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O MEDO PRECEDE O ATO CRIATIVO: O FAZER PSICODRAMÁTICO VIRTUAL EM MEIO À PANDEMIA CAUSADA PELA COVID-19

FEAR PRECEDES THE CREATIVE ACT: THE PSYCHODRAMATIC ONLINE ACTUATION THROUGHOUT THE COVID-19 PANDEMIC

EL MIEDO ANTECEDE AL ACTO CREATIVO: EL HACER PSICODRAMÁTICO VIRTUAL EN MEDIO DE LA PANDEMIA PROVOCADA POR EL COVID-19

RESUMO

A emergência sanitária de COVID-19 ocasionou uma mudança brusca nos estilos de vida das pessoas, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional. Com o cenário de medo e incerteza, a demanda por psicoterapia aumentou e se transferiu para o contexto virtual. O presente estudo visa compreender como um grupo de psicoterapeutas psicodramatistas lidou com esse cenário atípico causado pelo isolamento social. A partir de uma entrevista psicodramática em grupo, foi possível identificar eixos de sentido nas interações entre as participantes e discutir os conceitos de espontaneidade e conserva cultural, na psicoterapia psicodramática. Conclui-se que o sentimento de medo foi um iniciador para as mudanças nas práticas das psicodramatistas entrevistadas, confirmando o adágio moreniano: o medo precede o ato criativo.

PALAVRAS-CHAVE
Psicoterapia psicodramática; Psicoterapia online; Espontaneidade; Conserva cultural

ABSTRACT

The COVID-19 health emergency caused a sudden change in people’s lifestyles, both personally and professionally. In this scenario of fear and uncertainty, the demand for psychotherapy increased and was redirected to a virtual context. The present study aims to understand how a group of psychodrama therapists dealt with the atypical scenario of social isolation. Based on a psychodramatic group interview, it was possible to identify axes of meaning in the interactions between the participants and to discuss the concepts of spontaneity and cultural conservation in psychodramatic psychotherapy. It is concluded that the feeling of fear was an initiator for changes in the practices of the psychodramatists interviewed, confirming the Morenian adage: fear precedes the creative act.

KEYWORD
Psychotherapy psychodramatic; Online psychotherapy; Spontaneity; Cultural conserve

RESUMEN

La emergencia sanitaria por el COVID-19 ha supuesto un cambio repentino en el estilo de vida de las personas, tanto a nivel personal como profesional. Con el escenario de miedo e incertidumbre, la demanda de psicoterapia aumentó y se trasladó al contexto virtual. El presente estudio tiene como objetivo comprender cómo un grupo de psicodramatistas psicoterapeutas afrontó este escenario atípico provocado por el aislamiento social. A partir de una entrevista grupal psicodramática, fue posible identificar ejes de sentido en las interacciones entre los participantes y discutir los conceptos de espontaneidad y conservación cultural en la psicoterapia psicodramática. Se concluye que el sentimiento de miedo fue un iniciador de cambios en las prácticas de los psicodramatistas entrevistados, confirmando el adagio de Moren: el miedo precede al acto creativo.

PALABRAS CLAVE
Psicoterapia psicodramática; Psicoterapia online; Espontaneidad; Conservas culturales

INTRODUÇÃO

O ser humano é um ser criador, em relação e em ação. A espontaneidade é parte fundamental da saúde, na visão do Psicodrama. Buscar a saúde significa ampliar as possibilidades da pessoa para além das conservas culturais dos papéis sociais que desempenha e que, por vezes, limitam sua espontaneiade-criativiade (Cortes, 2009Cortes, R. A. (2009). A espontaneidade na socionomia. [Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo]. Repositório PUCSP. https://tede2.pucsp.br/handle/handle/17381
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).

O contexto deste estudo foi a crise sanitária global de 2020, causada por uma nova mutação do coronavírus. A partir das recomendações da Organização Mundial da Saúde (WHO, 2020World Health Organization (WHO) (2020). Coronavirus disease 2019 (COVID-19). Genebra: World Health Organization 2020 (Situation Report 67). Recuperado de: https://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/situation-reports/20200327-sitrep-67-covid-19.pdf. Acesso em: 30 de novembro de 2020.
https://www.who.int/docs/default-source/...
) de distanciamento social, a comunicação mediada por meio da tecnologia se tornou essencial. Como a clínica psicodramática acompanha as relações, e o local onde acontecem, houve a necessidade urgente de adaptação da forma de fazer psicodrama (Vidal & Castro, 2021Vidal, G. & Castro, A. (2021). Transmitindo conexões: A construção do vínculo psicoterápico no psicodrama bipessoal on-line. Revista Brasileira de Psicodrama, 29(2), 127–137. https://doi.org/10.1590/psicodrama.v30.507
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).

O mundo digital não é uma representação fiel do presencial. Por meio de algoritmos e códigos binários, a internet produz imagens e uma variedade de interações, com normas e regras específicas, que são vivenciadas de forma diferente dependendo da plataforma utilizada. Cada pessoa possui uma imagem diferente para cada rede virtual, abrindo possibilidades para diferentes experiências e significados (Deslandes & Coutinho, 2020Deslandes, S. & Coutinho, T. (2020). Pesquisa social em ambientes digitais em tempos de COVID-19: Notas teórico-metodológicas. Cadernos de Saúde Pública, 36(11), e00223120. https://doi.org/10.1590/0102-311X00223120
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). Esse contexto digital não se prende a geografia ou tradições, mas a afetos e interesses em comum. A internet media microssistemas tecnoculturais de significado, gerando um ambiente imersivo, multiuso e performativo, no qual o cotidiano acontece, levando à uma nova noção de corpo, de sentidos físicos, de normas culturais (Markham, 2018Markham, A. N. (2018). Ethnography in the Digital Internet Era: from Fields to Flows, descriptions to interventions. In N. Denzin & Y. Lincoln (Eds.), The SAGE handbook of qualitative research (pp. 650-668). Sage.).

Durante uma epidemia da magnitude da COVID-19 há um foco exclusivo no patógeno biológico, mas não nas consequências à saúde mental da população (Ornell et al., 2020Ornell, F., Schuch, J. B., Sordi, A. O. & Kessler, F. H. P. (2020). Pandemia de medo e COVID-19. Debates em Psiquiatria, 10(2), 12–16. https://doi.org/10.25118/2236-918X-10-2-2
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). Há uma percepção significativa de reações emocionais de medo, abandono, estresse, além da sensação de exclusão dos grupos sociais, e agravamento de problemas psicológicos pré-existentes. Por ser um cenário incomum, reações de defesa e alerta são percebidas em grande parte dos grupos, pois a dinâmica social foi totalmente abalada, não há referências para serem usadas nessas nova interações sociais.

Nesse contexto, as intervenções psicológicas, a psicoterapia adquire maior relevância. No entanto, ao olhar o histórico de regulamentações de uso de práticas mediadas por tecnologias de comunicação virtual feitas pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP)Conselho Federal de Psicologia. (2020, 16 de março). Coronavírus: Comunicado sobre atendimento on-line Retirado em 26 de Novembro de 2020. Recuperado de: https://site.cfp.org.br/coronavirus-comunicado-sobre-atendimento-on-line/. Acesso em: 20 dez. 2022.
https://site.cfp.org.br/coronavirus-comu...
, é notável como os psicólogos não estavam preparados para essa modalidade de atendimento, tendo passos pequenos feitos até a resolução CFP 11/2018Resolução CFP Nº 11/2018, de 11 de maio de 2018. Recuperado de: https://atosoficiais.com.br/cfp/resolucao-do-exercicio-profissional-n-11-2018-regulamenta-a-prestacao-de-servicos-psicologicos-realizados-por-meios-de-tecnologias-da-informacao-e-da-comunicacao-e-revoga-a-resolucao-cfp-no-11-2012. Acesso em: 30 de novembro de 2020.
https://atosoficiais.com.br/cfp/resoluca...
, com avanços mais significativos apenas na resolução CFP 04/2020 (devido à pandemia) (CFP, 2002; 2005Resolução CFP Nº 12/2005, de 18 de agosto de 2005. Recuperado de: https://atosoficiais.com.br/cfp/resolucao-do-exercicio-profissional-n-12-2005-regulamenta-o-atendimento-psicoterapeutico-e-outros-servicos-psicologicos-mediados-por-computador-e-revoga-a-resolucao-cfp-no-003-2000. Acesso em: 30 de novembro de 2020.
https://atosoficiais.com.br/cfp/resoluca...
; 2012Resolução CFP Nº 11/2012, de 21 de junho de 2012. Recuperado de: https://atosoficiais.com.br/cfp/resolucao-do-exercicio-profissional-n-11-2012-regulamenta-os-servicos-psicologicos-realizados-por-meios-tecnologicos-de-comunicacao-a-distancia-o-atendimento-psicoterapeutico-em-carater-experimental-e-revoga-a-resolucao-cfp-no-12-2005. Acesso em: 30 de novembro de 2020.
https://atosoficiais.com.br/cfp/resoluca...
; 2018Resolução CFM Nº 2.227/2018, de 06 de fevereiro de 2019. Recuperado de: https://portal.cfm.org.br/images/PDF/resolucao222718.pdf. Acesso em: 30 de novembro de 2020.
https://portal.cfm.org.br/images/PDF/res...
; 2020aResolução CFP Nº 03/2000, de 25 de setembro de 2000. Recuperado de: https://atosoficiais.com.br/cfp/resolucao-do-exercicio-profissional-n-3-2000-regulamenta-o-atendimento-psicoterapeutico-mediado-por-computador. Acesso em: 30 de novembro de 2020.
https://atosoficiais.com.br/cfp/resoluca...
; 2020bResolução CFP Nº 04/2020, de 26 de março de 2020. Recuperado de: https://leisinstitucionais.s3.amazonaws.com/originais/conselho_federal_de_psicologia-br/2020/resexepro-4-2020-cfp-br.pdf. Acesso em: 30 de novembro de 2020.
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).

Segundo comunicado do CFP (2020b)Resolução CFP Nº 04/2020, de 26 de março de 2020. Recuperado de: https://leisinstitucionais.s3.amazonaws.com/originais/conselho_federal_de_psicologia-br/2020/resexepro-4-2020-cfp-br.pdf. Acesso em: 30 de novembro de 2020.
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, os psicólogos cadastrados na plataforma e-Psi podem, entre outras atividades, oferecer “consultas e/ou atendimentos psicológicos que poderão ser realizados em tempo real ou de forma assíncrona, nas diferentes áreas de atuação da psicologia com vistas à avaliação, orientação e/ou intervenção em processos individuais e grupais” (para. 6). A principal referência em saúde sobre o que é teleconsulta aparece nas regulamentações do Conselho Federal de Medicina, especificamente no CFM nº 2.227/2018, art. 1, que dá a seguinte definição: “Definir a telemedicina como o exercício da medicina mediado por tecnologias para fins de assistência, educação, pesquisa, prevenção de doenças e lesões e promoção de saúde”.

As principais dificuldades percebidas a princípio para esse modelo de teleconsulta foram relacionadas à: privacidade (perda do controle do psicoterapeuta sobre a privacidade/sigilo, que se torna responsabilidade do paciente nesse modelo), a ausência de comunicação não verbal (pela visão limitada que a câmera proporciona) e lacunas de experiência e de treinamento do próprio psicoterapeuta, especialmente em situações de crise14. Várias lives (transmissões ao vivo de áudio e vídeo por meio das redes sociais) (Reis, 2020Reis, E. (2020, 24 mar). O que é uma live? Saiba tudo sobre as transmissões ao vivo na Internet. TechTudo. Recuperado de: https://www.techtudo.com.br/noticias/2020/03/o-que-e-uma-live-saiba-tudo-sobre-as-transmissoes-ao-vivo-na-internet.ghtml. Acesso em: 30 de novembro de 2020.
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), encontros virtuais e artigos foram produzidos para que psicodramatistas pudessem compartilhar entre si formas de aplicar as clássicas técnicas dentro do contexto virtual (Tarashoeva, 2022Tarashoeva, G. (2022) Interference of the different realities when working with psychodrama online and its effect on the protagonist and the group. Revista Brasileira de Psicodrama, 30, e0622. https://doi.org/10.1590/psicodrama.v30.507
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).

Para além de todos esses fatores, houve também minha própria implicação no processo, pois percebi a necessidade de entender como outros psicodramatistas estavam conseguindo atuar nesse cenário. Me Graduei-me no final de 2019 e almejava iniciar a carreira de psicoterapeuta no começo de 2020. Assim como outros colegas, senti-me perdida e sem vislumbrar as possibilidades do psicodrama online. Dessa forma, busquei regulação emocional através dos vínculos com outros psicodramatistas, compartilhando e trocando formas de construir esse novo papel de psicóloga online. Optei por conversar com outras profissionais por entender que a pandemia era vivenciada por psicólogos de forma diferente: a alta demanda por tratamento psicoterápico, a urgência de buscar capacitação para atrender virtualmente, constantes pedidos de ajuda de familiares e amigos por nossas opiniões profissionais, vários convites para palestras virtuais e publicações em blogs sobre o tema de saúde mental, para além da própria experiência de medo e ansiedade de estar em um momento histórico como esse.

MÉTODO

Este estudo foi guiado pelo paradigma qualitativo de pesquisa-ação, nome usado para descrever quando o pesquisador, além de assumir a responsabilidade de planejar, intervir e analisar os dados, se implica ativamente com seu sujeito de pesquisa (Monteiro et al., 2006Monteiro, A. M., Merengué, D. & Brito, V. (2006). Pesquisa qualitativa e psicodrama. Ágora.). Optamos por esse modelo tanto por ser um fenômeno único e ainda pouco explorado na época, quanto por ser uma oportunidade de compartilhamento entre colegas profissionais do cuidado e também para possibilitar a tomada de papel da primeira autora como diretora de uma sessão de grupo virtual.

A criatividade e a espontaneidade estão intimamente relacionadas com o desenvolvimento dos papéis. Podemos separar esse processo em três fases: o role-taking, ou tomada de papel, que é a caricatura de papéis conhecidos dentro da simbologia de uma cultura, reproduzidos como forma de ter aceitação em um novo contexto; o role-playing, ou jogo de papéis, momento em que a pessoa analisará as características desse papel, colocando a sua marca específica; e o role-creating, ou criação de papéis, que seria o estímulo à criação, a vivenciar do caótico, sem se prender à síntese ou à análise do papel. Uma abertura para a espontaneidade, responsável pela saúde psíquica do ser humano (Cortes, 2009Cortes, R. A. (2009). A espontaneidade na socionomia. [Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo]. Repositório PUCSP. https://tede2.pucsp.br/handle/handle/17381
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). Essa definição é uma maneira didática de explicar um processo complexo e dinâmico, que não segue uma linearidade. “Quando elaboramos um conhecimento, não se está representando coisa alguma com a realidade lá fora, e nem tampouco traduzindo os objetos exteriores em enunciados. Na verdade, constrói-se um objeto original” (Ferreira et al., 2002Ferreira, R. F., Calvo, G. G. & Gonzales C. B. L. (2002). Caminhos da pesquisa e a contemporaneidade. Psicologia: Reflexão e Crítica, 15 (2), 243–250. https://doi.org/10.1590/S0102-79722002000200002
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, p. 246).

Foi um momento histórico. Nunca o mundo foi tão dependente de recursos tecnológicos, nem tão globalizado a ponto de ter informações instantâneas sobre o que acontece em cada país, e nunca será da mesma forma como foi em 2020. A crise sanitária relacionada à pandemia de COVID-19 no Brasil foi agravada pela falta de condução apropriada do governo federal (Diário Oficial do Distrito Federal, 2020Diário Oficial do Distrito Federal (2020), ano XLIX, Edição Extra nº 33-A.) ao baixo letramento da população brasileira sobre saúde e produziu uma pandemia de medo (Ornell et al., 2020Ornell, F., Schuch, J. B., Sordi, A. O. & Kessler, F. H. P. (2020). Pandemia de medo e COVID-19. Debates em Psiquiatria, 10(2), 12–16. https://doi.org/10.25118/2236-918X-10-2-2
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). modificaram o ritmo do mundo, transformando indústrias, comércios, projetos e relações. Muito conhecimento foi construído a partir desse fenômeno que partilhamos, e foi nesse contexto complexo que a presente pesquisa se desenvolveu.

A sessão de pesquisa

Realizei uma entrevista psicodramática com três psicólogas clínicas em um domingo de junho, três meses após o decreto de isolamento social do Distrito Federal, propondo a elas um encontro em que pudéssemos compartilhar e explorar como estava sendo a experiência de atender virtualmente, em meio a uma pandemia. Esse encontro, via Google Meet, durou cerca de 2 horas. A proposta inicial foi para que imaginassem os últimos meses, desde quando leram as primeiras notícias sobre o coronavírus até os dias atuais, o que haviam passado, as mudanças mais significativas, resumindo em uma palavra.

Outras pesquisas já foram feitas na configuração online, visando a comodidade do participante e do pesquisador, e aqui cito a notável dissertação da Ana Luísa Iunes (2018)Iunes, A. L. S. (2018). Atos terapêuticos: Como se não houvesse amanhã [Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília]. Repositório UnB. https://repositorio.unb.br/handle/10482/34096. Acesso em: 20 dez. 2022.
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. Além da entrevista, pedi que elas respondessem um questionário sociodemográfico e assinassem o Termo de Consentimento e Livre Esclarecimento.

Participantes

Todas as mulheres entrevistadas foram contatadas por meio de grupos virtuais que reúnem associados da Associação Brasiliense de Psicodrama, e todas foram ou são alunas do curso de especialização de psicodrama clínico, por isso já se conheciam.

Como esse estudo contou com poucas participantes, para um melhor entendimento irei descrevê-las a seguir, usando nomes fictícios por questões de privacidade:

Paula (identificada como P1 nas tabelas abaixo), de 26 anos, atua há dois anos como psicóloga clínica. Antes da pandemia, atendia apenas na modalidade presencial. Ela trabalha com atendimentos bipessoais e de grupo, e nota um aumento de procura de pacientes para os serviços que oferece.

Paola (identificada como P2) tem 32 anos e atua na profissão há 7 anos. Ela já teve experiências de atendimento online, antes de 2020, mas em situações específicas. Ela também relatou um aumento na procura de pacientes por atendimento e pretende seguir com atendimento online no futuro.

Pamela (identificada como P3 abaixo), de 42 anos, é psicóloga há 17 anos, tanto na área clínica quanto na socioeducacional e hospitalar. Tem foco em atendimento de grupo e refere que teve um decréscimo na procura por atendimento, além de muitos de seus paciente não quererem continuar o processo de maneira virtual.

Todas elas afirmaram que tiveram que atender de forma presencial em algum momento na pandemia, devido a uma emergência do caso, no entanto foi um momento pontual e não recorrente.

Síntese as interações na sessão de pesquisa

A sessão foi gravada, transcrita e lida pela primeira autora para identificação de eixos de sentido, de forma a sintetizar as experiências relatadas. Para dar voz às relações e reflexões que emergiram na entrevista de pesquisa, empreguei como recurso de síntese, eixos de sentido. A proposta desse método é trazer uma forma de arranjo para as ideias, destacando o conhecimento do indivíduo e como seu mundo simbólico se organiza (Ferreira et al., 2002Ferreira, R. F., Calvo, G. G. & Gonzales C. B. L. (2002). Caminhos da pesquisa e a contemporaneidade. Psicologia: Reflexão e Crítica, 15 (2), 243–250. https://doi.org/10.1590/S0102-79722002000200002
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).

A gravação da entrevista foi assistida e, na sequência, as falas foram transcritas. Em dias distintos, reli as transcrições, identificando eixos de sentido que reuniam temas protagonistas mencionados pelas entrevistadas, ou seja, aquilo que me levaria a mais questionamentos, a confrontos entre as certezas e incertezas que identifiquei. Para ampliar essa síntese, a leitura e a identificação dos eixos de sentido foi realizada também pela orientadora da pesquisa, em uma estratégia de triangulação de investigador (Santos et al., 2020Santos, K. S., Ribeiro, M. C., Queiroga, D. E. U., Silva, I. A. P. & Ferreira, S. M. S. (2020) O uso de triangulação múltipla como estratégia de validação em um estudo qualitativo. Ciência & Saúde Coletiva, 25(2), 655–664. https://doi.org/10.1590/1413-81232020252.12302018
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) que usa mais de um pesquisador para apreciar os dados, buscando ampliar os significados e minimizar distorções subjetivas. A segunda autora do presente artigo, minha orientadora no TCC da especialização, leu a transcrição e me enviou os eixos identificados, por tópicos.(Fig. 1-6)

Eixos de sentido identificados na sessão de pesquisa

Figura 1
Eixo Mudança de Contexto.
Figura 2
Eixo Exaustão Profissional.
Figura 3
Eixo Mudança de Conceito.
Figura 4
Eixo Sintomas.
Figura 5
Eixo Instrumentos do Psicodrama.

O eixo Mudança de Contexto reúne as dificuldades de assimilar a interação virtual como recurso para a atuação profissional. A espontaneidade aparece no discurso como característica individual e não atributo das relações. À primeira vista, colocam-se como pessoas vivenciando a nova realidade, mas não as modificações nos vínculos com seus pacientes.

O eixo Exaustão Profissional foi o tema mais citado ao longo da entrevista, transmitindo os desconfortos que o isolamento social ocasiona (Rodrigues & Azevedo, 2020Rodrigues, J. N., & Azevedo, D. A. D. (2020). Pandemia do coronavírus e (des) coordenação federativa: Evidências de um conflito político-territorial. Espaço e Economia, IX(18). https://doi.org/10.4000/espacoeconomia.12282
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). Há um esforço de separar as dimensões pessoal e profissional, mesmo quando a separação física não acontece. As participantes mencionaram várias vezes o impacto na saúde do corpo, na saúde mental, na dinâmica relacional e na adaptação de limites acerca do estar disponível para os pacientes. As regras do senso comum relacionadas ao horário comercial não estavam mais mediando esse contato, pois o estar sempre em casa possibilita a onipresença, ou a capacidade de estar presente em vários lugares ao mesmo tempo, como em eventos e ambientes virtuais diferentes, como citada pelas participantes.

As interações abordaram sentimentos e situações compartilhadas de exaustão, relacionadas à tecnologia. As máquinas, que antes eram ferramentas acessórias para estudos, lazer, trabalho, agora são o principal meio pelo qual nos comunicamos e existimos.

O eixo Mudança de Conceito resume reflexões sobre a realidade virtual. É um contato imersivo sobre como a espontaneidade pode, muitas vezes, ser desafiadora. Ao final da entrevista, havíamos compartilhado e nos acolhido em nossos anseios, houveram olhares de cumplicidade e um sentimento de união, com risos e leveza. Considero aqui que uma catarse de integração (Monteiro et al., 2006Monteiro, A. M., Merengué, D. & Brito, V. (2006). Pesquisa qualitativa e psicodrama. Ágora.) tomou o palco nesse momento, pois tanto um sentimento de conexão aconteceu, quanto o luto pelo estilo de vida que não retornará foi compartilhado.

O eixo Instrumentos do Psicodrama aborda a vivência da atuação profissional com a abordagem dentro desse contexto. Reflexões sobre os instrumentos e técnicas clássicas, a importância de compartilhar frequentemente com outros profissionais e de ter uma educação continuada. Ser psicodramatista parece ser apenas aplicar técnicas. Sem a referência do setting psicodramático, da conserva e da diferenciação entre os contextos social/grupal e psicodramático, as participantes se percebem perdidas, ansiando por um modelo para o papel de psicodramatista online.

Por fim, o eixo Sintomas, assim denominado por ser uma palavra presente na entrevista, reúne uma visão de medo com os efeitos patológicos, a curto prazo, do isolamento. A concepção psiquiátrica sobre o sofrimento, por meio da identificação de sintomas, aparece tanto na descrição dos eventos vivenciados nas consultas quanto em seus ciclos pessoais. Percebemos um empenho em tentar reduzir essas perdas e adaptações à lógica de sintomas.

REFLEXÕES

A ausência de espontaneidade é um não esforço de recuperar o sentido da realidade, uma submissão ao que já está estabelecido como hábito, como conserva cultural, sem conexão com as mudanças que inegavelmente acontecem na vida (Naffah Neto, 1997Naffah Neto, A. (1997). Psicodrama: Descolonizando o Imaginário. Plexus.). Pensando sobre isso, percebo como o discurso das participantes reflete tentativas de manter essa conserva cultural, perpetuar o lugar comum de 2019 (e dos dois meses iniciais de 2020). A dinâmica do consultório físico já estava estabelecida, num ambiente no qual se tinha uma ilusão confortável do controle e do sigilo. Um molde de psicoterapia psicodramática, em que o espaço possibilita uma espontaneidade instintiva, uma movimentação criativa esperada e aceita, porém restrita (Naffah Neto, 1997Naffah Neto, A. (1997). Psicodrama: Descolonizando o Imaginário. Plexus.).

Ao longo da minha construção como psicoterapeuta psicodramatista, tive contato apenas com o espaço presencial: estar perto dos pacientes, observar gestos, não ditos, movimentos que tinham mais significado do que palavras. Foi estranho e diria até assustador ter que adaptar essas habilidades e técnicas para o espaço restrito da tela de um computador ou celular. No início da pandemia, pensei inclusive ser impossível fazer tal adaptação, e mais sozinha por estar distante dos lugares onde eu ia para discutir e aprender sobre psicodrama.

Usamos e discutimos as mesmas técnicas da socionomia criadas há mais de um século, sem considerar que todas as metodologias e teoria são datadas. Foram elaboradas de acordo com uma necessidade de um contexto sócio-histórico, muito diferente do que temos hoje (Dedomenico, 2020Dedomenico, A. M. (2020). Desgourmetizar a prática socionômica. In A. M. Dedomenico & D. Merengué (Eds.), Por uma vida espontânea e criativa: Psicodrama e Política. Ágora.). A socionomia é um estudo que tem por base a constante abertura para o desconhecido, o questionamento constante das normas e a ampliação de possibilidades de ação. Essa dinamicidade da realidade reflete a impermanência que a fala de Paula traz durante a entrevista: “mudança que obriga, independente da nossa vontade, acontece”. A espontaneidade, como aponta Naffah Neto (1997)Naffah Neto, A. (1997). Psicodrama: Descolonizando o Imaginário. Plexus., é um movimento de abertura para entrarmos em contato com a realidade que se apresenta a nós.

Todavia esse engessamento compartilhado foi vivenciado com dor, pois a adaptação ao virtual é complexa, pois é um mundo alternativo, com suas próprias regras de conduta, cultura e papéis (Deslandes & Coutinho, 2020Deslandes, S. & Coutinho, T. (2020). Pesquisa social em ambientes digitais em tempos de COVID-19: Notas teórico-metodológicas. Cadernos de Saúde Pública, 36(11), e00223120. https://doi.org/10.1590/0102-311X00223120
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) (como podemos perceber nas falas do eixo Exaustão Profissional). As participantes demonstraram dificuldade de enfrentar o desconhecido no começo, em falas como “Me senti exigida” (Paula), “Imagina você ter que estar disponível o tempo todo, disponível para os pacientes, aí daqui a pouco você tem que estar disponível para a família, que está surtando!” (Paola), “Quando me dei conta era onipresente, e isso é horrível” (Pamela). Até encontrarmos a resposta mais adequada para a situação, passamos por tentativas, questionamentos, erros, angústias, medo.

Como foi abordado pelas participantes, a ética, os limites profissionais, as próprias técnicas fundamentais do psicodrama (eixo Instrumentos do Psicodrama) que estruturam o papel de psicodramatista mudaram. Ao se deparar com uma nova realidade, as participantes foram criativas, confirmando a ideia de que o ser humano está condenado a criar todos os dias (Merengué, 2020Merengué, D. (2020) Descolonizando o psicodrama: Clínica e política. In A. M. Dedomenico & D. Merengué (Eds.), Por uma vida espontânea e criativa: Psicodrama e Política (pp. 37–59). Ágora.).

A criatividade-espontaneidade é relacionada ao desenvolvimento dos papéis. As participantes se percebem tomando e jogando com seus papéis (Cortes, 2009Cortes, R. A. (2009). A espontaneidade na socionomia. [Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo]. Repositório PUCSP. https://tede2.pucsp.br/handle/handle/17381
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) como psicoterapeutas psicodramatistas no contexto virtual, se abrindo para serem espontâneas, ao mesmo tempo que ainda não confortáveis o suficiente para criar.

Foi necessário pensar em novas normas para lidar com o atendimento online, como pedir que o paciente encontrasseum lugar privado para ser atendido ou ressaltar o uso de fones de ouvido para manter o sigilo. Da mesma forma, limites pessoais que nem tinhamos considerado antes foram pensados, já que agora temos que pesar o desgaste da tela, o custo de ser onipresente (estar em mais de uma aba ao mesmo tempo), o medo das notícias (como é possível ver em falas nos eixos Mudança de Contexto e Exaustão Profissional). O processo de desenvolvimento de papel foi aos poucos delineando, compartilhado e vivenciado, até vir o aquecimento para criar em cima desse novo cenário.

A mudança de papel não diz apenas de algo individual e interno, mas de uma reorganização do contexto compartilhado com o papel complementar. O espaço profissional (home office), a forma de organização da agenda, os limites do dito horário comercial (das 8h às 18 h), até a compreensão de que nosso corpo físico é menos capaz de acompanhar o fluxo rápido de informações que o nosso corpo virtual consegue, nos sugere um novo paradigma que nos deparamos. Cada pessoa criou novas imagens por meio as quais se relaciona com o meio social (Deslandes & Coutinho, 2020Deslandes, S. & Coutinho, T. (2020). Pesquisa social em ambientes digitais em tempos de COVID-19: Notas teórico-metodológicas. Cadernos de Saúde Pública, 36(11), e00223120. https://doi.org/10.1590/0102-311X00223120
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) tentando ser onipresentes, buscando ainda mais essa relação homem-Deus, não apenas no ato de criar, como dizia Moreno (Cortes, 2009Cortes, R. A. (2009). A espontaneidade na socionomia. [Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo]. Repositório PUCSP. https://tede2.pucsp.br/handle/handle/17381
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).

Temos a mesma tela para socializar, fazer compras, trabalhar, fazer psicoterapia, consultar o médico, até ir à academia. No antigo normal (para contrapor esse termo que foi tão usado em 2020) íamos a diferentes lugares para desempenhar nossos papéis, éramos estudantes na escola, psicólogas no consultório, amigas nos espaços de lazer, e por assim em diante. Agora, vivemos todos esses papéis, habitamos todos esses contextos, em uma tela só. Como uma abordagem centrada nas relações, é necessário acompanhar os locais onde essas relações ocorrem (Vidal & Castro, 2021Vidal, G. & Castro, A. (2021). Transmitindo conexões: A construção do vínculo psicoterápico no psicodrama bipessoal on-line. Revista Brasileira de Psicodrama, 29(2), 127–137. https://doi.org/10.1590/psicodrama.v30.507
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). A ausência de papéis desenvolvidos sobre a dinâmica da relação ser humano/máquina no contexto de isolamento foi vivenciado com o luto pelo estilo de vida que não retornará. Vários papéis mudaram de uma única vez, para se adaptar a condições não tão favoráveis assim.

Uma obra não pode ser dissociada do seu momento histórico, cultural e econômico. A alienação sobre a situação sócio-histórica leva a uma tendência para a normatização, a repetir dinâmicas conservadas sem considerar o indivíduo. Será que é justo impor técnicas criadas por Moreno exatamente da mesma forma que foram pensadas no século passado? Pensar o psicodrama dentro de uma fôrma restrita se contrapõe às próprias bases da abordagem.

O consultório físico traz restrições sobre acesso ao local, público esperado, horário de funciomanto alinhado à comunidade ao redor, da mesma forma que o interior da sala dará pistas sobre o próprio vínculo que pode ser estabelecido lá (Merengué, 2020Merengué, D. (2020) Descolonizando o psicodrama: Clínica e política. In A. M. Dedomenico & D. Merengué (Eds.), Por uma vida espontânea e criativa: Psicodrama e Política (pp. 37–59). Ágora.). Uma relação determinada pelas fronteiras geográficas e territoriais. Durante a pandemia, a territorialidade não foi mais um fator determinante em nossas relações (Deslandes & Coutinho, 2020Deslandes, S. & Coutinho, T. (2020). Pesquisa social em ambientes digitais em tempos de COVID-19: Notas teórico-metodológicas. Cadernos de Saúde Pública, 36(11), e00223120. https://doi.org/10.1590/0102-311X00223120
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). O consultório virou a própria casa do psicodramatista, seus instrumentos terapêuticos foram adaptados para sites interativos, plataformas de vídeo chamada, fones de ouvido e uma boa conexão de internet. As dimensões pessoal e profissional, tidas como espacialmente distintas, entram agora em conflito, em questionamento, já que não há mais o espaço físico mediando favorecendo o aquecimento para a troca de papéis. Existe um esforço desgastante para manter a mesma atuação no meio virtual.

Dentro de todos esses conflitos, destaco uma frase de Merengué (2020, p. 47)Merengué, D. (2020) Descolonizando o psicodrama: Clínica e política. In A. M. Dedomenico & D. Merengué (Eds.), Por uma vida espontânea e criativa: Psicodrama e Política (pp. 37–59). Ágora. sobre o papel de psicodramatista: “Sua autonomia junta liberdade e ética, espontaneidade e responsabilidade, imersão e análise”. O psicodramatista está em constante luta do porquê de suas ações.

Desconstruindo constantemente o Psicodrama

Passados algum tempo da sessão de pesquisa, percebo como esse momento me trouxe reflexões sobre ser psicodramatista. É consenso que ninguém esperava para viver um momento histórico, como li no Twitter uma vez. As conservas foram abaladas e o desespero para mantê-las foi compartilhado.

A ideia dessa pesquisa surgiu do meu próprio despreparo em atuar nessa modalidade, o medo de não saber como adaptar o psicodrama para a realidade virtual. Durante a graduação e a especialização, ouvi pouco sobre psicoterapia online, formas de divulgação, manejo e ética em ambiente virtual. Mesmo enquanto escrevia este texto, lendo as Resoluções do Conselho de Psicologia, percebi o quanto os psicólogos não estavam preparados para esse tipo de atuação. Nas aulas online que participei, os professores traziam a espontaneidade como algo simples de ser alcançado: “seja espontâneo”, “o psicodrama é espontâneo”. Mas como ser espontâneo em meio ao caos?

Pesquisava sobre espontaneidade enquanto vivia meu próprio processo para reencontrá-la. Foi por meio do encontro com essas mulheres que pude compreender a dimensão dessa luta. Quais foram as questões que emergiram dessa realidade digital, que anseios e angústias todas nós vivenciamos. E também como nossos anseios não são individuais, mas compartilhados. A sessão de pesquisa foi um encontro moreniano, pudemos realizar um amplo compatilhamento, nos acolher e nos transformar por meio do que ali vivenciamos.

A pandemia trouxe medo, insegurança, mas também mudança. Abalou estruturas que não sabíamos que estavam conservadas. Novas técnicas foram surgindo, outras foram adaptadas, visto que as ferramentas morenianas foram criadas para estar constantemente em atualização. O objetivo não é apenas ser um produto final cristalizado, mas uma ferramenta para a abertura da dimensão criadora do ser humano (Dedomenico, 2020Dedomenico, A. M. (2020). Desgourmetizar a prática socionômica. In A. M. Dedomenico & D. Merengué (Eds.), Por uma vida espontânea e criativa: Psicodrama e Política. Ágora.).

Acabamos por nos prender à antiga conserva, que não se corresponde mais com a revolução digital de 2020. Lidamos com a adaptação à uma nova cultura, novos mecanismos, novos papéis. Passamos pela angústia e aquecimento que levaria ao ato espontâneo de agir sobre a situação desconhecida, que agora era nossa. O Psicodrama precisa de uma descolonização constante e permanente para não cair em uma normatização. Nesse processo pude entender que a socionomia é muito mais do que uma técnica, é uma vivência em movimento, pela desconstrução de padrões, pensamentos, relações. Como psicodramatista recém-formada, sinto falta de ver mais trabalhos inovadores que nos convidem a questionar as bases da nossa atuação constanemente. Convido então, assim como Merengué (2020)Merengué, D. (2020) Descolonizando o psicodrama: Clínica e política. In A. M. Dedomenico & D. Merengué (Eds.), Por uma vida espontânea e criativa: Psicodrama e Política (pp. 37–59). Ágora., a pensarmos em uma desadaptação criativa e espontânea, que transite entre as conservas já postas e as novas formas de se viver, criadas a cada momento.

AGRADECIMENTOS

Não aplicável.

  • DISPONIBILIDADE DE DADOS DE PESQUISA

    Dados serão fornecidos sob solicitação.
  • FINANCIAMENTO

    Não aplicável.

REFERÊNCIAS

Editado por

Editora de seção: Marília Meneghetti Bruhn. https://orcid.org/0000-0002-7078-1530

CONFLITO DE INTERESSE

Nada a declarar.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Fev 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    18 Ago 2022
  • Aceito
    02 Dez 2022
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