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O espetáculo da economia: a Primeira Exposição Nacional da Indústria no Império do Brasil, em 1861

The economic spectacle: the First National Industrial Exhibition during the Brazilian Empire, in 1861

El espectáculo de la economía: la Primera Exposición Nacional de la Industria en el Imperio del Brasil, en 1861

RESUMO

O artigo analisa a Primeira Exposição Nacional da Indústria, realizada no Brasil, em 1861, apoiada pelo governo imperial e organizada pela Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional e pelo Imperial Instituto Fluminense de Agricultura. O evento visava preparar a participação do Brasil na Exposição Universal em Londres, a se realizar em 1862. A partir de dados sobre investimentos do governo nesses eventos, objetivo compreender os impactos político e econômico que a Primeira Exposição representou para o país, considerando os produtos e os recursos naturais descritos no Relatório geral da Exposição Nacional de 1861 e no Relatório dos Jurys Especiais.

Palavras-chave:
Exposição Nacional da Indústria; exposições universais; século XIX

ABSTRACT

The article analyzes the first National Industrial Exposition in Brazil, which occurred in 1861 and was designed to prepare Brazilian industrialists for a global exposition in London the following year. The imperial government sponsored the event and the Sociedade Auxiliadora da Industria Nacional and the Imperial Instituto Fluminense de Agricultura organized it. This paper explores the political and economic impact of this first exhibition by examining data on government investment in the event and analyzing the natural products and resources described in the General Report of the National Exposition of 1861 and the Special Jurys Report.

Keywords:
National Industry Exposition; Universal Exhibitions; nineteenth century

RESUMEN

El artículo analiza la Primera Exposición Nacional de la Industria, realizada en Brasil, en 1861, apoyada por el gobierno imperial y organizada por la Sociedad Auxiliadora de la Industria Nacional y por el Imperial Instituto Fluminense de Agricultura. El evento visaba preparar la participación de Brasil en la exposición universal en Londres, que se realizaría en 1862. A partir de los datos de inversiones del gobierno en estos eventos, pretendo comprender el impacto político y económico que la primera exposición representó para el país, considerando los productos y recursos naturales descritos en el Relatório Geral da Exposição Nacional de 1861y en Relatório dos Jurys Especiais.

Palabras clave:
Exposición Nacional de la Industria; Exposiciones Universales; siglo XIX

Os espetáculos da indústria no Brasil

A organização da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (SAIN) e do Imperial Instituto Fluminense de Agricultura (IIFA) imprimiu um aspecto singular nos procedimentos adotados pelo governo imperial brasileiro para apresentar o país nas exposições universais da indústria do século XIX, a partir de 1862. A decisão de fazer parte desses espetáculos foi tomada com ressalvas. Em debates travados dentro da própria SAIN1 1 As questões controversas se encontram nas páginas do Auxiliador da Indústria Nacional, disponível em: http://bndigital.bn.br/acervo-digital/auxiliador-industria-nacional/302295. Acesso em 15 nov. 2018. , a participação do Brasil era vista como oportuna e, ao mesmo tempo, causadora de incômodo. Os pontos centrais da contrariedade foram apresentados em debates diversos que sinalizavam a preocupação com a exibição da escravidão, as dificuldades em incorporar novas técnicas na produção agrícola e a falta de estrutura para impulsionar a produção fabril e o processo de industrialização no país.

As grandes exposições oitocentistas não eram homogêneas. Segundo Lúcia Guimarães, originaram-se de uma tradição francesa de promoção de feiras da indústria no país a cada cinco anos, desde 1798. No entanto, a exposição londrina de 1851 marcara a proeminência industrial, econômica e política mundial da Grã-Bretanha, já que esses eventos reuniam todos os campos da atividade agrícola, industrial e das belas-artes (GUIMARÃES, 2002GUIMARÃES, Lúcia. Exposições. In: VAINFAS, Ronaldo. (dir.). Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. p. 252-253., p. 252-253). As exposições tornaram-se então o espelho das invenções, das novidades na produção fabril e da consolidação da indústria como símbolo do progresso humano. Além disso, o espetáculo apresentado às nações era carregado de novos sentidos políticos que davam relevo aos países em franca industrialização.2 2 Importantes estudos sobre exposições universais e seus impactos no Brasil oitocentista são PESAVENTO, 1997; KUHLMANN JR., 2001; NEVES, 1986. Para uma excelente análise da historiografia sobre as exposições universais, cf. SANJAD, 2017. Com efeito, segundo Silva (1992SILVA, José Luiz Werneck da. As arenas pacíficas do progresso. As exposições internacionais do século XIX. Tese (Doutorado em História), Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal Fluminense, 1992., p. 84), o significado social das feiras para a história comercial da Europa ao longo dos séculos se modificou essencialmente nos oitocentos, atendendo aos anseios e interesses da burguesia e distinguindo-se, não apenas como espaço de vendas, mas como um potencial lugar de fomento a ideologias, ao conhecimento e de práticas diversas.

Desde a primeira iniciativa londrina de 1851 à explosão das que se seguiram na segunda metade do século XIX em vários países, houve, paralelamente, um significativo aumento do interesse e da presença efetiva de pessoas de diferentes origens sociais nos eventos. Tal intensidade,3 3 Na exposição de 1851, em Londres, compareceram 6.039.150 visitantes e 13.937 expositores, ao passo que, na exposição parisiense de 1900, houve 32.250.297 visitantes e 61.722 expositores (PLUM, 1979). todavia, passou a representar as feiras também como um espaço crucial de concorrência, de negociações comerciais, de divulgação das invenções e de demonstração dos avanços tecnológicos dos países europeus e dos Estados Unidos, mas não apenas. A proliferação de novos produtos e a ampla participação de nações envolvidas, de expositores e de visitantes demonstram que, ao longo da segunda metade dos oitocentos, as feiras eram o mais significativo espaço de divulgação comercial de produtos diversos. A partir delas gerou-se um eixo de circulação de ideias e de técnicas (PLUM, 1979) que reforçavam o desenvolvimento acelerado da produção dos países do Atlântico Norte em contraposição à subordinação do restante do mundo. Ainda que diversos países estivessem presentes nas exposições internacionais de aparente simetria, as desigualdades entre as várias partes do mundo também estavam ali expressas, mesmo que mitigadas pela ilusão de que as novidades do progresso e da modernidade se tornavam acessíveis a todos.

Entre os anos 1850 e o final do século esse crescimento das exposições universais da indústria assumiu variados significados. A atração principal concentrada na indústria e nas invenções tecnológicas, exibindo o passo à frente dado pelas nações do Atlântico Norte perante o mundo, não foi sempre a principal vitrine no decorrer do período, ao menos nos países fora do grande eixo de industrialização. Nesse percurso, inicialmente a expansão da industrialização propiciava um campo de atenções internacionais na disputada concorrência entre o que era produzido por cada nação, inclusive demonstrando as mudanças das bases produtivas mediante as inovações tecnológicas. Conforme Rozendo Muniz, a ênfase genuína no inventário das forças produtivas dos países e das riquezas naturais era a base dos grandes eventos:

No apparato, nas galas e nos ornamentos deslumbrantes vae motivo secundário de honra e de fausto para a magestade da civilisação, cujo principal escopo nas exposições é inventariar as forças productivas naturaes e artificiaes de cada paiz [...]4 4 MUNIZ, Rozendo. Exposição Nacional: notas e observações. Rio de Janeiro: Typografia Nacional, 1876, p. 3-15. .

No Brasil, as considerações feitas pelo Marquês de Abrantes, então presidente do conselho administrativo da SAIN, e por Militao de Villanova Machado, secretário-geral da SAIN, expressas em correspondência enviada ao Muniz da Silva Ferraz, ministro e secretário de Estado dos Negócios da Fazenda do império, publicadas no Auxiliador da Indústria Nacional,5 5 O Auxiliador da Indústria Nacional, 1º de fevereiro de 1860, p. 73-77. Relatório dos trabalhos da SAIN durante o ano de 1859. demonstram a mudança de sentido que as exposições assumiram ao longo dos anos. Os missivistas avaliavam a pertinência, as vantagens e as desvantagens da participação do Brasil nas exposições. Em suas percepções, retratavam a mudança de objetivos das grandes feiras que, de espaços de venda, converteram-se em locus de concorrência entre as nações. Com efeito, as feiras assumiram diferentes conotações, atreladas cada vez mais aos interesses nacionais dos Estados em suas múltiplas ações políticas, ideológicas, econômicas e diplomáticas (SILVA, 1992SILVA, José Luiz Werneck da. As arenas pacíficas do progresso. As exposições internacionais do século XIX. Tese (Doutorado em História), Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal Fluminense, 1992., p. 80).6 6 Aqui Werneck da Silva analisa, em seu terceiro conjunto de hipóteses, as “razões de Estado” presentes nas exposições, atendendo tanto às velhas nações como aos interesses das novas.

Isso nos leva ao segundo aspecto assumido pelas exposições, o qual demostra forte assimetria, isto é, explicitavam-se as diversas áreas de expansão produtiva dos países e também das colônias, dando relevo ao potencial de cada uma delas no campo do desenvolvimento tecnológico, industrial, científico e na capacidade de fornecimento de matérias-primas. Não se tratava só de relação comercial, mas de um ambiente propício à visibilidade do poder de umas nações sobre outras, posto que as feiras visavam, na perspectiva dos países em processo de industrialização, caracterizar diferenças entre o “avanço” e o “atraso”, a “civilização” e a “barbárie”. Os recursos naturais, as commodities da produção capitalista, um dos nós da concorrência industrial na segunda metade do XIX, eram centrais na assimetria propositalmente narrada pelas nações imperialistas nos espaços de exibição (RYDELL; FINDLING; PELLE, 2000RYDELL, Robert; FINDLING, John; PELLE, Kimberly. Fair America: world’s fairs in the United States. Washington and New York: Smithsonian Books, 2000.). O convite aos países periféricos não industrializados ou a inserção das colônias era fundamental para garantir a diversidade dessa “catalogação mundial” exposta, mapeando produtos diversos produzidos pela natureza ou pelo trabalho.

Pelo exposto, um nó dessa análise7 7 O destaque para a importância dos recursos naturais foi tratado, entre outros, na tese de CRIBELLI, 2009. são os múltiplos significados das exposições, marcadas pela presença maciça de produtos diversos oriundos de florestas, reservas naturais e solos diferenciados pelo mundo afora. Encontrava-se nos estandes cada vez mais repletos de materiais os recursos naturais vindos de áreas periféricas de países industrializados, como os do Sul dos Estados Unidos, das colônias da África e da Ásia e dos países da América Latina. Nesse sentido, os recursos naturais foram centrais nas exibições, constituindo-se em ponto de partida importante para a organização de eventos. Foi a partir daí que o Brasil se destacou em suas demonstrações de estímulo ao fomento da produção agrícola e de reserva de recursos naturais em catalogação.

Portanto, fundamental aqui é caracterizar o tipo de participação brasileira nas exposições internacionais, nomeadamente calcada na abordagem da Primeira Exposição, em 1861, perscrutando os debates que a circundam, a presença austera da SAIN na organização e os interesses em jogo.

A I Exposição Nacional e o empenho financeiro do governo

O ingresso do Brasil nas exposições universais a partir de 1862 deixa entrever a polêmica interna sobre o haver ou não vantagens da participação brasileira. O forte investimento do governo imperial implicou incentivo político-administrativo e apoio logístico efetivo para a montagem da exposição. A inserção brasileira, no entanto, implicava esforços que abrangiam uma prévia avaliação dos produtos nacionais expostos nas províncias: seleção, exibição e premiação. Essas três etapas abarcavam, necessariamente, o envio dos produtos coletados por todas as províncias à corte do Rio de Janeiro, palco de exibição dos variados itens com potencial para a exibição internacional. Ou seja, a organização de exposições nacionais significava uma espécie de triagem de produtos, criações artísticas ou invenções a serem posteriormente expostas no exterior.

Logo de início, a própria catalogação era de caráter quase enciclopédico no sentido de registrar tudo o que fosse das ordens da natureza e da sociedade, pois era preciso bem exibir o país. Assim, a catalogação atendia a dois aspectos. Primeiro, tratava-se de um mapeamento geral das condições sociais, administrativas, técnicas e produtivas do país que expressassem valorização dos elementos nacionais, ou seja, catalogar era também valorizar, enaltecer elementos e destacá-los em favor do próprio projeto imperial. Correspondiam àquela “homogeneização da visão de Brasil”, da qual nos falava Guimarães (1988)GUIMARÃES, Lúcia. Exposições. In: VAINFAS, Ronaldo. (dir.). Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. p. 252-253.. Em segundo lugar, a catalogação tinha uma função política mais ampla, na medida em que informava aos países industrializados com interesse na exploração dos recursos naturais o que o Brasil tinha a oferecer.

Ou seja, a vasta catalogação em relevo nas exposições brasileiras fazia parte de um conjunto de interesses que, se atendiam à dinâmica imperialista, por outro lado também respondiam aos anseios dos setores agrícolas beneficiados internamente com essas ações. Como se vê no Relatório geral da Exposição Nacional de 1861 e Relatório dos Jurys Especiais, expresso esse intuito: “Um dos beneficios que a actual Exposição pode fazer, é tornar conhecidos nos países industriosos um grande número de substâncias que o nosso atrasado estado de indústria não nos deixa aproveitar”.8 8 CUNHA, Antonio Luiz Fernandes da. Relatório geral da Exposição Nacional de 1861 e Relatório dos Jurys Especiais. Rio de Janeiro: Typografia do Diário do Rio de Janeiro, 1862, p. 30.

Tomando como exemplo o catálogo da exposição do Brasil na Filadélfia, em 1876, já constituído de forma mais ampla que o da exposição de 1862, constata-se ser ele composto por 579 páginas distribuídas em várias seções.9 9 O catálogo era dividido nas seguintes seções: Reino Animal, Reino Vegetal, Reino Mineral, Águas Mineraes, População, Constituição do Brazil, Divisão do Império, Força pública, Arsenaes de Guerra, Presídios e Colônias militares, Marinha Brazileira, Pharoes, Pharoletes, Cultural intelectual, Museus de História Natural, Bibliotecas, Imprensa, Associações científicas, literárias e industriaes, Theatros, Docas, Pesos e medidas, Agricultura, Institutos Agrícolas, Indústria, Correio, Telégraphos elétricos, Vias de Comunicação, Immigração e Colonisação, Catechese, Estrangeiros, Naturalização, Fazenda Nacional, Dívida Pública, Systema monetário, Casa da Moeda, Commercio, Praças de Commercio, Instituições Bancarias, Companhias Anônimas, Estabelecimentos de Caridade, Associações Criativas e Beneficentes, Montes Pios, Casas de Correção, Iluminação Pública, Município da Capital do Império, Exposições Industriaes, Commissão Directora da Exposição Nacional. A abrangência dos aspectos elencados confirma a vasta expectativa em apresentar o que o Brasil podia oferecer em termos de produtos, mas também a forma como estavam dispostas as riquezas naturais em seu território.

Difícil pensar, no entanto, que tanto esforço e recursos, além dos infindáveis debates políticos sobre a presença do Brasil nesses eventos, tenha sido dispendido prioritariamente apenas pelo desejo do imperador em inserir o Brasil no âmbito das nações modernas e “civilizadas”, trazendo ao país seu deslumbre com as recentes invenções. Toda essa mobilização para a organização das exposições demandou uma aposta financeira alta do governo e de importantes instituições do império comprometidos com todo o processo que envolvia a exposição dos produtos, desde a Exposição Nacional até a chegada deles ao exterior: transporte interno e externo, acondicionamento adequado, tratamento adequado das espécies por especialistas, montagem dos estandes no Brasil e no exterior, organizadores, comissões julgadoras, premiações, produção de catálogos imensos etc. Todo esse empenho havia de trazer significativos ganhos, que se vinculavam sobretudo às esferas econômica e, como veremos adiante, diplomática, mas também contribuíam fortemente para o amálgama interno dos contornos nacionais que o império fomentava em prol da classe dominante.

Com esse intuito organizava-se a Primeira Exposição Nacional da Indústria, em dezembro de 1861, na corte do Rio de Janeiro, com a finalidade de selecionar os produtos a serem enviados à Exposição Universal de 1862, em Londres. Contando com mais de 50 mil visitantes, o primeiro evento organizado no Brasil surpreendeu pelo sucesso no número de expositores, de produtos e de visitantes. Então, foram publicados os Catalogos dos Produtos Naturaes e Industriaes remettidos das províncias do Império do Brazil, com minuciosa descrição dos produtos da fauna, flora, recursos naturais e invenções diversas enviadas por cada uma das províncias.10 10 Catálogo dos produtos naturaes e industriais remetidos das províncias do Império do Brazil. Rio de Janeiro: Typographia nacional, 1862. Cf. SANTOS; TORRES, 2012. Da mesma forma, incentivou-se as províncias a organizarem suas exposições locais, criando-se para tanto as Instrucções para as Exposições agrícolas nas Províncias do Império.

Essa primeira exposição foi realizada na Escola Central, no Largo de São Francisco, prédio adequado para a instalação dos estandes e exposição dos produtos divididos em grupos: indústria agrícola, indústria fabril e manual, indústria metalúrgica, artes e produtos químicos, artigos manufaturados e belas artes.

Figura 1:
Exposição Nacional

Cabe sublinhar que esse evento esteve sob a alçada do Ministério do Comércio e Obras Públicas, criado em 1860, ao qual estavam ligados a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (SAIN) e o Imperial Instituto Fluminense de Agricultura (IIFA), instituições que estiveram à frente dessa primeira e das exposições seguintes. De cunho privado e financiadas pelos sócios, atuaram fortemente nas discussões sobre produção industrial e agrícola no país, com papel destacado no empenho organizacional desses grandes eventos.

Em seguida, a chamada “febre de exposições” se espalhou por várias províncias, algumas das quais organizaram exposições regionais periodicamente, como aconteceu em outros países no período. Além disso, difundiram-se exposições de caráter mais específico sobre determinados ramos do conhecimento, tais como exposição agrícola, exposição artística etc. Ou seja, disseminou-se certa cultura de exposições que atingiria a elite intelectual oitocentista (GUIMARÃES, 2002PESAVENTO, Sandra. Imagens da nação, do progresso e da tecnologia: a Exposição Universal da Filadélfia de 1876. Anais do Museu Paulista, v. 2, n. 1, São Paulo, 1994., p. 253), associada a noções relacionadas à instrução. Eram exposições vistas como espaço de trocas de invenções, de saberes e de informações, com vistas ao implemento de condições para o progresso, ao mesmo tempo que pretendiam consolidar ali as condições vitais para o estímulo ao desenvolvimento da indústria. Nesse ponto, é importante notar a força idealizadora e promotora das exposições organizadas pela SAIN.11 11 De acordo com Momesso: “No ano de 1824, quando não havia política orientada para a produção interna, Ignacio Alves Pinto, fabricante de aguardente, encaminhou a D. Pedro I os estatutos de uma sociedade que beneficiaria a ‘indústria nacional’, estabelecendo um depósito e conservatório de máquinas e moldes. O tribunal da Junta aprovou a existência da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, considerando que ela poderia ser de muita ‘utilidade no adiantamento da agricultura e das artes’. O mesmo Ignacio Alves Pinto trabalharia sistematicamente para organizar a Exposição Nacional da Industria do ano de 1861” (2007, p. 44).

Na introdução de Recordações da Exposição Nacional de 1861, de caráter iconográfico, escrita pelo Marquês de Abrantes, descrevia-se que a Primeira Exposição Nacional fora mencionada por brasileiros e estrangeiros como “o primeiro e apressado inventário das forças produtivas no Brasil”.12 12 Recordações da Exposição Nacional de 1861. Instituto Artístico de Fleiuss Irmãos & Linde, Typographia Universal de Laemmert, 1862, p. 3. Rio de Janeiro, 1862. Disponível em: http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/icon493895/icon493895.pdf. Acesso em: 31 out. 2017. Apesar disso, a exposição teve um sucesso de presença de expositores e visitantes e consagrou-se como um primeiro mapeamento geral dos recursos naturais e manufatureiros das diversas províncias, ainda que bem preliminar e incompleto, diante do que foi apresentado nas exposições seguintes. Ainda segundo o Marquês, esse primeiro evento nacional produziu outros frutos de maior valia, quais sejam, a concorrência e a comparação de diversos produtos, na promoção do aprendizado mútuo entre todos os que expunham os defeitos e davam-se à oportunidade de aprender aperfeiçoamentos.13 13 Idem.

A primeira exposição organizada na Corte envolveu um aparato significativo para receber produtos e visitantes, manter a exposição funcionando durante 16 dias e desempenhar a contento todo o procedimento de avaliação, seleção e premiação dos itens expostos. Para isso, o empenho em financiamento pago pelo Tesouro às províncias destinava-se em maior quantia àquelas que recolhiam produtos de regiões vizinhas e as organizavam para o envio até a Corte, como foi o caso do Pará. Com participação das províncias, o evento se tornou maior do que previa a comissão organizadora. Segundo o Relatório da Comissão, todo o edifício da Escola Central ficou lotado de produtos:

Suppoz-se no princípio que os objectos expostos mal occupariam algumas das salas do edificio da Escola Central, destinado para Palácio da Exposição Nacional; entretanto encheram-se todas as salas, vestibulos, galerias, páteos e terraços desse vasto edifício; que ficou de ta1 modo repleto que os objectos não puderam ser dispostos de um modo conveniente e methodico.14 14 CUNHA, Antonio Luiz Fernandes da. Relatório geral da Exposição Nacional de 1861 e Relatório dos Jurys Especiais, op. cit., p. 12.

O relato evidencia a forma confusa com que os produtos chegaram à Exposição Nacional, grande parte dos quais na véspera ou depois de já iniciado o evento; alguns, como os da Província do Rio Grande do Sul, depois mesmo de terminada a feira. Por outro lado, as Exposições Provinciais sugerem um empenho significativo na seleção e no envio dos produtos, apesar do pouco tempo e de dificuldades de transportes. O relatório descreve os esforços das exposições e remessas de produtos do Pará, Amazonas e Pernambuco, que recebeu e reenviou itens de Alagoas, Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará e Piauí, províncias que apresentaram maior riqueza de produtos. Mais simples foram os catálogos remetidos por Minas, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo, Sergipe e Rio Grande do Sul. Mato Grosso e Goiás foram representados apenas por dois expositores de minerais, segundo o relatório. São Paulo e a Corte também expediram poucos produtos, de poucos expositores, segundo a descrição. Essas exposições provinciais já eram um sucesso de participação de público, superando a expectativa dos organizadores. Somente a de Pernambuco, em sete dias, recebeu 12.357 pessoas. Esse interesse e receptividade para os eventos explicam o enorme êxito alcançado também pela Exposição Nacional na Corte e a afluência de visitantes de outras partes do império, como se vê no quadro 1:

Quadro 1:
Número de expositores

Essa primeira iniciativa foi considerada muito exitosa, embora, se vista no cômputo geral das exposições nacionais realizadas no oitocentos, ela aparente pequenez, com um formato mais experimental. O relatório da exposição de 1875 se referiu à congênere de 1861 como portadora do “encanto da prioridade”,15 15 MUNIZ, Rozendo. Exposição Nacional: notas e observações, op. cit., p. 189-194. e até porque os catálogos posteriores eram mais precisos e completos. No entanto, na exposição de 1861 o império inaugurava seu repertório nacional e fomentava a grande amostra da produção brasileira.

Em relação aos produtos expostos os números são importantes. Ainda que muitos produtos de outras províncias tenham sido apresentados por expositores da Província do Rio de Janeiro, possivelmente pelas dificuldades de deslocamento, foi expressiva a quantidade de artigos diversos expostos pelas províncias (quadro 2).

Quadro 2:
Produtos expostos

O relatório sublinha as estatísticas da Exposição Nacional. Aberta entre 2 de dezembro de 1861 e 6 de janeiro de 1862, 42 dia de exposição (excetuados três feriados), o total de visitantes atingiu 50.739 pessoas. Em seis dias em que a entrada foi gratuita houve 32.286 visitantes; em 29 dias nos quais se cobrou 1$ pela entrada, 11.281 visitantes; e em sete dias a 500 rs, 7.172.16 16 CUNHA, Antonio Luiz Fernandes da. Relatório geral da Exposição Nacional de 1861 e Relatório dos Jurys Especiais, op.cit., p. 14-20. Talvez este tenha sido o ponto mais surpreendente, pois a feira tinha potencial para atrair um grande público, muito além do previsto mesmo num país periférico sem investimento ou fomento à industrialização. Todos os recursos dotados pelo governo para transporte dos produtos das províncias para a Corte, acondicionamento dos produtos, montagem dos estandes, premiações, transporte para a Inglaterra, tarifas e instalação da exposição brasileira em Londres, em 1862, significaram um total de gastos no valor de 77.084$420.

Foram selecionados na Exposição Nacional e enviados para Londres 1.495 produtos, distribuídos em 39 grupos (quadro 3 ).

Quadro 3:
Produtos selecionados para a Exposição Universal de 1862

Ao longo das décadas seguintes os gastos dispendidos nas exposições tiveram expressivo aumento, indicando que, aos olhos dos organizadores, do governo e das instituições promotoras, elas apresentariam satisfatório retorno. Era um alto investimento que deveria responder à altura das expectativas dos que investiam nos eventos.17 17 Outros dados em: Archivos da Exposição da Industria Nacional: actas, pareceres e decisões do jury geral da exposição da industria nacional realizada no Rio de Janeiro em 1881. Rio de Janeiro: Typografia Nacional, 1882. Biblioteca da Associação Industrial. Introdução de Antonio Augusto Fernandes Pinheiro. Essa fonte apresenta números diferentes para a presença nas exposições. O total de visitantes seria de 18.453 pessoas. Mais precisos, os dados do Relatório são ricos em detalhes e constituem uma fonte importante com o resultado sobre o evento e com os valores financeiros arrecadados em relação ao número de presentes.

Villela Luz considerou as exposições de 1861 e de 1866 realizadas no império como entusiastas da nascente indústria (LUZ, 1978LUZ, Nícia Vilela. A luta pela industrialização no Brasil. São Paulo: Editora Alfa-Ômega, 1978., p. 45), ao mesmo tempo em que salienta o que ela denominou “indiferença” e “malevolência” de alguns em relação aos eventos. Esse entusiasmo remete exatamente ao forte empenho dispendido pelo governo para atender aos interesses diversos daquele momento, ainda que a maior contemplada tenha sido, sem dúvida, a própria indústria exportadora agrícola. Ao mesmo tempo o desdém foi aludido na documentação da SAIN, algumas vezes indicando a má vontade na participação de empresas e produtores ingleses radicados no Brasil para com as exposições.

O valor dos gastos dispendidos pelo governo nessa Primeira Exposição Nacional e nas seguintes são caminhos para compreender, antes de tudo, a precisa avaliação coeva sobre os investimentos realizados nos eventos, o cálculo do alcance, os interesses a serem atingidos e o retorno que o investimento traria para determinados setores da economia brasileira e para a própria política imperial. Apresentava-se como experiência inaugural da projeção das riquezas nacionais para o mundo, mas afirmava um lugar dentro do circuito comercial que se abria à circulação internacional de commodities.

O envio dos produtos nem sempre envolvia critérios tão óbvios de seleção e mesmo de reconhecimento sobre os benefícios de sua exposição, como foi o caso de substâncias de caráter medicinal enviadas à corte sem o devido aval de médicos. O catálogo de 1862 chega a mencionar que um grande número delas foi submetido à exposição da Corte, mas “[...] sendo este um assunto muito delicado e sobre o qual só se deve falar depois de experiências feitas com o devido critério por médicos reconhecidos experimentadores, a Comissão abstem-se de emitir sua opinião [...]”.18 18 Catálogo dos produtos naturaes e industriais remetidos das províncias do Império do Brazil. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1862. Tratava-se, em quantidade, do segundo produto a ser exposto pelo Brasil em Londres.

A seleção abrangia amostras de muitos e diversificados itens da flora e fauna, muitos que necessitavam de acondicionamento adequado, além de sua eficácia aprovada e reconhecida por pares profissionais, como o caso de produtos de uso medicinal. Esse era o aspecto que envolvia também a credibilidade sobre aquilo que era apresentado como resultado do trabalho, elemento fundamental para caracterizar o que podia se destacar como objeto de exposição. Além do resultado do trabalho, o item deveria ser reconhecido no meio científico ou com valor de mercado.

O envolvimento pessoal do imperador com a exposição foi notório19 19 Sobre o perfil político e intelectual do imperador, ver CARVALHO, 2007. . Para o desenlace do evento ele próprio recomendou às províncias que enviassem para a Corte “os objectos capazes de dar ideia dos differentes ramos de industria das respectivas províncias”20 20 Catálogo dos produtos naturaes e industriais remetidos das províncias do Império do Brazil. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1862, p. 8. , o que atesta sua pressão direta sobre os presidentes de províncias para a participação nas feiras. Isso, de certa forma, explica muito dos números relacionados a essa grande participação de expositores e produtos no primeiro evento, apesar das dúvidas, incertezas e desconfianças de proprietários diversos e sobre a recepção do público. De acordo com Freitas Filho (1991FreitasFILHOAlmir Pitta. Tecnologia e escravidão no Brasil: aspectos da modernização agrícola nas exposições nacionais da segunda metade do século XIX (1861-1881). Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 11, n. 22, p. 71-92, mar./ago.1991.), as exposições nacionais, na definição de Frederico Leopoldo César Burlamaque, secretário perpétuo da SAIN, e também secretário da comissão organizadora da I Exposição Nacional de 1861, não se constituíam em “meros espetáculos de curiosidade, mas sim um grande ensino para a agricultura, a indústria, o comércio e as artes [...] um inquérito palpável, um inventário da riqueza pública, um grande passo na via do aperfeiçoamento e do progresso”.21 21 Exposição Nacional de 1861. Documentos officiaes relativos à Exposição Nacional de 1861 [...]. Rio de Janeiro: Typografia do Diário do Rio de Janeiro, 1862.

Nesse esforço, o governo publicou também as “Instruções para as Exposições Agrícolas nas Províncias do Império”, que, em 22 artigos, indicava como os eventos nas províncias deveriam ser organizados. Nas instruções, algumas províncias foram designadas para abrigar as exposições regionais, recebendo de regiões mais próximas produtos comercializáveis, fabris ou técnicos. Pará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e São Pedro foram as capitais escolhidas para abrigar as amostras. As províncias do Nordeste apresentaram maior variedade de produtos se comparadas a São Paulo e ao Centro Sul.

Na I Exposição priorizou-se apresentar instrumentos de beneficiamento de produtos agrícolas, indicados no Catálogo dos produtos naturais e industriais que figuram na exposição nacional de 1861.22 22 Catálogos dos Produtos Naturaes e Industriais Remettidos das Províncias do Império do Brasil, Typographia Nacional: Rio de Janeiro, 1861. Talvez a importância das feiras nacionais e dos melhoramentos propostos contribua ao entendimento de tanto deslocamento de visitantes para os eventos num país de dimensões continentais. Alguns beneficiamentos estavam adequados, por exemplo, ao que era útil para agricultores e produtores no Brasil, menos preocupados com inventos que agradassem aos olhos estrangeiros e mais atentos aos benefícios cotidianos da produção agrícola. Interessante também observar que o júri da exposição indicou quais seriam as invenções e necessidades mais urgentes para a lavoura do país, indicando a utilização das máquinas como “um processo auxiliar na substituição da mão-de-obra escrava que escasseava”.23 23 Idem.

As mudanças suscitadas nos objetivos traçados pelas exposições nacionais também revelam preocupação com aspectos que envolviam a vida de trabalhadores: a disciplina do trabalho, a higiene, a moral e os vícios; tudo isso era tema de divulgação e consumo. No Brasil o periódico publicado pela SAIN, O Auxiliador da Indústria Nacional24 24 O Auxiliador da Indústria Nacional circulou entre 1833 e 1892, tendo produzido 720 números. Periódico mensal, era editado pela Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional. Com a queda da monarquia, sua tiragem tornou-se irregular e ele parou de circular em 1903. Ver COSTA, 2012, p. 151-155. , relacionou a economia doméstica nas exposições universais com publicações de caráter didático para os trabalhadores.

Aliás, segundo Murasse, esse foi o propósito do Auxiliador da Indústria Nacional, o caráter educativo associado à difusão de conhecimento útil aos “homens industriosos”. Assim, os artigos do periódico se dedicaram a tratar de temas caros em publicações similares em outros países cujos interesses já versavam nos estandes das exposições internacionais, tais como conhecimento associado à agricultura, economia doméstica, artes, medicina prática, economia rural e industrial etc. (MURASSE, 2006). O relato das recordações da I Exposição aludem enfaticamente a esse intuito instrutivo das feiras ao dar destaque ao caráter de ensino mútuo presente nos eventos, na medida em que eram divulgados beneficiamentos que concorreriam para a melhoria geral dos processos inventivos e produtivos no país, nos quais a concorrência também era vista positivamente para esse estímulo.25 25 Recordações da Exposição Nacional de 1861, op. cit., p. 6.

Esse propósito pedagógico marcou um ideal da SAIN de se consolidar como referência e porta-voz desse universo ligado a vários setores produtivos no Brasil, pelo menos até os anos 1880, o que nos remete ao entendimento do próprio significado de indústria no século XIX. Esse tema, já tão bem analisado na historiografia (BEAUCLAIR, 1992BEAUCLAIR, Geraldo. Raízes da indústria no Brasil. Rio de Janeiro: Studio F&S Editora, 1992.; SILVA, 1979SILVA, José Luiz Werneck da. Isto é o que me parece: a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (1827-1904) na formação social brasileira. A conjuntura de 1871 até 1877. 2v. Dissertação (Mestrado em História), Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal Fluminense, 1979.), redimensiona o termo indústria no período, que não se confunde com os sentidos modernos. Tratava-se de pensar de forma mais ampla as esferas produtivas da economia como um todo. Os próprios estatutos da SAIN já mencionavam essa ampla conotação, e, embora reconhecessem a aplicação específica à produção manufatureira, destacavam a indústria como síntese do tripé da produção agrícola, artesanal e comercial. Assim, apenas mais tarde o termo indústria foi especificamente associado à esfera fabril; no século XIX à indústria estavam ligadas todas as acepções de invenção, criação e produção, especialmente quando a estes se atribuía um valor econômico associado. E esse sentido amplo nos ajuda a entender a própria composição diversificada SAIN, que abrigava quadros pertencentes a vários âmbitos da produção nacional, agricultores, fabricantes, artistas, comerciantes, “ou seja, todos aqueles capazes de prover a indústria” (SILVA, 1979SILVA, José Luiz Werneck da. Isto é o que me parece: a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (1827-1904) na formação social brasileira. A conjuntura de 1871 até 1877. 2v. Dissertação (Mestrado em História), Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal Fluminense, 1979., p. 95).

Impacto político e econômico das exposições para o Brasil

De fato, é fundamental analisar as exposições no seio das transformações do capitalismo liberal concorrencial para o capitalismo financeiro (SILVA, 1992SILVA, José Luiz Werneck da. Isto é o que me parece: a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (1827-1904) na formação social brasileira. A conjuntura de 1871 até 1877. 2v. Dissertação (Mestrado em História), Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal Fluminense, 1979., p. 40), entendendo esses eventos no processo de afirmação dos vários setores da burguesia e de seus projetos políticos e econômicos. Nesse sentido, se por um lado esses eventos exaltavam o progresso, também eram carregados de silenciamento a respeito de todo problema social que se opunha à imagem do progresso, da modernidade e da ideia ufanista do processo de industrialização. Foram terrenos férteis, portanto, para serem semeadas as ideologias do século XIX que embasaram tanto a consolidação capitalista quanto um projeto de ideal burguês, vinculados a uma noção de desenvolvimento articulada ao processo de desenvolvimento tecnológico.

Dentro dessa perspectiva mais ampla, as nações periféricas e as regiões coloniais inseriam-se como peças da engrenagem econômica de sustentação ao capitalismo, mas que em grande medida a elas também interessava. Representavam, em diferentes escalas, a expressão do atraso em relação às nações industrializadas e, por outro lado, eram incorporadas às feiras numa aparente simetria na qual todas elas poderiam fazer parte das mesmas festas, para a qual eram convidadas e optavam por participar. No caso do Brasil esse lugar foi peculiarmente composto. Sua posição estratégica na América Latina, a partir de suas dimensões continentais e fronteiras com diversos países, atraía os interesses político-estratégicos dos países centrais26 26 Heizer chama atenção para a singularidade dos projetos dos países da América Latina, que buscavam distinguir-se no contexto internacional ao se apresentarem. Nesse intuito, por exemplo, Brasil e Argentina expunham ao mundo o que queriam dizer de si mesmos. Ver HEIZER, 2010, p. 1-16 , ao mesmo tempo que internamente se costuravam os acordos que levavam o país a expor sua produção e suas riquezas naturais ao mundo.

Todavia, na perspectiva do governo imperial, as exposições também serviram a arranjos políticos internos no momento de consolidação do poder saquarema numa conjuntura importante para a composição de um projeto nacional imperial (MATTOS, 1987MATTOS, Ilmar Rohloff de. O Tempo Saquarema. São Paulo: Hucitec, 1987.). Nos anos 1850 foram feitas mudanças legislativas profundas determinando um novo rumo para as decisões políticas e econômicas do império, sobretudo no tocante ao comércio de escravos, à política de terras e às práticas comerciais. A participação do país nas exposições portava a dupla tarefa de, por um lado, identificar as múltiplas características da produção da riqueza nacional, e, de outro, expor o que mais diretamente fazia parte da pauta econômica dos interesses externos diplomáticos. Nessa segunda direção, houve aprofundamento das relações diplomáticas com os demais países, algo bem retratado nas exposições das décadas seguintes, sobretudo na exposição comemorativa do centenário da Independência dos Estados Unidos de 1876, na Filadélfia, onde o próprio imperador do Brasil se fez presente.27 27 Sobre a presença do imperador nessa exposição e seu significado para o Brasil, ver SCHWARCZ, 1998, p. 385-407; PESAVENTO, 1994; CRIBELLI, 2009, p. 223-254; MACHADO, 2017.

Essa tomada de posição do Brasil fazia parte de uma agenda econômica diversificada. O crescimento das exportações brasileiras de café, açúcar e algodão, bem como o investimento no comércio de matérias-primas desejáveis a indústrias recém-instaladas na Europa e Estados Unidos, produziu um ambiente favorável à apresentação do Brasil perante o mundo no século XIX. Sob a pressão de produtores diversos e pauta antiga da própria SAIN, a monarquia se convenceu disso e decidiu impulsionar o Brasil a participar das grandes exposições. Seria um estímulo para espetacularização da nação, tornando seus símbolos nacionais também objetos de atração aos olhares internacionais. Movimentava-se externamente no sentido dos interesses dos setores agricultores dos exportadores de matérias-primas, que, amparados pela voz da SAIN, viam-se bem representados em seus interesses. Como salientou Villela Luz, o Brasil que vai às exposições é claramente agrário e agroexportador (LUZ, 1978LUZ, Nícia Vilela. A luta pela industrialização no Brasil. São Paulo: Editora Alfa-Ômega, 1978., p. 80).

Ao que tudo indica, as exposições nacionais serviam ainda para a divulgação interna dos produtos nas relações comerciais entre as províncias. Há de se notar que havia uma ampla rede de circulação comercial no Brasil desde o período colonial e que foi fundamental também para a economia imperial. Marcondes (2012) analisou como o comércio de cabotagem propiciou intensas trocas entre as províncias, possibilitando o crescimento comercial de cada uma delas na importação de gêneros nacionais e de sua enorme variedade, especialmente as províncias do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco e Pará entre os anos de 1839 e 1873. Assim, houve expressivo crescimento após os anos 1850 de produtos comercializados por cabotagem, com destaque para o açúcar (16%), o algodão (14,1%) e o café (14%), entre 1869-1873.28 28 Há uma importante bibliografia sobre o comércio e abastecimento interno no Brasil no século XIX, para a qual citamos algumas referências: MARTINS, 1980; LINHARES; SILVA, 1981; FRAGOSO, 1992; LENHARO, 1993; FRAGOSO; FLORENTINO, 1993.

Além do aumento da circulação de gêneros nacionais de produtos entre as províncias, após os anos 1860 os pareceres feitos pela SAIN ao Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas demonstram cada vez de forma mais detalhada a descrição da produção realizada pelo país em vários setores, os pedidos de fundação de fábricas, os pedidos de privilégios industriais e de patentes (SILVA, 1979SILVA, José Luiz Werneck da. As arenas pacíficas do progresso. As exposições internacionais do século XIX. Tese (Doutorado em História), Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal Fluminense, 1992., p. 105-110). Desde 1857 fora previsto na reforma dos estatutos da SAIN a organização de exposições nacionais a fim de promover o melhoramento e a prosperidade de todos os ramos da indústria. Portanto, mesmo diante dos debates suscitados sobre a participação ou não do país nas exposições (MARTINS, 2017MACHADO, Marina; MARTINS, Mônica. A modernidade nas teias da floresta: o Brasil na Exposição Universal da Filadélfia, de 1876. Geosul, n. 65, jul.-dez. 2017.) - especialmente quando o mundo visse a escravidão -, elas já eram previstas como meio de divulgação e promoção das atividades produtivas nacionais.

Mas é de se notar o impacto dessas exposições sob a ótica da SAIN. Instituição fundamental na formação do império brasileiro, ela desempenhou especial influência sobre a formação de outras duas instituições: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, fundado em 1838 (GUIMARÃES, 1988GUIMARÃES, Lúcia. Exposições. In: VAINFAS, Ronaldo. (dir.). Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. p. 252-253., p. 7-8), e o Imperial Instituto Fluminense de Agricultura, fundado em 1860 (MARTINS, 1995MARCONDES, Renato Leite. O mercado brasileiro do século XIX: uma visão por meio do comércio de cabotagem. Revista de Economia Política, v. 32, n. 1(126), p. 142-166, São Paulo, jan./mar. 2012.). Os próprios membros da SAIN, por sua vez, eram os integrantes do quadro administrativo e diretor da IIFA, tendo sido esta fruto de um antigo sonho largamente difundido pelo Auxiliador da Indústria Nacional desde sua fundação: a formação de uma instituição agrícola. Isto remente a um ponto importante, qual seja, as relações imbricadas entre agricultura e a chamada “indústria” nesse momento. Um setor industrial cujos interesses se definiam em articulação estreita com os interesses agrários, especialmente preocupados na questão da propriedade - em foco, a propriedade escrava - e com as políticas do governo concernentes à exportação. Por outro lado, havia um elemento-chave que fundamenta princípios para essas instituições: atuar na consolidação de uma visão de Brasil pela construção de uma totalidade denominada identidade nacional (GUIMARÃES, 1988GUIMARÃES, Manoel Salgado. Nação e civilização nos trópicos: o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro e o projeto de uma história nacional. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 1, p. 5-27, 1988., p. 8).

A própria SAIN fez uma avaliação não muito otimista sobre a Primeira Exposição. Apesar de reconhecer o potencial das províncias e atestar o que o Brasil estava em condições de apresentar no exterior, reconhecia a necessidade de melhoramentos na indústria fabril. Esse entrave aos melhoramentos, no entanto, foram atribuídos ou a uma falta de instrução daqueles responsáveis pela condução das atividades rurais e mecânicas ou ao costume arraigado de fazer uso de técnicas já acomodadas, sem dar-se ao trabalho de investir em melhorias.29 29 O Auxiliador da Indústria Nacional, 1862, p. 90. Nota-se que em nenhum momento a SAIN menciona a condução do governo nesse processo, posto que a responsabilidade era atribuída aos indivíduos, às suas aptidões, vontades e esforços, mas no decorrer da avaliação sobre a exposição ela faz uma discreta provocação, salientando que não cabia a ela indicar quais seriam os melhoramentos, mas “conforta-nos a esperança de que não terá escapado esse estudo às magnânimas vistas do governo imperial”.30 30 Idem.

Conclusão

Enquanto “santuários das mercadorias” (SILVA, 1992, p. 39) as exposições universais marcaram a entrada do Brasil num novo circuito de exibição da sua produção e dos recursos naturais ao resto do mundo. Se os catálogos, traduzidos inclusive em outras línguas, apresentaram as riquezas naturais do país, também serviram para uma exibição interna ou uma espécie de autoconhecimento da indústria. No entanto, podemos pensar essas exposições muito além do lugar de espaços de exibição de produtos, mas como um triunfante vendedor e disseminador de ideias políticas no século XIX.

A decisão de participar dessas exposições demonstra também o quanto o governo exercia uma função importante na decisão sobre a participação e o quanto atendia a interesses de setores da economia na exibição nesses eventos. Ressalta-se ainda que não era o Brasil como um todo que participava dos eventos, nele estavam inseridos os ramos da produção e das riquezas naturais que se pretendia de fato apresentar ao exterior. Com o passar dos anos também aumentaria a concorrência entre as províncias nas exibições nacionais e internacionais, demonstrada pela extensão, localização e arquitetura dos estandes e pavilhões, bem como pela quantidade de produtos expostos.

Pelo Auxiliador da Indústria Nacional é notório como esse esforço foi um passo importante para as avaliações da SAIN sobre vários aspectos relacionados à produção no país, a partir da qual se podiam identificar os limites, a necessidade de estímulos, os setores vocacionais que o Brasil deveria investir etc. Há de se destacar, no entanto, que essas possibilidades abertas pela catalogação e pela exibição, pelo envolvimento de diferentes províncias e produtores nas exposições, todo esse aparato esteve voltado aos interesses mais diretamente ligados a setores muito restritos da produção nacional; produção circunscrita ao estímulo a determinados setores da agricultura e profundamente ligada aos interesses externos, o que se evidencia na priorização de importações de recursos e produtos que poderiam ser fomentados internamente. Essa voz das exposições não falava apenas da capacidade produtora do Brasil, mas também do país que optava por se posicionar na esfera de dependência dos países industrializados.

Fontes primárias

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  • SILVA, José Luiz Werneck da. Isto é o que me parece: a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (1827-1904) na formação social brasileira. A conjuntura de 1871 até 1877. 2v. Dissertação (Mestrado em História), Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal Fluminense, 1979.
  • 1
    As questões controversas se encontram nas páginas do Auxiliador da Indústria Nacional, disponível em: http://bndigital.bn.br/acervo-digital/auxiliador-industria-nacional/302295. Acesso em 15 nov. 2018.
  • 2
    Importantes estudos sobre exposições universais e seus impactos no Brasil oitocentista são PESAVENTO, 1997; KUHLMANN JR., 2001; NEVES, 1986. Para uma excelente análise da historiografia sobre as exposições universais, cf. SANJAD, 2017.
  • 3
    Na exposição de 1851, em Londres, compareceram 6.039.150 visitantes e 13.937 expositores, ao passo que, na exposição parisiense de 1900, houve 32.250.297 visitantes e 61.722 expositores (PLUM, 1979).
  • 4
    MUNIZ, Rozendo. Exposição Nacional: notas e observações. Rio de Janeiro: Typografia Nacional, 1876, p. 3-15.
  • 5
    O Auxiliador da Indústria Nacional, 1º de fevereiro de 1860, p. 73-77. Relatório dos trabalhos da SAIN durante o ano de 1859.
  • 6
    Aqui Werneck da Silva analisa, em seu terceiro conjunto de hipóteses, as “razões de Estado” presentes nas exposições, atendendo tanto às velhas nações como aos interesses das novas.
  • 7
    O destaque para a importância dos recursos naturais foi tratado, entre outros, na tese de CRIBELLI, 2009.
  • 8
    CUNHA, Antonio Luiz Fernandes da. Relatório geral da Exposição Nacional de 1861 e Relatório dos Jurys Especiais. Rio de Janeiro: Typografia do Diário do Rio de Janeiro, 1862, p. 30.
  • 9
    O catálogo era dividido nas seguintes seções: Reino Animal, Reino Vegetal, Reino Mineral, Águas Mineraes, População, Constituição do Brazil, Divisão do Império, Força pública, Arsenaes de Guerra, Presídios e Colônias militares, Marinha Brazileira, Pharoes, Pharoletes, Cultural intelectual, Museus de História Natural, Bibliotecas, Imprensa, Associações científicas, literárias e industriaes, Theatros, Docas, Pesos e medidas, Agricultura, Institutos Agrícolas, Indústria, Correio, Telégraphos elétricos, Vias de Comunicação, Immigração e Colonisação, Catechese, Estrangeiros, Naturalização, Fazenda Nacional, Dívida Pública, Systema monetário, Casa da Moeda, Commercio, Praças de Commercio, Instituições Bancarias, Companhias Anônimas, Estabelecimentos de Caridade, Associações Criativas e Beneficentes, Montes Pios, Casas de Correção, Iluminação Pública, Município da Capital do Império, Exposições Industriaes, Commissão Directora da Exposição Nacional.
  • 10
    Catálogo dos produtos naturaes e industriais remetidos das províncias do Império do Brazil. Rio de Janeiro: Typographia nacional, 1862. Cf. SANTOS; TORRES, 2012.
  • 11
    De acordo com Momesso: “No ano de 1824, quando não havia política orientada para a produção interna, Ignacio Alves Pinto, fabricante de aguardente, encaminhou a D. Pedro I os estatutos de uma sociedade que beneficiaria a ‘indústria nacional’, estabelecendo um depósito e conservatório de máquinas e moldes. O tribunal da Junta aprovou a existência da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, considerando que ela poderia ser de muita ‘utilidade no adiantamento da agricultura e das artes’. O mesmo Ignacio Alves Pinto trabalharia sistematicamente para organizar a Exposição Nacional da Industria do ano de 1861” (2007, p. 44).
  • 12
    Recordações da Exposição Nacional de 1861. Instituto Artístico de Fleiuss Irmãos & Linde, Typographia Universal de Laemmert, 1862, p. 3. Rio de Janeiro, 1862. Disponível em: http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/icon493895/icon493895.pdf. Acesso em: 31 out. 2017.
  • 13
    Idem.
  • 14
    CUNHA, Antonio Luiz Fernandes da. Relatório geral da Exposição Nacional de 1861 e Relatório dos Jurys Especiais, op. cit., p. 12.
  • 15
    MUNIZ, Rozendo. Exposição Nacional: notas e observações, op. cit., p. 189-194.
  • 16
    CUNHA, Antonio Luiz Fernandes da. Relatório geral da Exposição Nacional de 1861 e Relatório dos Jurys Especiais, op.cit., p. 14-20.
  • 17
    Outros dados em: Archivos da Exposição da Industria Nacional: actas, pareceres e decisões do jury geral da exposição da industria nacional realizada no Rio de Janeiro em 1881. Rio de Janeiro: Typografia Nacional, 1882. Biblioteca da Associação Industrial. Introdução de Antonio Augusto Fernandes Pinheiro. Essa fonte apresenta números diferentes para a presença nas exposições. O total de visitantes seria de 18.453 pessoas. Mais precisos, os dados do Relatório são ricos em detalhes e constituem uma fonte importante com o resultado sobre o evento e com os valores financeiros arrecadados em relação ao número de presentes.
  • 18
    Catálogo dos produtos naturaes e industriais remetidos das províncias do Império do Brazil. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1862.
  • 19
    Sobre o perfil político e intelectual do imperador, ver CARVALHO, 2007.
  • 20
    Catálogo dos produtos naturaes e industriais remetidos das províncias do Império do Brazil. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1862, p. 8.
  • 21
    Exposição Nacional de 1861. Documentos officiaes relativos à Exposição Nacional de 1861 [...]. Rio de Janeiro: Typografia do Diário do Rio de Janeiro, 1862.
  • 22
    Catálogos dos Produtos Naturaes e Industriais Remettidos das Províncias do Império do Brasil, Typographia Nacional: Rio de Janeiro, 1861.
  • 23
    Idem.
  • 24
    O Auxiliador da Indústria Nacional circulou entre 1833 e 1892, tendo produzido 720 números. Periódico mensal, era editado pela Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional. Com a queda da monarquia, sua tiragem tornou-se irregular e ele parou de circular em 1903. Ver COSTA, 2012, p. 151-155.
  • 25
    Recordações da Exposição Nacional de 1861, op. cit., p. 6.
  • 26
    Heizer chama atenção para a singularidade dos projetos dos países da América Latina, que buscavam distinguir-se no contexto internacional ao se apresentarem. Nesse intuito, por exemplo, Brasil e Argentina expunham ao mundo o que queriam dizer de si mesmos. Ver HEIZER, 2010, p. 1-16
  • 27
    Sobre a presença do imperador nessa exposição e seu significado para o Brasil, ver SCHWARCZ, 1998, p. 385-407; PESAVENTO, 1994; CRIBELLI, 2009, p. 223-254; MACHADO, 2017.
  • 28
    Há uma importante bibliografia sobre o comércio e abastecimento interno no Brasil no século XIX, para a qual citamos algumas referências: MARTINS, 1980; LINHARES; SILVA, 1981; FRAGOSO, 1992; LENHARO, 1993; FRAGOSO; FLORENTINO, 1993.
  • 29
    O Auxiliador da Indústria Nacional, 1862, p. 90.
  • 30
    Idem.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Ago 2020
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2020

Histórico

  • Recebido
    10 Dez 2018
  • Aceito
    02 Out 2019
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