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Pugilismo e identidade nacional na imprensa italiana em São Paulo: quatro boxeadores nas páginas do Il Pasquino Coloniale (1920-1935)

Pugilism and national identity in the Italian press in São Paulo: four boxers on the pages of Il Pasquino Coloniale (1920-1935)

Pugilismo e identidad nacional en la prensa italiana en São Paulo: cuatro boxeadores en las páginas del Il Pasquino Coloniale (1920-1935)

RESUMO

Esta pesquisa se propõe a investigar os discursos sobre o boxe, veiculados pela imprensa em língua italiana de São Paulo, e sua relação com a identidade nacional dos imigrantes italianos entre os anos de 1920 e 1935. Para isso, elege como fonte privilegiada o jornal Il Pasquino Coloniale. A pesquisa em seu acervo permitiu a elaboração de uma narrativa sobre quatro lutadores: Italo Ugo, Romolo Parboni, Erminio Spalla e Primo Carnera. As nossas análises apontam que os pugilistas eram tratados como representantes da nação italiana e que o periódico tensionou as representações coletivas da colônia no Brasil sobre o boxe e sua identidade nacional.

Palavras-chave:
história do esporte; pugilismo; imigração italiana; identidade nacional; imprensa

ABSTRACT

This article investigates discourses about boxing in the Italian immigrant press in São Paulo between 1920 and 1935 and their relationship with national identity formation among these Italian immigrants. The newspaper Il Pasquino Coloniale is a privileged source that allows us to construct a history of four boxers: Italo Ugo, Romolo Parboni, Erminio Spalla and Primo Carnera. Our analysis shows that the prizefighters were treated as representatives of the Italian nation and that the newspaper stressed the impact that boxing had on the collective representation and national identity of the Italian colony in Brazil.

Keywords:
history of sport; pugilism; Italian immigration; national identity; press

RESUMEN

Esta investigación propone estudiar los discursos sobre el boxeo, vehiculados por la prensa en lengua italiana de São Paulo, y su relación con la identidad nacional de los inmigrantes italianos entre los años 1920 y 1935. Para eso, se elige como fuente privilegiada el periódico Il Pasquino Coloniale. El análisis de su colección permitió la elaboración de una narrativa sobre cuatro luchadores, Italo Ugo, Romolo Parboni, Erminio Spalla y Primo Carnera. Nuestras observaciones apuntan a que los pugilistas eran tratados como representantes de la nación italiana y que el periódico tensó las representaciones colectivas de la colonia en Brasil sobre el boxeo y su identidad nacional.

Palabras clave:
historia del deporte; pugilismo; inmigración italiana; identidad nacional; prensa

Introdução

Embora a construção e a difusão de uma ideia de Itália tenha sido vagarosa e difícil (devido à recente unificação do país, à difusão lenta do nacionalismo para as populações menos letradas e aos nacionalismos marginais - ou “regionalismos”), a vida dos colonos italianos nas cidades, principalmente nas capitais, contribuiu para a promoção de uma italianidade entre as classes médias e burguesas no início do século XX, fosse por seu acesso à cultura letrada - especialmente a imprensa - ou pela vida associativa relativamente mais intensa que a do interior rural (TRUZZI, 2016TRUZZI, Oswaldo. Italianidade no interior paulista: percursos e descaminhos de uma identidade étnica (1880-1950). São Paulo: Unesp, 2016.).

O rarefeito sentimento de italianidade presente nessa comunidade passa a ter crescimento notável a partir do envolvimento da Itália na Primeira Guerra Mundial (­ROGHATTO, 1990ROGHATTO, Geraldo. Achiropita, fettuccine e vinho: sobre a italianidade e a colônia italiana de São Paulo. In: DE BONI, Luis. A presença italiana no Brasil, v. 2. Torino: Escola Superior de Tecnologia; Fondazione Giovanni Agnelli, 1990, p. 411-23.), sendo sobremaneira intensificado pelo advento do regime fascista na península (TRENTO, 1986TRENTO, Angelo. Fascismo italiano. São Paulo: Ática, 1986.). E, ainda que Bertonha (2012)BERTONHA, João Fábio. Sob o signo do fascio: o fascismo, os imigrantes italianos e o Brasil, 1919-1945. Tese (Doutorado em História) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1998.tenha caracterizado esse fascismo como “difuso”, ou seja, que se tenha predominado uma tendência ao fascismo mais do que uma adesão ou uma militância fascista (o que também existiu), a influência do discurso fascista deve ter sido o maior apelo nacionalista conhecido na história da imigração italiana no Brasil, principalmente entre as classes médias e burguesas.

É em meio, então, a essa notada efervescência da italianidade, na Itália e no Brasil, que este trabalho propõe investigar as relações entre esporte e identidade nacional italiana, dando centralidade ao pugilismo esportivo, ou boxe, na imprensa italiana de São Paulo. Desse modo esta investigação, que configura uma história do esporte, mas também uma história da imigração e do nacionalismo, se mostra pertinente quando observamos as íntimas relações que esporte e nacionalismo estabeleceram entre si durante todo o século XX (CAPISTEGUI, 2012CAPISTEGUI, Francisco. J. Deporte e identidad, o sobre cómo definirnos. Historia y Comunicación Social, v. 17, p. 19-39, 2012.; LIN; LEE, 2007LIN, Chien-Yu; LEE, Ping-Chao. Sport as a medium of national resistance: politics and baseball in Taiwan during Japanese colonialism, 1895-1945. The International Journal of the History of Sport, v. 24, n. 3, p. 319-337, 2007.). Partindo disso, este estudo se propõe a fornecer novos elementos para compor essa narrativa, evidenciando um objeto pouco explorado na historiografia, que é o pugilismo, e utilizando-se de fontes originais pautadas pela imprensa em língua italiana publicada no Brasil.

Como principal fonte, elegemos o periódico semanal humorístico Il Pasquino Coloniale. A escolha do jornal como fonte ancora-se no argumento da visibilidade dos esportes nesses veículos e pela importância de sua circularidade nas cidades, afinal a imprensa é também “[...] receptáculo das informações fragmentárias do dia a dia urbano, o que faz do jornal um suporte inestimável para uma reconstituição pormenorizada dos grandes acontecimentos sociais, dentre eles os relativos ao próprio do Esporte” (HOLLANDA; MELO, 2012HOLLANDA, Bernardo Borges Buarque de; MELO, Victor de Andrade de(org.). O esporte na imprensa e a imprensa esportiva no Brasil. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012., p. 15). Além disso, Martins (2011MARTINS, Ana Luiza. Revistas em revista: imprensa e práticas culturais em tempos de República, São Paulo (1890-1922). São Paulo: EdUSP; FAPESP, 2001., p. 343) afirma que “de fato o esporte foi assunto preferencial do periodismo paulistano no início do século, abordado em artigos de fundo, seções especializadas, chamadas de capa, ilustrações de toda ordem e muita caricatura”.

No caso específico do Il Pasquino Coloniale, a escolha se deu por sua representatividade em relação à colônia italiana na cidade de São Paulo e por sua pertinência em relação à periodização do estudo. Essa centralidade dada a uma só folha nos permitiu conferir um olhar um pouco mais especializado ao tratamento das fontes, procurando uma apreciação mais localizada. Dado que essa comunidade vagamente chamada de “colônia” era heterogênea, esta pesquisa não tem a intenção de encontrar uma resposta universal para a questão das relações entre boxe e identidade nacional, mas investiga as representações de um determinado agente social que é o jornal.

Esse agente, o Il Pasquino Coloniale, produzia discursos que afirmavam suas visões de mundo através do humor. Como nos alertou Chartier (1988CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988., p. 17), os discursos “tendem a impor uma autoridade à custa de outros” e, por isso, a investigação sobre as representações “supõe-nas como estando sempre colocadas num campo de concorrências e de competições cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominação”. Tanto as representações sobre a nação e a própria identidade italiana quanto as representações sobre as práticas pugilísticas são disputadas por grupos sociais diversos, sendo o Pasquino uma das forças que tendem, através de seu meio próprio de produção cultural, fazer valer as suas premissas. É necessário, portanto, reconhecer que o jornal não fala por todos, senão pelo grupo que o produz, na tentativa de fazer valer as suas representações.

A história do Pasquino é a história de um periodismo burguês (TRENTO, 2013TRENTO, Angelo. Imprensa italiana no Brasil: séculos XIX e XX. São Carlos: EdUFSCar, 2013.), comandado por homens letrados, muitos deles com diplomação em educação superior, empresários, acionistas, literatos. Em suas páginas abundavam anúncios publicitários, principalmente de produtos e serviços ofertados pela própria colônia italiana, com bens brasileiros aparecendo também com frequência. Tratava-se, provavelmente, de sua maior fonte de sustento.

Ademais, teve uma circulação bastante significativa. Chegou a tiragens de 10.000 exemplares na década de 1920 (TRENTO, 2013TRENTO, Angelo. Fascismo italiano. São Paulo: Ática, 1986.) e a 30.000 em algumas ocasiões, na década seguinte.1 1 CRISTALDI, G. Come se liquidano due poveri diavoli. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 1-5, 16 dez. 1933. Embora sediado na capital paulista, alcançou o interior e até mesmo outros estados2 2 ABBONAMENTO strordinario al Pasquino Coloniale. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 10, 10 nov. 1917. - segundo o próprio editorial, do Rio Grande do Sul ao Pará.3 3 AI SIGNORI annunzianti. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 14, 4 abr. 1925. O atestado de sua relevância é dado também por outros fatores, como sua permanência - tendo sido fundado em 1909 e permanecido pelo menos até 1941, longevidade raramente alcançada pelas publicações italianas no Brasil (TRENTO, 2013) - e o número de páginas - começou com singelas quatro páginas4 4 PETTINATI, F. Fatti e figure della vecchia colonia attraverso la vita del Pasquino Coloniale. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 136-137, 18 dez. 1935. , mas em 1917 era publicado com 16 ou 20 páginas, e ao longo de sua vida chegou a ser publicado com 16, 20, 24 ou 28 páginas por longos períodos.5 5 Muito embora essas páginas tivessem uma dimensão pequena. Sua diagramação se assemelhava mais a uma revista ilustrada do que propriamente de um jornal, sendo inclusive referido como “revista” semanal em algumas ocasiões. Aqui, em vez de procurarmos qualquer definição técnica, escolhemos simplesmente chamá-lo de jornal, porque é o modo como, na maioria das vezes, ele chama a si mesmo. Em algumas edições especiais, passava das 60 páginas e chegou a lançar números com mais de 200.

Seria difícil determinar uma linha editorial precisa para o Pasquino. Ele foi fundado por Arturo Trippa e pertenceu à Il Piccolo S.A., que também produzira o jornal Il Piccolo. Foi comprado e devolvido; comandado por fascistas, não fascistas e antifascistas. Seu pretexto, contudo, era o que jamais mudava: fazer humor, troçar a colônia, os brasileiros e os peninsulares, fosse de um modo brincalhão, fosse ácido e espirituoso.

O Pasquino circulou na cidade de São Paulo na primeira metade do século XX, em um momento no qual a capital paulista tornava-se uma das maiores cidades de imigração do mundo; até os anos de 1930, 67% dos paulistanos eram estrangeiros ou filhos de estrangeiros (HALL, 2004HALL, Michael. Imigrantes na cidade de São Paulo. In: PORTA, P. (org.). História da cidade de São Paulo, v. 3. São Paulo: Paz e Terra, 2004. p. 121-152.). Nesse momento, em São Paulo, surgiam novas práticas que levavam aos prazeres individuais, ao conforto, aos divertimentos, e que conduziam a cidade para uma particular modernização (RAGO, 2004RAGO, Margareth. A invenção do cotidiano na metrópole: sociabilidade e lazer em São Paulo, 1900-1950. In: PORTA, P. (org.). História da cidade de São Paulo. São Paulo: Paz e Terra, 2004. v. 3, p. 387-436.). É preciso compreender, contudo, que a modernização na capital paulista desde o início daquela centúria ocorria mediante “maneiras plurais de apreensão” (CERASOLI, 2004CERASOLI, Josianne Francia. Modernização no plural: obras públicas, tensões sociais e cidadania em São Paulo na passagem do século XIX para o XX. Tese (Doutorado em História) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2004.) das mudanças em curso. Dentro dessa experiência polissêmica de modernização, a disseminação de divertimentos urbanos voltados para a promoção dos esportes ocorria diante de uma pluralidade de discursos sobre o que era moderno. Em outras palavras, se o esporte tornar-se-ia uma estratégia educacional de civilização para alguns intelectuais ou para o Estado, concomitantemente poderia ser também moldado pelos interesses de sujeitos e grupos específicos. Nesse sentido, o boxe é um exemplo particular de uma prática em disputa, que podia ser mobilizada como um exemplo de violência que deveria ser questionado moralmente ou uma arte que exaltava o heroísmo e a resiliência dos seus praticantes. Sendo que, em diversos países, os pugilistas eram vistos como exemplos de coragem e sacrifício, além de serem frequentemente comparados com soldados em metáforas de nações em guerra (MELO, 2012MELO, Victor Andrade. O boxe como metáfora da nação: Belarmino (Fernando Lopes, Portugal, 1964). Antropolítica (UFF), v. 31, p. 73-93, 2012.; LECONTE, 2019LECONTE, Maxence Pascal Philippe. Reexamining Violence and Trauma in the French Boxing Literature of the Interwar Period: Henri Decoin Quinze Rounds (1930) and Alfred Menguy Gueule Aplaties (1933). The International Journal of the History of Sport, v. 36, n. 2-3, p. 207-224, 2019.).

Sendo uma prática cultural, as representações que o boxe evoca e os modos de dele apropriar-se são inúmeros. Neste trabalho, em particular, questionamos: quais seriam as relações que a prática do boxe poderia estabelecer com a identidade nacional dos italianos no Brasil nos discursos de um periódico imigrante? Ou melhor: será que as representações de nacionalidade poderiam ser vinculadas ao boxe a partir da palavra impressa? A nossa hipótese é a de que o boxe é capaz de comportar, através da imprensa, possibilidades de reafirmar a condição nacional de seus praticantes e aficionados, reforçando constantemente a imagem da nação.

A periodização proposta se justifica pelo destaque que o boxe tem a partir da organização de eventos internacionais na década de 1920, o que aumenta sua visibilidade no jornal até meados da década de 1930, quando o boxe perde gradativamente o interesse do periódico estudado. É também, como colocamos acima, um período sensível para a identidade nacional italiana no Brasil. Como veremos, a década de 1920 e o início da década de 1930 permitem que se veja no esporte dos “murros” um espaço para a paixão nacional que reforça sentimentos de pertencimento e identidade. É em meio às suas facécias que procuramos os discursos sobre o pugilismo e a identidade de um grupo específico de imigrantes italianos. E a primeira notação que fizemos a respeito dessas relações foi que ela deveria ser procurada especialmente nos pugilistas, que são o elo que de fato é capaz de conectar boxe e italianidade na cidade de São Paulo.

Boxe e nacionalismo no Pasquino

As referências a boxe e pugilismo começam a aparecer no jornal na década de 1920, o que coincide com o crescimento do prestígio dessa prática ao redor do mundo. Desde os primeiros anos do século XX, as lutas de boxe tornaram-se grandes espetáculos, movimentando quantidades bastante significativas de dinheiro, como é o caso do histórico embate entre Dempsey e Carpentier produzido pelo empresário Tex Richard em 1921 nos Estados Unidos (ROBERTS, 1974ROBERTS, Randy. Jack Dempsey: an American hero in the 1920’s. Journal of Popular Culture, v. 8, n. 2, p. 411-426, 1974.; RAUCH, 1996RAUCH, Andre. Courage against Cupidity: Carpentier-Dempsey: symbols of cultural confrontation. The International Journal of the History of Sport, v. 13, n. 1, p. 156-168, 1996.).

O novo prestígio que o pugilismo esportivo adquiria em todo o mundo se fez sentir também no Pasquino, que nessa década começa a produzir cada vez mais crônicas e piadas sobre o tema, sendo a década em que há o maior número de ocorrências. Em 1925, ano em que o município de São Paulo autoriza a prática do boxe, o jornal passa a contar com a coluna “Cazzotti”6 6 A palavra cazzotti poderia ser traduzida como “murros” ou “socos” e faz do título da coluna um anúncio de sua inclinação humorística, consonante com o propósito geral do jornal. Coluna especializada na crônica boxística, de aspecto jocoso, seu título reduzia tal prática cultural à livre pancada, com um certo deboche, buscando provocar o riso. , que perdura até 1929, embora as referências não deixem de aparecer ao longo de toda a década de 1930. Ali, em suas páginas, várias representações foram disseminadas, sobre o seu caráter violento ou empolgante, sobre um mundo de ganâncias e dinheiro, sobre técnica, racionalidade e também animalidade, rudeza. Dentre todas essas representações, contudo, interessam-nos aquelas que se conectam ao sentimento de pertencimento a uma “comunidade imaginada” (ANDERSON, 2008ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.) italiana.

Mas o boxe não era uma prática considerada italiana. Isso se vê com facilidade quando o Pasquino o trata como uma prática estrangeira, com um vocabulário esquisito que vem de fora. Não se colava sobre essa prática de luta o rótulo de prática nacional, como o fizeram os japoneses em relação ao karatê (JOHNSON, 2012JOHNSON, Noah. The japanization of karate?: placing an intelligible cultural practice. Journal of Contemporary Anthropology, v. 3, n. 1, p. 61-78, 2012.) ou os brasileiros com a capoeira (REIS, 1993REIS, Letícia. A capoeira: de “doença moral” à “gymnástica nacional”. Revista História, n. 129-131, p. 221-235, 1993.; DOWNEY, 2002DOWNEY, Greg. Domesticating an urban menace: reforming capoeira as a Brazilian National Sport. The International Journal of the History of Sport, v. 19, n. 4, p. 1-32, 2002.), e nem se considerava que a Itália seria o “país do boxe”. Quando falamos de identidade nacional e a prática pugilística, no caso italiano - e, especificamente, para avaliarmos com justeza, no caso do Pasquino -, portanto, não se pode dizer que as representações de nação fizessem alusão a uma Itália boxeadora e nem tampouco que o boxe, como prática, estivesse ligado à ideia de Itália. O que nós devemos buscar aqui é a capacidade de o esporte atuar como um afirmador da nação, um rememorador constante de sua presença, ferramenta útil à preservação da “imaginação” de sua existência. Isso porque ele proporciona a encenação de um ritual coletivo em que não raro as nações se veem representadas por atletas ou times. Desse modo, mesmo que o público não conheça o atleta, ele o reconhece como parte de uma mesma comunidade - que por esse mesmo motivo é imaginada (ANDERSON, 2008ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.) -, reforçando a ideia de que essa comunidade existe e conclamando seus filiados a hastearem a mesma bandeira e entoarem a mesma torcida. E, no caso do boxe, não sendo a própria prática entendida como italiana, é nos seus atletas, seus ídolos, que vai residir a possibilidade de identificação nacional. Vamos percorrer, portanto, um pouco da trajetória dos discursos produzidos pelo Pasquino sobre seus atletas boxeadores, elegendo quatro daqueles que apareceram com mais ênfase nas páginas do jornal: Italo Ugo, Erminio Spalla, Romolo Parboni e Primo Carnera.

Italo Ugo - um ídolo ítalo-paulista

Um sobrevoo pela vasta imprensa nos mostra que as menções a Italo começam a aparecer em peso em 1925, quando do desafio que se propôs entre ele e o lutador português Tavares Crespo, e foi precisamente com a derrota que sofreu nessa luta que o boxeador ítalo-brasileiro se tornou um ícone do boxe para o Pasquino. Naquele ano, Crespo tinha vindo ao Brasil e enfrentado os nomes de alguns brasileiros do ramo, tendo, aparentemente, derrotado todos. Quando Italo perdeu para Crespo a sua primeira luta, a derrota não o diminuiu - pelo contrário, fê-lo crescer, principalmente por sua resistência no ringue contra um adversário tão forte. Enquanto, pelo que diz o Pasquino, apostava-se numa queda de Italo logo nos primeiros assaltos, o seu representante não foi nocauteado, tendo resistido até o oitavo turno e abandonado a partida por decisão própria - um “honorável abandono”, diria o jornal.7 7 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 12 dez. 1925. Todas as citações do Il Pasquino Coloniale são traduções nossas, exceto quando o texto estiver publicado em português. No original: “onorevole abbandono”. O fato de o jovem lutador ter imposto ao grande Crespo uma luta difícil e ter resistido por muito tempo foi tido como uma grande vitória, provando a qualidade do rapaz. Uma derrota heroica que gerou uma narrativa vibrante.8 8 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 17 out. 1925.

A popularidade de Italo crescia e o Pasquino ansiava por suas lutas, vibrando com o boxe e com seu novo atleta favorito, as crônicas sempre animadas e cheias de empolgação. Uma torcida por Italo passou a fazer parte das seções esportivas do jornal e uma saga de lutas e revanches com Crespo deu cores à coluna “Cazzotti”.

No terceiro embate foi que Italo derrotou Tavares Crepo. Regozijo! Vibração! A escalada da glória do seu favorito, que durara cerca de quatro meses, estava completa: de um jovem que era “até há pouco tempo um fedelho”9 9 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 14, 13 fev. 1926. No original: “fino a poco tempo fa semplice monello”. , para aquele que conseguia dar ao campeão português um páreo duro, para aquele que conseguia segurá-lo, para aquele (aparentemente o único até então) que conseguia vencê-lo. Com Italo Ugo, os cronistas do Il Pasquino ­Coloniale tinham o seu ídolo pugilista.

Sim, porque, francamente, ninguém ou quase ninguém cria que Italo (que belo nome, é?…) seria capaz de tanto… Lembramos que sob os socos do português caíram homens considerados bastante fortes, homens pertencentes a categorias superiores - como peso e potência - àqueles dos ligeiros (pedimos ao leitor que note a nossa competência no assunto).10 10 Idem. No original: “Si perché, francamente, nessuno o quasi nessuno credeva che Italo (che bel nome eh?…) sarebbe stato capace di tanto… Ricordiamo che sotto i pugni del portoghese crollarono uomini ritenuti assai forti, uomini appartenenti a categorie superiori - come peso e potenza - a quelle dei leggeri. (Preghiamo il lettore di notare la nostra competenza in materia)”.

“Que belo nome”. E haveria nome melhor para estrear como favorito da colônia italiana no Brasil? Italo Ugo era o “nosso campeão”11 11 LEZIONE unica, Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 8 fev. 1926. No original: “nostro campione”. , que fazia vibrar o Pasquino, que dava cores às crônicas. As linhas das crônicas pulsavam com as narrativas sobre suas lutas contra Abel, Peter Johnson, Tobias Bianna.

A italianidade de Italo era lembrada, embora ele fosse nascido no Brasil. Era o “macarrão italianinho” quando bateu Tobias Bianna12 12 SCACCHI Matti. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 12, 3 maio 1930. No original: “macarrão italianinho”. e, na ocasião de sua luta contra Crespo, de “Italo não apenas tem o nome mas também a fala”13 13 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 17 out. 1925. No original: “Italo non solo ha il nome ma anche la favella”. , o que sugeria que também podia falar italiano. Em fevereiro de 1926, faz uma correção à publicação da Folha da Noite, que teria dito que Italo era filho de pais baianos: “Como se vê é coisa pouca. Trata-se de um equívoco que do resto não é grave porque também o sangue baiano é daquele bom! Mas, visto que a retificação não prejudica ninguém… façamos-na! Não é verdade?”14 14 EQUIVOCI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 16, 13 fev. 1926. No original: “Come si vede é roba da poco. Si tratta di un equivoco che del resto non é grave poiché anche il sangue baiano é di quello buono! Ma visto che la rettifica non lede nessuno… facciamola! Non é vero?”. . Nas veias de Italo, dizia o Pasquino, “corre o sangue de paes italianos”.15 15 Idem. No original: “corre o sangue de paes italianos”. E sua ligação com a italianidade viu-se também quando foi derrotado pelo português Annibal Fernandes: “A Pátria está perdida! […] Sim… o português mereceu a vitória… Pobre Pátria!”.16 16 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 24 jul. 1926. No original: “la Patria é perduta! […] Si’… il portoghese ha meritato la vittoria… Povera Patria!”.

Mas Italo também era paulista, assim como o Pasquino, e foi possível encontrar nas páginas do jornal alguma propensão a um certo “paulistanismo” quando se referia ao boxe de Italo, mostrando sinais de que o jornal projetava sobre o lutador uma identidade hifenizada (LESSER, 2001LESSER, Jeffrey. A negociação da identidade nacional: imigrantes, minorias e a luta pela etnicidade no Brasil. São Paulo: Editora Unesp, 2001.). Essa noção, elaborada por Jeffrey Lesser, destaca o hífen que comporia identidades que se mesclam num processo de negociação que permeia as comunidades imigradas em contato com seus pares e seus anfitriões. Parece possível que os jornalistas do Pasquino pudessem sentir-se pertencentes também à comunidade paulista.17 17 Às vezes aparece como paulista, às vezes como paulistana.

Na apreciação do boxe pelo jornal, essa identidade hifenizada manifestou-se modestamente, tendo sido notada na ocasião do combate entre Italo e Tavares Crespo. Italo Ugo era algumas vezes referenciado como paulista18 18 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 12 dez. 1925; CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 5 dez. 1925. ou ítalo-paulista19 19 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 16, 14 nov. 1925. , e o paulistanismo aparece com mais ênfase no contraste com a capital brasileira: para o Pasquino, na vinda de Crespo ao Brasil, o campeão português teria errado o endereço, pois, em vez de desembarcar em São Paulo, onde estariam os campeões “a sério”, acabou no Rio de Janeiro, onde viveriam os boxeadores “canjas”. Os cariocas, naturalmente, nomearam um “campeão” brasileiro que caiu ao segundo soco, e conclui: “Os ‘boxeurs’ paulistas imediatamente desafiaram o vencedor. Italo, o mourinho Harru e Furriel juram que aqui a coisa será bastante... ‘crespa’ para o bravo Crespo”.20 20 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 14, 23 jul. 1925. No original: “I ‘boxeurs’ paulisti hanno immediaramente sfidato il vincitore. Italo, il moretto Harry e Furriel giunano che qui la cosa sará alquanto… ‘crespa’ per il bravo Crespo”. Quando, então, realizou-se o primeiro embate, o Pasquino frisou que “O público concedeu a Italo uma delirante manifestação de entusiasmo e o levou ao triunfo quando ele, sabendo que fez uma figura muito diferente de… carioca, decidiu abandonar - ainda em boas condições - o esmurramento desigual”21 21 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 17 out. 1925. No original: “Il pubblico tributó ad Ialo una delirante manifestazione di entusiasmo e lo portó in trionfo quando esso, conscio di aver fatta una figura tutt’altro che… carioca, dicise di abbandonare - ancora in buone condizioni - l’ineguale scazzottatura”. (grifos nossos); e, por fim, no segundo encontro, voltou a sinalizar que “um ‘boxeur’ paulista não é um ‘boxeur’ carioca”.22 22 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 12 dez. 1925. No original: “un ‘boxeur’ paulista non é un ‘boxeur’ carioca”.

Parecia que poucas coisas poderiam fazer sombra ao sucesso de que Italo Ugo gozava nas páginas do Pasquino, mas então chegou o dia em que se anunciou que Italo, de belo nome e bela fala, paulista de sangue italiano, enfrentaria o boxeador romano Romolo (e, que ironia do destino, um belo nome para um romano)23 23 Na mitologia romana, Rômulo é o fundador da cidade. Parboni. É claro que, numa luta entre o até então campeão favorito, ítalo-paulista, e o atleta romano, houve muita excitação pela luta “colossal” que se preparava. Mas para o Pasquino, bem, “Parboni é italiano, é romano e nós somos suspeitos para dar o prognóstico”.24 24 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 20, 14 ago. 1926. No original: “Parboni é italiano, é romano, e noi siamo sospetti quanto al dare il prognostico”. Depois que a luta de fato se deu, o posicionamento do semanal humorístico fica mais claro, criticando o desempenho de Italo perante Parboni.25 25 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 16, 21 ago. 1926.

Para destronar meio italiano, italiano inteiro. Após o confronto contra Romolo Parboni, Italo perdeu parte de sua credibilidade, abrindo espaço para o adversário e tendo que contentar-se com gracejos menos entusiasmados e sem sua posição de ídolo boxeador. Algumas das matérias seguintes consistiam em representá-lo como infantil, sem juízo - principalmente por não ter um mestre que lhe conduzisse -, e mesmo a torcida por sua vitória passaria a ser menos acalorada. Quando, em 1926, Italo disputou contra o campeão sul-americano de boxe, o Pasquino torceu por ele, mas parecia duvidar de sua vitória.26 26 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 30 out. 1926.

Romolo Parboni - ensaiando a construção de memórias nacionais

Após a primeira luta contra Italo, Parboni enfrentou o português Tavares Crespo, e o seu posto como representante da nação italiana ficou imediatamente evidente quando disse o Pasquino que não havia nenhuma dúvida: na “dança” estaria em jogo “A honra da Itália!”.27 27 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 14, 28 ago. 1926. No original: “l’onore d’Italia!”. Após a luta, Parboni passou por um período de latência no Brasil no qual não conseguiu (ou não quis) estabelecer nenhuma luta para reacender a alma italiana do pugilismo pasquinal, frente ao que o jornal faz suas pilhérias, mesclando um tom de crítica aos boxeadores brasileiros - que não queriam competir com Romolo28 28 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 18 set. 1926. - e alfinetadas a Parboni - por estar inativo.

Mas o periódico não deixou de torcer por ele na luta seguinte, contra o “Passarinho” Peter Johnson, negro e “filho da tenebrosa África”.29 29 CARIOCA. La bottega degli scandali. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 30 jul. 1927. No original: “figlio della tenebrosa Africa”. Numa charge de 30 de julho de 1927, com um tapa-olho sobre o olho - sempre referenciado pelo Pasquino como machucado -, Parboni cozinha numa frigideira, com um pássaro preto ao lado, simbolizando o seu adversário negro “Passarinho”, que lhe dirige a palavra afirmando que “Perdeu fogo e manteiga se espera fritar-me na sua cozinha econômica! Aplicar-lhe-ei o famoso golpe secreto que só eu e meu pai conhecemos!”, ao que Parboni responde: “Eu serei mais generoso. Aplicar-lhe-ei uma dúzia daqueles golpes secretos que Cipião Africano… conquistou no Marrocos! Vai provar os verdadeiros ‘pignoli à romana!’”.30 30 PARBONI vs. Peter Johnson. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 30 jul. 1927. No original: “Perdi fuoco e manteiga se aspetti di friggermi nella tua cucina-economica! Ti applicheró il famoso colpo segreto che solo io e mio padre conosciamo!”; “Io saró piu’ generoso. Ti applicheró una dozzina di quei colpi segreti che Scipione l’Africano… ce conquistó er Marocco! Proverai li veri ‘pignoli alla romana’!”.

A fala faz referência a um general romano antigo, que teria batalhado por conquistas na África e saído vitorioso. A charge tem um papel fundamental em conectar um ídolo pugilista a uma memória vinculada à ideia de nação italiana. Como pontua Anderson (2008), passada a experiência revolucionária da ascensão do nacionalismo na América, a representação generalizada da nação é a da antiguidade nacional. Com isso, os fatos identificados pela História tornam-se domésticos, parte de uma história nacional, porque tem-se a nação como algo presente desde muito antes. Daí as tentativas de fundação de uma memória nacional.

As memórias, diz Joël Candau (2016)CANDAU, Joël. Memória e identidade. São Paulo: Contexto, 2016., mantêm uma relação dupla com as identidades, pois, assim como a memória é a “faculdade primeira, que alimenta a identidade”, ela também é buscada e fortalecida por demandas identitárias, pois estas operam no sentido de realizar escolhas memoriais, ou seja, escolhas sobre o que deve ser lembrado ou esquecido para sustentar a identidade. Isso é pensar, como em Halbwachs (2006)HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006., que as memórias são sempre formulações do presente e estão sempre ancoradas no universo social (SILVA, 2016SILVA, Giuslane. A memória coletiva. Aedos, Porto Alegre, v. 8, n. 18, p. 247-253, 2016.; HOUSE, 1925HOUSE, Floyd. Les cadres sociaux de la memoire, by Maurice Halbwachs. American Journal of Sociology, v. 31, n. 3, p. 390-392, 1925.; CASADEI, 2010CASADEI, Eliza. Maurice Halbwachs e Marc Bloch em torno do conceito de memória coletiva. Revista Espaço Acadêmico, n. 108, p. 153-161, 2010.; LEAL, 2012LEAL, Luana. Memória, rememoração e lembrança em Maurice Halbwachs. Linguasagem, São Paulo, v. 18, p. 1-8, 2012.), donde vem a possibilidade dessa “metamemória”, uma “memória reivindicada, ostensiva” (CANDAU, 2016CANDAU, Joël. Memória e identidade. São Paulo: Contexto, 2016., p. 23), que são discursos memoriais sempre em disputa. Ao lembrar publicamente a figura de Cipião Africano, o jornal contribui com uma tentativa do periodismo burguês de criar “memórias fortes” (CANDAU, 2016LEAL, Luana. Memória, rememoração e lembrança em Maurice Halbwachs. Linguasagem, São Paulo, v. 18, p. 1-8, 2012.), com potencial de agregar os indivíduos e criar laços identitários, através de seu lugar próprio de produção cultural, que é a folha de jornal, colocando-se como esse “produtor” que tensiona o jogo das memórias e das identidades na colônia italiana.

Cria-se aqui, portanto, uma dupla memória organizadora: conecta-se Romolo Parboni e Cipião Africano produzindo um discurso metamemorial que tem um como representante metafórico do outro e ambos como personagens do interesse de um rol de leitores - que têm como traço comum o fato de lerem mesmo jornal, o que reforça as ideias de Itália e italianidade. Em outras palavras, Romolo e o Cipião têm em comum, numa memória produzida, o fato de serem italianos e representantes da Itália.

Torcendo por Erminio Spalla e pela Itália

Spalla subiu ao ringue em Milão para encarar o colosso holandês Van der Veer em 1923, carregando com seu nome a reputação de campeão italiano de boxe e almejando descer dali com o título de Campeão Europeu. A recente Itália fascista assistiu na plateia ao seu representante que lhes trazia, pela primeira vez, a vitória do campeonato continental de pugilismo. Reforçando os augúrios de vitória e a importância do evento com sua presença, estavam Mussolini e o príncipe da Itália, quando Erminio alçou-se a um dos nomes mais importantes do esporte mundial, conseguindo sustentar, no ano seguinte, sua posição diante da revanche de seu adversário.31 31 SPALLA venceu por pontos. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, p. 20, 30 set. 1924. Infelizmente, não dispomos de fontes para avaliarmos os discursos sobre Spalla em 1923 e em 1924 no Pasquino,32 32 O acervo não possuía os exemplares desses anos. mas podemos dizer que, em 1926, Erminio Spalla era um autêntico representante da Itália no âmbito esportivo. Entre seus gracejos e piadas, o jornal era um torcedor, entusiasta, e um defensor do “nosso” boxeador.33 33 È QUI Spalla. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 14, 17 abr. 1926.

Por motivos que por ora não podemos evocar, havia, entre alguns dos cronistas brasileiros do pugilismo, uma disposição a opor-se a Spalla - e que era respondida espirituosamente pelo Pasquino, para quem “os vários ‘Anhangueras’ e Marios Macedos [deveriam] engolir todos os insultos lançados contra o simpático Erminio”.34 34 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 2 jan. 1926. No original: “i vari ‘Anhangueras’ e Marios Macedos dovranno rimangiarsi tutti gli insulti scaraventati contro il simpatico Erminio”. Eram os tais “spallófobos”.35 35 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 24 abr. 1926. No original: “compagnia spallofoba”.

A defesa ferrenha do Pasquino a Spalla era acompanhada de um entusiasmo resistente a quase qualquer abalo e que mesclava paixões pugilística e nacional. Erminio Spalla lutava não por si, mas pelo Pasquino, por seus leitores, pela pátria italiana. Quando se anunciou uma nova luta entre Erminio Spalla e Luiz Firpo, el toro de las pampas, (os dois já haviam se enfrentado em 1924), a torcida era toda para Spalla e a possibilidade de que agora o italiano pudesse mostrar-se realmente superior ao seu adversário argentino comovia as páginas do semanal.36 36 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 2 jan. 1926.

E o entusiasmo não era só em relação ao boxe. A luta, em si mesma, não compunha sozinha o quadro de ingredientes para levar a tanta expectativa: havia, notadamente, um envolvimento com um pugilista italiano, que era em parte responsável pela glória da pátria. E isso via-se mesmo em meio às matérias troceiras do jornal: “Porque, prestem atenção, o que está para acontecer é de importância enorme! Trata-se, nem mais nem menos que da honra (pugilística) da Itália e da Argentina. Entende? E que a ‘coisa’ seja de suma importância já o diz o tom solene que estamos usando”.37 37 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 14, 3 abr. 1926. No original: “Perché, badate bene, l’avenimento é di importanza enorme! Si tratta, né piu’ né meno, che dell’onore (pugilistico) dell’Italia e dell’Argentina. Capite? E che la ‘cosa’ sia di somma importanza ve lo dice il tono solenne che stiamo usando”. E era precisamente porque Erminio encarnaria a nação entre as cordas que o Pasquino convocava toda a colônia italiana para torcer pelo seu representante: “Fazei como nós: recolhei-vos; e, intimamente, fazei uma poderosíssima ‘torcida’ a favor do nosso Erminio. Rezai. E recordai-vos que também no Céu (Deus nos perdoe!!) estão cotadíssimas as preces dos leitores (e mais ainda aquelas dos assinantes) do ‘Pasquino’”.38 38 Idem. No original: “Fate come noi: raccoglietevi: e, intimamente, fate una poderosissima ‘torcida’ a favore del nostro Erminio. Pregate. E ricordatevi che anche in Cielo (Dio ci perdoni!!) sono quotatissime le preghiere dei lettori (e piu’ ancora quelle degli abbonati) del ‘Pasquino’”.

Spalla era, ainda, um belo “bichão”.39 39 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 14, 10 abr. 1926. No original: “bichão”. Era o “toureiro”, “S. M. o Rei dos Socos Erminio Spalla”, o “nosso campeão”.40 40 È QUI Spalla. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 14, 17 abr. 1926. No original: “S. M. il Re dei Pugni Erminio Spalla”; “nostro campione”. E sua próxima luta de grande importância seria contra o espanhol Paolino Uzcudum para a defesa de seu título de Campeão da Europa. Em charge, o jornal mostrava “Spalla, o (esperamos!) tocador” e “Paolino (arquiesperamos!) o… instrumento!”.41 41 LA GRANDE gara pugilistica Spalla-Paulino. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 15 maio 1916. No original: “Spalla, il (speriamolo!) suonatore!”; “Paolino (arcisperiamolo!) lo… strumento!”. E, mais uma vez, o Pasquino chamava o apoio da colônia, criticando incisivamente aqueles que duvidavam da vitória do seu representante. Spalla era o boxeador da Itália e seria vencedor.

Avante, alegres! Façam como nós: demonstrem confiança, muita confiança, façam os “gargantas”, não tenham medo!

Spalla vencerá: se então não devesse vencer… beh! Isso é algo com que vamos lidar no sábado.

Enquanto isso, digamos: “Esta noite Spalla vai tocar Paolino” e auguremos e evoquemos.42 42 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 15 maio 1926. No original: “Su via, allegri! Fate come noi: dimostrate della fiducia, molta fiducia, fate i ‘gargantas’, non abbiate paura! Spalla vincerá: se poi non dovesse vincere… beh! Questo é un affare col quale ce la vedremo sabato. Intanto diciamo: ‘Stasera Spalla suonerá Paolino’ e facciamo gli auguri e gli scongiuri di rito”.

Mas, para a infelicidade dos cronistas pasquinais, Erminio Spalla caiu sob o peso de Uzcudum - e sua derrota era a derrota da Itália. Ele foi, “naturalmente e como sempre”, batido por pontos, porque, apesar de tudo, o idolatrado Spalla não era “nocauteável”. Enfatizar que a derrota fora por pontos fazia dela menos vergonhosa, mas, ainda assim, uma derrota.

Mas sim! Estamos desonrados! Nós italianos todos; entendem?

Spalla, Erminio, o campeão, o atleta puríssimo, o formidável, etc. etc., foi batido (naturalmente e como sempre aos pontos) pelo espanhol Paolino Uzcudum (saúde).43 43 O nome de Uzcudum era geralmente seguido de interjeições que sugeriam que sua pronúncia soava como um espirro.

Pobre de nós! E que será agora do futuro da Itália? Que será de seu progresso, de seu nome glorioso? O quê? Mah!…[...]

A enorme multidão que parava em frente às redações dos jornais deu-se a demonstrações várias: os espanhóis (que coisa estranha, é?) compraziam-se enquanto os italianos (mas pareceria impossível…) mordiam os dedos, arrancavam os cabelos, soluçavam, desmaiavam, gritavam: “Aita! Ó céus! Spalla perdeu! Adeus pátria!

Estamos tre… mendo de emocionada dor, etc., etc.44 44 CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15-16, 22 maio 1926. No original: “Ma si! siamo disonorati! Noi italiani tutti; capite? Spalla, Erminio, il campione, l’atleta purissimo, il formidable, l’ecc. ecc., é stato battuto (naturalmente e come sempre ai punti) dallo spagnuolo Paolino Uzcudum! (salute). Poveri noi! E che ne sará ora dell’Italia avvenire? Che ne sará del sua progresso, del suo nome glorioso? Che ne? Mah! […] L’enorme folla che stazionava davanti alle redazioni dei giornali si abbandonó a dimostrazioni varie: gli spagnole (che cosa strana eg?)… se la godevano un modo mentre gli italiani (ma sembrerebbe impossibile…) si mordevano le dita, si trapppavano i capelli, singhiozzavano, svenivano, urlavano: “Aista! O ciel! Spala ha perduto! Addio patria! Siamo fre… menti di emozionato dolor, ecc. ecc.”.

Os italianos estavam danados, a pátria estava perdida, havia desonra. Não só na torcida e não só na vitória vinham as manifestações de identidade nacional, mas também na derrota. E aqui, notamos, em verdade pouco influenciaria o argumento se houvesse em tudo isso um exagero humorístico ou alguma ironia - mesmo no chiste, o atleta está irremediavelmente e explicitamente ligado a uma comunidade imaginada, que se reimagina sempre que é lembrada da sua própria existência. Um lutador como Spalla tem para a nação essa serventia: a de representá-la e, fazendo-o, reforçá-la como realidade social.

Primo Carnera - nacionalismo e fascismo

Concentrados em uma arena construída na Praça de Siena, em outubro de 1933, os italianos aguardavam a chegada de dois grandes atletas. Um deles era o seu maior ídolo pugilista à época, Primo Carnera, e o outro aquele considerado o “esportista número um” da Itália, para quem o soco era um meio de expressão fascista por excelência - Benito Mussolini (MARCHESINI, 2009MARCHESINI, Daniele. Come uno specchio. Il corpo di Carnera e di Mussolini. La Ricerca Folklorica, n. 60, p. 25-28, 2009.). Sob a assistência de Mussolini e seus filhos, Carnera despiu sua camisa negra para defender no interior do quadrilátero seu título de campeão mundial, donde desceu vitorioso para saudar o Duce com o gesto romano característico do fascismo. A mão para o alto, vencendo pela Itália e por seu Duce - assim Carnera foi retratado na imprensa italiana após a sua vitória (MOTTADELLI, 2015MOTTADELLI, Roberto. Evoluzione e persistenza dell’iconografia di Primo Carnera nella cultura popolare italiana: mitopoiesi plebea e propaganda fascista. Altre Modernità, n. 14, p. 46-63, 2015.), enquanto na França era referenciado por um periódico como um militante que lutava por sua devoção ao fascismo (MOURLANE; DIETSCHY, 2007MOURLANE, Stéphane; DIETSCHY, Paul. Parcours de migrants, parcours de champions entre la France et l’Italie: Alfredo Binda et Primo Carnera. Migrations Societé, n. 110, p. 53-68, 2007.).

Esporte, política e nacionalismo firmam um relacionamento intenso durante todo o século XX - tendo os regimes nazifascistas europeus se aproveitado bem dessas relações. O esporte melhorava a raça, provava a superioridade de um regime e inflava o orgulho nacional.45 45 Na Alemanha nazista, por exemplo, era Schmeling o boxeador que, não obstante a sua recusa em apresentar-se desse modo, era visto pela imprensa como um representante do regime (GEHRMANN, 1996). É nesse contexto que se encaixa também a história dos boxeadores italianos das décadas de 1920 e 1930, mas sobretudo a do italiano Primo Carnera, que foi o grande representante do fascismo italiano no cenário do pugilismo.

A ascensão de Mussolini ao poder trouxe consigo o fortalecimento do esporte italiano, que se via restrito, no período liberal, a pequenos grupos das classes dominantes. Na década de 1920, o esporte era encarado como um aprimorador da raça italiana e as práticas físicas como a chave para uma educação militar e patriótica e para a saúde física e mental (DOGLIANI, 2000DOGLIANI, Patrizia. Sport and fascism. Journal of Modern Italian Studies, v. 5, n. 3, p. 326-48, 2000.), de maneira que o governo investia na criação de centros esportivos e no aprimoramento da educação física. O próprio Duce era vendido como um líder atlético, o esportista número um da Itália (DOGLIANI, 2000DOGLIANI, Patrizia. Sport and fascism. Journal of Modern Italian Studies, v. 5, n. 3, p. 326-48, 2000.; MARTIN, 2008MARTIN, Simon. In praise of fascist beauty? Sport in History, v. 28, n. 1, p. 64-82, 2008.). O objetivo, em linhas gerais, era controlar as atividades físicas da população, aniquilando outras associações ligadas a grupos de esquerda ou à igreja e federalizando os esportes no país. Com isso, em 1930, 3.280 áreas esportivas estavam disponíveis ou em construção no território italiano.

A partir de meados da década, a ênfase passa a ser dada a esportes competitivos e também a transformá-los em eventos massificados, aumentando o público espectador, incluindo o uso da radiodifusão. E então, na década de 1930, “Enquanto a esperança de tornar italianos adultos em uma nação de esportistas começava a minguar […] não obstante o investimento alocado […], o Fascismo, no entanto, tentou torná-los uma nação de espectadores e fãs” (DOGLIANI, 2000DOGLIANI, Patrizia. Sport and fascism. Journal of Modern Italian Studies, v. 5, n. 3, p. 326-48, 2000., p. 333).46 46 Tradução nossa. No original: “Whereas hope of turning Italian adults into a nation of sportsmen began to wane […] despite an increase in state funding […], Fascism nonetheless tried to turn them into a nation of spectators and fans”. É nesse contexto que se vê a presença do boxeador Primo Carnera.

Mas a carreira de Carnera, no início, não estava diretamente ligada ao regime italiano. Carnera emigrou quando muito jovem para a França e sua carreira ganhou relevância em 1930, quando passou a lutar nos Estados Unidos. Foi ali que se tornou, para todo o mundo e para os italianos em especial, o grande fenômeno do pugilismo italiano.

Em 1933, contudo, quando da conquista do título mundial, o governo passaria a capitalizar então o sucesso adquirido pelo esportista durante seu trajeto no Novo Mundo em prol da propaganda fascista, ao que o atleta respondia de modo bastante favorável. Após sua vitória sobre Jack Sharkey, Carnera fez uso público da saudação romana e falou em louvor ao Duce, que retribuiu enfatizando o orgulho nacional pelo campeão mundial. Além disso, tendo voltado como herói à Itália, lutou em Roma e doou os rendimentos ao Partido Nacional Fascista (DOGLIANI, 2000DOGLIANI, Patrizia. Sport and fascism. Journal of Modern Italian Studies, v. 5, n. 3, p. 326-48, 2000.). No mesmo ano, defendeu seu título contra Paolino Uzcudum sob o olhar de Mussolini, que se sentava no camarote de honra do evento que fora promovido pelo próprio PNF (MOTTADELLI, 2015MOTTADELLI, Roberto. Evoluzione e persistenza dell’iconografia di Primo Carnera nella cultura popolare italiana: mitopoiesi plebea e propaganda fascista. Altre Modernità, n. 14, p. 46-63, 2015.). Seus discursos eram frequentemente nacionalistas: vencia pela Itália e pelo seu governante, e com isso gozou de ampla popularidade como herói nacional entre 1933 e 1934.

A memória da glória do pugilista vai se sustentar pelas décadas que se seguem, mas seu uso como ídolo nacional e símbolo do fascismo decai rapidamente: em 1934, Carnera é derrubado pelo judeu Max Baer e, no ano seguinte, pelo negro Joe Louis. Com a invasão italiana na Abissínia justificada pela força da raça italiana, a derrota de um patrício por um negro era a imagem que a Itália fascista não poderia aceitar, e por isso proibiu-se a veiculação das imagens da derrota do boxeador nos periódicos nacionais.

Para tratarmos dessa grande figura que foi Primo Carnera, investigamos seus dois anos gloriosos: 1930, quando explode seu sucesso nos Estados Unidos, e em 1933, quando ele se torna campeão mundial e é tutelado pelo regime fascista. Além disso, procuramos as matérias em que seu nome ocorre no mês seguinte à sua derrota contra Baer e no mesmo intervalo de tempo após a sua derrota contra Joe Louis. Nos conteúdos que avaliamos, foi possível ver uma mudança significativa no tratamento de Carnera de 1930 para 1933 e os anos seguintes.

A mais frequente e mais óbvia retratação de Carnera no Pasquino é a que faz referência ao seu tamanho. O boxeador italiano era nada menos que um mesomorfo de mais de dois metros de altura numa época em que apenas quatro por cento da população da Itália passava dos 180 centímetros (MOTTADELLI, 2015MOTTADELLI, Roberto. Evoluzione e persistenza dell’iconografia di Primo Carnera nella cultura popolare italiana: mitopoiesi plebea e propaganda fascista. Altre Modernità, n. 14, p. 46-63, 2015.). Era o “Gigante Carnera”. Em seu pleno sucesso, os embates eram geralmente representados nas charges como um enfrentamento entre um nanico e um gigante, ou ainda como lutas contra o mitológico Golias. Sua vida diária era alvo de especulações exageradas, como se ele não coubesse em lugar nenhum, ou pudesse, ao distrair-se, trombar num prédio e destruí-lo.

Para além disso, Primo Carnera foi motivo de grande excitação para o Pasquino em 1930, por seu tamanho, sua força e suas conquistas. Mesmo as acusações de match-fixing que viria a sofrer abalaram pouco o entusiasmo do jornal em relação ao novo colosso italiano. No modo como o via, atônito por suas vitórias, várias delas por nocaute, o Pasquino considerava-o imbatível. A vibração pasquinal constituía basicamente de pintá-lo como um italiano colossal, incrível e invencível, que levaria sua carreira ao ponto mais alto que se poderia alcançar no mundo do pugilismo profissional. A euforia deixava clara a sua nacionalidade: “daquilo ali, só na Itáliia!”.47 47 LUI Carnera. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 13-14, 22 fev. 1930. No original: “di quella roba li’, solo in Italia!”.

De modo geral, a aproximação do Pasquino ao atleta Carnera em 1930 se fazia com entusiasmo, com charges e crônicas vibrantes, com um humor brincalhão que o exaltava. Deixando esse ano, saltamos então para o ano em que o colosso italiano alcança o título de campeão mundial de boxe e é tornado um ícone da italianidade fascista, motivos pelos quais esperávamos vê-lo retratado de maneira ainda mais intensa pelo jornal. Em 1933, contudo, o contraste com as representações de Carnera em relação ao que se produzia em 1930 é visível. Não obstante a ocorrência de seu nome seja tão presente quanto fora antes, o conteúdo dessas aparições é bem menos empolgante, os textos são notavelmente mais curtos, as charges menos presentes e o tom das piadas mais ranzinza. Nem todos os comentários são realmente antipáticos, mas as narrativas vibrantes das lutas e as torcidas ansiosas estão completamente ausentes.

Carnera não era mais pintado como um ídolo italiano para o Pasquino, de modo que seus chistes satirizavam o lugar de prestígio ao qual o alçava a colônia, criticando precisamente a idolatria a um heroísmo que não mais se endossava naquelas páginas. Primo Carnera, herói da pátria? Que dizer então de outros signos da memória nacional como César, Dante, ­Colombo e o cientista e inventor Marconi? Nessa situação, mesmo quando pedia para que se erguesse um busto de Carnera, o “Primeiro pugilista mundial”, fica fácil identificar a ironia daqueles para os quais ter um esmurrador como prodígio italiano já não cabia mais.48 48 DUE dita di Carnera. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 5, 1 jul. 1933. No original: “Primo pugile mondale”. E tendo o Fanfulla49 49 Criado em 1893, o jornal Fanfulla tornou-se o mais importante periódico em língua italiana, publicado diariamente em São Paulo desde 1894. Alcançou abrangência nacional a partir das décadas seguintes a sua fundação. Tinha uma ampla estratégia de propaganda, com anúncios comerciais em português (­MALATIAN, 2015). No âmbito de nosso recorte temporal, principalmente ao longo das décadas de 1920 e 1930, o jornal associou-se a uma linha editorial favorável ao regime fascista na Itália (MALATIAN, 2015; BERTONHA, 1998). dito que “Depois da vitória de Carnera […] a Itália e os italianos tornaram-se popularíssimos em New-York”50 50 Citado pelo Il Pasquino Coloniale em FUORI spettacolo. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 5, 15 jul. 1933, a nota não faz referência à data ou ao número da edição do Fanfulla da qual a citação foi retirada. No original: “Dopo la vittoria di Carnera […] l’Italia e gl’Italiani sono diventati popolarissimi a New-York”. , o Pasquino parece encarar tal afirmação como um ultraje à cultura italiana e aos verdadeiros representantes das qualidades do povo italiano: “Bem dito. Quem, realmente, antes de Carnera, conhecia a Itália e os italianos em New-York? Agora, porém, depois da vitória de Carnera, temos razão para crer que se tornaram populares em New-York e adjacentemente Cristóvão Colombo, Marconi, a sopressata e o tagliatelle com pecorino romano”.51 51 FUORI spettacolo. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 5, 15 jul. 1933. No original: “Ben detto. Chi, infatti, prima di Carnera conosceva a New-York l’Italia e gl’Iitaliani? Ora peró, dopo la vittoria di Carnera, abbiamo ragione per credere che diventino popolari a New-York e adiacenze Cristoforo Colombo, Marconi, la sopressata e le tagliatelle coi pecorino romano”. Numa charge irônica da mesma página, Marconi, apoiado sobre duas cadeiras, cumprimenta Carnera, agradecendo por ser agora conhecido na América graças ao boxeador.52 52 LE COLONNE della latinità. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 5, 15 jul. 1933. Toda essa visibilidade de Carnera não era um motivo de orgulho nacional, mas antes de tudo um incômodo que se aliviava com comentários irônicos e incisivos.

Enquanto em 1930 o Pasquino aguardava, narrava e vibrava com as lutas, de 1933 em diante não se veem crônicas de boxe, nem torcidas. Isso se torna ainda mais significativo quando colocamos em perspectiva a importância de Carnera no universo esportivo naquele ano, tendo ganhado para a Itália, pela primeira vez, o título de campeão mundial. Os comentários do jornal nessa ocasião arrefecem qualquer paixão pelo pugilismo: quando do anúncio do espetáculo, uma fria indiferença53 53 FUORI spettacolo. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 12, 17 jun. 1933. ; e, após a vitória, apenas: “No match Carnera-Sharkey, Sharkey perdeu e Carnera não venceu”54 54 Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 1, 15 jul. 1933. No original: “Nel match Carnera-Sharkey, Sharkey ha perduto e Carnera non ha vinto”. , seguido das críticas já vistas à idolatria carneriana. Não encontramos nenhuma ocorrência de seu nome que fizesse referência à sua vitória na defesa do título contra Paulino Uzcudum em 22 de outubro de 1933.

No mês em que se seguiu a sua derrota contra Max Baer, em 14 de junho de 1934, o início do texto da coluna Orticaria parece anunciar um retorno à prestigiação de Carnera: “Ahi desventura, desventura, desventura! Urra o trovão e o céu se escurece: escureça vossa bandeira: Max Baer derrotou Carnera: esta horrenda novela vos dou”.55 55 ORTICARIA. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 5, 16 jun. 1934. No original: “Ahi sventura, sventura, sventura! Mugghia il tuono, ed il cielo si oscura: Abrrunite la vostra bandiera: Max Baer ha sconfitto Carnera: Quest’orrenda novella vi dó!”. Todavia, ao longo do texto, a derrota do boxeador adquire mais um tom de impertinência que de real objeto de lamentação. É como se sua notícia estivesse inundando a colônia, mas o Pasquino só nutrisse por ela um incômodo por estar repercutindo em exaustiva demasia.

Portanto a Conferência pelo desarmamento…

Tudo bem; mas Carnera perdeu!

***

Escreve o “Fanfulla”:

“Carnera luta pelo prestígio do nome italiano”.

E Marconi faz o quê com as suas últimas descobertas?

[…]

***

Hittler veio a Veneza e…

Está bem, mas Carnera lutou pelo prestígio do nome italiano.

[…]

***

- Hoje não trabalha?

- Não.

- Por quê?

- Porque Carnera perdeu!

[…]

***

Você é pela República ou pela Monarquia?

- Não: eu sou e sempre serei por Carnera!

[…]

***

- Está de luto? Morreu sua esposa?

- Pior! Carnera perdeu o campeonato!56 56 Idem. No original: “Dunque la Conferenza per il disarmo… Va bene; ma Carnera ha perduto! Scrive il ‘Fanfulla’: ‘Carnera lotta per il prestigio del nome italiano’. E Marconi che fa con le sue ultime scoperte? […] Hittler é venuto a Venezia e… Sta bene, ma Carnera ha lattato per il prestigio del nome italiano. […] - Oggi non lavori? - No. Perché? - Perché Carnera ha perduto! […] Tu sei per la Repubblica o per la Monarchia? - No: io sono e saró sempre per Carnera! […] - Sei a lutto? Ti é morta la moglie? - Peggio! Carnera ha perduto il campionato!”.

Lendo a matéria pela primeira vez, poder-se-ia até mesmo compreendê-la como uma exaltação a Carnera, como se o Pasquino, então reapaixonado pelo boxe e por Carnera, colocasse sua triste derrota acima de quaisquer outras preocupações.

O mais significativo, entretanto, foi a publicação de uma matéria que, segundo sua introdução, reproduzia dizeres de uma edição de 1929 do jornal italiano Corriere della Sera, no qual a italianidade de Carnera era frontalmente contestada.57 57 PER la storia. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 6, 23 jun. 1934. Apesar de apresentar o texto entre aspas, como se fosse uma reprodução fiel, o texto constante na edição apontada pelo Pasquino tem uma redação diferente, embora com os mesmos objetivos de questionar a italianidade de Carnera (CARNERA NON è più italiano. Corriere della Sera, Milano, p. 4, 6 dez. 1929). Vindo de uma família pobre, Primo Carnera emigrou para a França quando pequeno e construiu seu sucesso pugilístico no exterior, tendo que, constantemente, reivindicar a sua italianidade58 58 SPIEGAZIONI di Carnera sulla questione della nazionallità. Corriere della Sera, Milano, p. 3, 20 dez. 1929. , motivo pelo qual sua adesão ostentatória ao fascismo caía-lhe bem. Mas, em 1929, quando começava a despontar, ainda na Europa, muitas foram as tentativas de pintar Carnera como não italiano. Emilio Colombo, por exemplo, da italiana Gazzetta dello Sport, tê-lo-ia definido como um pugilista francês e, em 1930, chamava-o de Carnerà, com um acento à moda francesa (MOTTADELLI, 2015MOTTADELLI, Roberto. Evoluzione e persistenza dell’iconografia di Primo Carnera nella cultura popolare italiana: mitopoiesi plebea e propaganda fascista. Altre Modernità, n. 14, p. 46-63, 2015.). A matéria do Pasquino ia pelo mesmo caminho:

Em Londres Carnera é extremamente popular, em Paris é popular; em Londres ganha liras esterlinas, em Paris devora a olho quatro costelas, um queijo de cabra e dois quilos de pães por dia.

O que devorou, então, na Itália esse comedor refinado?

Ele devorou a sua nacionalidade.

O antigo carpinteiro não podia na verdade ser um italiano. Era muito grosso e muito simplório, comprido de mais de corpo e curto de mais no espírito; escolheu a França para sua nova pátria, ignorando que a raça latina é beleza e graça, probidade e ousadia.

Essa tonelada e meia de carne podia pertencer à… Mas essa tonelada e meia de carne não tem nacionalidade59 59 PER la storia. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 6, 23 jun. 1934. No original: “A Londra Carnera é estremamente popolare, a Parigi é popolare; a Londra guadagna delle lire sterline, a Parigi divora ad occhio quattro cotolette, un cacio di capra e due chili di pane al giorno. Che ha dunque divorato in Italia questo mangiatore raffinato? Egli ha divorato la sua nazionalitá. L’antico falegname non poteva in realtá essere un italiano. Era troppo grosso e troppo sempliciotto, troppo lungo di corpo e troppo corto di spirito; ha scelto la Francia per sua nuova patria, ignorando che la razza latina é bellezza e grazia, probité ed ardire. Questo quintale e mezzo di carne poteva appartenere alla… Ma questo quintale e mezzo di carne non ha nazionalitá”. (negritos nossos).

Por fim, após a sua derrota contra Joe Louis, em junho de 1935, o comentário do jornal foi o seguinte: “O prato do dia: Carnera foi batido no 4.o assalto por Joe Louis. Um outro ídolo quebrou: ou seja, 118 quilos de carne que vão pelos ares”.60 60 ORTICARIA. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 3, 29 jun. 1935. No original: “Il piatto del giorno: Carnera é stato battuto al 6.º assalto da Joe Louis. Un altro idolo infranto: cioé 118 chili di carne che vanno in aria”.

A respeito dessa estranha passagem da vibração por Carnera em 1930 para o desdém de 1933 há alguns fatos que podem nos ajudar a ensaiar, pelo menos superficialmente, alguns possíveis motivos. Em primeiro lugar, os dados sobre a ocorrência dos termos relacionados ao pugilismo no jornal ao longo do tempo mostram que há um declínio no interesse pela prática ao fim da década de 1920 - a coluna “Cazzotti”, criada em 1925, vai até 1929 e a partir de então não se constitui nenhuma coluna estável sobre o tema. Depois, é significativo o fato de que, em 1932, Gaetano Cristaldi assume a direção do semanal - e isso pode ter contribuído de alguma maneira para a mudança no modo como o jornal retrataria um boxeador de um fascismo tão ostensivo. Cristaldi era um jornalista que se recusava a tentar se passar por fascista, ainda que o fascismo ostensivo parecesse o comportamento esperado de um diretor de um jornal burguês da época. Afirmava sua posição crítica em relação ao regime e a sua desamarra intelectual com qualquer doutrina que não fosse, em suas palavras, a sua própria. Com um interesse decrescente tanto pelo boxe quando pelo fascismo ligado a Carnera, era possivelmente menos provável que a postura adotada em 1930 se perpetuasse.

E, por último, é possível que um evento trágico ocorrido no início de 1933 tenha acentuado ainda mais as possíveis antipatias para com o colosso italiano: no dia 10 de fevereiro, Carnera literalmente matou o seu adversário Ernie Schaaf de tanto bater. Dois dias após ser nocauteado na luta contra Carnera, Schaaf morreu no hospital (MARTIN, 2008MARTIN, Simon. In praise of fascist beauty? Sport in History, v. 28, n. 1, p. 64-82, 2008.). Para uma burguesia intelectual que não raro via o pugilismo como uma manifestação de ausência de civilidade, a morte de um pugilista nas mãos de Carnera pode ter tido seus efeitos. No dia 18 de fevereiro, o Pasquino publicou o seguinte excerto sarcástico: “O esporte gentiliza os costumes. Com efeito, Carnera com um soco matou Schaaf”.61 61 AOFRISMI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 5, 18 fev. 1933. No original: “Lo sport ingentillisce i costumi. Difatti, Carnera com un pugno ha ammazzato Schaaf”.

Com o crescente desinteresse pelo boxe, a pouca propensão a exaltar o regime fascista e o evento tenebroso que cruzou a vida de Carnera, talvez possamos explicar um pouco dessa inversão no tratamento do atleta, não mais o elegendo como ídolo nacional e deixando de fazer de suas conquistas um símbolo para a italianidade, muito na contramão do que era, de modo geral, o comportamento da imprensa em língua italiana em todo o mundo. Amparados por outras paixões esportivas, notadamente a do futebol, o boxe como ritual nacional perdeu espaço no Pasquino na década de 1930.

Considerações finais

A vibração do Pasquino em relação ao pugilismo se dava pelas boas e grandes lutas, pelas comoventes atuações, por “gargantas” que eram derrotados, mas a principal fonte de excitação era mesmo a dos atletas patrícios. A investigação das relações entre esporte e identidade nacional aqui proposta toma uma direção particular: em vez de buscar o nacionalismo nas grandes competições internacionais - que hasteiam bandeiras e não raro mimetizam confrontos políticos - ou nas práticas esportivas que se tornam verdadeiros signos de nacionalidade - como o caso das representações de um “país do futebol” -, buscamos um esporte que não possuía realmente um destaque na história do nacionalismo italiano, para mostrar como, num mundo marcado pela classificação nacional, uma prática era capaz de fornecer um rito que, entre outras coisas, contribuía para a afirmação da nacionalidade através da rememoração constante de sua existência - ou seja, por um reforço de sua imaginação. E que essa rememoração é possível graças à identificação do leitor ou do cronista com o atleta, com quem se estabelece, como disse Anderson (2008)ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. um sentimento de camaradagem, mesmo sem um convívio pessoal e direto.

Dificilmente se encontrará, no século XX, lutador inclassificado - cada um, e cada pessoa no mundo moderno, não é um indivíduo no nada, mas de uma nação, de maneira que Parboni, Spalla e Carnera eram incontornavelmente boxeadores italianos. Italo, por outro lado, era considerado ítalo-paulista, fato que levava o Pasquino, que possivelmente também se entendia como paulista, a ressaltar tanto seu sangue peninsular como seu vínculo com a região brasileira que representava. Seu enfrentamento com Crespo mostrava suas qualidades de um “filho de pais italianos” e de um paulista que, por esta mesma qualidade, não era um “canja”. Com isso, o Pasquino trazia para o seu público da colônia um perfeito representante de uma identidade hifenizada.

Contudo, se havia nos italianos aqui radicados alguma propensão a pensarem a si mesmos em termos híbridos, também havia, e talvez com até mais vigor, uma tendência a exaltar a italianidade e a cultuar ídolos pugilísticos italianos. A ascensão do regime fascista, dada em princípios da década de 1920, destinou parte de seus esforços a manter viva a identidade italiana no exterior, pautando-a principalmente na adesão ao regime, e o fez, em parte, controlando veículos de imprensa étnica nos países em que os emigrados se estabeleceram em grande número.

Como convém a uma perspectiva teórica que prevê as sociedades - sobretudo aquelas complexas em que predominam tipos orgânicos de solidariedade - como compostas de diversos grupos que disputam a legitimidade de suas representações, este trabalho não pressupõe qualquer universalização dos resultados - pelo contrário, o esforço aqui é o de localizar as representações e os discursos estudados, de maneira a entender com alguma precisão o lugar que tais manifestações ocupam no tecido social. O Pasquino, portanto, é um dos jogadores que tensionam as representações coletivas da colônia italiana no Brasil sobre o boxe e sua própria identidade nacional.

Fontes

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  • 1
    CRISTALDI, G. Come se liquidano due poveri diavoli. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 1-5, 16 dez. 1933CRISTALDI, G. Come se liquidano due poveri diavoli. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 1-5, 16 dez. 1933..
  • 2
    ABBONAMENTO strordinario al Pasquino Coloniale. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 10, 10 nov. 1917ABBONAMENTO Strordinario al Pasquino Coloniale Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 10, 10 nov.1917..
  • 3
    AI SIGNORI annunzianti. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 14, 4 abr. 1925AI SIGNORI annunzianti. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 14, 4 abr. 1925..
  • 4
    PETTINATI, F. Fatti e figure della vecchia colonia attraverso la vita del Pasquino Coloniale. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 136-137, 18 dez. 1935PETTINATI, F. Fatti e figure della vecchia colonia attraverso la vita del Pasquino Coloniale. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 136-137, 18 dez. 1935..
  • 5
    Muito embora essas páginas tivessem uma dimensão pequena. Sua diagramação se assemelhava mais a uma revista ilustrada do que propriamente de um jornal, sendo inclusive referido como “revista” semanal em algumas ocasiões. Aqui, em vez de procurarmos qualquer definição técnica, escolhemos simplesmente chamá-lo de jornal, porque é o modo como, na maioria das vezes, ele chama a si mesmo.
  • 6
    A palavra cazzotti poderia ser traduzida como “murros” ou “socos” e faz do título da coluna um anúncio de sua inclinação humorística, consonante com o propósito geral do jornal. Coluna especializada na crônica boxística, de aspecto jocoso, seu título reduzia tal prática cultural à livre pancada, com um certo deboche, buscando provocar o riso.
  • 7
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 12 dez. 1925CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 14, 23 jul.1925.. Todas as citações do Il Pasquino Coloniale são traduções nossas, exceto quando o texto estiver publicado em português. No original: “onorevole abbandono”.
  • 8
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 17 out. 1925CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 12 dez. 1925..
  • 9
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 14, 13 fev. 1926CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 30 out. 1926.. No original: “fino a poco tempo fa semplice monello”.
  • 10
    Idem. No original: “Si perché, francamente, nessuno o quasi nessuno credeva che Italo (che bel nome eh?…) sarebbe stato capace di tanto… Ricordiamo che sotto i pugni del portoghese crollarono uomini ritenuti assai forti, uomini appartenenti a categorie superiori - come peso e potenza - a quelle dei leggeri. (Preghiamo il lettore di notare la nostra competenza in materia)”.
  • 11
    LEZIONE unica, Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 8 fev. 1926LEZIONE unica. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 8 fev. 1926.. No original: “nostro campione”.
  • 12
    SCACCHI Matti. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 12, 3 maio 1930SCACCHI Matti. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 12, 3 maio1930.. No original: “macarrão italianinho”.
  • 13
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 17 out. 1925. No original: “Italo non solo ha il nome ma anche la favella”.
  • 14
    EQUIVOCI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 16, 13 fev. 1926EQUIVOCI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 16, 13 fev. 1926.. No original: “Come si vede é roba da poco. Si tratta di un equivoco che del resto non é grave poiché anche il sangue baiano é di quello buono! Ma visto che la rettifica non lede nessuno… facciamola! Non é vero?”.
  • 15
    Idem. No original: “corre o sangue de paes italianos”.
  • 16
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 24 jul. 1926. No original: “la Patria é perduta! […] Si’… il portoghese ha meritato la vittoria… Povera Patria!”.
  • 17
    Às vezes aparece como paulista, às vezes como paulistana.
  • 18
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 12 dez. 1925; CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 5 dez. 1925.
  • 19
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 16, 14 nov. 1925.
  • 20
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 14, 23 jul. 1925. No original: “I ‘boxeurs’ paulisti hanno immediaramente sfidato il vincitore. Italo, il moretto Harry e Furriel giunano che qui la cosa sará alquanto… ‘crespa’ per il bravo Crespo”.
  • 21
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 17 out. 1925. No original: “Il pubblico tributó ad Ialo una delirante manifestazione di entusiasmo e lo portó in trionfo quando esso, conscio di aver fatta una figura tutt’altro che… carioca, dicise di abbandonare - ancora in buone condizioni - l’ineguale scazzottatura”.
  • 22
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 12 dez. 1925. No original: “un ‘boxeur’ paulista non é un ‘boxeur’ carioca”.
  • 23
    Na mitologia romana, Rômulo é o fundador da cidade.
  • 24
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 20, 14 ago. 1926. No original: “Parboni é italiano, é romano, e noi siamo sospetti quanto al dare il prognostico”.
  • 25
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 16, 21 ago. 1926.
  • 26
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 30 out. 1926.
  • 27
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 14, 28 ago. 1926. No original: “l’onore d’Italia!”.
  • 28
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 18 set. 1926.
  • 29
    CARIOCA. La bottega degli scandali. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 30 jul. 1927CARIOCA. La bottega degli scandali. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 30 de julho de1927.. No original: “figlio della tenebrosa Africa”.
  • 30
    PARBONI vs. Peter Johnson. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 30 jul. 1927PARBONI vs. Peter Johnson. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 30 jul.1927.. No original: “Perdi fuoco e manteiga se aspetti di friggermi nella tua cucina-economica! Ti applicheró il famoso colpo segreto che solo io e mio padre conosciamo!”; “Io saró piu’ generoso. Ti applicheró una dozzina di quei colpi segreti che Scipione l’Africano… ce conquistó er Marocco! Proverai li veri ‘pignoli alla romana’!”.
  • 31
    SPALLA venceu por pontos. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, p. 20, 30 set. 1924SPALLA venceu por pontos. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, p. 20, 30 set. 1924..
  • 32
    O acervo não possuía os exemplares desses anos.
  • 33
    È QUI Spalla. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 14, 17 abr. 1926È QUI Spalla. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 14, 17 abr. 1926..
  • 34
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 2 jan. 1926. No original: “i vari ‘Anhangueras’ e Marios Macedos dovranno rimangiarsi tutti gli insulti scaraventati contro il simpatico Erminio”.
  • 35
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 24 abr. 1926. No original: “compagnia spallofoba”.
  • 36
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 2 jan. 1926.
  • 37
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 14, 3 abr. 1926. No original: “Perché, badate bene, l’avenimento é di importanza enorme! Si tratta, né piu’ né meno, che dell’onore (pugilistico) dell’Italia e dell’Argentina. Capite? E che la ‘cosa’ sia di somma importanza ve lo dice il tono solenne che stiamo usando”.
  • 38
    Idem. No original: “Fate come noi: raccoglietevi: e, intimamente, fate una poderosissima ‘torcida’ a favore del nostro Erminio. Pregate. E ricordatevi che anche in Cielo (Dio ci perdoni!!) sono quotatissime le preghiere dei lettori (e piu’ ancora quelle degli abbonati) del ‘Pasquino’”.
  • 39
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 14, 10 abr. 1926. No original: “bichão”.
  • 40
    È QUI Spalla. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 14, 17 abr. 1926. No original: “S. M. il Re dei Pugni Erminio Spalla”; “nostro campione”.
  • 41
    LA GRANDE gara pugilistica Spalla-Paulino. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 15 maio 1916LA GRANDE gara pugilistica Spalla-Paulino. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 15 maio 1916.. No original: “Spalla, il (speriamolo!) suonatore!”; “Paolino (arcisperiamolo!) lo… strumento!”.
  • 42
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15, 15 maio 1926. No original: “Su via, allegri! Fate come noi: dimostrate della fiducia, molta fiducia, fate i ‘gargantas’, non abbiate paura! Spalla vincerá: se poi non dovesse vincere… beh! Questo é un affare col quale ce la vedremo sabato. Intanto diciamo: ‘Stasera Spalla suonerá Paolino’ e facciamo gli auguri e gli scongiuri di rito”.
  • 43
    O nome de Uzcudum era geralmente seguido de interjeições que sugeriam que sua pronúncia soava como um espirro.
  • 44
    CAZZOTTI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 15-16, 22 maio 1926. No original: “Ma si! siamo disonorati! Noi italiani tutti; capite? Spalla, Erminio, il campione, l’atleta purissimo, il formidable, l’ecc. ecc., é stato battuto (naturalmente e come sempre ai punti) dallo spagnuolo Paolino Uzcudum! (salute). Poveri noi! E che ne sará ora dell’Italia avvenire? Che ne sará del sua progresso, del suo nome glorioso? Che ne? Mah! […] L’enorme folla che stazionava davanti alle redazioni dei giornali si abbandonó a dimostrazioni varie: gli spagnole (che cosa strana eg?)… se la godevano un modo mentre gli italiani (ma sembrerebbe impossibile…) si mordevano le dita, si trapppavano i capelli, singhiozzavano, svenivano, urlavano: “Aista! O ciel! Spala ha perduto! Addio patria! Siamo fre… menti di emozionato dolor, ecc. ecc.”.
  • 45
    Na Alemanha nazista, por exemplo, era Schmeling o boxeador que, não obstante a sua recusa em apresentar-se desse modo, era visto pela imprensa como um representante do regime (GEHRMANN, 1996GEHRMANN, Siegfried. Symbol of national resurrection: Max Schmeling, German sports idol. The International Journal of the History of Sport, v. 13, n. 1, p. 101-113, 1996.).
  • 46
    Tradução nossa. No original: “Whereas hope of turning Italian adults into a nation of sportsmen began to wane […] despite an increase in state funding […], Fascism nonetheless tried to turn them into a nation of spectators and fans”.
  • 47
    LUI Carnera. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 13-14, 22 fev. 1930LUI Carnera. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 13-14, 22 fev. 1930.. No original: “di quella roba li’, solo in Italia!”.
  • 48
    DUE dita di Carnera. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 5, 1 jul. 1933DUE dita di Carnera. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 5, 1 jul. 1933.. No original: “Primo pugile mondale”.
  • 49
    Criado em 1893, o jornal Fanfulla tornou-se o mais importante periódico em língua italiana, publicado diariamente em São Paulo desde 1894. Alcançou abrangência nacional a partir das décadas seguintes a sua fundação. Tinha uma ampla estratégia de propaganda, com anúncios comerciais em português (­MALATIAN, 2015). No âmbito de nosso recorte temporal, principalmente ao longo das décadas de 1920 e 1930, o jornal associou-se a uma linha editorial favorável ao regime fascista na Itália (MALATIAN, 2015; BERTONHA, 1998BERTONHA, João Fábio. Fascismo, antifascismo e os italianos no Brasil entre as duas guerras mundiais. In: CRUZ, Natália dos Reis(org.). Ideias e práticas fascistas no Brasil. Rio de Janeiro: Garamond, 2012. p. 83-100.).
  • 50
    Citado pelo Il Pasquino Coloniale em FUORI spettacolo. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 5, 15 jul. 1933FUORI spettacolo. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 12, 17 jun. 1933., a nota não faz referência à data ou ao número da edição do Fanfulla da qual a citação foi retirada. No original: “Dopo la vittoria di Carnera […] l’Italia e gl’Italiani sono diventati popolarissimi a New-York”.
  • 51
    FUORI spettacolo. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 5, 15 jul. 1933. No original: “Ben detto. Chi, infatti, prima di Carnera conosceva a New-York l’Italia e gl’Iitaliani? Ora peró, dopo la vittoria di Carnera, abbiamo ragione per credere che diventino popolari a New-York e adiacenze Cristoforo Colombo, Marconi, la sopressata e le tagliatelle coi pecorino romano”.
  • 52
    LE COLONNE della latinità. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 5, 15 jul. 1933LE COLONNE della latinità. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 5, 15 jul. 1933..
  • 53
    FUORI spettacolo. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 12, 17 jun. 1933.
  • 54
    Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 1, 15 jul. 1933Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 1, 15 jul. 1933.. No original: “Nel match Carnera-Sharkey, Sharkey ha perduto e Carnera non ha vinto”.
  • 55
    ORTICARIA. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 5, 16 jun. 1934ORTICARIA. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 5, 16 jun. 1934.. No original: “Ahi sventura, sventura, sventura! Mugghia il tuono, ed il cielo si oscura: Abrrunite la vostra bandiera: Max Baer ha sconfitto Carnera: Quest’orrenda novella vi dó!”.
  • 56
    Idem. No original: “Dunque la Conferenza per il disarmo… Va bene; ma Carnera ha perduto! Scrive il ‘Fanfulla’: ‘Carnera lotta per il prestigio del nome italiano’. E Marconi che fa con le sue ultime scoperte? […] Hittler é venuto a Venezia e… Sta bene, ma Carnera ha lattato per il prestigio del nome italiano. […] - Oggi non lavori? - No. Perché? - Perché Carnera ha perduto! […] Tu sei per la Repubblica o per la Monarchia? - No: io sono e saró sempre per Carnera! […] - Sei a lutto? Ti é morta la moglie? - Peggio! Carnera ha perduto il campionato!”.
  • 57
    PER la storia. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 6, 23 jun. 1934. Apesar de apresentar o texto entre aspas, como se fosse uma reprodução fiel, o texto constante na edição apontada pelo Pasquino tem uma redação diferente, embora com os mesmos objetivos de questionar a italianidade de Carnera (CARNERA NON è più italiano. Corriere della Sera, Milano, p. 4, 6 dez. 1929CARNERA NON è più italiano. Corriere della Sera, Milano, p. 4, 6 dez.1929.).
  • 58
    SPIEGAZIONI di Carnera sulla questione della nazionallità. Corriere della Sera, Milano, p. 3, 20 dez. 1929SPIEGAZIONI di Carnera sulla questione della nazionallità. Corriere della Sera, Milano, p. 3, 20 dez.1929..
  • 59
    PER la storia. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 6, 23 jun. 1934PER la storia. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 6, 23 jun. 1934.. No original: “A Londra Carnera é estremamente popolare, a Parigi é popolare; a Londra guadagna delle lire sterline, a Parigi divora ad occhio quattro cotolette, un cacio di capra e due chili di pane al giorno. Che ha dunque divorato in Italia questo mangiatore raffinato? Egli ha divorato la sua nazionalitá. L’antico falegname non poteva in realtá essere un italiano. Era troppo grosso e troppo sempliciotto, troppo lungo di corpo e troppo corto di spirito; ha scelto la Francia per sua nuova patria, ignorando che la razza latina é bellezza e grazia, probité ed ardire. Questo quintale e mezzo di carne poteva appartenere alla… Ma questo quintale e mezzo di carne non ha nazionalitá”.
  • 60
    ORTICARIA. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 3, 29 jun. 1935ORTICARIA. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 3, 29 jun. 1935.. No original: “Il piatto del giorno: Carnera é stato battuto al 6.º assalto da Joe Louis. Un altro idolo infranto: cioé 118 chili di carne che vanno in aria”.
  • 61
    AOFRISMI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 5, 18 fev. 1933AOFRISMI. Il Pasquino Coloniale, São Paulo, p. 5, 18 fev. 1933.. No original: “Lo sport ingentillisce i costumi. Difatti, Carnera com un pugno ha ammazzato Schaaf”.
  • O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001-P-3379/2017.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Mar 2021
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2021

Histórico

  • Recebido
    15 Jan 2020
  • Aceito
    28 Abr 2020
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