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"Nietzsche, intérprete do Brasil"? A recepção da filosofia nietzschiana na imprensa carioca e paulistana no final do século XIX e início do XX

Resumos

Apresentamos aqui quinze de alguns dos primeiros textos publicados sobre a filosofia de Nietzsche na imprensa carioca e paulistana entre o final do século XIX e início do XX. Os textos transcritos na sequência seguem a ordem cronológica de suas publicações. Alguns deles tematizam o contexto brasileiro, outros procuram entender a construção do pensamento do filósofo, outros ainda tratam de suas inclinações culturais pela França ou de suas desconfianças ideológicas pela Alemanha.

Nietzsche; Brasil; recepção; Festa; Correio Paulistano; O Paiz; Fon-Fon; Correio da Manhã; Almanaque do Garnier; Revista da Semana; A Imprensa; A Lanterna; Jornal do Brasil; A.B.C.


We introduce here fifteen of the first published articles on Nietzsche in the Rio de Janeiro and São Paulo press, between the late nineteenth and early twentieth centuries. The transcribed text below follows the publications in chronological order. Some of the texts concentrate on the Brazilian context, others seek to understand the structure of the philosopher's thought and others deal with the French cultural inclinations or the German ideological distrust.

Nietzsche; Brazil; reception; Festa; Correio Paulistano; O Paiz; Fon-Fon; Correio da Manhã; Almanaque do Garnier; Revista da Semana; A Imprensa; A Lanterna


Status quaestionis

Faz-se mister investigarmos a dimensão histórica de recepção da filosofia de Nietzsche no âmbito da pesquisa brasileira sobre o filósofo, haja vista que, de modo geral, "são ainda raros os trabalhos sobre a recepção das ideias filosóficas no Brasil"1 1 MARTON, S. "Nietzsche e a cena brasileira". In Extravagâncias. Ensaios sobre a filosofia de Nietzsche. São Paulo: Discurso Editorial/Ed. da Unijuí, 2001, 253-260; "Nietzsche in Brasilien". In: Nietzsche-Studien. Berlim: Walter de Gruyter, 2000, v. 29, p. 369-376. . Apenas eventualmente encontram-se trabalhos que contribuem para tal pesquisa, como é o caso do breve texto "Nietzsche e a cena brasileira", de Scarlett Marton, "um primeiro e grande passo nessa direção". No entanto, de modo geral constata-se uma grande lacuna quanto a esse tema, tanto que "[a] recepção da filosofia de Nietzsche no Brasil é ainda um capítulo que precisa ser devidamente estudado"2 2 SILVA Jr., I. Notas sobre a recepção de Nietzsche no Brasil. Lebrun e os operadores teóricos, in Cadernos Nietzsche nº 30, São Paulo, 2012, p.121. Há, no entanto, vários trabalhos pontuais sobre os impactos da filosofia de Nietzsche no Brasil: NUNES, B. Oswald Canibal. São Paulo: Perspectiva, 1979; FIGUEIREDO, C. Uma corda sobre o abismo: diálogo entre Lima Barreto e Nietzsche. Alea. v. 6 N. 1 Jan./Jun. 2004 p. 159-173; SILVEIRA, A. Estética simbolista e a filosofia de Nietzsche presentes no romance No hospício, de Rocha Pombo, Dissertação, UFPA, 2005; CONSENTINO, A. Malazarte e a estética irracionalista, Revista Letras, Curitiba, n. 60, p. 247-258, jul./dez. 2003. Ed UFPR, p. 247-258; BARROSO, A. Um Nietzsche à brasileira: intelectuais receptores do pensamento nietzschiano no Brasil (1900-1940), Revista de Teoria da História Ano 5, N. 9, jul/2013. Há ainda outros trabalhos que procuram investigar a maneira pela qual as ideias de Nietzsche impactaram autores brasileiros como Monteiro Lobato, Mário de Andrade, Lima Barreto, Graça Aranha, Oswald Andrada. .

Como meio de contribuir para os trabalhos de recepção do pensamento de Nietzsche, apresentamos alguns dos primeiros textos publicados sobre sua filosofia na imprensa paulistana e carioca, que, já no final do século XIX, publica uma miríade de leituras de sua filosofia, que se integram à cena intelectual do país, tornando-se cada vez mais presente em diversos grupos e círculos de intelectuais.

Em São Paulo, a filosofia de Nietzsche era objeto de estudos e conferências em vários estabelecimentos de ensino, como na Faculdade de filosofia e Letras, na Escola Normal Primária de Casa Branca, na qual o Dr. G. Dumas, conforme notícia o Correio Paulistano, realizou a conferência "A filosofia de Nietzsche", no mês de outubro de 19123 3 Dr. Georges Dumas. Correio Paulistano. São Paulo, ano 62, N.17.698, 30 de outubro de 1912, p.4. Há uma coluna dedicada a informar que a "Conferência na Escola Normal" proferida pelo "eminente colaborador" era a "decima preleção do seu curso científico". A "lição foi a mais interessante das que até aqui tem realizado o ilustre cientista", sendo a moral o ponto central abordado, interpretada como produto da "vontade de poder, que é a única realidade". Esta teria dado origem a dois tipos de moral: "o valor dos fortes e o valor dos fracos". Contra o predomínio desta última, o único caminho seria a reeducação da vontade visando a alcançar "aquilo que denominamos - super-homem - isto é, credor de novos valores, jamais possuídos pela moral dos fracos". O diário explica que o Dr. Dumas expôs e criticou a moral nietzschiana "mostrando que é por uma espécie de enlevo ascético que Nietzsche organiza e desenvolve a vontade de poder, para que esta se torne senhora de si mesmo e capaz de ser verdadeiramente criadora". . No Rio de Janeiro, alcançaram considerável público os estudos, conferências e romances de inspiração nietzschiana da feminista Albertina Bertha. Assim, em alguns dos textos que apresentamos abaixo, o horizonte filosófico nietzschiano permitia aos nossos autores pensarem o próprio contexto cultural brasileiro de então.

Para esse trabalho de apresentação desses textos, a metodologia recepcionista nos auxiliará a analisar os impactos das ideias da filosofia de Nietzsche na imprensa carioca e paulistana entre o final do século XIX e início do XX4 4 JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Trad. Sérgio Tellaroli, Ed. Ática, São Paulo, 1994, p. 7-8. Conforme a metodologia recepcionista, o leitor recepciona a obra a partir 1) de sua expectativa e 2) da expectativa de sua época. Esses são os dois conceitos básicos da metodologia recepcionista aplicada à história da literatura por Jauss. Ela funciona com a categoria da "distância estética". Aqui, transpondo-a para o trabalho em filosofia, tratar-se de substituí-la pela categoria da distância conceitual ou filosófica. Sobre esse ponto Paviani explica que "O levantamento do horizonte de expectativa do leitor da obra literária serve para avaliar o impacto das ideias filosóficas que a obra provoca ao ser lida ou na época de sua publicação. Com certeza, por exemplo, um marxista fanático ou um tomista empedernido não oferecem condições favoráveis para uma leitura da obra de Nietzsche. Os horizontes de expectativa da obra e do leitor apresentam uma distância tão grande que o valor filosófico desaparece. O impacto, todavia, pode ser traduzido de diversas maneiras, como em termos de novidade ou de sistematicidade da obra" Além disso, para o trabalho filosófico em Nietzsche, o empréstimo da metodologia recepcionista evita as interpretações tanto de sentido imanente como as de sentido transcendente. Ela "possui igualmente a possibilidade de aproveitar as contribuições de outros métodos. Jauss insiste em dizer que o método da teoria da recepção é parcial e por ser incompleto não exclui o apoio de outros métodos científicos-filosóficos. Esta contribuição pode ser feita, por exemplo, em relação aos procedimentos da descrição e da análise uma vez que o ponto alto da metodologia recepcionista consiste na interpretação" (cf. PAVIANI, Jayme. A recepção na história da filosofia. Conjuntura, Caxias do Sul, 1(1): 215-232, 1987). . Com ela, será possível medir a importância da filosofia nietzschiana para uma pequena parcela da intelectualidade nacional rumo à antecipação de possibilidades não concretizadas, à expansão de espaços limitados e na direção de novos caminhos para a experiência intelectual.

A presença da filosofia de Nietzsche na imprensa carioca e paulistana

Um dos mais antigos registros sobre a filosofia de Nietzsche na imprensa nacional encontramos no Jornal do Brasil5 5 Diário fundado em 1891 por Rodolfo Dantas, tradicional e empenhado em defender a monarquia deposta, contava em suas origens com colaboradores renomados, como José Veríssimo, Barão do Rio Branco, Rui Barbosa, Joaquim Nabuco. Publicado no Rio de Janeiro, inovou ao incluir a participação de correspondentes estrangeiros, como Wilhelm Schimper, Eça de Queirós. Passou por diversas crises (ainda em 1891 foi atacado, 'empastelado' pela população, em 1893 foi fechado pelo presidente Floriano Peixoto). Foi o principal jornal do regime militar, ao utilizar expressões como "milagre brasileiro", "Brasil grande", chamava até os opositores não armados de terroristas. Com a redemocratização, seus o lucros diminuiram e o diário entrou em crise, desde 2010 tornou-se exclusivamente digital. , no texto "Cartas da Alemanha", de autoria do correspondente francês de origem alemã Wilhelm Schimper, de outubro de 1892, no qual "o filósofo" é apresentado como uma "influência considerada agradável pela novíssima Alemanha" do final do século XIX6 6 SCHIMPER, Wilhelm. Cartas da Alemanha. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, ano 02, N.288, 15 de Outubro de 1892, p. 01. . Schimper o situa entre os filósofos que "modernizou a metafísica"; esclarece que "há um ano apenas, sua filosofia só era conhecida de algum curioso", mas "que nesse pequeno intervalo de tempo conquistou a jovem Alemanha intelectual"; e faz lembrar e lamenta que "Nietzsche, incurável, encerrado em um asilo de alienados, não conhece sua imensa popularidade".

A partir do final do século XIX em diante, tanto a imprensa carioca quanto a paulistana passam a publicar amplamente textos sobre a filosofia de Nietzsche, na forma de artigos, ensaios, crônicas, resenhas, poesias, discursos da cena literária, teatral, política, das artes plásticas, musical, em frases soltas - às vezes aparentemente sem pretensões ou direcionadas para propagandas, ora política, ora comercial -, em transcrições de textos traduzidos para o português ou francês. Extensamente discutida por intelectuais os mais diversos - profissionais da comunicação (muitas vezes anônimos), romancistas, poetas, acadêmicos, diletantes - a filosofia de Nietzsche aparece ligada aos assuntos variados, sendo mesmo uma filosofia da moda. Quanto ao filósofo, ele quase sempre é abordado de forma grandiloquente, sob a ótica de hipérboles, em títulos como "Nietzsche, o grande lutador"7 7 Ribeiro F. Nietzsche, o grande lutador. Correio Paulistano. São Paulo, ano 80, N.24.101, 19 de 0utubro de 1934, p. 05. (também publicado no diário O Paiz, 19/10/1934). ou "Nietzsche, o grande solitário"8 8 PADRICIA, Sylvia. Nietzsche, o grande solitário. Correio Paulistano, São Paulo, ano 82, N. 24.436, 17 de Novembro de 1935, p.14. , não deixando de ser apreciado como grande gênio do século, mas também como louco e perturbado, ora como filósofo metafísico, pragmático, vitalista, existencialista, como músico, "um verdadeiro poeta dos sons", ora herói defensor da civilização e da cultura, ora vilão acusado de inspirar Guerras Mundiais.

No Correio da Manhã9 9 Fundado por Edmundo e Paulo Bittencourt no Rio de Janeiro, o diário tentou se destacar dando ênfase à informação em detrimento da opinião. Foi perseguido e fechado em diversas ocasiões, teve seus proprietários e dirigentes presos por fazer oposição aos presidentes do país; publicou do período de 1901 até 1974. Por ser opositor do governo, o Correio da Manhã não sobreviveu ao regime militar. Colaboraram para o períodico escritores como Lima Barreto, Carlos Drummond de Andrade, Otto Maria Carpeaux, dentre outros. , por exemplo, Nietzsche aparece como um filósofo paradoxal e controverso, ao mesmo tempo, é considerado como gênio, louco, poeta, erudito, filólogo, escritor, literato, ensaísta, revolucionário, etc. Como se tratava de um filósofo da moda, seu nome está presente em contextos os mais inusitados. Seu pensamento se prestava a todo tipo de apropriação e distorções, sua ideia mais citada, übermensch - oriunda de sua obra mais conhecida e apreciada à época, Assim falou Zaratustra -, geralmente traduzida por sobre-homem ou super-homem, em certo momento tornou-se um jargão, conhecido e utilizado por todos. O barão do Rio Branco, por ocasião de seu falecimento, é saldado com a expressão "um nosso super-homem", empregada por Candido Jucá, em fevereiro de 1912: "o barão do Rio Branco foi um verdadeiro super-homem"10 10 JUCÁ, Candido. Um nosso super-homem. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, ano 11, N. 3.861, 13 de Fevereiro de 1913, p.02. Oiticica considera que para criar essa personagem "a autora alteou-se à apresentação evidente da moral aristocrática, pelo contraste flagrante com a moral de escravos do filósofo alemão". É ainda a partir da própria filosofia de Nietzsche que ele aponta falhas no romance, pois julga que a autora não teria dado a sua personagem o rumo mais apropriado ou fiel às ideias do pensador. . Segundo o anarquista José Oiticica, a personagem Ladice, do romance Exaltação, de Albertina Bertha, autora "impregnada de Nietzsche", "surpreende a crítica, pois figura como um tipo novo, uma super-mulher"11 11 OTICICA, José. In Crônico literário. Albertina Bertha - Exaltação (Jacintho Ribeiro dos Santos - Rio - 2ª edição - 1916). Correio da Manhã. Rio de Janeiro, ano 16, N. 6.576, 25 de Fevereiro de 1917, p. 02. .

Já o Correio Paulistano,12 12 Fundado por Joaquim Roberto de Azevedo Marques, nasceu com a aspiração de ser imparcial, mas trocou de posicionamento político diversas vezes em sua trajetória. Foi um dos jornais paulistanos a apoiar a Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922. O diário tinha o modernista Menotti Del Picchia entre seus colaboradores, justificando o motivo de um jornal conservador ter tomado um posicionamento tão arrojado enquanto a Folha da Noite desqualificava os modernistas e suas criações. De 1930 a 1934, permanece fechado em cumprimento de ordem do presidente Getúlio Vargas, por apoiar a República Velha. De volta à circulação, o jornal é publicado até 31 de julho de 1963, quando é fechado. por sua vez, segue a mesma tônica, ao tratar a filosofia nietzschiana como um modismo. Também aqui a ideia de "super-homem" não era mais do que um jargão gasto, empregado para enaltecer personalidades ilustres, tanto nacionais, seja da cena política ou intelectual, quanto internacionais. O que não era estranho, afinal, como afirma Werneck Sodré, "Friedrich Nietzsche foi uma figura tão invulgar e tão sedutora, com um fascínio tão vivo e tão poderoso, que chegou a marcar, quase indelevelmente, muitos de nós". Na verdade, nos primeiros anos do século XX "Nietzsche dominou, quase só, a mentalidade" de seu "tempo", principalmente porque exercia muito fascínio sobre os jovens "a sua teoria do super-homem"13 13 SODRÉ, Nelson, W. In Novos livros. Zaratustra morreu - Heraldo Barby - Edições e publicações Brasil-S. S. Paulo, 1938. Correio Paulistano, São Paulo, ano 85, N.661, 04 de Dezembro de 1938, p. 28. .

Contudo, Sodré admite que a "volta a Nietzsche, agora, anos passados", "traz a sensação de desequilíbrio". Ele tenta negar que haja vínculos entre a filosofia nietzschiana e o nazismo: "Haverá algum pensador que esteja mais fora de atualidade que o autor de 'Humano, muito humano'? Só um desconhecimento completo da orientação, das origens e dos fundamentos das instituições políticas germânicas poderia justificar a afirmação, feita por alguns, de que no nazismo de Hitler existe qualquer coisa, qualquer resquício das ideias de Nietzsche". Assim, para afastar a filosofia de Nietzsche do nazismo, concluiu que "o super-homem, pois, está morto e bem morto"14 14 Na imprensa carioca e paulistana são abundantes e controversas as referências a Nietzsche relacionada às guerras e ao nazi-fascismo. Não raro, sua filosofia é compreendida como instrumento a serviço do imperialismo belicista germânico da época. Quanto à Primeira Guerra, Menotti Del Picchia considera que "a preparação moral germânica parece vir desse individualismo egoístico, oriundo do pensamento de Schopenhauer, modificado por Nietzsche". No seu entender, "As massas populares germânicas vinham sendo trabalhadas por uma filosofia brutal e egoísta, donde ressaltava um pangermanismo talhado pela vontade de Zaratustra". Assevera que o imperialismo germânico pretendia construir uma super-raça, e que "o método para a consecução" desse objetivo "está todo na velada crueldade do super-homem". In PICCHIA, Menotti Del. Schopenhauer e a política. Correio Paulistano. São Paulo, ano 64, N. 19.695, 07 de Maio de 1918, p. 01. .

Na verdade, a imprensa, tanto carioca como paulistana, não apenas discutia e divulgava amplamente as ideias de Nietzsche, como também sediava seus espaços para a realização de palestras e conferências sobre a sua filosofia. Assim foi, por exemplo, "no salão do Jornal do Commercio", na "anunciada conferência da ilustre beletrista d. Albertina Bertha", que discorreu "sobre o tema Nietzsche", no mês de agosto de 191415 15 Ecos sociais, A Época, Rio de Janeiro, ano 03, N. 707, 01 de Agosto de 1914, p. 4. .

Nietzsche e o contexto cultural brasileiro

Podemos afirmar que a filosofia de Nietzsche foi recepcionada na imprensa do Brasil na justa medida em que serviu como veículo e ferramenta utilizada para pensar a diversificada cultura brasileira. Essa característica básica de se servir das ideias da filosofia nietzschiana para interpretar o Brasil encontra-se amplamente nos mais variados periódicos e diários cariocas e paulistanos, embora, sobretudo naqueles de inclinação modernista16 16 A presença da filosofia de Nietzsche ocorre principalmente em diários e periódicos engajados na divulgação de ideias consideradas modernas, entre os quais podemos destacar a revista O Pirralho, periódico literário, político e de humor, fundado por Oswald de Andrade e Dolor de Brito em 12 de Agosto de 1911, com a intenção principal, mas não exclusiva, de repensar a arte brasileira. Nesta revista, a 14 de Novembro de 1914, Amadeu Amaral publicou o texto "O super-homem". Termo amplamente utilizado, Rui Barbosa, por exemplo, figura como o próprio super-homem. Aqui o pensamento de Nietzsche enseja propostas de renovação estética, fornece elementos para alavancar uma ruptura com a forma de criar e pensar a arte tradicional, romântica, parnasiana, etc. Não obstante, as ideias do filósofo, igualmente, eram utilizadas contra as propostas de ruptura com arte clássica. No artigo "O enterro dos coveiros", Correio Paulistano, 05 de Novembro de 1921, Fernando de Azevedo se vale das ideias estéticas de Nietzsche para defender a arte clássica: no seu entender, para não nos perdermos na ruptura, assegura que é preciso não perder de vista "o ideal da arte", que "é exatamente a aliança da beleza objetiva, da perfeição da forma ou do elemento apolíneo na técnica de Nietzsche, com o elemento dionisíaco, a beleza subjetiva, a ideia, o entusiasmo ou a emoção interior que a acompanha: é a ressonância da onda dionisíaca na onda plástica, em cuja vibração simultânea reside à estética que se perpetua na arte concentrada e sóbria dos grandes mestres da prosa ou da poesia, na literatura antiga". . De início, podemos depreender tal característica de algumas passagens publicadas em revistas e jornais da época. Por exemplo, na revista Festa, ao sabor da crítica dos modernistas Andrade Murici e Tasso da Silveira, Essa negra fulô, poema de Jorge de Lima, torna-se pretexto para o seguinte convite: "Que o Brasil se habitue a gostar de coisas assim, de requintes simples, e será grande passo para alcançar um estádio mais equilibrado de cultura, daquela cultura que é a única e verdadeira, e que, como afirmava Nietzsche, consiste sobretudo na unidade de estilo"17 17 Murici e Tasso. Convívio. Festa, Rio de Janeiro, ano I, n. 8, 15 de Maio de 1928, p. 19. . Esse convite não repercutia estranho ao leitor da época, a mais de uma década ele já se deparava, em meio às novidades literárias, como exortações dessa ordem: "Por isso, todo o espírito mundial, todo o 'bom europeu' de Nietzsche deve ser saudado no Brasil, como um precursor, como um pioneiro"18 18 Elysio de Carvalho. O Paiz, Novos Livros, As modernas correntes estéticas na literatura brasileira, 08 de Agosto de 1907, p. 04. . Contudo, essa característica de se servir das ideias da filosofia nietzschiana para interpretar o Brasil mostra-se mais evidente ainda nos textos de José Veríssimo, Nestor Vítor, Miguel Mello, Araripe Júnior, João Ribeiro e Leopoldo de Freitas, apresentados aqui.

Publicados em diferentes diários do Rio de Janeiro, voltar-se sempre para o contexto cultural brasileiro é a característica básica do conjunto de ensaios de José Veríssimo sobre a filosofia de Nietzsche. O primeiro, aqui transcrito, fora originalmente publicado no Correio da Manhã, em 1903; depois, dois outros foram publicados no Jornal do Commercio, entre 1907 e 1908: As ideias literárias de Nietsche e Um ideal de cultura Uma página sobre Nietzsche. Posteriormente, com mudanças de título, esses dois últimos foram acolhidos no livro Homens e coisas estrangeiras, editado em 1910; o primeiro, também com modificação, originalmente constava "Um Nietzsche diferente", foi reeditado como "Nietzsche", no livro Que é literatura? e outros escritos, publicado em 1907. Com esse conjunto de ensaios, Veríssimo recepcionou a filosofia nietzschiana sempre procurando voltar-se "para o caso brasileiro, numa verdadeira diatribe contra o hábito de falsear a cultura com adornos eruditos de superfície"19 19 BARBOSA, J. A. Prefácio. José Veríssimo. Homens e coisas estrangeiras 1899-1908. TOPBOOKS, Rio de Janeiro, 2003, p. 41. .

Em "Um Nietzsche diferente", logo de início, Veríssimo afirma que "Nietzsche está na moda". Com isso, justamente, nos apresenta o clima cultural do momento, e mais particularmente à maneira pela qual, segundo ele, a filosofia nietzschiana era então acolhida no país: "em função do seu temperamento", no sentido de que "podemos crer que quando uma filosofia ou um filósofo e suas doutrinas estão em moda, é que correspondem à índole do momento, ou, pelo menos, às aspirações e sentimentos, ao estado de alma, de grupos sociais, numerosos e consideráveis". Remete-nos, assim, ao clima de renovação cultural em curso no Brasil de então, impactado tanto pela forte imigração, quanto pela crescente atenção e análise que os autores tendem a realizar sobre o país, os chamados intérpretes do Brasil, alguns leitores de Nietzsche.

Assim, os ensaios de Veríssimo sobre a filosofia de Nietzsche nos transportam para o clima de efervescência cultural pré-modernista, principalmente no sentido de que eles apontam - como é o caso do ensaio aqui transcrito - para determinados grupos de "intelectuais", uma "porção" que "caminhou resolutamente ao encontro do poeta filósofo de Assim falou de Zaratustra, aclamou-o senhor e mestre, adoptou a sua doutrina contraditória e vaga, mas ensinada com insólita convicção e eloquência, nova e brilhante na forma, e que o mérito intrínseco que acaso tinha juntava o de dizer com o temperamento e de corresponder aos sentimentos desses". Sugeria assim, que as aspirações dos intelectuais do momento e a filosofia nietzschiana mantinham íntimas correlações, mais ainda, que eles se valiam das ideias do filósofo para pensar uma renovação da cultura brasileira. Isso porque esses tais intelectuais, como afirma Veríssimo, à semelhança do filósofo, "tudo quisera destruir, para criar em lugar um mundo novo, onde a expansão do indivíduo encontrasse as máximas possibilidades, livre, enfim, de todos os "preconceitos" sociais, espirituais e morais, que atrapalham e empecem". Nesse clima cultural caracterizado pelo rompimento com a tradição considerada arcaica, sejam na literatura ou nas artes plásticas, os ensaios de José Veríssimo sobre Nietzsche são prova inconteste de que as obras, as ideias e, enfim, a filosofia nietzschiana passou a ser, a partir então, uma importante fonte de referência para os intérpretes da cultura nacional.

Embora, de modo geral, Veríssimo tenha se mostrado simpático às aspirações renovadoras, a respeito daqueles que acolhiam as ideias de Nietzsche, fizera duras ressalvas: '"No seu livro sobre Wagner, nos descreve Nietzsche 'aquela pobre mocidade, petrificada numa postura de admiração, retendo o fôlego' - São, diz ele, os Wagneristas; não compreendem palavra de música (que diria ele das nossas?), e todavia Wagner reina em nossas almas!. Esta piada poderia perfeitamente aplicar-se aos mais zelosos entre os modernos discípulos de Nietzsche: quantos deles nada entendem de filosofia, sobretudo da que ensinou o seu verdadeiro mestre!'. Como isto é sobretudo verdade nestes Brasis!".

O texto de Nestor Vítor, F. Nietzsche, publicado no diário O Paiz, em 1900, depois reeditado em 1919 no livro A crítica de Ontem, conta entre os primeiros textos de crítica filosófica no Brasil. Considerado como o precursor da crítica filosófica em nosso país, ele foi fortemente impactado pelo pensamento de Nietzsche.

Nesse artigo de jornal, num primeiro momento, o crítico não parece voltar-se para a realidade brasileira. A respeito da filosofia de Nietzsche se exprime de maneira indireta, com intermediações, sobre o filósofo diz que ele é o "sentimento de probidade intelectual levado à loucura". Seu ensaio gira em torno do neologismo cabolin/calinage que, por sua vez, indica a ideia de "niilismo". Como ele afirma, "a cabolinage, quer dizer o sentimento verbal", "o decrescimento do entusiasmo organicamente vital, o caminhar lento, preguiçoso, mas positivo para o niilismo, a que aspiramos". Assim, Nestor Victor mostra-se mais preocupado em refletir sobre as consequências do "niilismo" para o "homem moderno" do que propriamente sobre as implicações dessa ideia à filosofia nietzschiana. Sub-repticiamente, seu texto dá a entender que tal niilismo também está presente no Brasil de seu tempo. Por isso questiona: "essa necessidade do nihil que de cada vez mais se acentua o que pode ser senão a súmula, a consequência geral dessa boêmia em que andam os nossos mais profundos sentimentos humanos?".

É primeiramente por meio dessa ideia geral que Nestor Vítor se propõe tirar conclusões, pouco claras e/ou difusas, a partir da filosofia do pensador alemão, ao afirmar que a "probidade em Nietzsche é, em última análise, uma probidade a Brutus". Tenta universalizar sua crítica filosófica, e injustamente acaba por minimizar "Nietzsche", ao afirmar que "[ele] tem consciência da grandeza humana desenvolvida, no seu máximo grau; mas nenhuma vez se lembra da relatividade dessa grandeza, do nada que ela representa em face do Universo". Decai assim seu discurso numa grande generalidade; de forma um tanto ambígua, afirma que a loucura de Nietzsche é venerável: por ser ele um perseguidor de falsas "pretensões", aconselha que para quem possua valor ele pode ser um louco amigo, mas para as falsas inteligências seus "olhos" "serão sempre uma ironia corrosiva, um sarcasmo dissolvente, impiedosos e fatais".

Fortemente impactado pelas ideias do pensador, principalmente no sentido de que "seu encontro com Nietzsche foi decisivo para reforçar certos traços do seu temperamento", Nestor Vítor se serviu da filosofia nietzschiana para dar início à sua crítica filosófica, inédita no país20 20 COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil. v. IV: pt. II: Estilos de época: era realista/era de transição. 7. Ed. rev. e atual. - São Paulo, 2004, p. 528-530. . Portanto, seu contato com a filosofia de Nietzsche o direcionou rumo à antecipação de algo ainda não realizado no Brasil, na direção de um caminho inteiramente novo para a experiência cultural brasileira.

Tanto é assim que seu texto repercutiu e não ficou sem resposta. Miguel Mello, no diário A Imprensa, elaborou resposta ao texto de Nestor Vítor sobre Nietzsche, se mostrando bastante indignado, inclusive. Em tom ríspido, exclamativo e interrogativo, nega, ao contrário do crítico simbolista, que Nietzsche se manifeste entre os brasileiros "como um arauto do futuro, pregando a nova fé, nas suas novas taboas dos valores".

Já o breve texto de Araripe Júnior, como indica o título, volta-se para discussões estéticas: Ulisses e Dioniso. Comentário e questionamento sobre a obra de Nietzsche "Origens da Tragédia". Foi publicado originalmente no Almanaque do Garnier21 21 Mais conhecido como Almanaque Garnier, foi um períodico anuário criado em 1903 e mantido até 1914. Empreendimento gráfico Frances (isto é, propriedade de dois irmãos franceses, instalado na capital da república), a primeira edição data de 1903, pela Livraria Ganier do Brasil. Sua linha editorial se dirigia a comerciantes, estudantes, profissionais liberais, políticos e autoridades da então capital do Brasil e também de São Paulo. do ano de 1904, depois também reeditado na Revista da Semana22 22 Considerada a primeira revista brasileira e publicada no Rio de Janeiro, a Revista da Semana era um semanário, foi editada de 1900 a 1962. Seu enfoque era principalmente político, tendo muitos intelectuais e artistas da época colaborarado para as suas páginas. do mês de Maio de 1913, contudo, o texto sugere que a composição mesma data de 1902.

Crítico e cronista preocupado com a busca de uma literatura de caráter nacional, Araripe aderiu à ideia, predominante desde o final do séc. XIX, do nacionalismo como critério crítico e norma de criação literária. Estudou a evolução da tragédia grega desde Ésquilo a Shakespeare e a Ibsen, e era, portanto, também um intelectual cultivado na literatura universal. No modesto texto aqui transcrito, Araripe procurou abordar as ideias estéticas do jovem Nietzsche por meio de fatores históricos e genéticos. Com isso, tenta dissuadir a estética nietzschiana ao fazer referência a eventos históricos, como a conquista da América, para assim questionar certa insuficiência do espírito dionisíaco, pois julga que é ao espírito apolínio que devemos a conquista de novos mundos. Como bem sabemos, o Brasil é parte importante desse novo mundo que, segundo Araripe, não teria sido conquistado sem o predomínio do espírito apolínio. Nesse sentido, o crítico se serve das ideias estéticas do pensador tendo em mente um contexto no qual a cultura brasileira está inserida. Agora, o quanto elas teriam lhe servido para interpretar o Brasil é coisa que não se pode julgar pelo texto em questão. Para tanto, é preciso investigar em outros textos do crítico os efeitos da filosofia de Nietzsche mais detidamente.

Primeiramente publicado no anuário Almanaque Garnier de 1904, no texto Frederico Nietzsche - depois reeditado no livro de crônicas O Fabordão (H. Garnier, 1910) - temos um João Ribeiro germanista. Em prefácio à edição de 1967, Augusto Meyer aponta que esse germanista não traduziu bem a expressão Umwertung, ao vertê-la por "inversão", sugerindo que melhor teria sido traduzi-la por "transmutação, remodelação, renovação" 23 23 João Ribeiro. O Fabordão (crônica de vário assunto). Prefácio Augusto Meyer, Revisão crítica e notas Aurélio Buarque de Holanda. Livraria São José LTDA, Rio de Janeiro, 1967, p.11-18. . Além do termo Ümwetung, de fato, o autor também mostrou dificuldades para traduzir o conceito übermensch, traduzindo-o ora por "prohomem", às vezes "sobre-homem", ora utilizando por "pro-homem". Tradução esta, inclusive, que prevalecerá entre o final do XIX e início do século XX, em autores como José Veríssimo.

Seguindo a sugestão crítica de Meyer, igualmente poderemos acrescentar que no texto em questão também comparece o João Ribeiro jornalista, preocupado em informar os brasileiros sobre os fatos e as ideias correntes na Europa. Mais ainda, comparece o intelectual de ideias novas, mas também o intelectual tradicional, voltado para a discussão da monarquia, do cristianismo, do feminismo e outras questões que ele considerava centrais para os brasileiros, todas elas abordadas no texto sem perder de vista a filosofia de Nietzsche como referência principal.

À parte esse conservadorismo, foi por colocar-se publicamente ao lado da renovação literária em curso em sua época que Cassiano Ricardo considerou João Ribeiro "como o verdadeiro precursor do Modernismo"24 24 COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil. v. IV: pt. II: Estilos de época: era realista/era de transição. 7. Ed. rev. e atual. - São Paulo, 2004, p. 64. . No texto aqui transcrito, porém, talvez prevaleça o intelectual que ainda estava em vias de pouco a pouco se orientar para os horizontes modernistas. Contudo, o que se nota é que seu contato com a filosofia de Nietzsche, justamente, mais contribuiu para que ele se direcionasse a realização de possibilidades intelectuais ainda não concretizadas, no horizonte modernista, do que retroagir para o tradicionalismo arcaico.

O texto de Leopoldo de Freitas, por sua vez, desperta a curiosidade do leitor por vários motivos, um deles é o subtítulo: "Ao Dr. Silvio Romero". Ao dedicá-lo a Silvio Romero, o autor volta-se para o contexto brasileiro, justamente aquele que adota o critério nacionalista para a aferição crítica das obras.

Os demais textos são variados, alguns, inclusive, são anônimos, outros de correspondente estrangeiro. Há mais de um que possui continuidades com as recepções estrangeiras de Nietzsche, como é caso do texto de Manoel de Sousa Pinto, O filósofo errante, publicado no Correio da Manhã em 1910. Continuidade no sentido de que, primeiro, trata-se de um correspondente estrangeiro do diário instalado na Europa; segundo, porque o autor resenha as recentes traduções francesas de obras de Nietzsche que igualmente repercutem em Paris, Lisboa, São Paulo e Rio de Janeiro.

Não obstante, salvo a especificidade de cada texto, ainda que de maneira difusa, a principal característica de quase todos é esse movimento de voltar-se para o contexto cultural brasileiro a partir do horizonte filosófico nietzschiano. Um modismo bastante impactante em alguns círculos de intelectuais da época, tanto que as ideais da filosofia de Nietzsche serviam, por exemplo, aos chamados intérpretes do Brasil, por eles utilizadas para pensar, entre outras coisas, uma eugenia racial25 25 VIANNA. Oliveira. Os tipos eugênicos. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, ano 16, N.9.887, 12 de Abril de 1927, p. 04. Vianna se utiliza da filosofia nietzschiana para defender "o conceito do eugênico superior", seriam "tipos eugênicos" com "aptidões eugênicas", "tipo psicologicamente superior", de ambição ampla e robusta, de qualidades superiores e temperamento "instável e migrador", concentrados nas camadas ou elites superiores dirigentes. Seu ponto de partida para construir e explicar sua ideia dos tipos eugênicos é que segundo "Nietzsche a humanidade não é senão um meio de que a Natureza lança mão para chegar a seis ou sete homens de gênio". Apoiado nisso, conjectura que, do mesmo modo um povo ou a massa social "não é mais do que um meio de que a História se utiliza para a produção de uma pequena elite de tipos superiores". Considera que "um povo só é grande ou só se torna grande quando se revela fecundo a produção desses tipos". A título de exemplo, Napoleão, Bismark, Colombo, Kant, Mussolini figuram como tipos eugênicos, homens de "prestigio pessoal", de qualidades superiores, "tipos de elite", ou seja, "grandes organizadores, grandes condutores, guias ou feches de partidos, de seitas, de escolas, de grupo, ou multidões". Eles se opõem a "gente debole e vile", pois são, ao contrário, "gente forte e fiera". Vianna coloca Nietzsche (filósofo) ao lado dos teóricos (cientistas) do eugenismo, ao afirmar que o "conceito do eugênico superior, tal como se vê em Galton, em Nietzsche, em Taine, La pouge, em Le Bon, coincide assim, de um certo modo com o conceito de Pareto sobre os tipos de elite". Sua apropriação da filosofia nietzschiana remete especificamente ao contexto do livro Assim falou Zaratustra, com transliterações que lembram à ideia do além-do-homem como um tipo superior em termos apenas eugênico, e não, como proponha o filósofo, do ponto de vista cultural, moral e espiritual. . No limite, houve até a pretensão de mostrar que o próprio filósofo "chegou certa vez a pensar ligeiramente no Brasil"26 26 WITTKOWSKI, Victor. Nietzsche, intérprete do Brasil. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ano 50, N. 17.583, 18 de junho de 1950, p. 60. .

De fato, considerando que a filosofia de Nietzsche não é um objeto que existe em si mesmo, oferecendo a todos os leitores, de diferentes contextos e épocas, as mesmas teses e argumentos, atualizar a dimensão histórica de sua recepção no Brasil é indispensável à sua pesquisa no âmbito brasileiro. Daí a importância de trazer aqui alguns dos primeiros textos que discutem as controversas ideias de sua filosofia, publicados na imprensa carioca e paulistana do final do século XIX e início do XX.

Todos os textos publicados neste dossiê foram atualizados segundo o acordo ortográfico vigente. No caso de alguns vocábulos nietzschianos, optamos por não atualizar pela tradução corrente, afim conservar a identidade e o contexto histórico do escrito.

  • 1
    MARTON, S. "Nietzsche e a cena brasileira". In Extravagâncias. Ensaios sobre a filosofia de Nietzsche. São Paulo: Discurso Editorial/Ed. da Unijuí, 2001, 253-260; "Nietzsche in Brasilien". In: Nietzsche-Studien. Berlim: Walter de Gruyter, 2000, v. 29, p. 369-376.
  • 2
    SILVA Jr., I. Notas sobre a recepção de Nietzsche no Brasil. Lebrun e os operadores teóricos, in Cadernos Nietzsche nº 30, São Paulo, 2012, p.121. Há, no entanto, vários trabalhos pontuais sobre os impactos da filosofia de Nietzsche no Brasil: NUNES, B. Oswald Canibal. São Paulo: Perspectiva, 1979; FIGUEIREDO, C. Uma corda sobre o abismo: diálogo entre Lima Barreto e Nietzsche. Alea. v. 6 N. 1 Jan./Jun. 2004 p. 159-173; SILVEIRA, A. Estética simbolista e a filosofia de Nietzsche presentes no romance No hospício, de Rocha Pombo, Dissertação, UFPA, 2005; CONSENTINO, A. Malazarte e a estética irracionalista, Revista Letras, Curitiba, n. 60, p. 247-258, jul./dez. 2003. Ed UFPR, p. 247-258; BARROSO, A. Um Nietzsche à brasileira: intelectuais receptores do pensamento nietzschiano no Brasil (1900-1940), Revista de Teoria da História Ano 5, N. 9, jul/2013. Há ainda outros trabalhos que procuram investigar a maneira pela qual as ideias de Nietzsche impactaram autores brasileiros como Monteiro Lobato, Mário de Andrade, Lima Barreto, Graça Aranha, Oswald Andrada.
  • 3
    Dr. Georges Dumas. Correio Paulistano. São Paulo, ano 62, N.17.698, 30 de outubro de 1912, p.4. Há uma coluna dedicada a informar que a "Conferência na Escola Normal" proferida pelo "eminente colaborador" era a "decima preleção do seu curso científico". A "lição foi a mais interessante das que até aqui tem realizado o ilustre cientista", sendo a moral o ponto central abordado, interpretada como produto da "vontade de poder, que é a única realidade". Esta teria dado origem a dois tipos de moral: "o valor dos fortes e o valor dos fracos". Contra o predomínio desta última, o único caminho seria a reeducação da vontade visando a alcançar "aquilo que denominamos - super-homem - isto é, credor de novos valores, jamais possuídos pela moral dos fracos". O diário explica que o Dr. Dumas expôs e criticou a moral nietzschiana "mostrando que é por uma espécie de enlevo ascético que Nietzsche organiza e desenvolve a vontade de poder, para que esta se torne senhora de si mesmo e capaz de ser verdadeiramente criadora".
  • 4
    JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Trad. Sérgio Tellaroli, Ed. Ática, São Paulo, 1994, p. 7-8. Conforme a metodologia recepcionista, o leitor recepciona a obra a partir 1) de sua expectativa e 2) da expectativa de sua época. Esses são os dois conceitos básicos da metodologia recepcionista aplicada à história da literatura por Jauss. Ela funciona com a categoria da "distância estética". Aqui, transpondo-a para o trabalho em filosofia, tratar-se de substituí-la pela categoria da distância conceitual ou filosófica. Sobre esse ponto Paviani explica que "O levantamento do horizonte de expectativa do leitor da obra literária serve para avaliar o impacto das ideias filosóficas que a obra provoca ao ser lida ou na época de sua publicação. Com certeza, por exemplo, um marxista fanático ou um tomista empedernido não oferecem condições favoráveis para uma leitura da obra de Nietzsche. Os horizontes de expectativa da obra e do leitor apresentam uma distância tão grande que o valor filosófico desaparece. O impacto, todavia, pode ser traduzido de diversas maneiras, como em termos de novidade ou de sistematicidade da obra" Além disso, para o trabalho filosófico em Nietzsche, o empréstimo da metodologia recepcionista evita as interpretações tanto de sentido imanente como as de sentido transcendente. Ela "possui igualmente a possibilidade de aproveitar as contribuições de outros métodos. Jauss insiste em dizer que o método da teoria da recepção é parcial e por ser incompleto não exclui o apoio de outros métodos científicos-filosóficos. Esta contribuição pode ser feita, por exemplo, em relação aos procedimentos da descrição e da análise uma vez que o ponto alto da metodologia recepcionista consiste na interpretação" (cf. PAVIANI, Jayme. A recepção na história da filosofia. Conjuntura, Caxias do Sul, 1(1): 215-232, 1987).
  • 5
    Diário fundado em 1891 por Rodolfo Dantas, tradicional e empenhado em defender a monarquia deposta, contava em suas origens com colaboradores renomados, como José Veríssimo, Barão do Rio Branco, Rui Barbosa, Joaquim Nabuco. Publicado no Rio de Janeiro, inovou ao incluir a participação de correspondentes estrangeiros, como Wilhelm Schimper, Eça de Queirós. Passou por diversas crises (ainda em 1891 foi atacado, 'empastelado' pela população, em 1893 foi fechado pelo presidente Floriano Peixoto). Foi o principal jornal do regime militar, ao utilizar expressões como "milagre brasileiro", "Brasil grande", chamava até os opositores não armados de terroristas. Com a redemocratização, seus o lucros diminuiram e o diário entrou em crise, desde 2010 tornou-se exclusivamente digital.
  • 6
    SCHIMPER, Wilhelm. Cartas da Alemanha. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, ano 02, N.288, 15 de Outubro de 1892, p. 01.
  • 7
    Ribeiro F. Nietzsche, o grande lutador. Correio Paulistano. São Paulo, ano 80, N.24.101, 19 de 0utubro de 1934, p. 05. (também publicado no diário O Paiz, 19/10/1934).
  • 8
    PADRICIA, Sylvia. Nietzsche, o grande solitário. Correio Paulistano, São Paulo, ano 82, N. 24.436, 17 de Novembro de 1935, p.14.
  • 9
    Fundado por Edmundo e Paulo Bittencourt no Rio de Janeiro, o diário tentou se destacar dando ênfase à informação em detrimento da opinião. Foi perseguido e fechado em diversas ocasiões, teve seus proprietários e dirigentes presos por fazer oposição aos presidentes do país; publicou do período de 1901 até 1974. Por ser opositor do governo, o Correio da Manhã não sobreviveu ao regime militar. Colaboraram para o períodico escritores como Lima Barreto, Carlos Drummond de Andrade, Otto Maria Carpeaux, dentre outros.
  • 10
    JUCÁ, Candido. Um nosso super-homem. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, ano 11, N. 3.861, 13 de Fevereiro de 1913, p.02. Oiticica considera que para criar essa personagem "a autora alteou-se à apresentação evidente da moral aristocrática, pelo contraste flagrante com a moral de escravos do filósofo alemão". É ainda a partir da própria filosofia de Nietzsche que ele aponta falhas no romance, pois julga que a autora não teria dado a sua personagem o rumo mais apropriado ou fiel às ideias do pensador.
  • 11
    OTICICA, José. In Crônico literário. Albertina Bertha - Exaltação (Jacintho Ribeiro dos Santos - Rio - 2ª edição - 1916). Correio da Manhã. Rio de Janeiro, ano 16, N. 6.576, 25 de Fevereiro de 1917, p. 02.
  • 12
    Fundado por Joaquim Roberto de Azevedo Marques, nasceu com a aspiração de ser imparcial, mas trocou de posicionamento político diversas vezes em sua trajetória. Foi um dos jornais paulistanos a apoiar a Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922. O diário tinha o modernista Menotti Del Picchia entre seus colaboradores, justificando o motivo de um jornal conservador ter tomado um posicionamento tão arrojado enquanto a Folha da Noite desqualificava os modernistas e suas criações. De 1930 a 1934, permanece fechado em cumprimento de ordem do presidente Getúlio Vargas, por apoiar a República Velha. De volta à circulação, o jornal é publicado até 31 de julho de 1963, quando é fechado.
  • 13
    SODRÉ, Nelson, W. In Novos livros. Zaratustra morreu - Heraldo Barby - Edições e publicações Brasil-S. S. Paulo, 1938. Correio Paulistano, São Paulo, ano 85, N.661, 04 de Dezembro de 1938, p. 28.
  • 14
    Na imprensa carioca e paulistana são abundantes e controversas as referências a Nietzsche relacionada às guerras e ao nazi-fascismo. Não raro, sua filosofia é compreendida como instrumento a serviço do imperialismo belicista germânico da época. Quanto à Primeira Guerra, Menotti Del Picchia considera que "a preparação moral germânica parece vir desse individualismo egoístico, oriundo do pensamento de Schopenhauer, modificado por Nietzsche". No seu entender, "As massas populares germânicas vinham sendo trabalhadas por uma filosofia brutal e egoísta, donde ressaltava um pangermanismo talhado pela vontade de Zaratustra". Assevera que o imperialismo germânico pretendia construir uma super-raça, e que "o método para a consecução" desse objetivo "está todo na velada crueldade do super-homem". In PICCHIA, Menotti Del. Schopenhauer e a política. Correio Paulistano. São Paulo, ano 64, N. 19.695, 07 de Maio de 1918, p. 01.
  • 15
    Ecos sociais, A Época, Rio de Janeiro, ano 03, N. 707, 01 de Agosto de 1914, p. 4.
  • 16
    A presença da filosofia de Nietzsche ocorre principalmente em diários e periódicos engajados na divulgação de ideias consideradas modernas, entre os quais podemos destacar a revista O Pirralho, periódico literário, político e de humor, fundado por Oswald de Andrade e Dolor de Brito em 12 de Agosto de 1911, com a intenção principal, mas não exclusiva, de repensar a arte brasileira. Nesta revista, a 14 de Novembro de 1914, Amadeu Amaral publicou o texto "O super-homem". Termo amplamente utilizado, Rui Barbosa, por exemplo, figura como o próprio super-homem. Aqui o pensamento de Nietzsche enseja propostas de renovação estética, fornece elementos para alavancar uma ruptura com a forma de criar e pensar a arte tradicional, romântica, parnasiana, etc. Não obstante, as ideias do filósofo, igualmente, eram utilizadas contra as propostas de ruptura com arte clássica. No artigo "O enterro dos coveiros", Correio Paulistano, 05 de Novembro de 1921, Fernando de Azevedo se vale das ideias estéticas de Nietzsche para defender a arte clássica: no seu entender, para não nos perdermos na ruptura, assegura que é preciso não perder de vista "o ideal da arte", que "é exatamente a aliança da beleza objetiva, da perfeição da forma ou do elemento apolíneo na técnica de Nietzsche, com o elemento dionisíaco, a beleza subjetiva, a ideia, o entusiasmo ou a emoção interior que a acompanha: é a ressonância da onda dionisíaca na onda plástica, em cuja vibração simultânea reside à estética que se perpetua na arte concentrada e sóbria dos grandes mestres da prosa ou da poesia, na literatura antiga".
  • 17
    Murici e Tasso. Convívio. Festa, Rio de Janeiro, ano I, n. 8, 15 de Maio de 1928, p. 19.
  • 18
    Elysio de Carvalho. O Paiz, Novos Livros, As modernas correntes estéticas na literatura brasileira, 08 de Agosto de 1907, p. 04.
  • 19
    BARBOSA, J. A. Prefácio. José Veríssimo. Homens e coisas estrangeiras 1899-1908. TOPBOOKS, Rio de Janeiro, 2003, p. 41.
  • 20
    COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil. v. IV: pt. II: Estilos de época: era realista/era de transição. 7. Ed. rev. e atual. - São Paulo, 2004, p. 528-530.
  • 21
    Mais conhecido como Almanaque Garnier, foi um períodico anuário criado em 1903 e mantido até 1914. Empreendimento gráfico Frances (isto é, propriedade de dois irmãos franceses, instalado na capital da república), a primeira edição data de 1903, pela Livraria Ganier do Brasil. Sua linha editorial se dirigia a comerciantes, estudantes, profissionais liberais, políticos e autoridades da então capital do Brasil e também de São Paulo.
  • 22
    Considerada a primeira revista brasileira e publicada no Rio de Janeiro, a Revista da Semana era um semanário, foi editada de 1900 a 1962. Seu enfoque era principalmente político, tendo muitos intelectuais e artistas da época colaborarado para as suas páginas.
  • 23
    João Ribeiro. O Fabordão (crônica de vário assunto). Prefácio Augusto Meyer, Revisão crítica e notas Aurélio Buarque de Holanda. Livraria São José LTDA, Rio de Janeiro, 1967, p.11-18.
  • 24
    COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil. v. IV: pt. II: Estilos de época: era realista/era de transição. 7. Ed. rev. e atual. - São Paulo, 2004, p. 64.
  • 25
    VIANNA. Oliveira. Os tipos eugênicos. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, ano 16, N.9.887, 12 de Abril de 1927, p. 04. Vianna se utiliza da filosofia nietzschiana para defender "o conceito do eugênico superior", seriam "tipos eugênicos" com "aptidões eugênicas", "tipo psicologicamente superior", de ambição ampla e robusta, de qualidades superiores e temperamento "instável e migrador", concentrados nas camadas ou elites superiores dirigentes. Seu ponto de partida para construir e explicar sua ideia dos tipos eugênicos é que segundo "Nietzsche a humanidade não é senão um meio de que a Natureza lança mão para chegar a seis ou sete homens de gênio". Apoiado nisso, conjectura que, do mesmo modo um povo ou a massa social "não é mais do que um meio de que a História se utiliza para a produção de uma pequena elite de tipos superiores". Considera que "um povo só é grande ou só se torna grande quando se revela fecundo a produção desses tipos". A título de exemplo, Napoleão, Bismark, Colombo, Kant, Mussolini figuram como tipos eugênicos, homens de "prestigio pessoal", de qualidades superiores, "tipos de elite", ou seja, "grandes organizadores, grandes condutores, guias ou feches de partidos, de seitas, de escolas, de grupo, ou multidões". Eles se opõem a "gente debole e vile", pois são, ao contrário, "gente forte e fiera". Vianna coloca Nietzsche (filósofo) ao lado dos teóricos (cientistas) do eugenismo, ao afirmar que o "conceito do eugênico superior, tal como se vê em Galton, em Nietzsche, em Taine, La pouge, em Le Bon, coincide assim, de um certo modo com o conceito de Pareto sobre os tipos de elite". Sua apropriação da filosofia nietzschiana remete especificamente ao contexto do livro Assim falou Zaratustra, com transliterações que lembram à ideia do além-do-homem como um tipo superior em termos apenas eugênico, e não, como proponha o filósofo, do ponto de vista cultural, moral e espiritual.
  • 26
    WITTKOWSKI, Victor. Nietzsche, intérprete do Brasil. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ano 50, N. 17.583, 18 de junho de 1950, p. 60.

referências bibliográficas

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  • (Anônimo) Nietzsche ou Bíblia? A Lanterna, São Paulo, ano 14, N. 271, 02 de janeiro de 1915.
  • (Anônimo) Nietzsche e o gênio francês. Revista da Semana, Rio de Janeiro, ano 17, N. 10, 15 de abril de 1916.
  • (Anônimo) Nietzsche Germanofobo. Fon-Fon, Rio de Janeiro, ano 09, N. 22, 29 de maio de 1915.
  • (Anônimo) O super-homem arrivista. A.B.C. Rio de Janeiro, ano 06, N.301, 11 de Dezembro de 1920.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2014

Histórico

  • Recebido
    20 Fev 2014
  • Aceito
    15 Mar 2014
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