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Perfil de atividade física no tempo livre e tempo sedentário em adultos no Brasil: inquérito nacional, 2019

Resumo

Objetivos:

estimar a prevalência de atividade física no tempo livre e comportamento sedentário em adultos no Brasil.

Métodos:

estudo seccional, populacional, na amostra de 88.531 brasileiros da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019; a atividade física (geral e modalidades aeróbias) no tempo livre foi mensurada conforme as diretrizes da Organização Mundial da Saúde; estimaram-se as prevalências ponderadas, e respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%), de atividade física, inatividade física e tempo sedentário.

Resultados:

a partir da amostra selecionada, 26,4% (IC95% 25,9;27,1) dos adultos brasileiros eram fisicamente ativos, 14,0% (IC95% 13,5;14,4) eram insuficientemente ativos e 59,5% (IC95% 58,8;60,2) eram inativos; o tempo sedentário ≥ 6 horas foi relatado por 30,1% (IC95% 29,5;30,8) da população; apenas 8,6% (IC95% 8,2;8,9) atenderam às recomendações de atividade física para fortalecimento muscular.

Conclusão:

a maioria dos brasileiros adultos era inativa e não atendeu às recomendações internacionais de atividade física no tempo livre e restrição de tempo sedentário.

Palavras-chave:
Atividade Física; Exercício Aeróbico; Aptidão Física; Treinamento de Força; Comportamento Sedentário

Abstract

Objectives:

to estimate the prevalence of leisure-time physical activity and sedentary behavior in adults in Brazil.

Methods:

this was a cross-sectional, population-based study carried out in a sample of 88,531 Brazilians, using data from the 2019 National Health Survey; leisure-time physical activity (overall and aerobic exercise) was measured according to the World Health Organization guidelines; the weighted prevalence and respective 95% confidence intervals (95%CI) of physical activity, physical inactivity and sedentary behavior were estimated.

Results:

according to the selected sample, 26.4% (95%CI 25.9;27.1) of Brazilian adults were physically active, 14.0% (95%CI 13.5;14.4) were insufficiently physically active and 59.5% (95%CI 58.8;60.2) were physically inactive; sedentary behavior ≥ 6 hours was reported by 30.1% (95%CI 29.5;30.8) of the population; only 8.6% (95%CI 8.2;8.9) met the recommendations for muscle-strengthening activities.

Conclusion:

most Brazilian adults were physically inactive and did not meet international recommendations for leisure-time physical activity and reduction in sedentary behavior.

Keywords:
Physical Activity; Aerobic Exercise; Physical Fitness; Strength Training; Sedentary Behavior

Resumen

Objetivos:

estimar la prevalencia de actividad física en el tiempo libre y comportamiento sedentario de adultos en Brasil.

Métodos:

estudio seccional, poblacional, de la muestra de la Encuesta Nacional de Salud de 2019 a partir de lo cual, se estimó la prevalencia ponderada (porcentaje e intervalo de confianza del 95%) de actividad física (general y aeróbica), la inactividad física y el comportamiento sedentario.

Resultados:

según la muestra elegida, 26,4% (IC95% 25,9;27,1) son físicamente activos, 59,5% (IC95% 58,8;60,2) son inactivos, 14,0% (IC95% 13,5;14,4) son insuficientemente activos y 30,1% (IC95% 29,5;30,8) pasan ≥6 horas sedentarios en su tiempo libre; sólo el 8,6% (IC95% 8,2;8,9) de los adultos cumple con las recomendaciones de actividad física para fortalecimiento muscular.

Conclusión:

la mayoría de los adultos brasileños son inactivos, no cumplen con las recomendaciones internacionales de actividad física en el tiempo libre y la restricción del tiempo sedentario.

Palabras clave:
Actividad Física; Ejercicio Aeróbico; Condición Física; Entrenamiento de Fuerza; Sedentarismo

Contribuições do estudo
Principais resultados A maioria dos brasileiros adultos era fisicamente inativa, 26,4% cumpriam as recomendações de atividade física no tempo livre, apenas 8,6% atenderam às recomendações de fortalecimento muscular e aproximadamente um terço deles passava a maior parte do tempo livre de forma sedentária.
Implicações para os serviços Os dados ajudarão a nortear e atualizar programas de promoção de saúde nas unidades básicas de saúde (UBS) que incluem a recomendação de atividades físicas, com foco nas atividades físicas no tempo livre.
Perspectivas Estudos futuros são necessários para avaliar se a vigilância dos níveis de atividade física no tempo livre e sedentarismo na população brasileira pode impactar positivamente na reformulação de programas de promoção de saúde nas UBS.

INTRODUÇÃO

A Organização Mundial da Saúde (OMS), em suas últimas diretrizes, recomenda a prática semanal de atividade física aeróbica moderada (≥ 150 minutos) ou vigorosa (≥ 75 minutos), respectivamente, e idealmente duas sessões semanais de atividades de fortalecimento muscular, para a população adulta, visando à redução do risco de doenças crônicas. Adicionalmente, tem recomendado a redução do tempo sedentário.1111. Department of Health and Human Services (US). Physical activity guidelines for Americans [Internet]. 2nd. ed. Washington: U.S. Department of Health and Human Services; 2018 [citado 16 jan 2023]. 117 p. Disponível em: Disponível em: https://health.gov/sites/default/files/2019-09/Physical_Activity_Guidelines_2nd_edition.pdf
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Dados populacionais sobre vigilância de atividade física no tempo livre no Brasil necessitam de constante atualização. As análises dos dados mais recentes não exploraram a prevalência de atividade física no tempo livre pelas modalidades de atividades físicas aeróbias e de fortalecimento muscular.22. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis. VIGITEL Brasil 2021: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico: estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2021. Brasília: Ministério da Saúde; 2022. 131 p.)-(55. Werneck AO, Barboza LL, Araújo RHO, Oyeyemi AL, Damacena GN, Szwarcwald CL, et al. Time trends and sociodemographic inequalities in physical activity and sedentary behaviors among Brazilian Adults: national surveys from 2003 to 2019. J Phys Act Health. 2021;18(11):1332-41. doi: 10.1123/jpah.2021-0156
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Essa análise permite avaliar os níveis de atividade física específicas por modalidade com referência às recomendações internacionais. No presente estudo, o objetivo foi analisar dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 (PNS 2019), realizada pelo Ministério da Saúde do Brasil. 33. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: práticas de esporte e atividade física 2015 [Internet]. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2015 [citado 16 jan 2023]. 81 p. Disponível em: Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv100364.pdf
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualiza...
Foram estimados os níveis de atividade física no tempo livre e tempo sedentário em adultos brasileiros conforme as recentes recomendações da OMS.

MÉTODOS

Delineamento

Estudo transversal, de base populacional, entre os participantes da PNS 2019.

Contexto

Este estudo compreendeu a análise transversal dos dados da PNS 2019, uma pesquisa domiciliar realizada em todo o território nacional, tanto em zonas urbanas como rurais, compondo uma amostra representativa da população brasileira. A PNS 2019 utilizou o plano amostral de amostragem conglomerada em três estágios, com estratificação das unidades primárias de amostragem. Tais unidades foram formadas pelos setores censitários ou conjuntos de setores, e a seleção foi obtida por amostragem aleatória simples entre aquelas previamente selecionadas para o estudo.66. Stopa SR, Szwarcwald CL, Oliveira MM, Gouvea ECDP, Vieira MLFP, Freitas MPS, et al. National Health Survey 2019: history, methods and perspectives. Epidemiol Serv Saude. 2020;29(5):e2020315. doi: 10.1590/S1679-49742020000500004
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Foram calculados os coeficientes de variação (CVs) esperados, obtidos a partir de valores de indicadores estimados com base nos dados anteriores oriundos da PNS 2013, utilizando-se fórmulas para um plano amostral por amostragem aleatória simples e o efeito do plano amostral também estimado pela PNS 2013.66. Stopa SR, Szwarcwald CL, Oliveira MM, Gouvea ECDP, Vieira MLFP, Freitas MPS, et al. National Health Survey 2019: history, methods and perspectives. Epidemiol Serv Saude. 2020;29(5):e2020315. doi: 10.1590/S1679-49742020000500004
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Os CVs foram ajustados devido ao fato de o plano amostral por conglomerados ser menos eficiente que a amostragem aleatória simples. Além disso, os tamanhos de amostra de domicílios e de pessoas sofreram ajustes para serem adaptados à amostra mestra, que serve como infraestrutura amostral para a pesquisa.66. Stopa SR, Szwarcwald CL, Oliveira MM, Gouvea ECDP, Vieira MLFP, Freitas MPS, et al. National Health Survey 2019: history, methods and perspectives. Epidemiol Serv Saude. 2020;29(5):e2020315. doi: 10.1590/S1679-49742020000500004
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O número de domicílios ocupados no Censo Demográfico foi utilizado como medida do tamanho do setor censitário. A PNS 2019 foi realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com o Ministério da Saúde, entre agosto de 2019 e março de 2020.66. Stopa SR, Szwarcwald CL, Oliveira MM, Gouvea ECDP, Vieira MLFP, Freitas MPS, et al. National Health Survey 2019: history, methods and perspectives. Epidemiol Serv Saude. 2020;29(5):e2020315. doi: 10.1590/S1679-49742020000500004
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Um total de 94.111 domicílios foram sorteados e 90.846 residentes, com idade ≥ 15 anos, foram entrevistados (taxa de resposta de 93,6%), e responderam às perguntas do Módulo P do questionário da PNS 2019 relativas às informações de estilo de vida.

Participantes

Nesta análise, foram incluídos participantes com idade ≥ 18 anos, com informações completas sobre idade, sexo, atividade física no tempo livre e tempo sedentário. A Figura 1 ilustra o fluxo da população incluída na análise deste estudo.

Figura 1
Processo de inclusão dos participantes na pesquisa (n = 88.531)

Variáveis

As variáveis de estudo foram: atividade física no tempo livre (inativos, insuficientemente ativos e ativos), tanto para modalidades aeróbias como de fortalecimento muscular, e tempo sedentário (em horas, categorizados em 0 a < 4, 4 a < 6, 6 a < 8 e ≥ 8 horas).

A participação em qualquer atividade física no tempo livre nos últimos três meses (sim/não), a frequência semanal típica (0-7 dias), a duração (minutos ou horas por dia) e a modalidade realizada (entre 16 opções) foram autorreferidas.

O tempo semanal total, em minutos, dedicado às atividades físicas no tempo livre foi calculado e categorizado de acordo com as diretrizes de atividade física da OMS de 2020, usando-se o limite mínimo de 150 min./semana para atividade física no tempo livre total ou atividade física aeróbia de intensidade moderada a vigorosa.11. World Health Organization. WHO gudelines on physical activity and sedentary behaviour. World Health Organization. Geneva; 2020. 104 p. Os participantes que relataram a realização de atividades de fortalecimento muscular duas ou mais vezes por semana foram categorizados como fisicamente ativos para esta modalidade, conforme estabelecido pelas diretrizes da OMS.11. World Health Organization. WHO gudelines on physical activity and sedentary behaviour. World Health Organization. Geneva; 2020. 104 p.

As opções de respostas das modalidades praticadas para categorização da atividade física são delineadas a seguir.

- Atividades aeróbias: “caminhada”, “caminhada em esteira”, “corrida ou cooper”, “corrida em esteira”, “ginástica aeróbica/spinning/step/jumping”, “hidroginástica”, “natação”, “artes marciais e luta”, “bicicleta ou bicicleta ergométrica”, “futebol”, “basquete”, “vôlei”, “tênis”, “aula de dança”.

- Atividades de fortalecimento muscular: “musculação” e “ginástica localizada/pilates/alongamento ou ioga”.

O tempo diário de exposição em tela foi medido como o tempo autorreferido gasto assistindo à TV e usando computador/notebook/tablet/aparelho celular durante o lazer, e foi operacionalizado como tempo sedentário.77. Ekelund U, Steene-Johannessen J, Brown WJ, Fagerland MW, Owen N, Powell KE, et al. Does physical activity attenuate, or even eliminate, the detrimental association of sitting time with mortality? A harmonised meta-analysis of data from more than 1 million men and women. Lancet. 2016;388(10051):1302-10. doi: 10.1016/S0140-6736(16)30370-1
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O tempo diário de exposição em tela foi estimado agregando-se as respostas a duas perguntas: (i) Em média, quantas horas por dia você passa assistindo à TV?; e (ii) Em um dia, em quantas horas do seu tempo livre (excluindo o trabalho) você costuma usar computador, tablet ou celular para lazer, como usar redes sociais, assistir a notícias, vídeos, jogar etc.?

Sexo atribuído no nascimento (masculino; feminino) e idade em anos (categorizada em 18-34, 35-49, 50-64 e ≥ 65) foram selecionados como covariáveis.

Fontes de dados e mensuração

Os dados da PNS 2019 são abertos e os microdados foram baixados do sítio eletrônico https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/saude/9160-pesquisa-nacional-de-saude.html?=&t=microdados. Os dados foram analisados entre fevereiro e abril de 2022.

Controle de viés

Todos os participantes que responderam ao inquérito e atenderam ao critério de inclusão de idade ≥ 18 anos responderam às questões das variáveis de interesse, não havendo, portanto, viés de seleção.

Métodos estatísticos

Os dados foram analisados ​​com uso do programa Stata (versão 17.0, StataCorp LLC), utilizando-se comandos svy, para análise de amostras complexas, com pesos para as correções de amostra de não resposta; ajustes de pós-estratificação foram empregados. As estimativas ponderadas de prevalência, descritas como percentual (%) e intervalo de confiança (IC) de 95%, foram estratificadas por sexo e faixa etária.

Aspectos éticos

O estudo foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, em 23 de a gosto de 2019, sob o no 3.529.376. Os participantes forneceram consentimento informado por escrito antes da entrevista.

RESULTADOS

O fluxo dos participantes incluídos no estudo é mostrado na Figura 1. Todos os participantes com ≥ 18 anos incluídos responderam às questões relativas às variáveis de interesse (n = 88.531).

Na amostra total, 22.253 brasileiros adultos (26,4%; IC95% 25,9;27,1) eram fisicamente ativos, 11.486 (14,0%; IC95% 13,5;14,4) eram insuficientemente ativos e 54.792 (59,5%; IC95% 58,8;60,2) eram inativos no tempo livre. O tempo sedentário ≥ 6 horas foi relatado por 27.821 (30,1%; IC95% 29,5;30,8) dos brasileiros adultos.

Entre os participantes que relataram haver realizado qualquer atividade física nos três meses anteriores (n = 33.739), a prevalência ponderada das três modalidades de atividade física mais frequentes foram as seguintes: caminhada (36,0%; IC95% 35,1;36,9), treinamento resistido (17,5%; IC95% 16,8;18,3) e futebol (16,6%; IC95% 15,9;17,9).

Pessoas do sexo feminino apresentaram maior prevalência de inatividade física (63,1%; IC95% 62,2; 63,9) do que as do sexo masculino (55,5%; IC95% 54,5;56,4). Houve um padrão consistente de menor prevalência de atividade física no tempo livre com o aumento da idade (Tabela 1).

Tabela 1
Prevalência de atividade física no tempo livre por tempo sedentário autorreferido, por sexo e faixa etária, em 88.531 adultos no Brasil, 2019

Apenas 19,4% (IC95% 18,9;19,9) dos brasileiros adultos atenderam às recomendações de atividade física no tempo livre para a modalidades de atividades físicas aeróbicas de intensidade moderada a vigorosa, enquanto apenas 8,6% (IC95% 8,2;8,9) atenderam às recomendações para a modalidade de fortalecimento muscular. A prevalência de brasileiros adultos fisicamente ativos por faixa etária, sexo e grupos de tempo sedentário está resumida na Tabela 1. Os participantes do sexo masculino apresentaram maiores níveis de atividade física no tempo livre do que as do sexo feminino nas modalidades aeróbias, enquanto participantes do sexo feminino mostraram maiores níveis na modalidade de fortalecimento muscular (Tabela 1). No entanto, a proporção de pessoas do sexo masculino fisicamente ativas aumentou nos grupos com maior tempo sedentário, enquanto no sexo feminino a inatividade física foi maior do que no masculino em todos os grupos de tempo sedentário (Figura 2).

Figura 2
Prevalência de atividade física no tempo livre autorreferida, por grupos de tempo sedentário e por sexo, na PNS 2019, Brasil (n = 88.531)

DISCUSSÃO

O presente estudo mostrou uma baixa prevalência de atividade física no tempo livre e elevada prevalência de tempo sedentário na população brasileira adulta. Nos Estados Unidos, estudo apontou que 40,4% da população adulta atendia às recomendações da OMS para atividade física no tempo livre, enquanto 44,6% permanecia inativa.88. Ussery EN, Fulton JE, Galuska DA, Katzmarzyk PT, Carlson SA. Joint Prevalence of Sitting Time and leisure-time physical activity among US adults, 2015-2016. JAMA. 2018;320(19):2036-8. doi: 10.1001/jama.2018.17797
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) Nesse país, medidas para enfrentamento da inatividade física e sedentarismo focaram intervenções na ação primária.99. Writing Group for the Activity Counseling Trial Research Group. Effects of physical activity counseling in primary care. the activity counseling trial: a randomized controlled trial. JAMA . 2001;286(6):667-87. doi: 10.1001/jama.286.6.677
https://doi.org/10.1001/jama.286.6.677...
)-(1111. Department of Health and Human Services (US). Physical activity guidelines for Americans [Internet]. 2nd. ed. Washington: U.S. Department of Health and Human Services; 2018 [citado 16 jan 2023]. 117 p. Disponível em: Disponível em: https://health.gov/sites/default/files/2019-09/Physical_Activity_Guidelines_2nd_edition.pdf
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Comparações com outros países podem ser limitadas por metodologias de estimativas da atividade física.

No presente estudo, foi analisado apenas o domínio do tempo livre (lazer), enquanto em outros países, como Inglaterra e China, outros domínios de atividade física foram analisados (por exemplo, atividade física no transporte e ocupacional).1212. Pontefract N. Active lives adult survey november 2020-21 report. [Internet]: Sport England; 2022 [citado 5 abr 2023]. 43 p. Disponível em: https://www.sportengland.org/about-us#whoweare-12165
https://www.sportengland.org/about-us#wh...
),(1313. Du H, Bennett D, Li L, Whitlock G, Guo Y, Collins R, et al. Physical activity and sedentary leisure time and their associations with BMI, waist circumference, and percentage body fat in 0.5 million adults: The China Kadoorie Biobank study1-3. Am J Clin Nutr. 2013;97(3):487-96. doi: 10.3945/ajcn.112.046854
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Nesse contexto, uma estimativa de 2018 sobre inatividade física global, com base em estudos populacionais anteriores, mostrou que o Brasil ainda apresentava um dos mais altos níveis de inatividade física da América Latina.1414. Guthold R, Stevens GA, Riley LM, Bull FC. Worldwide trends in insufficient physical activity from 2001 to 2016: a pooled analysis of 358 population-based surveys with 1·9 million participants. Lancet Glob Health. 2018;6(10):e1077-86. doi: 10.1016/S2214-109X(18)30357-7
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Sobre a prevalência de atividades de fortalecimento muscular, os dados da PNS 2019 revelaram uma prevalência preocupante. Estudos sugerem que essa modalidade de atividade física também pode prevenir doenças metabólicas e cardiovasculares em adultos 1515. Giovannucci EL, Rezende LFM, Lee DH. Muscle-strengthening activities and risk of cardiovascular disease, type 2 diabetes, cancer and mortality: a review of prospective cohort studies. J Intern Med. 2021;290(4):789-805. doi: 10.1111/joim.13344
https://doi.org/10.1111/joim.13344...
),(1616. Momma H, Kawakami R, Honda T, Sawada SS. Muscle-strengthening activities are associated with lower risk and mortality in major non-communicable diseases: a systematic review and meta-analysis of cohort studies. Br J Sports Med. 2022;56(13):755-63. doi: 10.1136/bjsports-2021-105061
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e reduzir a mortalidade. 1717. Stamatakis E, Gale J, Bauman A, Ekelund U, Hamer M, Ding D. Sitting time, physical activity, and risk of mortality in adults. J Am Coll Cardiol. 2019;73(16):2062-72. doi: 10.1016/j.jacc.2019.02.031
https://doi.org/10.1016/j.jacc.2019.02.0...
)-(1919. Dempsey PC, Biddle SJH, Buman MP, Chastin S, Ekelund U, Friedenreich CM, et al. New global guidelines on sedentary behaviour and health for adults: broadening the behavioural targets. Int J Behav Nutr Phys Act. 2020;17(1):151. doi: 10.1186/s12966-020-01044-0
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É imperativo que ações em políticas de saúde priorizem as modalidades de fortalecimento muscular.

Em relação ao tempo sedentário, o percentual de pessoas que atendiam às recomendações da OMS para atividade física no tempo livre aumentou conforme maior tempo sedentário entre pessoas do sexo masculino, mas não entre pessoas do sexo feminino. Possivelmente, fatores sociodemográficos e ocupacionais podem ter determinado diferenças entre sexo, favorecendo maior disponibilidade de tempo para atividade física nas pessoas do sexo masculino. Dados de estudos prospectivos indicaram que aumentar os níveis de atividade física no tempo livre pode contrabalançar os efeitos prejudiciais do comportamento sedentário na saúde.77. Ekelund U, Steene-Johannessen J, Brown WJ, Fagerland MW, Owen N, Powell KE, et al. Does physical activity attenuate, or even eliminate, the detrimental association of sitting time with mortality? A harmonised meta-analysis of data from more than 1 million men and women. Lancet. 2016;388(10051):1302-10. doi: 10.1016/S0140-6736(16)30370-1
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(16)30...
),(1717. Stamatakis E, Gale J, Bauman A, Ekelund U, Hamer M, Ding D. Sitting time, physical activity, and risk of mortality in adults. J Am Coll Cardiol. 2019;73(16):2062-72. doi: 10.1016/j.jacc.2019.02.031
https://doi.org/10.1016/j.jacc.2019.02.0...
),(1919. Dempsey PC, Biddle SJH, Buman MP, Chastin S, Ekelund U, Friedenreich CM, et al. New global guidelines on sedentary behaviour and health for adults: broadening the behavioural targets. Int J Behav Nutr Phys Act. 2020;17(1):151. doi: 10.1186/s12966-020-01044-0
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Esse dado deve ser considerado pelas autoridades em políticas públicas como uma oportunidade para criar intervenções específicas por sexo, a fim de se reduzir o tempo sedentário.

Diversas ações e intervenções de saúde pública para promoção de atividade física têm sido implementadas na atenção primária, com exemplos mostrando resultados positivos nos níveis de atividade física no tempo livre em alguns locais do Brasil.2020. Reis RS, Hallal PC, Parra DC, Ribeiro IC, Brownson RC, Pratt M, et al. Promoting physical activity through community-wide policies and planning: findings from Curitiba, Brazil. J Phys Act Health . 2010;7(Suppl 2):S137-45. doi: 10.1123/jpah.7.s2.s137
https://doi.org/10.1123/jpah.7.s2.s137...
)-(2424. Guerra PH, Soares HF, Mafra AB, Czarnobai I, Cruz GA, Weber WV, et al. Educational interventions for physical activity among Brazilian adults: systematic review. Rev Saude Publica. 2021;55:110. doi: 10.11606/s1518-8787.2021055003236
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Em uma revisão sistemática sobre o efeito de intervenções com aconselhamento e orientações para atividade física na atenção primária, os resultados variaram desde nenhuma alteração até o incremento de 88 minutos semanais nos níveis iniciais de atividade física no tempo livre dos participantes.2424. Guerra PH, Soares HF, Mafra AB, Czarnobai I, Cruz GA, Weber WV, et al. Educational interventions for physical activity among Brazilian adults: systematic review. Rev Saude Publica. 2021;55:110. doi: 10.11606/s1518-8787.2021055003236
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No entanto, um estudo nacional de 2014, que selecionou aleatoriamente 1.600 unidades básicas de saúde (UBS), mostrou que apenas 39,8% apresentavam programas de promoção de atividade física.2525. Ramos LR, Malta DC, Gomes GAO, Bracco MM, Florindo AA, Mielke GI, et al. Prevalence of health promotion programs in primary health care units in Brazil. Rev Saude Publica. 2014;48(5):837-44. doi: 10.1590/s0034-8910.2014048005249
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Essas informações, em conjunto com os nossos dados, indicam que é necessário que programas de prevenção na atenção primária sejam atualizados em suas prioridades e ampliados, com foco na atividade física no tempo livre.

As limitações deste estudo se relacionam a serem autorrelatados os dados de atividade física no tempo livre, à falta de dados sobre o tempo em que o indivíduo permanece sentado no local de trabalho e aos dados ainda não validados para o tempo sedentário. O ponto forte deste estudo foi a utilização da PNS 2019, a qual é a maior e mais abrangente pesquisa presencial de saúde do Brasil, que incluiu uma amostra representativa da população brasileira e recrutou pessoal altamente qualificado e treinado para coleta e processamento de dados.

Em resumo, a maioria da população brasileira se mostrou fisicamente inativa e sedentária no tempo livre. Este estudo oferece embasamento para que modalidades de atividade física no tempo livre e populações específicas sejam priorizadas por formuladores de políticas públicas e profissionais de saúde responsáveis por programas na atenção primária, como as UBS.

REFERENCES

  • 1
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Ago 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    05 Abr 2023
  • Aceito
    06 Jun 2023
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