Acessibilidade / Reportar erro

Paleoambiente da Formação Prosperança, embasamento neoproterozóico da Bacia do Amazonas

Paleoenvironment of Prosperança Formation, neoproterozoic basement of Amazonas Basin

Resumo

Rochas de idade neoproterozóica da Formação Prosperança, cobertura sedimentar da porção sul do Escudo das Guianas, são pobremente expostas quando comparadas com o registro paleozóico das bacias do Amazonas e Solimões. A Formação Prosperança consiste em conglomerados, arenitos arcosianos e pelitos que preenchem grábens no embasamento. Esta unidade é sotoposta por rochas carbonáticas da Formação Acarí (Neoproterozóico), observada apenas em subsuperfície, que agrupadas, representam o embasamento sedimentar das bacias paleozoicas produtoras de óleo da Amazônia. A precisa caracterização e reconstrução paleoambiental da Formação Prosperança são essenciais para a distinção entre unidades do embasamento sedimentar e paleozóicas. A análise estratigráfca foi realizada na região do baixo rio Negro, Estado do Amazonas. A Formação Prosperança consiste em quatro associações de fácies que foram interpretadas como produto de um sistema flúvio-deltaico: prodelta/lacustre, frente deltaica, foreshore/shoreface e planície braided distal. Camadas tabulares de pelitos distribuídos por quilômetros sugerem uma bacia sedimentar de provável origem lacustre/mar restrito. Lobos deltaicos complexamente estruturados foram alimentados por distributários braided que migravam para SE. Arenitos gerados sob condições de fluxo oscilatório/combinado são compatíveis com depósitos de face litorânea. Arenitos com estratifcação cruzada e planar estão relacionados com a migração de dunas subaquosas associadas a processos fluviais braided. Camadas lenticulares de conglomerados e arenitos com estratifcação cruzada e planar, de possível idade paleozóica, sobrepõem a Formação Prosperança erosivamente. Essas camadas são produtos de um sistema fluvial braided proximal que migrava para NW, sentido inverso dos valores de paleocorrentes dos arenitos Prosperança.

Palavras-chave:
Escudo das Guianas; Formação Prosperança; sistema flúvio-deltaico

Abstract

The Neoproterozoic Prosperança Formation represents a sedimentary cover of southern Guyana Shield and is poorly exposed when contrasted with Paleozoic record of Amazonas and Solimões basins. Conglomerates, arkosic sandstones and mudstones are the characteristics deposits flling basement grabens. This unit is overlain unconformably by neoproterozoic carbonate rocks of Acarí Formation (observed only in cores). These formations represent the sedimentary basement of oil producing Paleozoic basins of the Amazon region. The precise characterization and paleoenvironmental reconstruction of Prosperança Formation are important for their distinction from Paleozoic units. Stratigraphic analysis was carried out at lower Negro River, State of Amazonas. Four facies associations were interpreted as products of a fluvial-deltaic system: prodelta/lacustrine, delta front, foreshore/shoreface and distal braided plain. Mudstones distributed along several kilometers suggest a sedimentary basin probably of lacustrine/restricted sea origins. Complex structured deltaic lobes were fed by braided distributaries that migrated mainly to SE. Sandstones generated under oscillatory/combined flux are conformable with shoreline deposits. Planar to trough cross-bedded sandstones are related to migration of subaqueous dunes, associated to fluvial-braided processes. Lenses of conglomerate, planar to trough cross-bedded sandstones, possibly of paleozoic age, which overlies unconformably the Prosperança Formation migrated to NW as product of proximal braided plain system and is in contrast to the S-directed cross-stratifcation of the Prosperança sandstones.

Keywords:
Guyana Shield; Prosperança Formation; fluvial-deltaic system

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Agradecimentos

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES) pela concessão da bolsa de mestrado, a Dra. Lucieth Cruz Vieira (UNB) e Nelson Reis (Serviço Geológico do BrasilCPRM/Manaus) pelo auxílio e discussões na etapa de campo. Ao IBAMA - ICMBio pela autorização para atividades com fnalidade científca (#17740-1) e INCT de Geociências da Amazônia (CNPq/MCT/FAPESPA - 573733/2008-2) pelo fnanciamento de parte desta pesquisa. Os agradecimentos são extensivos aos revisores anônimos pelas sugestões ao texto fnal.

Referências

  • Allen J.R.L. 1980. Sand waves; a model of origin and internal structure. Sedimentary Geology, 26:281-328.
  • Arnott R.W.C. 1993. Quasi-planar-laminated sandstone bed of the Lower Cretaceous Bootlegger Member, NorthCentral Montana: evidence of combined-flow sedimentation. Journal of Sedimentary Petrology, 63:488-494.
  • Bhattacharya J. P. 2006. Deltas. In: Posamentier H.W., & Walker R.G. (eds.) Facies model revised Special Publication, 84, SEMP, p. 237-292.
  • Cant D.J., & Walker R.G. 1978. Fluvial process and facies sequences in the sandy braided South Saskatchewan River, Canada. Sedimentology, 25:625-648.
  • Caputo M.V., Rodrigues R., Vasconcelos D.N.N. 1972. Nomenclatura estratigráfca da Bacia do Amazonas - histórico e atualizações. In: SBG, Congresso Brasileiro de Geologia, 26, Anais, 3:35-46.
  • Castro J.C., Eiras J.F., Caputo M.V. 1988. Paleozóico do Rio Tapajós. In: SBG, Congresso Brasileiro de Geologia, 35, Roteiro das excursões, n° 8, p. 27-44.
  • Chakraborty P. P., & Paul S. 2008. Forced regressive wedges on a Neoproterozoic siliciclastic shelf: Chandarpur Group, central India. Precambrian Research, 182:227- 247.
  • Charcosset P., Combes P., Peybernès B., Ciszak R., Lopez M. 2000. Pedogenic and Karstic features at the boundaries of Bathonian depositional sequences in the Grands Causses Area (southern France): stratigraphic implication. Journal of Sedimentary Research, 70(1):255-264.
  • Clifton H.E. 2006. A reexamination of facies models for clastic shorelines. In: H. W. Posamentier & R. G. Walker (eds.) Facies model revised Special Publication, 84, SEMP, p.: 293-337.
  • Coleman J.M. 1982. Deltas, processes of deposition and models for exploration Boston, International Human Resources Development Corporation, 124 p.
  • Coleman J.M. 1988. Dynamic changes and processes in the Mississippi River delta. Bull. Geol. Soc. Am, 100:999- 1015.
  • Collinson D.B., & Thompson J.B. 1989. Sedimentary structures, 2ª ed., London, Unwin Hyman, 207 p.
  • CPRM 2002. Geologia e recursos minerais da Amazônia brasileira, região cratônica SIG-Brasil, Mapa escala 1:750.000, CD-Rom.
  • Cunha P.R.C., Melo J.H.G., Silva O.B. 2007. Bacia do Amazonas. Boletim de Geociências da Petrobras, 15(2):227- 251.
  • De Raaf J.F.M., Boersma J.R., Van Gelder A. 1977. Wavegenerated structures and sequences from a shallow marine succession, Lower Carboniferous, County Cork, Ireland. Sedimentology, 24:451-483.
  • Della Fávera J. 2001. Fundamentos da estratigrafa moderna Rio de Janeiro, UFRJ, 264 p.
  • Eiras J.F. 1996. Influência tectônica do Arco de Carauari na sedimentação fanerozóica da Bacia do Solimões, norte do Brasil. In: SBG, Congresso Brasileiro de Geologia, 39, Anais, p. 52-53.
  • Elliott T. 1975. The sedimentary history of a delta lobe from a Yoredale (Carboniferous) cyclothem. Proc. Yorkshire Geol. Soc., 40:505-536.
  • Glover B.W., & O’Beirne A.M. 1994. Anatomy, hydrodynamic and deposition setting of a Westiphalian lacustrine delta complex, West Midlands, England. Sedimentology, 41:115-132.
  • Hoorn C., Roddaz M., Dino R., Soares E., Uba C., OchoaLozano D., Mapes D. 2010. The Amazonian Craton and its influence on past fluvial systems. In: Hoorn C. & Wesselingh F. (eds.) Amazonia: landscape and species evolution - a look into the past Wiley-Blackwell, p. 103-122.
  • Lindholm R. C. 1987. A practical approach to sedimentology London, Allen & Unwin, 276 p.
  • Long D.G.F. 1978. Proterozoic stream deposits: some problems of recognition and interpretation of ancient sandy fluvial systems. In: Miall A.D. (ed.) Fluvial Sedimentology, Memoir 5 Calgary, Can. Soc. Pet. Geol, p. 313- 341.
  • Lowe D.R. 1975. Water scape structures in coarser-grainded sediments. Sedimentology, 22:157-204.
  • Mapes R.W. 2009. Past and present provenance of the Amazon river Chapel Hill: University of North Carolina. Tese de Doutoramento, Department of Geological Sciences, North Caroline University, 185 p.
  • Miall A.D. 1977. A review of the braided river depositional environment. Earth Science Reviews, 13:1-62.
  • Miall A.D. 1992. Alluvial deposits. In: Walker R.G. & James N.P. (eds.) Facies model: response to sea level change Geological Association of Canada, p. 119-142.
  • Montavão R.M. & Bezerra P.E.L. 1985. Evolução tectônica do Cráton Amazônico (Amazônia Legal) durante o Arqueano e Proterozóico. In: SBG, Simpósio de Geologia da Amazônia, 2, Anais, p. 282-294.
  • Nogueira A.C.R. & Soares E.A.A. 1996. Fácies sedimentares da Formação Prosperança, Proterozóico Superior da Bacia do Amazonas, ao norte da cidade de Manaus. In: SBG, Simpósio de Geologia da Amazônia, 5, Resumos expandidos, p. 214-216.
  • Postma G. 1990. Depositional architecture and facies of river and fan deltas: a synthesis. In: Colella A. & Prior D.B. (eds.) Coarser-grained deltas Special Publication n° 10 of International Association of Sedimentologists, Blackwell Scientifc Publication, p. 29-74.
  • Reineck H.E. & Singh I.B. 1980. Deposicional Sedimentary Environments New York, Springer-Verlag, 551 p.
  • Retallack G.J. 2001. Soils of the past: an introduction to paleopedology London, Unwin, 520 p.
  • Ribeiro H.J.P.S. 2001. Fundamentos de estratigrafa de seqüências. In: Ribeiro H.J.P.S. (org.) Estratigrafa de seqüências - fundamentos e aplicações UNISINOS, p. 99-134.
  • RØe S. 1987. Cross-strata and bedforms of probable transitional dune to upper-stage plane-bed origin from a Late PreCambrian fluvial sandstone, northern Norway. Sedimentology, 34:89-101.
  • Ruskin B.G. & Jordan T.E. 2007. Climate change across continental sequence boundaries: paleopedology and lithofacies of Iglesia Bason, Northwestern Argentina. Journal of Sedimentary Research, 77:661-679.
  • Soil Survey Staff 1975. Soil taxonomy, a basic system of soil classifcation for making and interpreting soil surveys: handbook U.S. Department of Agriculture, 436 p.
  • Tohver E., D’Agrella-Filho M.S., Trindade R.I.F. 2006. Paleomagnetic record of Africa and South America for the 1200-500Ma interval, and evaluation of Rodinia and Gondwana assemblies. Precambrian Research, 147:193- 222.
  • Tucker M.E. 2003. Sedimentary rocks in the feld: the geological feld guide series, 3ª ed., Chichester, Wiley, 234 p.
  • Walker R.G. 1990. Facies modelling and sequence stratigraphy. Journal of Sedimentary Petrology, 60:777-786.
  • Walker R.G. 1992. Facies, facies model and modern stratigraphic concepts. In: Walker R.G. & James N.P. (eds.) Facies model: response to sea level change Geological Association of Canada, p.1-14.
  • Wanderley Filho J. R. 1991. Evolução estrutural da Bacia do Amazonas e sua correlação com o embasamento Dissertação de Mestrado, Centro de Geociências, Universidade Federal do Pará, 125 p.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2011

Histórico

  • Recebido
    18 Mar 2010
  • Aceito
    22 Nov 2010
Sociedade Brasileira de Geologia R. do Lago, 562 - Cidade Universitária, 05466-040 São Paulo SP Brasil, Tel.: (55 11) 3459-5940 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: sbgeol@uol.com.br