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“Pelo Paraná maior”: representações da cultura material escolar exibidas em película na década de 1920

“Pelo Paraná Maior”: representaciones de la cultura material escolar proyectadas en el cine en la década de 1920

Resumo:

Este artigo tem como fonte histórica o filme “Pelo Paraná maior”, produzido pelo governo do Paraná em 1927, que divulgou o estado, a economia e parte da instrução pública e de alguns estabelecimentos de ensino da época. Aborda aspectos da cultura material escolar explorando alguns elementos visuais como o mobiliário, os uniformes, a arquitetura, a organização da escola e os ritos, propondo relações com a retórica da modernidade, da educação, bem como com o movimento da Escola Nova. Para análise, são utilizadas referências teóricas vinculadas à perspectiva crítica da modernidade de Marshall Berman; da cultura escolar, com Dominique Julia; da cultura material escolar, com Eliane Peres e Gizele de Souza e Agustín Escolano Benito; e da Escola Nova, com Diana Gonçalves Vidal. Discute-se ainda a história cultural a partir de Roger Chartier e a história transnacional com Martin Lawn.

Palavras-chave:
cinema; fotografia; Escola Nova; história transnacional

Resumen:

Este artículo tiene como fuente histórica la película “Pelo Paraná maior”, producida por el gobierno de Paraná en 1927, que divulgaba el estado, la economía y parte de la educación pública y algunos establecimientos educativos de la época. Aborda aspectos de la cultura material escolar explorando algunos elementos visuales como el mobiliario, los uniformes, la arquitectura, la organización escolar y los ritos, proponiendo relaciones con la retórica de la modernidad, la educación y el movimiento Escuela Nueva. Para el análisis se utilizan referentes teóricos vinculados a la perspectiva crítica de la modernidad de Marshall Berman, la cultura escolar con Dominique Julia, la cultura material escolar con Eliane Peres y Gizele de Souza y Agustín Escolano Benito y la Escola Nova con Diana Gonçalves Vidal. Discute la historia cultural de Roger Chartier y la historia transnacional con Martin Lawn.

Palabras clave:
cine; Escola Nova; historia transnacional

Abstract:

This article is based on the film “Pelo Paraná maior”, produced by the government of Paraná in 1927, which presented information about the state, its economy, part of public education, and some educational establishments at the time. The text addresses aspects of school material culture, exploring visual elements such as furniture, uniforms, architecture, school organization, and rites, proposing relationships with the rhetoric of modernity, education, and Escola Nova. In the analysis, we use theoretical references linked to the perspective of modernity studies by Marshall Berman, school culture by Dominique Julia, school material culture by Eliane Peres, Gizele de Souza, Agustín Escolano Benito, and Escola Nova by Diana Gonçalves Vidal. We also ground the text on Roger Chartier's approach to cultural history and the transnational one by Martin Lawn.

Keywords:
cinema; photography; New School; transnational history

Introdução

Neste artigo, propomos a análise de um trecho do filme “Pelo Paraná maior”, produzido e exibido em 1927, utilizado para a divulgação do estado do Paraná e como propaganda da gestão do governo de Caetano Munhoz da Rocha naquele período. Quanto aos aspectos abordados nesse filme, temos como objetivo identificar, no trecho denominado ‘Instrução Pública’, aparatos e elementos da cultura material que circularam e foram utilizados em algumas escolas do Paraná, cuja composição material remete à retórica do ideal de modernidade, retratado de muitas formas, por exemplo, por meio da construção de novos prédios escolares, mobiliários e objetos escolares. Como construção analítica, apresentamos uma narrativa que relaciona as ideias de modernidade e de educação à época, tendo o cinema como uma possível representação de homem moderno, e nas imagens em destaque, a possibilidade da análise histórica proposta.

Adentrando o Paraná das primeiras décadas do século XX

O ano é 1927. Em 10 de novembro, o jornal paranaense O Dia publica a notícia sobre a organização da instrução pública no Paraná elevando esse estado a exemplo de civilização e progresso.

Ali se realiza uma obra notavel de progresso econômico, como plantio do café em terras de primeira qualidade e com o progresso da instrução pública e estabelecimentos de ensino, que rivalizam com os melhores que São Paulo possui. Os dirigentes do estado do Paraná, pelo que observamos, estão certos de que o futuro do Brasil, está nas escolas primárias, que organizaram magnificamente. Foram mesmo além, instituindo aperfeiçoadíssimas escolas normais em Curitiba, Ponta Grossa e Paranaguá, com aparelhamento pedagógico magnífico (A fita do Paraná na Exposição do Café1 1 As grafias das fontes foram mantidas conforme o original. , 1927, p. 1).

A retórica do discurso da modernidade e do progresso presente na imprensa, na política e na história era narrada nos campos da ciência, da educação e da técnica e se apresentava em renovações científicas, em novas descobertas e em novos comportamentos sociais desde meados do século XIX. Acerca dessa modernidade, que adentra o século XX, Marshall Berman (1987Berman, M. (1987). Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo, SP: Cia das Letras., p. 15) ressalta,

[...] o turbilhão da vida moderna tem sido alimentado por muitas fontes: grandes descobertas nas ciências físicas, com a mudança da nossa imagem do universo e do lugar que ocupamos nele; a industrialização da produção, que transforma conhecimento científico em tecnologia, cria novos ambientes humanos e destrói os antigos, acelera o próprio ritmo de vida, gera novas formas de poder corporativo e de luta de classes; descomunal explosão demográfica, que penaliza milhões de pessoas arrancadas de seu habitat ancestral, empurrando-as pelos caminhos do mundo em direção a novas vidas; rápido e muitas vezes catastrófico crescimento urbano; sistemas de comunicação de massa, dinâmicos em seu desenvolvimento, que embrulham e amarram, no mesmo pacote, os mais variados indivíduos e sociedades.

A modernidade não é marcada por um período com rígidas fronteiras e espaços de tempo, mas percebida e citada ao longo dos séculos por pensadores, filósofos e historiadores. Berman situa a modernidade em três fases: a primeira no início do século XVI com a fase inicial do Renascimento; a segunda na Revolução Francesa e na sequência com a Revolução Industrial e suas implicações posteriores; e a terceira no século XX. Segundo o autor, a modernidade se expande em nível mundial. Berman denominou modernidade como o ‘conjunto de experiências’ do sujeito. Para ele, o indivíduo moderno deveria “[...] encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas em redor - mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos” (Berman, 1987Berman, M. (1987). Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo, SP: Cia das Letras., p. 14).

Após a Revolução Industrial, a partir do século XVIII, o surgimento de máquinas mais complexas, movidas a outros tipos de energia que não a força humana, representou nos séculos seguintes uma enorme transformação para a humanidade. Nesse processo, de passagem do feudalismo para o capitalismo, ocorreram transformações que mudaram a organização do trabalho e da vida em sociedade. Tais mudanças transformaram o modo de trabalhar, de se relacionar, de pensar, de agir e de como utilizar o tempo. Nas palavras de Berman (1987Berman, M. (1987). Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo, SP: Cia das Letras., p. 14, grifo do autor), “[...] ser moderno é fazer parte de um universo no qual, como disse Marx, ‘tudo o que é sólido desmancha no ar’”.

O desenvolvimento também atingiu o campo dos engenhos da comunicação. No início do século XIX, em meio à emergência da sociedade de consumo, surgem algumas invenções como telégrafo, telefone, telex e o rádio. A imprensa, o cinema e a fotografia também permeavam esse mundo moderno. As sociedades viviam em um período marcado pela industrialização e pelo capitalismo. Os novos aparatos da tecnologia perpassavam a vida do sujeito, da mesma forma que também contribuíram para impor um novo tempo. O ritmo acelerado das metrópoles encurtava a sensação de tempo e de espaço.

Nesse cenário, podemos pensar o cinema como modo de representação de uma das experiências do homem moderno. A exibição de um filme no final do século XIX, ou no início do século XX, oferece ao telespectador novas experiências visuais, bem como a circulação de valores e de comportamentos de ordem estética, política e social. O cinema incorpora as características dos tempos modernos e a sua tecnologia permite capturar o ‘ritmo frenético’ do homem moderno e ainda oferece à plateia, em formas de sessão, o espetáculo do novo. À luz do saber de Walter Benjamim:

O filme serve para exercitar o homem nas novas percepções e reações exigidas por um aparelho técnico cujo papel cresce cada vez mais em sua vida cotidiana. Fazer do gigantesco aparelho técnico do nosso tempo o objeto das inervações humanas - é essa a tarefa histórica cuja realização dá ao cinema o seu verdadeiro sentido (Benjamin, 1986Benjamin, W. (1986). Magia e técnica, arte e política (Obras escolhidas, 1, 2a ed.). São Paulo, SP: Brasiliense, p. 174).

A modernidade se faz e refaz de tempos em tempos com a eterna sensação da transformação, da dúvida e da aceleração do tempo. Numerosos foram os avanços políticos, econômicos, tecnológicos e sociais que marcaram essa caminhada até o romper do século XX.

A experiência da modernidade do século XIX, no sentido de uma corporeidade que se adapta e incorpora modos de vida ancorados nas premissas do progresso, da industrialização mecanizada, do alto grau de reprodutibilidade técnica, da representação cotidiana pela imagem produzida, não mais pela arte pictórica, mas pela captura de uma câmera (Benjamin, 1986Benjamin, W. (1986). Magia e técnica, arte e política (Obras escolhidas, 1, 2a ed.). São Paulo, SP: Brasiliense), multiplicada e mais democrática (Sontag, 1981Sontag, S. (1981). Ensaios sobre fotografia. Rio de Janeiro, RJ: Arbor. ) seria difundida em grande parte do mundo ocidental pelas Grande Exposições Universais (Turazzi, 1995Turazzi, M. I. (1995). Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo (1839-1889). Rio de Janeiro, RJ: Funarte.), que amplificaram os produtos da modernidade como novidade e miniaturização do mundo pela fotografia.

Nesse sentido, os cartões postais e os cinematógrafos das primeiras décadas do século XX foram instrumentos de difusão de uma representação da modernidade que chegou ao Brasil na passagem do século XIX para o século XX, juntamente com os movimentos de imigração, o intercâmbio de intelectuais e de artistas que circulavam na Europa e traziam as influências do modo de vida e do ideário europeu. Dentro desse panorama, no Paraná, acendeu um movimento denominado Movimento Paranista, sustentado por um imaginário e por uma cultura, o paranismo (Pereira, 1996Pereira, L. F. L. (1996) Paranismo: o Paraná inventado; cultura e imaginário no Paraná da I República (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Paraná, Curitiba. ).

Esse movimento foi organizado por artistas e intelectuais e estabeleceu parâmetros de identidade, tendo como ícones: o paranista, uma mistura do paranaense com o imigrante e com a cultura indígena caingangue presente na região; a natureza local representada pelo Pinheiro do Paraná; e a Arte trazendo o olhar de artistas locais como Andersen, João Turin, Lange de Morretes, entre outros.

Nesse âmbito, se destacou o fotógrafo documentarista João Baptista Groff (Vieira, 1998Vieira, D. M. (1998). João Batista Groff, um olhar fotográfico no Paraná das primeiras décadas do século XX (Dissertação de (Mestrado). Universidade Federal do Paraná, Curitiba.), responsável por difundir o ideário paranista em sua revista Ilustração Paranaense (1927 a 1930), com a colaboração de vários artistas, sendo João Turin responsável pelas ilustrações e ícones paranistas representados na capa da revista e em seu interior. Vale destacar que Groff, munido do ideário paranista, fotografou e filmou o Paraná, produzindo materiais que, à época, foram difusores da modernidade que os imbuía - álbuns de vistas de Curitiba e da natureza paranaense, a revista Ilustração Paranaense, o filme Pátria Redimida que teve início na oportunidade da passagem de Getúlio Vargas por Curitiba em 1930 (Vieira, 1998Vieira, D. M. (1998). João Batista Groff, um olhar fotográfico no Paraná das primeiras décadas do século XX (Dissertação de (Mestrado). Universidade Federal do Paraná, Curitiba.).

Destaca-se nesse contexto de representação de uma modernidade desejada pelo olhar do fotógrafo Groff, enquanto testemunho de uma época, a arquitetura urbana, a natureza típica do lugar, a produção de uma história conjugada do paranaense que se estabeleceu no lugar com os sujeitos que contribuíram com a construção do Paraná, os imigrantes. Pela fotografia, um modo de vida associado à modernidade europeia foi evidenciado, como o exemplo do footing na Rua XV, bem como a presença de colonos no Largo da Ordem, que é uma marca étnica para a modernidade curitibana e paranista. Com o Estado Novo, acrescentam-se a essa representação, imagens da Praça Santos Andrade em eventos cívicos, que contam com a presença de estudantes em formação similar à estética militar, aludindo a uma imagem de progresso e de civilização.

O exemplo do Paraná é uma demonstração da ideia de modernidade que se espraiou como ideário do homem moderno, o que nos possibilita indagar o papel da imagem, especialmente da fotografia, que detinha o valor de documento e de verdade capaz de revelar o mundo em sua representação. Por outro lado, assim que a imagem em movimento se estabelece enquanto representação do cotidiano, os filmes produzidos como documento da realidade passam a conotar o efeito de verdade, dada a verossimilhança causada pela ilusão de captura da imagem em movimento.

No cenário educacional, difundiu-se a ideia de que era preciso uma escola nova para moldar esse homem moderno ligado ao desenvolvimento industrial e à urbanização. No decorrer da década de 1920, no Brasil, assim como em outros lugares do mundo, vários foram os debates e as iniciativas de renovação do sistema escolar. Entre as propostas vindas de diferentes campos de atuação, destaca-se um movimento internacional, o da Escola Nova, que propunha um rompimento com as estruturas educacionais tradicionais (Vidal & Rabelo, 2020Vidal, D. G., & Rabelo, R. S. (Org.). (2020). Movimento internacional da Educação Nova. Belo Horizonte, MG: Fino Traço. ).

Depois de cruzar fronteiras, os discursos da Escola Nova chegaram ao Brasil e foram disseminados nesse período no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mas o movimento obteve visibilidade após a reforma empreendida por Fernando de Azevedo no Distrito Federal, no Rio de Janeiro. Azevedo propunha que uma educação eficiente também estava ligada aos objetos educacionais, aos prédios e a uma arquitetura adequada. Entre 1927 e 1930, como responsável pela Diretoria Geral de Instrução Pública, ele buscou reestruturar a educação pública por meio da renovação do interior e do exterior das escolas e de seus métodos e organização. A instalação de novas escolas e de projetos arquitetônicos se intensificou. De acordo com Diana Gonçalves Vidal, essa diversidade “[...] apontava para os vários usos que o ensino baseado na experiência, na vivência dos estudantes, como pregavam os reformadores cariocas, alicerçados em discursos da Escola Nova, exigia” (Vidal, 2008Vidal, D. G. (2008). Lá vem o Bonde das Normalistas... Uma incursão pelo cotidiano escolar do Instituto de Educação do Rio de Janeiro na década de 1930. In J. C. S. Araujo, G. B. F. Freitas, & A. P. Lopes. As escolas normais no Brasil: do império à república (p. 233-247). Campinas, SP: Alínea., p. 237).

Em 1932, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova2 2 O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova foi redigido por Fernando de Azevedo e assinado pelos educadores Afranio Peixoto, Sampaio Doria, Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Roquete Pinto, J. G. Frota Pessoa, Julio de Mesquita Filho, Raul Briquet, Mário Casanta, C. Delgado de Carvalho, Ferreira de Almeida Júnior, J.P Fontenelle, Roldão Lopes de Barros, Noemy M. da Silveira, Hermes Lima, Attilio Vivacqua, Francisco Venâncio Filho, Paulo Maranhão, Cecília Meireles, Edgar Sussekind de Mendonça, Àlvaro Alberto, Garcia de Rezende, Nóbrega da Cunha, Paschoal Leme e Raul Gomes (Freire Filho, 2002, p. 19). foi lançado. Esse documento era direcionado ao Governo e à Nação e defendia a educação obrigatória, laica e gratuita para todos, como mecanismo de democratização do ensino. Ainda, Diana Gonçalves Vidal lembra que, se em outros países, a

Escola Ativa remetia a um princípio pedagógico, particularmente no Brasil, assumiu um significado muito distante do que adquiriu em todos os demais países em que emergiu. Aglutinou não apenas uma bandeira educacional, mas um investimento político: a renovação do sistema público (Vidal, 2013Vidal, D. G. (2013). 80 anos do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova: questões para debate. Educação e Pesquisa, 577-588. Recuperado de: https://www.scielo.br/j/ep/a/L9NXYsJMYvyRSvPfPxZRgSq/abstract/?lang=pt
https://www.scielo.br/j/ep/a/L9NXYsJMYvy...
, p. 582).

A autora pontua que o Brasil foi o único país ocidental em que a Escola Nova representou um investimento do Estado. Vale destacarmos que o financiamento da educação foi alvo de disputa entre os pioneiros e a ala conservadora, alicerçada pelas instituições confessionais, que exigiam subsídios do Estado. Os Pioneiros representaram a modernidade na Educação, seja por ensejarem novos olhares sobre o ensino, seja por pautarem a educação pública e gratuita e a laicidade como atribuição do Estado.

Na educação brasileira, podemos perceber que o discurso da modernidade, alinhado ao progresso e à valorização do novo, faz-se presente em várias bibliografias. Rosa Fátima de Souza descreve que muitos modelos, temas e estratégias desenvolvidos em vários países, ditos civilizados, circularam e foram debatidos nas esferas política e pedagógica.

[...] métodos de ensino, a ampliação dos programas com a inclusão de novas disciplinas, livros e manuais didáticos, a classificação dos alunos, a distribuição dos conteúdos e do emprego do tempo, o mobiliário, materiais escolares, certificados de estudos, a arquitetura, a formação de professores, a disciplina escolar. Diversos meios possibilitaram a circulação dessas ideias e modelos: as Exposições Universais, os congressos de instrução, relatórios oficiais elaborados por ministros e inspetores do ensino, publicações de livros, artigos, jornais e revistas especializadas no campo educacional (Souza, 2000Souza, R. F. (2000). Inovação educacional no século XIX: a construção do currículo da escola primária no Brasil.Cadernos CEDES, 20(51), 9-28. Recuperado de: https://www.scielo.br/j/ccedes/a/rTX58kXfdPkX5yXv6jMtPLJ/abstract/?lang=pt
https://www.scielo.br/j/ccedes/a/rTX58kX...
, p. 11).

À luz do trabalho de Gizele de Souza, no estado do Paraná, as ideias de educação e de escola moderna com o intuito de alavancar o progresso também estão presentes no debate, na arquitetura, nos discursos da imprensa e na circulação das ideias de educadores no início do século XX.

A representação da escola como ferramenta de civilização, como ‘cellula mater’ de onde se irradiava a luz da instrução, do progresso e da modernidade sobre a população e que afastava as trevas da ignorância - todas essas imagens eram fortes argumentos que sustentavam as propostas de edificação de ‘casas escolares’ adequadas, traduzidas em grupos escolares. Entende-se que a construção dos jardins-de-infância no estado do Paraná ancorava-se na hipótese de constituição desta modalidade escolar como componente de um projeto ampliado de organização do ensino marcado por exemplos internacionais e nacionais de reformas pedagógicas (Souza, 2004Souza, G. (2004). Instrução, o talher para o banquete da civilização: cultura escolar dos jardins-de-infância e grupos escolares no Paraná, 1900-1929 (Tese de Doutorado). Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: História, Política, Sociedade, PUC, São Paulo., p. 38, grifo autor).

As mudanças no espaço escolar, no método do professor, nos instrumentos de ensino, nos artefatos pedagógicos e na organização da escola ocorreram em diferentes proporções e lugares. A escola é parte de um tecido social amplo, que envolve todo o contexto social. Dessa forma, na tentativa de uma aproximação com o cotidiano da escola, ancoramos esse estudo no conceito de cultura escolar definido por Julia (2001Julia, D. (2001). A cultura escolar como objeto histórico. Revista Brasileira de História da Educação, (1),10-43). Recuperado de: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4250681/mod_resource/content/1/273-846-1-PB.pdf
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.p...
, p. 10): “[...] como um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos”.

Esse cenário escolar também é composto por uma materialidade específica, constituída por objetos, que “[...] deixam entrever projetos pedagógicos de escolarização da infância, racionalidades pedagógicas, representações da escola; métodos de ensino, dispositivos educativos; intenções educacionais, dentre outros aspectos [...]”, conforme pontuam Eliane Peres e Gizele de Souza (2011Peres, E., & Souza, G. (2011). Aspectos teóricos-metodológicos da pesquisa sobre cultura material escolar: (im)possibilidades de investigação. In C. A. Castro (org.), Cultura material escolar: a escola e seus artefatos (MA, SP, PR, SC e RS) - 1870-1925. São Luis, MA: EDUFMA. , p. 54). Essa materialidade é entendida, destarte, a partir de uma perspectiva de cultural material escolar. Diante disso, ao tratar as imagens do filme como fontes para a história da cultura material escolar, buscamos contribuir com estudos da história da educação que se localizam em um cenário pautado pela retórica da educação moderna.

Cinema: uma propaganda da renovação escolar

O cinema pode ser considerado como um modo de representação de uma das experiências do homem moderno. Ele nasceu da vontade humana de reproduzir a imagem em movimento e, dessa forma, representar o mundo tal como ele nos surge: num espaço (tridimensional) e num tempo (continuum). O cinema, por si só, desde a sua origem e circulação pode ser analisado dentro da história transnacional. Ao pensarmos na chave de leitura da abordagem de José D’Assunção Barros (2019Barros, J. D’A. (2019). Histórias interconectadas, histórias cruzadas, abordagens transnacionais e outras histórias.Secuencia, (103). Recuperado de: https://secuencia.mora.edu.mx/index.php/Secuencia/article/view/1528
https://secuencia.mora.edu.mx/index.php/...
, p. 9), “[...] tanto a história transnacional como o das histórias cruzadas ou o das histórias entrelaçadas pressupõem possibilidades de mudanças no próprio estilo historiográfico”.

Como tecnologia de captura da imagem, assim como a fotografia, o cinema não teve um único inventor. Várias pessoas, em diferentes lugares do mundo, com inúmeras motivações, participaram e contribuíram para a invenção do cinema, mas foi aos irmãos Louis e Auguste Lumière, que coube o registro da patente do Cinematógrafo: o aparelho que possibilitou a projeção de imagens em tela a um vasto público.

O rápido desenvolvimento da indústria cinematográfica na América do Norte e Europa Ocidental relaciona-se com o desenvolvimento científico e tecnológico daqueles países. No Brasil, a primeira sessão ocorreu no Rio de Janeiro, em julho de 1896. Entretanto, o cinema só vai chegar a Curitiba, em 1907, trazido pelas companhias ambulantes. O primeiro filme produzido no Paraná data de 1907 também, com a filmagem de Anibal Requião.

A imagem em movimento incorpora as características dos tempos modernos. Isso, porque a sua tecnologia permite capturar o ritmo frenético do homem moderno e ainda oferece à plateia, em formas de sessão, o espetáculo do novo. Conforme descreve Roger Chartier (2002Chartier, R. (2002). A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa, PT: Difusão Editora., p. 17), “[...] a história cultural tem como principal objeto identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler”.

Nessa perspectiva, podemos pensar que as exibições de filmes contribuíram para a circulação de determinados assuntos atrelados à ciência e à retórica da educação moderna. No Brasil, na década de 1920, o cinema educativo foi introduzido nas escolas como uma síntese do movimento entre a Física e a Escola Nova (Vidal, 1994Vidal, D. G. (1994). Cinema, laboratório, ciências físicas e Escola Nova. Cadernos de Pesquisa, (89), 24-28). Recuperado de: https://publicacoes.fcc.org.br/cp/article/view/900
https://publicacoes.fcc.org.br/cp/articl...
). Além do uso para o ensino, o cinema é uma ferramenta de propaganda. Um exemplo disso é o documentárioHome Chez Nous, produzido pelo pedagogo suíço Adolfo Ferrière, em 1929, que circulou em alguns continentes exibindo um modelo de Escola Nova.

Os filmes, enquanto fontes de documentação histórica e meios de representação da história, podem ser recortes do cotidiano reveladores para os historiadores. Para Peter Burke, as imagens são como uma testemunha ocular com potencialidade para o estudo da cultura material.

O testemunho das imagens é ainda mais valioso porque elas revelam não apenas artefatos do passado (que em alguns casos foram preservados e podem ser diretamente examinados), mas também sua organização; os livros nas prateleiras de bibliotecas e livrarias, por exemplo, ou os objetos exóticos arrumados em museus, ou ‘gabinetes de curiosidades’ [...] imagens também revelam como os objetos eram usados [...] (Burke, 2004Burke, P. (2004). Testemunha ocular: história e imagem (Vera Maria Xavier dos Santos, trad.). Bauru, SP: Educs., p. 121-122, grifo do autor).

Nesse sentido, buscar os elementos exibidos no filme “Pelo Paraná maior”, que propagandeou o estado do Paraná em 1927/1928, é uma tentativa de reflexão sobre uma parte do percurso histórico para compreender quais aparatos e artefatos foram utilizados em algumas escolas do Paraná naquele período. Conforme permite analisar Jacques Revel (1998Revel, J. (1998). Jogos de escalas: a experiência da microanálise. Rio de Janeiro, RJ: Editora FGV. , p. 24), a redução da escala de análise implica em uma modificação da construção histórica. A escolha de uma escala de análise, portanto, quer dizer escolher “[...] um ponto de vista de conhecimento”. Paul Ricoeur (2007Ricoeur, P. (2007). A memória, a história, o esquecimento. Campinas, SP: Editora Unicamp. p. 222) explica que “[...] a mudança de escala não significa ver as mesmas coisas maiores ou menores, mas ver coisas diferentes [...] com encadeamentos diferentes”. Assim, ao analisar determinado trecho de um filme, optamos por, a partir dele, perceber a circulação e a apropriação de determinados elementos da cultura material escolar exibidos naquele período numa escala nacional.

Importa-nos situar que a fonte histórica principal deste artigo é um filme da década de 1920, mas, para a realização da análise, parte do filme foi digitalizado em forma de fotografia. A imagem fotográfica é um recorte escolhido sobre um dado momento. À luz de Benjamin (1986Benjamin, W. (1986). Magia e técnica, arte e política (Obras escolhidas, 1, 2a ed.). São Paulo, SP: Brasiliense), a fotografia como fragmento do passado constitui-se na sua particularidade uma mônada, ou seja, através dela é possível avaliarmos as imagens do passado ou as ideias contidas nessas imagens como representações de uma época. “Cabe ao materialista histórico fixar uma imagem do passado, como ela se apresenta, no momento do perigo, ao sujeito histórico, sem que ele tenha consciência disso” (Benjamin, 1986Benjamin, W. (1986). Magia e técnica, arte e política (Obras escolhidas, 1, 2a ed.). São Paulo, SP: Brasiliense, p. 224).

“Pelo Paraná maior” - um filme produzido para impressionar

O Estado possui terras e matas que constituem fontes de riquezas inesgotáveis que estão atraindo capitais do resto do Brasil e do estrangeiro. A administração do senhor Munhoz da Rocha estabeleceu escolas de agricultura, para o ensino e preparo da terra, por meio de processos modernos da ciência. Na tela do palácio das Exposições filmaram-se diversas aulas práticas e nessas escolas, com elevado número de alunos [...]. Pelo que observamos, porém, podemos constatar e o fazemos sinceramente, que o Estado vizinho está realizando uma obra extraordinária de progresso que se integralizará brevemente, desde que haja continuidade administrativa (A fita do Paraná na Exposição do Café, 1927A fita do Paraná na Exposição do Café. (1927, 10 de novembro). O Dia. n. 697. Recuperado de: https://memoria.bn.br/DocReader/092932/11041
https://memoria.bn.br/DocReader/092932/1...
, p. 8).

O cenário é a Curitiba dos anos de 1920. O governo do Paraná, representado por Caetano Munhoz da Rocha3 3 Caetano Munhoz da Rocha nasceu em Antonina, em 14 de maio de 1879. Governou o Paraná entre 1920-1924 e de 1924-1928 (Caetano Munhoz da Rocha, 2019). , parecia determinado a propagandear o progresso que ocorria no estado. Um exemplar dessa tentativa é o filme “Pelo Paraná maior” (1927), produzido pela Botelho Films4 4 A empresa Botelho Films foi criada por Alberto Botelho (1885-1973), na década de 1920. Adota um tom ufanista nos seus projetos de longa-metragem. Botelho foi contratado para a elaboração de vários documentários paranaenses. Tornou-se um dos maiores produtores de documentários ao longo dos anos 30 e 40, do século XX (Ramos & Miranda, 1997). , para a projeção na exposição cafeeira de Rezende, com o objetivo de publicitar o estado como grande exemplo de civilização e de desenvolvimento social. Era a retórica do ideal de progresso exibido na tela. Esse filme foi produzido para ser exibido na Exposição do Segundo Centenário Cafeeiro do Brasil, na cidade de São Paulo, em 1927. Vale ressaltarmos que outros filmes foram produzidos no mesmo período.

O filme, pela inovação, já se caracterizava como representação de uma tecnologia moderna do século XX, pois retratava um Paraná atento às grandezas do estado, promovendo um notável progresso econômico que abarcava também a instrução pública e os estabelecimentos de ensino existentes naquele período. O texto de Ana Paula Pupo Correia (2015Correia, A. P. P. (2015). “Pelo Paraná maior” - as representações da arquitetura nas cidades de Curitiba, Ponta Grossa e Paranaguá, segundo os documentários do início do século. In Anais do 1º Colóquio Internacional de História Cultural da Cidade (p. 60-75). Porto Alegre, RS. Recuperado de: https://www.ufrgs.br/gthistoriaculturalrs/05CDANAPAULAPUPOCORREIA.pdf
https://www.ufrgs.br/gthistoriaculturalr...
, p. 06) situa o leitor explicando que a seleção das imagens transmitia a ideia de modernização: “[...] quanto ao desenvolvimento das cidades, o documentário mostrava a organização do espaço [...]”, com as cidades de Curitiba, Ponta Grossa e Paranaguá urbanizadas e modernas.

Além disso, a filmagem focou a construção de novos prédios públicos e documentou ampliação de novas estradas. Na área da educação, as imagens da infraestrutura escolar destacaram o cotidiano dos grupos escolares e das Escolas Normais de Curitiba, Paranaguá e Ponta Grossa.

Na oportunidade de exibição do filme, ocorreu a conferência de Lysimaco Ferreira da Costa, inspetor geral do ensino no Paraná e Delegado do Estado no Congresso do Café, naquele período. A figura do professor Lysimaco Ferreira da Costa também pode ser lida em uma abordagem transnacional, como um mediador e um tradutor cultural, tendo em vista a sua potente circulação no cenário educacional, científico, econômico e administrativo do Paraná. Essa circulação pode ser evidenciada por meio de viagens ligadas à educação e à economia, por suas correspondências com várias cidades do Brasil e de outros países, indicando a articulação do educador junto a agremiações e associações5 5 Lysimaco pertenceu a várias sociedades relacionadas à Educação: Instituto Brasileiro de Filologia (RJ); Associação Brasileira de Educação-ABE(RJ), Associação Paranaense de Educação (PR), Sociedade Brasileira de Educação (RJ), Liga Pedagógica do Ensino Secundário(RJ), Instituto Nacional de Ciência Política (RJ), Instituto Científico de Estudos Corporativos (RJ), Sociedade Amigos de Alberto Torres( RJ), Centro Dom Vital (RJ), Instituto de Engenharia do Paraná (PR), Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (RJ), Sociedade Fluminense de Agricultura e Indústria Rurais (Niterói- RJ), Bureau Internacional de Educação - Instituto Jean Jaques Rousseau (Genebra-Suíça), Academia de Letras do Paraná (PR) Sociedade Magnética da França (Paris) segundo (Costa, 1987). nacionais e internacionais.

O filme “Pelo Paraná maior” teve a primeira sessão no dia 5 de novembro de 1927, às 20 horas, no salão de projeções da Exposição do Café de Rezende. A matéria publicada pelo periódico Correio Paulistano, no dia seguinte ao evento, ilustra:

[...] o distinto delegado do Paraná falou circunstanciadamente sobre seu Estado natal, demonstrando suas vastas possibilidades realizadoras em prol do progresso da pátria, numa síntese admirável que causou admiração no seleto e numeroso auditório (O II Centenário da Introdução do Cafeeiro, 1927O II Centenário da Introducção do Cafeeiro. (1927, 6 de novembro). Correio Paulistano. Edição 23081, p. 4. Recuperado de: https://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/28138
https://memoria.bn.br/DocReader/090972_0...
, p. 04).

Após o discurso do representante do Paraná, a plateia presente naquele momento assistiu à exibição do filme “Pelo Paraná maior” e pôde conhecer as diversas cenas do cotidiano e da geografia do Paraná. Pelo programa de exibição, o filme é dividido em 9 partes, inventariadas como: 1) Curitiba; 2) O Leprosário de São Roque; 3) O Sanatório de São Sebastião; 4) Asilo S. Vicente de Paulo; 5) Os Abrigos de Menores; 6) Uma Villa para os Funcionários Públicos; 7) A Instrução Pública; 8) As Indústrias principais; e 9) Estradas de rodagem. A primeira legenda do filme traz o seguinte texto:

BOTELHO FILM, empresa nacional, cujas diretrizes de exaltação da terra e do homem brasileiros, se evidenciam na divulgação entusiasta de quanto se faz de bom e grandioso na imensidade da pátria brasileira, volve, hoje, decorridos 6 anos sobre a satisfação que experimentou de mostrar o Estado do Paraná ao Brasil e ao mundo, fotografando nos filmes A Erva Matte ou Chá do Brasil, A Indústria da Madeira, A Pecuária Paranaense, Cerâmica de Pinhais, A Estrada de Ferro Paranaguá a Curitiba e A Instrução Pública e tantos outros em que se evidenciou o esforço Paranaense dentro da Federação Brasileira, volve hoje, dizíamos, suas objetivas para novos aspectos desse trabalho fecundo e vertiginoso, que no interregno de um lustro, tanto de novo produziu (Mucha, 1927Mucha, Fr. M. (Direção). (1927). “Pelo Paraná maior” (1 cassete (90 mim.): mudo: p&b). Curitiba, PR: Botelho Film. ).

O filme tem 90 minutos de duração e intenta mostrar uma cidade considerada moderna, bem estruturada e condizente com o entendimento de ordem e progresso. Os feitos no estado paranaense eram propagandeados pelo governo em eventos como exposições e congressos. Embora o filme tenha sido produzido pela Botelho Film6 6 A empresa carioca Botelho Films produziu também entre 1928 e 1929 os filmes Neves brasileiras e O que é o Paraná. O primeiro estreou em 25 de setembro de 1928 e vinha precedido de anúncios que citavam seu sucesso nos cinemas do circuito Serrador no Rio e em São Paulo. O filme mostrava o dia em que nevou em Curitiba, com suas casas e ruas cobertas de neve além de pessoas nas ruas brincando com a neve. , a professora e pesquisadora Solange Straube Stecz (1988Stecz, S. S. (1988). Cinema paranaense 1900-1930 (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Paraná, Curitiba. , p. 110) identificou, a respeito do filme, o seguinte em manifestação da imprensa da época: “[...] características da produção de Groff, sem, no entanto, citar seu nome [...]”. O trecho foi comentado em um jornal de Curitiba e refere-se a uma matéria que abordou o tema A fita do Paraná na Exposição do Café - São Paulo (1927).

Apesar de Groff ter se estabelecido inicialmente como fotógrafo, como entusiasta do cinema, também se voltou à produção documental, sendo uma das suas primeiras iniciativas a filmagem das Cataratas do Iguaçu, em 1922. Mais tarde, na década de 1930, ele se tornou o documentarista oficial do Estado acompanhando o interventor Manoel Ribas pelo Paraná (Vieira, 1998Vieira, D. M. (1998). João Batista Groff, um olhar fotográfico no Paraná das primeiras décadas do século XX (Dissertação de (Mestrado). Universidade Federal do Paraná, Curitiba.).

Dentre os tópicos do programa do filme, nos interessa neste artigo enfatizar ‘Instrução Pública’, que exibe uma parcela dos investimentos em educação naquele período. Para fazer a análise, partes do filme foram transformadas em figuras/imagens, destacando alguns elementos e artefatos presentes na cultura escolar da educação paranaense do ano de 1927.

O filme é mudo e apresenta tela em fundo preto com as legendas em branco, situando e conduzindo o espectador pelo estado do Paraná. Quase como um todo, apresenta algumas instituições daquela época, que apontam um olhar disciplinador, sanitarista e fortemente permeado pelo ideal do progresso. Cinco, dos nove tópicos apresentados no programa, indicam ao telespectador, que, se assistir a película, verá as ações desenvolvidas pelo governo do Paraná, no que tange a atender aos leprosos, aos tuberculosos, aos idosos pedintes, aos menores abandonados e aos jovens estudantes.

Cerca de 20 minutos foram dedicados a mostrar as instalações e os elementos das modernas instituições de ensino de três cidades do Paraná: Curitiba, Ponta Grossa e Paranaguá. Em documentos intitulados Mensagens de Governo7 7 As Mensagens de Governo são relatórios do presidente do ano findo, apresentados na Assembleia Legislativa e disponíveis nos arquivos públicos. Tais documentos descrevem as ações realizadas pelo governo. , assinados pelo presidente do estado Caetano Munhoz da Rocha, entre os anos de 1927 e 1928, encontram-se descritos os investimentos realizados na Instrução Pública do estado. No texto de 1927, o governo aponta que atendeu amplamente à difusão do ensino no estado.

Foram devidamente providas de excellente mobiliario e material de ensino os jardins de infância, os grupos e as casas escolares, as escolas isoladas e as complementares, que necessitavam desse apparelhamento. Encomendaram-se na Europa os laboratórios de physica, chimica e historia natural, destinados às três escolas normaes do Estado (Paraná, 1927Paraná. (1927). Mensagem Presidencial do Estado do Paraná. Mensagem dirigida ao Congresso Legislativo pelo Dr. Caetano Munhoz da Rocha, Presidente do Estado, ao instalar-se a 2ª. Sessão da 18ª Legislatura, em 1 fev. 1927. Curitiba, PR. Recuperado de:https://www.administracao.pr.gov.br/ArquivoPublico/Pagina/Mensagens-de-Governo
https://www.administracao.pr.gov.br/Arqu...
, p. 81).

Percebemos a composição material da escola na retórica do ideal de modernidade pela evidenciação de elementos que distinguem um modelo de educação, por várias formas: a construção de novos prédios; o novo mobiliário escolar; os uniformes; e os materiais de ensino dispostos nas escolas.

Figura 1
Alunos do Curso Complementar em Curitiba

Figura 2
Outro aspecto dos alunos do Curso Complementar em Curitiba

Nas Figuras 1 e 2, notamos a entrada dos alunos no prédio escolar. A imagem em movimento enfatiza a quantidade de alunos, exibe o uso dos uniformes e os alunos carregando o material didático e a pasta escolar.

Figura 3
Festa de inauguração da Escola Normal de Paranaguá

Figura 4
Aspecto cívico da inauguração da Escola Normal de Paranaguá

Figura 5
Encerramento da Inauguração da Escola Paranaguá

As Figuras 3, 4 e 5, dispostas anteriormente, representam trechos do filme que documenta a inauguração de um novo e imponente prédio escolar, localizado em Paranaguá, distante da capital 91.2 km. Munhoz da Rocha, em seu relatório de 1928, assinalava que a nova Escola Normal de Paranaguá apresentava um vasto edifício com 24 salas de aula, gabinetes dos diretores, secretaria, gabinete dentário, dispunha de espaçoso parque para recreio e de um pavilhão de ginástica (Paraná, 1928Paraná. (1928). Mensagem Presidencial do Estado do Paraná. Mensagem dirigida ao Congresso Legislativo pelo Dr. Caetano Munhoz da Rocha, Presidente do Estado, ao instalar-se a 2ª. Sessão da 19ª Legislatura, em 1 fev. 1928. Curitiba, PR. Recuperado de: https://www.administracao.pr.gov.br/ArquivoPublico/Pagina/Mensagens-de-Governo
https://www.administracao.pr.gov.br/Arqu...
, p. 140). Pelas reflexões de Marta Carvalho, “[...] para se fazer ver, a escola devia se dar a ver”.

Daí os edifícios necessariamente majestosos, amplos e iluminados, em que tudo se dispunha em exposição permanente. Mobiliário, material didático, trabalhos executados, atividades discentes e docentes - tudo deveria se dado a ver de modo que a conformação da escola aos preceitos da pedagogia moderna evidenciasse o Progresso que a República instaurava (Carvalho, 2003Carvalho, M. M. C. (2003). A escola e a República e outros ensaios. Bragança Paulista, SP: Edusf ., p. 24).

A representação traz vários elementos simbólicos. A película intenta mostrar ao telespectador uma ideia de que o governo do Paraná estava ocupado em ofertar educação para o estado como um todo, extrapolando o limite geográfico da capital. Além disso, representa a mobilização da comunidade e apresenta os aparelhos oficiais com a exibição da banda marcial ou da fanfarra na cerimônia de inauguração. Ainda, registra a posição de sentido e a organização dos alunos. Essas imagens suscitam pensar sobre o papel disciplinador desenvolvido pela escola.

Figura 6
Entrada na sala de aula da Escola Normal de Paranaguá

Figura 7
Professora em sala de aula

Figura 8
Normalistas em demonstração de ginástica

Figura 9
Professora com as crianças

As Figuras 6, 7, 8, 9 apresentam as cenas de uma aula considerada modelo, com a entrada organizada dos alunos devidamente uniformizados. Também a imagem da professora proferindo uma aula. Na imagem 7, visualizamos o material pedagógico utilizado naquela aula, o ambiente composto de cavalete com um quadro representando o mapa do Paraná. Ademais, são registradas cenas da professora com os alunos em deslocamento provavelmente em direção ao pátio.

Figura 10
Aspecto cívico da ginástica na praça

Figura 11
Aspecto da ginástica na Escola Normal de Ponta Grossa

As Figuras 10 e 11 trazem a ideia da organização dos alunos, da prática dos exercícios físicos, bem como os ritos de referência à bandeira nacional. Um aspecto cenográfico e representativo de uma ideia de educação disciplinadora.

Figura 12
Sala com as carteiras na Escola Normal de Ponta Grossa

Figura 13
Um aspecto mais aproximado da carteira

Nas Figuras 12 e 13, expõe-se, ao telespectador, a mobília, as carteiras consideradas adequadas ao modo escolar como uma representação dos artefatos de uma escola moderna. Todos esses aspectos, desde a estrutura arquitetônica do prédio, as carteiras escolares e até mesmo a decoração interna e externa devem ser considerados como parte da cultura material escolar, “[...] uma vez que respondem a padrões culturais e pedagógicos que a criança internaliza e aprende” (Benito Escolano, 2001Benito Escolano, A. (2001). Arquitetura como programa: espaço-escola e currículo. In A. Viñao Frago, & A. Escolano. Currículo, espaço e subjetividade: a arquitetura como programa (Alfredo Veiga-Neto, trad., p. 119-157). Rio de Janeiro, RJ: DP&A. , p. 45).

Figura 14
Corredor interno da Escola Normal de Ponta Grossa

Figura 15
Sala da Congregação da Escola Normal de Ponta Grossa

Observamos, nas Figuras 14 e 15, a preocupação da organização do mobiliário, do espaço e dos utensílios disponíveis na escola. Aqui as imagens registram os amplos corredores com entrada de luz, os bebedouros e os lavatórios. Ainda, o espaço denominado Sala da Congregação destinado às reuniões que tratam dos assuntos referentes à comunidade escolar.

Figura 16
Ginástica na praça em frente à Universidade

Figura 17
Munhoz da Rocha e Lysimaco Ferreira

Por fim, as Figuras 16 e 17 exibem a grande apresentação de exercícios ginásticos de conjunto e bastão, que, segundo a legenda do filme, reuniu 4 mil crianças para a demonstração realizada em frente à Universidade Federal do Paraná, em 1927. Lysimaco Ferreira da Costa e Caetano Munhoz da Rocha aparecem nas imagens finais da apresentação, descendo as escadarias localizadas em frente à Universidade. Essa é a cena final do tópico Instrução Pública, conforme o programa do filme supracitado. Ela propõe uma forma de assinar e documentar o trabalho realizado pelo governo na educação, naquele ano. Ao encerrar em frente a um espaço educacional de referência, intenta-se mostrar que, com os inúmeros investimentos realizados em educação, apresentados ao longo da película, seria possível ascender à Universidade. Percebemos que, nos 20 minutos dedicados à instrução pública, o filme exibe as cidades que estavam melhor aparelhadas mostrando os novos prédios, o mobiliário adequado, a organização do espaço, os uniformes e as práticas pedagógicas representadas respectivamente nas escolas filmadas em Curitiba, Ponta Grossa e Paranaguá. Segundo as Mensagens de Governo dos anos de 1927 e 1928, os estabelecimentos de ensino do estado, em sua grande maioria, receberam:

[...] os elementos do respectivo mobiliario constante de bandeira nacional, carteiras, mesa, armario, quadro negro, cadeiras e uma série de utensilios indispensaveis e, quanto ao material de ensino, livros de leitura e outros para as tres series, cadernos de calligraphia e linguagem, mappas geographicos, historicos, de linguagem e de arithmetica, lapis, canetas, tinta, giz, etc. (Paraná, 1927Paraná. (1927). Mensagem Presidencial do Estado do Paraná. Mensagem dirigida ao Congresso Legislativo pelo Dr. Caetano Munhoz da Rocha, Presidente do Estado, ao instalar-se a 2ª. Sessão da 18ª Legislatura, em 1 fev. 1927. Curitiba, PR. Recuperado de:https://www.administracao.pr.gov.br/ArquivoPublico/Pagina/Mensagens-de-Governo
https://www.administracao.pr.gov.br/Arqu...
, p. 214).

Destacamos ainda que uso de uma tecnologia moderna, como um filme/cinema, poderia ser uma estratégia do governo paranaense para auxiliar na apresentação e na divulgação de uma determinada situação econômica e social do estado do Paraná que convencesse a população da veracidade do seu discurso.

Filme: uma estratégia de articulação transnacional

Outro ponto a ser destacado sobre esse filme é que, embora ele tenha sido elaborado para ser exibido em um evento do café, em São Paulo, sabemos que ele também foi usado, alguns meses antes, em uma palestra para ilustrar os Aspectos do Ensino Paranaense e articular a favor do Paraná, que intentava sediar a I Conferência Nacional de Educação8 8 A I Conferência Nacional de Educação, proposta pela ABE com apoio do governo do Paraná, foi realizada em Curitiba no período de 19 a 27 de dezembro de 1927. O evento promoveu o debate sobre o ensino primário e a formação dos professores, e contou com a apresentação de 112 teses, ideias de modelo de organização da sociedade que pleiteavam uma educação de qualidade. Entre os temas de importância para a educação naquele período estavam a higiene, o celibato pedagógico feminino, a educação religiosa e o caráter não laico do ensino, entre outros. Quatro temas foram considerados oficiais, discutidos nas sessões plenárias, juntamente com outros nove, os quais constituíram-se em eixos norteadores das discussões: 1) a unidade nacional: a) pela cultura literária; b) pela cultura cívica; c) pela cultura moral; 2) a uniformização do ensino primário nas suas ideias capitais, mantida a liberdade de programas; 3) a criação de escolas normais superiores, em diferentes pontos do país, para preparo pedagógico; e 4) a organização dos quadros nacionais, corporações de aperfeiçoamento técnico, científico e literário (Costa, Shena, & Schimidt, 1997). . Nesse cenário, a partir da leitura de Martin Lawn, podemos pensar no cruzamento de fronteiras estaduais (Lawn, 2014Lawn, M. (2014). Um conhecimento complexo: o historiador da educação e as circulações transfronteiriças. Revista Brasileira de História da Educação , 14(1[34]), 127-144. Recuperado de: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/rbhe/article/view/38866
https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/...
).

Isso, porque o filme é produzido no Paraná, para ter a sua estreia no Congresso do Café, em São Paulo. Entretanto, o mesmo filme é levado para o Rio de Janeiro para um evento voltado aos aspectos educacionais, alguns meses antes da estreia. Essa informação nos remete ao papel das Exposições Universais, enquanto espaço de apresentação, divulgação e de disseminação dos produtos da modernidade, cultura estabelecida no século XIX, que adentrou no século XX, tendo o cinema, ou os filmes documentais, como instrumento difusor do progresso.

Nesse sentido, parece-nos providencial que, em um evento voltado a promover a ideia de progresso e de desenvolvimento no Brasil, fosse exibido um filme que ilustrava o Estado moderno almejado. O objetivo era divulgar o estado do Paraná em ambos os eventos, embora as plateias fossem bastante diferenciadas: uma era voltada à economia e a outra à educação. Para além do filme em si, a exibição ainda contava com apresentação ou palestra do inspetor geral do ensino no Paraná, Lysimaco Ferreira da Costa, antes ou depois da sessão, fazendo circular a ideia da educação moderna realizada no Paraná.

O filme projetou um Paraná educacional que poderia qualificar Curitiba como um dos grandes centros culturais do país. Essa palestra ocorreu em 23 de agosto de 1927, em uma conferência9 9 Estiveram presentes nesta conferência realizada em 23 de agosto de 1927, no Anfiteatro da Escola Politécnica, no Rio de Janeiro, um elevado número de estudiosos dos assuntos educacionais. Entre eles Aloisio de Castro, diretor do Departamento Nacional de Educação, Fernando de Magalhães, diretor da Instrução no Distrito Federal, Barbosa de Oliveira, Delgado de Carvalho, Venâncio Alves, Renato Jardim, Paranhos da Silva, Augusto Rocha, Dulcídio Pereira, lentes universitários, professores do Colégio Pedro II, senadores, deputados federais etc. (Van Erven, 1944). , patrocinada pela Associação Brasileira de Educação (ABE), no Anfiteatro da Escola Politécnica, no Rio de Janeiro. Segundo a imprensa da época:

Na 1ª parte tratou de Curityba, como um grande centro da cultura do paiz, terra onde se encontram todas as espécies de escolas, desde o Jardim da Infância até a majestosa Universidade do Paraná. Terminada a 2ª parte foi projectado na tela um bello filme das escolas normaes de Curityba, Ponta Grossa e Paranaguá, causando especial sensação na assistência o aspecto da creanças paranaenses, o museu escolar e a E. N. Secundaria, sobre cuja organização deu o conferencista amplas explicações. Na 3ª parte sua da Conferencia tratou o dr. Lysimaco da Universidade e do espirito universitario do Paraná, mostrando as suas reacções beneficas, produzidas no meio social paranaense. Dissertou sobre a acção do governo Sr. Munhoz da Rocha terminando com a expressão: eis ahi, srs., o resultado de 8 annos de um governo feliz! Em projecção animada foi lançado na tela o bello edificio da Universidade. Agradeceu o Dr. Lysimaco, a presença dos professores e demais pessoas, autoridades, bem como agradeceu a Empreza Botelho Film a gentileza com que se ofereceu para illustrar gratuitamente a sua conferencia [...] A Associação Brasileira de Educação promoveu essa conferencia, que foi assistida por um publico de professores e interessados no assumpto, notando se a presença do Dr. Fernando Magalhães, presidente da Associação, e o Dr. Fernando de Azevedo, director da instrucção Publica do Districto Federal (Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá, 1927Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá. A instrução pública no Paraná. (1927, 30 de agosto). Diário do Comércio. p. 1, c. 4 e 5. , p. 1).

Importa-nos lembrar que Lysimaco Ferreira da Costa era membro fundador da ABE em 1924 e participava das discussões internas e das articulações junto aos demais intelectuais que debatiam os projetos políticos educacionais a serem implantados no país. A ABE surgiu em um momento em que a crença era usar a educação para recuperar o país de uma hipotética perspectiva de atraso cultural e científico. Para Marta Carvalho (1998Carvalho, M. M. C. (1998). Molde nacional e fôrma cívica: higiene, moral, e trabalho no projeto da Associação Brasileira de Educação (1924-1931). Bragança Paulista, SP: Edusf. ), a ABE constituiu-se em

[...] um dos instrumentos mais eficazes de difusão do pensamento pedagógico europeu e norte-americano, e um dos mais importantes, se não o maior centro de coordenação e de debates para o estudo e solução de problemas educacionais, ventilados por todas as formas, em que inquéritos, em comunicados à imprensa, em curso de férias e nos congressos que promoveu nas capitais dos Estados (Carvalho, 1998Carvalho, M. M. C. (1998). Molde nacional e fôrma cívica: higiene, moral, e trabalho no projeto da Associação Brasileira de Educação (1924-1931). Bragança Paulista, SP: Edusf. , p. 31).

Na trama dessa história, ao perseguir o fio condutor do nome (Ginzburg, 2007Ginzburg, C. (2007). O fio e os rastros: verdadeiro, falso, fictício (Rosa Freire d’Aguiar e Eduardo Brandão, trad.). São Paulo, SP: Companhia das Letras. ), encontramos nos documentos da Instrução Pública de 1927, guardados no Arquivo Público, o recibo10 10 Encontra-se no arquivo público do Paraná, no AP. 2269, s/p, 1927 o recibo de pagamento do filme “Pelo Paraná maior” também citado na dissertação As exposições e eventos nas conferências nacionais de educação: um repertório pedagógico para se dar a ver (1927-1956) (Allgayer, 2020). de pagamento do filme assinado e custeado pelo então inspetor geral do ensino no Paraná, Lysimaco Ferreira da Costa (Allgayer, 2020Allgayer, R. (2020). As exposições e eventos nas Conferências Nacionais de Educação: um repertório pedagógico para se dar a ver (1927-1956) (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Paraná, Curitiba. ). Vale refletirmos sobre o porquê a produção do filme passa pelas mãos do inspetor geral. Além disso, quais eram os interesses em divulgar imagens das escolas paranaenses em Conferências em São Paulo? Qual a relação dos tópicos do filme com a ideia de modernidade que circulava no Brasil?

Nesse sentido, as análises aqui desenvolvidas estão ancoradas no pensamento de Ginzburg (1989Ginzburg, C. (1989). Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo, SP: Cia. das Letras.), que afirma serem os pormenores, os sinais, os indícios, os elementos importantes para o que o historiador fará, isto é, observar, ater-se aos detalhes e fazer associações possíveis. Nesse cenário, podemos pensar que o uso do cinema como uma estratégia de visibilidade foi acertada, tendo em vista que a I Conferência Nacional de Educação ocorreu na cidade de Curitiba, em dezembro de 1927.

Considerações finais

A análise fílmica das 17 figuras/imagens extraídas do “Pelo Paraná maior”, mais especificamente do sétimo tópico do filme, denominado no programa como a Instrução Pública, para nós, aponta alguns elementos e artefatos presentes na cultura escolar da educação paranaense daquele período. Vinte minutos do filme são dedicados aos aspectos do ensino paranaense, exibidos ao telespectador como uma representação dos investimentos realizados pelo governo de Caetano Bento Munhoz da Rocha, em parte da instrução pública do estado.

No cotejamento das fontes, pudemos perceber iniciativas de um investimento na instrução pública do Paraná com o intuito de aparelhar as escolas públicas de acordo com os preceitos modernos, visando a sua ampliação, renovação e desenvolvimento. As imagens apontam que, no estado do Paraná, ao menos nas três cidades filmadas - Curitiba, Ponta Grossa e Paranaguá -, as escolas tidas e representadas como modernas foram exibidas como imponentes prédios escolares, contemplados com salas espaçosas, bem aparelhadas e funcionais. Elas também destacam as carteiras escolares como um artefato importante na composição material adequado àquelas escolas e expõem o trabalho dos professores, além das alunas do curso normal e dos estudantes do curso complementar, todos uniformizados, bem como alguns objetos de ensino organizados nas respectivas escolas. Ainda, apresenta cenas de festas e ritos escolares, como o culto à bandeira e os exercícios físicos. Esses elementos enfatizam aspectos que constroem uma imagem idealizada do que deveria ser a renovação escolar.

O filme trata de mostrar franca e apelativamente a força econômica, produtiva e modernizadora do governo do Paraná. Localizado no ano de 1927, podemos indagar: Que impacto teria no imaginário do telespectador, as imagens em movimento como construção simbólica do Estado? Como tal produção, carregada de representações sociais, poderia ter sido usada como estratégia para consolidar a imagem de um Paraná sólido e próspero? Sabemos que o filme foi produzido com a intenção de dar publicidade ao Estado na Exposição Café, mas também foi utilizado como divulgação em outras esferas, inclusive, na educacional. Nesse sentido, analisar algumas cenas exibidas do item Instrução Publica, do filme “Pelo Paraná maior” foi uma tentativa de extrair algumas representações que dialogam com as ideias da Escola Nova e que circularam por várias fronteiras.

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  • 1
    As grafias das fontes foram mantidas conforme o original.
  • 2
    O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova foi redigido por Fernando de Azevedo e assinado pelos educadores Afranio Peixoto, Sampaio Doria, Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Roquete Pinto, J. G. Frota Pessoa, Julio de Mesquita Filho, Raul Briquet, Mário Casanta, C. Delgado de Carvalho, Ferreira de Almeida Júnior, J.P Fontenelle, Roldão Lopes de Barros, Noemy M. da Silveira, Hermes Lima, Attilio Vivacqua, Francisco Venâncio Filho, Paulo Maranhão, Cecília Meireles, Edgar Sussekind de Mendonça, Àlvaro Alberto, Garcia de Rezende, Nóbrega da Cunha, Paschoal Leme e Raul Gomes (Freire Filho, 2002Freire Filho, E. S. (2002). A trajetória da Associação Brasileira de Educação-1924-2001. Rio de Janeiro, RJ: Editora do Educador. , p. 19).
  • 3
    Caetano Munhoz da Rocha nasceu em Antonina, em 14 de maio de 1879. Governou o Paraná entre 1920-1924 e de 1924-1928 (Caetano Munhoz da Rocha, 2019Caetano Munhoz da Rocha. (2019). Recuperado de: https://www.casacivil.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=60.
    https://www.casacivil.pr.gov.br/modules/...
    ).
  • 4
    A empresa Botelho Films foi criada por Alberto Botelho (1885-1973), na década de 1920. Adota um tom ufanista nos seus projetos de longa-metragem. Botelho foi contratado para a elaboração de vários documentários paranaenses. Tornou-se um dos maiores produtores de documentários ao longo dos anos 30 e 40, do século XX (Ramos & Miranda, 1997Ramos, F., & Miranda, L. F. (1997). Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo, SP: Editora SENAC, 1997.).
  • 5
    Lysimaco pertenceu a várias sociedades relacionadas à Educação: Instituto Brasileiro de Filologia (RJ); Associação Brasileira de Educação-ABE(RJ), Associação Paranaense de Educação (PR), Sociedade Brasileira de Educação (RJ), Liga Pedagógica do Ensino Secundário(RJ), Instituto Nacional de Ciência Política (RJ), Instituto Científico de Estudos Corporativos (RJ), Sociedade Amigos de Alberto Torres( RJ), Centro Dom Vital (RJ), Instituto de Engenharia do Paraná (PR), Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (RJ), Sociedade Fluminense de Agricultura e Indústria Rurais (Niterói- RJ), Bureau Internacional de Educação - Instituto Jean Jaques Rousseau (Genebra-Suíça), Academia de Letras do Paraná (PR) Sociedade Magnética da França (Paris) segundo (Costa, 1987Costa, M. J. F. F. (1987). Lysímaco Ferreira da Costa (a dimensão de um homem). Curitiba, PR: UFPR.).
  • 6
    A empresa carioca Botelho Films produziu também entre 1928 e 1929 os filmes Neves brasileiras e O que é o Paraná. O primeiro estreou em 25 de setembro de 1928 e vinha precedido de anúncios que citavam seu sucesso nos cinemas do circuito Serrador no Rio e em São Paulo. O filme mostrava o dia em que nevou em Curitiba, com suas casas e ruas cobertas de neve além de pessoas nas ruas brincando com a neve.
  • 7
    As Mensagens de Governo são relatórios do presidente do ano findo, apresentados na Assembleia Legislativa e disponíveis nos arquivos públicos. Tais documentos descrevem as ações realizadas pelo governo.
  • 8
    A I Conferência Nacional de Educação, proposta pela ABE com apoio do governo do Paraná, foi realizada em Curitiba no período de 19 a 27 de dezembro de 1927. O evento promoveu o debate sobre o ensino primário e a formação dos professores, e contou com a apresentação de 112 teses, ideias de modelo de organização da sociedade que pleiteavam uma educação de qualidade. Entre os temas de importância para a educação naquele período estavam a higiene, o celibato pedagógico feminino, a educação religiosa e o caráter não laico do ensino, entre outros. Quatro temas foram considerados oficiais, discutidos nas sessões plenárias, juntamente com outros nove, os quais constituíram-se em eixos norteadores das discussões: 1) a unidade nacional: a) pela cultura literária; b) pela cultura cívica; c) pela cultura moral; 2) a uniformização do ensino primário nas suas ideias capitais, mantida a liberdade de programas; 3) a criação de escolas normais superiores, em diferentes pontos do país, para preparo pedagógico; e 4) a organização dos quadros nacionais, corporações de aperfeiçoamento técnico, científico e literário (Costa, Shena, & Schimidt, 1997)Costa, M. J. F. F., Schena, D. R., & Schimidt, M. A. (Orgs.). (1997). 1º Conferência Nacional de Educação (Curitiba, 1927). Brasília, DF: INEP.
  • 9
    Estiveram presentes nesta conferência realizada em 23 de agosto de 1927, no Anfiteatro da Escola Politécnica, no Rio de Janeiro, um elevado número de estudiosos dos assuntos educacionais. Entre eles Aloisio de Castro, diretor do Departamento Nacional de Educação, Fernando de Magalhães, diretor da Instrução no Distrito Federal, Barbosa de Oliveira, Delgado de Carvalho, Venâncio Alves, Renato Jardim, Paranhos da Silva, Augusto Rocha, Dulcídio Pereira, lentes universitários, professores do Colégio Pedro II, senadores, deputados federais etc. (Van Erven, 1944Van Erven, H. M. (1944). Lisímaco semeador de idéias descortinador de riquezas (ensaio bibliográfico). Curitiba, PR.: Tipografia Mundial. ).
  • 10
    Encontra-se no arquivo público do Paraná, no AP. 2269, s/p, 1927 o recibo de pagamento do filme “Pelo Paraná maior” também citado na dissertação As exposições e eventos nas conferências nacionais de educação: um repertório pedagógico para se dar a ver (1927-1956) (Allgayer, 2020Allgayer, R. (2020). As exposições e eventos nas Conferências Nacionais de Educação: um repertório pedagógico para se dar a ver (1927-1956) (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Paraná, Curitiba. ).
  • Rodadas de avaliação:

    R1: três convites; duas avaliações recebidas
  • Como citar este artigo:

    Vieira, D. M., & Allgayer, R. “Pelo Paraná maior”: representações da cultura material escolar exibidas em película na década de 1920. Revista Brasileira de História da Educação, 23. DOI: https://doi.org/10.4025/rbhe.v23.2023.e278
  • 29
    Financiamento: A RBHE conta com apoio da Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE) e do Programa Editorial (Chamada Nº 12/2022) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
  • 30
    Licenciamento: Este artigo é publicado na modalidade Acesso Aberto sob a licença Creative Commons Atribuição 4.0 (CC-BY 4).

Editado por

Editores-associados responsáveis: Ana Clara Bortoleto Nery (UNESP) E-mail: ana-clara.nery@unesp.br https://orcid.org/0000-0001-6316-3243
Andréa Cordeiro (UFPR) E-mail: andreacordeiroufpr@gmail.com https://orcid.org/0000-0002-6963-5261
Gizele de Souza (UFPR) E-mail gizelesouza@uol.com.br https://orcid.org/0000-0002-6487-4300
Marcus Levy Bencostta (UFPR) E-mail: evelynorlando@gmail.com https://orcid.org/0000-0003-3387-7901

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    25 Set 2022
  • Aceito
    17 Abr 2023
  • Publicado
    30 Jun 2023
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