Acessibilidade / Reportar erro

Ascetismo e inocência: a questão da religião no Humano, demasiado humano de Nietzsche

Resumos

Pretende-se analisar, neste artigo, a estratégia histórico-fisiopsicológica utilizada por Nietzsche em Humano, demasiado humano no que diz respeito à sua análise da metafísica religiosa e, mais precisamente, do ascetismo. Para isso, demonstraremos como a argumentação nietzschiana chega à tese da inocência do ser humano e à demonstração de que o ascetismo e a santidade não passariam de um exercício de poder do indivíduo sobre si mesmo, como uma "ânsia de domínio" que, pela ausência de "objetos" externos, acaba se voltando contra si mesmo, pela via da "tiranização de partes de seu próprio ser", resultando no desprezo e no escárnio do homem consigo mesmo, sentimento que redunda na moralidade da culpa. O procedimento de Nietzsche, ao aliviar o homem desse peso, restabeleceria a inocência e a irresponsabilidade pela via da afirmação da necessidade de todas as coisas e da crítica à ideia de livre-arbítrio.

religião; humano; inocência; ascetismo


We intend to analyze, in this article, the Nietzsche's historical-physio-psychological strategy in Human, All Too Human, in regard to his analysis of religious metaphysics and, more specifically, of asceticism. For this, we'll try to demonstrate how the Nietzschean argument gets to the theory of innocence of the human being and the demonstration that asceticism and holiness would remain as an exercise of power of the individual over himself, as dominating impulses, tyrannizing over some portions of their own nature that, with the absence of external "objects" finishes turning against itself, resulting in the contempt and scorn of man to himself, feeling that leads to the morality of guilt. The procedure of Nietzsche, to alleviate man of that weight, would restore the innocence and irresponsibility by way of affirmation of the need of all things and critique the idea of free will.

religion; human; innocence; asceticis


  • 1
    ABBEY, R. Nietzsche's middle period Oxford: Oxford University Press, 2000.
  • 2
    D'IORIO, P. Le Voyage de Nietzsche à Sorrento Genèse de la philosophie de l'esprit libre. Paris: CNRS éditions, 2012.
  • 3
    GIACÓIA JR., O. Nietzsche como psicólogo São Leopoldo: Editora Unisinos, 2006. (Col. Focus, 6).
  • 4
    ITAPARICA, A. L. M. Nietzsche e o sentido histórico. In: Cadernos Nietzsche, 19, São Paulo, 2005, p. 79-99.
  • 5
    _______. Notas sobre a naturalização da moral em Nietzsche. In: PASCHOAL, Antonio Edmilson; FREZZATTI JR., Wilson Antonio (orgs). 120 anos de Para a Genealogia da Moral Ijuí: Editora Unijuí, 2008, p. 29-46.
  • 6
    MIRABILE, P. The nomadic thought Friedrich Nietzsche and Zhuang Zi: convergences and divergences. Nietzsche Studien, 33, Berlin: Walter de Gruyter Inc., 2004, p. 237-277.
  • 7
    NIETZCHE, F. Aurora. Trad. de Paulo César de Souza. São Paulo: Cia. das Letras, 2004.
  • 8
    _______. Humano, Demasiado HumanoTrad. de Paulo César de Souza. São Paulo: Cia. das Letras, 2000 (Vol. I) e 2008 (Vol. II).
  • 9
    _______. Sämtliche Briefe. Kritische Studienausgabe (KSB). Herausgegeben von Giorgio Colli und Mazzino Montinari. München/Berlin/New York: dtv/Walter de Gruyter & Co., 1986. (8 Bänden).
  • 10
    _______. Sämtliche Werke. Kritische Studienausgabe (KSA). Herausgegeben von Giorgio Colli und Mazzino Montinari. München/Berlin/New York: dtv/Walter de Gruyter & Co., 1988, 15 v.
  • 11
    OLIVEIRA, J. R. de. A psicologia como procedimento de análise da moralidade nos escritos intermediários de Friedrich Nietzsche. Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 9, n. 3, dez. 2009, p. 560-581. Disponível em: http://goo.gl/7DYpt. Acesso em: 12 abr. 2013.
  • 12
    _______. Nietzsche e a falha do espelho ou sobre como interpretar também é inocentar. In: AZEREDO, V.D. de; SILVA J., I. (org.). Nietzsche e a interpretação. Curitiba: CRV; São Paulo: Humanitas, 2012. (Col. Nietzsche em Perspectiva, 1), p. 237-246.
  • 13
    PONTON, O. Nietzsche – Philosophie de la lègèreté. Berlin; New York: Walter de Gruyter, 2007. (Monographien und Texte zur Nietzsche-Forschung, Band 53).
  • 14
    RAMACCIOTTI, B. Nietzsche: fisiologia como fio condutor. Revista Estudos Nietzsche, v. 3, n. 1, p. 65-90, jan./jun. 2012.
  • 15
    RÉE, P. Basic Writings. Translated and edited by Robin Small. Chicago: University of Illinois Press, 2003.
  • 16
    SMALL, R. Nietzsche and Rée. A star friendship. New York: Oxford University Press, 2009.
  • 17
    TONGEREN, P. v. A moral da crítica de Nietzsche à moral: estudo sobre "Para além de bem e mal". Trad. Jorge Luiz Viesenteiner. Curitiba: Champagnat, 2012.
  • 18
    WOTLING, P. La philosophie de l'esprit livre. Paris: Éditions Flammarion, 2008.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Out 2013
  • Data do Fascículo
    2013

Histórico

  • Recebido
    11 Maio 2013
  • Aceito
    22 Jun 2013
Grupo de Estudos Nietzsche Rodovia Porto Seguro - Eunápolis/BA BR367 km10, 45810-000 Porto Seguro - Bahia - Brasil, Tel.: (55 73) 3616 - 3380 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: cadernosnietzsche@ufsb.edu.br