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Processos de designação e substituição semântica usados por crianças falantes de Português Europeu numa prova de vocabulário

RESUMO

Objetivo

Este estudo teve por objetivo a análise e quantificação dos processos de designação e substituição semântica apresentados na prova do vocabulário do Teste de Linguagem Infantil ABFW, padronizado no Brasil e adaptado para Português Europeu (PE), assim como a comparação dos resultados obtidos nos dois países, de forma a analisar a pertinência da sua extensibilidade à população portuguesa.

Métodos

A prova foi aplicada a 150 crianças de 5 e 6 anos de idade, de desenvolvimento típico, na Região Norte de Portugal. A prova é constituída por nove categorias conceituais e cada categoria formada por diferentes vocábulos, que foram avaliados sempre pela mesma ordem sequencial.

Resultados

A amostra mostrou desempenho inferior, em relação à norma, apenas nas categorias semânticas vestuário, locais e alimentos. Todas as outras categorias revelaram desempenho superior. As categorias do vocabulário que apresentaram maior percentagem de respostas corretas foram: animais, formas e cores e brinquedos e instrumentos musicais . As categorias que apresentaram percentagem superior de processos de substituição, em relação à norma, foram alimentos e locais. Os processos de substituição mais utilizados foram: substituição por co-hipônimo, vocábulos que designam atributos semânticos, valorização do estímulo visual, hiperônimos e parassinônimos.

Conclusão

Dada a homogeneidade dos resultados deste estudo com os resultados obtidos em outros estudos no Brasil, esta prova revela potencialidades como instrumento de avaliação do vocabulário em Portugal.

Palavras-chave:
Vocabulário; Linguagem; Designação; Substituição; Avaliação

ABSTRACT

Purpose

This research study focus on the designation processes and semantic substitutions of each word on the vocabulary sub-task from the language test for children – ABFW, standardized in Brazil and adapted to European Portuguese, as well as the comparison of the results obtained in the two countries, to analyze the relevance of their extensibility to the Portuguese population.

Methods

The test was applied to 150 children from 5 to 6 years old, of typical development. The test consists of 9 conceptual categories. Each category consists of different words, which were always assessed in the same sequential order.

Results

The sample of this study showed a lower performance only in clothes, places and food semantic categories. All the other categories have outperformed the standard. The categories of vocabulary with higher percentage in the right designation of the words were colors and shapes, animals and toys and music instruments. The categories with a higher percentage of substitution processes, from the reference results, were: food and locations. The most recurrent substitution processes were the co-hyponym, words that designate semantic attributes, valorization of the visual stimulus, hypernym and parasynonyms

Conclusion

Given the homogeneity of the results of this study with the results obtained with other studies in Brazil, this test reveal potentiality as an instrument for vocabulary assessment in Portugal.

Keywords:
Vocabulary; Language; Designation; Substitution; Assessment

INTRODUÇÃO

É consensual que a linguagem é indispensável na vida de um ser humano que, ao existir como um ser social, necessita se comunicar e manter o contato com os outros. São várias as definições de linguagem, mas, de uma forma geral, pode-se defini-la como o processo utilizado por grupos de indivíduos, em que é atribuído significado a um conjunto de sons, palavras, gestos e símbolos para que possam se comunicar uns com os outros(11 Owens RE. Language development: an introduction. 9th ed. Boston: Pearson Education; 2016. ,22 Reed V. An Introduction to children with language disorders. 5th ed. New York: Pearson; 2017. ). Deste modo, os falantes/ouvintes de uma língua aprendem as regras de um sistema linguístico, para poderem comunicar. Perceber como se desenrola este processo ajuda a determinar se uma criança tem um desenvolvimento normal, de acordo com os parâmetros adequados a sua faixa etária, ou se apresenta um padrão anormal de desenvolvimento da linguagem(33 Bernstein DK, Tiegerman-Farber E. Language and communication disorders in children. 5th ed. Boston: Allyn and Bacon; 2002. ).

A aquisição de vocabulário torna-se um dos marcos mais notórios, no que diz respeito ao desenvolvimento linguístico(44 Guasti MT. Language acquisition: the growth of grammar. 2nd ed. Cambridge: The MIT Press; 2016. ,55 Nalom AFDO, Soares AJC, Cárnio MS. A relevância do vocabulário receptivo na compreensão leitora. CoDAS. 2015;27(4):333-8. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20152015016. PMid:26398255.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/201...
), como também na identificação e diagnóstico de uma alteração mais importante da linguagem, como a perturbação específica da linguagem(66 Brancalioni AR, Marini C, Cavalheiro LG, Keske-Soares M. Desempenho em prova de vocabulário de crianças com desvio fonológico e com desenvolvimento fonológico normal. CEFAC. 2010;13(3):428-36. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-18462010005000011.
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-1846201...
,77 Puglisi ML, Gândara JP, Giusti E, Gouvêa MA, Befi-Lopes DM. É possível predizer o tempo de terapia das alterações específicas no desenvolvimento da linguagem? J Soc Bras Fonoaudiol. 2012;24(1):57-61. http://dx.doi.org/10.1590/S2179-64912012000100010. PMid:22460373.
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), pois é o que apresenta maior evolução em idades mais precoces (88 McGregor KK, Newman RM, Reilly RM, Capone NC. Semantic representation and naming in children with specific language impairment. J Speech Lang Hear Res. 2002;45(5):998-1014. http://dx.doi.org/10.1044/1092-4388(2002/081). PMid:12381056.
http://dx.doi.org/10.1044/1092-4388(200...
,99 Weismer SE, Evans JL. The role of processing limitations in early identification of specific language impairment. Top Lang Disord. 2002;22(3):15-29. http://dx.doi.org/10.1097/00011363-200205000-00004.
http://dx.doi.org/10.1097/00011363-2002...
).

Como é do conhecimento geral, numa criança de desenvolvimento típico os primeiros itens lexicais surgem, aproximadamente, com 1 ano de idade(1010 Santos AC. Perturbações da linguagem: para a construção de um instrumento de avaliação [tese]. Braga: Universidade do Minho; 2002. ,1111 Andersen EML. Representações lexicais subjacentes: verbos e léxico inicial. Revel. 2008;6(11):1-31. ). Nesta fase inicial, as palavras são adquiridas lentamente (entre uma e três palavras novas por semana). Por volta dos 15 meses de idade, a criança poderá ter um vocabulário até dez palavras, mas já poderá ser capaz de compreender até cerca de 20 palavras(33 Bernstein DK, Tiegerman-Farber E. Language and communication disorders in children. 5th ed. Boston: Allyn and Bacon; 2002. ). Por volta dos 20 meses de idade, ocorre uma expansão bastante acentuada, sendo que o vocabulário da criança pode chegar até 50 palavras. A velocidade de aquisição das palavras aumenta cada vez mais, podendo chegar a oito palavras novas por semana. Aos 2 anos, o vocabulário da criança pode estar entre as 200 e as 500 palavras e ela pode compreender muito mais palavras, para além destas(33 Bernstein DK, Tiegerman-Farber E. Language and communication disorders in children. 5th ed. Boston: Allyn and Bacon; 2002. ,1212 Barrett M. Early lexical development. In: Fletcher P, MacWhinney B, editores. The handbook of child language. Oxford: Blackwell; 1995. p. 362-92. ). O período pré-escolar é um dos períodos de maior crescimento lexical. Aos 3 anos de idade, as crianças podem apresentar um vocabulário expressivo, entre 900 e 1000 palavras. Aos 4 anos, o seu vocabulário expressivo chega a 1500 palavras, sendo capaz de se exprimir melhor, com um comprimento médio, por enunciado, de 4,71 palavras(33 Bernstein DK, Tiegerman-Farber E. Language and communication disorders in children. 5th ed. Boston: Allyn and Bacon; 2002. ,1313 Rigolet SA. Para uma aquisição precoce e optimizada da linguagem. Porto: Porto Editora; 2006. ). Aos 5 anos, a criança pode ultrapassar as 2000 palavras no seu vocabulário expressivo(33 Bernstein DK, Tiegerman-Farber E. Language and communication disorders in children. 5th ed. Boston: Allyn and Bacon; 2002. ). Nesta idade, as suas frases já são mais longas, mostrando maior complexidade da sua expressão, aumentando notavelmente o número de vocábulos por enunciado(1313 Rigolet SA. Para uma aquisição precoce e optimizada da linguagem. Porto: Porto Editora; 2006. ). Aos 6 anos de idade, o seu vocabulário compreensivo pode variar entre 20000 e 24000 palavras e é capaz de possuir um vocabulário expressivo que pode variar entre 2600 e 7000 palavras(22 Reed V. An Introduction to children with language disorders. 5th ed. New York: Pearson; 2017. ,33 Bernstein DK, Tiegerman-Farber E. Language and communication disorders in children. 5th ed. Boston: Allyn and Bacon; 2002. ,1212 Barrett M. Early lexical development. In: Fletcher P, MacWhinney B, editores. The handbook of child language. Oxford: Blackwell; 1995. p. 362-92. ). Aos 5/6 anos, o vocabulário (campo lexical) de uma criança já é muito semelhante ao campo lexical de um adulto, ainda que o vocabulário continue a desenvolver-se até a idade adulta, de acordo com a experiência, ambientes (casa, escola) e contextos nos quais está inserida(1414 Befi-Lopes DM, Cáceres AM, Araújo K. Aquisição de verbos em pré-escolares falantes do português brasileiro. CEFAC. 2007;9(4):444-52. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-18462007000400003.
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-1846200...

15 Hage S, Pereira M. Desempenho de crianças com desenvolvimento típico de linguagem em prova de vocabulário expressivo. CEFAC. 2006;8(4):419-28. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-18462006000400003.
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16 Andrade C, Befi-Lopes D, Fernandes F, Wertzner H. ABFW: teste de linguagem infantil nas áreas da linguagem, vocabulário, fluência e pragmática. 2. ed. Barueri: Pró-fono Departamento Editorial; 2004.
-1717 Medeiros VP, Valença RKL, Guimarães JATL, Costa RCC. Vocabulário expressivo e variáveis regionais em uma amostra de escolares de Maceió. Audiol Commun Res. 2013;18(2):71-7. http://dx.doi.org/10.1590/S2317-64312013000200004.
http://dx.doi.org/10.1590/S2317-6431201...
). Salienta-se o impacto da aquisição e desenvolvimento do vocabulário como ferramenta necessária para o sucesso de áreas académicas (leitura, escrita, etc.)(11 Owens RE. Language development: an introduction. 9th ed. Boston: Pearson Education; 2016.

2 Reed V. An Introduction to children with language disorders. 5th ed. New York: Pearson; 2017.
-33 Bernstein DK, Tiegerman-Farber E. Language and communication disorders in children. 5th ed. Boston: Allyn and Bacon; 2002. ).

Estudos sobre essa matéria mostraram que, em primeiro lugar, vem a aquisição das palavras referentes a objetos, ações e acontecimentos mais facilmente percetíveis. Só depois são adquiridas as palavras mais genéricas, relacionadas a classes, categorias e determinados tipos de objetos e ações mais complexos(44 Guasti MT. Language acquisition: the growth of grammar. 2nd ed. Cambridge: The MIT Press; 2016. ,1818 Alt M, Plante E, Creusere M. Semantic features in fast-mapping: performance of preschoolers with specific language impairment versus preschoolers with normal language. J Speech Lang Hear Res. 2004;47(2):407-20. http://dx.doi.org/10.1044/1092-4388(2004/033). PMid:15157140.
http://dx.doi.org/10.1044/1092-4388(200...
). Existe, ainda, outro fator que parece influenciar a estrutura organizacional lexical, a frequência das palavras, ou seja, a frequência com que as palavras são usadas no meio envolvente da criança, nas experiências e palavras a que são expostas diariamente. As palavras usadas com mais frequência são reconhecidas pelas crianças, mais rapidamente e mais objetivamente do que as palavras utilizadas poucas vezes, com baixa frequência, o que sugere que a maior frequência da palavra facilita o processamento conceptual(1919 Morrisette ML, Gierut JA. Lexical organization and phonological change in treatment. J Speech Lang Hear Res. 2002;45(1):143-59. http://dx.doi.org/10.1044/1092-4388(2002/011). PMid:14748645.
http://dx.doi.org/10.1044/1092-4388(200...

20 Biemiller A, Boote C. An effective method for building meaning vocabulary in primary grades. J Educ Psychol. 2006;98(1):44-62. http://dx.doi.org/10.1037/0022-0663.98.1.44.
http://dx.doi.org/10.1037/0022-0663.98....

21 McGregor KK, Sheng L, Ball T. Complexities of expressive word learning over time. Lang Speech Hear Serv Sch. 2007;38(4):353-64. http://dx.doi.org/10.1044/0161-1461(2007/037). PMid:17890515.
http://dx.doi.org/10.1044/0161-1461(200...
-2222 Li P, Zhao X, Mac Whinney B. Dynamic self-organization and early lexical development in children. Cogn Sci. 2007;31(4):581-612. http://dx.doi.org/10.1080/15326900701399905. PMid:21635309.
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).

À medida que o léxico da criança se expande, aumenta a necessidade de melhor organização entre as palavras e, assim, vão se formando novas relações e conexões semânticas, permitindo à criança perceber e enunciar palavras cada vez mais complexas e desenvolver noções gramaticais (22 Reed V. An Introduction to children with language disorders. 5th ed. New York: Pearson; 2017. ,2222 Li P, Zhao X, Mac Whinney B. Dynamic self-organization and early lexical development in children. Cogn Sci. 2007;31(4):581-612. http://dx.doi.org/10.1080/15326900701399905. PMid:21635309.
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,2323 Stolt S, Haataja L, Lapinleimu H, Lehtonen L. Associations between lexicon and grammar at the end of the second year in Finnish children. J Child Lang. 2009;36(4):779-806. http://dx.doi.org/10.1017/S0305000908009161. PMid:19000335.
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).

As crianças com problemas na linguagem demonstram mais dificuldades do que as outras crianças em adquirir novas relações e conexões semânticas e fazem-no mais lentamente(2222 Li P, Zhao X, Mac Whinney B. Dynamic self-organization and early lexical development in children. Cogn Sci. 2007;31(4):581-612. http://dx.doi.org/10.1080/15326900701399905. PMid:21635309.
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). Manifestam essas dificuldades muitas vezes associadas às hesitações, disfluências, reformulações e processos de substituições de palavras(1616 Andrade C, Befi-Lopes D, Fernandes F, Wertzner H. ABFW: teste de linguagem infantil nas áreas da linguagem, vocabulário, fluência e pragmática. 2. ed. Barueri: Pró-fono Departamento Editorial; 2004. ,1717 Medeiros VP, Valença RKL, Guimarães JATL, Costa RCC. Vocabulário expressivo e variáveis regionais em uma amostra de escolares de Maceió. Audiol Commun Res. 2013;18(2):71-7. http://dx.doi.org/10.1590/S2317-64312013000200004.
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,2424 Befi-Lopes DM, Rodrigues A. Avaliação do vocabulário nas alterações do desenvolvimento da linguagem. J Bras Fonoaudiol. 2001;2(8):183-90. ,2525 Lahey M, Edwards J. Naming errors of children with specific language impairment. J Speech Lang Hear Res. 1999;42(1):195-205. http://dx.doi.org/10.1044/jslhr.4201.195. PMid:10025554.
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). Adicionalmente, estas crianças usam, com grande frequência, um grande número de palavras sem uma referência clara (por exemplo, coisa, isto, aquilo, aqui, ali)(22 Reed V. An Introduction to children with language disorders. 5th ed. New York: Pearson; 2017. ). Uma criança com distúrbios relacionados com a semântica mostra-se capaz de aprender palavras de determinadas classes, principalmente relacionadas com objetos, mas mostra, posteriormente, ter problemas em aprender palavras de classes mais abstratas ou figurativas(22 Reed V. An Introduction to children with language disorders. 5th ed. New York: Pearson; 2017. ,1616 Andrade C, Befi-Lopes D, Fernandes F, Wertzner H. ABFW: teste de linguagem infantil nas áreas da linguagem, vocabulário, fluência e pragmática. 2. ed. Barueri: Pró-fono Departamento Editorial; 2004. ,1818 Alt M, Plante E, Creusere M. Semantic features in fast-mapping: performance of preschoolers with specific language impairment versus preschoolers with normal language. J Speech Lang Hear Res. 2004;47(2):407-20. http://dx.doi.org/10.1044/1092-4388(2004/033). PMid:15157140.
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). Tal como já foi referido, à medida que o vocabulário da criança vai aumentando, ela vai sendo capaz de restringir, cada vez mais, os termos e os seus significados, passando do geral para o específico, mas uma criança com perturbações na linguagem vai utilizando e aplicando sempre os mesmos termos gerais, com o passar do tempo(22 Reed V. An Introduction to children with language disorders. 5th ed. New York: Pearson; 2017. ,2626 Sheng L, McGregor KK. Lexical-semantic organization in children with specific language impairment. J Speech Lang Hear Res. 2010;53(1):146-59. http://dx.doi.org/10.1044/1092-4388(2009/08-0160). PMid:20150406.
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).

Em Portugal, ainda é notória a escassez de instrumentos que avaliem a linguagem e, especificamente, alguns componentes da linguagem que permitam perceber todos esses processos do seu desenvolvimento. No Brasil, para avaliação da linguagem e dos processos inerentes à sua aquisição, é utilizada, com frequência, a prova de vocabulário do Teste de Linguagem Infantil ABFW (ABFW - Teste de Linguagem Infantil nas Áreas de Fonologia, Vocabulário, Fluência e Pragmática) (1616 Andrade C, Befi-Lopes D, Fernandes F, Wertzner H. ABFW: teste de linguagem infantil nas áreas da linguagem, vocabulário, fluência e pragmática. 2. ed. Barueri: Pró-fono Departamento Editorial; 2004. ), tanto no campo da investigação, como no campo clínico, avaliando crianças com desenvolvimento típico, mas também crianças com perturbações específicas da linguagem, com perturbações fonológicas e surdez(1616 Andrade C, Befi-Lopes D, Fernandes F, Wertzner H. ABFW: teste de linguagem infantil nas áreas da linguagem, vocabulário, fluência e pragmática. 2. ed. Barueri: Pró-fono Departamento Editorial; 2004. ,1717 Medeiros VP, Valença RKL, Guimarães JATL, Costa RCC. Vocabulário expressivo e variáveis regionais em uma amostra de escolares de Maceió. Audiol Commun Res. 2013;18(2):71-7. http://dx.doi.org/10.1590/S2317-64312013000200004.
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,2727 Cáceres-Assenço AM, Ferreira SCA, Santos AC, Befi-Lopes DM. Aplicação de uma prova brasileira de vocabulário expressivo em crianças falantes do Português Europeu. CoDAS. 2018;30(2):e20170113. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20182017113. PMid:29791612.
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). O instrumento analisa, em diferentes categorias linguísticas, os métodos utilizados pelas crianças para a designação do vocabulário e a tipologia dos processos de substituição que utiliza, na tentativa de nomear a palavra (figura) apresentada.

Esta prova foi anteriormente adaptada para o Português Europeu (PE) e revela ter potencialidades como instrumento de avaliação do vocabulário, designadamente na identificação precoce de dificuldades da linguagem, em crianças portuguesas de 5 e 6 anos falantes do Português Europeu(2727 Cáceres-Assenço AM, Ferreira SCA, Santos AC, Befi-Lopes DM. Aplicação de uma prova brasileira de vocabulário expressivo em crianças falantes do Português Europeu. CoDAS. 2018;30(2):e20170113. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20182017113. PMid:29791612.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/201...
). Contudo, é importante comparar os resultados das duas populações, principalmente no que diz respeito aos processos de designação e substituição semântica que as crianças utilizam, o que poderá reforçar a pertinência da sua aplicabilidade e padronização para a população portuguesa.

Sendo assim, este estudo teve o objetivo de avaliar um grupo de crianças nas faixas etárias de 5 e 6 anos, na área do vocabulário, em Portugal, analisando e quantificando os processos de designação e substituição semântica utilizados nos 118 vocábulos apresentados na prova do vocabulário (Parte B) do Teste de Linguagem Infantil ABFW(1616 Andrade C, Befi-Lopes D, Fernandes F, Wertzner H. ABFW: teste de linguagem infantil nas áreas da linguagem, vocabulário, fluência e pragmática. 2. ed. Barueri: Pró-fono Departamento Editorial; 2004. ), e comparar com os resultados obtidos no Brasil.

MÉTODOS

Este estudo foi autorizado pelo Conselho Científico da Universidade do Minho, depois de terem sido assegurados todos os aspetos de confidencialidade e anonimato dos dados.

Participantes

Para este estudo, foi utilizado o método de amostragem não probabilístico, amostragem por conveniência, por critérios geográficos e facilidade de acesso. Foi, então, reunido um grupo de 150 crianças, das quais, 75 com idades compreendidas entre 5 anos e 5 anos e 11 meses e as outras 75 com idades compreendidas entre 6 anos e 6 anos e 11 meses, ou seja, crianças que frequentavam o ensino pré-escolar e o 1º ano do 1º ciclo do ensino básico da Região Norte de Portugal.

Os professores identificaram as crianças deste estudo como sendo de desenvolvimento típico, monolíngues, tendo o Português como língua materna. As crianças foram avaliadas no início do ano letivo, pelos professores do ensino regular, por meio de escalas/inventários informais de rastreio, de forma a rastrear crianças com e sem suspeitas de perturbações do desenvolvimento. Estes inventários consistem numa lista de itens/comportamentos, que descrevem competências ao nível da linguagem compreensiva e de produção, que podem ser cotados em dois parâmetros (tem adquirido, não tem adquirido) (1010 Santos AC. Perturbações da linguagem: para a construção de um instrumento de avaliação [tese]. Braga: Universidade do Minho; 2002. ).

Para prosseguir o projeto, foi entregue aos pais, para assinatura, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), explicando os objetivos e os procedimentos do estudo e, também, garantindo o anonimato e confidencialidade das informações adquiridas.

Instrumento

Para este trabalho, foi utilizado, como instrumento, a prova do vocabulário (Parte B) do Teste de Linguagem Infantil ABFW(1616 Andrade C, Befi-Lopes D, Fernandes F, Wertzner H. ABFW: teste de linguagem infantil nas áreas da linguagem, vocabulário, fluência e pragmática. 2. ed. Barueri: Pró-fono Departamento Editorial; 2004. ). Esta prova é constituída por nove áreas lexicais, que devem ser sempre avaliadas na mesma ordem sequencial. Cada área lexical é composta por diferentes vocábulos/figuras/itens.

Para que a sua utilização fosse adequada para o contexto de Portugal, adaptaram-se 26 vocábulos, mantendo a imagem original: sandália (sapatilha), coruja (mocho), pintinho (pintainho), cachorro (cão), viatura (carro de polícia), foguete (foguetão), caminhão (camião), ônibus (autocarro), trem (comboio), sanduíche (sandes), macarrão (massa), pipoca (pipocas), banana (ananás), abajur (candeeiro), geladeira (frigorífico), privada (sanita), pia (lavatório), xícara (chávena), barbeiro (cabeleireiro), fazendeiro (agricultor), policial (polícia), marrom (castanho), violão (viola), gangorra (balancé), escorregador (escorrega) e balanço (baloiço) (2727 Cáceres-Assenço AM, Ferreira SCA, Santos AC, Befi-Lopes DM. Aplicação de uma prova brasileira de vocabulário expressivo em crianças falantes do Português Europeu. CoDAS. 2018;30(2):e20170113. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20182017113. PMid:29791612.
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).

Deste modo, fazem parte do campo conceitual do vestuário dez vocábulos, sendo eles: bota; casaco; vestido; boné; calças; pijama; camisa; sapatilha; sapato; bolsa/mala. Fazem parte do campo conceitual dos animais 15 vocábulos: pássaro; coruja/mocho; gato; pintainho; vaca; cão; pato; galinha; cavalo; porco; galo; urso; elefante; leão; coelho. Fazem parte do campo conceitual dos meios de transporte 11 vocábulos: barco; navio; carro de polícia; carro; helicóptero; avião; foguetão; camião; bicicleta; autocarro; comboio. Fazem parte do campo conceitual dos alimentos 15 vocábulos: queijo; ovo; carne; salada; sandes/sanduíche; sopa; massa; alface; pipocas; maça; banana; cenoura; cebola; ananás; melancia. Fazem parte do campo conceitual dos móveis e utensílios 24 vocábulos: cama; cadeira; cómoda; ferro; tábua de passar; candeeiro; frigorífico; sofá; fogão; mesa; telefone; sanita; lavatório; chávena; garfo; copo; faca; frigideira; panela; prato; colher; pente; pasta dos dentes; toalha. Fazem parte do campo conceitual das profissões dez vocábulos: cabeleireiro; dentista; médico; agricultor; bombeiro; carteiro; enfermeira; polícia; professora; palhaço. Fazem parte do campo conceitual dos locais 12 vocábulos: montanha; igreja; sala de aula; rua / estrada; prédio; cidade; estátua; estádio; loja; jardim; floresta; rio. Fazem parte do campo conceitual das cores e formas dez vocábulos: preto; azul; vermelho; verde; amarelo; castanho; quadrado; círculo; triângulo; retângulo. E por último, fazem parte do campo conceitual dos instrumentos musicais e brinquedos 11 vocábulos: casa; tambor; viola; corda; piano; robô; balancé; patins; escorrega; baloiço; apito.

As 118 palavras/figuras que fazem parte da prova foram apresentadas às crianças num álbum, em tamanho de 12 cm × 21 cm, fornecido pelas autoras do instrumento.

Procedimentos

Para a realização deste estudo, foram previamente concedidas as devidas autorizações dos respetivos estabelecimentos de ensino, assim como dos encarregados de educação de todas as crianças. Os pedidos de autorização explicavam os objetivos e os procedimentos do estudo e também asseguravam o anonimato e confidencialidade de toda a informação obtida, respeitando os requisitos exigidos pela Comissão Ética da Universidade do Minho.

Depois da obtenção das autorizações necessárias, foram marcados os dias para a realização das provas.

No dia marcado, todos os jardins de infância e escolas disponibilizaram um espaço reservado e sossegado para a aplicação do instrumento. As provas foram aplicadas individualmente, em tempo letivo, e cada criança demorava entre dez e 20 minutos para a sua concretização. A prova foi aplicada a todas as crianças submetidas à avaliação, sempre da mesma maneira. Os nove campos conceituais foram avaliados sempre na mesma ordem sequencial, tal como a exibição das figuras. Em cada uma das figuras, foram aguardados dez segundos para que a criança pudesse responder. Nos casos em que as crianças não responderam, passou-se à figura seguinte.

As respostas das crianças foram gravadas em arquivo de áudio e, posteriormente, transcritas para uma folha de registo individual de respostas.

Nos casos em que a criança utilizou o vocábulo usual, foi assinalado o termo DVU (designação do vocábulo usual). Nos casos em que a criança não respondeu, ou respondeu “não sei”, foi assinalado o termo ND (não designação). Por último, nos casos em que a criança usou outra designação para o vocábulo em causa, foi assinalado o termo PS (processo de substituição) e, à frente, inserida a tipologia do vocábulo substituído. A tipologia destes vocábulos foi atribuída segundo os processos de substituição apresentados pelas autoras da prova: modificação da categoria gramatical; substituição por hiperônimo; substituição por co-hipônimo (próximo ou distante); substituição por hipônimo; substituição por parassinônimos; criação de neologismo por analogia morfo-semântico-sintática; substituição por vocábulos que designam os atributos semânticos; substituição por paráfrases culturais; substituição por designação de funções; substituição por atributo de co-hipônimo; valorização do estímulo visual; utilização de onomatopeia;

Os dados foram analisados estatisticamente por meio do software SPSS, versão 21. Para a comparação dos resultados alcançados com os valores de referência do ABFW, foi usado o Teste t. Foram adotados valores de significância de p menores que 0,05.

RESULTADOS

Na amostra deste estudo, verificou-se um desempenho inferior ao esperado, nas categorias conceituais vestuário, alimentos e locais. Todas as outras categorias conceituais apresentaram uma percentagem de DVU superior à esperada. Verificou-se, através da análise estatística, diferença significativa entre todas as categorias conceituais, no que respeita aos valores obtidos e aos valores esperados ( Tabela1 ).

Tabela 1
Tabela percentual geral de designação usual do vocábulo, processos de substituição e não designação nas diferentes categorias, para o desempenho esperado e para o desempenho alcançado

Os campos semânticos que manifestaram maior percentagem de respostas corretas foram: formas e cores, animais, brinquedos e instrumentos musicais e meios de transporte ( Tabela 1 ).

Em relação à utilização de PS, as categorias que registraram uma percentagem expressivamente mais elevada do que o esperado foram: locais e alimentos ( Tabela 1 ). Todos os outros campos revelaram uma percentagem muito semelhante e até inferior à esperada. Confirmaram-se diferenças estatisticamente significativas entre as várias categorias conceituais, no que concerne aos valores obtidos e esperados ( Tabela 1 ).

Relativamente às ND, as categorias animais, meios de transporte, profissões, formas e corese brinquedos e instrumentos musicais expressaram uma percentagem inferior à esperada, enquanto a categoria vestuário obteve percentagem superior à esperada. Nos restantes campos conceituais, não existiram diferenças estatisticamente significativas, no que se refere às ND ( Tabela 1 ).

As tipologias de processos de substituição mais significativamente utilizadas foram, respectivamente, substituição por co-hipônimo, substituição por vocábulos que designam seus atributos semânticos, valorização do estímulo visual, substituição por hiperônimo, substituição por parassinônimo ou equivalente, substituição por designação de funções, modificação da categoria gramatical e substituição por hipônimo ( Tabela 2 ).

Tabela 2
Frequência de uso das diferentes tipologias de processos de substituição

DISCUSSÃO

Os campos lexicais que apresentaram pior desempenho, neste estudo, coincidiram com os de outros estudos realizados anteriormente, vestuário(2727 Cáceres-Assenço AM, Ferreira SCA, Santos AC, Befi-Lopes DM. Aplicação de uma prova brasileira de vocabulário expressivo em crianças falantes do Português Europeu. CoDAS. 2018;30(2):e20170113. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20182017113. PMid:29791612.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/201...
), locais(1717 Medeiros VP, Valença RKL, Guimarães JATL, Costa RCC. Vocabulário expressivo e variáveis regionais em uma amostra de escolares de Maceió. Audiol Commun Res. 2013;18(2):71-7. http://dx.doi.org/10.1590/S2317-64312013000200004.
http://dx.doi.org/10.1590/S2317-6431201...
,2727 Cáceres-Assenço AM, Ferreira SCA, Santos AC, Befi-Lopes DM. Aplicação de uma prova brasileira de vocabulário expressivo em crianças falantes do Português Europeu. CoDAS. 2018;30(2):e20170113. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20182017113. PMid:29791612.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/201...

28 Torres MLGM, Maia HA, Perissinoto J, Assencio-Ferreira VJ. Descrição do léxico expressivo de crianças aos 5 anos de idade. Rev CEFAC. 2002;4:241-51.
-2929 Athayde ML, Mota HB, Mezzomo CL. Vocabulário expressivo de crianças com desenvolvimento fonológico normal e desviante. Pro Fono. 2010;22(2):145-50. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-56872010000200013. PMid:20640379.
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) e alimentos(1717 Medeiros VP, Valença RKL, Guimarães JATL, Costa RCC. Vocabulário expressivo e variáveis regionais em uma amostra de escolares de Maceió. Audiol Commun Res. 2013;18(2):71-7. http://dx.doi.org/10.1590/S2317-64312013000200004.
http://dx.doi.org/10.1590/S2317-6431201...
,2727 Cáceres-Assenço AM, Ferreira SCA, Santos AC, Befi-Lopes DM. Aplicação de uma prova brasileira de vocabulário expressivo em crianças falantes do Português Europeu. CoDAS. 2018;30(2):e20170113. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20182017113. PMid:29791612.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/201...
).

As categorias que obtiveram desempenho superior, ou seja, as que revelaram estar mais consolidadas diferiram, em certa medida, dos resultados de referência da prova ABFW, para as mesmas faixas etárias, uma vez que as categorias que apresentaram maior percentagem de designação do vocábulo usual, referencialmente, foram vestuário , alimentos, locais e formas e cores(1616 Andrade C, Befi-Lopes D, Fernandes F, Wertzner H. ABFW: teste de linguagem infantil nas áreas da linguagem, vocabulário, fluência e pragmática. 2. ed. Barueri: Pró-fono Departamento Editorial; 2004. ,2727 Cáceres-Assenço AM, Ferreira SCA, Santos AC, Befi-Lopes DM. Aplicação de uma prova brasileira de vocabulário expressivo em crianças falantes do Português Europeu. CoDAS. 2018;30(2):e20170113. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20182017113. PMid:29791612.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/201...
). O campo conceitual formas e cores foi o único que esteve entre as categorias que apresentaram resultados superiores, tanto neste estudo, como no estudo de referência.

Já em outro estudo realizado no Brasil, com crianças de 6 e 7 anos de idade, as categorias que apresentaram desempenho superior foram: animais, meios de transporte, formas e cores, móveis e utensílios(1717 Medeiros VP, Valença RKL, Guimarães JATL, Costa RCC. Vocabulário expressivo e variáveis regionais em uma amostra de escolares de Maceió. Audiol Commun Res. 2013;18(2):71-7. http://dx.doi.org/10.1590/S2317-64312013000200004.
http://dx.doi.org/10.1590/S2317-6431201...
). Outro estudo brasileiro, com crianças de 5 anos, demonstrou que as categorias que apresentaram desempenho superior nas crianças de desenvolvimento típico foram: animais, alimentos, meios de transporte e móveis e utensílios(2828 Torres MLGM, Maia HA, Perissinoto J, Assencio-Ferreira VJ. Descrição do léxico expressivo de crianças aos 5 anos de idade. Rev CEFAC. 2002;4:241-51. ). Existe ainda outro estudo, realizado com a prova ABFW, com crianças de 5 anos, em que as categorias com desempenho mais elevado foram: animais , meios de transporte, móveis e utensílios e vestuário(2929 Athayde ML, Mota HB, Mezzomo CL. Vocabulário expressivo de crianças com desenvolvimento fonológico normal e desviante. Pro Fono. 2010;22(2):145-50. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-56872010000200013. PMid:20640379.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-5687201...
). Em todos esses trabalhos, aparecem em evidência as categorias animais e meios de transporte como as mais adquiridas pelas crianças, tal como se verificou nesta pesquisa.

Relativamente aos processos de substituição, os resultados deste estudo coincidiram, em grande parte, com os resultados de referência, nos quais as categorias que apresentaram maior utilização de processos de substituição foram: móveis e utensílios, profissões , locais e meios de transporte(1616 Andrade C, Befi-Lopes D, Fernandes F, Wertzner H. ABFW: teste de linguagem infantil nas áreas da linguagem, vocabulário, fluência e pragmática. 2. ed. Barueri: Pró-fono Departamento Editorial; 2004. ). Também em outros estudos, as categorias que apresentaram maior percentagem de processos de substituição foram: locais e profissões(1717 Medeiros VP, Valença RKL, Guimarães JATL, Costa RCC. Vocabulário expressivo e variáveis regionais em uma amostra de escolares de Maceió. Audiol Commun Res. 2013;18(2):71-7. http://dx.doi.org/10.1590/S2317-64312013000200004.
http://dx.doi.org/10.1590/S2317-6431201...
,2828 Torres MLGM, Maia HA, Perissinoto J, Assencio-Ferreira VJ. Descrição do léxico expressivo de crianças aos 5 anos de idade. Rev CEFAC. 2002;4:241-51. ). Estes resultados sugerem que as palavras que compõem estas categorias são usadas com menos frequência, pois as palavras usadas com mais frequência são reconhecidas pelas crianças mais rapidamente e objetivamente do que aquelas que são utilizadas poucas vezes, o que indica que a maior frequência da palavra facilita o processamento conceitual(1919 Morrisette ML, Gierut JA. Lexical organization and phonological change in treatment. J Speech Lang Hear Res. 2002;45(1):143-59. http://dx.doi.org/10.1044/1092-4388(2002/011). PMid:14748645.
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http://dx.doi.org/10.1037/0022-0663.98....

21 McGregor KK, Sheng L, Ball T. Complexities of expressive word learning over time. Lang Speech Hear Serv Sch. 2007;38(4):353-64. http://dx.doi.org/10.1044/0161-1461(2007/037). PMid:17890515.
http://dx.doi.org/10.1044/0161-1461(200...
-2222 Li P, Zhao X, Mac Whinney B. Dynamic self-organization and early lexical development in children. Cogn Sci. 2007;31(4):581-612. http://dx.doi.org/10.1080/15326900701399905. PMid:21635309.
http://dx.doi.org/10.1080/1532690070139...
). Além disso, existem pesquisas que afirmaram que a familiaridade e a frequência dos objetos/conceitos no dia a dia das crianças são importantes, pois isso permite a ativação do acesso lexical através da memória, em curto e longo prazo(2929 Athayde ML, Mota HB, Mezzomo CL. Vocabulário expressivo de crianças com desenvolvimento fonológico normal e desviante. Pro Fono. 2010;22(2):145-50. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-56872010000200013. PMid:20640379.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-5687201...
). Pode-se deduzir, a partir destas referências, que esses campos conceituais devem ser mais bem trabalhados e mais abordados, tanto nas escolas, como em ambiente familiar.

Quanto à tipologia desses processos de substituição, as mais utilizadas pelas crianças foram, respectivamente: a substituição por co-hipônimo (a criança substitui os vocábulos por palavras da mesma categoria que lhes sejam mais familiares); substituição por vocábulos que designam seus atributos semânticos (a criança identifica qualidades da imagem); valorização do estímulo visual (a criança nomeia um elemento que se destaca na figura); substituição por hiperônimo (a criança substituiu um vocábulo por outro mais genérico); substituição por parassinônimos (a criança utiliza outro vocábulo que tenha significado semelhante); substituição por designação de funções (a criança descreve a função do vocábulo com vocabulário que lhe é mais familiar)(1717 Medeiros VP, Valença RKL, Guimarães JATL, Costa RCC. Vocabulário expressivo e variáveis regionais em uma amostra de escolares de Maceió. Audiol Commun Res. 2013;18(2):71-7. http://dx.doi.org/10.1590/S2317-64312013000200004.
http://dx.doi.org/10.1590/S2317-6431201...
). Estes resultados estão de acordo com outros estudos realizados no Brasil, que obtiveram exatamente a mesma ordem de utilização, relativamente às tipologias de substituição(1717 Medeiros VP, Valença RKL, Guimarães JATL, Costa RCC. Vocabulário expressivo e variáveis regionais em uma amostra de escolares de Maceió. Audiol Commun Res. 2013;18(2):71-7. http://dx.doi.org/10.1590/S2317-64312013000200004.
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,3030 Carvalho LS. Variação sociolinguística e aquisição semântica: um estudo sobre o perfil lexical pelo teste ABFW numa amostra de crianças em Salvador-BA. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2009;14(Supl. 2009):1450-5. ).

No que se refere às ND, as percentagens observadas foram sempre inferiores, em todos os estudos realizados, não existindo diferenças de percentagens significativas entre as diferentes categorias, indicando que as crianças optam, quase sempre, por utilizar um processo de substituição para designar um vocábulo, em vez de não o designar(1717 Medeiros VP, Valença RKL, Guimarães JATL, Costa RCC. Vocabulário expressivo e variáveis regionais em uma amostra de escolares de Maceió. Audiol Commun Res. 2013;18(2):71-7. http://dx.doi.org/10.1590/S2317-64312013000200004.
http://dx.doi.org/10.1590/S2317-6431201...
,2929 Athayde ML, Mota HB, Mezzomo CL. Vocabulário expressivo de crianças com desenvolvimento fonológico normal e desviante. Pro Fono. 2010;22(2):145-50. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-56872010000200013. PMid:20640379.
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).

Os resultados desta pesquisa apresentaram muitas similaridades, tanto com os resultados de referência, principalmente no que diz respeito ao desempenho global das DVU e às categorias que apresentam maior percentagem de processos de substituição, como com outros estudos realizados no Brasil, que utilizaram a prova de vocabulário ABFW, com relação às categorias com um desempenho superior e à percentagem obtida das ND.

Estes dados reforçam as conclusões de um estudo anterior, que refere esse instrumento como indicativo de potencial para a avaliação do vocabulário de crianças em Portugal. O estudo comparou o desempenho entre as diferentes faixas etárias, em Portugal e no Brasil, e também analisou a validade interna da prova, através do coeficiente Alpha de Cronbach, tendo sido considerada muito boa (.859). Os dados de confiabilidade indicam que a prova revelou-se consistente, contribuindo para a prática clínica e educacional, também naquele país(2727 Cáceres-Assenço AM, Ferreira SCA, Santos AC, Befi-Lopes DM. Aplicação de uma prova brasileira de vocabulário expressivo em crianças falantes do Português Europeu. CoDAS. 2018;30(2):e20170113. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20182017113. PMid:29791612.
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).

As diferenças encontradas podem ter ocorrido devido a uma realidade sociolinguística diferente(1717 Medeiros VP, Valença RKL, Guimarães JATL, Costa RCC. Vocabulário expressivo e variáveis regionais em uma amostra de escolares de Maceió. Audiol Commun Res. 2013;18(2):71-7. http://dx.doi.org/10.1590/S2317-64312013000200004.
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,2727 Cáceres-Assenço AM, Ferreira SCA, Santos AC, Befi-Lopes DM. Aplicação de uma prova brasileira de vocabulário expressivo em crianças falantes do Português Europeu. CoDAS. 2018;30(2):e20170113. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20182017113. PMid:29791612.
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,2828 Torres MLGM, Maia HA, Perissinoto J, Assencio-Ferreira VJ. Descrição do léxico expressivo de crianças aos 5 anos de idade. Rev CEFAC. 2002;4:241-51. ,3030 Carvalho LS. Variação sociolinguística e aquisição semântica: um estudo sobre o perfil lexical pelo teste ABFW numa amostra de crianças em Salvador-BA. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2009;14(Supl. 2009):1450-5. ), o que aponta para a necessidade da utilização de ferramentas culturalmente adaptadas, além da necessidade de valorizar outras variáveis sociais, como o nível cultural da família, as habilitações acadêmicas dos pais/cuidadores e a condição socioeconômica, entre outras variáveis(1717 Medeiros VP, Valença RKL, Guimarães JATL, Costa RCC. Vocabulário expressivo e variáveis regionais em uma amostra de escolares de Maceió. Audiol Commun Res. 2013;18(2):71-7. http://dx.doi.org/10.1590/S2317-64312013000200004.
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,2727 Cáceres-Assenço AM, Ferreira SCA, Santos AC, Befi-Lopes DM. Aplicação de uma prova brasileira de vocabulário expressivo em crianças falantes do Português Europeu. CoDAS. 2018;30(2):e20170113. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20182017113. PMid:29791612.
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28 Torres MLGM, Maia HA, Perissinoto J, Assencio-Ferreira VJ. Descrição do léxico expressivo de crianças aos 5 anos de idade. Rev CEFAC. 2002;4:241-51.

29 Athayde ML, Mota HB, Mezzomo CL. Vocabulário expressivo de crianças com desenvolvimento fonológico normal e desviante. Pro Fono. 2010;22(2):145-50. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-56872010000200013. PMid:20640379.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-5687201...
-3030 Carvalho LS. Variação sociolinguística e aquisição semântica: um estudo sobre o perfil lexical pelo teste ABFW numa amostra de crianças em Salvador-BA. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2009;14(Supl. 2009):1450-5. ).

Este estudo teve como limitações uma amostra de conveniência, a restrição das faixas etárias avaliadas e a ausência de análise das variáveis anteriormente assinaladas. No entanto, estas restrições podem conduzir a pesquisas futuras, com forte contributo científico para a área da linguagem, culminando com a aferição da prova ao nível nacional

CONCLUSÃO

Uma vez que os resultados obtidos neste estudo revelaram um desempenho elevado em todas as categorias conceituais da prova de vocabulário ABFW, exceto locais , e que apresentaram muitas similitudes com outros estudos realizados no Brasil, nomeadamente no que se refere às categorias de vocabulário melhor apreendidas, esse instrumento poderá vir a ser utilizado com a população portuguesa, para as faixas etárias especificadas, com as devidas adaptações culturais e linguísticas.

  • Trabalho realizado na Universidade do Minho – Braga, Portugal.
  • Financiamento: Este trabalho foi financiado pelo CIEd – Centro de Investigação em Educação, projetos UID/CED/1661/2013 e UID/CED/1661/2016, Instituto de Educação, Universidade do Minho, Braga, Portugal, através de fundos nacionais da FCT/MCTES-PT.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Dez 2018
  • Data do Fascículo
    2018

Histórico

  • Recebido
    23 Abr 2018
  • Aceito
    19 Out 2018
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