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Certificação subnacional da eliminação da transmissão vertical de HIV e/ou sífilis: relato da experiência brasileira

Resumo

Objetivo:

descrever o processo de implantação subnacional da certificação da eliminação da transmissão vertical de HIV e/ou sífilis, suas principais barreiras, desafios e oportunidades.

Métodos:

em 2022, foram avaliados indicadores do último ano completo para meta de impacto, e dos dois últimos anos completos para metas de processo, disponíveis nos sistemas nacionais de informações; foram analisados relatórios descritivos e reconhecidas ações em quatro eixos temáticos, conforme recomendações da OPAS/OMS.

Resultados:

43 municípios ≥ 100 mil habitantes foram certificados, abrangendo 24,6 milhões de habitantes; um município alcançou dupla eliminação (HIV-sífilis), 28 alcançaram eliminação para HIV e 10, selos prata; para sífilis, houve uma eliminação, 4 selos ouro, 13 prata e 4 bronze; identificou-se maior número de certificações nas regiões Sudeste e Sul.

Conclusão:

barreiras e desafios do processo foram superados pela colaboração tripartite; a experiência proporcionou melhor integração da vigilância com a assistência e qualificação das ações para prevenção da transmissão vertical.

Palavras-chave:
Transmissão Vertical; HIV; Sífilis; Vigilância em Saúde Pública; Certificação

Abstract

Objective:

to describe the subnational implementation process of the certification for elimination of mother-to-child transmission of HIV and/or syphilis, its main barriers, challenges and opportunities.

Methods:

in 2022, indicators from the last full year for impact targets and the last two full years for process targets, available in national information systems, were evaluated; descriptive reports were analyzed and actions were acknowledged within four thematic axes, according to PAHO/WHO recommendations.

Results:

43 municipalities ≥ 100,000 inhabitants were certified, covering 24.6 million inhabitants; one municipality achieved dual elimination (HIV-syphilis), 28 municipalities achieved elimination of HIV and 10 received silver tiers; regarding syphilis, one elimination was observed, along with 4 gold tiers, 13 silver tiers and 4 bronze tiers; a higher number of certifications was identified in the Southeast and South regions.

Conclusion:

barriers and challenges of the process were overcome through tripartite collaboration; the experience provided better integration of surveillance with care and improved actions aimed at preventing mother-to-child transmission.

Keywords:
Mother-to-child Transmission; HIV; Syphilis; Public Health Surveillance; Certification

Resumen

Objetivo:

describir el proceso de implementación subnacional de la certificación de eliminación de la transmisión vertical (TV) de sífilis y/o VIH, barreras, oportunidades y desafíos.

Métodos:

en 2022, se evaluaron indicadores del último año completo para la meta de impacto y de los dos últimos años para las de proceso en los sistemas de información; se analizaron informes descriptivos y se reconocieron acciones de cuatro ejes, según las recomendaciones de la OPS/OMS.

Resultados:

se certificaron 43 municipios ≥ 100.000 mil habitantes, cubriendo 24,6 millones de habitantes; un municipio logró la doble eliminación (VIH-sífilis), 28 la eliminación del VIH y 10 sellos plata; para sífilis, hubo una eliminación, 4 sellos oro, 13 plata y 4 bronce; las regiones Sudeste y Sur obtuvieron más certificaciones.

Conclusión:

barreras y desafíos fueron superados mediante la colaboración tripartita; la experiencia permitió la integración de la vigilancia con la atención y la cualificación de acciones para la prevención de la TV.

Palabras clave:
Trasmisión Vertical; VIH; Sífilis; Vigilancia en Salud Pública; Certificación

Contribuições do estudo

Principais resultados

Primeira experiência do processo subnacional de certificação da eliminação da transmissão vertical (ETV) de HIV e/ou sífilis em nível global. Em 2022, foram certificados 43 municípios ≥ 100 mil habitantes, abrangendo 24,6 milhões de habitantes.

Implicações para os serviços

A experiência da certificação subnacional da ETV foi importante na mobilização dos municípios que se engajaram nas ações, trabalharam pela melhoria da qualidade de assistência e vigilância e foram os principais protagonistas do processo.

Perspectivas

Com esta iniciativa contínua e dinâmica, há expectativa de adesão de mais de 100 municípios e estados em 2023. A certificação subnacional tem o objetivo de qualificar o cuidado integral a gestantes, para alcançar a certificação da ETV nacional.

INTRODUÇÃO

Apesar dos avanços tecnológicos das últimas décadas, a transmissão vertical (TV) de sífilis e do vírus da imunodeficiência humana, o HIV (Human Immunodeficiency Virus), configura-se como um importante problema para a saúde pública, haja vista seus impactos na saúde materno-infantil.11. Korenromp EL, Rowley J, Alonso M, Mello MB, Wijesooriya NS, Mahiané SG, et al. Global burden of maternal and congenital syphilis and associated adverse birth outcomes-Estimates for 2016 and progress since 2012. PLoS One. 2019;14(2):e0211720. doi: 10.1371/journal.pone.0211720. Erratum in: PLoS One. 2019;14(7):e0219613.
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),(22. Cohn J, Owiredu MN, Taylor MM, Easterbrook P, Lesi O, Francoise B et al. Eliminating mother to-child transmission of human immunodeficiency virus, syphilis and hepatitis B in sub-Saharan Africa. Bull World Health Organ. 2021;99(4):287-95. doi: 10.2471/BLT.20.272559
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A prevenção da TV constitui uma das estratégias estabelecidas para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da Agenda 2030 das Nações Unidas, visando promover a saúde e o bem-estar, salvaguardar os direitos humanos, fomentar a igualdade de gênero e reduzir desigualdades.33. United Nations. Department of Economic and Social Affairs. Transforming our world: the 2030 Agenda for Sustainable Development [Internet]. New York: United Nations; 2015 [cited 2023.06.30]. Available from:Available from:https://sustainabledevelopment.un.org/post2015/transformingourworld https://sdgs.un.org/2030agenda
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),(44. World Health Organization. Global guidance on criteria and processes for validation: elimination of mother-tochild transmission of HIV, syphilis and hepatitis B virus [Internet]. Geneva: World Health Organization; 2021 [cited 2023.07.04]. 88 p. Available from: Available from: https://www.who.int/publications/i/item/9789240039360
https://www.who.int/publications/i/item/...

Desde a década de 1990, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) incentiva a redução da incidência dos casos de sífilis congênita para menos de 0,5 caso por 1 mil nascidos vivos. Diversas recomendações e diretrizes têm sido publicadas, e um plano foi proposto para os Estados-membros das Américas impulsionarem a eliminação da transmissão vertical (ETV) do HIV e da sífilis, com metas a serem cumpridas até 2015.55. Pan American Health Organization. Elimination of mother-to-child transmission of HIV and syphilis: update 2015 [Internet]. Washington: Pan American Health Organization; 2015 [cited 2023.07.03]. Available from: Available from: http://iris.paho.org/xmlui/bitstream/handle/123456789/18372/9789275118702_eng.pdf?sequence=1&isAllowed=y
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Cuba foi o primeiro país no mundo a receber certificação da ETV de HIV e sífilis.66. Caffe S, Perez F, Kamb ML, Leon RGP, Alonso M, Midy R, et al. Cuba validated as the first country to eliminate mother-to-child transmission of human immunodeficiency virus and congenital syphilis: lessons learned from the implementation of the Global Validation Methodology. Sex Transm Dis. 2016;43(12):733-6. doi: 10.1097/olq.0000000000000528
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O plano inicial da OPAS foi ampliado em 2016, quando passou a incluir a hepatite B e a doença de Chagas.77. Pan American Health Organization. EMTCT Plus. Framework for elimination of mother-tochild transmission of HIV, Syphilis, Hepatitis B, and Chagas [Internet]. Washington: Pan American Health Organization; 2017 [cited 2023.06.30]. Available from: Available from: https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/34306/PAHOCHA17009-eng.pdf?sequence=1&isAllowed=y
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Após a iniciativa da OPAS, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou em 2014 o guia que estabeleceu os critérios e processos para validar a ETV de HIV e/ou sífilis em nível global. Esses critérios foram ampliados em 2017, quando se estabeleceu a possibilidade de os países com elevada prevalência de HIV e/ou sífilis serem certificados com a atribuição de selos “rumo à eliminação”, um estímulo ao alcance gradual na redução das taxas de TV.88. World Health Organization - Global guidance on criteria and processes for validation: elimination of mother-to-child transmission of HIV and syphilis [Internet]. 2nd ed. Geneva: World Health Organization ; 2017 [cited 2023.06.19]. 39 p. Available from:: Available from:: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/259517/9789241513272-eng.pdf
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No mesmo ano de 2017, o Brasil lançou o primeiro guia de ETV subnacional para HIV, com a certificação da cidade de Curitiba; em 2019, coube aos municípios de São Paulo e Umuarama serem certificados. Em 2021, o guia brasileiro foi atualizado e incluiu a TV da sífilis; e ainda, uma segunda edição do documento, baseada no guia proposto pela OMS, veio a permitir a certificação única (HIV ou sífilis) e dupla, ademais de prever a certificação por meio do Selo de Boas Práticas rumo à ETV de HIV e/ou sífilis, nas categorias ouro, prata e bronze, para contemplar locais que não tenham atingido as metas de eliminação mas apresentem indicadores próximos (Quadro 1).88. World Health Organization - Global guidance on criteria and processes for validation: elimination of mother-to-child transmission of HIV and syphilis [Internet]. 2nd ed. Geneva: World Health Organization ; 2017 [cited 2023.06.19]. 39 p. Available from:: Available from:: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/259517/9789241513272-eng.pdf
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A política nacional adotou a certificação de ETV subnacional para municípios com 100 mil habitantes ou mais,99. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Guia para certificação da eliminação da transmissão vertical de HIV e/ou sífilis [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde, 2023 [citado 2023.07.03]. 37 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_certificacao_eliminacao_transmissao_hiv_atual.pdf
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dando visibilidade à pauta e discutindo a importância de uma vigilância e assistência integradas, de qualidade.1010. Domingues CSB, Lannoy LH, Saraceni V, Cunha ARC, Pereira GFM. Brazilian Protocol for Sexually Transmitted Infections 2020: epidemiological surveillance. Epidemiol Serv Saude. 2021;30(Spe1):e2020549. doi: 10.1590/S1679-4974202100002.esp1
https://doi.org/10.1590/S1679-4974202100...
),(1111. Cunha AC, Lacerda JT, Alcauza MTR, Natal S. Avaliação da atenção ao pré-natal na Atenção Básica no Brasil. Rev Bras Saude Mater Infant. 2019;19(2):459-70. doi: 10.1590/1806-93042019000200011
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Quadro 1
Metas de impacto e de processo para certificação da eliminação da transmissão vertical de HIVa e/ou sífilis, Brasil

A atualização do guia estimulou o processo de certificação subnacional ao incluir os selos de boas práticas. Esta medida foi importante para atender à realidade do Brasil: grandes diferenças regionais e uma elevada taxa de detecção de sífilis na gestação. A despeito do avanço na cobertura da atenção ao pré-natal no país, a qualidade dos serviços com oferta e tratamento oportunos, principalmente da sífilis, não foi suficiente para conter a TV.1212. Saraceni V, Miranda AE. Relação entre a cobertura da Estratégia Saúde da Família e o diagnóstico de sífilis na gestação e sífilis congênita. Cad. Saude Publica. 2012;28(3):490-6. doi: 10.1590/S0102-311X2012000300009
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),(1313. Miranda AE, Santos PC, Coelho RA, Pascom ARP, Lannoy LH, Ferreira AC, et al. Perspectives and challenges for Mother-to-child transmission of HIV, hepatitis B, and syphilis in Brazil. Front. Public Health. 2023. 11:1182386. Doi: https://doi.org/10.3389/fpubh.2023.1182386.
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Estudos apontam que falhas na testagem durante o pré-natal, inadequação ou ausência de tratamento da sífilis e do HIV em gestantes são responsáveis pela maior parte dos casos de sífilis congênita e TV do HIV.11. Korenromp EL, Rowley J, Alonso M, Mello MB, Wijesooriya NS, Mahiané SG, et al. Global burden of maternal and congenital syphilis and associated adverse birth outcomes-Estimates for 2016 and progress since 2012. PLoS One. 2019;14(2):e0211720. doi: 10.1371/journal.pone.0211720. Erratum in: PLoS One. 2019;14(7):e0219613.
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),(1414. Dantas JC, Marinho CSR, Pinheiro YT, Ferreira MÂF, Silva RAR. Temporal trend and factors associated with spatial distribution of congenital syphilis in Brazil: An ecological study. Front Pediatr. 2023;11:1109271. doi: 10.3389/fped.2023.1109271
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),(1515. Aguiar DM, Andrade AM, Ramalho AA, Martins FA, Koifman RJ, Opitz SP, et al. Effect of prenatal care quality on the risk of low birth weight, preterm birth and vertical transmission of HIV, syphilis, and hepatitis. PLOS Glob Public Health. 2023;3(3):e0001716. doi: 10.1371/journal.pgph.0001716
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A consecução do processo de certificação subnacional de eliminação de HIV e/ou sífilis, ou ainda, da atribuição de selos de boas práticas, teve como parâmetro o desempenho de indicadores municipais de impacto e de processo.88. World Health Organization - Global guidance on criteria and processes for validation: elimination of mother-to-child transmission of HIV and syphilis [Internet]. 2nd ed. Geneva: World Health Organization ; 2017 [cited 2023.06.19]. 39 p. Available from:: Available from:: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/259517/9789241513272-eng.pdf
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),(99. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Guia para certificação da eliminação da transmissão vertical de HIV e/ou sífilis [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde, 2023 [citado 2023.07.03]. 37 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_certificacao_eliminacao_transmissao_hiv_atual.pdf
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Este artigo teve como objetivo descrever o processo de implantação da certificação da eliminação da transmissão vertical de HIV e/ou sífilis no Brasil, suas principais barreiras, desafios e oportunidades.

MÉTODOS

O processo de certificação da ETV de HIV e/ou sífilis ocorreu em municípios com população ≥ 100 mil habitantes,³ durante o ano de 2022, enquanto estratégia de parceria do Ministério da Saúde, estados e municípios, com o intuito de aprimorar as ações para a redução da transmissão vertical do HIV e da sífilis, infecções ainda consideradas um problema em saúde pública no país.99. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Guia para certificação da eliminação da transmissão vertical de HIV e/ou sífilis [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde, 2023 [citado 2023.07.03]. 37 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_certificacao_eliminacao_transmissao_hiv_atual.pdf
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Os anos avaliados foram 2019 e 2020.

Os passos para a implantação da certificação foram: (i) a instituição da Comissão Nacional de Certificação de TV; (ii) a definição de critérios e indicadores de processo e impacto; (iii) a construção da lista de cidades com ≥ 100 mil habitantes e estados elegíveis, com atendimento aos indicadores preconizados; (iv) a apresentação da proposta para estados e municípios; (v) a elaboração padronizada do relatório de certificação, com base no suplemento do Guia para Certificação da Eliminação da Transmissão Vertical de HIV e/ou Sífilis, pelo município ou estado candidato; (vi) a análise dos relatórios municipais pelo Ministério da Saúde; (vii) a constituição e treinamento da Equipe Nacional de Validação (ENV), formada por especialistas de cada eixo temático; (viii) a elaboração do manual de campo para a ENV; (ix) o planejamento e execução de visitas in loco pela ENV, com base no suplemento do Guia;1616. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Suplemento do guia para certificação da eliminação da transmissão vertical de HIV e/ou sífilis [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde , 2023. 44 p. [citado 2023.07.04]. Disponível em: Disponível em: https://www.gov.br/aids/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/2023/suplemento_guia_eliminacao_tv_sif_final.pdf/view
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(x) a validação da certificação pela Comissão Nacional de Validação (CNV); e finalmente, (xi) a certificação, formalizada em ato público, com a entrega de placas e certificados. A operacionalização do processo ocorreu a partir da criação do fluxo de solicitação e concessão de certificação (Figura 1).

Figura 1
- Fluxo de operacionalização do processo de certificação municipal de transmissão vertical de HIVa e/ou sífilis segundo as competências do Ministério da Saúde, das comissões e da equipe de validação

No Guia para Certificação da Eliminação da Transmissão Vertical de HIV e/ou Sífilis, a estratégia de certificação subnacional reconhece o desenvolvimento de ações distribuídas em quatro eixos temáticos, conforme as recomendações da OPAS/OMS:

a) programas e serviços;

b) vigilância epidemiológica e qualidade dos dados;

c) capacidade diagnóstica e qualidade dos testes; e

d) direitos humanos, igualdade de gênero e participação da comunidade.

Estes quatro eixos foram estruturados para, a partir das melhores evidências, induzir a organização e qualificação do cuidado segundo os recursos logísticos e tecnológicos disponíveis, desde o acompanhamento pré-natal precoce, com acesso oportuno a testagens e tratamento adequado, até a vigilância, por meio de monitoramento e controle dos casos.99. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Guia para certificação da eliminação da transmissão vertical de HIV e/ou sífilis [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde, 2023 [citado 2023.07.03]. 37 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_certificacao_eliminacao_transmissao_hiv_atual.pdf
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As prerrogativas e critérios mínimos para certificação dos municípios incluíram (i) o alcance prévio de indicadores de impacto e processo, estabelecidos no Guia para Certificação da ETV (Quadro 1), (ii) a implantação de Comitê de Investigação de TV por HIV e/ou Sífilis, ou grupos técnicos/de trabalho ou Comitê de Mortalidade Materno-Infantil, (iii) a disponibilidade de sistema de vigilância e monitoramento dos casos de TV de HIV e/ou sífilis, (iv) a comprovação de medidas preventivas adequadas para ETV de HIV e/ou sífilis, e (v) a salvaguarda dos direitos humanos fundamentais, inclusive o direito à saúde e seus determinantes sociais.99. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Guia para certificação da eliminação da transmissão vertical de HIV e/ou sífilis [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde, 2023 [citado 2023.07.03]. 37 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_certificacao_eliminacao_transmissao_hiv_atual.pdf
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Do total dos 326 municípios brasileiros ≥ 100 mil habitantes, 85 foram considerados previamente elegíveis, conforme análise de indicadores e metas de impacto e processo disponíveis nos sistemas nacionais de informações; à exceção da testagem, cuja fonte é de origem local. Os gestores dos estados, contatados pelo Ministério da Saúde via e-mail e chamada telefônica, foram solicitados a participar do processo de certificação, na elaboração de estratégias de apoio aos gestores municipais e profissionais de saúde da rede, para análise epidemiológica dos dados e construção do relatório descritivo.

A principal etapa do processo foi a visita in loco aos municípios, realizada pela ENV, cujos integrantes deveriam provir de estados diferentes dos municípios visitados. O objetivo da visita foi validar e qualificar as informações contidas no relatório encaminhado pelo município. Essa atividade foi dividida em dois momentos: primeiramente, uma reunião técnico-política com gestores estaduais, municipais, profissionais de saúde e organizações não governamentais (ONGs) locais atuantes no processo; em segundo lugar, a visita aos serviços de saúde que compõem a rede de atenção materno-infantil (vigilância, ouvidoria, laboratório, unidades de atenção primária, serviço de atenção especializada (SAE), centro de testagem e aconselhamento (CTA), maternidade, Consultório de Rua, entre outros). As unidades de atenção primária visitadas deveriam estar localizadas, de preferência, em regiões de maior vulnerabilidade social.

Para padronizar as visitas, construiu-se (i) uma lista de pontos a serem avaliados para cada tipo de solicitação (HIV, sífilis ou dupla certificação), conforme os quatro eixos anteriormente descritos, e (ii) um roteiro estruturado para construção de relatórios durante as visitas técnicas, com inclusão dos pontos avaliados e observações.1616. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Suplemento do guia para certificação da eliminação da transmissão vertical de HIV e/ou sífilis [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde , 2023. 44 p. [citado 2023.07.04]. Disponível em: Disponível em: https://www.gov.br/aids/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/2023/suplemento_guia_eliminacao_tv_sif_final.pdf/view
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Nas visitas, que duraram de 3 a 5 dias, de acordo com o tamanho do município e conforme o cronograma da equipe nacional, buscou-se percorrer, juntamente com equipe local de saúde do território, a trajetória da gestante, com o propósito de observar a organização do atendimento, a adequação do fluxo, o acesso aos serviços e as ações de vigilância. Foram realizadas entrevistas individuais, com amostra de conveniência envolvendo profissionais de saúde e usuárias dos serviços (gestantes ou puérperas). Realizou-se, ainda, a verificação de sistemas de informações e de prontuários.

Para cada visita redigiu-se um relatório, destinado a subsidiar a Comissão Nacional de Certificação no julgamento final sobre a concessão da certificação. Essa Comissão é composta por representantes do Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), conselhos de classe (medicina, enfermagem e farmácia), sociedades científicas, OPAS, UNICEF, UNAIDS e Agência Nacional de Saúde (ANS). O relatório da visita também foi enviado aos municípios, no esteio de um processo contínuo de aprimoramento e qualificação.

A certificação subnacional tem validade de 2 anos para municípios ≥ 1 milhão de habitantes, e de 3 anos para municípios com ≥ 100 mil e < 1 milhão. Durante esse período, os municípios devem manter os desempenhos de seus indicadores anualmente, por meio dos sistemas de informações disponíveis.

Os dados analisados estão disponíveis em relatórios já publicados, razão por que o trabalho não foi submetido a apreciação ética.

RESULTADOS

A maior parte dos 326 municípios ≥ 100 mil habitantes no Brasil encontram-se na região Sudeste (n = 154), seguida do Nordeste (n = 64). Estas regiões concentram 71,5% da população brasileira residente em munícipios desse porte (Figura 2).

Figura 2
- Distribuição dos municípios brasileiros com 100 mil habitantes ou mais, segundo porte populacional (A) regiões (B) e população por região (C)

No total, foram recebidas 45 solicitações de certificação de municípios, distribuídos nas cinco regiões geográficas do país, e 43 receberam certificado e/ou selo de boas práticas. O processo envolveu visitas a 337 serviços de saúde da rede materno-infantil. Os serviços localizados em área de maior vulnerabilidade social e individual, maternidades e serviços de atenção especializada (SAEs) eram priorizados. As especificidades locais e o cumprimento do cronograma representaram desafios vivenciados pela ENV.

Ao final do processo, em 2022, das 43 certificações entregues, 38 foram para HIV e 22 para sífilis. Um município alcançou a dupla eliminação, para HIV e sífilis. O maior número de certificações ocorreu nas regiões Sudeste e Sul do país. O total de municípios certificados abrangeu 24,6 milhões de habitantes. Com relação às categorias, 28 alcançaram a eliminação para HIV; e 10, selos prata. Para sífilis, houve uma eliminação, 4 selos ouro, 13 prata e 4 bronze (Figuras 3A e 3B).

Figura 3
- Distribuição dos municípios brasileiros, segundo certificação para a eliminação ou rumo à eliminação da transmissão vertical do HIV (A), da sífilis (B) e elegibilidade para a certificação HIV e/ou sífilis, por desempenho de indicadores de processo e resultado (C)

DISCUSSÃO

O processo subnacional de certificação de ETV de HIV e/ou sífilis no Brasil foi a primeira experiência realizada nesse sentido, e pode servir de modelo para outros países. Implementada em 2022 para ambos os agravos, a iniciativa demonstrou a importância de se trabalhar com estados e municípios na organização das redes de serviço e de vigilância dessas infecções.

Algumas barreiras e desafios surgiram durante o processo, mas o trabalho conjunto das três esferas de governo facilitou a consecução de soluções e adaptações dentro da dinâmica descrita. A primeira adequação necessária foi a utilização do Guia de Certificação proposto pela OMS,88. World Health Organization - Global guidance on criteria and processes for validation: elimination of mother-to-child transmission of HIV and syphilis [Internet]. 2nd ed. Geneva: World Health Organization ; 2017 [cited 2023.06.19]. 39 p. Available from:: Available from:: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/259517/9789241513272-eng.pdf
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como principal referência na atualização do guia brasileiro,99. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Guia para certificação da eliminação da transmissão vertical de HIV e/ou sífilis [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde, 2023 [citado 2023.07.03]. 37 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_certificacao_eliminacao_transmissao_hiv_atual.pdf
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em detrimento do modelo de certificação proposto pela OPAS,77. Pan American Health Organization. EMTCT Plus. Framework for elimination of mother-tochild transmission of HIV, Syphilis, Hepatitis B, and Chagas [Internet]. Washington: Pan American Health Organization; 2017 [cited 2023.06.30]. Available from: Available from: https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/34306/PAHOCHA17009-eng.pdf?sequence=1&isAllowed=y
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que recomendava a certificação da ETV dupla - de HIV e sífilis -, ademais de incluir hepatite B e doença de Chagas. Essa adequação foi necessária para permitir a certificação, em separado, de HIV ou sífilis, e a inclusão dos selos de boas práticas rumo à ETV. O ajuste buscou aumentar o número de municípios envolvidos, pois era necessário estimulá-los a incluir a TV em suas agendas prioritárias. Mesmo com desafios geográficos, especificidades locais e questões determinantes de contexto social, o processo possibilitou melhorias nos procedimentos de vigilância e assistência nos municípios visitados.

Uma barreira encontrada na experiência foi a dificuldade em mensurar o indicador de cobertura de gestante com pelo menos um teste de HIV e/ou sífilis no atendimento pré-natal, visto que não há fonte de dados única e nacional para sua verificação. Observou-se que a adesão ao prontuário eletrônico do Ministério da Saúde, que permite esse registro da informação, é heterogênea no país. Também foi observado que parte significativa dos munícipios candidatos realizava testagem rápida, mas não registrava esse procedimento de forma sistematizada. Adicionalmente, havia lacuna na captação desse dado na rede privada de saúde. Logo, a alternativa encontrada foi oportunizar a análise sistemática dos prontuários, a partir de amostra aleatória representativa da população de nascidos vivos nos anos avaliados, quais sejam: os prontuários do último ano completo, para metas de impacto; e dos dois últimos anos completos, para metas de processo. Essa medida foi importante e motivou ainda mais os municípios a participarem do processo de certificação de eliminação da TV de HIV e/ou sífilis.

A atenção pré-natal é essencial para que se obtenham bons resultados no desfecho da gestação; sua qualidade está relacionada com a disponibilidade de insumos e o estabelecimento de rotinas no atendimento.1111. Cunha AC, Lacerda JT, Alcauza MTR, Natal S. Avaliação da atenção ao pré-natal na Atenção Básica no Brasil. Rev Bras Saude Mater Infant. 2019;19(2):459-70. doi: 10.1590/1806-93042019000200011
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),(1414. Dantas JC, Marinho CSR, Pinheiro YT, Ferreira MÂF, Silva RAR. Temporal trend and factors associated with spatial distribution of congenital syphilis in Brazil: An ecological study. Front Pediatr. 2023;11:1109271. doi: 10.3389/fped.2023.1109271
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Algumas estratégias podem ajudar a melhorar a testagem no pré-natal, entre elas a implantação do duo-teste, para diagnóstico conjunto de sífilis e HIV, reconhecidamente custo-efetivo em vários países.1717. Rodriguez PJ, Roberts DA, Meisner J, Sharma M, Owiredu MN, Gomez B, et al. Cost-effectiveness of dual maternal HIV and syphilis testing strategies in high and low HIV prevalence countries: a modelling study. Lancet Glob Health. 2021;9(1):e61-e71. doi: 10.1016/S2214-109X(20)30395-8
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),(1818. Soares DC, Franco Filho LC, Reis HS; Rodrigues YC, Freitas FB, Souza CO, et al. Assessment of the accuracy, usability and acceptability of a rapid test for the simultaneous diagnosis of syphilis and hiv infection in a real-life scenario in the Amazon region, Brazil. Diagnostics. 2023;13(4):810. doi: 10.3390/diagnostics13040810
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Outra estratégia importante é a sensibilização do profissional da atenção primária, no sentido de melhorar a notificação de casos e procedimentos realizados durante o atendimento, tornando-se parte integrante do sistema de vigilância.1919. Cardoso AF, Costa VAM, Silva CA. A importância do território em ações de vigilância em saúde. Revista Cerrados. 2020;18(2):50-68. doi: 10.46551/rc24482692202009
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Uma oportunidade na condução deste processo foi a realização das visitas presenciais aos municípios, o que proporcionou momentos de troca de experiências e conhecimentos, mobilização das equipes locais, percepção de fortalezas e fragilidades nos processos desenvolvidos nas localidades, além de incentivo à utilização dos sistemas nacionais de informações e do prontuário eletrônico da atenção primária. O processo de certificação é uma estratégia de mobilização e educação contínua. Os indicadores são monitorados nas três esferas da gestão, anualmente, estimulando o empoderamento mediante o reconhecimento dos esforços conjuntos realizados. As etapas do processo proporcionaram o fortalecimento da integração entre a vigilância e a atenção em saúde, da intersetorialidade, da gestão interfederativa e do controle social no enfrentamento da ETV. Tudo isso retroalimenta uma metodologia contínua de aprendizagem e aperfeiçoamento local, em um mecanismo potente de indução ao alcance de metas de processo e impacto, rumo à ETV de HIV e sífilis.2020. Falkenberg MB, Mendes TPL, Moraes EP, Souza EM. Educação em saúde e educação na saúde: conceitos e implicações para a saúde coletiva. Cien Saude Colet. 2014;19(3):847-52. doi: 10.1590/1413-81232014193.01572013
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),(2121. Singh S, McKenzie N, Knippen KL. Challenges and innovations in interprofessional education: promoting a public health perspective. J Interprof Care. 2019;33(2):270-2. doi: 10.1080/13561820.2018.1538114
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Ao incluir o eixo “direitos humanos, igualdade de gênero e participação da comunidade”, o processo de certificação promoveu o reconhecimento de experiências municipais na prevenção, diagnóstico e tratamento, no contexto de populações em situação de vulnerabilidade e iniquidade no acesso a esses serviços, e evidenciou a demanda de fomento à participação da comunidade nas instâncias de controle social, como conselhos de saúde e ouvidorias.99. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Guia para certificação da eliminação da transmissão vertical de HIV e/ou sífilis [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde, 2023 [citado 2023.07.03]. 37 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_certificacao_eliminacao_transmissao_hiv_atual.pdf
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Este é um movimento contínuo e prioritário na agenda nacional, pois o Brasil é um país signatário da OPAS na estratégia de ETMI-Plus e, mais recentemente, na eliminação de doenças - passíveis de eliminação - nas Américas. Nesse sentido, uma reunião plenária da comissão tripartite, fórum composto pelo Ministro da Saúde e os presidentes do CONASS e do CONASEMS, resultou no Pacto Nacional para a Eliminação da Transmissão Vertical de HIV, Sífilis, Hepatite B e Doença de Chagas como Problema de Saúde Pública, até 2030.2222. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Pacto nacional para a eliminação da transmissão vertical de HIV, sífilis, hepatite B e doença de Chagas como problema de saúde pública [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde, 2022 [citado 2023.07.03].. 29 p. Disponível em: Disponível em: https://www.gov.br/aids/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/2022/pacto-nacional-tv-2022.pdf
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Por conseguinte, o Guia para Certificação da Eliminação da Transmissão Vertical de HIV e/ou Sífilis está sendo atualizado, para a inclusão da hepatite B e da doença de Chagas na certificação subnacional desses agravos.

A experiência com o processo de certificação da ETV de HIV e/ou sífilis em 2022 foi importante na mobilização dos municípios, que se engajaram em suas ações, trabalharam para a melhoria da qualidade de assistência e foram os principais protagonistas do processo. A participação das três esferas de governo - federal, estadual e municipal -, da sociedade civil e do meio científico mostrou a força da governança tripartite, principalmente em um país com dimensões continentais como o Brasil. Para o ano de 2023, todo o processo está sendo repetido, com a perspectiva da adesão de mais de 100 municípios. A experiência da certificação subnacional da eliminação da transmissão vertical de HIV e/ou sífilis mostrou que, mais importante que os resultados, foram os meios utilizados para atingi-los, proporcionando mudanças na rotina dos serviços e melhor integração da vigilância com a assistência à saúde.

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Editado por

Editora associada:

Bárbara Reis-Santos - https://orcid.org/0000-0001-6952-0352

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Out 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    12 Maio 2023
  • Aceito
    24 Jul 2023
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