Acessibilidade / Reportar erro

Sintomas vocais na população pediátrica: Validação da versão brasileira do Questionário de Sintomas Vocais Pediátrico

ResumoObjetivo: Validar o Questionário de Sintomas Vocais Pediátrico (QSV-P) para o português brasileiro.

Método

Aprovado pelo Comitê de Ética (758.309). Participaram desta pesquisa 716 indivíduos, dos quais 367 eram crianças e adolescentes, com e sem alteração vocal, entre 6 e 18 anos, e 349 eram pais/responsáveis, que responderam à versão final do instrumento. Entre os respondentes dessa versão, 272 participaram do teste-reteste, e 32, da sensibilidade. As crianças e os adolescentes entre 6 e 18 anos responderam à versão de autoavaliação do QSV-P, e seus pais/responsáveis, à versão parental do QSV-P.

Resultados

O QSV-P apresentou confiabilidade e reprodutibilidade aceitáveis para a população brasileira e sensibilidade ao tratamento vocal.

Conclusão

O QSV-P foi validado para o português brasileiro, sendo um bom instrumento de autoavaliação vocal, tanto na versão parental quanto na versão autoavaliativa.

Descritores
Disfonia; Estudos de Validação; Tradução (produto); Distúrbios da Voz/Diagnóstico; Questionários; Criança; Adolescente; Pais


Abstract

Purpose

To validate the Pediatric Vocal Symptoms Questionnaire (PVSQ) for Brazilian Portuguese.

Methods

The study was approved by the Ethics Committee (758,309). A total of 716 individuals participated in this research, of which 367 were children and adolescents, with and without vocal alteration, aged 6-18 years, and 349 were parents/guardians, who responded to the final version of the instrument. Among the interviewed of this version, 272 participated in the test-retest, and 32, of the sensitivity. Children and adolescents aged 6-18 years responded to the self-evaluation version of the PVSQ, and their parents/guardians to its parental version.

Results

The PVSQ showed acceptable reliability and reproducibility for the Brazilian population and sensitivity to vocal treatment.

Conclusion

The PVSQ was validated for Brazilian Portuguese, being a good instrument of vocal self-evaluation, both in the parental version and in the self-evaluation version.

Keywords
Dysphonia; Validation Studies; Translation (product); Voice Disorders/diagnosis; Questionnaires; Child; Adolescent; Parents

INTRODUÇÃO

Sintomas vocais na população pediátrica podem ser uma ocorrência comum e acometer até 23% das crianças entre 4 e 12 anos de idade(11 Carding PN, Roulstone S, Northstone K. The prevalence of childhood Dysphonia: A cross-sectional study. J Voice. 2006;20(4):623-30. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2005.07.004. PMid:16360302.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2005....
), com manifestações precoces (logo ao nascimento) ou tardias (no decorrer do desenvolvimento), dependendo do fator etiológico(22 Martins RH, Ribeiro CB, Fernandes de Mello BM, Branco A, Tavares EL. Dysphonia in children. J Voice. 2012;26(5): 674e.17-e20.), e estar relacionados a fatores orgânicos(33 Kollbrunner J, Seifert E. Functional hoarseness in children: short-term play therapy with family dynamic counseling as therapy of choice. J Voice. 2013;27(5):579-88. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2013.01.010. PMid:23683805.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2013....
), funcionais(22 Martins RH, Ribeiro CB, Fernandes de Mello BM, Branco A, Tavares EL. Dysphonia in children. J Voice. 2012;26(5): 674e.17-e20.) ou organofuncionais(44 De Bodt MS, Ketelslagers K, Peeters T, Wuyts FL, Mertens F, Pattyn J, et al. Evolution of vocal fold nodules from childhood to adolescence. J Voice. 2007;21(2):151-6. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2005.11.006. PMid:16504470.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2005....
). Tais sintomas podem ser relatados pela criança, seus pais/responsáveis e/ou seus professores e percebidos pelo fonoaudiólogo durante a avaliação vocal. Os principais relatos são alterações na qualidade vocal, fadiga, esforço, perda de extensão vocal, descontrole de intensidade e de frequência e sensações desagradáveis à emissão(55 Behlau M, Madazio G, Feijó D, Pontes P. Avaliação de voz. In: Behlau M, organization. Voz: o livro do especialista. Rio de Janeiro: Revinter; 2004. vol. 1. p. 85-245.).

Crianças com distúrbios vocais dizem sentir mais sintomas do que as vocalmente saudáveis durante a autoavaliação vocal(66 Verduyckt I, Morsomme D, Ramacle M. Validation and standardization of the Pediatric Voice Symptom Questionnaire: A double-form questionnaire for dysphonic children and their parents. J Voice. 2012;26(4):129-39. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011.08.001.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011....
). Dor, pigarro e tosse ao falar e cantar, dificuldades para ler em voz alta, cantar ou gritar em jogos e brincadeiras foram os sintomas mais referidos em estudo com escolares e adolescentes, que relataram também sentimentos de frustração, raiva, constrangimento e insatisfação com a voz(77 Verduyckt I, Remacle M, Jamart J, Benderitter C, Morsomme D. Voice-related complaints in the pediatric population. J Voice. 2011;25(3):373-80. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2009.11.008. PMid:20359863.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2009....
).

Ao contrário do que a literatura tradicional aponta, a partir dos 6 anos de idade as crianças são capazes de falar de seus sintomas e suas alterações vocais(77 Verduyckt I, Remacle M, Jamart J, Benderitter C, Morsomme D. Voice-related complaints in the pediatric population. J Voice. 2011;25(3):373-80. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2009.11.008. PMid:20359863.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2009....

8 Connor NP, Cohen SB, Theis SM, Thibeault SL, Heatley DG, Bless DM. Attitudes of children with dysphonia. J Voice. 2008;22(2):197-209. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2006.09.005. PMid:17512168.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2006....
-99 Krohling LL, Behlau M, Verduyckt I. Equivalência cultural da versão brasileira do Questionnaire des Symptômes Vocaux. CoDAS. 2016;28(4):454-8. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20162015124. PMid:27409418.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/2016...
); entretanto, caso o desvio vocal seja evidente para os pais e o fonoaudiólogo, mas não seja percebido pela própria criança, é importante que a situação seja contextualizada a partir da descrição da voz e de suas alterações por meio de histórias e abordagens apropriadas à idade da criança(1010 McAllister A, Sjölander P. Children's Voice and Voice Disorders. Semin Speech Lang. 2013;34(2):71-79. http://dx.doi.org/10.1055/s-0033-1342978.
http://dx.doi.org/10.1055/s-0033-1342978...
).

O autorrelato tem sido valorizado na clínica vocal pediátrica, e o Questionário de Sintomas Vocais Pediátrico (QSV-P)(99 Krohling LL, Behlau M, Verduyckt I. Equivalência cultural da versão brasileira do Questionnaire des Symptômes Vocaux. CoDAS. 2016;28(4):454-8. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20162015124. PMid:27409418.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/2016...
) é um instrumento que fortalece não só a percepção da criança e do adolescente acerca do seu problema vocal, mas também a combinação do relato de pais e filhos dentro da clínica(66 Verduyckt I, Morsomme D, Ramacle M. Validation and standardization of the Pediatric Voice Symptom Questionnaire: A double-form questionnaire for dysphonic children and their parents. J Voice. 2012;26(4):129-39. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011.08.001.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011....
,99 Krohling LL, Behlau M, Verduyckt I. Equivalência cultural da versão brasileira do Questionnaire des Symptômes Vocaux. CoDAS. 2016;28(4):454-8. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20162015124. PMid:27409418.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/2016...
).

O objetivo deste estudo foi validar a versão brasileira do protocolo Questionnaire des Symptômes Vocaux, denominado Questionário de Sintomas Vocais Pediátrico (QSV-P), por meio da adaptação cultural e de idioma do instrumento e da obtenção de medidas psicométricas de validade, confiabilidade e sensibilidade.

MÉTODO

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética insitutcional, sob parecer 758.309. Após a realização da equivalência cultural(99 Krohling LL, Behlau M, Verduyckt I. Equivalência cultural da versão brasileira do Questionnaire des Symptômes Vocaux. CoDAS. 2016;28(4):454-8. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20162015124. PMid:27409418.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/2016...
) da versão original do instrumento – Questionnaire des Symptômes Vocaux(66 Verduyckt I, Morsomme D, Ramacle M. Validation and standardization of the Pediatric Voice Symptom Questionnaire: A double-form questionnaire for dysphonic children and their parents. J Voice. 2012;26(4):129-39. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011.08.001.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011....
) –, aplicou-se o protocolo em sua versão final para a mensuração das medidas psicométricas de validação.

O processo de validação respeitou as normas internacionais do Comitê do Conselho Científico da Associação de Resultados Médicos(1111 McAllister A, Brandt SK. A comparison of recordings of sentences and spontaneous speech: perceptual and acoustic measures in preschool children’s voices. J Voice. 2012;26(5):673.e1-e5. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011.12.013. PMid:22717494.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011....
). Os dados foram coletados em dois Estados (São Paulo e Espírito Santo), três cidades (São Paulo, Vitória e Vila Velha), três escolas (uma particular e duas públicas) e em consultórios fonoaudiológicos e otorrinolaringológicos, especializados no atendimento de disfonia infantil.

O Questionário de Sintomas Vocais Pediátrico(99 Krohling LL, Behlau M, Verduyckt I. Equivalência cultural da versão brasileira do Questionnaire des Symptômes Vocaux. CoDAS. 2016;28(4):454-8. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20162015124. PMid:27409418.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/2016...
) é o único protocolo pediátrico que aborda a autoavaliação e a avaliação parental simultaneamente, oferecendo um panorama mais abrangente acerca do uso da voz e do possível impacto de uma alteração vocal em diversos aspectos da vida. Ele possui 31 questões objetivas autoexplicativas, aplicáveis a crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos e a seus respectivos pais/responsáveis, contemplando quatro domínios (voz falada, voz cantada, voz projetada e voz gritada). As respostas são registradas em uma escala numérica de 4 pontos (0 = nunca, 1 = às vezes, 2 = quase sempre e 3 = sempre), e há o apoio visual de círculos que variam do tamanho pequeno ao muito grande, com o objetivo de facilitar a marcação das respostas das crianças menores(66 Verduyckt I, Morsomme D, Ramacle M. Validation and standardization of the Pediatric Voice Symptom Questionnaire: A double-form questionnaire for dysphonic children and their parents. J Voice. 2012;26(4):129-39. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011.08.001.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011....
). O QSV-P apresenta um único escore total obtido por somatório direto dos itens (escore máximo = 38). A versão original do instrumento não apresenta nota de corte publicada até o momento.

Participaram 367 crianças e adolescentes com e sem queixa de voz e/ou alteração vocal e 349 pais/responsáveis (n = 716). A idade das crianças e dos adolescentes variou de 6 a 18 anos. Todos os pais/responsáveis assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e responderam à versão parental do QSV-P, e as crianças e os adolescentes assinaram o Termo de Assentimento e responderam à versão autoavaliativa do referido instrumento. Pais e filhos avaliaram a qualidade vocal como excelente, muito boa (posteriormente agrupadas na categoria excelente), boa, razoável ou ruim (posteriormente agrupadas na categoria ruim). Entre os respondentes, 163 eram crianças e 204 eram adolescentes, com e sem queixa vocal, e 349 eram seus pais/responsáveis, cujo grau de proximidade relatado foi próximo ou muito próximo.

Adotaram-se os seguintes critérios de inclusão para o grupo com alteração vocal (GCA): português brasileiro como língua materna; idade entre 6 e 18 anos; presença de queixa vocal parental ou autorrelatada e/ou qualidade vocal compatível com voz desviada na avaliação perceptivo-auditiva (G2 ou G3). Para o grupo sem alteração vocal (GSA), foram adotados: português brasileiro como língua materna; idade entre 6 e 18 anos; ausência de queixa vocal parental e autorrelatada; e qualidade vocal compatível com voz adaptada na análise perceptivo-auditiva (G0 ou G1). Os referidos critérios foram assegurados por meio do preenchimento de um questionário de identificação e caracterização da amostra. Para o grupo com alteração vocal (GCA), adotaram-se os seguintes critérios de exclusão: alterações de fala ou linguagem; tratamento fonoaudiológico e infecção de vias aéreas superiores durante o teste e o reteste do QSV-P e durante a avaliação perceptivo-auditiva da voz; e queixas de alterações psicológicas/psiquiátricas que impedissem o preenchimento do questionário.

Já para o grupo sem alteração vocal (GSA), foram considerados como critérios de exclusão: alterações de fala ou linguagem; queixa vocal; problemas vocais diagnosticados; infecção de vias aéreas superiores durante o teste e o reteste do QSV-P; e queixas de alterações psicológicas/psiquiátricas que impedissem o preenchimento do questionário.

A análise perceptivo-auditiva (APA) das vozes foi realizada por uma fonoaudióloga especialista em voz e com experiência em disfonia infantil. A avaliadora foi orientada, por um texto escrito, a ouvir as vozes de crianças e adolescentes com e sem queixa de alteração vocal; então, solicitou-se o uso de fone de ouvido, em intensidade confortável, para melhor percepção da emissão vocal.

A avaliadora recebeu a identificação de sexo e idade de cada participante, para evitar que características vocais esperadas na segunda infância e na adolescência fossem julgadas como desvios vocais. As amostras vocais foram analisadas por meio da contagem de números de 1-10, para determinação do grau geral do desvio vocal (G) como ausente (0), discreto (1), moderado (2) ou intenso (3). Foram adotadas a tarefa de contagem, por ser mais próxima da fala habitual das crianças, e a avaliação do grau geral, por ser a medida clínica com maior confiabilidade na APA, haja vista que, em crianças, a avaliação da qualidade vocal predominante varia conforme a tarefa utilizada(1111 McAllister A, Brandt SK. A comparison of recordings of sentences and spontaneous speech: perceptual and acoustic measures in preschool children’s voices. J Voice. 2012;26(5):673.e1-e5. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011.12.013. PMid:22717494.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011....
). Utilizou-se o programa Sorteador para realização da reprodutibilidade aleatória de 20% das amostras vocais, o que totalizou 434 arquivos, que foram avaliados com 73,61% de confiabilidade intra-avaliador.

O grupo com alteração vocal (GCA) caracterizou-se por 210 crianças e adolescentes (113 do sexo feminino e 97 do masculino). O grupo sem alteração vocal (GSA) foi composto de 157 crianças e adolescentes (106 do sexo feminino e 51 do masculino). A média de idade foi de 11,50 anos para o GCA e de 11,96 anos para o GSA. Os participantes dos grupos GCA e GSA foram similares quanto à idade (p = 0,175), e houve predomínio do sexo feminino (p = 0,008).

Em um intervalo de 2 a 14 dias após a aplicação inicial do QSV-P, como sugerido pelo Conselho Científico(1212 Aaronson N, Alonso J, Burnam A, Lohr KN, Patrick DL, Perrin E, et al. Assessing health status and quality of life instruments: attributes and review criteria. Qual Life Res. 2002;11(3):193-205. http://dx.doi.org/10.1023/A:1015291021312. PMid:12074258.
http://dx.doi.org/10.1023/A:101529102131...
), 272 participantes foram convocados a responder novamente ao instrumento para a mensuração da confiabilidade. As 136 crianças e adolescentes respondentes apresentaram média de idade de 12 e 19 anos, respectivamente, sendo 74 do sexo feminino e 62 do masculino.

Posteriormente, 21 crianças e adolescentes foram recrutados para realizar oito sessões de terapia para reabilitação vocal, a fim de se mensurar a sensibilidade do QSV-P. Os participantes deveriam comparecer a uma sessão de fonoterapia por semana e executar o plano de exercícios vocais diariamente três vezes por dia. Em decorrência de faltas e/ou baixa adesão ao tratamento proposto, cinco participantes foram excluídos, o que resultou em um grupo final de 16 crianças e adolescentes que apresentaram qualidade vocal compatível com grau geral de desvio vocal moderado e qualidade vocal predominantemente rugosa ou soprosa, bem como avaliação laringológica condizente com disfonia comportamental, caracterizada da seguinte forma: nódulos vocais e fenda dupla (7); fenda triangular médio posterior (2); fenda triangular posterior indicativa de alteração estrutural mínima (1); espessamento nodular e fenda triangular médio posterior (4); hiperconstrição laríngea e fenda irregular em toda extensão (1); fenda paralela em toda extensão (1). Pais e filhos responderam novamente ao instrumento após os dois meses da intervenção fonoaudiológica.

Realizou-se a comparação dos participantes com e sem alteração vocal para verificar diferenças entre os grupos estudados quanto às variáveis do QSV-P (teste de Mann-Whitney), determinou-se a consistência interna do instrumento para verificação da confiabilidade (teste alfa de Cronbach), verificaram-se possíveis diferenças entre o teste e o reteste quanto à variável avaliação da qualidade vocal (teste de McNemar) e demais variáveis do QSV-P (teste dos postos sinalizados de Wilcoxon) e mensurou-se a sensibilidade do instrumento (teste dos postos sinalizados de Wilcoxon). Para análise dos escores médios do QSV-P em todos os grupos estudados (com e sem alteração vocal), considerando-se o grupo geral e os dois grupos etários (escolar e adolescente), aplicou-se o teste de Mann-Whitney. A análise de correlação de Spearman foi utilizada para verificar se a avaliação vocal realizada pelos pais/responsáveis, em relação à voz de seus filhos, conforme as três categorias de análise (excelente, boa e ruim), foi sensível aos resultados do QSV-P.

RESULTADOS

Crianças e adolescentes com alteração vocal e seus respectivos pais/responsáveis, ao perceberem um prejuízo na qualidade vocal (voz ruim), também identificaram maior ocorrência de sintomas vocais (Tabela 1). O QSV-P apresentou confiabilidade para uso clínico e científico, pois os valores estimados pelo alfa de Cronbach foram elevados (concordância em 92,18% dos itens testados), revelando alta consistência interna das questões individuais e do escore geral de sintomas vocais (p < 0,001), tanto na autoavaliação quanto na avaliação parental (Tabela 2). Pais e filhos perceberam a qualidade vocal de forma semelhante no teste e no reteste (Tabela 3). Além disso, o instrumento apresentou nível de reprodutibilidade aceitável (Tabela 4) por apresentar resultados satisfatórios que podem ser utilizados em outras análises (teste dos postos sinalizados de Wilcoxon p > 0,05 para a maioria dos itens do instrumento, demonstrando consistência de resposta no teste e no reteste). O QSV-P também consegue mensurar as modificações obtidas com a fonoterapia, o que foi comprovado pela modificação do escore geral de sintomas vocais (p < 0,05), em ambas as versões (Tabela 5).

Tabela 1
Correlação entre avaliação da qualidade vocal e escore geral do QSV-P
Tabela 2
Dados de confiabilidade do QSV-P por meio dos valores do coeficiente alfa de Cronbach das questões individuais e do escore geral de sintomas vocais (n = 136)
Tabela 3
Dados de reprodutibilidade considerando-se a autoavaliação e a avaliação parental da qualidade vocal
Tabela 4
Dados de reprodutibilidade considerando-se a autoavaliação e a avaliação parental para o escore de sintomas vocais do protocolo QSV-P (n = 136)
Tabela 5
Dados de sensibilidade do escore geral do QSV-P: autoavaliação e avaliação parental (n = 32)

Indivíduos com alteração vocal apresentaram mais sintomas vocais do que indivíduos que não relataram alteração em suas vozes, tanto na avaliação parental quanto na autoavaliação. O escore de sintomas vocais foi maior na autoavaliação do que na avaliação parental (conforme a Tabela 4), o que reforça o fato de o sintoma vocal ser mais percebido pelo próprio indivíduo, mesmo em se tratando de crianças e adolescentes. A experiência de viver com um problema de voz é única, e a percepção do outro pode não ser suficientemente abrangente. A percepção dos sintomas vocais é maior na adolescência, na autoavaliação, quando os aspectos inter-relacionais passam a ter mais importância, assim como pertencer e se comunicar com um grupo(1313 Schoen-Ferreira TH, Aznar-Farias M, Silvares EFM. A construção da identidade em adolescentes: um estudo exploratório. Estud Psicol. 2003;8(1):107-15. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-294X2003000100012.
http://dx.doi.org/10.1590/S1413-294X2003...
,1414 Francisco MV, Liborio RMC. Um estudo sobre bullying entre escolares do ensino fundamental. Psicol Reflex Crit. 2009;22(2):200-7. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722009000200005.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722009...
). A avaliação parental é muito similar para crianças e adolescentes.

DISCUSSÃO

O uso da autoavaliação da qualidade vocal como medida externa para a mensuração da validade de um instrumento de autoavaliação vem sendo adotado em vários estudos de validação brasileira(1515 Gasparini G, Behlau M. Quality of Life: Validation of the brazilian version of the Voice-Related quality of life (V-RQOL) measure. J Voice. 2009;23(1):76-81. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2007.04.005. PMid:17628396.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2007....

16 Moreti F, Zambon F, Behlau M. Voice symptoms and vocal deviation self-assessment in different types of dysphonia. CoDAS. 2014;26(4):331-3. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/201420130036. PMid:25211694.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/2014...
-1717 Ribeiro LL, Paula KM, Behlau M. Voice-related quality of life in the pediatric population: validation of the Brazilian version of the Pediatric Voice-Related Quality-of-Life Survey. CoDAS. 2014;26(1):87-95. http://dx.doi.org/10.1590/s2317-17822014000100013. PMid:24714864.
http://dx.doi.org/10.1590/s2317-17822014...
). Em investigação sobre a qualidade de vida relacionada à voz em crianças e adolescentes(1717 Ribeiro LL, Paula KM, Behlau M. Voice-related quality of life in the pediatric population: validation of the Brazilian version of the Pediatric Voice-Related Quality-of-Life Survey. CoDAS. 2014;26(1):87-95. http://dx.doi.org/10.1590/s2317-17822014000100013. PMid:24714864.
http://dx.doi.org/10.1590/s2317-17822014...
), observou-se uma correlação positiva entre a avaliação parental da qualidade vocal e os escores do Protocolo Qualidade de Vida em Voz Pediátrico (QVV-P), demonstrando que a percepção de uma voz ruim se correlaciona a uma menor qualidade de vida em crianças e adolescentes entre 2 e 18 anos.

A correlação negativa entre sintomas vocais e avaliação (pais e filhos) da qualidade vocal tanto no grupo com alteração vocal quanto no sem alteração indica que um dos sintomas observados é o fonatório. Pais e filhos reconhecem que, na presença de uma voz ruim, há mais sintomas vocais, porém a força de correlação entre essas variáveis é maior na intra-avaliação do que na interavaliação, ou seja, uma criança, ao avaliar a sua qualidade vocal e os seus sintomas vocais, reconhece uma relação negativa mais forte do que seus pais, e o mesmo ocorre na avaliação parental. Esse dado reforça a importância de se coletar informações entre os dois respondentes.

Apenas o GSA não apresentou correlação com a avaliação parental de sintomas vocais, demonstrando que, quando a criança ou o adolescente não apresentam um problema vocal, os pais têm mais dificuldade de perceber os sintomas vocais. Além disso, na presença de uma alteração vocal, os pais são os informantes que têm a melhor percepção entre qualidade vocal e sintomas vocais, uma vez que apresentaram a maior força de correlação (coeficiente de correlação (r) = -0,72), conforme apontado na Tabela 1.

A análise individual das questões do QSV-P reforça o perfil mais circunstancial de resposta das crianças e dos adolescentes, uma vez que sete itens apresentaram diferença no teste-reteste em oposição aos dois observados na avaliação parental, o que resultou em maior diferença teste-reteste no escore de sintomas vocais na versão de autoavaliação, conforme apontam os dados da Tabela 4. No autorrelato, as diferenças relacionam-se aos sintomas físicos, sociofuncionais e emocionais; já no relato parental, tais mudanças apareceram apenas no quesito físico, domínio mais objetivo(1818 Vance YH, Morse RC, Jenney ME, Eiser C. Issues in measuring quality of life in childhood cancer: measures, proxies, and parental mental health. J Child Psychol Psychiatry. 2001;42(5):661-7. http://dx.doi.org/10.1111/1469-7610.00761. PMid:11464970.
http://dx.doi.org/10.1111/1469-7610.0076...
), para o qual os pais têm melhor percepção(1717 Ribeiro LL, Paula KM, Behlau M. Voice-related quality of life in the pediatric population: validation of the Brazilian version of the Pediatric Voice-Related Quality-of-Life Survey. CoDAS. 2014;26(1):87-95. http://dx.doi.org/10.1590/s2317-17822014000100013. PMid:24714864.
http://dx.doi.org/10.1590/s2317-17822014...
). Analisando-se a reprodutibilidade do escore de sintomas vocais do QSV-P, observa-se que: houve diferença tanto na avaliação parental quanto na autoavaliação; os escores médios foram superiores no reteste, diferentemente do que ocorreu na validação da versão original(66 Verduyckt I, Morsomme D, Ramacle M. Validation and standardization of the Pediatric Voice Symptom Questionnaire: A double-form questionnaire for dysphonic children and their parents. J Voice. 2012;26(4):129-39. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011.08.001.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011....
); a modificação nos escores reforça que o contato com o instrumento potencializa a percepção de pais e filhos quanto aos sintomas vocais, por auxiliar na compreensão das dificuldades vividas(77 Verduyckt I, Remacle M, Jamart J, Benderitter C, Morsomme D. Voice-related complaints in the pediatric population. J Voice. 2011;25(3):373-80. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2009.11.008. PMid:20359863.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2009....
,88 Connor NP, Cohen SB, Theis SM, Thibeault SL, Heatley DG, Bless DM. Attitudes of children with dysphonia. J Voice. 2008;22(2):197-209. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2006.09.005. PMid:17512168.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2006....
), o que é muito importante, inclusive, para a reabilitação vocal, uma vez que só é possível modificar comportamentos mediante a percepção dele.

O QSV-P é um instrumento que pode ser utilizado como recurso de reavaliação na clínica vocal, visto que as duas versões, seja parental, seja de autorrelato, apresentaram sensibilidade às oito sessões de fonoterapia administradas às 16 crianças e adolescentes com alteração vocal (Tabela 5). Portanto, o QSV-P corresponde às propostas do PROM de investigar sintomas e problemas que possam interferir na vida do indivíduo e na sua sensação de bem-estar, de verificar as mudanças decorrentes dos tratamentos realizados(1919 Wolpert M. Uses and Abuses of Patient Reported Outcome Measures (PROMs): Potential iatrogenic impact of PROMs implementation and how it can be mitigated. Adm Policy Ment Health. 2014;41(2):141-5. http://dx.doi.org/10.1007/s10488-013-0509-1. PMid:23867978.
http://dx.doi.org/10.1007/s10488-013-050...
) e de servir de suporte para o monitoramento clínico(2020 Black N. Patient reported outcome measures could help transform healthcare. Br Med J (Clin Res Ed). 2013;346(f167):1-5. http://dx.doi.org/10.1136/bmj.f167. PMid:23358487.
http://dx.doi.org/10.1136/bmj.f167...
).

Após a intervenção fonoaudiológica, que não correspondeu necessariamente à alta fonoaudiológica, mas sim a um atendimento com número predeterminado de sessões, para atender a questões científicas, as crianças e os adolescentes perceberam modificações em 27 itens do QSV-P, e seus pais reconheceram as mudanças em 26 questões. Possivelmente, em um atendimento clínico regular, o protocolo pode se mostrar ainda mais sensível, no momento da alta real do paciente. Como o grupo da intervenção contemplou alterações laríngeas variadas e disfonias funcionais e organofuncionais, pode-se afirmar que o QSV-P é sensível às modificações decorrentes de um tratamento vocal, independentemente do tipo de disfonia apresentada. Na autoavaliação, os itens que não apresentaram modificação pós-terapia se relacionaram a aspectos físicos (necessidade de repetir o que fala; necessidade de forçar a voz; e ardência ou incômodo) e emocionais (sentimento de raiva), enquanto na avaliação parental a falta de modificação apareceu para questões sociofuncionais (evitar usar a voz em conversas e brincadeiras; em leituras, festas e teatro; e em futebol, queimada, esportes etc.), emocionais (medo de prejudicar ou piorar a voz) e físicas (dificuldade de completar frases). A redução dos escores obtidos na maior parte das questões do QSV-P e no escore de sintomas vocais demonstra, portanto, que o protocolo pode ser utilizado como um importante recurso de monitoramento e reavaliação vocal.

Analisando-se especificamente o escore de sintomas vocais do QSV-P, é possível observar que os sintomas são mais frequentes em indivíduos com alteração vocal e que eles são mais percebidos pela autoavaliação (Tabela 4). Os sintomas relatados foram de ordem física, emocional e sociofuncional, como já apontado pela literatura(77 Verduyckt I, Remacle M, Jamart J, Benderitter C, Morsomme D. Voice-related complaints in the pediatric population. J Voice. 2011;25(3):373-80. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2009.11.008. PMid:20359863.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2009....
). Os pais, por sua vez, reconheceram mais os sintomas vocais com manifestações extrínsecas ao indivíduo, a exemplo das alterações na qualidade vocal, dos sinais de fadiga e do esforço vocal, que são também os sintomas mais frequentes na infância(2121 Tavares ELM, Brasolotto A, Santana MF, Padovan CA, Martins RHG. Epidemiological study of dysphonia in 4-12 year-old children. Braz J Otorhinolaryngol. 2011;77(6):736-46. PMid:22183280.), advindos do próprio padrão vocal das crianças.

Comparando-se os dados do presente estudo com a validação da versão original(66 Verduyckt I, Morsomme D, Ramacle M. Validation and standardization of the Pediatric Voice Symptom Questionnaire: A double-form questionnaire for dysphonic children and their parents. J Voice. 2012;26(4):129-39. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011.08.001.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011....
), observa-se que os escores médios brasileiros são discretamente inferiores, com exceção da avaliação parental no grupo sem alteração vocal, que se apresentou de forma discretamente superior. A maior diferença observada foi na avaliação parental do grupo com alteração vocal (versão brasileira = 6,53 e versão original = 10,40). A validação na versão original utilizou a composição de três grupos (disfônico, vocalmente saudável e grupo com desvio vocal, mas sem queixa) e observou que o grupo disfônico apresentou maior ocorrência de sintomas vocais, seguido do grupo sem queixa e com desvio vocal, tanto na avaliação parental quanto na autoavaliação(66 Verduyckt I, Morsomme D, Ramacle M. Validation and standardization of the Pediatric Voice Symptom Questionnaire: A double-form questionnaire for dysphonic children and their parents. J Voice. 2012;26(4):129-39. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011.08.001.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011....
). Neste estudo, não foi utilizada a composição do grupo com disfonia por não ter sido realizado exame laringológico em todos os participantes (apenas o grupo da intervenção para mensuração da sensibilidade do QSV-P passou por investigação funcional da laringe), e foram adotados como critério de composição do GCA a presença de queixa parental ou autorrelatada e/ou o desvio vocal na avaliação perceptivo-auditiva da voz. Tais critérios e procedimentos podem ter influenciado nas diferenças observadas nos escores associados a fatores sociais e culturais, pois os resultados brasileiros da autoavaliação do GCA se aproximam mais do grupo com desvio e sem queixa do estudo de Verduyckt et al.(66 Verduyckt I, Morsomme D, Ramacle M. Validation and standardization of the Pediatric Voice Symptom Questionnaire: A double-form questionnaire for dysphonic children and their parents. J Voice. 2012;26(4):129-39. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011.08.001.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011....
), enquanto os resultados da avaliação parental do GCA se aproximam mais do grupo disfônico. Acredita-se que a presença de queixa vocal associada à presença de desvio vocal na APA potencializa os escores de sintomas vocais do QSV-P e que um desvio vocal na APA dissociado de uma queixa vocal reduz a pontuação do instrumento, embora a mantenha superior em relação a indivíduos sem queixa e sem desvio vocal.

Tão importante quanto avaliar os sintomas vocais é avaliar a frequência de sua ocorrência(77 Verduyckt I, Remacle M, Jamart J, Benderitter C, Morsomme D. Voice-related complaints in the pediatric population. J Voice. 2011;25(3):373-80. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2009.11.008. PMid:20359863.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2009....
). Independentemente da etiologia, os sintomas vocais podem ser verificados por questionários de autoavaliação(1616 Moreti F, Zambon F, Behlau M. Voice symptoms and vocal deviation self-assessment in different types of dysphonia. CoDAS. 2014;26(4):331-3. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/201420130036. PMid:25211694.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/2014...
), que vêm sendo considerados a pedra angular de uma avaliação vocal(2222 Dejonckere PH, Bradley P, Clemente P, Cornut G, Crevier-Buchman L, Friedrich G, et al. A basic protocol for functional assessment of voice pathology, especially for investigating the efficacy of (phonosurgical) treatments and evaluating new assessment techniques. Guideline elaborated by the Committee on Phoniatrics of European Laryngological Society (ELS). Eur Arch Otorhinolaryngol. 2001;258(2):77-82. http://dx.doi.org/10.1007/s004050000299. PMid:11307610.
http://dx.doi.org/10.1007/s004050000299...
). Embora, para a população pediátrica, geralmente, seja utilizada a avaliação parental exclusiva(88 Connor NP, Cohen SB, Theis SM, Thibeault SL, Heatley DG, Bless DM. Attitudes of children with dysphonia. J Voice. 2008;22(2):197-209. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2006.09.005. PMid:17512168.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2006....
), a literatura aponta que crianças a partir dos 6 anos de idade são capazes de refletir sobre os seus problemas de voz, oferecendo informações relevantes sobre diferentes aspectos da qualidade vocal(77 Verduyckt I, Remacle M, Jamart J, Benderitter C, Morsomme D. Voice-related complaints in the pediatric population. J Voice. 2011;25(3):373-80. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2009.11.008. PMid:20359863.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2009....
). Assim, a avaliação parental, embora muito importante, não deve substituir a autoavaliação(77 Verduyckt I, Remacle M, Jamart J, Benderitter C, Morsomme D. Voice-related complaints in the pediatric population. J Voice. 2011;25(3):373-80. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2009.11.008. PMid:20359863.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2009....
,88 Connor NP, Cohen SB, Theis SM, Thibeault SL, Heatley DG, Bless DM. Attitudes of children with dysphonia. J Voice. 2008;22(2):197-209. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2006.09.005. PMid:17512168.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2006....
), mesmo que os sintomas vocais de crianças disfônicas sejam percebidos tanto pelos pais quanto por elas mesmas(66 Verduyckt I, Morsomme D, Ramacle M. Validation and standardization of the Pediatric Voice Symptom Questionnaire: A double-form questionnaire for dysphonic children and their parents. J Voice. 2012;26(4):129-39. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011.08.001.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011....
). Além disso, é importante considerar que discrepâncias entre as percepções das crianças e seus pais, quanto às experiências sociais e aos fatos de longo prazo, podem tornar a avaliação parental exclusiva um recurso pouco confiável(66 Verduyckt I, Morsomme D, Ramacle M. Validation and standardization of the Pediatric Voice Symptom Questionnaire: A double-form questionnaire for dysphonic children and their parents. J Voice. 2012;26(4):129-39. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011.08.001.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011....
).

Problemas vocais devem ser avaliados de forma multimodal(2323 Steen IN, MacKenzie K, Carding PN, Webb A, Deary IJ, Wilson JA. Optimizing outcome assessment of voice interventions, II: sensitivity to change of self-reported and observer-rated measures. J Laryngol Otol. 2008;122(1):46-51. http://dx.doi.org/10.1017/S0022215107007839. PMid:17498325.
http://dx.doi.org/10.1017/S0022215107007...
) e considerando-se diversos contextos de uso da voz. Sabe-se que os relatos de pais e filhos sobre o sintoma vocal não apresentam concordância geral(66 Verduyckt I, Morsomme D, Ramacle M. Validation and standardization of the Pediatric Voice Symptom Questionnaire: A double-form questionnaire for dysphonic children and their parents. J Voice. 2012;26(4):129-39. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011.08.001.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011....
,77 Verduyckt I, Remacle M, Jamart J, Benderitter C, Morsomme D. Voice-related complaints in the pediatric population. J Voice. 2011;25(3):373-80. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2009.11.008. PMid:20359863.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2009....
), que a criança, mesmo reconhecendo uma alteração na sua voz, pode gostar dela e não apontar sintomas(77 Verduyckt I, Remacle M, Jamart J, Benderitter C, Morsomme D. Voice-related complaints in the pediatric population. J Voice. 2011;25(3):373-80. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2009.11.008. PMid:20359863.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2009....
) e que há uma pobre correlação entre a clínica e a percepção do sujeito que vive com disfonia(2424 Woisard V, Bodin S, Yardeni E, Puech M. The Voice handicap Index: correlation between subjective patient response and quantitative assessment of voice. J Voice. 2006;21(5):623-31. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2006.04.005. PMid:16887329.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2006....

25 Karnell MP, Melton SD, Childes JM, Coleman TC, Dailey SA, Hoffman HT. Reliability of Clinician-Based (GRBAS and CAPE-V) and Patient-Based (V-RQOL and IPVI) documentation of voice disorders. J Voice. 2007;21(5):576-90. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2006.05.001. PMid:16822648.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2006....
-2626 Ugulino ACN, Behlau M. Autoavaliação do Comportamento Comunicativo ao Falar em Público nas Diferentes Categorias Profissionais. In: 22° Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia; 2014 Out 8-11; Joiville. Anais. São Paulo: Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia; 2014. 4929 p. Sessão de Concorrentes a Prêmio.). A avaliação fonoaudiológica e a autoavaliação vocal têm resultados diferentes(88 Connor NP, Cohen SB, Theis SM, Thibeault SL, Heatley DG, Bless DM. Attitudes of children with dysphonia. J Voice. 2008;22(2):197-209. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2006.09.005. PMid:17512168.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2006....
,1717 Ribeiro LL, Paula KM, Behlau M. Voice-related quality of life in the pediatric population: validation of the Brazilian version of the Pediatric Voice-Related Quality-of-Life Survey. CoDAS. 2014;26(1):87-95. http://dx.doi.org/10.1590/s2317-17822014000100013. PMid:24714864.
http://dx.doi.org/10.1590/s2317-17822014...
), por isso elas não devem ser excludentes. A soma das informações auxilia na compreensão do problema vocal, direciona ações, define objetivos terapêuticos e mensura os efeitos da terapia na comparação pré e pós-fonoterapia(2323 Steen IN, MacKenzie K, Carding PN, Webb A, Deary IJ, Wilson JA. Optimizing outcome assessment of voice interventions, II: sensitivity to change of self-reported and observer-rated measures. J Laryngol Otol. 2008;122(1):46-51. http://dx.doi.org/10.1017/S0022215107007839. PMid:17498325.
http://dx.doi.org/10.1017/S0022215107007...
).

CONCLUSÃO

O protocolo Questionnaire des Symptômes Vocaux, intitulado Questionário de Sintomas Vocais Pediátrico, foi validado para o português brasileiro nas versões parental e de autorrelato. O QSV-P apresentou confiabilidade e reprodutibilidade aceitáveis para a população brasileira e sensibilidade ao tratamento vocal, por isso é considerado um bom instrumento de autoavaliação vocal para a referida população. Crianças e adolescentes reconhecem mais sintomas vocais do que seus pais/responsáveis, tanto no teste quanto no reteste (conforme Tabelas 2 e 4), o que demonstra que o sintoma, por envolver muitas vezes questões cinestésicas, é mais bem percebido pelo indivíduo.

AGRADECIMENTO

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES - pelo suporte financeiro concedido a esta pesquisa, condição essencial para a sua realização.

  • Trabalho realizado na Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP - São Paulo (SP), Brasil.
  • Fonte de financiamento: CAPES – Bolsa de Doutorado.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Carding PN, Roulstone S, Northstone K. The prevalence of childhood Dysphonia: A cross-sectional study. J Voice. 2006;20(4):623-30. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2005.07.004 PMid:16360302.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2005.07.004
  • 2
    Martins RH, Ribeiro CB, Fernandes de Mello BM, Branco A, Tavares EL. Dysphonia in children. J Voice. 2012;26(5): 674e.17-e20.
  • 3
    Kollbrunner J, Seifert E. Functional hoarseness in children: short-term play therapy with family dynamic counseling as therapy of choice. J Voice. 2013;27(5):579-88. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2013.01.010 PMid:23683805.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2013.01.010
  • 4
    De Bodt MS, Ketelslagers K, Peeters T, Wuyts FL, Mertens F, Pattyn J, et al. Evolution of vocal fold nodules from childhood to adolescence. J Voice. 2007;21(2):151-6. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2005.11.006 PMid:16504470.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2005.11.006
  • 5
    Behlau M, Madazio G, Feijó D, Pontes P. Avaliação de voz. In: Behlau M, organization. Voz: o livro do especialista. Rio de Janeiro: Revinter; 2004. vol. 1. p. 85-245.
  • 6
    Verduyckt I, Morsomme D, Ramacle M. Validation and standardization of the Pediatric Voice Symptom Questionnaire: A double-form questionnaire for dysphonic children and their parents. J Voice. 2012;26(4):129-39. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011.08.001
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011.08.001
  • 7
    Verduyckt I, Remacle M, Jamart J, Benderitter C, Morsomme D. Voice-related complaints in the pediatric population. J Voice. 2011;25(3):373-80. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2009.11.008 PMid:20359863.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2009.11.008
  • 8
    Connor NP, Cohen SB, Theis SM, Thibeault SL, Heatley DG, Bless DM. Attitudes of children with dysphonia. J Voice. 2008;22(2):197-209. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2006.09.005 PMid:17512168.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2006.09.005
  • 9
    Krohling LL, Behlau M, Verduyckt I. Equivalência cultural da versão brasileira do Questionnaire des Symptômes Vocaux. CoDAS. 2016;28(4):454-8. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20162015124 PMid:27409418.
    » http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20162015124
  • 10
    McAllister A, Sjölander P. Children's Voice and Voice Disorders. Semin Speech Lang. 2013;34(2):71-79. http://dx.doi.org/10.1055/s-0033-1342978
    » http://dx.doi.org/10.1055/s-0033-1342978
  • 11
    McAllister A, Brandt SK. A comparison of recordings of sentences and spontaneous speech: perceptual and acoustic measures in preschool children’s voices. J Voice. 2012;26(5):673.e1-e5. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011.12.013 PMid:22717494.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2011.12.013
  • 12
    Aaronson N, Alonso J, Burnam A, Lohr KN, Patrick DL, Perrin E, et al. Assessing health status and quality of life instruments: attributes and review criteria. Qual Life Res. 2002;11(3):193-205. http://dx.doi.org/10.1023/A:1015291021312 PMid:12074258.
    » http://dx.doi.org/10.1023/A:1015291021312
  • 13
    Schoen-Ferreira TH, Aznar-Farias M, Silvares EFM. A construção da identidade em adolescentes: um estudo exploratório. Estud Psicol. 2003;8(1):107-15. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-294X2003000100012
    » http://dx.doi.org/10.1590/S1413-294X2003000100012
  • 14
    Francisco MV, Liborio RMC. Um estudo sobre bullying entre escolares do ensino fundamental. Psicol Reflex Crit. 2009;22(2):200-7. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722009000200005
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722009000200005
  • 15
    Gasparini G, Behlau M. Quality of Life: Validation of the brazilian version of the Voice-Related quality of life (V-RQOL) measure. J Voice. 2009;23(1):76-81. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2007.04.005 PMid:17628396.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2007.04.005
  • 16
    Moreti F, Zambon F, Behlau M. Voice symptoms and vocal deviation self-assessment in different types of dysphonia. CoDAS. 2014;26(4):331-3. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/201420130036 PMid:25211694.
    » http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/201420130036
  • 17
    Ribeiro LL, Paula KM, Behlau M. Voice-related quality of life in the pediatric population: validation of the Brazilian version of the Pediatric Voice-Related Quality-of-Life Survey. CoDAS. 2014;26(1):87-95. http://dx.doi.org/10.1590/s2317-17822014000100013 PMid:24714864.
    » http://dx.doi.org/10.1590/s2317-17822014000100013
  • 18
    Vance YH, Morse RC, Jenney ME, Eiser C. Issues in measuring quality of life in childhood cancer: measures, proxies, and parental mental health. J Child Psychol Psychiatry. 2001;42(5):661-7. http://dx.doi.org/10.1111/1469-7610.00761 PMid:11464970.
    » http://dx.doi.org/10.1111/1469-7610.00761
  • 19
    Wolpert M. Uses and Abuses of Patient Reported Outcome Measures (PROMs): Potential iatrogenic impact of PROMs implementation and how it can be mitigated. Adm Policy Ment Health. 2014;41(2):141-5. http://dx.doi.org/10.1007/s10488-013-0509-1 PMid:23867978.
    » http://dx.doi.org/10.1007/s10488-013-0509-1
  • 20
    Black N. Patient reported outcome measures could help transform healthcare. Br Med J (Clin Res Ed). 2013;346(f167):1-5. http://dx.doi.org/10.1136/bmj.f167 PMid:23358487.
    » http://dx.doi.org/10.1136/bmj.f167
  • 21
    Tavares ELM, Brasolotto A, Santana MF, Padovan CA, Martins RHG. Epidemiological study of dysphonia in 4-12 year-old children. Braz J Otorhinolaryngol. 2011;77(6):736-46. PMid:22183280.
  • 22
    Dejonckere PH, Bradley P, Clemente P, Cornut G, Crevier-Buchman L, Friedrich G, et al. A basic protocol for functional assessment of voice pathology, especially for investigating the efficacy of (phonosurgical) treatments and evaluating new assessment techniques. Guideline elaborated by the Committee on Phoniatrics of European Laryngological Society (ELS). Eur Arch Otorhinolaryngol. 2001;258(2):77-82. http://dx.doi.org/10.1007/s004050000299 PMid:11307610.
    » http://dx.doi.org/10.1007/s004050000299
  • 23
    Steen IN, MacKenzie K, Carding PN, Webb A, Deary IJ, Wilson JA. Optimizing outcome assessment of voice interventions, II: sensitivity to change of self-reported and observer-rated measures. J Laryngol Otol. 2008;122(1):46-51. http://dx.doi.org/10.1017/S0022215107007839 PMid:17498325.
    » http://dx.doi.org/10.1017/S0022215107007839
  • 24
    Woisard V, Bodin S, Yardeni E, Puech M. The Voice handicap Index: correlation between subjective patient response and quantitative assessment of voice. J Voice. 2006;21(5):623-31. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2006.04.005 PMid:16887329.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2006.04.005
  • 25
    Karnell MP, Melton SD, Childes JM, Coleman TC, Dailey SA, Hoffman HT. Reliability of Clinician-Based (GRBAS and CAPE-V) and Patient-Based (V-RQOL and IPVI) documentation of voice disorders. J Voice. 2007;21(5):576-90. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2006.05.001 PMid:16822648.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2006.05.001
  • 26
    Ugulino ACN, Behlau M. Autoavaliação do Comportamento Comunicativo ao Falar em Público nas Diferentes Categorias Profissionais. In: 22° Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia; 2014 Out 8-11; Joiville. Anais. São Paulo: Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia; 2014. 4929 p. Sessão de Concorrentes a Prêmio.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Out 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    18 Set 2018
  • Aceito
    10 Jan 2019
Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia Al. Jaú, 684, 7º andar, 01420-002 São Paulo - SP Brasil, Tel./Fax 55 11 - 3873-4211 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@codas.org.br