Acessibilidade / Reportar erro

O rio Paraguai no megaleque do Nabileque, sudoeste do Pantanal Mato-Grossense, MS

The Paraguay River on the Nabileque fluvial megafan, southwest of the Pantanal wetland, Brazil

Resumo:

O megaleque fluvial do Nabileque é um sistema deposicional que vem sendo construído pelo rio Paraguai na borda sudoeste do Pantanal Mato-Grossense desde tempos pleistocênicos. É um sistema aluvial peculiar, pois não está associado a rios oriundos de relevos altos situados nos planaltos adjacentes à planície. Trata-se de um megaleque fluvial construído pelo rio Paraguai, rio-tronco coletor das águas de todo sistema hidrográfico do Pantanal, na saída do rio para a planície do Chaco, onde coalesce com o megaleque do Pilcomayo. Fazendo uso de dados de sensores remotos, com verificação de campo, foi possível compartimentar e caracterizar geomorfologicamente o megaleque, que ocupa área aproximada de 9.100 km2. A maior parte da área é uma vasta planície aluvial desenvolvida sobre depósitos pleistocênicos, marcada pela presença de intrincada rede de paleocanais distributários e de tributários a eles superimpostos. Feições erosivas evidenciam que as áreas de ocorrência dos depósitos pleistocênicos se encontram em degradação, mas sujeitas a frequentes inundações responsáveis pela existência de delgadas e irregulares coberturas de sedimentos recentes. Um aspecto notável de sua geomorfologia é a existência de dois cinturões de meandros, um ativo e outro abandonado. O vale corta o megaleque longitudinalmente, ajustado a padrões de fratura NE do lineamento Transbrasiliano, com deflexão para SSE ao se encontrar com o rio Negro (Bolívia), com o qual compõe a drenagem periférica do leque. O rio Nabileque corre num vale inciso de direção norte-sul e empresta seu nome ao megaleque e à região (Pantanal do Nabileque). Processos de avulsão fluvial e de captura são aventados e discutidos para explicar a notável mudança de curso do rio Paraguai e a configuração do rio Nabileque como um rio subajustado. O rio Nabileque é um rio com dimensões muito inferiores às paleogeoformas encontradas na sua planície, o que permite ser reconhecido como um rio subajustado.

Palavras-chave:
Pantanal; rio Paraguai; megaleque fluvial; vale inciso; rio subajustado

Abstract:

The Nabileque fluvial fan is a Quaternary depositional system located along the southwestern border of the Pantanal, covering an area of approximately 9,100 km2. It is a peculiar alluvial system because it is not associated with inflow from adjacent plateaus. The Nabileque megafan is formed by the Paraguay River at the exit of the Pantanal wetland, coalescing with the Pilcomayo megafan of the Chaco basin. A geomorphological zonation analysis was performed making use of remote sensing data with field verification. Most of the area is a vast alluvial plain made of Pleistocene deposits, whose surface is marked by the presence of an intricate network of distributary paleochannels. Areas blanketed by Pleistocene deposits are dissected by erosional streams and subject to frequent flooding events. The Paraguay River flows in a meander belt constrained by NE fractures associated with the Transbrasiliano Lineament, but deflects towards the SSE after the Negro River confluence composing the system’s peripheral drainage. An abandoned meander belt is preserved within a remarkable N-S incised-valley that is interpreted as the ancient Paraguay River course. Processes of avulsion and river capture are suggested to explain the observed changes of the river course. The Nabileque River is an underfit stream within the incised-valley, cutting paleomeanders and point bars of the previous Paraguay River course.

Keywords:
Pantanal wetland; Paraguay River; fluvial megafan; incised-valley; underfit stream

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Agradecimentos

Os autores agradecem à FAPESP pelo apoio à pesquisa (processo 07/55987-3); à UFMS pelo apoio logístico durante os trabalhos de campo; à professora Edna Maria Facincani pelo apoio e discussões sobre a área; ao CNPq por bolsa PQ concedida a Mario Luis Assine (proc. 305108/2009-3); ao CNPq e à CAPES pela concessão de bolsa de doutorado para Sidney Kuerten, do Programa de Pós-Graduação em Geociências e Meio Ambiente da Unesp, Campus de Rio Claro.

Referências

  • Ab’Saber A.N. 1988. O Pantanal Mato-Grossense e a teoria dos refúgios. Revista Brasileira de Geografia - Especial Centenário, 50(2):9-57.
  • Assine M.L. 2003. Sedimentação na Bacia do Pantanal Mato-Grossense, Centro-Oeste do Brasil Tese de LivreDocência, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 106 p.
  • Assine M.L. 2004. A bacia sedimentar do Pantanal MatoGrossense. In: Mantesso Neto V., Bartorelli A., Carneiro C.D.R., Brito Neves B.B. (eds.) Geologia do continente sul-americano: evolução da obra de Fernando Flávio Marques de Almeida São Paulo, Beca, p. 61-74.
  • Assine M.L. 2005. River avulsions on the Taquari megafan, Pantanal wetland, Brazil. Geomorphology, 70:357-371.
  • Assine M.L., & Silva A. 2009. Contrasting fluvial styles of the Paraguay River in the northwestern border of Pantanal wetland, Brazil. Geomorphology, 113:189-199.
  • Assine M.L., & Soares P.C. 2004. Quaternary of the Pantanal, west-central Brazil. Quaternary International, 114:23-24.
  • Assine M.L., Padovani C.R., Zacharias A.A., Angulo R.J., Souza M.C. 2005. Compartimentação geomorfológica, processos de avulsão fluvial e mudanças de curso do Rio Taquari, Pantanal Mato-Grossense. Revista Brasileira de Geomorfologia, 6:97-108.
  • Bhang K.J., Schwartz F.W., Braun A. 2007. Verification of the vertical error in C-band SRTM DEM. IEEE, Transactions on geoscience and remote sensing, 45(1):36-44.
  • Iriondo M. 1993. Geomorphology and Late Quaternary of the Chaco (south America). Geomorphology, 13:289-303.
  • Litton G. 1987. Introduction to database management: a practical approach Dubuque, William C. Brown Pub., 532 p.
  • Parolin M., Medeanic S., Stevaux J.C. 2006. Registros palinológicos e mudanças ambientais durante o Holoceno de Taquarussu (MS). Revista Brasileira de Paleontologia, 9:137-148.
  • Shukla U.K., Singh I.B., Sharma M., Sharma S. 2001. A model of alluvial megafan sedimentation: Ganta Megafan. Sedimentary Geology, 144:243-262.
  • Sippel S.J., Hamilton S.K., Silva J.S.V., Melack J.M. 1995. Passive microwave remote sensing of flooding in the Pantanal. In: INPE/EMBRAPA, Encontro sobre Sensoriamento Remoto Aplicado a Estudos no Pantanal, 1, Resumos, p. 105-107.
  • Soares P.C., Assine M.L., Rabelo L. 1998. The Pantanal Basin: recent tectonics, relationships to the Transbrasiliano Lineament. In: INPE, Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 9, Anais, p. 459-469.
  • Soares A.P., Soares P.C., Assine M.L. 2003. Areiais e lagoas do Pantanal, Brasil: herança paleoclimática?. Revista Brasileira de Geociências, 33:211-224.
  • Stevaux J.C. 1994. Upper Paraná River (Brazil) geomorphology and paleoclimatology. Quaternary International, 21:143-161.
  • Tricart J. 1982. El Pantanal: un ejemplo del impacto geomorfologico sobre el ambiente. Informaciones Geograficas, 29:81-97.
  • Zani H., Assine M.L., Silva A., Corradini F.A., Kuerten S., Gradella F. 2009. Geoformas deposicionais e feições erosivas no Pantanal Mato-Grossense identificadas por sensoriamento remoto. Geografia, 34:643-654.
  • Zeiler M. 1999. Modeling Our World. The ESRI Guide to Geodatabase Design California, ESRI Press, 202 p.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2011

Histórico

  • Recebido
    03 Jul 2010
  • Aceito
    21 Dez 2011
Sociedade Brasileira de Geologia R. do Lago, 562 - Cidade Universitária, 05466-040 São Paulo SP Brasil, Tel.: (55 11) 3459-5940 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: sbgeol@uol.com.br