Acessibilidade / Reportar erro

Agências e interações entre africanos e europeus nas expedições britânicas ao rio Níger (1825-1854): os casos de William “Abubakr” Pasco e “Alihéli”

African agency and interactions with Europeans in the British expeditions to Niger River (1825-1854): the cases of William “Abubakr” Pasco and “Alihéli”

Agencias e interacciones entre africanos y europeos en las expediciones británicas al río Níger (1825-1854): los casos de William “Abubakr” Pasco e “Alihéli”

RESUMO

Este artigo procura discutir a atuação de africanos que agiram como “intermediários” nas relações entre as expedições britânicas ao redor do rio Níger entre 1825 e 1854 e as sociedades africanas com as quais interagiram. Os relatos dessas expedições estão entre os primeiros que sistematicamente descreveram determinadas regiões do interior do continente em línguas europeias. Assim, praticamente todas as formas de comunicação necessitavam de tradutores e consequentemente “intermediários”. Compreende-se como “intermediários” os sujeitos que agiram no espaço liminar entre as expedições e seus interlocutores do interior, exercendo diversas atividades como intérpretes, guias, mensageiros e por vezes até mesmo negociadores, num contexto de profundas transformações que recondicionavam as relações entre o Atlântico e a África Ocidental.

Palavras-chave:
relatos de viagem; intermediários; África Ocidental; História da África

ABSTRACT

This paper discusses agency displayed by Africans who acted as ‘intermediaries’ in the relations between the British expeditions around the Niger River during the period from 1825 to 1854 and African societies. These travel accounts are some of the first that systematically described in European languages those regions of the African hinterland. Thus, almost every form of communication needed translators and consequently ‘intermediaries’. In this context, ‘intermediaries’ are understood as subjects acting in the liminal space between expeditions and their interlocutors, exercising several activities as interpreters, guides, messengers and sometimes even negotiators, in a context of deep transformations that reconfigured relations between the Atlantic and West Africa.

Keywords:
Travel writings; intermediaries; West Africa; History of Africa

RESUMEN

Este articulo pretende discutir la actuación de africanos que actuaron como “intermediarios” en las relaciones entre las expediciones británicas alrededor del río Níger entre 1825 y 1854, y las sociedades africanas con las cuales interactuaron. Los relatos de estas expediciones se encuentran entre los primeros que sistemáticamente describieron determinadas regiones del interior del continente en lenguas europeas. De esta manera, prácticamente todas las formas de comunicación necesitaban de traductores y consecuentemente “intermediarios”. Se comprende como “intermediarios” los sujetos que actuaron en el espacio liminar entre las expediciones y sus interlocutores del interior, ejerciendo diversas actividades como intérpretes, guías, mensajeros y algunas veces hasta como negociadores, en un contexto de profundas transformaciones que reacondicionaban las relaciones entre el Atlántico y África Occidental.

Palabras clave:
Relatos de Viaje; Intermediarios; África Occidental; História de África

Introdução

No período das expedições britânicas ao rio Níger, dois contextos em transformação ampliavam suas inter-relações. Por um lado, as dinâmicas atlânticas, oriundas do período de estabelecimento do comércio de escravizados, ganhavam novas configurações com a conjuntura oitocentista de sua intensificação, derivada das mudanças na economia-mundo capitalista e da hegemonia britânica no Atlântico, com o consequente incentivo ao comércio “lícito” como parte de sua ideologia e prática de combate ao tráfico de escravizados, entre outros fatores. Os efeitos dessas relações, entretanto, não terminavam nas regiões costeiras da África e das Américas. A interiorização na África, se não na presença física europeia, já acontecia de outras maneiras, ainda que na forma de produtos e bens europeus e asiáticos cujo fluxo e seu controle influenciavam as relações de forças políticas da costa e do interior. Mungo Park, ainda no final do século XVIII, já informava que “viajantes, ao irem da Gâmbia para o interior, pagam as tarifas em mercadoria europeia (…) estas taxas são pagas em todas as cidades”.2 2 PARK, Mungo. Travels in the Interior Districts of Africa: Performed in the years 1795,1796, and 1797. With an account of a subsequent mission to that country in 1805. Vol. I. Londres: John Murray, Albemarle-treet, 1816.

Por outro lado, entre os processos de maior alcance em curso no interior da região da África Ocidental, pode-se mencionar a conjuntura do jihad que deu origem ao Califado de Sokoto, as guerras Nupe e a fragmentação do império Oyo, todos esses interligados em maior ou menor grau. Considere-se também a existência de uma ampla rede de conexões comerciais multisseculares, ligando grande parte da África ocidental, desde Axante, Daomé, a região Ioruba, e mesmo a região Ibo aos estados hauçás e fulani e à margem sul do Saara e suas conexões com o norte africano. Essa última característica fazia do hauçá uma espécie de língua franca de comércio na região do atual norte da Nigéria.3 3 Sobre o hauçá como língua franca, e a rede de caravanas e suas conexões ver: LOVEJOY, Paul. Caravans of Kola: The Hausa Kola Trade 1700-1900. Zaria: Ahmadu Bello University Press, 1980. ADEKUNLE, Julius. Borgu and Economic Transformation 1700 — 1900: the Wangara Factor. African Economic History, n. 22, p. 1-18, 1994. Sobre as condições no interior da África Ocidental no século XIX, ver por exemplo: KOLAPO, Femi. Military Turbulence, Population Displacement and Commerce on a Slaving Frontier of the Sokoto Caliphate: Nupe c. 1810-1857. Tese (Doutorado em História) — York University, Toronto, 1999, e Nineteenth Century Niger River Trade and the 1844-1862 Aboh Interregnum. African Economic History, n. 30, p. 1-29, 2002. NWOKEJI, G. Ugo. The Slave Trade and Culture in the Bight of Biafra: an African Society in the Atlantic World. Nova York: Cambridge University Press, 2010. UKWEDEH, Joseph N. History of the Igala Kingdom c1534-1854. Zaria: Ahmadu Bello University Press, 2003 e LAW, Robin. The Oyo Empire, c.1600-c.1836: a west African imperialism in the era of the Atlantic Slave Trade. Oxford: Oxford University Press, 1991.

Se essas duas conjunturas complexas já não eram isoladas e muito menos estáticas antes do século XIX, é certo que as conexões entre elas aceleraram no contexto de expansão do capitalismo e das revoluções daquele período.4 4 LOVEJOY, Paul. Jihad in West Africa During the Age of Revolutions. Athens, Ohio: Ohio University Press, 2016. Tal contexto trouxe alterações nas relações comerciais e, para alguns, consequências importantes na própria organização social das regiões envolvidas no tráfico de escravizados e também no comércio de azeite de dendê. Enquanto este último duplicava em volume entre 1830-1850, as exportações de escravizados passavam por mudanças devido à patrulha britânica na costa.5 5 LYNN, Martin. Change and Continuity in the British Palm Oil trade with West Africa. The Journal of African History, v. 22, n. 23, 1981, p. 331-348. As transformações sociais pelas quais passaram as cidades do Delta do Níger, de acordo com Kenneth Dike, diziam respeito justamente à perda do controle do comércio externo por parte das chefias africanas, gerando revoltas escravas e reorganizações das hierarquias sociais existentes.6 6 DIKE, Kenneth Onwuka. Trade and politics in the Niger Delta 1830-1885. Oxford: Clarendon Press, 1956. A. Hopkins estabelece o conceito de “crise de adaptação” para explicar este fenômeno, além de estender seu alcance a toda a África Ocidental envolvida no comércio atlântico. Atualmente, a agenda de pesquisas aponta para a necessidade de estudos de caso específicos para compreender o grau de relação entre as transformações sociais e o contexto do final do tráfico. Ver LAW, Robin (Ed.). From Slave Trade to ‘Legitimate’ Commerce, the Commercial Transition in Nineteenth Century West Africa. Cambridge: Cambridge University Press, 1995. Para estudos mais recentes que também abordam esta questão para diferentes regiões, ver SHUMWAY, Rebecca. The Fante and the Transatlantic Slave Trade. Rochester: University of Rochester Press, 2011 e NWOKEJI, G. Ugo. The Slave Trade and Culture in the Bight of Biafra: an African Society in the Atlantic World, op. cit.

Assim, em especial as relações britânicas com as formações políticas africanas da região estavam passando por transformações. As expedições britânicas para o interior do continente, a ânsia de mapeamento geográfico e o grande número de viagens e respectivos relatos em várias línguas europeias são apenas algumas das expressões materiais e intelectuais desse processo pelo lado europeu.

Obviamente, as discussões bibliográficas sobre os condicionantes desse processo de incorporação do continente africano num sistema global são imensas e bastante densas. De acordo com Green e Havik, a historiografia abordou essas relações nos espaços atlânticos a partir de duas perspectivas, “expansão política e econômica, e interação social e cultural”.7 7 “political and economic expansion, and social and cultural interaction”. GREEN, Toby; HAVIK, P. (Ed.). Brokers of Change: Atlantic Commerce Cultures in Precolonial Western Africa. Oxford: Oxford University Press, 2012. Os autores ressalvam, entretanto, que para a Western Africa (do atual Senegal à Serra Leoa), tais perspectivas dialogaram frequentemente.

Assim, em termos econômicos, as diversas análises sobre as consequências das novas conjunturas do século XIX para as transformações no interior das sociedades africanas estão compreendidas num espectro interpretativo que vai desde perspectivas que conectam o desenvolvimento industrial da Grã-Bretanha aos rendimentos do comércio de escravizados, passando por interpretações causais mais diretas das relações entre o fim do tráfico e a conjuntura de crises nas sociedades costeiras africanas e outras que de certa forma minimizam o impacto do comércio externo, especialmente de escravos, sobre as economias africanas, chegando até as interpretações que dão menos ênfase às transformações na conjuntura atlântica, procurando focar mais nas alterações no interior do continente.8 8 Novamente, a bibliografia é bastante vasta, apenas para uma indicação dos caminhos deste debate, ver as obras de Eric Williams, Walter Rodney, Anthony Hopkins, Ralph Austen, J. Ajayi, Robin Law, Paul Lovejoy e, finalmente, David Eltis, listadas nas referências bibliográficas.

Ou seja, as divergências resultam principalmente do ângulo de observação que implica, de um lado do espectro, em compreender a Europa como centro irradiador de uma nova lógica capitalista e, portanto, a África e os demais espaços atlânticos com maior ou menor grau de passividade, e do outro lado, compreender os espaços africanos a partir de suas próprias lógicas, valorizando uma perspectiva “afrocêntrica”. De qualquer modo, se divergem quanto aos condicionantes das transformações, e sobre suas consequências para a história atlântica, praticamente todos consideram que o século XIX foi de grandes e aceleradas mudanças sociais e econômicas na África.

Também há pouca divergência no que diz respeito à constatação de que os diversos fluxos atlânticos desde os primórdios da modernidade resultaram no estabelecimento de comunidades culturalmente complexas, derivadas de movimentos e trânsitos múltiplos de pessoas, bens, línguas, religiões, alimentos, entre outros.9 9 As divergências são grandes, entretanto, com relação à forma com que essas comunidades se constituíram. Debates sobre formação de sociedades “crioulas” têm sido intensos nas últimas três décadas e apenas como indicativo destes ver os trabalhos de Nancy Priscilla Naro, Roger Sansi-Roca e D. Treece, Toby Green e P. Havick, bem como Robin Cohen e Paola Tonimato, Milton Guran e Manuela Carneiro da Cunha, listados nas referências bibliográficas. Muitas vezes, parte dos resultantes históricos de tais fluxos na costa africana tem sido compreendido como dando forma à um grupo de “intermediários”, culturalmente miscigenados, ora chamados de “crioulos”, ora “filhos da terra”, ora “elites locais”, que desempenhariam papéis fundamentais nas sociedades coloniais na África.10 10 Ver Ajayi, sobre as missões cristãs na Nigéria, Karin Barber e Paulo Farias, Toyin Falola e Jill Dias mencionados nas referências bibliográficas. Em geral, esses trabalhos apontam para a maturação de processos e formações de identidades coletivas, oriundos de relações seculares de contato, nas margens do Atlântico.

Neste artigo será apresentada e discutida a participação de personagens africanos que atuaram como guias, tradutores, mensageiros, entre outras funções, ou seja, “intermediários”, em diversas das expedições britânicas para o interior da África Ocidental que buscaram mapear o curso do Níger e posteriormente estabelecer relações comerciais e diplomáticas mais constantes com as sociedades africanas do interior neste contexto em transformação e aceleração das conexões macrorregionais. Assim, “intermediário” não é uma definição precisa de função, ou um conceito, mas diz respeito literalmente àqueles indivíduos que fizeram papéis de mediação entre as comitivas britânicas e as comunidades africanas no interior. O desconhecimento da geografia no início do período, a diversidade linguística na região pressupunham necessariamente agências de mediação entre os europeus e as comunidades locais.

As experiências desses “intermediários” são compreendidas como sendo, simultaneamente, fruto da interseção das conjunturas atlântica e africana já brevemente mencionadas, e de suas próprias agências no interior do horizonte de possibilidades que se colocava a partir desses contatos. Entretanto, mesmo dentro desses estreitos horizontes, tais intermediários encontraram espaços para perseguir suas agendas pessoais e atuarem em certos casos para alteração de rotas, seleção e indicação dos interlocutores africanos e, por vezes, na intermediação entre os europeus e os principais governantes em disputas variadas na geopolítica regional.

O recorte temporal da pesquisa começa com a segunda expedição de Clapperton em 1825 e termina com a primeira comandada por William Baikie em 1854. Deste modo o período abarca as últimas décadas do tráfico atlântico de escravos, os anos de crescimento acelerado do comércio de óleo de palma e importantes transformações em grande parte das regiões visitadas. Tal período antecede o estabelecimento às margens do Níger de relações comerciais mais constantes diretamente com o interior, que criariam as condições para a organização de grandes companhias de comércio que marcariam as relações entre Grã-Bretanha e a região até as vésperas da invasão colonial.11 11 Ver FLINT, John E. Sir Georgie Goldie and the Making of Nigeria. Londres: Oxford University Press, 1960.

O corpo de fontes, composto principalmente dos relatos de viagem resultantes dessas expedições, é diverso, pois diversos eram os objetivos de cada empreendimento, o repertório de cada autor, as condições materiais da viagem, e, posteriormente, a publicação dos relatos. Engloba missões privadas e públicas, geográficas, científicas, diplomáticas, comerciais, missionárias, e por vezes com vários desses objetivos interconectados. Entre seus autores contam-se aventureiros, militares, religiosos, comerciantes e “cientistas”.

Impossível deixar de notar, entretanto, que as menções aos africanos em todos esses relatos são obviamente eurocêntricas e crivadas, em maior ou menor grau, de perspectivas que supostamente atestam a inferioridade dos não europeus. Desse modo, as referências àqueles que participavam da intermediação não estão livres dessa característica. Também por isso, as informações sobre eles são lacunares e esporádicas. Nenhum dos textos - quer sejam relatos de aventura como os de Richard Lander, ou mais propriamente organizados a partir de relatórios oficias como os de Allen e Thomson - confere protagonismo aos participantes africanos. De fato, trata-se metodologicamente de procurar nas entrelinhas dos textos, ou em menções originalmente com objetivos anedóticos e/ou contextuais, as participações destes “intermediários” nas dinâmicas das viagens e, a partir daí, inferir ou esboçar reflexões sobre a sua importância nos empreendimentos.12 12 Os relatos publicados estão listados nas referências bibliográfcias com as edições utilizadas neste artigo.

Abubackr ou “William Pasco”

A narrativa de Pasko, ou melhor dizendo, Abbu Becr, nosso intérprete hauçá (…) não será completamente destituída de atrativos, ainda mais porque mostra as maneiras e superstições de seus conterrâneos de forma mais agradável do que uma trabalhosa descrição deles mostraria; assim, a malícia (archness), comicidade (drollery) e desonestidade do velho patife, juntamente com sua ligação calorosa e profunda com o sexo frágil, e sua devoção completa ao serviço delas, são precisamente narradas ao passo em que surgiram as circunstâncias que suscitaram o aparecimento de cada uma dessas várias paixões.13 13 “The narrative of Pasko, or rather, I should say, Abbu Becr, our Houssa interpreter (…) will not be destitute of attraction, insomuch as it shows the manners and superstitions of his countrymen much more pleasingly than a laboured description of them would do; while the archness, drollery, and dishonesty of the old scoundrel, together with his warm and deep attachment to the gentler sex, and his entire devotedness to their service, are accurately related, as the circumstances which called those various passions into action took place.” LANDER, Richard. [1830] Records of Captain Clapperton’s Last Expedition to Africa by Richard Lander, his Faithful Attendant and the Only Surviving Member of the Expedition with the Subsequent Adventures of the Author. Londres: Frank Class, 1967, p. XVI. Pascoe, Pasco e Pasko são as formas variadas nas quais as fontes e as referências bibliográficas grafam seu nome.

Ao introduzir o personagem aos seus leitores, Richard Lander sugeria que Pasco era um epítome de uma suposta identidade coletiva. Obviamente, as lentes através das quais Lander apresenta os africanos em geral são profundamente etnocêntricas. Entretanto, como veremos, mesmo a partir dos relatos de viagem que mencionam Pasco através dessas “lentes”, é possível esboçar outras explicações para suas atitudes.14 14 Richard Lander viajou como “servente” de Clapperton nesta expedição, escreveu o relato rapidamente com a ajuda de seu irmão John logo após seu retorno à Inglaterra. As informações sobre William Pasco estão neste relato, bem como no diário original de Clapperton, publicado pela primeira vez em 1829, e no relato dos irmãos Lander sobre a viagem de 1830, além de algumas menções, em especial sobre as circunstâncias de sua morte, nos relatos de Laird e Oldfield, sobre a viagem de 1832-1834.

Abubakr foi capturado e escravizado por volta de 1805 na região de Gobir durante as primeiras batalhas do jihad que deu início ao Califado de Sokoto. Vendido via Gonja para Uidá, e dali para um mercador português, foi embarcado junto com o restante da “carga” para a Bahia, mas o navio foi capturado por um cruzador da marinha britânica. Desde então, passou a trabalhar como marinheiro em navios britânicos utilizando o nome de William Pasco.15 15 LOCKHART, Jamie Bruce; LOVEJOY, Paul. Introduction. In: CLAPPERTON, Hugh. Hugh Clapperton into the Interior of Africa, Records of the Second Expedition 1825-1827. Leiden: Koninklijke Brill NV, 2005. O diário cuja publicação original é de 1829, por John Murray em Londres, foi comparado com os originais do Colonial Office e do Almirantado editados por Lovejoy e Lockhart. Em grande medida o conteúdo é bastante semelhante entre as duas publicações, mas o revisado e comparado por Lockhart e Lovejoy é mais completo, apesar do texto mais truncado.

Ele era hauçá e falava a língua fluentemente, além de já ter tido a experiência de acompanhar Giovanni Belzoni em tentativa de chegar à Timbuctu em 1823. Essas características provavelmente influenciaram na decisão do major Hugh Clapperton de contratá-lo como servente do capitão Robert Pearce, seu parceiro na nova expedição organizada pela Grã-Bretanha em 1825 para renovar as relações com xeque al-Kanemi em Borno e com Muhamed Bello em Sokoto.16 16 al-Hadjdj Muhammad al-Amīn al-Kanēmi, e Muhammad Bello. De qualquer modo, certamente ajudou o fato de Pasco estar na Inglaterra antes da expedição partir definitivamente para a África. Ele já constava entre os membros da expedição listados por Lander em Portsmouth.17 17 LANDER, R. Records of captain clapperton’s last expedition to africa by richard lander, his faithful attendant and the only surviving member of the expedition with the subsequent adventures of the author. London: frank class, 1967. [1830]. P. 16.

Tinha, então, cerca de 40 anos, e viajou recebendo para isso o mesmo salário que recebia como marinheiro. Clapperton morreria em Sokoto, em abril de 1827, 16 meses depois de partirem de Badagry para o interior. Coube à pequena comitiva composta por Richard Lander, Pasco e sua mulher, além de Jowdie e Aboudha (ambos escravos de Lander), retornar com os diários de Clapperton até à costa, de onde os dois primeiros seguiram para a Inglaterra em fevereiro de 1828.

Com a morte de Pearce, Pasco passou a atuar como tradutor e auxiliar em geral. Porém, mais do que simplesmente trabalhar para a expedição, ele claramente perseguiu uma agenda pessoal ao longo de boa parte dos quase dois anos no interior do continente.

A primeira informação que permite começar a pensar sobre suas estratégias durante a viagem surge quando a comitiva estava em Wawa, perto de cruzar o Níger em direção ao território hauçá. Uma importante personagem da cidade, uma viúva bastante rica e com relações familiares com o governante de Boussa, ofereceu uma escrava como esposa para Pasco.18 18 Wawa, Boussa, Kiama e outras, eram cidades da região Borgu, imediatamente ao norte e noroeste da região de Katunga. Eram então governos independentes, e com grande importância como pontos de parada de rotas caravaneiras que ligavam a região hauçá à costa. De acordo com Lander, “o velho libertino aceitou extasiado o presente, era a terceira ou quarta esposa que ele tinha desde que deixamos Badagry…”. 19 19 “the old libertine, accepted the present with rapture, which made the third or fourth spouse he had had since leaving Badagry”. LANDER, R. Records of Captain Clapperton’s last Expedition to Africa by Richard Lander, his Faithful Attendant and the only Surviving Member of the Expedition with the Subsequent Adventures of the Author. London: Frank Class, 1967. [1830]. p. 158. O anedótico caso da “viúva Zuma” foi contado tanto por Lander quanto por Clapperton, no original de 1829, p. 84-85. A escrava teria sido oferecida para Pasco para que este ajudasse a convencer um dos europeus, mais especificamente Clapperton, a se casar com ela. Diversas foram as interpretações dos dois autores sobre as minúcias do caso, mas ambos pareceram concordar que ela tentava um golpe de estado em Wawa, e eles foram incluídos em seus planos quando de sua passagem por lá. Ao final, Pasco teve que devolver a mulher, no acordo que pôs fim ao entrevero político na cidade. Parece haver um certo exagero do autor na passagem. Clapperton, por sua vez, menciona que esta seria sua segunda esposa:

(…) a primeira ele conseguiu em Jannah; ela era uma ladra e prostituta, e costumava beber com as esposas do rei em Katunga (…) o dia que deixamos Katunga ela fugiu com dois colares de coral que a sra. Belzoni lhe tinha dado, com suas tesouras e vários outros artigos de roubo.20 20 “...the first he got at Jannah; she was a thief a jade & used to get drunk with the Kings wives at Katunga (…) the day we left Katungah she walked of[f] with 2 strings of coral Mrs. Belzoni had given him, his razors and several other articles of finery.” CLAPPERTON, Hugh. Hugh Clapperton into the Interior of Africa, Records of the Second Expedition 1825-1827, op. cit., p. 204.

Não seria, entretanto, a última. Menos de 15 dias após chegarem em Kano, em fins de julho de 1826, Pasco desposou outra mulher. Seu período de estadia em Kano se prolongou por quatro meses, até o fim de novembro, enquanto Clapperton, em Sokoto, negociava com Muhamad Bello o caminho para Borno, deixando Lander e Pasco encarregados da bagagem da expedição. A demora deveu-se aos enfrentamentos coevos entre Sokoto e Borno e as dúvidas de Bello com relação às intenções de Clapperton, imaginando, entre outras coisas, que estaria levando armas para o xeque al-Kanemi.21 21 Para o contexto de disputa entre Bello e Kanemi, ver LAST, Murray. O califado de Sokoto e o Borno. In: OGOT, Bethwell Allan. História Geral da África V: África do século XVI ao XVIII. Brasília: Unesco, 2010.

No início de novembro, Pasco roubou alguns dos bens da expedição e fugiu com a nova mulher. Algum tempo depois foi encontrado em Roma, a quatro dias de viagem de Kano, onde foi preso sem resistência, dizendo que a mulher, novamente, tinha fugido com suas coisas. Ainda quando estava sendo escoltado de volta para Kano, entretanto, novo roubo e fuga, tendo sido capturado novamente. Neste episódio, foi admoestado e mantido preso até declarar-se arrependido frente ao emir de Kano e ser perdoado.22 22 As referências à Pasco encontram-se em LANDER, R. Records of Captain Clapperton’s last Expedition to Africa by Richard Lander, his Faithful Attendant and the only Surviving Member of the Expedition with the Subsequent Adventures of the Author. London: Frank Class, 1967. [1830], em especial p. 204-205, e CLAPPERTON, Hugh. Journal of a Second Expedition into the Interior of Africa, from the Bight of Benim to Soccatoo by the Late Commander Clapperton of the Royal Navy. To which is Added the Journal of Richard Lander from Kano to the Sea-coast, Partly by a More Eastern Route. Londres: John Murray, 1829, p. 233 et seq. Evidentemente, outras menções estão espalhadas por todo o texto dos relatos.

Em finais de novembro, Lander e Pasco receberam ordens de seguir para Sokoto com toda a bagagem da expedição. Entretanto, Pasco parecia definitivamente disposto neste momento a não permanecer mais junto aos europeus. No caminho entre Kano e Sokoto, mais uma vez roubou algumas armas, dinheiro e outros pequenos artigos e fugiu pela terceira vez.23 23 LANDER, R. Records of captain clapperton’s last expedition to africa by richard lander, his faithful attendant and the only surviving member of the expedition with the subsequent adventures of the author. London: frank class, 1967. [1830]. P. 245. Novamente foi capturado e desta vez posto a ferros até atingir o acampamento do sultão Bello em Magaria, próximo à Sokoto. Ao ficar sabendo o que tinha acontecido Clapperton isolou Pasco e proibiu quaisquer comunicações dos membros da expedição com ele.

Bello estava fortemente desconfiado de Clapperton e dos objetivos de sua viagem, e procurava investigar as intenções da expedição para com o xeque al-Kanemi. Teria sido essa a razão pela qual mandou buscar os servos e as bagagens da expedição em Kano, para poder examiná-los especialmente em busca de armas. Após entrevista com Clapperton e Lander, em 22 de dezembro, na qual insistiu para que abrissem a correspondência que levariam para Borno e perguntou sobre o conteúdo das bagagens, Bello convocou Pasco para depor. De fato, ele estava esperando do lado de fora quando os europeus saíram.

No Natal de 1826, Pasco foi novamente convocado, desta vez com todos os seus pertences, para se mudar para a casa de Mohamed Ben Gumso.24 24 Muhammad b. Hãjj ‘Umar Ghamzu, líder da comunidade árabe em Sokoto, e bastante próximo do Sultão Bello. LOCKHART, Jamie Bruce. A Sailor in the Sahara: the Life and Travels in Africa of Hugh Clapperton, Commander RN. Londres: I. B. Tauris, 2008. No dia seguinte, enviados do sultão entraram nos aposentos de Clapperton acusando-o de estar levando armas para al-Kanemi e ficaram com todas as caixas e os volumes que compunham o “presente” endereçado ao xeque de Borno. Clapperton suspeitou que a desinformação e mentira teriam partido “do amigo deles, Pasco”.25 25 CLAPPERTON, Hugh. Journal of a Second Expedition into the Interior of Africa, from the Bight of Benim to Soccatoo by the Late Commander Clapperton of the Royal Navy, op. cit., p. 239.

Este parecia ser o final da aventura de Pasco junto à expedição, após ter fugido várias vezes, já despedido e sob suspeita de traição. Por meio de suas novas redes, ele conseguiu um empréstimo de Ben Gumso, casou-se novamente, dessa vez com uma escrava ioruba da casa de seu credor, e procurou se estabelecer como vendedor de rapé, tendo fracassado e passado a trabalhar como lenhador para tentar sustentar sua nova família.26 26 LANDER, R. Records of captain clapperton’s last expedition to africa by richard lander, his faithful attendant and the only surviving member of the expedition with the subsequent adventures of the author. London: frank class, 1967. [1830]. P. 264.

Nota-se, portanto, que Pasco seguidamente procurou adquirir uma mulher ao longo de todo o trajeto. Diferentemente das inferências de Lander, sobre a “ligação calorosa e profunda com o sexo frágil”, é possível que Pasco agisse assim por diversas outras razões. Uma mulher acompanhando a expedição seria mais uma a trabalhar para ele como carregadora, cozinheira e ajudante geral. Além disto, em Kano e Sokoto, o casamento poderia ser também uma estratégia para se integrar com a sociedade local, por meio de laços familiares e de dependência de sua nova esposa. De fato, a mudança dele para a casa de Ben Gumso apenas três dias após prestar depoimento para o sultão Bello, além de ter conseguido um empréstimo de 50 mil caurins e um casamento com uma escrava de sua casa, logo após diversas tentativas de fuga, parecem apontar nesta direção.

Entretanto, cerca de quatro meses depois, com a doença de Clapperton, o próprio Lander solicitou ao seu mestre que recontratasse Pasco para ajudá-lo. Ele vivia, então, separado da mulher, pois não tinha dinheiro suficiente para mantê-la. Finalmente, após a morte de Clapperton, foi Pasco quem cuidou de Lander, que ficou doente por algum tempo. Quando Lander se recuperou, no final de abril de 1827, decidiu voltar pelo mesmo caminho da ida. As instruções fornecidas por Clapperton antes de morrer eram para que voltassem para Kano e pegassem dinheiro com Hadje Hat Salah27 27 Hadje Hat Salah tinha sido agente de Clapperton em sua passagem anterior por Kano, trocando moedas e prestando serviços financeiros. Era, segundo Clapperton, um árabe, o mais rico mercador de Kano. e seguissem a rota mais fácil de volta para a Grã-Bretanha. Lander, então, pediu autorização para Bello para que Pasco o acompanhasse até Kano.

Já de volta em Kano, percebendo claramente a dependência que tinha do hauçá, Lander conseguiu convencer Hadje Salah e os mensageiros de Bello a deixarem que ele acompanhasse a comitiva ao menos até Culfo. Pasco, por sua vez, foi convencido por um “presente” de Lander, uma escrava para servir-lhe como esposa.28 28 LANDER, R. Records of captain clapperton’s last expedition to africa by richard lander, his faithful attendant and the only surviving member of the expedition with the subsequent adventures of the author. London: frank class, 1967. [1830]. P. 101.

Desde a morte de Clapperton, Lander dependia exclusivamente de Pasco para conseguir se comunicar.29 29 Embora algumas passagens façam supor que Lander já adquirira algum conhecimento mínimo de hauçá ao longo desta sua primeira viagem. LANDER, R. Records of Captain Clapperton’s last Expedition to Africa by Richard Lander, his Faithful Attendant and the only Surviving Member of the Expedition with the Subsequent Adventures of the Author. London: Frank Class, 1967. [1830]. p. 150 e 282. Este, por sua vez, além do salário, conseguira uma “esposa” comprada por Lander, e um pouco mais a frente, teve sua dívida com Ben Gumso paga novamente pelo europeu.

Deste modo, em aparente mudança de estratégia, devido às circunstâncias conjunturais, Pasco parece ter percebido uma série de vantagens financeiras e pessoais para decidir juntar-se novamente à Lander e retornar à costa.

Em Zaria, a comitiva ganhou seus contornos finais. Uma africana escravizada, Aboudah, foi dada de presente à Lander pelo emir, e um homem, Jowdie, foi comprado para substituir Mohamed, um servo contratado em Sokoto que se recusava a seguir viagem mais ao sul. A partir de então a comitiva andava com Pasco à frente e Lander na retaguarda, de onde mantinha todos sob sua vista. Os dois eram os únicos armados.30 30 Ibidem, p. 158.

Ao final da viagem Pasco ainda acompanhou Lander até a Inglaterra, de onde voltou para Cape Coast para viver com sua mulher e com permissão de Lander para desposar também Aboudah.

A extrema funcionalidade que o tradutor de hauçá teve durante esta viagem devia-se certamente a suas habilidades linguísticas, mas não apenas. Sua grande adaptabilidade foi notada pelo próprio Lander. Segundo ele, por exemplo,

Pasco nunca se preocupava muito com assuntos religiosos, adotando a opinião prevalecente sobre elas nos vários países pelos quais acontecia de passarmos: assim, ele era um cristão na Inglaterra, um pagão em Iorubá e Borgo, e um muçulmano no império Fulani...31 31 “Pasko never troubled his head much about religious matters, adopting the prevailing opinions about them in the various countries through which he might happen to pass: thus, he was a Christian in England, a pagan in Yariba and Borghoo, and a Mohammedan in the Falatah empire…“ LANDER, R. Records of Captain Clapperton’s last Expedition to Africa by Richard Lander, his Faithful Attendant and the only Surviving Member of the Expedition with the Subsequent Adventures of the Author. London: Frank Class, 1967. [1830]. p. 212.

Sua capacidade de articulação e de tirar proveito das situações o levaram a conseguir ao menos seis mulheres ao longo da viagem, ainda que tenha permanecido ao final com apenas duas. Note-se que três delas foram oriundas de recursos da própria expedição.32 32 Infelizmente, não é possível, por meio das fontes analisadas, especificar o status de cada uma das mulheres incorporadas por Pasco à sua rede de agregados. Podem ser escravas, esposas ou serviçais, ou mesmo todas essas opções ao mesmo tempo. Mas algumas inferências podem ser realizadas. A mulher escrava de Bem Gumso em Sokoto parece ter sido “esposa“, visto que continuava escrava de seu antigo senhor. As oferecidas por Lander podem ter sido escravas e eventualmente tornaram-se esposas.

Pouco se pode inferir sobre o testemunho dele para Bello a respeito do conteúdo das bagagens da expedição e sobre os objetivos com relação a visita à Borno. Entretanto, ficou relativamente claro que Bello não deu autorização formal para a partida de Pasco. Ele recebeu permissão para ir apenas até Kano e depois até Culfo, sendo duplamente pago para isso (além do salário de marinheiro, uma escrava).

Levando em conta essas experiências, apesar de seu comportamento errático, não é de estranhar que ele tenha sido contratado novamente por Richard em fevereiro de 1830, cerca de dois anos depois de serem resgatados de Badagry no brigue inglês Maria. Novamente em Cape Coast, Lander informa que haviam tido “bastante sorte” para contratar Pasco, sua esposa e Jowdie novamente.33 33 LANDER, Richard; LANDER, John. Journal of an Expediction to Explore the Course and Termination of The Niger with a Narrative of a Voyage Down that River, op. cit., v. 1, p. 45.

Pasco foi bastante valorizado por seus “inquestionáveis méritos como intérprete”. Mas de fato era muito mais do que isso. Trabalhou como caçador em momentos nos quais a expedição praticamente passava fome, arregimentando carregadores, e diversas vezes como enviado aos governantes africanos para conseguir informações, em especial durante a detenção em Yaouri, em julho de 1830.34 34 Ibidem, p. 199, p. 230 e p. 261-293. Além disto, conseguiu mais uma mulher durante a estada nesta localidade. Segundo Lander, o sultão de Yaouri, em dívida com a expedição e sem ter como pagá-la, ofereceu uma escrava que tornou-se esposa de Pasco.35 35 Ibidem, p. 291.

Durante esta viagem, ele também intermediou as relações da expedição com malam Dendo, quando estiveram em Rabah não apenas como intérprete, mas como negociador de fato. Foi Pasco e não Lander que Dendo mandou chamar para reclamar dos presentes oferecidos.36 36 Malam Dendo, fulani, foi governante de fato de Nupe entre 1830 e 1833. Para informações detalhadas sobre as guerras Nupe ver KOLAPO, Femi. Military Turbulence, Population Displacement and Commerce on a Slaving Frontier of the Sokoto Caliphate: Nupe c. 1810-1857, op. cit. e ABDULKADIR, Mohammed S. The Effects of the Extension of the Sokoto Caliphate on the Igala Kingdom. In: BOBBOYI, H.; YAKUBU, A. M. (Ed.). The Sokoto Caliphate History and Legacies, 1804-2004. Kaduna: Baraka Press and Publishers, 2006.

Neste ponto, é desnecessário multiplicar as menções aos momentos em que Pasco foi enviado como intermediador ou portador de mensagens. Qualquer um que leia o texto dos irmãos Lander com atenção às entrelinhas perceberá a importância que ele teve ao longo de toda a viagem. Embora esta expedição tenha passado por momentos muito difíceis, aliás como praticamente qualquer outra até então, Pasco havia conseguido amealhar mais uma mulher e recebeu integralmente seus vencimentos, mostrando que a viagem havia sido produtiva também para suas estratégias pessoais.

A expedição seguinte, em 1832, tinha características bastante diferentes das anteriores. Propunha subir o Níger em barcos a vapor e estabelecer comércio regular com as sociedades do baixo Níger, com Nupe e também ao longo do curso do Benuê. MacGregor Laird montou, com capital próprio e de outros comerciantes de Liverpool, a African Inland Commercial Company, contratou Lander para participar, e este, por sua vez, recrutou sua velha tripulação, Pasco, Mina, Jowdie “e alguns outros homens que lhe acompanharam em sua expedição prévia como intérpretes”.37 37 “...some other men who have accompanied him on his former expedition as interpreters”. LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. [1837] Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834. Londres: Frank Cass, 1971, 2v, v. 1, p. 55. Os textos de MacGregor Laird e Richard Oldfield foram publicados conjuntamente. O relato de Laird compõe grande parte do primeiro volume, e o de Oldfield, o final deste e o segundo volume como um todo, com exceção de dois capítulos finais: “Notas sobre nosso comércio com a África” e a conclusão ou “Plano recomendado sobre como comerciar com a África”. Ambos escritos por Laird, criticando fortemente tanto o comércio de escravizados como a política do esquadrão britânico de combate ao tráfico.

Após ter sido diretamente responsável pelo retorno de Lander à costa em 1828 e atuado como importante negociador durante a viagem de “descoberta” do curso do Níger em 1830, Pasco morreria entre abril e maio de 1833, supostamente envenenado, próximo à confluência entre o Níger e o Benuê.38 38 A suspeição de envenenamento de Pasco e de alguns tripulantes Kru do Alburkah vem do relato de Oldfield. Ele disse ter visto um deles morto com “um líquido negro vazando de cada canto de sua boca”. LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834, op. cit., v. 2, p. 415. Assim, esta última experiência durou apenas seis meses para ele, mas parece ter tido tempo para estabelecer algum contato e convivência com o hauçá que “guiou” o navio na primeira subida da expedição de 1832, e que figuraria em praticamente todas as expedições subsequentes ao Níger a partir de então.39 39 A expedição de 1832 foi a primeira a subir os rios em barcos a vapor. John Beecroft subiu o rio três vezes, em 1835, 1840 e 1845. Houve também a expedição oficial britânica de 1841 e outra liderada por William Baikie em 1854. Alheri aparece em praticamente todos os relatos de viagem sobre essas expedições. Beecroft não escreveu nenhum livro, mas segundo Ifemésia, Alheri aparece ao menos em seu relatório sobre a expedição de 1840. IFEMESIA, C. Chieka, British Enterprise on the Niger, 1830-1869. Tese (Doutorado) — University of Londres, 1959, p. 99.

O guia da expedição de 1832: inconsistências nas fontes

Há algumas inconsistências nos relatos a respeito deste personagem, mas todos eles mencionam que foi um africano que “guiou” os navios rio acima em parte da primeira subida dos vapores em 1832, a bordo do Alburkah, onde estavam Lander e Pasco. Os únicos relatos coevos da expedição de 1832 são os de MacGregor Laird e Richard Oldfield. O primeiro, entretanto, esteve muito doente em boa parte do percurso, e as informações mais completas sobre o guia podem ser encontradas em Oldfield. Segundo ele, teria sido o irmão de Abboko, rei de Adamugu que “presenteou Mr. Lander com um escravo de bom corpo chamado al-Hadge que atuou como piloto quando os navios subiram” (grifo nosso).40 40 “presented Mr. Lander a fine able-bodied slave, named al-Hadge, who had acted as pilot when the vessels came up”. LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834, op. cit., v. 1, p. 401. Note-se a semelhança do nome com o título de Hadj, que pode ser adicionado ao nome daqueles muçulmanos que perfazem a peregrinação à Meca, um dos cinco pilares da religião islãmica. Entretanto, não há menção a esta condição em nenhum dos textos. Assim, preferi considerar como nome ou apelido, e não como designação honorífica.

Fica claro pelas menções no relato de Oldfield que al-Hadge esteve com a expedição por algumas semanas em finais de 1832, quando guiou os navios até a confluência, e depois novamente por um período mais longo, quando um dos navios, o Alburkah, partiu dali para o Benuê e depois para Rabah, no Níger, voltou à Fernando Pó e subiu novamente até Idah, num período entre julho a dezembro de 1833.

Outro dos europeus integrantes da expedição de 1832 foi William Allen, que participou como capitão de um dos navios. Ele voltaria a participar em 1841, desta vez como tenente da marinha britânica e um dos membros com autoridade para firmar tratados com os governantes africanos. Allen não publicou nada sobre a viagem de 1832, mas em seu texto com Thomas Thomson sobre a expedição de 1841, assume ter utilizado parte de seus manuscritos da viagem anterior.

Oferecendo informação diferente de Oldfield, Allen fala de um certo Ali Here:

...que anteriormente, em 1832, bem como na ocasião presente, foi emprestado por Obi como piloto. Ele era um jovem escravo hauçá pertencente ao Obi, e foi levado à Fernando Pó no ‘Alburkah’, onde poderia ter obtido sua liberdade, mas preferiu retornar ao seu mestre. Frente à oferta similar feita novamente, ele disse que estava casado e, embora soubesse que era escravo, havia começado um pouco de comércio por conta própria, estava bastante satisfeito com sua parcela e não desejava deixar seu país (grifos nossos).41 41 “…who was formerly, in 1832, as on the present occasion, lent by Obi as pilot. He was a young Haussa slave belonging to Obi, and was taken to Fernando Po in the ‘Alburkah’, where he might fave obtained his freedom, but he preferred returning to his master. On a similar offer being now made to him, he said he had commenced a little trading on his own account, was quite satisfied with his lot, and did not wish to leave his country.” ALLEN, William; THOMSON, Thomas Richard Heywood. A narrative of the expedition to the River Niger in 1841. Londres: Frank Class, 1848, 2v., p. 252, v. 1. A primeira menção ao personagem neste relato foi logo na chegada à Abo, quando Ali Here teria ido a bordo com cerca de 12 jovens filhos do rei Obi, v. 1, p. 214.

As diferenças entre as informações de Oldfield e Allen são o nome (al-Hadge/Ali Here) e que um seria escravo do velho Abokko, irmão do rei de Adamugu, enquanto outro pertenceria ao Obi de Abo. Além disso, Oldfield informa que al-Hadge falava um pouco de inglês,42 42 LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834, op. cit., v. 2, p. 188. fato não mencionado por Allen em suas referências à Ali Here.

Já em 1854, entretanto, Ali Here certamente falava inglês. Ao menos três relatos referentes à esta expedição o mencionam diversas vezes. Thomas Hutchinson informa que “Ali Hare Lander” embarcou em Abo, como “intérprete e ajudante geral” e que falava um “peculiar dialeto anglo-aboh”.43 43 HUTCHINSON, Thomas Joseph. Narrative of the Niger, Tshadda, and Binuë Exploration: Including a Report on the Position and Prospects of Trade up those Rivers, with Remarks on the Malaria and Fevers of Western Africa. Londres: Longman, Brown, Green, and Longmans, 1855, p. 45. Ele acompanhou como médico a expedição de 1854, mas nos relatos aparece na maioria das vezes como agente comercial de MacGregor Laird, principal financiador da viagem. Posteriormente estabeleceu-se em Fernando Pó como comerciante e chegaria a exercer papel de cônsul britânico para a baía de Biafra no final da década.

De acordo com a narrativa de William Baikie, na chegada à Abo uma canoa se aproximou do navio com dois homens, um deles reconheceu Thomas Richards, que havia participado em 1841 e em diversas viagens de Beecroft anteriormente.44 44 Thomas Richards teve também importantes participações em diversas viagens pelo Níger. Fazia parte de uma espécie de tripulação fixa de Beecroft, nas décadas de 1830-1840. Segundo Baikie: “Esse homem, cujo nome é Alihéli, um hauçá de nascimento, foi dado pelo rei Obi para Lander em 1832, e o acompanhou até Fernando Pó. Ele falava um pouco de inglês, juntou-se a nós no navio e tornou-se extremamente útil...” (grifos nossos).45 45 “This man, whose name was Alihéli, a Haúsa by birth, was given by King Obi to Lander in 1832, and accompanied him to Fernando Po. He could speak a little English, and as he joined our ship and made himself exceedingly useful, his name will frequently recur.” BAIKIE, William Balfour. Narrative of an Exploring Voyage up the Rivers Kwo’ra and Benue (Commonly Known as the Niger and Tsádda) in 1854. Londres: John Murray, 1856, p. 42.

Samuel Crowther também menciona Aliheli. Embora com algumas diferenças sutis com relação à Baikie. Segundo ele, o piloto seria:

...um hauçá que foi um antigo servo do Mr. Lander, nomeado em sua homenagem (Aliheli Lander) […] acompanhou-o até Fernando Pó e na volta, fala inglês, e foi subsequentemente empregado por Mr. Beecroft em suas viagens rio acima, e é bem conhecido de muitas pessoas onde os navios pararam. Ele foi escravo do rei Obi, mas obteve sua liberdade quando seu mestre morreu, ao que parece, por bons serviços prestados.46 46 “a Haussa man, who was an old servant of Mr. Lander, named after himself (Aliheli Lander) (…) accompanied Mr. Lander to Fernando Po and back, speaks English, and was subsequently employed by Mr. Beecroft in his voyages up the river, and is well known to many people where the vessels touched. He was slave to king Obi, but got his liberty at his master’s death, as it apears, for his good services to him.” CROWTHER, Samuel. Journal of an Expedition up the Niger and Tshadda Rivers, Undertaken by MacGregor Lairs, Esq. in Connection with the British Government in 1854. Londres: Church Missionary House, 1855.

Neste caso, ele afirma que Aliheli foi servo de Lander, e confirma tanto a informação de Hutchinson de que era chamado com o nome de seu antigo senhor quanto a de Baikie, que ele tinha visitado Fernando Pó. Por outro lado, não é possível afirmar a partir do relato de Crowther que havia sido o Obi quem havia dado/emprestado o servo para Lander em 1832, como afirmaram Allen em 1841 e Baikie em 1854.

Restam, então, algumas dúvidas se al-Hadge e Aliheli são a mesma pessoa. O texto de Oldfield foi o único coevo a mencionar um piloto africano do interior que foi até Fernando Pó. Embora não haja descrição de sua origem, ele atesta que al-Hadge falava inglês. Por outro lado, Oldfield não estava presente no momento do primeiro contato da expedição com governantes em Abo e Idah. Seu posto inicial foi na embocadura do rio, esperando a volta dos navios. A primeira vez que subiu o rio Níger foi em julho de 1833, acompanhando Lander em seu retorno, e a primeira menção a al-Hadge, já citada aqui, surge justamente quando eles encontram o “irmão do velho Aboko” em Adamugu.47 47 Lander havia descido o rio até a embocadura para levar os doentes em abril de 1833, estava retornando para a confluência. Significativamente esta “subida” também parou em Abo, e, apesar do longo relato de toda a interação com o Obi e várias referências ao “meu tradutor”, não cita o nome de al-Hadge nenhuma vez.

Encontrei menções à personagem semelhante numa única referência historiográfica, a saber, Ifemésia, que ao discutir a expedição de 1841, refere-se à Alhere - utilizando em parte as mesmas fontes já mencionadas aqui - dizendo que ele era “um escravo liberto hauçá do Obi”, que tinha servido nos vapores Alburkah em 1832, e Ethiope, durante a viagem de Beecroft em 1840.48 48 IFEMESIA, C. Chieka, British Enterprise on the Niger, 1830-1869, op. cit. Infelizmente, ele não menciona de onde tirou a informação da participação na viagem de Beecroft em 1840. Não consegui encontrar a documentação referente à esta viagem, com exceção das publicações no Journal of Royal Geographic Society, onde não há menções à Aliheli.

Embora seja verossímil que ambos sejam a mesma pessoa, para preservar o benefício da dúvida, al-Hadge e Aliheli serão tratados como dois personagens diferentes a despeito de compartilharem importantes características, quais sejam: ambos eram escravos de governantes no baixo Níger já na década de 1830, viajaram com a expedição de 1832, manejavam mais de um repertório linguístico, incluindo o inglês, e desenvolveram suas habilidades quase inteiramente no interior do continente, com exceção da rápida passagem de algumas semanas por Fernando Pó e pelos “Rios do Óleo” em 1833.

Al-Hadge e a expedição de 1832-1834

Em agosto de 1833, não parecia ser a primeira vez que al-Hadge circulava pela região do Benuê próximo à confluência com o Níger. Ele se recusou a descer para comprar mantimentos um pouco acima de Yimaha, cerca de 60 milhas acima da confluência, pois segundo Oldfield ele estava receoso, uma vez que “Abocca (i.e. Abokko) tinha feito guerra nesta vizinhança”.49 49 LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834, op. cit., v. 1, p. 435.

Não se pode inferir que tenha estado no Níger acima da confluência antes desta viagem. Entretanto, aparentemente ele tinha grande liberdade de movimento, deixando o Alburkah por diversas vezes ao longo do percurso, por vezes como uma espécie de batedor, informando os governantes africanos da chegada da expedição ou procurando mantimentos e combustível.50 50 Além de inglês e possivelmente Igala, al-Hadge certamente falava hauçá, o que tornava suas comunicações possíveis nas redes comerciais e políticas regionais. Entre Egga e Rabah, por exemplo, estava à frente do navio. Segundo Oldfield,

...poucas milhas a frente de onde partimos, fomos encontrados por al-Hadge, que tinha partido em busca de madeira. Ele trouxe diversas canoas cheias [...] nos deu ainda mais esperanças de atingirmos Rabbah como esperávamos.51 51 “...a few miles from our anchorage we were met by al-Hadge, who had gone out in search of wood for us. He brought us several canoe-loads (...) gave us still better hopes of reaching Rabbah as we had expected.” LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834, op. cit., v. 2, p. 52-53.

Durante a estada de duas semanas em Rabah, participou de reunião com o próprio malam Dendo, então governante de fato de Nupe, e Usman Zaki, que assumiria o governo após a morte de Dendo naquele mesmo ano.52 52 Ibidem, p. 66. Malam Dendo controlava naquele momento a facção de exércitos islamizados que foi parte importante durante todo o período de guerras Nupe. KOLAPO, Femi. Military Turbulence, Population Displacement and Commerce on a Slaving Frontier of the Sokoto Caliphate: Nupe c. 1810-1857, op. cit. Ainda em Rabah, Oldfield teria sido acusado de envenenar Dendo, e al-Hadge, que “havia passado a noite toda em terra” foi ameaçado de decapitação, mas: “conhecendo-nos bem, e o quanto lhe estimávamos, disse que se assim fizessem, não sobraria uma casa em pé, porque nossas grandes armas iriam destruir tudo”.53 53 “...Knowing us well, and how much we esteemed him, said, that if they did so, they would not have a house standing, for that our great guns would knock them all down at one time!”. LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834, op. cit., v. 2, p. 76.

Após três meses entre os rios Benuê e Níger acima da confluência, o Alburkah voltou para Fernando Pó. Foi neste momento, entre outubro e novembro, que al-Hadge esteve na ilha. Sua participação na nova subida parece ter sido ainda mais importante. Com muitas dificuldades de navegação, o Alburkah encalhou acima de Abo, e foi ele, juntamente com Oldfield, que subiram de bote até Adamugu, onde durante horas Abokko ouviu de seu escravo a narrativa dos meses anteriores, e foi convencido à pedir ajuda ao Atah para desencalhar o navio.54 54 Ibidem, v. 2, p. 183. É interessante notar também uma característica do texto de Oldfield. Embora al-Hadge já tivesse aparecido diversas vezes na narrativa, como já foi mencionado, ele é “reapresentado” nesta passagem. O texto diz: “Abboka agora interrogava seu principal escravo, al-Hadge, um negro muito inteligente, que nos acompanhou até Fernando Pó como intérprete. Ele foi bem tratado pelo governador Coronel Nicolls, que enviou para Abboka um presente composto de alguma pólvora e dois mosquetões excelentes. (…) al-Hadge sentou com seu mestre por cerca de três horas, relatando todas as coisas estranhas que tinha visto, com muita ênfase aos navios de guerra e aos casarões de Fernando Pó.” “Abbokoa now interrogated his head slave, al-Hadge, a very intelligent black, who had accompanied us down to Fernando Po as interpreter. He had been kindly treated by the governor Colonel Nicolls, who sent Abboka a present of some powder and two excellent muskets.”

Note-se que a conjuntura em Idda neste momento era relativamente complexa, marcando o início de um período politicamente instável. Segundo Femi Kolapo, por volta de 1826 o clã Abokko havia saído de Idah em razão de desavenças resultantes da eleição do novo Atah, embora não se saiba se foram expulsos ou se autoexilaram.55 55 KOLAPO, Femi. Post-Abolition Niger river Commerce and the Nineteenth-Century igala political crisis. African Economic History, n. 27, 1999, p. 45-67, p. 48.

Oldfield informa que em julho de 1833, após a retomada das negociações entre Abokko e o Atah, a população do clã Abokko estava reconstruindo seu bairro na cidade de Idah. Foi neste contexto, portanto, que a expedição interagiu com os governantes igala. Cerca de seis meses depois, foi o irmão do velho Abokko que negociou com o Atah o reboque do Alburkah até Idah, com a ajuda de dez canoas, com cerca de 500 homens no total.

O controle sobre o comércio, em especial com os britânicos, parecia ser uma das políticas do Atah então. Por diversas vezes tentou impedir o navio de ultrapassar a cidade e navegar rio acima.56 56 Laird, por exemplo, informa que em 5 de dezembro de 1832, os igala estava performando algumas cerimônias à frente do navio, para impedir a continuidade da subida. LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834, op. cit., v. 1, p. 128. Fiscalizou fortemente toda a relação comercial entre os igala e a expedição tanto no período em que os barcos estavam atracados próximo à confluência entre fevereiro e julho de 1833, bem como entre janeiro e abril de 1834, dificultando inclusive a aquisição de alimentos. Durante o reboque do navio até Idah, Oldfield notou diversas canoas se aproximando e se afastando sem nem mesmo iniciar conversações de comércio. Segundo ele, eram dois “oficiais” do Atah que impediam as negociações:

Parece que eles receberam instruções para observar atentamente tudo a bordo, e ver quais mercadorias o navio carregava; pois os soberanos Atah e Abboka, sendo grandes mercadores, haviam determinado não permitir que seus súditos fizessem comércio antes que eles tivessem selecionado os melhores artigos para eles.57 57 “It appeared that they had received instructions to watch everything on board, and to see what commodities were contained in the vessel; for the sovereigns Attah and Abboka, being extensive merchants, had determined not to allow their subjects to trade until they had selected the best articles for themselves”. Ibidem, v. 2, p. 214.

Momentaneamente, portanto, as disputas pelo controle do comércio ribeirinho e da política em Idah estavam envolvidos com o evento da presença britânica no rio. É certo, por outro lado, que Oldfield suspeitava do Atah. Em seu relato, ele diz que o governante assumiu ter mandado envenenar Pasco (em abril de 1833) por acreditar que ele influenciara os navios a deixarem Idah e seguirem rio acima no fim de 1832. Chega a dizer que al-Hadge informou sobre um ataque planejado por um dos grupos em disputa em Idah, que queria roubar toda a carga.58 58 Segundo Oldfield, o Atah disse que “one of his eunuchs heard Pascoe tell Mr. Lander, in the Houssa language, to get away directly, as the King of Iddah was no good, but a very bad man.” Além disso, relata que o próprio Atah admitiu ter envenenado Pasco, pois alegava ter sido informado de uma conversa entre ele e Lander, em hauçá, na qual Pasco dizia para passar direto por Idah, já que o Atah não era um bom homem. Ibidem, v. 2, p 224. Interessante a importância conferida pelo Atah a Pasco (o que revela no mínimo uma grande proximidade deste com Lander). Allen oferece outra explicação, dizendo que o Atah mandou matar Pasco porque este tinha mostrado o caminho do rio para os europeus. ALLEN, William; THOMSON, Thomas Richard Heywood. A narrative of the expedition to the River Niger in 1841, op. cit., p. 17.

A última menção a al-Hadge foi durante as trocas de mensagens e intermediações em Idah, em 3 de abril, após cerca de oito meses de contatos constantes. Oldfield ainda tentou continuar subindo o rio, mas chegou apenas até Adakudu e retornou às pressas no início de junho para Fernando Pó, sempre na expectativa de ataques iminentes ao longo da descida.

Considerando al-Hadge e Ali Here como duas pessoas diferentes, os dois devem ter passado algum tempo juntos ao longo da viagem, provavelmente todo o tempo, já que ambos estiveram na primeira subida, entre agosto e novembro de 1833, no Benuê e no Níger acima da confluência e em Fernando Pó, uma vez que diversos relatos oferecem essas informações. O certo é que Ali Here (Aliheli) foi quem acompanhou Beecroft ao menos em 1840, recebeu a expedição de 1841 em Abo e serviu de guia por algumas milhas rio acima, e participou ativamente da expedição de 1854.

Aliheli e a expedição de 1854

Em 21 de julho de 1854, quando a expedição comandada por Baikie chegou em Abo, não havia registros de nenhum europeu na cidade há nove anos, desde a viagem de Beecroft em 1845. Sintomaticamente, o reconhecimento mútuo foi entre Thomas Richards e Aliheli, como se viu. Foi Aliheli novamente o primeiro interlocutor da expedição na localidade, e foi ele quem resumiu a condição política de Abo para Baikie.59 59 Desde a morte do Obi, não houve definição de seu sucessor. Baikie diz que foi Aliheli quem informou que havia preferência por um de seus filhos, Ajé, mas a situação ainda não estava definida. Ajé estava em Idah naquele momento, e foi Tshukuma, seu irmão mais velho, quem recebeu formalmente a expedição. Ainda segundo Baikie, Tshukuma era representante de Ajé, e foi quem “enviou Aliheli para nos receber”. BAIKIE, William Balfour. Narrative of an Exploring Voyage up the Rivers Kwo’ra and Benue (Commonly Known as the Niger and Tsádda) in 1854, op. cit., p. 43.

O hauçá juntou-se neste momento à expedição e só a deixaria novamente em Abo em 1o de novembro. Durante esse período, atuou como mensageiro enviado ao Atah,60 60 Mas de fato, direcionou a comitiva originalmente para um membro do clã Abokko. Okeyin Abokko foi quem negociou, de seu acampamento de guerra na “Ilha Inglesa” (ou mais propriamente Oko-Kein), a visita ao Atah. Baikie informa que o clã Abokko teria a incumbência de apresentar os brancos ao Atah, o que pode remeter à intermediação desempenhada na primeira visita de 1833. Ibidem, p. 55. Aparentemente, entretanto, em 1854 o clã era mais poderoso do que o próprio Atah. Segundo Kolapo, o período entre 1832-1854 foi de perda da autoridade central do Atah, e, consequentemente, de um maior peso para as lideranças locais no controle econômico, social, político e militar, em especial dos clãs que controlavam o comércio no curso do Níger. KOLAPO, Femi. Post-Abolition Niger River Commerce and the Nineteenth Century igala political crisis, op. cit., p. 50. A interpretação de Kolapo vai no sentido, portanto, de apresentar quadro similar ao de certas localidades costeiras como Bonny e Calabar durante o período de “crise de adaptação”. participou do esquema de tradução da entrevista oficial com aquele governante (e embora não mencionado, provavelmente durante toda a estada em Idah, em praticamente todas as interlocuções). Surge participando da comitiva que fez a visita oficial ao sultão de Hamaruwa e de atividades de mercado em Rogan-Koto. Reconheceu e foi reconhecido por várias pessoas ao longo do Benue, como por exemplo em Dagbo, quando Baikie informa que ele “quando menino, tinha visitado este lugar com Lander”, e em Yimaha.61 61 Estas informações aparecem em LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834, op. cit., v. 2, p. 163, 241, 250, 259, respectivamente.

Além das menções diretas à Aliheli no relato de Baikie, pode-se supor que ele atuou como guia, intérprete e informante em boa parte do período. Como já havia estado em diversas regiões anteriormente, não é inverossímil que ele tenha informado sobre a escolha dos lugares de parada e dos interlocutores africanos. Mesmo quando as histórias narradas por ele pareciam incríveis, mereciam atenção do líder da expedição. Segundo Baikie:

Aliheli [...] repetiu para mim uma história singular, uma que ele me havia contado antes e que sempre afirmou ser correta. Eu não sei o que pensar disto, pois parece bastante improvável, no entanto, eu nunca peguei Aliheli contando qualquer coisa que se aproximasse de uma inverdade.62 62 “Alihéli… to-night, repeated a singular story to me, one which he had told me before, and which he always affirmed to be correct. I do not know what to think of it, as it seems improbable, but yet I have never found Alihéli telling anything approaching an untruth.” BAIKIE, William Balfour. Narrative of an Exploring Voyage up the Rivers Kwo’ra and Benue (Commonly Known as the Niger and Tsádda) in 1854, op. cit., p. 283.

A história a qual Baikie se refere era de que a expedição de 1841 não tinha encontrado de fato com o Atah, mas com um dos chefes chamado O’sada. Esta informação é importante, pois, se a história fosse verdadeira, isto significaria que os tratados realizados pelos britânicos com os igala naquele momento seriam inválidos, uma vez que não teriam sido firmados pelo Atah. A passagem, portanto, permite avaliar o grau de confiança de Baikie em Aliheli.

No caminho de volta, em Abo, novamente foi Aliheli que forneceu a informação considerada definitiva por Baikie no sentido de isentar o falecido Obi Ossai de qualquer responsabilidade relacionada ao caso do assassinato de Mr. Carr em 1842. Ao despedir-se dele, Baikie atestava que havia sido muito “útil”, “confiável” e “valioso”, tendo sido o meio para conseguirem “muitas informações”.63 63 Ibidem, p. 302-303. Mr. Carr havia sumido em 1842, quando voltava de Fernando Pó para a confluência entre o Niger e o Benuê, para comandar a fazenda modelo então instalada pela expedição do ano anterior. As desconfianças recaíram sobre o Obi Ossai, até este testemunho de Baikie.

Al-Hadge e Aliheri em perspectiva

Assim, al-Hadge e Aliheli (Aliheri, al-Here, Alhere) seriam dois personagens distintos, mas com características semelhantes. De fato, Oldfield fala em “head slave” de Abokko referindo-se à al-Hadge, e todos os demais mencionam que Aliheli era um jovem em 1832. Entretanto, dentre os que estiveram na viagem de 1832 e deixaram registros publicados, Laird não menciona Aliheli, e Allen menciona-o apenas retrospectivamente em 1841. Nenhuma das fontes, coevas ou posteriores, portanto, menciona os dois juntos ou separadamente. Beecroft, em curto relato sobre a viagem em 1835 não menciona Alihéli, embora mencione vários outros “intermediários”, como Mr. Brown e Lilly.64 64 National Archives, Londres, Série CO 82/9, Beecroft para Nicholls 28 fev. 1936, p. 290. Este último aparece como escravo de King Boy também em Oldfield, como participante de toda a viagem do Alburkah em 1833, inclusive em Dagbo e Rabah. Nesta passagem, de fato, a referência é à “Lilly, al-Harr, e Mina”. É a única vez em que o nome al-Harr aparece grafado desta forma no relato, e nenhuma outra menção a ele é feita.65 65 LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834, op. cit., v. 1, p. 445. Pode ser que seja erro tipográfico ou confusão do próprio Oldfield. Ressalte-se que ele usa diversas grafias para cidades e pessoas ao longo do relato, além de apresentar o mesmo personagem mais de uma vez, como vimos com o próprio al-Hadge.

Al-Hadge teve papel fundamental na expedição de 1832. Foi um constante agente de mediação entre britânicos e africanos, principalmente os igala. Sendo escravo do velho Abokko de Adamugu, foi importante no estabelecimento das comunicações que resultaram no reboque do Alburkah até a confluência em 1833.66 66 Note-se também que foi em 1833 que o clã Abokko retornou para Idah. Não há menções a negociações envolvendo os britânicos para este retorno. Oldfield não estava na primeira subida em 1832, e Laird estava muito doente no período. Mas a coincidência de datas indica ao menos a possibilidade de participação britânica, e, consequentemente, de al-Hadge como intermediário nessas negociações. O clã Abokko ficaria conhecido a partir de então também pelo papel de intermediação com os britânicos. Crowther em 1854 informa que: “A família Abokko foi desde então [1833] considerada, por direito, o agente por meio de quem todos os homens brancos deveriam ser introduzidos ao Atah.67 67 CROWTHER, Samuel. Journal of an Expedition up the Niger and Tshadda Rivers, Undertaken by MacGregor Lairs, Esq. in Connection with the British Government in 1854, op. cit., p. 34. “Abokko’s family has ever since been considered, by right, the agent through whom all white men must be introduced to the Atta.” Diferentemente de vários dos “intermediários” que participaram de mais de uma expedição, al-Hadge não aparece mencionado em nenhuma outra ocasião, o que faz supor que não teve mais participações.

Aliheli parece ter tido pouca importância ao longo da expedição de 1832, já que não aparece mencionado em Oldfield, ou aparece apenas uma vez, se contarmos a menção à “al- Harr”. Entretanto, pode ter sido desta vez que aprendeu inglês. Por outro lado, participou em praticamente todas as outras, a saber: com Beecroft, embora não se saiba em qual função ou condição; em 1841, tutelando os filhos do Obi e levando-os à bordo do vapor e servindo como guia em uma pequena parte do caminho; em 1842, em subida comandada pelo tenente Webb em busca dos sobreviventes na fazenda modelo - desta vez, Aliheri (Alherr no original) novamente foi embarcado como guia68 68 National Archives, Londres, Série CO 2/23, p. 320. - e finalmente, já foi possível perceber os múltiplos papéis que teve ao longo de toda a viagem de 1854.

Considerações finais

Como se pode perceber, esses intermediários atuaram num espaço liminar entre os britânicos e os governantes e interlocutores africanos. Para isso, precisavam manejar mais de um código linguístico e ter ao menos uma mínima compreensão de códigos culturais de ambos os lados da relação. Suas experiências podem ser compreendidas dentro de um campo de possibilidades que estão relacionadas com a estrutura de circulações, interações, trocas e interinfluências tanto das costas atlânticas da África Ocidental quanto dos espaços de circulação comercial hauçá no interior da região. Nesse sentido, a definição aproxima-se aqui dos casos apresentados por Roquinaldo Ferreira, para a África Centro Ocidental, em sociedades onde diferentes esferas legais, culturais e religiosas existiram lado a lado, “permitindo à indivíduos que bebessem em recursos relevantes em circunstâncias específicas”.69 69 FERREIRA, Roquinaldo. Cross Cultural Exchange in the Atlantic World. Angola and Brazil during the Era of Atlantic Slave Trade. Cambridge: Cambridge University Press, 2012, p. 248.

Assim, Pasco teve sua “formação” na costa ocidental africana. Interagindo constantemente com os britânicos desde a primeira década do século XIX, aprendeu inglês e reuniu as condições e habilidades para atuação como intermediário ao longo de sua experiência de contato e vivência na região. Enquanto al-Hadge e Aliheli parecem ter aprendido rudimentos de inglês rapidamente durante a expedição de 1832, provavelmente em razão do contato com outros falantes de hauçá e inglês (ao menos Pasco e Jowdie reuniam essas características, mas pode ser que houvesse outros a bordo). Ambos pareciam ter, a despeito de serem escravos, histórico de circulação nas regiões do baixo Níger e do entorno da confluência com o Benuê, onde a língua franca de comércio era o hauçá. Essas características tornaram possíveis suas atuações como intermediários quando das presenças britânicas no interior.

Agiram, portanto, dentro de um estreito horizonte de possibilidades no contexto das incursões britânicas no interior da região, sendo que estas estavam relacionadas à conjuntura mais ampla da hegemonia britânica no Atlântico e de suas políticas de combate ao tráfico de escravos. Ao perseguir suas agendas individuais, ou as agendas políticas de seus senhores, é possível inferir como eles interferiram nas microdinâmicas das expedições.

Este artigo apresentou, então, exemplos de intermediários que, por sua presença na negociação com governantes africanos e na introdução a outros, pelo fornecimento de informações sobre as conjunturas políticas locais, além das óbvias atividades de tradução, acabaram ajudando a conformar as experiências de contato entre duas amplas conjunturas - atlântica e do interior africano - que já estavam em contato há séculos, mas cuja interação passava por mudanças de intensidade, frequência e caráter na primeira metade do século XIX.

Referências bibliográficas

  • ABDULKADIR, Mohammed S. “The effects of the extension of the Sokoto Caliphate on the Igala Kingdom”. In: BOBBOYI, H.; YAKUBU, A. Mahmood. (Ed.). The Sokoto Caliphate History and Legacies, 1804-2004 Kaduna: Baraka Press and Publishers, 2006.
  • ADEKUNLE, Julius. Borgu and Economic Transformation 1700 - 1900: the wangara factor. African Economic History, n. 22, 1994, p. 1-18.
  • AJAYI, Jacob Festus Adeniyi. Christian missions in Nigeria 1841-1891.The making of a new elite. Londres: Longmans, 1965.
  • AUSTEN, Gareth. The State as help of hindrance to market-led economic growth: West Africa in the era of ‘legitimate commerce’. In: FALOLA, Toyin; CHILDS, Matt D. The Changing Worlds of Atlantic Africa. Essays in Honour of Robin Law. Durham: Carolina Academic Press, 2009.
  • AUSTEN, Ralph. A.; AJAYI, Jacob Festus Adeniyi. Hopkins on Economic Imperialism in West Africa. The Economic Historical Review, New Series, v. 25, n. 1, p. 303-306, 1972.
  • BERBER Karin; FARIAS, Paulo F. de Moraes. Self-Assertion and Brokerage: Early Cultural Nationalism in West Africa. Birmingham: Centre of African Studies, 1990.
  • COHEN, Robin; TONIMATO, Paola. The Creolization Reader. Studies in Mixed Identities and Cultures. Londres: Routledge, 2010.
  • CUNHA, Manuela Carneiro da. Negros, estrangeiros: os escravos libertos e sua volta à África. 2. ed., revista e ampliada. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
  • DIAS, Jill. Uma questão de identidade: respostas intelectuais às transformações econômicas no seio da elite crioula da Angola portuguesa entre 1870-1930. Revista Internacional de Estudos Africanos, v. 22, n. 3, p. 349-378, 1984.
  • DIKE, Kenneth Onwuka. Trade and politics in the Niger Delta 1830-1885 Oxford: Clarendon Press, 1956.
  • ELTIS, David. Economic Growth and the Ending of Transatlantic Slave Trade Oxford: Oxford University Press, 1987.
  • FALOLA, Toyin. Yoruba Gurus, Indigenous production of Knowledge in Africa Trenton: Africa World Press, 1999.
  • FERREIRA, Roquinaldo. Cross Cultural Exchange in the Atlantic World. Angola and Brazil during the Era of Atlantic Slave Trade. Cambridge: Cambridge University Press, 2012.
  • GREEN, Toby; HAVIK, Phillip. (Ed.). Brokers of Change: Atlantic Commerce Cultures in Precolonial Western Africa. Oxford: Oxford University Press , 2012.
  • GURAN, Milton. Agudás - de africanos no Brasil a “brasileiros” na África. Hist. Cienc. Saúde-Manguinhos, n. 2, v. 7, p. 415-424, 2000.
  • HOPKINS, Anthony Gerald. An Economic History of West Africa Londres: Longman, 1973.
  • IFEMESIA, C. Chieka. British Enterprise on the Niger, 1830-1869 Tese (Doutorado) - University of London, 1959.
  • ISICHEI, Elisabeth. The Ibo People and the Europeans. The genesis of a Relationship to 1906. Londres: Faber and Faber, 1973.
  • JOHNSON, Marion. The Cowrie Currency of West Africa, part. I. The Journal of African History, v. 11, n. 1, p. 17-49, 1970.
  • JOHNSON, Marion. The Cowrie Currency of West Africa, part. II. The Journal of African History, v. 11, n. 3, p. 331-353, 1970.
  • JONES, G. I. From Slave Trade to Palm Oil: Slave Trade and Palm Oil Trade in the Bight of Biafra. Cambridge: Cambridge African Monographs, 1989.
  • KOLAPO, Femi. Trading ports of the Niger-Benue confluence area, c. 1830-1873. In: LAW, Robin; STRICKRODT, Silkie. Ports of Trade (Bights of Benin and Biafra) Stirling: Centre of Commonwealth Studies, 1999.
  • KOLAPO, Femi. Post-Abolition Niger River Commerce and the Nineteenth Century Igala Political Crisis. African Economic History, n. 27, p. 45-67, 1999.
  • KOLAPO, Femi. Military Turbulence, Population Displacement and Commerce on a Slaving Frontier of the Sokoto Caliphate: Nupe c. 1810-1857. Tese (Doutorado em História) - York University, Toronto, 1999.
  • KOLAPO, Femi. Nineteenth Century Niger River Trade and the 1844-1862 Aboh Interregnum. African Economic History, n. 30, p. 1-29, 2002.
  • KORIEH, Chima J. The Nineteenth Century Commercial Transition in West Africa: the Case of the Bight of Biafra Hinterland. Canadian Journal of African Studies, v. 34, p. 588-615, 2000.
  • MURRAY, Last. O califado de Sokoto e o Borno. In: OGOT, Bethwell Allan. História Geral da África V: África do século XVI ao XVIII. Brasília: Unesco, 2010.
  • LAW, Robin. The Oyo Empire, c.1600-c.1836: a West African Imperialism in the Era of the Atlantic Slave Trade. Oxford: Oxford University Press , 1991.
  • LAW, Robin. (Ed.). From Slave Trade to ‘Legitimate’ Commerce, the Commercial Transition in Nineteenth Century West Africa Cambridge: Cambridge University Press , 1995.
  • LOCKHART, Jamie Bruce. A sailor in the Sahara: the Life and Travels in Africa of Hugh Clapperton, Commander RN. Londres: I. B. Tauris, 2008.
  • LOCKHART, Jamie Bruce. Journal or Journalism. The Lander’s Niger Journal (1834) Disponível em:<http://www.tubmaninstitute.ca/sites/default/files/file/Essay%20on%20R%20and%20J%20Landers%20journals%20%20D3%20Nov%202010-1.pdf>.
    » http://www.tubmaninstitute.ca/sites/default/files/file/Essay%20on%20R%20and%20J%20Landers%20journals%20%20D3%20Nov%202010-1.pdf
  • LOCKHART, Jamie Bruce; LOVEJOY, Paul. Introduction. In: CLAPERTON, Hugh. Hugh Clapperton into the Interior of Africa: Records of the Second Expedition. Leiden: Koninklijke Brill NV, 2005.
  • LOVEJOY, Paul. Caravans of Kola: the Hausa Kola Trade 1700-1900. Zaria: Ahmadu Bello University Press, 1980.
  • LOVEJOY, Paul. The impact of the Atlantic slave trade on Africa: A review of the literature. Journal of African History, v. 30, n. 3, p. 365-394, 1989.
  • LOVEJOY, Paul. Jihad na África Ocidental durante a “Era das Revoluções”: em direção a um diálogo com Eric Hobsbawm e Eugene Genovese. Topoi, v. 15, n. 28, p. 22-67, 2014.
  • LYNN, M. Change and Continuity in the British Palm Oil Trade with West Africa. The Journal of African History, v. 22, n. 3, p. 331-348, 1981.
  • LYNN, M. John Beecroft and West Africa, 1829-54 Tese (Doutorado) - King’s College, 1979.
  • MILLER, Joseph. Way of Death: Merchant Capitalism and the Angolan Slave Trade, 1730-1830. Madison: University of Wisconsin Press, 1988.
  • NARO, Nancy Piscilla; SANSI-ROCA, Roger; TREECE, David. Cultures of the Lusophone Black Atlantic Nova York: Palgrave McMillan, 2007.
  • NWOKEJI, G. Ugo, The Slave Trade and Culture in the Bight of Biafra: an African Society in the Atlantic World. Nova York: Cambridge University Press, 2010.
  • PARÉS, Nicolau L. O processo de crioulização no recôncavo baiano (1750-1800). Revista Afro-Asia, n. 33, p. 87-132, 2005.
  • RODNEY, Walter. Como a Europa subdesenvolveu a África Lisboa: Seara Nova, 1975.
  • SHUMWAY, Rebecca. The Fante and the transatlantic slave trade Rochester: University of Rochester Press, 2011.
  • UKWEDEH, Joseph N. History of the Igala Kingdom c. 1534-1854 Zaria: Ahmadu Bello University Press , 2003.
  • WILLIAMS, Eric. Capitalismo e escravidão Rio de Janeiro: Americana, 1975.

Fontes publicadas

  • ALLEN, William; THOMSON, Thomas Richard Heywood. A Narrative of the Expedition to the River Niger in 1841 Londres: Frank Class, 1848.
  • BAIKIE, William Balfour. Narrative of an Exploring Voyage up the Rivers Kwo’ra and Benue (Commonly Known as the Niger and Tsádda) in 1854 Londres: John Murray, 1856.
  • CLAPPERTON, Hugh. Journal of a Second Expedition into the Interior of Africa, from the Bight of Benim to Soccatoo by the Late Commander Clapperton of the Royal Navy To which is Added the Journal of Richard Lander from Kano to the Sea-coast, partly by a more eastern route. Londres: John Murray, 1829.
  • CLAPPERTON, Hugh. Hugh Clapperton into the Interior of Africa: Records of the Second Expedition. Leiden: Koninklijke Brill NV, 2005(edição comparada dos textos do relato publicado e das fontes do Colonial Office e do Almirantado, organizada por LOCKHART, Jamie Bruce e LOVEJOY, Paul).
  • CROWTHER, Samuel. An Expedition up the Niger and Tchadda Rivers Undertaken by MacGregor Laird in Connection with the British Government in 1854 Londres: Church Missionary Society, 1855.
  • HUTCHINSON, Thomas Joseph. Narrative of the Niger, Tshadda, and Binuë Exploration: Including a Report on the Position and Prospects of Trade up those Rivers, with Remarks on the Malaria and Fevers of Western Africa Londres: Longman, Brown, Green, and Longmans, 1855.
  • LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. [1837] Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834 Londres: Frank Cass, 1971, 2v.
  • LANDER, Richard. [1830] Records of Captain Clapperton’s Last Expedition to Africa by Richard Lander, his Faithful Attendant and the Only Surviving Member of the Expedition with the Subsequent Adventures of the Author Londres: Frank Class, 1967.
  • LANDER, Richard; LANDER, John. Journal of an Expediction to Explore the Course and Termination of The Niger with a Narrative of a Voyage Down that River Londres: John Murray, 1832, v. 1 e 2.
  • PARK, Mungo. Travels in the Interior Districts of Africa: Performed in the years 1795,1796, and 1797. With an account of a subsequent mission to that country in 1805. Londres: John Murray, Albemarle-Street, 1816, v. 1.
  • SCHÖN, James Frederick; CROWTHER, Samuel. Journals of Rev. James Frederick Schön and Mr. Samuel Crowther, who, with the Sanction of Her Majesty’s Government, Accompanied the Expedition up the Niger in 1841 on Behalf of the CMS Londres: Hatchard and Son, Piccadilly, Nisbet and Co., 1842.
  • 2
    PARK, Mungo. Travels in the Interior Districts of Africa: Performed in the years 1795,1796, and 1797. With an account of a subsequent mission to that country in 1805. Vol. I. Londres: John Murray, Albemarle-treet, 1816.
  • 3
    Sobre o hauçá como língua franca, e a rede de caravanas e suas conexões ver: LOVEJOY, Paul. Caravans of Kola: The Hausa Kola Trade 1700-1900. Zaria: Ahmadu Bello University Press, 1980. ADEKUNLE, Julius. Borgu and Economic Transformation 1700 — 1900: the Wangara Factor. African Economic History, n. 22, p. 1-18, 1994. Sobre as condições no interior da África Ocidental no século XIX, ver por exemplo: KOLAPO, Femi. Military Turbulence, Population Displacement and Commerce on a Slaving Frontier of the Sokoto Caliphate: Nupe c. 1810-1857. Tese (Doutorado em História) — York University, Toronto, 1999, e Nineteenth Century Niger River Trade and the 1844-1862 Aboh Interregnum. African Economic History, n. 30, p. 1-29, 2002. NWOKEJI, G. Ugo. The Slave Trade and Culture in the Bight of Biafra: an African Society in the Atlantic World. Nova York: Cambridge University Press, 2010. UKWEDEH, Joseph N. History of the Igala Kingdom c1534-1854. Zaria: Ahmadu Bello University Press, 2003 e LAW, Robin. The Oyo Empire, c.1600-c.1836: a west African imperialism in the era of the Atlantic Slave Trade. Oxford: Oxford University Press, 1991.
  • 4
    LOVEJOY, Paul. Jihad in West Africa During the Age of Revolutions. Athens, Ohio: Ohio University Press, 2016.
  • 5
    LYNN, Martin. Change and Continuity in the British Palm Oil trade with West Africa. The Journal of African History, v. 22, n. 23, 1981, p. 331-348.
  • 6
    DIKE, Kenneth Onwuka. Trade and politics in the Niger Delta 1830-1885. Oxford: Clarendon Press, 1956. A. Hopkins estabelece o conceito de “crise de adaptação” para explicar este fenômeno, além de estender seu alcance a toda a África Ocidental envolvida no comércio atlântico. Atualmente, a agenda de pesquisas aponta para a necessidade de estudos de caso específicos para compreender o grau de relação entre as transformações sociais e o contexto do final do tráfico. Ver LAW, Robin (Ed.). From Slave Trade to ‘Legitimate’ Commerce, the Commercial Transition in Nineteenth Century West Africa. Cambridge: Cambridge University Press, 1995. Para estudos mais recentes que também abordam esta questão para diferentes regiões, ver SHUMWAY, Rebecca. The Fante and the Transatlantic Slave Trade. Rochester: University of Rochester Press, 2011 e NWOKEJI, G. Ugo. The Slave Trade and Culture in the Bight of Biafra: an African Society in the Atlantic World, op. cit.
  • 7
    political and economic expansion, and social and cultural interaction. GREEN, Toby; HAVIK, P. (Ed.). Brokers of Change: Atlantic Commerce Cultures in Precolonial Western Africa. Oxford: Oxford University Press, 2012. Os autores ressalvam, entretanto, que para a Western Africa (do atual Senegal à Serra Leoa), tais perspectivas dialogaram frequentemente.
  • 8
    Novamente, a bibliografia é bastante vasta, apenas para uma indicação dos caminhos deste debate, ver as obras de Eric Williams, Walter Rodney, Anthony Hopkins, Ralph Austen, J. Ajayi, Robin Law, Paul Lovejoy e, finalmente, David Eltis, listadas nas referências bibliográficas.
  • 9
    As divergências são grandes, entretanto, com relação à forma com que essas comunidades se constituíram. Debates sobre formação de sociedades “crioulas” têm sido intensos nas últimas três décadas e apenas como indicativo destes ver os trabalhos de Nancy Priscilla Naro, Roger Sansi-Roca e D. Treece, Toby Green e P. Havick, bem como Robin Cohen e Paola Tonimato, Milton Guran e Manuela Carneiro da Cunha, listados nas referências bibliográficas.
  • 10
    Ver Ajayi, sobre as missões cristãs na Nigéria, Karin Barber e Paulo Farias, Toyin Falola e Jill Dias mencionados nas referências bibliográficas.
  • 11
    Ver FLINT, John E. Sir Georgie Goldie and the Making of Nigeria. Londres: Oxford University Press, 1960.
  • 12
    Os relatos publicados estão listados nas referências bibliográfcias com as edições utilizadas neste artigo.
  • 13
    “The narrative of Pasko, or rather, I should say, Abbu Becr, our Houssa interpreter (…) will not be destitute of attraction, insomuch as it shows the manners and superstitions of his countrymen much more pleasingly than a laboured description of them would do; while the archness, drollery, and dishonesty of the old scoundrel, together with his warm and deep attachment to the gentler sex, and his entire devotedness to their service, are accurately related, as the circumstances which called those various passions into action took place.” LANDER, Richard. [1830] Records of Captain Clapperton’s Last Expedition to Africa by Richard Lander, his Faithful Attendant and the Only Surviving Member of the Expedition with the Subsequent Adventures of the Author. Londres: Frank Class, 1967, p. XVI. Pascoe, Pasco e Pasko são as formas variadas nas quais as fontes e as referências bibliográficas grafam seu nome.
  • 14
    Richard Lander viajou como “servente” de Clapperton nesta expedição, escreveu o relato rapidamente com a ajuda de seu irmão John logo após seu retorno à Inglaterra. As informações sobre William Pasco estão neste relato, bem como no diário original de Clapperton, publicado pela primeira vez em 1829, e no relato dos irmãos Lander sobre a viagem de 1830, além de algumas menções, em especial sobre as circunstâncias de sua morte, nos relatos de Laird e Oldfield, sobre a viagem de 1832-1834.
  • 15
    LOCKHART, Jamie Bruce; LOVEJOY, Paul. Introduction. In: CLAPPERTON, Hugh. Hugh Clapperton into the Interior of Africa, Records of the Second Expedition 1825-1827. Leiden: Koninklijke Brill NV, 2005. O diário cuja publicação original é de 1829, por John Murray em Londres, foi comparado com os originais do Colonial Office e do Almirantado editados por Lovejoy e Lockhart. Em grande medida o conteúdo é bastante semelhante entre as duas publicações, mas o revisado e comparado por Lockhart e Lovejoy é mais completo, apesar do texto mais truncado.
  • 16
    al-Hadjdj Muhammad al-Amīn al-Kanēmi, e Muhammad Bello.
  • 17
    LANDER, R. Records of captain clapperton’s last expedition to africa by richard lander, his faithful attendant and the only surviving member of the expedition with the subsequent adventures of the author. London: frank class, 1967. [1830]. P. 16.
  • 18
    Wawa, Boussa, Kiama e outras, eram cidades da região Borgu, imediatamente ao norte e noroeste da região de Katunga. Eram então governos independentes, e com grande importância como pontos de parada de rotas caravaneiras que ligavam a região hauçá à costa.
  • 19
    “the old libertine, accepted the present with rapture, which made the third or fourth spouse he had had since leaving Badagry”. LANDER, R. Records of Captain Clapperton’s last Expedition to Africa by Richard Lander, his Faithful Attendant and the only Surviving Member of the Expedition with the Subsequent Adventures of the Author. London: Frank Class, 1967. [1830]. p. 158. O anedótico caso da “viúva Zuma” foi contado tanto por Lander quanto por Clapperton, no original de 1829, p. 84-85. A escrava teria sido oferecida para Pasco para que este ajudasse a convencer um dos europeus, mais especificamente Clapperton, a se casar com ela. Diversas foram as interpretações dos dois autores sobre as minúcias do caso, mas ambos pareceram concordar que ela tentava um golpe de estado em Wawa, e eles foram incluídos em seus planos quando de sua passagem por lá. Ao final, Pasco teve que devolver a mulher, no acordo que pôs fim ao entrevero político na cidade.
  • 20
    “...the first he got at Jannah; she was a thief a jade & used to get drunk with the Kings wives at Katunga (…) the day we left Katungah she walked of[f] with 2 strings of coral Mrs. Belzoni had given him, his razors and several other articles of finery.” CLAPPERTON, Hugh. Hugh Clapperton into the Interior of Africa, Records of the Second Expedition 1825-1827, op. cit., p. 204.
  • 21
    Para o contexto de disputa entre Bello e Kanemi, ver LAST, Murray. O califado de Sokoto e o Borno. In: OGOT, Bethwell Allan. História Geral da África V: África do século XVI ao XVIII. Brasília: Unesco, 2010.
  • 22
    As referências à Pasco encontram-se em LANDER, R. Records of Captain Clapperton’s last Expedition to Africa by Richard Lander, his Faithful Attendant and the only Surviving Member of the Expedition with the Subsequent Adventures of the Author. London: Frank Class, 1967. [1830], em especial p. 204-205, e CLAPPERTON, Hugh. Journal of a Second Expedition into the Interior of Africa, from the Bight of Benim to Soccatoo by the Late Commander Clapperton of the Royal Navy. To which is Added the Journal of Richard Lander from Kano to the Sea-coast, Partly by a More Eastern Route. Londres: John Murray, 1829, p. 233 et seq. Evidentemente, outras menções estão espalhadas por todo o texto dos relatos.
  • 23
    LANDER, R. Records of captain clapperton’s last expedition to africa by richard lander, his faithful attendant and the only surviving member of the expedition with the subsequent adventures of the author. London: frank class, 1967. [1830]. P. 245.
  • 24
    Muhammad b. Hãjj ‘Umar Ghamzu, líder da comunidade árabe em Sokoto, e bastante próximo do Sultão Bello. LOCKHART, Jamie Bruce. A Sailor in the Sahara: the Life and Travels in Africa of Hugh Clapperton, Commander RN. Londres: I. B. Tauris, 2008.
  • 25
    CLAPPERTON, Hugh. Journal of a Second Expedition into the Interior of Africa, from the Bight of Benim to Soccatoo by the Late Commander Clapperton of the Royal Navy, op. cit., p. 239.
  • 26
    LANDER, R. Records of captain clapperton’s last expedition to africa by richard lander, his faithful attendant and the only surviving member of the expedition with the subsequent adventures of the author. London: frank class, 1967. [1830]. P. 264.
  • 27
    Hadje Hat Salah tinha sido agente de Clapperton em sua passagem anterior por Kano, trocando moedas e prestando serviços financeiros. Era, segundo Clapperton, um árabe, o mais rico mercador de Kano.
  • 28
    LANDER, R. Records of captain clapperton’s last expedition to africa by richard lander, his faithful attendant and the only surviving member of the expedition with the subsequent adventures of the author. London: frank class, 1967. [1830]. P. 101.
  • 29
    Embora algumas passagens façam supor que Lander já adquirira algum conhecimento mínimo de hauçá ao longo desta sua primeira viagem. LANDER, R. Records of Captain Clapperton’s last Expedition to Africa by Richard Lander, his Faithful Attendant and the only Surviving Member of the Expedition with the Subsequent Adventures of the Author. London: Frank Class, 1967. [1830]. p. 150 e 282.
  • 30
    Ibidem, p. 158.
  • 31
    “Pasko never troubled his head much about religious matters, adopting the prevailing opinions about them in the various countries through which he might happen to pass: thus, he was a Christian in England, a pagan in Yariba and Borghoo, and a Mohammedan in the Falatah empire…“ LANDER, R. Records of Captain Clapperton’s last Expedition to Africa by Richard Lander, his Faithful Attendant and the only Surviving Member of the Expedition with the Subsequent Adventures of the Author. London: Frank Class, 1967. [1830]. p. 212.
  • 32
    Infelizmente, não é possível, por meio das fontes analisadas, especificar o status de cada uma das mulheres incorporadas por Pasco à sua rede de agregados. Podem ser escravas, esposas ou serviçais, ou mesmo todas essas opções ao mesmo tempo. Mas algumas inferências podem ser realizadas. A mulher escrava de Bem Gumso em Sokoto parece ter sido “esposa“, visto que continuava escrava de seu antigo senhor. As oferecidas por Lander podem ter sido escravas e eventualmente tornaram-se esposas.
  • 33
    LANDER, Richard; LANDER, John. Journal of an Expediction to Explore the Course and Termination of The Niger with a Narrative of a Voyage Down that River, op. cit., v. 1, p. 45.
  • 34
    Ibidem, p. 199, p. 230 e p. 261-293.
  • 35
    Ibidem, p. 291.
  • 36
    Malam Dendo, fulani, foi governante de fato de Nupe entre 1830 e 1833. Para informações detalhadas sobre as guerras Nupe ver KOLAPO, Femi. Military Turbulence, Population Displacement and Commerce on a Slaving Frontier of the Sokoto Caliphate: Nupe c. 1810-1857, op. cit. e ABDULKADIR, Mohammed SABDULKADIR, Mohammed S. “The effects of the extension of the Sokoto Caliphate on the Igala Kingdom”. In: BOBBOYI, H.; YAKUBU, A. Mahmood. (Ed.). The Sokoto Caliphate History and Legacies, 1804-2004. Kaduna: Baraka Press and Publishers, 2006.. The Effects of the Extension of the Sokoto Caliphate on the Igala Kingdom. In: BOBBOYI, H.; YAKUBU, A. M. (Ed.). The Sokoto Caliphate History and Legacies, 1804-2004. Kaduna: Baraka Press and Publishers, 2006.
  • 37
    “...some other men who have accompanied him on his former expedition as interpreters”. LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. [1837] Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834. Londres: Frank Cass, 1971, 2v, v. 1, p. 55. Os textos de MacGregor Laird e Richard Oldfield foram publicados conjuntamente. O relato de Laird compõe grande parte do primeiro volume, e o de Oldfield, o final deste e o segundo volume como um todo, com exceção de dois capítulos finais: “Notas sobre nosso comércio com a África” e a conclusão ou “Plano recomendado sobre como comerciar com a África”. Ambos escritos por Laird, criticando fortemente tanto o comércio de escravizados como a política do esquadrão britânico de combate ao tráfico.
  • 38
    A suspeição de envenenamento de Pasco e de alguns tripulantes Kru do Alburkah vem do relato de Oldfield. Ele disse ter visto um deles morto com “um líquido negro vazando de cada canto de sua boca”. LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834, op. cit., v. 2, p. 415.
  • 39
    A expedição de 1832 foi a primeira a subir os rios em barcos a vapor. John Beecroft subiu o rio três vezes, em 1835, 1840 e 1845. Houve também a expedição oficial britânica de 1841 e outra liderada por William Baikie em 1854. Alheri aparece em praticamente todos os relatos de viagem sobre essas expedições. Beecroft não escreveu nenhum livro, mas segundo Ifemésia, Alheri aparece ao menos em seu relatório sobre a expedição de 1840. IFEMESIA, C. Chieka, British Enterprise on the Niger, 1830-1869. Tese (Doutorado) — University of Londres, 1959, p. 99.
  • 40
    “presented Mr. Lander a fine able-bodied slave, named al-Hadge, who had acted as pilot when the vessels came up”. LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834, op. cit., v. 1, p. 401. Note-se a semelhança do nome com o título de Hadj, que pode ser adicionado ao nome daqueles muçulmanos que perfazem a peregrinação à Meca, um dos cinco pilares da religião islãmica. Entretanto, não há menção a esta condição em nenhum dos textos. Assim, preferi considerar como nome ou apelido, e não como designação honorífica.
  • 41
    “…who was formerly, in 1832, as on the present occasion, lent by Obi as pilot. He was a young Haussa slave belonging to Obi, and was taken to Fernando Po in the ‘Alburkah’, where he might fave obtained his freedom, but he preferred returning to his master. On a similar offer being now made to him, he said he had commenced a little trading on his own account, was quite satisfied with his lot, and did not wish to leave his country.” ALLEN, William; THOMSON, Thomas Richard Heywood. A narrative of the expedition to the River Niger in 1841. Londres: Frank Class, 1848, 2v., p. 252, v. 1. A primeira menção ao personagem neste relato foi logo na chegada à Abo, quando Ali Here teria ido a bordo com cerca de 12 jovens filhos do rei Obi, v. 1, p. 214.
  • 42
    LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834, op. cit., v. 2, p. 188.
  • 43
    HUTCHINSON, Thomas Joseph. Narrative of the Niger, Tshadda, and Binuë Exploration: Including a Report on the Position and Prospects of Trade up those Rivers, with Remarks on the Malaria and Fevers of Western Africa. Londres: Longman, Brown, Green, and Longmans, 1855, p. 45. Ele acompanhou como médico a expedição de 1854, mas nos relatos aparece na maioria das vezes como agente comercial de MacGregor Laird, principal financiador da viagem. Posteriormente estabeleceu-se em Fernando Pó como comerciante e chegaria a exercer papel de cônsul britânico para a baía de Biafra no final da década.
  • 44
    Thomas Richards teve também importantes participações em diversas viagens pelo Níger. Fazia parte de uma espécie de tripulação fixa de Beecroft, nas décadas de 1830-1840.
  • 45
    “This man, whose name was Alihéli, a Haúsa by birth, was given by King Obi to Lander in 1832, and accompanied him to Fernando Po. He could speak a little English, and as he joined our ship and made himself exceedingly useful, his name will frequently recur.” BAIKIE, William Balfour. Narrative of an Exploring Voyage up the Rivers Kwo’ra and Benue (Commonly Known as the Niger and Tsádda) in 1854. Londres: John Murray, 1856, p. 42.
  • 46
    “a Haussa man, who was an old servant of Mr. Lander, named after himself (Aliheli Lander) (…) accompanied Mr. Lander to Fernando Po and back, speaks English, and was subsequently employed by Mr. Beecroft in his voyages up the river, and is well known to many people where the vessels touched. He was slave to king Obi, but got his liberty at his master’s death, as it apears, for his good services to him.” CROWTHER, Samuel. Journal of an Expedition up the Niger and Tshadda Rivers, Undertaken by MacGregor Lairs, Esq. in Connection with the British Government in 1854. Londres: Church Missionary House, 1855.
  • 47
    Lander havia descido o rio até a embocadura para levar os doentes em abril de 1833, estava retornando para a confluência.
  • 48
    IFEMESIA, C. Chieka, British Enterprise on the Niger, 1830-1869, op. cit. Infelizmente, ele não menciona de onde tirou a informação da participação na viagem de Beecroft em 1840. Não consegui encontrar a documentação referente à esta viagem, com exceção das publicações no Journal of Royal Geographic Society, onde não há menções à Aliheli.
  • 49
    LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834, op. cit., v. 1, p. 435.
  • 50
    Além de inglês e possivelmente Igala, al-Hadge certamente falava hauçá, o que tornava suas comunicações possíveis nas redes comerciais e políticas regionais.
  • 51
    “...a few miles from our anchorage we were met by al-Hadge, who had gone out in search of wood for us. He brought us several canoe-loads (...) gave us still better hopes of reaching Rabbah as we had expected.” LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834, op. cit., v. 2, p. 52-53.
  • 52
    Ibidem, p. 66. Malam Dendo controlava naquele momento a facção de exércitos islamizados que foi parte importante durante todo o período de guerras Nupe. KOLAPO, Femi. Military Turbulence, Population Displacement and Commerce on a Slaving Frontier of the Sokoto Caliphate: Nupe c. 1810-1857, op. cit.
  • 53
    “...Knowing us well, and how much we esteemed him, said, that if they did so, they would not have a house standing, for that our great guns would knock them all down at one time!”. LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834, op. cit., v. 2, p. 76.
  • 54
    Ibidem, v. 2, p. 183. É interessante notar também uma característica do texto de Oldfield. Embora al-Hadge já tivesse aparecido diversas vezes na narrativa, como já foi mencionado, ele é “reapresentado” nesta passagem. O texto diz: “Abboka agora interrogava seu principal escravo, al-Hadge, um negro muito inteligente, que nos acompanhou até Fernando Pó como intérprete. Ele foi bem tratado pelo governador Coronel Nicolls, que enviou para Abboka um presente composto de alguma pólvora e dois mosquetões excelentes. (…) al-Hadge sentou com seu mestre por cerca de três horas, relatando todas as coisas estranhas que tinha visto, com muita ênfase aos navios de guerra e aos casarões de Fernando Pó.” “Abbokoa now interrogated his head slave, al-Hadge, a very intelligent black, who had accompanied us down to Fernando Po as interpreter. He had been kindly treated by the governor Colonel Nicolls, who sent Abboka a present of some powder and two excellent muskets.”
  • 55
    KOLAPO, Femi. Post-Abolition Niger river Commerce and the Nineteenth-Century igala political crisis. African Economic History, n. 27, 1999, p. 45-67, p. 48.
  • 56
    Laird, por exemplo, informa que em 5 de dezembro de 1832, os igala estava performando algumas cerimônias à frente do navio, para impedir a continuidade da subida. LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834, op. cit., v. 1, p. 128.
  • 57
    “It appeared that they had received instructions to watch everything on board, and to see what commodities were contained in the vessel; for the sovereigns Attah and Abboka, being extensive merchants, had determined not to allow their subjects to trade until they had selected the best articles for themselves”. Ibidem, v. 2, p. 214.
  • 58
    Segundo Oldfield, o Atah disse que “one of his eunuchs heard Pascoe tell Mr. Lander, in the Houssa language, to get away directly, as the King of Iddah was no good, but a very bad man.” Além disso, relata que o próprio Atah admitiu ter envenenado Pasco, pois alegava ter sido informado de uma conversa entre ele e Lander, em hauçá, na qual Pasco dizia para passar direto por Idah, já que o Atah não era um bom homem. Ibidem, v. 2, p 224. Interessante a importância conferida pelo Atah a Pasco (o que revela no mínimo uma grande proximidade deste com Lander). Allen oferece outra explicação, dizendo que o Atah mandou matar Pasco porque este tinha mostrado o caminho do rio para os europeus. ALLEN, William; THOMSON, Thomas Richard Heywood. A narrative of the expedition to the River Niger in 1841, op. cit., p. 17.
  • 59
    Desde a morte do Obi, não houve definição de seu sucessor. Baikie diz que foi Aliheli quem informou que havia preferência por um de seus filhos, Ajé, mas a situação ainda não estava definida. Ajé estava em Idah naquele momento, e foi Tshukuma, seu irmão mais velho, quem recebeu formalmente a expedição. Ainda segundo Baikie, Tshukuma era representante de Ajé, e foi quem “enviou Aliheli para nos receber”. BAIKIE, William Balfour. Narrative of an Exploring Voyage up the Rivers Kwo’ra and Benue (Commonly Known as the Niger and Tsádda) in 1854, op. cit., p. 43.
  • 60
    Mas de fato, direcionou a comitiva originalmente para um membro do clã Abokko. Okeyin Abokko foi quem negociou, de seu acampamento de guerra na “Ilha Inglesa” (ou mais propriamente Oko-Kein), a visita ao Atah. Baikie informa que o clã Abokko teria a incumbência de apresentar os brancos ao Atah, o que pode remeter à intermediação desempenhada na primeira visita de 1833. Ibidem, p. 55. Aparentemente, entretanto, em 1854 o clã era mais poderoso do que o próprio Atah. Segundo Kolapo, o período entre 1832-1854 foi de perda da autoridade central do Atah, e, consequentemente, de um maior peso para as lideranças locais no controle econômico, social, político e militar, em especial dos clãs que controlavam o comércio no curso do Níger. KOLAPO, Femi. Post-Abolition Niger River Commerce and the Nineteenth Century igala political crisis, op. cit., p. 50. A interpretação de Kolapo vai no sentido, portanto, de apresentar quadro similar ao de certas localidades costeiras como Bonny e Calabar durante o período de “crise de adaptação”.
  • 61
    Estas informações aparecem em LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834, op. cit., v. 2, p. 163, 241, 250, 259, respectivamente.
  • 62
    “Alihéli… to-night, repeated a singular story to me, one which he had told me before, and which he always affirmed to be correct. I do not know what to think of it, as it seems improbable, but yet I have never found Alihéli telling anything approaching an untruth.” BAIKIE, William Balfour. Narrative of an Exploring Voyage up the Rivers Kwo’ra and Benue (Commonly Known as the Niger and Tsádda) in 1854, op. cit., p. 283.
  • 63
    Ibidem, p. 302-303. Mr. Carr havia sumido em 1842, quando voltava de Fernando Pó para a confluência entre o Niger e o Benuê, para comandar a fazenda modelo então instalada pela expedição do ano anterior. As desconfianças recaíram sobre o Obi Ossai, até este testemunho de Baikie.
  • 64
    National Archives, Londres, Série CO 82/9, Beecroft para Nicholls 28 fev. 1936, p. 290.
  • 65
    LAIRD, MacGregor; OLDFIELD, Richard A. K. Narrative of an Expedition into the Interior of Africa by the River Niger, in the Steam Vessels Quorra and Alburkah in 1832, 1833 and 1834, op. cit., v. 1, p. 445. Pode ser que seja erro tipográfico ou confusão do próprio Oldfield. Ressalte-se que ele usa diversas grafias para cidades e pessoas ao longo do relato, além de apresentar o mesmo personagem mais de uma vez, como vimos com o próprio al-Hadge.
  • 66
    Note-se também que foi em 1833 que o clã Abokko retornou para Idah. Não há menções a negociações envolvendo os britânicos para este retorno. Oldfield não estava na primeira subida em 1832, e Laird estava muito doente no período. Mas a coincidência de datas indica ao menos a possibilidade de participação britânica, e, consequentemente, de al-Hadge como intermediário nessas negociações.
  • 67
    CROWTHER, Samuel. Journal of an Expedition up the Niger and Tshadda Rivers, Undertaken by MacGregor Lairs, Esq. in Connection with the British Government in 1854, op. cit., p. 34. “Abokko’s family has ever since been considered, by right, the agent through whom all white men must be introduced to the Atta.”
  • 68
    National Archives, Londres, Série CO 2/23, p. 320.
  • 69
    FERREIRA, Roquinaldo. Cross Cultural Exchange in the Atlantic World. Angola and Brazil during the Era of Atlantic Slave Trade. Cambridge: Cambridge University Press, 2012, p. 248.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Apr 2019

Histórico

  • Recebido
    13 Set 2017
  • Aceito
    22 Fev 2018
Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro Largo de São Francisco de Paula, n. 1., CEP 20051-070, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21) 2252-8033 R.202, Fax: (55 21) 2221-0341 R.202 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: topoi@revistatopoi.org