNER, Andreas. Die Inszenierung politischer Mythos. Ein Beitrag zur Funktion der symbolischen Formen in der Politik am Beispiel des Hermannsmythos in Deutschland, op. cit., p. 207.

Se a obra de Kleist suscita dúvidas sobre seu caráter nacionalista, os Discursos à nação alemã (Reden an die Deutsche Nation, 1808) de Johann Gottlieb Fichte não abrem espaço para tal questionamento. O proeminente filósofo tivera um grande papel não só como pensador destacado de seu tempo, mas também como um dos reformadores educacionais que, assim como Wilhelm von Humboldt, propunha uma educação baseada no modelo kantiano.20 20 KITCHEN, Martin. História da Alemanha Moderna, op. cit., p. 44. Contudo, os ideais políticos de Fichte são gritantes. Durante o período da dominação francesa, o pensador idealista lançara-se em uma empreitada patriótica ufânica, quase fanática, buscando assim instigar movimentações políticas de cunho nacionalista. Em seu oitavo discurso (Was ein Volk sei, in der höhern Bedeutung des Worts, und was Vaterlandsliebe), Fichte apela à resistência dos antigos germanos, estabelecendo uma relação entre a resistência à Roma e a resistência à França:

Nessa crença baseiam-se nossos antepassados em comum, a leva original da nova cultura, os chamados pelos romanos de germanos, bravamente resistiram à iminente dominação mundial dos romanos. (...)

Não estavam os romanos dispostos o suficiente para deixá-los participar de todas estas bênçãos? Não experimentaram em vários dos seus próprios príncipes, que só poderiam dizer, que a guerra contra esses benfeitores da humanidade seria rebelião, comprova o louvável romano Clemente, quando adornou indulgentes com títulos de rei, com posições de comando em seus exércitos, com bandagem romana, a eles, quando eles estavam prestes a ser expulsos por seus compatriotas, deram um refúgio e manutenção em suas colônias? Não tinham noção das vantagens da cultura romana, por exemplo para a formação de seus exércitos, nos quais até mesmo um Armínio não desdenhou aprender o ofício da guerra? Nenhuma de todas essas ignorâncias ou não observâncias lhes encerrrou. Seus descendentes, assim que puderam fazê-lo, sem perder sua liberdade, assimilaram a cultura romana, o tanto quanto era possível sem perder sua individualidade. (...)

Nem todos estão mortos, eles não viram a escravidão, eles deixaram a liberdade aos seus filhos. Sua persistente resistência, todo o novo mundo agradece, de que ela está lá, como aqui está.21 21 No original: “In diesem Glauben setzten unsere ältesten gemeinsamen Vorfahren, das Stammvolk der neuen Bildung, die von den Römern Germanier genannten Deutschen, sich der herandrängenden Weltherrschaft der Römer muthig entgegen (...) Waren die Römer nicht bereitwillig genug, sie an allen diesen Segnungen Theil nehmen zu lassen? Erlebten sie nicht an mehreren ihrer eigenen Fürsten, die sich nur bedeuten ließen, daß der Krieg gegen solche Wohlthäter der Menschheit Rebellion sei, Beweise der gepriesenen römischen Clemenz, indem sie die Nachgibigen mit Königstiteln, mit Anführerstellen in ihren Heeren, mit römischen Opferbinden auszierten, ihnen, wenn sie etwa von ihren Landsleuten ausgetrieben wurden, einen Zufluchtsort und Unterhalt in ihren Pflanzstädten gaben? Hatten sie keinen Sinn für die Vorzüge römischer Bildung, z. B. für die bessere Einrichtung ihrer Heere, in denen sogar ein Arminius das Kriegshandwerk zu erlernen nicht verschmähte? Keine von allen diesen Unwissenheiten oder Nichtbeachtungen ist ihnen aufzurücken. Ihre Nachkommen haben sogar, sobald sie es ohne Verlust für ihre Freiheit konnten, die Bildung derselben sich angeeignet, in wie weit es ohne Verlust ihrer Eigenthümlichkeit möglich war. (...) Sie sind nicht alle gestorben, sie haben die Sklaverei nicht gesehen, sie haben die Freiheit hinterlassen ihren Kindern. Ihrem beharrlichen Widerstande verdankt es die ganze neue Welt, daß sie da ist, so wie sie da ist”, FICHTE, Johann Gottlieb. Reden an die Deutsche Nation. Berlim: Realschulbuchhandlung, 1808, p. 266-268, tradução nossa.

A importância que Fichte atribui à resistência germânica contra Roma excede os limites geográficos que concernem ao evento histórico da Batalha de Teutoburgo, quando afirma que é a ela que o mundo moderno deve agradecer pelo que é hoje. Como afirma Geary, devemos entender os discursos de Fichte em seu contexto imediato, como “textos de sobrevivência”, escritos sob a égide de dar esperanças e fornecer estratégias de resistência ideológica e psicológica no contexto da ocupação francesa - o que, ao menos segundo as expectativas da época, ainda perduraria por muitos anos.22 22 GEARY, Patrick. O mito das nações: a invenção do Nacionalismo, op. cit., p. 39.

A partir de Fichte e outros intelectuais de seu tempo, a causa política passou a ter importância destacada no cenário intelectual alemão. Mesmo que de imediato tais manifestações não tenham influenciado grandemente nas disputas políticas entre alemães e franceses, a politização da produção intelectual germânica, assim como a relação entre as esferas da política e da academia se intensificaram de forma irreversível. Este “casamento” entre ideais políticos nacionalistas e pesquisa científica se tornaria um dos pilares principais da Alemanha moderna, o que nos ajuda a compreender o papel que historiadores, artistas e literatos - assim como os heróis do passado, presentes em suas produções - passariam a ter a partir deste ponto.

Em seu poema “Vaterlandslied” (1812),23 23 Esse poema foi musicalizado posteriormente por Albert Methfessel (1818) e, a posteriori, apropriado durante o período da Primeira Guerra Mundial. Mais informações cf. PROBST-EFFAH, Gisela. Zur Geschichte des Liedes “Der Gott, der Eisen wachsen ließ”. Ad marginem. Randbemerkungen zur europäischen Musikethnologie. Mitteilungen des Instituts für Europäische Musikethnologie an der Universität Köln, 45/1980. Disponível em: <http://www.eucim-te.eu/data/musikeume/File/Leitartikel/adm45.pdf>. Acesso em: 3 maio 2016. Ernst Moritz Arndt conclama a nação, em tom exaltado, a lutar por vingança; contra a política dos príncipes, os quais se uniram a Napoleão - a menção a esses simpatizantes está expressa por “Buben” e “Knecht”, os quais precisam ser punidos (“Acht”) -, e por uma unidade enquanto povo. Essa guerra que está por vir é comparada diretamente à Hermannsschlacht.

Ao garoto e ao servo, o banimento!

Deixá-lo alimentar urubus e corvos!

Assim, avançamos para a batalha de Hermann,

E queremos vingança.24 24 No original: “Dem Buben und dem Knecht die Acht!/ Der speise Kräh’n und Raben!/ So ziehn wir aus zur Hermannsschlacht,/ und wollen Rache haben”, ARNDT, Ernst Moritz. Vaterlandslied. Disponível em: <http://gutenberg.spiegel.de/buch/gedichte-2227/96>. Acesso em: 26 jun. 2016. Impresso em 1813 na obra: ARNDT, Ernst Moritz. Katechismus für den teutschen Kriegs- und Wehrmann, worin gelehret wird, wie ein christlicher Wehrmann seyn und mit Gott in den Streit gehen soll. Leipzig: Fleischer, 1813, p. 112-113, tradução nossa.

Em Katechismus für den deutschen Land- und Wehrmann (1813), Arnt evoca a imagem de Arminius - “um violento príncipe guerreiro, um príncipe do povo”25 25 No original: “einen gewaltigen Kriegsfürsten, einen Fürsten des Volkes”, ibidem, p. 4, tradução nossa. - como o salvador tocado por Deus para conduzir a guerra contra Roma. No sexto capítulo, intitulado “Von dem großen Tyrannen” (“Sobre o grande tirano”), o inimigo é comparado à figura bíblica de Satanás: “{e} nasceu um monstro e surgiu um horror manchado de sangue. E seu nome é Napoleão Bonaparte”.26 26 No original: “Und es ist ein Ungeheuer gebohren und ein blutgefleckter Gräuel aufgestanden. Und heißt sein Name Napoleon Bonaparte”, ibidem, p. 24. Dados o público-alvo da obra (compatriotas e militares) e sua grande circulação (Dörner fala de mais de 60 mil exemplares),27 27 DÖRNER, Andreas. Die Inszenierung politischer Mythos. Ein Beitrag zur Funktion der symbolischen Formen in der Politik am Beispiel des Hermannsmythos in Deutschland, op. cit., p. 205. é possível perceber que a Arminius/Hermann não é mais o germano que luta contra Roma, mas é o alemão que confronta o grande inimigo, sendo este a França representada na figura de seu líder.

Outra representação que remete a Arminius e a Batalha de Teutoburgo no período que estamos analisando se encontra na obra Hermann Befreit Germania (1818), do pintor aus­tríaco Karl Ruß (1779-1843) (cf. Figura 1). O quadro possui uma série de elementos pertinentes a esta análise. A começar pela Germania, uma personificação feminina da nação alemã, sendo libertada por Arminius/Hermann, que, com as próprias mãos, rompe as correntes que mantinham a donzela (neste caso, a própria nação alemã) aprisionada. Nota-se ao fundo uma cidade ardendo em chamas e na parte inferior da imagem duas aquilae - referências nítidas à Roma e à vitória do herói germânico sobre Quinctilius Varus, respectivamente. No canto esquerdo inferior vemos um escudo, de formato semelhante a um brasão, com as palavras “Germania” e “Leipzig. 1813”. Este elemento é chave para nossa análise, pois faz o intermédio entre um acontecimento histórico de dois mil anos e o imaginário da época em que a obra fora criada. A pintura de Karl Ruß fora estreada em 1818, cinco anos após a Batalha das Nações (ou Batalha de Leipzig), que pôs fim ao domínio de Napoleão e ao imperialismo francês na Europa. A comparação entre dois momentos históricos distintos faz parte de uma complexa tradição retórica, que se apropria de um passado imaginado (mas que no imaginário consolida-se como real) projetando-o em seu contexto presente. É de merecido destaque a representação de Arminius nesta imagem; o guerreiro tem um semblante ríspido, utiliza peles de animais como vestimenta e seu aspecto geral não lembra, em quase nada, os heróis do mundo antigo. Isto se deve ao fato de que não havia (ainda) uma estética “oficial” para representar o herói germânico. Somente a partir da construção do Hermannsdenkmal em Detmold a figura de Arminius ganhara uma identidade visual própria (cf. Figura 2).

Figura 1
– RUß, Karl. Hermann Befreit Germania (1818). Disponível em: <http://prometheus. uni-koeln.de/pandora/image/large/giessen_lri-77e3354092b4c67011c114e9d58d842cf77239e1>. Acesso em: 3 maio 2016.

Figura 2
– Hermannsdenkmal em Detmold. Disponível em: <https://de.wikipedia.org/ wiki/Hermannsdenkmal#/media/File:Arminius1.jpg>. Acesso em: 3 maio 2016. Detalhe da espada disponível em: <https://volksbetrugpunktnet.fles.wordpress.com/2014/04/ hermanns-schwert.jpg>. Acesso em: 3 maio 2016.

Em 18 de outubro de 1838, dia de comemoração da Batalha de Leipzig, iniciara-se a construção do famoso e imponente Hermannsdenkmal (cf. Figura 2), um trabalho conduzido pelo arquiteto alemão Ernst von Bandel (1800-1876) e que levará não menos que 38 anos para ser completado. Thomas Nipperdey afirma que “a ideia (...) é resultado da agitação nacional das guerras de libertação”,28 28 No original: “die Idee (...) ist ein Resultat der nationalen Erregung der Freiheitskriege”, NIPPERDEY, Thomas. Nationalidee und Nationaldenkmal in Deutschland im 19. Jahrhundert. Historische Zeitschrift, v. 206, n. 3, p. 529-585, 1968, aqui: p. 567, tradução nossa. Outra autora que defende essa relação entre o início da construção do monumento e as guerras de libertação contra o jugo napoleônico é BARMEYER, Heide. Denkmal und Nationalbewegung. Das Bespiel des Hermannsdenkmals. In: BALTRUSCH, Ernst et al. (Org.). 2000 Jahre Varusschlacht: Geschichte, Archäologie, Legenden. Berlim; Boston: Walther de ­Gruyter, 2012, p. 287-314, aqui: p. 292. uma vez que o planejamento se inicia em 1819. Desta maneira, o autor categoriza esta construção como um “monumento nacional-democrático”.29 29 No original: “nationaldemokratische Denkmal”, NIPPERDEY, Thomas. Nationalidee und Nationaldenkmal in Deutschland im 19. Jahrhundert, op. cit., p. 559, tradução nossa. Não se trata, entretanto, da única escultura de seu tempo em território germânico a representar o herói querusco, pois em 18 de outubro de 1842 é inaugurado em Donaustauf o monumento Walhalla do arquiteto Leo von Klenze. Externamente, no tímpano do lado norte, encontramos a representação da Batalha de Teutoburg; ao centro, a figura de Arminius destaca-se pela imponência.30 30 Detalhe da imagem disponível em: <https://de.wikipedia.org/wiki/Walhalla#/media/File:Walhalla_Halle.jpg>. Acesso em: 16 out. 2016. Na parte interna do monumento, há uma placa comemorativa (visto que não há qualquer retrato pictórico) na qual é mencionada a data da morte: “Hermann, aquele que venceu os romanos, † XXI”.31 31 No original: “Hermann, der Römer Besieger, † XXI”. Para uma análise do monumento em detalhes ver STEGER, Simone. Die Bildnisbüsten der Walhalla bei Donaustauf: von der Konzeption durch Ludwig I. von Bayern zur Ausführung (1807-1842). Tese (Doutorado em Filosofia) — Institut für Kunstgeschichte, Ludwig-Maximilians-Universität München, Alemanha, 2011. Todavia, ressaltamos que o Hermannsdenkmal está ligado à dinastia dos Hohenzollern e o Walhalla aos Wittelsbach, projetos quase rivais de unidades nacionais, que, no entanto, se acabam se tocando ao escolher como ponto de partida para as suas construções nacionais a figura de Arminius/Hermann.

A demora no termíno do Hermannsdenkmal é notícia na imprensa da época. Die Gartenlaube de 1853, além de expressar preocupação ao afirmar que haja uma probabilidade de que o monumento “fique para sempre inacabado”,32 32 No original: “für immer unvollendet bleiben”, Die Gartenlaube. Leipzig: Ernst Keil, Heft 11, 1853, p. 120. Disponível em: <https://de.wikisource.org/wiki/Das_Herrmannsdenkmal>. Acesso em: 15 out. 2016. critica a falta de investimentos na questão nacional e atesta o descaso, pois já “o braço com o escudo”33 33 No original: “den Arm mit dem Schilde”, idem. já teriam sido roubados: “{o} representante e libertador do povo alemão, sem braço e escudo - é ao mesmo tempo engraçado e trágico”.34 34 No original: “Der Repräsentant und Befreier des deutschen Volkes, ohne Arm und Schild — ist das nicht lustig und traurig zugleich”, idem. Em 1860, no caderno 38 do mesmo jornal, é publicado o artigo assinado por R. Schm. e intitulado “Ein vergessenes deutsches Denkmal” (“Um monumento alemão esquecido”). Neste, novamente aparece uma denúncia ao descaso para com a construção do monumento, uma vez que a obra encontra-se inacabada desde 1846.35 35 SCHM., R. Ein vergessenes deutsches Denkmal. Die Gartenlaube. Leipzig: Ernst Keil, Heft 38, 1860, p. 604-605, aqui: p. 605. Disponível em: <https://de.wikisource.org/wiki/Ein_vergessenes_deutsches_Denkmal>. Acesso em: 16 out. 2016. Todavia, ainda que incompleta, já é denominada “a obra nacional (...) um testemunho da lealdade e gratidão alemã, mas também (...) um símbolo de fraternidade e união alemã”.36 36 No original: “das nationale Werk (...) ein Zeugniß deutscher Treue und Dankbarkeit, aber auch (...) ein Zeichen deutschen Brudersinnes und deutscher Eintracht”, idem.

O monumento, acabado e inaugurado em 1875, é de grande riqueza estética e simbólica. A indumentária do herói, assim como algumas de suas características físicas, é construída a partir de vários elementos iconográficos que remetem à Antiguidade Greco-Romana, como o elmo alado de Hermes (um acessório que não possui comprovação histórica, mas que se tornara muito comum em representações de heróis e deuses pagãos desde o século XVIII), a barba cacheada (também comum da iconografia clássica), a lorica musculata, a espada (semelhante a um gladius hipaniensis ou um gladius mainz de proporções alongadas), assim como a túnica e a capa típicas dos generais romanos. Embaixo do pé esquerdo da estátua se encontra uma águia e um fasces, ambos símbolos latinos, exaltando uma vitória absoluta sobre o Império Romano. Na espada do herói, erguida para o céu, estão entalhadas as palavras “Deutsche Einigkeit meine Stärke/Meine Stärke Deutschlands Macht” (“A união alemã, minha força/ Minha força, o poder da Alemanha”, cf. Figura 2), mostrando que o herói representa não apenas as raízes antigas da nação alemã, mas também sua coesão. A própria posição do monumento é sugestiva; o herói germânico está virado em direção à França, como se estivesse desafiando destemidamente a nação vizinha: “Hermann como fundador da nacionalidade alemã é agora símbolo e modelo, que é invocado para intensificar a consciência e o sentimento da nacionalidade”.37 37 No original: “Hermann als Begründer der deutschen Nationalität nun ist Symbol und Vorbild, das angerufen wird, um das gegenwärtige Bewußtsein und Gefühl der Nationalität zu intensivieren”, NIPPERDEY, Thomas. Nationalidee und Nationaldenkmal in Deutschland im 19. Jahrhundert, op. cit., p. 569, tradução nossa.

O planejamento da inauguração - com uma festa de pré-inauguração em 15 de outubro e um programa pomposo para o dia 16 de outubro - demonstra as intenções imperiais na legitimação da figura do imperador e do poderio prussiano através da identificação com a imagem de Arminius. Acerca de todo o protocolo da festa, Dörner afirma que “é evidente que se esforçam para dar à figura de Hermann a forma do mito de unificação e fundador de toda a nação e para evitar, no início, a frequentemente provocada discórdia como uma ameaça na política símbolica oficial”.38 38 “Man ist hier offensichtlich bemüht, die Hermannsfigur als Einheits- und Gründungsmythos der gesamten Nation zu gestalten und den oft beschworenen Zwist als Gefahr in der offiziellen Symbolpolitik zunächst zu vermeiden”, DÖRNER, Andreas. Der Mythos der nationalen Einheit: Symbolpolitik und Deutungskämpfe bei der Einweihung des Hermannsdenkmals im jahre 1875. Kulturgeschichte, n. 79, p. 389- 416, 1997, aqui: p. 405, tradução nossa com revisão de Veronika Geith. Quando aqui se fala de discórdia, podemos apontar os festejos inaugurais como um possível problema para a política imperial, uma vez que o tom da festa é dado pelos protestantes, excluindo assim os católicos. Contudo, a imprensa (católica) da época tende a compreender o potencial unificatório do monumento, mas ao mesmo tempo aponta para o conflito interno gerado pela política anticatólica, a Kulturkampf bismarckiana.39 39 Para um levantamento mais detalhado dos jornais da época e uma revisão bibliográfica ver KNAUER, Sebastian. Das Hermannsdenkmal vor dem Hintergrund des Kulturkampfes. Rosenland: Zeitschrift für lippische Geschichte, n. 5, p. 2-15, 2007.

A conexão entre passado e presente, entre Arminius e o novo Kaiser, fica nítida na edição comemorativa Das Hermannsdenkmal und der Teutoburger Wald de 1875 organizada por W. Klingenberg, a qual reproduz poemas e imagens relacionados o monumento.40 40 KLINGENBERG, W. (Org.). Das Hermannsdenkmal und der Teutoburger Wald. Detmold: Meyer, 1875. Destacamos aqui a reprodução da obra de C. Scheumer (fec.)41 41 Leia-se fecit, ou seja, é de sua autoria. e W. Vollmer (lit.)42 42 Leia-se lithographiert, ou seja, litografou. que sucede o poema Der Befreier Deutschlands de Julius Wolff. O monumento é reproduzido ao centro da imagem (cf. Figura 3) entre dois marcos temporais 1838 - início da construção - e 1875 - ano da inauguração. Na parte superior central, os dois lados da espada Hermann cruzam-se acima da coroa imperial, e abaixo, a imagem de Ernst von Bandel, o responsável pela idealização e construção do monumento.

Figura 3
– KLINGENBERG, W. (Org.). Das Hermannsdenkmal und der Teutoburger Wald. Detmold: Meyer, 1875, p. 8.

Do lado esquerdo, vemos a figura de “Arminius, liberator haud dubie Germaniae” (“Arminius, libertador incontestável da Germânia”), frase retirada do Annales II, 88 de Tacitus.43 43 Disponível em: <http://www.loebclassics.com/view/tacitus-annals/1931/pb_LCL249.519.xml?readMode =reader>. Acesso em: 15 out. 2016. Há a mesma inscrição em um dos nichos do Hermannsdenkmal. Acima, separados pela águia e a palavra Roma (o estandarte das legiões romanas), a representação de duas figuras em combate que podem ser lidas como Varus e o próprio Arminius. Abaixo, vemos a representação do mito fundador da loba amamentando os gêmeos Rômulo e Remo

Do lado direito, encontramos a figura do imperador prussiano Guilherme I. A legenda - “Armin, dem Retter ist er gleich” (“A Aminius, o salvador, ele se assemelha”) - ratifica o caráter identificatório entre o herói querusco e o imperador. Acima, encontramos o brasão imperial com a águia negra e duas figuras femininas representando o império: uma porta o cetro e a outra o orbe imperiais. Abaixo, as datas 1870/1871 marcam a fundação do Reich e a figura de um anjo segura uma folha, o que pode ser lido como uma referência à constituição do império alemão. Logo abaixo, lê-se “Das ganze Deutschland soll es sein” (“Deve ser a Alemanha inteira”), frase que talvez tenha uma ligação com o poema Des Deutschen Vaterland (1813) de Arndt,44 44 ARNDT, Ernst Moritz. Des Deutschen Vaterland. Disponível em: <http://gutenberg.spiegel.de/buch/gedichte-2227/58>. Acesso em: 15 out. 2016. no qual a defesa de um grande Estado-Nação alemão (“­großdeutscher Nationalstaat”) é evocada no último verso das seis primeiras estrofes: “Sein Vaterland muß größer seyn” (“Sua pátria deve ser grande”).45 45 Ressaltamos aqui a “Sybel-Ficker-Streit” (“Controvérsia Sybel-Ficker”): “Sybel acreditava que os envolvimentos italianos dos Hohenstaufen, iniciados em larga escala pelo Barbarossa, haviam desviado recursos e energia de um esforço de unificação da Alemanha no medievo, causando a situação de fragmentação política que caracterizou as terras germânicas até 1871. Nisso foi contraditado por Ficker, que acreditava no valor de um império multirracial que deveria integrar a Mitteleuropa. Suas concepções divergentes de Alemanha (Kleindeutsch e Großdeutsch) estavam mais preocupadas com a grande política imperial e apenas ‘implícita e indiretamente com o medievo’”, SILVA, Daniele Gallindo Gonçalves; ARAUJO, Vinicius Cesar Dreger de. Frederico I Barbarossa ou do Imperador que retornará: a recepção do medievo em terras germâncias no longo século XIX. Signum, v. 15, p. 109-135, 2014, aqui: p. 133. Disponível em: <http://www.abrem.org.br/revistasignum/index.php/revistasignumn11/article/viewFile/133/120>. Acesso em: 16 out. 2016. Consenso entre os dois seria “a unificação nacional da Alemanha” (“die nationale Einigung Deutschlands”, RIENOW, Andreas. Der Streit zwischen Heinrich von Sybel und Julius Ficker. In: FOERSTER, Sascha et al. (Org.). Blumen für Clio: Einführung in Methoden und Theorien der Geschichtswissenschaft aus studentischer Perspektive. Marburg: Tectum, 2011, p. 237-269, aqui: p. 266). Contudo, a frase pode ser compreendida também limitando-se ao arranjo cênico da imagem, pois ao texto se une a representação de vários escudos amarrados, tendo ao seu lado elmos e espadas. Percebemos, assim, que a grandeza da pátria está relacionada com a união de forças em prol da formação de uma nação.

Ambos os heróis nacionais voltam seus olhares ao monumento; Arminius, na direção de Guilherme I, e o imperador mira o herói germânico: o passado lança seu olhar para o futuro e o futuro contempla o passado. O Hermannsdenkmal no arranjo cênico aqui apresentado paraleliza os impérios e sugere continuidade. É um monumento de amor e ódio. Amor ao legado imperial e ódio à latinidade.46 46 Agradecemos aqui a contribuição do Prof. Dr. Vinicius Cesar Dreger de Araújo (Unimontes).

Em 1844, no capítulo XI de seu Deutschland: ein Wintermächen, Heinrich Heine ironiza toda a instrumentalização do mito de Arminius ao supor que a Batalha de Teutoburgo não fora ganha pelos germanos e, ainda, a inexistência de Hermann.47 47 HEINE, Heinrich. Alemanha: um conto de inverno. Edição bilíngue. Tradução de Romero Freitas e Georg Wink. Belo Horizonte: Crisálida, 2011, p. 92-97. Neste caso, os alemães teriam sua identidade reconfigurada na medida em que falariam latim e teriam costumes romanos.48 48 MÜNKLER, Herfried. Die Deutschen und ihre Mythen. Berlim: Rowohlt, 2011, p. 172.

Eis afinal Teutoburgo,

como a descrevia Tácito,

Varo parou foi aí,

Foi nesse atoleiro clássico.

Aí venceu o Querusco,

Armínio, o cavaleiro;

A velha pátria alemã

Triunfou nesse atoleiro.

Se Armínio não triunfasse

Com os seus loiros germanos,

Não haveria Alemanha,

Nós seríamos romanos.49 49 No original: “Das ist der Teutoburger Wald,/ Den Tacitus beschrieben,/ Das ist der klassische Morast,/ Wo Varus stecken geblieben./ Hier schlug ihn der Cheruskerfürst,/ Der Hermann, der edle Recke;/ Die deutsche Nationalität,/ Die siegte in diesem Drecke./ Wenn Hermann nicht die Schlacht gewann,/ Mit seinen blonden Horden,/ So gäb es deutsche Freiheit nicht mehr,/ Wir wären römisch geworden!”, HEINE, Heinrich. Alemanha: um conto de inverno, op. cit., p. 92-93.

Desta forma, Heine coloca em xeque toda a construção do nacionalismo durante o século XIX através das ressignificações de mitos, ou ainda, da construção de mitos políticos; seria como afirmar que a nacionalidade/identidade alemã é tão frágil que se não fosse essa conquista, ela não existiria: os alemães sucumbiriam aos romanos. O cúmulo do deboche de Heine a toda situação está nos versos seguintes, nos quais, além de expressar seu contentamento por ser alemão, menciona a construção do monumento em homenagem ao herói da pátria.

Que bom que Armínio venceu

E expulsou os romanos,

Varos foi logo batido

E ainda somos germanos!

(...)

Nós somos gratos, Armínio!

Pois em Detmold, logo ali,

Faremos teu monumento,

Eu mesmo subscrevi.50 50 No original: “Gottlob! Der Hermann gewann die Schlacht,/ Die Römer wurden vertrieben,/ Varus mit seinen Legionen erlag,/ Und wir sind Deutsche geblieben!/ (...) / O Hermann, dir verdanken wir das!/ Drum wird dir, wie sich gebühret,/ Zu Detmold ein Monument gesetzt;/ Hab selber subskribieret”, ibidem, p. 94-97.

Já mencionamos aqui como as disputas do mundo antigo eram constantemente reinterpretadas e presentificadas, de forma que os romanos (geralmente) simbolizavam os franceses enquanto os germanos e/ou o próprio Arminius personificavam a nação alemã em seus primórdios. Contudo, no momento específico em que o Hermannsdenkmal fora inaugurado (1875), uma outra força se colocava em oposição aos interesses de Bismarck e do jovem império. Esta força era a Igreja Católica - instituição que, apesar de não mais gozar do poder hegemônico que possuía séculos atrás, ainda tinha grande influência cultural, especialmente nas regiões germânicas do sul e no Império Austro-Húngaro. Neste contexto, o próprio monumento ao chefe querusco pode ser lido dentro da Kulturkampf que se instaurara: se Hermann lutara contra Roma, assim o faz Bismarck; a Alemanha não só havia vencido o Império Romano e os franceses, como também venceria a Igreja e o próprio papa.

Esta “campanha” contra a Igreja pode, inclusive, ser notada em outras imagens da época: em uma charge intitulada “Zwischen Berlin und Rom” (Entre Berlim e Roma) (cf. Figura 4), retirada da revista satírica Kladderadatsch de 16 de maio de 1875, vemos Bismarck e o Papa Pius IX em uma disputa de xadrez, retratando as tensões da época em um tom humorístico. Abaixo da imagem, lê-se: “A última jogada foi-me, contudo, desagradável, mas a partida ainda não está, por isso, perdida. Eu ainda tenho uma bela jogada debaixo da manga!/ Essa será também a última, então, estarás, em poucas jogadas, derrotado - pelo menos para a Alemanha”.51 51 No original: “Der letzte Zug war mir allerdings unangenehm; aber die Partie ist deshalb noch nicht verloren. Ich habe noch einen sehr schönen Zug in petto! / Das wird auch der letzte sein, und dann sind Sie in wenigen Zügen matt — wenigstens für Deutschland”, tradução nossa.

Figura 4
– Zwischen Berlin und Rom (1875). Disponível em: <http://digi.ub.uniheidelberg.de/diglit/kla1875/0278> . Acesso em: 30 abr. 2016.

Na edição de 15 de agosto de 1875 (lançada um dia antes da inauguração do ­Hermannsdenkmal) desta mesma revista, destaca-se uma xilogravura de título “Zur ­Enthüllungsfeier des Hermannsdenkmals am 16. August 1875” (cf. Figura 5), para a inauguração do Hermannsdenkmal no mesmo dia e ano. A imagem, assim como a anteriormente mencionada, tem um tom fortemente irônico e seu teor político/ideológico é marcante. Nela estão presentes Arminius, referência ao monumento na floresta de Teutoburg, e Martinho Lutero, alusão ao monumento na cidade de Worms, de Ernst Rietschel, inaugurado em 25 de junho de 1868. Abaixo das figuras estão as frases “Ich habe gesiegt” (Eu triunfei/venci), ideia reforçada no escudo pelo termo latino “vici”, e “Ich werde siegen” (Eu vencerei), “vincam” impresso na capa da bíblia. No centro da imagem está a basílica de São Pedro coberta por nuvens carregadas (prenunciando uma tempestade), e logo abaixo a frase “Gegen Rom” (Contra Roma). A mensagem é clara em seu devido contexto; o Luteranismo e a hegemonia prussiana irão (assim como Arminius, dois mil anos atrás) triunfar no território germânico, obliterando, assim, a influência de Roma na região.

Figura 5
– Zur Enthüllungsfeier des Hermannsdenkmals am 16. August 1875 (1875). Disponível em: <http://digi.ub.uni-heidelberg.de/diglit/kla1875/0478>. Acesso em: 30 abr. 2016.

Neste contexto, destacamos também o caderno 38 do jornal Die Gartenlaube,52 52 Disponível em: <https://de.wikisource.org/wiki/Die_Gartenlaube#1875>. Acesso em: 14 out. 2016. publicado em 1875 dada a inauguração do Hermannsdenkmal. O artigo assinado por Rudolf Scipio, com a reprodução de uma xilogravura de Knut Ekwall,53 53 A imagem está reproduzida nas páginas 640 e 641 do jornal. Disponível em: <https://de.wikisource.org/wiki/Der_Ehrentag_des_Teutoburger_Waldes#/media/File:Die_Gartenlaube_(1875)_b_640.jpg>. Acesso em: 14 out. 2016. reverbera o mesmo antagonismo representado na Figura 5, anteriormente analisada, ao afirmar que:

A alegria da festa retumba, e no local, o qual viu neste dia, em milhares de homens alemães de todas as províncias da pátria, a imagem de uma Alemanha unida sob um governante, a floresta sussurra novamente sua velha melodia; contudo, do topo do mirante, desafiando o poder dos elementos e das tempestades dos séculos, a arquimagem do grande príncipe querusco olhará para baixo sobre linhagens distantes como uma advertência, para erguer o pendão da liberdade e independência nacional, independente se as armas, com as quais a batalha em torno de qualquer bem é travada, igualam-se à espada de Arminius, ou se são as armas do espírito livre, com as quais nós até hoje, após dois mil anos, novamente lutamos sob o grito: “Contra Roma!”54 54 No original: “Der Jubel des Festes ist verrauscht, und an der Stätte, welche an jenem Tage in den Tausenden von deutschen Männern aus allen Gauen des Vaterlandes das Abbild des unter einem Herrscher geeinigten Deutschlands sah, rauscht der Wald wieder seine alte Melodie; von hoher Bergeswarte aber wird, der Macht der Elemente und den Stürmen von Jahrhunderten trotzend, das Erzbild des großen Cheruskerfürsten noch über ferne Geschlechter hinabschauen, als eine Mahnung, hochzuhalten das Panier der nationalen Freiheit und Selbstständigkeit, gleichviel ob die Waffen mit welchen der Kampf um jene Güter gekämpft wird, dem Schwerte Armin’s gleichen, oder ob es die Waffen des freien Geistes sind, mit welchen wir heute nach zweitausend Jahren abermals kämpfen unter dem Schlachtrufe: “Wider Rom!”, SCIPIO, Rudolf. Der Ehrentag des Teutoburger Waldes. Die Gartenlaube. Leipzig: Ernst Keil, Heft 38, 1875, p. 638-642, aqui: p. 642. Disponível em: <https://de.wikisource.org/wiki/Der_Ehrentag_des_Teutoburger_Waldes>. Acesso em: 14 out. 2016, tradução nossa com revisão de Veronika Geith.

Arminius, em forma de estátua, representa, portanto, a garantia da manutenção da memória que une passado e presente através do ideal de “liberdade e independência nacional” bem como incorpora o ideal de unidade nacional. “Contra Roma!”, Roma seria, pois, qualquer inimigo que ameace essa unidade, principalmente se retomamos a Kulturkampf: “a França (católica), mas sobretudo (...) a Santa Sé e o Ultramontanismo dentro do próprio território”.55 55 No original: “das (katholische) Frankreich, sondern vor allem (...) den Heiligen Stuhl und den Ultramontanismus”, DÖRNER, Andreas. Der Mythos der nationalen Einheit: Symbolpolitik und Deutungskämpfe bei der Einweihung des Hermannsdenkmals im jahre 1875, op. cit., p. 398.

É válido salientarmos que nesta época as charges e caricaturas de políticos, aristocratas, clérigos e demais figuras proeminentes da sociedade se tornaram muito comuns dentro dos veículos midiáticos (jornais, revistas e panfletos de notícias), de forma que uma nova cultura visual, atrelada a uma linguagem cômica/irônica, passara a ser parte integrante da vida cotidiana das classes médias e baixas da Alemanha - em um momento em que o crescimento econômico e a industrialização do país cresciam em velocidade exponencial. Nesta “nova” Alemanha, moderna e urbanizada, a imprensa passara a ter valor ainda mais significativo; os jornais tinham um papel fundamental nas questões de Estado, não só divulgando como, também, formando pontos de vista, influenciando fortemente a dita opinião pública.

Tratando-se de charges e caricaturas, é notável como a figura de Bismarck - seja por sua personalidade, carisma, ou por sua política implacável - inspirara tantas manifestações jocosas, tanto por parte de seus aliados quanto de seus opositores. É seguro dizer que o número de caricaturas/charges envolvendo o Chanceler de Ferro e seus desafetos políticos chega, certamente, a centenas. Ao que concerne a este estudo, destaca-se uma imagem cômica do jornal humorístico Berliner Wespen, do dia 30 de abril de 1875. O jornal é normalmente associado ao Deutschen Fortschrittspartei (Partido Progressista Alemão) e posteriormente ao Deutschen Freisinnigen Partei (Partido Liberal Alemão), o que explica, em parte, suas críticas ácidas à Igreja. A imagem em questão possui o título Die neue Hermannsschlacht (A nova batalha de Hermann) (cf. Figura 6). Nela vemos Bismarck utilizando a indumentária mitificada de Arminius - inclusive na mesma posição, com a espada erguida para o alto, exaltando (de forma irônica, evidentemente) a fundação de uma nova Alemanha, o que pode ser visto pela águia negra coroada, estampada em seu escudo. Ao lado de Bismarck, um guerreiro germânico com trajes semelhantes, mas utilizando um elmo córneo, apoia sua vitória - provavelmente, o guerreiro simboliza algum aliado político ou um general a serviço do chanceler. Ao fundo, vemos uma edificação com a palavra “Kloster” (mosteiro), expelindo grandes nuvens de fumaça. No céu, corvos sobrevoam a cena de destruição, enquanto aos pés de Bismarck - da esquerda para a direita - estão um estandarte romano destruído, uma mitra papal, um par de pernas (provavelmente do papa Pio IX) e um cetro, aparentemente de cunho religioso, também caído ao chão. A mensagem tem o mesmo teor ideológico das anteriores: ridicularizar violentamente a Igreja Católica, (re)afirmando a posição e o poder da Prússia sobre o recém-formado império alemão. Bismarck, trajado comicamente como Arminius, passa a ser o fundador da Alemanha moderna, e, assim como Arminius, humilha Roma (neste caso a Igreja/o papa) impiedosamente.

Figura 6
– Die neue Hermannsschlacht (1875). Disponível em: <http://www.payer.de/religionskritik/karikaturen35.htm>. Acesso em: 30 abr. 2016.

Se na imagem anterior é Bismarck quem incorpora Arminius, a placa comemorativa com o busto em bronze do imperador Guilherme I, inserida no Hermannsdenkmal, aponta para a união entre a figura do imperador Guilherme I e do querusco: “o príncipe querusco como aquele que iniciou a unificação alemã, e Guilherme, que a completou”.56 56 No original: “den Cheruskerfürsten als den, der mit der deutschen Einigung begonnen, und Wilhelm, der sie vollendet hatte”, MÜNKLER, Herfried. Die Deutschen und ihre Mythen, op. cit., p. 175, tradução nossa. Nela, lê-se:

Aquele que uniu, com mão forte, tribos há muito separadas,

Aquele que superou o poder e a perfídia francesa/romana,57 57 Optamos aqui por não desfazer a ambiguidade contida no adjetivo “welsch”, ver <http://woerterbuchnetz.de/DWB/?sigle=DWB&mode=Vernetzung&lemid=GW05150#XGW05150>. Acesso em: 20 out. 2016.

Aquele que trouxe de volta filhos, há muito perdidos, ao império alemão,

A Armínio, o salvador ele se assemelha.58 58 No original: “Der lang getrennte Stämme vereint mit starker Hand,/ Der welsche Macht und Tücke siegreich überwandt,/ Der längst verlorne Söhne heimführt zum Deutschen Reich,/ Armin, dem Retter ist er gleich”, apud MÜNKLER, Herfried. Die Deutschen und ihre Mythen, op. cit., p. 175, tradução nossa.

A fusão entre as figuras de Bismarck e Guilherme I com Hermann/Arminius atribui um caráter político ao mito de identificação por aproximação. Tanto a ressignificação política quanto o aglomerado de figuras na de Hermann encontram ecos em escritos posteriores, os quais retomam obras anteriores (p. ex., a Hermannsschlacht de Kleist) e as fundem com personagens históricos posteriores (p. ex., Bismarck). É o caso do crítico de teatro Arthur Eloesser, que, em 1905, associa a figura kleistiana de Hermann com a de Bismarck, como pode se ver no trecho a seguir:

Hermann conduz seus planos sozinho como Bismarck, o qual também não se importava em ser mal interpretado e até mesmo desprezado. Ele burla Varus assim como Bismarck Napoleão III; ele redige o Despacho de Ems e usa no final, de acordo com todos os meios da astúcia, a declaração aberta de suas intenções e sua personalidade bem como Bismarck.59 59 No original: “Hermann trägt seine Pläne allein in sich wie Bismarck, dem es auch nicht darauf ankam, mißverstanden und selbst verachtet zu werden. Er betölpelt den Varus wie Bismarck Napoleon III., er redigiert die Emser Depesche und nach allen Mitteln der List braucht er als letzles die offene auslieferung seiner Absichten und seiner Persönlichkeit wie Bismarck”, ELOESSER apud KREUTZER, Hans Joachim (Org.). Kleist-Jahrbuch 1986. Berlim: Erich Schmidt, 1986, p. 110, tradução nossa com revisão de Veronika Geith. Lembremos aqui que, graças ao Despacho de Ems, a França declara guerra à Prússia em 19 de julho de 1870.

Outra associação recorrente durante o século XIX ocorre entre as figuras de Hermann e Siegfried, herói da Nibelungenlied (Canção do Nibelungos), o que parece legitimar a construção de uma identidade alemã tanto com base histórica quanto com fundamentação literária.60 60 MÜNKLER, Herfried. Die Deutschen und ihre Mythen, op. cit., p. 176. Essa simbiose entre as duas personagens alcança seu ápice no imaginário popular, quando Karl Ludwig Sand, um estudante nacionalista inflamado, assassina August von Kotzebue,61 61 Lembremos aqui que Kotzebue também produziu uma releitura de Hermann: a peça Hermann und Thusnelde: eine heroische Oper (1813) (cf. KOTZEBUE, August von. Hermann und Thusnelde. Eine heroische Oper in drei Aufzüge. In: KOTZEBUE, August von. Theater. v. 39. Wien: Ignaz Klange; Leipzig: Eduard Kummer, 1841, 95-150). escritor acusado por Sand de ser “um traidor da pátria” por fazer troça dos movimentos nacionalistas. Leiam as palavras atribuídas a Sand no momento anterior à sua execução:

Se a nossa arte alemã quer fornecer um conceito elevado de liberdade figurativamente, assim, deve representar nosso Hermann, o salvador da pátria, forte e alto, como o chama a Canção dos Nibelungos sob o nome de Siegfried, que não é outro senão o nosso Hermann.62 62 No original: “Will uns die deutsche Kunst einen erhabenen Begriff von Freiheit bildlich geben, so soll sie unsern Hermann, den Erretter des Vaterlandes, darstellen, stark und groß, wie ihn das Nibelungenlied unter den Namen Siegfried nennt, der kein anderer als unser Hermann ist”, SAND apud MÜNKLER, Herfried. Die Deutschen und ihre Mythen, op. cit., p. 177, tradução nossa.

Considerações finais

As análises anteriormente conduzidas apontam para uma estrutura de construção do mito político baseada na presença de alguns elementos básicos, como o embate entre duas instâncias (Roma vs. Germânia, no caso do século XIX, França vs. Território Germânico) e o confronto entre duas figuras de poder (Arminius vs. Varus, no caso analisado temos no lugar do herói querusco personagens históricas do quadro político - Bismarck ou Guilherme I, não aparecendo, necessariamente, a figura de Varus, sendo esta substituída pela ideia mais geral de opositor/inimigo). Através da observação dessas construções míticas mostramos a consolidação do mito nacional criado a partir de Arminius e de sua vitória sobre Roma, durante o processo da unificação alemã. Assim, podemos compreender o papel que a Antiguidade desempenhara dentro das contendas políticas e ideológicas que permearam o século XIX.

A criação de mitos políticos envolvendo acontecimentos, povos ou “heróis” da Antiguidade e/ou da Idade Média é, há muito, um dos maiores problemas enfrentados pelos pesquisadores; percebe-se que mesmo com a internet, que permite acesso rápido a materiais de grande qualidade acadêmica em (literalmente) poucos “cliques”, a proliferação de discursos que se apropriam do passado, fazendo deste um poderoso dispositivo retórico, é, ainda, muito comum. Se tratando de Arminius, desde 2013 um partido de orientação conservadora, intitulado Arminius-Bund, vem fazendo uso da imagem do príncipe querusco em suas campanhas, cartazes e manifestações públicas. Frente a este fato, um pesquisador comprometido com a erradicação de demagogias sobre a Antiguidade não teria outro sentimento senão de apreensão quanto ao recrudescimento de grupos extremistas na Europa e as “novas” (ou seriam antigas?) instrumentalizações do passado que podem vir a (re)surgir. Com este problema em vista, nada mais lógico do que reforçar a importância de uma inserção maior dos pesquisadores nas discussões políticas contemporâneas; acostumamos-nos a pensar a História Antiga como uma área “neutra”, imaculada e distante dos anseios e disputas da modernidade - uma concepção que deve, urgentemente, ser desconstruída. Cabe à História Antiga “desdizer seus próprios ditos, desfazer seus mitos e melhor perceber, para além da capacidade e erudição as interfaces entre passado e presente”.63 63 SILVA, Glaydson José. História Antiga e usos do passado: um estudo de apropriações da Antiguidade sob o Regime de Vichy (1940-1944), op. cit., p. 29.

Fontes Primárias

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  • WINKLER, Martin M. Arminius the Liberator: Myth and Ideology. Oxford: Oxford University Press, 2016.
  • 1
    No original: “Deutsches Staatsbewußtsein sucht sich in der Geschichte zu verankern, in einer Perspektive auf die realen Anfänge, aber als Ankergrund bietet sich immer wieder nur naturhafte Ursprünglichkeit. Und wenn es sich, stolz auf sein ewiges Barbarentum, gegen den älteren, glücklicheren, nüchternen Westen verteidigt, scheint es, als bildeten alle großen Aufbrüche deutscher Geschichte: der Krieg gegen Napoleon, Luthers Reformation, Widukinds Widerstand gegen Karl, einen Kampf der Riesen gegen Rom, den Armin, der Cherusker, begann”, PLESSNER, Helmuth. Die verspätete Nation: Über die politische Verfürbarkeit bürgerlichen Geistes. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1982, p. 71-72, tradução nossa.
  • 2
    A adaptação do nome para a língua alemã é geralmente atribuída a Martinho Lutero e sua pregação no salmo no 82, em que afirma ser Hermann o nome original do herói, tendo os romanos “corrompido” seu nome para Arminius: “Herman, a quem os latinos corromperam e chamam de Ariminum, chama-se, no entanto, um homem de armas (Her man), dux belli (líder de guerra), que é capaz, na tropa e na batalha, de salvar os seus e caminhar diante deles, colocando-se em risco ao fazê-lo” (No original: “Hermann, den die Latini übel verkehren, und Ariminium nennen, heisset aber ein Heerman, dux belli, der zum Heer und Streit tüchtig ist, die Seinen zu retten und forn an zu gehen, sein Leib und Leben darüber wagen”, LUTHER, Martin. Sämtliche Schriften. v. 5. Organizado por Johann Georg Walch. Halle: Johann Justinus Gebauer, 1741, p. 1052, tradução nossa). Para mais informações acerca da recepção durante o século XVI ver BENARIO, Herbert. Arminius into Hermann: History into Legend. Greece & Rome, v. 51, p. 83-94, 2004, aqui: p. 85.
  • 3
    Acerca do tema ver BALTRUSCH, Ernst et alii (Ed.). 2000 Jahre Varusschlacht: Geschichte, Archäologie, Legenden. Berlim; Boston: Walther de Gruyter, 2012.
  • 4
    GEARY, Patrick. O mito das nações: a invenção do Nacionalismo. Tradução de Fábio Pinto. São Paulo: Conrad, 2005, p. 27
  • 5
    WHITE, Hayden. The Practical Past. Historein, v. 10, p. 10-19, 2010.
  • 6
    Cf. MATYSZAK, Philip. Os inimigos de Roma: de Aníbal a Átila, o Huno. Tradução de Sonia Augusto. Barueri: Manole, 2013; WELLS, Peter S. The Battle that Stopped Rome: Emperor Augustus, Arminius and the Slaughter of the Legions in the Teutoburg Forest. Londres: W. W. Norton, 2004; POWELL, Lindsay. Roman Soldier — VS — Germanic Warrior — 1 st Century AD. Oxford: Osprey Publishing, 2014; WINKLER, Martin M. Arminius the Liberator: Myth and Ideology. Oxford: Oxford University Press, 2016.
  • 7
    No original: “Mit dem Begriff ’politischer Mythos’ ist hier eine spezifische semiotische Gattung gemeint, die auf die Bearbeitung bestimmter Probleme von politischer Kommunikation spezialisiert ist. Politische Mythen sind narrative Symbolgebilde mit einem kollektiven, auf das grundlegende Ordnungsproblem sozialer Verbände bezogenen Wirkungspotential. Es handelt sich um komplexe politische Symbole, deren Elemente jeweils narrativ entfaltet sind”, DÖRNER, Andreas. Politischer Mythos und symbolische Formen am Beispiel des Hermannsmythos. Opladen: Westdeutscher Verlag, 1995, p. 76-77, tradução nossa.
  • 8
    SILVA, Glaydson José. História Antiga e usos do passado: um estudo de apropriações da Antiguidade sob o Regime de Vichy (1940-1944). São Paulo: Annablume, 2007, p. 29.
  • 9
    No original: “Alle Kultur ist national und ist national zu verstehen; und: Eine Nation ist definiert durch die Gemeinsamkeit ihrer Kultur”, NIPPERDEY, Thomas. Auf der Suche nach der Identität: Romantischer Nationalismus. In: NIPPERDEY, Thomas. Nachdenken über die deutsche Geschichte: Essays. München: DTV, 1986, p. 110-125, aqui: p. 115, tradução nossa.
  • 10
    GEARY, Patrick. O mito das nações: a invenção do Nacionalismo, op. cit., p. 35.
  • 11
    Acerca da relação do indivíduo com o grupo (coletividade) no que tange o nacionalismo e a nação ver NIPPERDEY, Thomas. Deutsche Geschichte 1800-1866. Bürgerwelt und starker Staat. 4. ed. Munique: Verlag C. H. Beck, 1987, p. 300.
  • 12
    KITCHEN, Martin. História da Alemanha Moderna: de 1800 aos dias atuais. Tradução de Claudia Gerpe Duarte. São Paulo: Cultrix, 2013, p. 19.
  • 13
    Ibidem, p. 33.
  • 14
    Para mais informações acerca do romantismo alemão, principalmente do romantismo nacional, ver SAFRANSKI, Rüdiger. Romantik: eine deutsche Affäre. Frankfurt am Main: Fischer, 2009, p. 172-209.
  • 15
    No original: “Das Manuskript zirkuliert wie eine Art Samisdat-Literatur in patriotisch gesinnten Kreisen”, DÖRNER, Andreas. Die Inszenierung politischer Mythos. Ein Beitrag zur Funktion der symbolischen Formen in der Politik am Beispiel des Hermannsmythos in Deutschland. Politische Vierteljahrschrift, v. 34, n. 2, p. 199-218, 1993, aqui: p. 208, tradução nossa.
  • 16
    Em 1905, o crítico de teatro Arthur Eloesser associa a figura kleistiana de Hermann com a de Bismarck, como pode se ver no trecho a seguir: “Hermann conduz seus planos sozinho como Bismarck, o qual também não se importava em ser mal interpretado e até mesmo desprezado. Ele burla Varus assim como Bismarck Napoleão III; ele redige o Despacho de Ems e usa no final, de acordo com todos os meios da astúcia, a declaração aberta de suas intenções e sua personalidade bem como Bismarck” (No original: “Hermann trägt seine Pläne allein in sich wie Bismarck, dem es auch nicht darauf ankam, mißverstanden und selbst verachtet zu werden. Er betölpelt den Varus wie Bismarck Napoleon III., er redigiert die Emser Depesche und nach allen Mitteln der List braucht er als letzles die offene auslieferung seiner Absichten und seiner Persönlichkeit wie Bismarck”, ELOESSER apud KREUTZER, Hans Joachim (Org.). Kleist-Jahrbuch 1986. Berlim: Erich Schmidt, 1986, p. 110, tradução nossa com revisão de Veronika Geith). Lembremos aqui que, graças ao Despacho de Ems, a França declara guerra à Prússia em 19 de julho de 1870.
  • 17
    HELBLING, Robert E. The Major Works of Heinrich von Kleist. Nova York: New Directions Book, 1975, p. 183.
  • 18
    No original: “an incentiv for the Prussian king (...) to take on the leadership of an anti-Napoleonic German coalition”, LEERSEN, Joep. National thought in Europe: a cultural History. Amsterdã: Amsterdam University Press, 2006, p. 43, tradução nossa.
  • 19
    No original: “zur Mobilisierung des eigenen Volkes. Der Haß als Mobilisierungsmedium im Volkskrieg muß bei den kriegsmüden Cheruskern — ebenso wir bei den kriegsmüden Preußen”, DÖRNER, Andreas. Die Inszenierung politischer Mythos. Ein Beitrag zur Funktion der symbolischen Formen in der Politik am Beispiel des Hermannsmythos in Deutschland, op. cit., p. 207.
  • 20
    KITCHEN, Martin. História da Alemanha Moderna, op. cit., p. 44.
  • 21
    No original: “In diesem Glauben setzten unsere ältesten gemeinsamen Vorfahren, das Stammvolk der neuen Bildung, die von den Römern Germanier genannten Deutschen, sich der herandrängenden Weltherrschaft der Römer muthig entgegen (...) Waren die Römer nicht bereitwillig genug, sie an allen diesen Segnungen Theil nehmen zu lassen? Erlebten sie nicht an mehreren ihrer eigenen Fürsten, die sich nur bedeuten ließen, daß der Krieg gegen solche Wohlthäter der Menschheit Rebellion sei, Beweise der gepriesenen römischen Clemenz, indem sie die Nachgibigen mit Königstiteln, mit Anführerstellen in ihren Heeren, mit römischen Opferbinden auszierten, ihnen, wenn sie etwa von ihren Landsleuten ausgetrieben wurden, einen Zufluchtsort und Unterhalt in ihren Pflanzstädten gaben? Hatten sie keinen Sinn für die Vorzüge römischer Bildung, z. B. für die bessere Einrichtung ihrer Heere, in denen sogar ein Arminius das Kriegshandwerk zu erlernen nicht verschmähte? Keine von allen diesen Unwissenheiten oder Nichtbeachtungen ist ihnen aufzurücken. Ihre Nachkommen haben sogar, sobald sie es ohne Verlust für ihre Freiheit konnten, die Bildung derselben sich angeeignet, in wie weit es ohne Verlust ihrer Eigenthümlichkeit möglich war. (...) Sie sind nicht alle gestorben, sie haben die Sklaverei nicht gesehen, sie haben die Freiheit hinterlassen ihren Kindern. Ihrem beharrlichen Widerstande verdankt es die ganze neue Welt, daß sie da ist, so wie sie da ist”, FICHTE, Johann Gottlieb. Reden an die Deutsche Nation. Berlim: Realschulbuchhandlung, 1808, p. 266-268, tradução nossa.
  • 22
    GEARY, Patrick. O mito das nações: a invenção do Nacionalismo, op. cit., p. 39.
  • 23
    Esse poema foi musicalizado posteriormente por Albert Methfessel (1818) e, a posteriori, apropriado durante o período da Primeira Guerra Mundial. Mais informações cf. PROBST-EFFAH, Gisela. Zur Geschichte des Liedes “Der Gott, der Eisen wachsen ließ”. Ad marginem. Randbemerkungen zur europäischen Musikethnologie. Mitteilungen des Instituts für Europäische Musikethnologie an der Universität Köln, 45/1980. Disponível em: <http://www.eucim-te.eu/data/musikeume/File/Leitartikel/adm45.pdf>. Acesso em: 3 maio 2016.
  • 24
    No original: “Dem Buben und dem Knecht die Acht!/ Der speise Kräh’n und Raben!/ So ziehn wir aus zur Hermannsschlacht,/ und wollen Rache haben”, ARNDT, Ernst Moritz. Vaterlandslied. Disponível em: <http://gutenberg.spiegel.de/buch/gedichte-2227/96>. Acesso em: 26 jun. 2016. Impresso em 1813 na obra: ARNDT, Ernst Moritz. Katechismus für den teutschen Kriegs- und Wehrmann, worin gelehret wird, wie ein christlicher Wehrmann seyn und mit Gott in den Streit gehen soll. Leipzig: Fleischer, 1813, p. 112-113, tradução nossa.
  • 25
    No original: “einen gewaltigen Kriegsfürsten, einen Fürsten des Volkes”, ibidem, p. 4, tradução nossa.
  • 26
    No original: “Und es ist ein Ungeheuer gebohren und ein blutgefleckter Gräuel aufgestanden. Und heißt sein Name Napoleon Bonaparte”, ibidem, p. 24.
  • 27
    DÖRNER, Andreas. Die Inszenierung politischer Mythos. Ein Beitrag zur Funktion der symbolischen Formen in der Politik am Beispiel des Hermannsmythos in Deutschland, op. cit., p. 205.
  • 28
    No original: “die Idee (...) ist ein Resultat der nationalen Erregung der Freiheitskriege”, NIPPERDEY, Thomas. Nationalidee und Nationaldenkmal in Deutschland im 19. Jahrhundert. Historische Zeitschrift, v. 206, n. 3, p. 529-585, 1968, aqui: p. 567, tradução nossa. Outra autora que defende essa relação entre o início da construção do monumento e as guerras de libertação contra o jugo napoleônico é BARMEYER, Heide. Denkmal und Nationalbewegung. Das Bespiel des Hermannsdenkmals. In: BALTRUSCH, Ernst et al. (Org.). 2000 Jahre Varusschlacht: Geschichte, Archäologie, Legenden. Berlim; Boston: Walther de ­Gruyter, 2012, p. 287-314, aqui: p. 292.
  • 29
    No original: “nationaldemokratische Denkmal”, NIPPERDEY, Thomas. Nationalidee und Nationaldenkmal in Deutschland im 19. Jahrhundert, op. cit., p. 559, tradução nossa.
  • 30
    Detalhe da imagem disponível em: <https://de.wikipedia.org/wiki/Walhalla#/media/File:Walhalla_Halle.jpg>. Acesso em: 16 out. 2016.
  • 31
    No original: “Hermann, der Römer Besieger, † XXI”. Para uma análise do monumento em detalhes ver STEGER, Simone. Die Bildnisbüsten der Walhalla bei Donaustauf: von der Konzeption durch Ludwig I. von Bayern zur Ausführung (1807-1842). Tese (Doutorado em Filosofia) — Institut für Kunstgeschichte, Ludwig-Maximilians-Universität München, Alemanha, 2011.
  • 32
    No original: “für immer unvollendet bleiben”, Die Gartenlaube. Leipzig: Ernst Keil, Heft 11, 1853, p. 120. Disponível em: <https://de.wikisource.org/wiki/Das_Herrmannsdenkmal>. Acesso em: 15 out. 2016.
  • 33
    No original: “den Arm mit dem Schilde”, idem.
  • 34
    No original: “Der Repräsentant und Befreier des deutschen Volkes, ohne Arm und Schild — ist das nicht lustig und traurig zugleich”, idem.
  • 35
    SCHM., R. Ein vergessenes deutsches Denkmal. Die Gartenlaube. Leipzig: Ernst Keil, Heft 38, 1860, p. 604-605, aqui: p. 605. Disponível em: <https://de.wikisource.org/wiki/Ein_vergessenes_deutsches_Denkmal>. Acesso em: 16 out. 2016.
  • 36
    No original: “das nationale Werk (...) ein Zeugniß deutscher Treue und Dankbarkeit, aber auch (...) ein Zeichen deutschen Brudersinnes und deutscher Eintracht”, idem.
  • 37
    No original: “Hermann als Begründer der deutschen Nationalität nun ist Symbol und Vorbild, das angerufen wird, um das gegenwärtige Bewußtsein und Gefühl der Nationalität zu intensivieren”, NIPPERDEY, Thomas. Nationalidee und Nationaldenkmal in Deutschland im 19. Jahrhundert, op. cit., p. 569, tradução nossa.
  • 38
    “Man ist hier offensichtlich bemüht, die Hermannsfigur als Einheits- und Gründungsmythos der gesamten Nation zu gestalten und den oft beschworenen Zwist als Gefahr in der offiziellen Symbolpolitik zunächst zu vermeiden”, DÖRNER, Andreas. Der Mythos der nationalen Einheit: Symbolpolitik und Deutungskämpfe bei der Einweihung des Hermannsdenkmals im jahre 1875. Kulturgeschichte, n. 79, p. 389- 416, 1997, aqui: p. 405, tradução nossa com revisão de Veronika Geith.
  • 39
    Para um levantamento mais detalhado dos jornais da época e uma revisão bibliográfica ver KNAUER, Sebastian. Das Hermannsdenkmal vor dem Hintergrund des Kulturkampfes. Rosenland: Zeitschrift für lippische Geschichte, n. 5, p. 2-15, 2007.
  • 40
    KLINGENBERG, W. (Org.). Das Hermannsdenkmal und der Teutoburger Wald. Detmold: Meyer, 1875.
  • 41
    Leia-se fecit, ou seja, é de sua autoria.
  • 42
    Leia-se lithographiert, ou seja, litografou.
  • 43
    Disponível em: <http://www.loebclassics.com/view/tacitus-annals/1931/pb_LCL249.519.xml?readMode =reader>. Acesso em: 15 out. 2016. Há a mesma inscrição em um dos nichos do Hermannsdenkmal.
  • 44
    ARNDT, Ernst Moritz. Des Deutschen Vaterland. Disponível em: <http://gutenberg.spiegel.de/buch/gedichte-2227/58>. Acesso em: 15 out. 2016.
  • 45
    Ressaltamos aqui a “Sybel-Ficker-Streit” (“Controvérsia Sybel-Ficker”): “Sybel acreditava que os envolvimentos italianos dos Hohenstaufen, iniciados em larga escala pelo Barbarossa, haviam desviado recursos e energia de um esforço de unificação da Alemanha no medievo, causando a situação de fragmentação política que caracterizou as terras germânicas até 1871. Nisso foi contraditado por Ficker, que acreditava no valor de um império multirracial que deveria integrar a Mitteleuropa. Suas concepções divergentes de Alemanha (Kleindeutsch e Großdeutsch) estavam mais preocupadas com a grande política imperial e apenas ‘implícita e indiretamente com o medievo’”, SILVA, Daniele Gallindo Gonçalves; ARAUJO, Vinicius Cesar Dreger de. Frederico I Barbarossa ou do Imperador que retornará: a recepção do medievo em terras germâncias no longo século XIX. Signum, v. 15, p. 109-135, 2014, aqui: p. 133. Disponível em: <http://www.abrem.org.br/revistasignum/index.php/revistasignumn11/article/viewFile/133/120>. Acesso em: 16 out. 2016. Consenso entre os dois seria “a unificação nacional da Alemanha” (“die nationale Einigung Deutschlands”, RIENOW, Andreas. Der Streit zwischen Heinrich von Sybel und Julius Ficker. In: FOERSTER, Sascha et al. (Org.). Blumen für Clio: Einführung in Methoden und Theorien der Geschichtswissenschaft aus studentischer Perspektive. Marburg: Tectum, 2011, p. 237-269, aqui: p. 266).
  • 46
    Agradecemos aqui a contribuição do Prof. Dr. Vinicius Cesar Dreger de Araújo (Unimontes).
  • 47
    HEINE, Heinrich. Alemanha: um conto de inverno. Edição bilíngue. Tradução de Romero Freitas e Georg Wink. Belo Horizonte: Crisálida, 2011, p. 92-97.
  • 48
    MÜNKLER, Herfried. Die Deutschen und ihre Mythen. Berlim: Rowohlt, 2011, p. 172.
  • 49
    No original: “Das ist der Teutoburger Wald,/ Den Tacitus beschrieben,/ Das ist der klassische Morast,/ Wo Varus stecken geblieben./ Hier schlug ihn der Cheruskerfürst,/ Der Hermann, der edle Recke;/ Die deutsche Nationalität,/ Die siegte in diesem Drecke./ Wenn Hermann nicht die Schlacht gewann,/ Mit seinen blonden Horden,/ So gäb es deutsche Freiheit nicht mehr,/ Wir wären römisch geworden!”, HEINE, Heinrich. Alemanha: um conto de inverno, op. cit., p. 92-93.
  • 50
    No original: “Gottlob! Der Hermann gewann die Schlacht,/ Die Römer wurden vertrieben,/ Varus mit seinen Legionen erlag,/ Und wir sind Deutsche geblieben!/ (...) / O Hermann, dir verdanken wir das!/ Drum wird dir, wie sich gebühret,/ Zu Detmold ein Monument gesetzt;/ Hab selber subskribieret”, ibidem, p. 94-97.
  • 51
    No original: “Der letzte Zug war mir allerdings unangenehm; aber die Partie ist deshalb noch nicht verloren. Ich habe noch einen sehr schönen Zug in petto! / Das wird auch der letzte sein, und dann sind Sie in wenigen Zügen matt — wenigstens für Deutschland”, tradução nossa.
  • 52
    Disponível em: <https://de.wikisource.org/wiki/Die_Gartenlaube#1875>. Acesso em: 14 out. 2016.
  • 53
    A imagem está reproduzida nas páginas 640 e 641 do jornal. Disponível em: <https://de.wikisource.org/wiki/Der_Ehrentag_des_Teutoburger_Waldes#/media/File:Die_Gartenlaube_(1875)_b_640.jpg>. Acesso em: 14 out. 2016.
  • 54
    No original: “Der Jubel des Festes ist verrauscht, und an der Stätte, welche an jenem Tage in den Tausenden von deutschen Männern aus allen Gauen des Vaterlandes das Abbild des unter einem Herrscher geeinigten Deutschlands sah, rauscht der Wald wieder seine alte Melodie; von hoher Bergeswarte aber wird, der Macht der Elemente und den Stürmen von Jahrhunderten trotzend, das Erzbild des großen Cheruskerfürsten noch über ferne Geschlechter hinabschauen, als eine Mahnung, hochzuhalten das Panier der nationalen Freiheit und Selbstständigkeit, gleichviel ob die Waffen mit welchen der Kampf um jene Güter gekämpft wird, dem Schwerte Armin’s gleichen, oder ob es die Waffen des freien Geistes sind, mit welchen wir heute nach zweitausend Jahren abermals kämpfen unter dem Schlachtrufe: “Wider Rom!”, SCIPIO, Rudolf. Der Ehrentag des Teutoburger Waldes. Die Gartenlaube. Leipzig: Ernst Keil, Heft 38, 1875, p. 638-642, aqui: p. 642. Disponível em: <https://de.wikisource.org/wiki/Der_Ehrentag_des_Teutoburger_Waldes>. Acesso em: 14 out. 2016, tradução nossa com revisão de Veronika Geith.
  • 55
    No original: “das (katholische) Frankreich, sondern vor allem (...) den Heiligen Stuhl und den Ultramontanismus”, DÖRNER, Andreas. Der Mythos der nationalen Einheit: Symbolpolitik und Deutungskämpfe bei der Einweihung des Hermannsdenkmals im jahre 1875, op. cit., p. 398.
  • 56
    No original: “den Cheruskerfürsten als den, der mit der deutschen Einigung begonnen, und Wilhelm, der sie vollendet hatte”, MÜNKLER, Herfried. Die Deutschen und ihre Mythen, op. cit., p. 175, tradução nossa.
  • 57
    Optamos aqui por não desfazer a ambiguidade contida no adjetivo “welsch”, ver <http://woerterbuchnetz.de/DWB/?sigle=DWB&mode=Vernetzung&lemid=GW05150#XGW05150>. Acesso em: 20 out. 2016.
  • 58
    No original: “Der lang getrennte Stämme vereint mit starker Hand,/ Der welsche Macht und Tücke siegreich überwandt,/ Der längst verlorne Söhne heimführt zum Deutschen Reich,/ Armin, dem Retter ist er gleich”, apud MÜNKLER, Herfried. Die Deutschen und ihre Mythen, op. cit., p. 175, tradução nossa.
  • 59
    No original: “Hermann trägt seine Pläne allein in sich wie Bismarck, dem es auch nicht darauf ankam, mißverstanden und selbst verachtet zu werden. Er betölpelt den Varus wie Bismarck Napoleon III., er redigiert die Emser Depesche und nach allen Mitteln der List braucht er als letzles die offene auslieferung seiner Absichten und seiner Persönlichkeit wie Bismarck”, ELOESSER apud KREUTZER, Hans Joachim (Org.). Kleist-Jahrbuch 1986. Berlim: Erich Schmidt, 1986, p. 110, tradução nossa com revisão de Veronika Geith. Lembremos aqui que, graças ao Despacho de Ems, a França declara guerra à Prússia em 19 de julho de 1870.
  • 60
    MÜNKLER, Herfried. Die Deutschen und ihre Mythen, op. cit., p. 176.
  • 61
    Lembremos aqui que Kotzebue também produziu uma releitura de Hermann: a peça Hermann und Thusnelde: eine heroische Oper (1813) (cf. KOTZEBUE, August von. Hermann und Thusnelde. Eine heroische Oper in drei Aufzüge. In: KOTZEBUE, August von. Theater. v. 39. Wien: Ignaz Klange; Leipzig: Eduard Kummer, 1841, 95-150).
  • 62
    No original: “Will uns die deutsche Kunst einen erhabenen Begriff von Freiheit bildlich geben, so soll sie unsern Hermann, den Erretter des Vaterlandes, darstellen, stark und groß, wie ihn das Nibelungenlied unter den Namen Siegfried nennt, der kein anderer als unser Hermann ist”, SAND apud MÜNKLER, Herfried. Die Deutschen und ihre Mythen, op. cit., p. 177, tradução nossa.
  • 63
    SILVA, Glaydson José. História Antiga e usos do passado: um estudo de apropriações da Antiguidade sob o Regime de Vichy (1940-1944), op. cit., p. 29.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Aug 2017

Histórico

  • Recebido
    20 Out 2016
  • Aceito
    23 Mar 2017
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