Acessibilidade / Reportar erro

Um estudo sobre associação semântica de palavras do português brasileiro

RESUMO

Objetivo

coletar normas de associação semântica de 96 palavras do português brasileiro e aplicá-las, posteriormente, na elaboração de um teste de reconhecimento de fala com frases com controle da previsibilidade da palavra.

Método

participaram 67 voluntários com idades entre 18 e 27 anos. Foi aplicada uma tarefa de associação semântica com delimitação de classe de palavras.

Resultados

o tamanho médio do conjunto total e do significativo foi maior para a segunda evocação para as classes de verbos e substantivos. A força de associação semântica que prevaleceu na primeira recordação foi forte para a primeira e média para a segunda palavra. Na segunda recordação, a força de associação com maior prevalência foi média para a primeira e para a segunda palavra. Foi observada correlação negativa significativa entre a força de associação e os tamanhos total e significativo do conjunto.

Conclusão

Normas de associação semântica de 96 palavras do português brasileiro foram coletadas conforme proposto e resultaram em palavras associadas semanticamente para cada alvo nas categorias de verbo e substantivo, as quais foram utilizadas em um teste de reconhecimento de fala com frases considerando a previsibilidade da palavra.

Descritores:
Linguística; Linguagem; Cognição; Testes de Discriminação de Fala

ABSTRACT

Purpose

To collect the semantic association norms of 96 Brazilian Portuguese words for further application in the formulation of a speech recognition test using sentences with controlled word predictability.

Methods

Study participants were 67 volunteers aged 18 to 27 years. A semantic association task with word class delimitation was used.

Results

The mean sizes of the total and meaning sets were larger in the second recall to both verb and noun classes. The prevalent semantic association strength in the first recall was strong to the first word and moderate to the second word. In the second recall, the prevalent semantic association strength was moderate to both the first and second words. Significant negative correlation was observed between association strength and total and meaning set sizes.

Conclusion

The semantic association norms of 96 Brazilian Portuguese words were collected as proposed and resulted in semantic associates for each target word in the verb and noun classes that were used in a speech recognition assessment considering sentences with controlled word predictability.

Keywords:
Linguistics; Language; Cognition; Speech Recognition Tests

INTRODUÇÃO

A utilização de palavras em pesquisas revela a necessidade de uma seleção cuidadosa destes estímulos, pois suas características podem gerar efeitos indesejáveis de confusão. A necessidade de evitar possíveis influências secundárias demanda conhecimento sobre os atributos das palavras, sendo a coleta de normas um dos procedimentos frequentemente utilizado na identificação desses atributos(11 Janczura GA. Contexto e normas de associação para palavras: a redução do campo semântico. Paidéia (Ribeirão Preto). 2005;15(32):417-25. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005000300011.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005...
).

Entre as características das palavras, temos a semântica, sendo que os estudos envolvendo normas de associação semântica são realizados há mais de um século em outros países envolvendo pesquisas sobre linguagem, aprendizagem e memória(11 Janczura GA. Contexto e normas de associação para palavras: a redução do campo semântico. Paidéia (Ribeirão Preto). 2005;15(32):417-25. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005000300011.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005...
,22 Salles JF, Holderbaum CS, Becker N, Rodrigues JC, Liedtke FV, Zibetti MR, et al. Normas de Associação semântica para 88 palavras do português brasileiro. Psico (Porto Alegre). 2008;39(3):260-8.). No Brasil, esses estudos são mais recentes (década de 1990) e têm sua importância ressaltada na medida em que é desaconselhável a importação de resultados de estudos em outras línguas, pela falta de confiabilidade(33 Janczura GA. Normas associativas para 69 categorias semânticas. Psicol, Teor Pesqui. 1996;12(3):237-44.).

O levantamento de palavras associadas semanticamente permite estimar o conjunto de associadas em virtude de alguma propriedade ou relação linguística, proporcionando uma forma de avaliar o conhecimento sobre palavras que os indivíduos adquiriram durante a sua história de aprendizagem(11 Janczura GA. Contexto e normas de associação para palavras: a redução do campo semântico. Paidéia (Ribeirão Preto). 2005;15(32):417-25. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005000300011.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005...
).

As pesquisas têm focalizado a associação semântica de palavras correlacionando-a com diversos aspectos como: categorias semânticas(33 Janczura GA. Normas associativas para 69 categorias semânticas. Psicol, Teor Pesqui. 1996;12(3):237-44.,44 De Deyne S, Storms G. Word associations: network and semantic properties. Behav Res Methods. 2008a;40(1):213-31. PMid:18411545. http://dx.doi.org/10.3758/BRM.40.1.213.
http://dx.doi.org/10.3758/BRM.40.1.213...
), propriedades sintagmática e paradigmática(55 De Deyne S, Storms G. Word associations: norms for 1424 Dutch words in a continuous task. Behav Res Methods. 2008b;40(1):198-205. PMid:18411543. http://dx.doi.org/10.3758/BRM.40.1.198.
http://dx.doi.org/10.3758/BRM.40.1.198...
), processo de desenvolvimento e/ou envelhecimento(66 Macizo P, Gómez-Ariza CJ, Bajo MT. Associative norms of 58 Spanish words for children from 8 to 13 years old. Psicologica (Valencia). 2000;21(3):287-300.

7 Salles JF, Holderbaum CS, Machado CS. Normas de associação semântica de 50 palavras do português brasileiro para crianças: tipo, força de associação e set size. Interam J Psychol. 2009;43(1):57-67.

8 Zortea M. Estudo sobre associação semântica de palavras em crianças, adultos jovens e idosos [dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2010.
-99 Zortea M, Salles JF. Estudo comparativo das associações semânticas de palavras entre adultos jovens e idosos. Psicol, Teor Pesqui. 2012;28(3):259-66. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722012000300001.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722012...
), contexto semântico(11 Janczura GA. Contexto e normas de associação para palavras: a redução do campo semântico. Paidéia (Ribeirão Preto). 2005;15(32):417-25. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005000300011.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005...
), demência semântica(1010 Vesely L, Bonner MF, Reilly J, Grossman M. Free association in semantic dementia: the importance of being abstract. [abstract]. Brain Lang. 2007;103(1-2):154-5. http://dx.doi.org/10.1016/j.bandl.2007.07.092.
http://dx.doi.org/10.1016/j.bandl.2007.0...
), aspectos linguísticos como concretude e frequência de ocorrência das palavras(22 Salles JF, Holderbaum CS, Becker N, Rodrigues JC, Liedtke FV, Zibetti MR, et al. Normas de Associação semântica para 88 palavras do português brasileiro. Psico (Porto Alegre). 2008;39(3):260-8.,1111 Nelson DL, Schreiber TM. Word concreteness and word structure as independent determinants of recall. J Mem Lang. 1992;31(2):237-60. http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)90013-N.
http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)9...
,1212 Stein LM, Gomes CFA. Normas brasileiras para listas de palavras associadas: associação semântica, concretude, frequência e emocionalidade. Psicol, Teor Pesqui. 2009;25(4):537-46. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009000400009.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009...
) e memória(1111 Nelson DL, Schreiber TM. Word concreteness and word structure as independent determinants of recall. J Mem Lang. 1992;31(2):237-60. http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)90013-N.
http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)9...
,1313 Stein LM, Feix LF, Rohenkohl G. Avanços metodológicos no estudo das falsas memórias: construção e normatização do procedimento de palavras associadas. Psicol Reflex Crit. 2006;19(2):166-76. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722006000200002.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722006...
), entre outros.

O método da associação livre é muito utilizado para a elaboração de normas de associações semânticas. Consiste em apresentar uma palavra-alvo para os participantes e pedir que eles produzam uma palavra relacionada que lhes vier à mente(22 Salles JF, Holderbaum CS, Becker N, Rodrigues JC, Liedtke FV, Zibetti MR, et al. Normas de Associação semântica para 88 palavras do português brasileiro. Psico (Porto Alegre). 2008;39(3):260-8.). Pode-se utilizar o método de primeira resposta, no qual é solicitado uma única resposta para cada alvo(11 Janczura GA. Contexto e normas de associação para palavras: a redução do campo semântico. Paidéia (Ribeirão Preto). 2005;15(32):417-25. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005000300011.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005...

2 Salles JF, Holderbaum CS, Becker N, Rodrigues JC, Liedtke FV, Zibetti MR, et al. Normas de Associação semântica para 88 palavras do português brasileiro. Psico (Porto Alegre). 2008;39(3):260-8.
-33 Janczura GA. Normas associativas para 69 categorias semânticas. Psicol, Teor Pesqui. 1996;12(3):237-44.,66 Macizo P, Gómez-Ariza CJ, Bajo MT. Associative norms of 58 Spanish words for children from 8 to 13 years old. Psicologica (Valencia). 2000;21(3):287-300.

7 Salles JF, Holderbaum CS, Machado CS. Normas de associação semântica de 50 palavras do português brasileiro para crianças: tipo, força de associação e set size. Interam J Psychol. 2009;43(1):57-67.

8 Zortea M. Estudo sobre associação semântica de palavras em crianças, adultos jovens e idosos [dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2010.
-99 Zortea M, Salles JF. Estudo comparativo das associações semânticas de palavras entre adultos jovens e idosos. Psicol, Teor Pesqui. 2012;28(3):259-66. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722012000300001.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722012...
) ou o de respostas múltiplas, no qual duas ou mais respostas são colocadas na sequência em que vêm à mente(1010 Vesely L, Bonner MF, Reilly J, Grossman M. Free association in semantic dementia: the importance of being abstract. [abstract]. Brain Lang. 2007;103(1-2):154-5. http://dx.doi.org/10.1016/j.bandl.2007.07.092.
http://dx.doi.org/10.1016/j.bandl.2007.0...
,1212 Stein LM, Gomes CFA. Normas brasileiras para listas de palavras associadas: associação semântica, concretude, frequência e emocionalidade. Psicol, Teor Pesqui. 2009;25(4):537-46. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009000400009.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009...
;1313 Stein LM, Feix LF, Rohenkohl G. Avanços metodológicos no estudo das falsas memórias: construção e normatização do procedimento de palavras associadas. Psicol Reflex Crit. 2006;19(2):166-76. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722006000200002.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722006...
).

Duas críticas são apontadas à associação contínua ou respostas múltiplas, sendo elas: o efeito de encadeamento, quando a segunda palavra associada é gerada em função da primeira e não do alvo, e o efeito de inibição da recuperação, na qual a primeira resposta inibe a produção das demais(33 Janczura GA. Normas associativas para 69 categorias semânticas. Psicol, Teor Pesqui. 1996;12(3):237-44.,1111 Nelson DL, Schreiber TM. Word concreteness and word structure as independent determinants of recall. J Mem Lang. 1992;31(2):237-60. http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)90013-N.
http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)9...
). O efeito de inibição das respostas pode ser minimizado quando é pedido um número limitado de respostas. Outra redução desse efeito pode ser obtida quando se aumenta a variação dos estímulos(55 De Deyne S, Storms G. Word associations: norms for 1424 Dutch words in a continuous task. Behav Res Methods. 2008b;40(1):198-205. PMid:18411543. http://dx.doi.org/10.3758/BRM.40.1.198.
http://dx.doi.org/10.3758/BRM.40.1.198...
).

Embora haja boas razões para restringir a coleta de associados para uma resposta por alvo, há casos em que pode ocorrer primeiramente uma forte associação (e.g., sangue e vermelho), reduzindo o número de associados distintos e impedindo, por exemplo, que sejam elaboradas frases com mais de um associado semântico diferente relacionado a uma mesma palavra. Assim, a versão de respostas contínuas permite a obtenção de maior variabilidade em associações, além de estimar melhor a probabilidade de fracas associações(55 De Deyne S, Storms G. Word associations: norms for 1424 Dutch words in a continuous task. Behav Res Methods. 2008b;40(1):198-205. PMid:18411543. http://dx.doi.org/10.3758/BRM.40.1.198.
http://dx.doi.org/10.3758/BRM.40.1.198...
).

A força de associação entre o par de associados é baseada no número de respostas concordantes dadas a um mesmo alvo e pode ser considerada fraca (menos de 10%), média (entre 10% e 24%) ou forte (25% ou mais)(22 Salles JF, Holderbaum CS, Becker N, Rodrigues JC, Liedtke FV, Zibetti MR, et al. Normas de Associação semântica para 88 palavras do português brasileiro. Psico (Porto Alegre). 2008;39(3):260-8.,77 Salles JF, Holderbaum CS, Machado CS. Normas de associação semântica de 50 palavras do português brasileiro para crianças: tipo, força de associação e set size. Interam J Psychol. 2009;43(1):57-67.,1111 Nelson DL, Schreiber TM. Word concreteness and word structure as independent determinants of recall. J Mem Lang. 1992;31(2):237-60. http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)90013-N.
http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)9...
). Está diretamente relacionada ao tamanho do conjunto, o qual pode ser total (todas as respostas diferentes são consideradas) ou significativo (somente as respostas geradas por dois ou mais participantes são consideradas) (1111 Nelson DL, Schreiber TM. Word concreteness and word structure as independent determinants of recall. J Mem Lang. 1992;31(2):237-60. http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)90013-N.
http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)9...
,1212 Stein LM, Gomes CFA. Normas brasileiras para listas de palavras associadas: associação semântica, concretude, frequência e emocionalidade. Psicol, Teor Pesqui. 2009;25(4):537-46. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009000400009.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009...
).

Um cuidado considerado no levantamento de associados semânticos é a não aceitação de palavras derivadas do alvo, como “trabalho” - “trabalhador”, bem como nomes próprios, devido às implicações para o tamanho do conjunto e à semelhança estrutural entre a palavra-alvo e as demais palavras associadas(22 Salles JF, Holderbaum CS, Becker N, Rodrigues JC, Liedtke FV, Zibetti MR, et al. Normas de Associação semântica para 88 palavras do português brasileiro. Psico (Porto Alegre). 2008;39(3):260-8.,77 Salles JF, Holderbaum CS, Machado CS. Normas de associação semântica de 50 palavras do português brasileiro para crianças: tipo, força de associação e set size. Interam J Psychol. 2009;43(1):57-67.). Considerando o uso das palavras associadas na elaboração de frases para serem reconhecidas auditivamente, a semelhança estrutural entre palavras poderia favorecer de forma inadequada o reconhecimento. Por exemplo, na frase “O sorveteiro vendeu um sorvete”, o reconhecimento da palavra sorvete é favorecido pela palavra sorveteiro.

Outra cautela comumente realizada no levantamento de associados semânticos diz respeito à contagem dos associados. As palavras geradas que variam em gênero (e.g., avô e avó) ou número (e.g., casa e casas) e que não evidenciam diferença semântica entre os itens são agrupadas sob o rótulo da palavra com maior frequência de ocorrência(11 Janczura GA. Contexto e normas de associação para palavras: a redução do campo semântico. Paidéia (Ribeirão Preto). 2005;15(32):417-25. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005000300011.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005...

2 Salles JF, Holderbaum CS, Becker N, Rodrigues JC, Liedtke FV, Zibetti MR, et al. Normas de Associação semântica para 88 palavras do português brasileiro. Psico (Porto Alegre). 2008;39(3):260-8.
-33 Janczura GA. Normas associativas para 69 categorias semânticas. Psicol, Teor Pesqui. 1996;12(3):237-44.,66 Macizo P, Gómez-Ariza CJ, Bajo MT. Associative norms of 58 Spanish words for children from 8 to 13 years old. Psicologica (Valencia). 2000;21(3):287-300.,88 Zortea M. Estudo sobre associação semântica de palavras em crianças, adultos jovens e idosos [dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2010.,99 Zortea M, Salles JF. Estudo comparativo das associações semânticas de palavras entre adultos jovens e idosos. Psicol, Teor Pesqui. 2012;28(3):259-66. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722012000300001.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722012...
).

O levantamento de normas de associação semântica para palavras tem sua importância como ferramenta indispensável na pesquisa sobre memórias, representação e aprendizagem de conceitos, influência do envelhecimento na aprendizagem e cognição, entre outros(11 Janczura GA. Contexto e normas de associação para palavras: a redução do campo semântico. Paidéia (Ribeirão Preto). 2005;15(32):417-25. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005000300011.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005...
).

Diante do exposto, os estudos envolvendo testes de avaliação de reconhecimento de fala com frases deveriam considerar a associação semântica das palavras na elaboração do material. O maior controle sobre determinado atributo, permite ao pesquisador uma seleção mais cuidadosa do estímulo(11 Janczura GA. Contexto e normas de associação para palavras: a redução do campo semântico. Paidéia (Ribeirão Preto). 2005;15(32):417-25. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005000300011.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005...
) e o levantamento das informações desejadas com menor possibilidade de viés.

Na literatura nacional, há diversos estudos nos quais foram elaborados testes de reconhecimento de fala com frases, mas somente em um deles foi contemplado o atributo da associação semântica de palavras na formulação das frases(1414 Calais LL. Reconhecimento de fala em idosos: elaboração e aplicação de um teste considerando a previsibilidade da palavra [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2011.). Neste estudo(1414 Calais LL. Reconhecimento de fala em idosos: elaboração e aplicação de um teste considerando a previsibilidade da palavra [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2011.), foi elaborado um teste de reconhecimento de fala com frases com controle da previsibilidade da palavra. O participante foi solicitado a repetir somente a palavra final da frase, sendo analisada a influência do tipo de frase neste reconhecimento, sendo denominadas de previsibilidade alta e de baixa.

Assim, o presente trabalho teve como objetivo coletar normas de associação semântica de 96 palavras do português brasileiro e aplicá-las, posteriormente, na elaboração de um teste de reconhecimento de fala com frases com controle da previsibilidade da palavra(1414 Calais LL. Reconhecimento de fala em idosos: elaboração e aplicação de um teste considerando a previsibilidade da palavra [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2011.).

MÉTODO

Este estudo foi realizado na disciplina Distúrbios da Audição, do Departamento de Fonoaudiologia. O projeto que originou o estudo foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob número 0948/09. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Para a tarefa de associação semântica aplicada, foi utilizada uma lista de 96 palavras da categoria concreta. Na elaboração desta lista, a escolha das palavras baseou-se em dois estudos de concretude realizados(1414 Calais LL. Reconhecimento de fala em idosos: elaboração e aplicação de um teste considerando a previsibilidade da palavra [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2011.,1515 Janczura GA, Castilho GM, Rocha NO, Van Erven TJC, Huang TP. Normas de concretude para 909 palavras da língua portuguesa. Psicol, Teor Pesqui. 2007;23(2):195-204.). Todas as palavras selecionadas eram da classe dos substantivos, dissilábicas, paroxítonas e com alta ocorrência no português (mais de 50 ocorrências por milhão, limiar definido com base em valores comumente utilizados na literatura(1616 Bybee JL. Phonology and language use. Cambridge: Cambridge University; 2001.)).

Participaram deste estudo 67 voluntários, sendo 66 (98,5%) do gênero feminino e um (1,5%) do gênero masculino. A idade média foi de 20,56 anos, variando de 18 a 27 anos e todos eram alunos de graduação do curso de Fonoaudiologia de uma universidade pública, sendo 28 (41,8%) matriculados na 1ª série, 22 (32,8%) na 2ª série, 6 (8,9%) na 3ª série e 11 (16,4%) na 4ª série do curso, no ano de 2009.

As palavras foram dispostas em uma única versão do instrumento constando de 16 páginas. Na primeira havia o cabeçalho a ser preenchido com os dados de identificação (idade, gênero e ano do curso) e, a seguir, as palavras. Cada folha foi dividida em seis partes e cada parte continha uma palavra dentro de um balão. Abaixo de cada balão havia duas linhas numeradas (1 e 2).

Os participantes foram instruídos a fazer a atividade individualmente e em silêncio, sendo livre o tempo para execução.

O método de associação utilizado foi o de delimitação da classe de palavras. Foram solicitados, para quase metade da amostra (33 participantes), palavras da classe substantivo e, para os demais participantes (34 estudantes), verbos associados a cada uma das palavras dispostas no instrumento. Esta opção foi adotada para que fossem coletadas palavras destas duas categorias para posteriormente serem aproveitadas na formulação de frases de um teste de reconhecimento de fala. Desta forma, evitou-se o risco de serem geradas somente palavras de uma única classe gramatical, o que dificultaria a elaboração de frases munidas dos termos essenciais (sujeito, verbo e predicado). Foram solicitadas duas respostas para cada palavra.

A tarefa foi aplicada em grupo em uma única sessão, em um total de quatro grupos, conforme a disponibilidade dos voluntários. A instrução fornecida foi: “Vocês receberam folhas divididas em seis partes e em cada uma delas há uma palavra escrita e vocês deverão escrever, nas linhas correspondentes para cada palavra, as duas primeiras palavras com significado relacional que lhes vierem à mente.” Em seguida, foi dado um exemplo para a categoria substantivo e outro para verbo (ex.: palavra “praia” associada ao substantivo “mar” e ao verbo “nadar”) e ressaltado que não seriam aceitas palavras derivadas do alvo, como “trabalho” e “trabalhador”, bem como nomes próprios.

Foram computadas as duas palavras de maior frequência para cada palavra-alvo, tanto para a primeira quanto para a segunda palavra escrita. As palavras geradas que variaram em gênero (ex.: menino e menina) ou número (ex.: asa e asas) e que não evidenciam diferença semântica entre os itens, foram agrupadas sob o rótulo da palavra com maior frequência de ocorrência.

O tamanho do conjunto foi analisado de duas maneiras: primeiramente foi calculado o tamanho do conjunto total (TT), no qual todas as respostas (palavras, e abreviaturas) diferentes foram consideradas, inclusive as idiossincrásicas e as incorretas (outra categoria que não a solicitada, palavra derivada do alvo e palavra inexistente), com semelhante critério proposto em outros estudos(1111 Nelson DL, Schreiber TM. Word concreteness and word structure as independent determinants of recall. J Mem Lang. 1992;31(2):237-60. http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)90013-N.
http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)9...

12 Stein LM, Gomes CFA. Normas brasileiras para listas de palavras associadas: associação semântica, concretude, frequência e emocionalidade. Psicol, Teor Pesqui. 2009;25(4):537-46. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009000400009.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009...
-1313 Stein LM, Feix LF, Rohenkohl G. Avanços metodológicos no estudo das falsas memórias: construção e normatização do procedimento de palavras associadas. Psicol Reflex Crit. 2006;19(2):166-76. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722006000200002.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722006...
). Com relação às palavras idiossincrásicas, parte deles(22 Salles JF, Holderbaum CS, Becker N, Rodrigues JC, Liedtke FV, Zibetti MR, et al. Normas de Associação semântica para 88 palavras do português brasileiro. Psico (Porto Alegre). 2008;39(3):260-8.,1111 Nelson DL, Schreiber TM. Word concreteness and word structure as independent determinants of recall. J Mem Lang. 1992;31(2):237-60. http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)90013-N.
http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)9...
) também considerou essas palavras na contagem e parte(11 Janczura GA. Contexto e normas de associação para palavras: a redução do campo semântico. Paidéia (Ribeirão Preto). 2005;15(32):417-25. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005000300011.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005...
,1313 Stein LM, Feix LF, Rohenkohl G. Avanços metodológicos no estudo das falsas memórias: construção e normatização do procedimento de palavras associadas. Psicol Reflex Crit. 2006;19(2):166-76. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722006000200002.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722006...
) não as considerou. Posteriormente foi calculado o tamanho do conjunto significativo (TS), no qual foram computadas as respostas geradas por dois ou mais participantes. Na análise do tamanho do conjunto significativo, os grupos semânticos associados foram classificados como pequeno (1 a 8 associações), médio (9 a 16 associações) e grande (de 17 a 34 associações). As análises do conjunto significativo foram realizadas de forma semelhante à classificação adotada em estudos prévios(22 Salles JF, Holderbaum CS, Becker N, Rodrigues JC, Liedtke FV, Zibetti MR, et al. Normas de Associação semântica para 88 palavras do português brasileiro. Psico (Porto Alegre). 2008;39(3):260-8.,1111 Nelson DL, Schreiber TM. Word concreteness and word structure as independent determinants of recall. J Mem Lang. 1992;31(2):237-60. http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)90013-N.
http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)9...
).

A força de associação entre os pares foi calculada pela porcentagem de ocorrência do associado semântico mais frequente para cada alvo(22 Salles JF, Holderbaum CS, Becker N, Rodrigues JC, Liedtke FV, Zibetti MR, et al. Normas de Associação semântica para 88 palavras do português brasileiro. Psico (Porto Alegre). 2008;39(3):260-8.,77 Salles JF, Holderbaum CS, Machado CS. Normas de associação semântica de 50 palavras do português brasileiro para crianças: tipo, força de associação e set size. Interam J Psychol. 2009;43(1):57-67.). As palavras geradas com 25% ou mais de concordância entre os participantes foi considerada forte, entre 10% e 24% de concordância, como média força e abaixo de 10% de concordância foram consideradas fracas.

Outras duas análises realizadas foram: a correlação entre a força de associação semântica e o tamanho do conjunto total e significativo para a categoria de verbos e de substantivos, além da comparação entre os níveis de força.

RESULTADOS

Os sujeitos levaram em média 28,5 minutos para finalizar a atividade, com uma amplitude de 19 minutos entre o menor e o maior valor.

Considerando o tamanho do conjunto total, o teste T-Student Pareado foi utilizado para comparar as médias dos valores obtidos entre a primeira e a segunda lembrança das classes de palavras verbos e substantivos. Na categoria de verbos, foram obtidos os valores médios de 13,2 (DP=5,5) para a primeira e 20,7 (DP=4,5) para a segunda palavra, sendo significativa a diferença entre os valores (p<0,001). Na categoria de substantivos, os valores médios foram 14,9 (DP=4,6) para a primeira e 20,2 (DP=3,2) para a segunda palavra, sendo significativa essa diferença (p<0,001).

Da mesma forma, foi analisado o tamanho do conjunto significativo por meio da comparação das médias dos valores obtidos entre a primeira e a segunda lembrança das classes de palavras. Na categoria de verbos, os valores médios foram 4,5 (DP=1,6) para a primeira e 5,9 (DP=1,8) para a segunda palavra, com a diferença sendo significativa (p<0,001). Na categoria de substantivos, os valores médios obtidos foram de 4,8 (DP=1,8) para a primeira e 6,0 (DP=1,4) para a segunda palavra, sendo significativa a diferença obtida (p<0,001).

Quanto à análise do conjunto significativo dos 96 alvos na categoria de verbos, 100% dos conjuntos de associados foram classificados como pequeno para a primeira lembrança – Verbo 1 (V1), e 94,8% dos conjuntos foram pequenos e 5,2% médios para a segunda lembrança – Verbo 2 (V2). Para a categoria de substantivos, 97,9% dos conjuntos de associados semânticos foram pequenos e 2,1% médios para a primeira lembrança – Substantivo 1 (S1) e 94,8% dos conjuntos foram pequenos e 5,2% médios para a segunda lembrança – Substantivo 2 (S2).

A Tabela 1 apresenta a análise quantitativa da força de associação semântica entre a palavra-alvo e as duas palavras mais frequentes para a primeira e para a segunda lembrança, considerando todos os alvos para a categoria de verbos e substantivos.

Tabela 1
Percentuais dos níveis de força de associação de palavras lembradas para a primeira e segunda recordação de verbos e substantivos

É possível observar que, na primeira recordação (V1 e S1), a força de associação prevalente foi a forte, seguida da média e da fraca. Para a segunda palavra, a concentração maior foi na categoria de força média, seguida da fraca e, por fim, da forte. Para a segunda recordação (V2 e S2), a força de maior destaque para a primeira palavra foi a média, seguida da forte e da fraca e, para a segunda palavra, a categoria forte foi a de menor ocorrência.

A correlação (Correlação de Pearson) entre a força de associação semântica e os tamanhos do conjunto total e significativo para a categoria de verbo e de substantivo é mostrada na Tabela 2. Pode-se observar correlações negativas significativas (p<0,05) para as duas categorias. Para os verbos, a qualidade da correlação(1717 Cohen J. Statistical power analysis for the behavioral sciences. Hillsdale: Erlbaum; 1988.) se mostrou forte (r>0,5) para a primeira palavra de V1 e para as duas palavras de V2 do tamanho total e somente para a primeira palavra de V1 para o tamanho significativo. A segunda palavra de V1 do tamanho total foi considerada moderada (0,3>r<0,49) e as demais do tamanho significativo foram consideradas fracas (0,10>r<0,29). Para a categoria dos substantivos, a qualidade da correlação se mostrou forte para a primeira palavra de S1 e para as duas palavras de S2 do tamanho total e somente para a primeira palavra de S1 para o tamanho significativo. A segunda palavra de S1 do tamanho total foi considerada fraca, bem como a segunda palavra de S1 e S2 do tamanho significativo. A primeira palavra de S2 do tamanho significativo foi considerada moderada.

Tabela 2
Correlação da força de associação com os tamanhos para verbo e substantivo

Na comparação (teste ANOVA) da força de associação com os tamanhos dos conjuntos, os seguintes resultados foram obtidos para a categoria de verbos: diferença significativa (p<0,05) para o tamanho do conjunto total e significativo para as duas palavras da primeira e da segunda recordação, com exceção do conjunto significativo para a segunda palavra da segunda recordação. Observou-se diminuição dos tamanhos dos conjuntos à medida que a força de associação aumentou, mas o padrão somente foi constante para o tamanho total.

Ainda considerando a comparação (teste ANOVA) da força de associação com os tamanhos dos conjuntos, os seguintes resultados foram obtidos para a categoria de substantivos: diferença significativa (p<0,005) para o tamanho do conjunto total e significativo para as duas palavras da primeira e da segunda recordação, com exceção do conjunto significativo para a segunda palavra da primeira e da segunda recordação. Assim como nos verbos, observou-se uma diminuição dos tamanhos dos conjuntos à medida que a força de associação aumentou, sendo o padrão constante para o tamanho total.

Todas as palavras do teste geraram no mínimo duas palavras associadas para o grupo de verbos e de substantivos. Destaca-se que em diversos casos houve mais de dois associados gerados por apresentarem pontuação semelhante no mais elevado nível de força de associação. Na Tabela 3, são mostrados os associados semânticos das 96 palavras-alvo para os verbos e os substantivos.

Tabela 3
Palavras-alvo com os associados semânticos de maior frequência e tamanhos do conjunto para verbos e substantivos

DISCUSSÃO

Neste estudo, foram coletadas normas de associação semântica para 96 palavras do português brasileiro. Os procedimentos empregados foram de restrição da categoria para o associado semântico e a escrita de duas palavras associadas para cada alvo. O intuito foi gerar um número variado de associados, permitindo a elaboração de frases distintas com uma mesma palavra-chave.

Entre os resultados obtidos com os associados semânticos, foi observado que o tamanho do conjunto total apresentou um valor médio maior para segunda lembrança em comparação à primeira. A maior variação entre as respostas apresentadas pelos participantes para a segunda palavra foi igualmente observada nos dois grupos (verbos e substantivos). Quanto ao tamanho do conjunto significativo, observou-se comportamento semelhante ao anteriormente descrito com o aumento do número de associados para a segunda palavra lembrada, mas com valores médios menores.

Uma possível explicação para o aumento dos conjuntos na segunda lembrança seria o efeito da criação de cadeias semânticas ou o encadeamento de respostas(33 Janczura GA. Normas associativas para 69 categorias semânticas. Psicol, Teor Pesqui. 1996;12(3):237-44.,1111 Nelson DL, Schreiber TM. Word concreteness and word structure as independent determinants of recall. J Mem Lang. 1992;31(2):237-60. http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)90013-N.
http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)9...
,1818 Nelson DL, McEvoy CL, Bajo MT. Lexical and semantic search in cued recall, fragment completion, perceptual identification, and recognition. Am J Psychol. 1988;101(4):465-80. PMid:3232723. http://dx.doi.org/10.2307/1423225.
http://dx.doi.org/10.2307/1423225...
). Segundo essa hipótese, é possível que a segunda palavra seja um associado semântico da primeira palavra recordada e não um segundo associado da palavra original. Assim, o conjunto de associados tende a crescer uma vez que nem todos os sujeitos evocam a mesma palavra na primeira lembrança.

O tamanho dos conjuntos total e/ou significativo foi apresentado em outros estudos(22 Salles JF, Holderbaum CS, Becker N, Rodrigues JC, Liedtke FV, Zibetti MR, et al. Normas de Associação semântica para 88 palavras do português brasileiro. Psico (Porto Alegre). 2008;39(3):260-8.,33 Janczura GA. Normas associativas para 69 categorias semânticas. Psicol, Teor Pesqui. 1996;12(3):237-44.,55 De Deyne S, Storms G. Word associations: norms for 1424 Dutch words in a continuous task. Behav Res Methods. 2008b;40(1):198-205. PMid:18411543. http://dx.doi.org/10.3758/BRM.40.1.198.
http://dx.doi.org/10.3758/BRM.40.1.198...
,77 Salles JF, Holderbaum CS, Machado CS. Normas de associação semântica de 50 palavras do português brasileiro para crianças: tipo, força de associação e set size. Interam J Psychol. 2009;43(1):57-67.,99 Zortea M, Salles JF. Estudo comparativo das associações semânticas de palavras entre adultos jovens e idosos. Psicol, Teor Pesqui. 2012;28(3):259-66. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722012000300001.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722012...
,1212 Stein LM, Gomes CFA. Normas brasileiras para listas de palavras associadas: associação semântica, concretude, frequência e emocionalidade. Psicol, Teor Pesqui. 2009;25(4):537-46. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009000400009.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009...
). Entretanto, tanto as médias de palavras recordadas para o conjunto total(22 Salles JF, Holderbaum CS, Becker N, Rodrigues JC, Liedtke FV, Zibetti MR, et al. Normas de Associação semântica para 88 palavras do português brasileiro. Psico (Porto Alegre). 2008;39(3):260-8.,77 Salles JF, Holderbaum CS, Machado CS. Normas de associação semântica de 50 palavras do português brasileiro para crianças: tipo, força de associação e set size. Interam J Psychol. 2009;43(1):57-67.,99 Zortea M, Salles JF. Estudo comparativo das associações semânticas de palavras entre adultos jovens e idosos. Psicol, Teor Pesqui. 2012;28(3):259-66. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722012000300001.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722012...
) quanto as do conjunto significativo(22 Salles JF, Holderbaum CS, Becker N, Rodrigues JC, Liedtke FV, Zibetti MR, et al. Normas de Associação semântica para 88 palavras do português brasileiro. Psico (Porto Alegre). 2008;39(3):260-8.,55 De Deyne S, Storms G. Word associations: norms for 1424 Dutch words in a continuous task. Behav Res Methods. 2008b;40(1):198-205. PMid:18411543. http://dx.doi.org/10.3758/BRM.40.1.198.
http://dx.doi.org/10.3758/BRM.40.1.198...
,77 Salles JF, Holderbaum CS, Machado CS. Normas de associação semântica de 50 palavras do português brasileiro para crianças: tipo, força de associação e set size. Interam J Psychol. 2009;43(1):57-67.,99 Zortea M, Salles JF. Estudo comparativo das associações semânticas de palavras entre adultos jovens e idosos. Psicol, Teor Pesqui. 2012;28(3):259-66. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722012000300001.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722012...
,1212 Stein LM, Gomes CFA. Normas brasileiras para listas de palavras associadas: associação semântica, concretude, frequência e emocionalidade. Psicol, Teor Pesqui. 2009;25(4):537-46. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009000400009.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009...
) foram consideravelmente maiores. Somente em um estudo(33 Janczura GA. Normas associativas para 69 categorias semânticas. Psicol, Teor Pesqui. 1996;12(3):237-44.) foi relatado valor médio do conjunto total mais próximo (média de 19,06) ao do presente estudo. Quanto ao aumento do número de associados para a segunda evocação, apenas um estudo(55 De Deyne S, Storms G. Word associations: norms for 1424 Dutch words in a continuous task. Behav Res Methods. 2008b;40(1):198-205. PMid:18411543. http://dx.doi.org/10.3758/BRM.40.1.198.
http://dx.doi.org/10.3758/BRM.40.1.198...
) realizou procedimento parecido (pediu três evocações para cada palavra) e também observou aumento do tamanho do conjunto significativo para a segunda e a terceira lembrança.

As diferenças entre os resultados obtidos podem ser justificados pelos procedimentos distintos utilizados, pelo número reduzido de palavras em comum (entre 2 e 8) e pelas diferenças quanto aos aspectos de concretude, extensão e classe gramatical. Curiosamente, o estudo que apresentou dados semelhantes(33 Janczura GA. Normas associativas para 69 categorias semânticas. Psicol, Teor Pesqui. 1996;12(3):237-44.) solicitou apenas uma única resposta dos participantes e os alvos foram categorias (ex.: “animal da fazenda”) e não palavras isoladas. Outro estudo(11 Janczura GA. Contexto e normas de associação para palavras: a redução do campo semântico. Paidéia (Ribeirão Preto). 2005;15(32):417-25. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005000300011.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005...
) apresentou o tamanho da categoria considerando as respostas diferentes e com as palavras foram apresentadas em sentenças com contextos linguísticos diferentes, inviabilizando a comparação dos resultados.

Quanto aos tamanhos dos conjuntos significativos, a maioria foi classificada como pequeno, não ocorrendo conjuntos grandes em nenhuma das categorias consideradas, tanto para a primeira quanto para a segunda palavra escrita. Em estudos prévios, a maioria dos conjuntos foi de tamanho grande(33 Janczura GA. Normas associativas para 69 categorias semânticas. Psicol, Teor Pesqui. 1996;12(3):237-44.) ou médio(22 Salles JF, Holderbaum CS, Becker N, Rodrigues JC, Liedtke FV, Zibetti MR, et al. Normas de Associação semântica para 88 palavras do português brasileiro. Psico (Porto Alegre). 2008;39(3):260-8.,77 Salles JF, Holderbaum CS, Machado CS. Normas de associação semântica de 50 palavras do português brasileiro para crianças: tipo, força de associação e set size. Interam J Psychol. 2009;43(1):57-67.). Outra pesquisa nacional(88 Zortea M. Estudo sobre associação semântica de palavras em crianças, adultos jovens e idosos [dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2010.), que comparou faixas etárias diversas, revelou que a maioria dos conjuntos obtidos foi grande para o grupo de crianças, médio para adultos e pequeno para os idosos, sendo que, somente no grupo de idosos, não ocorreu nenhum conjunto grande. Vale ressaltar que, nas pesquisas mencionadas, somente foi solicitada uma palavra para cada alvo e sem restrição de categoria.

A força de associação entre o par de associados foi mais um aspecto analisado nesta pesquisa. No presente estudo, a força de associação apresentou tendência a diminuir da primeira palavra (maioria forte) para a segunda (maioria média) na primeira recordação. No caso da segunda recordação, a maioria das associações apresentou força média para as duas palavras computadas (Tabela 1). A hipótese da cadeia de associação(33 Janczura GA. Normas associativas para 69 categorias semânticas. Psicol, Teor Pesqui. 1996;12(3):237-44.,1111 Nelson DL, Schreiber TM. Word concreteness and word structure as independent determinants of recall. J Mem Lang. 1992;31(2):237-60. http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)90013-N.
http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)9...
) poderia explicar essa diminuição na força de associação. Ou seja, nas primeiras palavras há maior probabilidade de determinada resposta ocorrer, enquanto que num segundo momento, há maior variabilidade da resposta e menor probabilidade de uma delas acontecer.

Alguns estudos(22 Salles JF, Holderbaum CS, Becker N, Rodrigues JC, Liedtke FV, Zibetti MR, et al. Normas de Associação semântica para 88 palavras do português brasileiro. Psico (Porto Alegre). 2008;39(3):260-8.,77 Salles JF, Holderbaum CS, Machado CS. Normas de associação semântica de 50 palavras do português brasileiro para crianças: tipo, força de associação e set size. Interam J Psychol. 2009;43(1):57-67.) também relataram valores elevados (entre 44% e 50%) para os pares de forte e média força de associação e menores (1,1% e 6%) para os pares de fraca. Outra pesquisa(99 Zortea M, Salles JF. Estudo comparativo das associações semânticas de palavras entre adultos jovens e idosos. Psicol, Teor Pesqui. 2012;28(3):259-66. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722012000300001.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722012...
) relatou poucos pares de associados com baixa força de associação (entre 3,4% e 5,7%) e uma porcentagem mais elevada (entre 46% e 50%) para pares de média e forte, tendo considerado grupos distintos de participantes (adultos jovens e idosos). Nesses estudos, foi solicitada uma única resposta e, portanto, não há como analisar a diminuição da força de associação.

Quanto à correlação da força de associação semântica com os tamanhos total e significativo dos conjuntos (Tabela 2), os resultados mostraram que as variáveis são inversamente proporcionais. Quanto maior a força de associação, menor é o tamanho do conjunto, ou seja, quanto menor o número de palavras geradas para um alvo, maior é a força de associação entre o associado mais frequente e o alvo. Destaca-se que as correlações significativas ocorreram em todas as associações do conjunto total e em metade do conjunto significativo. Quanto à qualidade da correlação, a maior parte delas foi considerada forte para o conjunto total e moderada para o conjunto significativo.

Semelhante análise foi realizada em outros estudos(22 Salles JF, Holderbaum CS, Becker N, Rodrigues JC, Liedtke FV, Zibetti MR, et al. Normas de Associação semântica para 88 palavras do português brasileiro. Psico (Porto Alegre). 2008;39(3):260-8.,77 Salles JF, Holderbaum CS, Machado CS. Normas de associação semântica de 50 palavras do português brasileiro para crianças: tipo, força de associação e set size. Interam J Psychol. 2009;43(1):57-67.,1111 Nelson DL, Schreiber TM. Word concreteness and word structure as independent determinants of recall. J Mem Lang. 1992;31(2):237-60. http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)90013-N.
http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)9...
,1212 Stein LM, Gomes CFA. Normas brasileiras para listas de palavras associadas: associação semântica, concretude, frequência e emocionalidade. Psicol, Teor Pesqui. 2009;25(4):537-46. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009000400009.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009...
), nos quais foi observada uma correlação significativa negativa entre as variáveis força de associação e tamanho do conjunto total e significativo. Considerando a força da correlação e os tamanhos do conjunto, alguns estudos relataram correlação forte para o tamanho total(22 Salles JF, Holderbaum CS, Becker N, Rodrigues JC, Liedtke FV, Zibetti MR, et al. Normas de Associação semântica para 88 palavras do português brasileiro. Psico (Porto Alegre). 2008;39(3):260-8.,77 Salles JF, Holderbaum CS, Machado CS. Normas de associação semântica de 50 palavras do português brasileiro para crianças: tipo, força de associação e set size. Interam J Psychol. 2009;43(1):57-67.), enquanto outros relataram força moderada(1111 Nelson DL, Schreiber TM. Word concreteness and word structure as independent determinants of recall. J Mem Lang. 1992;31(2):237-60. http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)90013-N.
http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)9...
,1212 Stein LM, Gomes CFA. Normas brasileiras para listas de palavras associadas: associação semântica, concretude, frequência e emocionalidade. Psicol, Teor Pesqui. 2009;25(4):537-46. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009000400009.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009...
). Para o tamanho significativo, todos os estudos relataram correlações fortes(22 Salles JF, Holderbaum CS, Becker N, Rodrigues JC, Liedtke FV, Zibetti MR, et al. Normas de Associação semântica para 88 palavras do português brasileiro. Psico (Porto Alegre). 2008;39(3):260-8.,77 Salles JF, Holderbaum CS, Machado CS. Normas de associação semântica de 50 palavras do português brasileiro para crianças: tipo, força de associação e set size. Interam J Psychol. 2009;43(1):57-67.,1111 Nelson DL, Schreiber TM. Word concreteness and word structure as independent determinants of recall. J Mem Lang. 1992;31(2):237-60. http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)90013-N.
http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)9...
).

Considerando os resultados obtidos na comparação da força de associação com os tamanhos do conjunto total e significativo, os resultados corroboram a correlação existente entre ambos. É possível observar que a associação é mais evidente e com padrão constante de diminuição da força à medida que aumenta o tamanho do conjunto total. Semelhante análise não foi mencionada nos estudos pesquisados para comparar os resultados obtidos.

Com relação aos associados semânticos, optou-se por considerar as duas palavras geradas com maior força de associação para a primeira lembrança e também para a segunda recordação, igualmente para cada grupo (verbos e substantivos). Em vários casos, ocorreu o empate na pontuação de palavras, de forma que todas foram catalogadas para serem possivelmente consideradas na formulação das frases.

Por fim, as listas de associados geradas permitiram que o aspecto da associação semântica entre palavras fosse controlado na formulação de um teste de reconhecimento de fala com frases com controle da previsibilidade da palavra final.

CONCLUSÕES

Normas de associação semântica de 96 palavras do português brasileiro foram coletadas conforme proposto e resultaram em palavras associadas semanticamente para cada alvo nas categorias propostas de verbo e substantivo, as quais foram utilizadas em um teste de reconhecimento de fala com frases considerando a previsibilidade da palavra.

  • Trabalho realizado no Programa de Pós-graduação em Distúrbios da Comunicação Humana – PPGDCH, Departamento de Fonoaudiologia, Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP - São Paulo (SP), Brasil.
  • Fonte de financiamento: nada a declarar.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Janczura GA. Contexto e normas de associação para palavras: a redução do campo semântico. Paidéia (Ribeirão Preto). 2005;15(32):417-25. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005000300011
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2005000300011
  • 2
    Salles JF, Holderbaum CS, Becker N, Rodrigues JC, Liedtke FV, Zibetti MR, et al. Normas de Associação semântica para 88 palavras do português brasileiro. Psico (Porto Alegre). 2008;39(3):260-8.
  • 3
    Janczura GA. Normas associativas para 69 categorias semânticas. Psicol, Teor Pesqui. 1996;12(3):237-44.
  • 4
    De Deyne S, Storms G. Word associations: network and semantic properties. Behav Res Methods. 2008a;40(1):213-31. PMid:18411545. http://dx.doi.org/10.3758/BRM.40.1.213
    » http://dx.doi.org/10.3758/BRM.40.1.213
  • 5
    De Deyne S, Storms G. Word associations: norms for 1424 Dutch words in a continuous task. Behav Res Methods. 2008b;40(1):198-205. PMid:18411543. http://dx.doi.org/10.3758/BRM.40.1.198
    » http://dx.doi.org/10.3758/BRM.40.1.198
  • 6
    Macizo P, Gómez-Ariza CJ, Bajo MT. Associative norms of 58 Spanish words for children from 8 to 13 years old. Psicologica (Valencia). 2000;21(3):287-300.
  • 7
    Salles JF, Holderbaum CS, Machado CS. Normas de associação semântica de 50 palavras do português brasileiro para crianças: tipo, força de associação e set size. Interam J Psychol. 2009;43(1):57-67.
  • 8
    Zortea M. Estudo sobre associação semântica de palavras em crianças, adultos jovens e idosos [dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2010.
  • 9
    Zortea M, Salles JF. Estudo comparativo das associações semânticas de palavras entre adultos jovens e idosos. Psicol, Teor Pesqui. 2012;28(3):259-66. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722012000300001
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722012000300001
  • 10
    Vesely L, Bonner MF, Reilly J, Grossman M. Free association in semantic dementia: the importance of being abstract. [abstract]. Brain Lang. 2007;103(1-2):154-5. http://dx.doi.org/10.1016/j.bandl.2007.07.092
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.bandl.2007.07.092
  • 11
    Nelson DL, Schreiber TM. Word concreteness and word structure as independent determinants of recall. J Mem Lang. 1992;31(2):237-60. http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)90013-N
    » http://dx.doi.org/10.1016/0749-596X(92)90013-N
  • 12
    Stein LM, Gomes CFA. Normas brasileiras para listas de palavras associadas: associação semântica, concretude, frequência e emocionalidade. Psicol, Teor Pesqui. 2009;25(4):537-46. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009000400009
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009000400009
  • 13
    Stein LM, Feix LF, Rohenkohl G. Avanços metodológicos no estudo das falsas memórias: construção e normatização do procedimento de palavras associadas. Psicol Reflex Crit. 2006;19(2):166-76. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722006000200002
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722006000200002
  • 14
    Calais LL. Reconhecimento de fala em idosos: elaboração e aplicação de um teste considerando a previsibilidade da palavra [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2011.
  • 15
    Janczura GA, Castilho GM, Rocha NO, Van Erven TJC, Huang TP. Normas de concretude para 909 palavras da língua portuguesa. Psicol, Teor Pesqui. 2007;23(2):195-204.
  • 16
    Bybee JL. Phonology and language use. Cambridge: Cambridge University; 2001.
  • 17
    Cohen J. Statistical power analysis for the behavioral sciences. Hillsdale: Erlbaum; 1988.
  • 18
    Nelson DL, McEvoy CL, Bajo MT. Lexical and semantic search in cued recall, fragment completion, perceptual identification, and recognition. Am J Psychol. 1988;101(4):465-80. PMid:3232723. http://dx.doi.org/10.2307/1423225
    » http://dx.doi.org/10.2307/1423225

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Out 2016
  • Data do Fascículo
    Sep-Oct 2016

Histórico

  • Recebido
    01 Abr 2015
  • Aceito
    25 Dez 2015
Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia Al. Jaú, 684, 7º andar, 01420-002 São Paulo - SP Brasil, Tel./Fax 55 11 - 3873-4211 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@codas.org.br