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A DECOLONIALIDADE NA PESQUISA E PRÁTICA PSICODRAMÁTICAS: PELA SUPERAÇÃO DE EPISTEMICÍDIOS HISTÓRICOS

DECOLONIALITY IN PSYCHODRAMATIC RESEARCH AND PRACTICE: OVERCOMING HISTORICAL EPISTEMICIDES

LA DECOLONIALIDAD EN LA INVESTIGACIÓN Y LA PRÁCTICA PSICODRAMÁTICA: SUPERANDO LOS EPISTEMICIDIOS HISTÓRICOS

RESUMO

O presente artigo apresenta uma reflexão sobre o ancoramento científico da pesquisa e das práticas psicodramáticas, questionando a perspectiva colonial/moderna predominante no universo da ciência ocidental, e sugerindo uma aproximação com o pensamento decolonial que se desenvolve no século XXI, em que são retomadas epistemologias historicamente desconsideradas, como aquela em que se situam os princípios filosóficos morenianos. As questões discutidas acerca da pesquisa em Psicodrama podem ser transportadas para o campo das práticas, gerando questionamentos quanto ao lugar do psicodramatista na relação com o outro, a forma de elaboração dos problemas/hipóteses terapêuticas e o que se espera das intervenções, situando-as para além dos binarismos tradicionais modernos.

PALAVRAS-CHAVE
Colonialismo; Psicodrama; Jacob Levy Moreno; Conhecimento

ABSTRACT

This article reflects on the scientific anchoring of psychodramatic research and practice, questioning the colonial/modern perspective prevailing in the universe of Western science, and suggesting an approach to the decolonial thinking developed in the 21st century, in which historically disregarded epistemologies are resumed, such as the one in which the philosophical principles of Moreno’s work are located. The questions discussed about research in Psychodrama can be transported to the field of practices, generating questions related to the place of the psychodramatist in the relationship with the other, the way of elaborating the therapeutic problems/hypotheses and what is expected of the interventions, placing them beyond traditional modern binarisms.

KEYWORD
Colonialism; Psychodrama; Jacob Levy Moreno; Knowledge

RESUMEN

Este artículo reflexiona sobre el anclaje científico de la investigación y la práctica psicodramática, cuestionando la perspectiva colonial/moderna predominante en el universo de la ciencia occidental, y proponiendo una aproximación al pensamiento decolonial que se desarrolla en el siglo XXI, en el que se retoman epistemologías históricamente desconsideradas, como aquél en el que se ubican los principios filosóficos de la obra Moreniana. Las cuestiones discutidas sobre la investigación en Psicodrama pueden ser transportadas al campo de las prácticas, generando interrogantes sobre el lugar del psicodramatista en la relación con el otro, la forma de elaborar los problemas/hipótesis terapéuticas y lo que se espera de las intervenciones, ubicándolas más allá de los binarismos modernos tradicionales.

PALABRAS CLAVE
Colonialismo; Psicodrama; Jacob Levy Moreno; Conocimiento

INTRODUÇÃO

A filosofia que fundamenta a obra de Moreno pode ser observada na fase vienense de desenvolvimento do Psicodrama, momento em que o autor fundamenta sua visão de homem, de mundo e, implicitamente, desenha uma noção de ciência que era minoritária na época (Moreno, 1920/1992Moreno, J. L. (1992). As palavras do pai (J. C. Landini & J. C. V Gomes, Trad.). Editorial Psy. (Obra original publicada em 1920)).

Ao migrar para os Estados Unidos, no diálogo com a Academia e no esforço de validação da sua obra e metodologia, Moreno realiza uma tradução dos conceitos criados na Europa para a linguagem científica dominante. Essa empreitada teve êxito: o Psicodrama se tornou conhecido e se espalhou pelo mundo sob a aparência de uma ciência positivista, com possibilidades de quantificação, comprovação e validação tradicionais, ganhando legitimidade principalmente no campo da Sociometria. No entanto é necessário resgatar o que ficou de fora nesse processo, o que não coube na tradução e nas categorias científicas disponíveis na época. E que ainda hoje necessita de aportes científicos que lhe dê voz, espaço, inclusão na Ciência pela sua diferença, e não somente por meio de um processo de homogeneização e adaptação ao padrão dominante (Moreno, 1946/1993Moreno, J. L. (1993). Psicodrama (Á. Cabral, Trad.). Cultrix. (Obra original publicada em 1946)).

Vale notar, que mesmo com os esforços de Moreno e de muitos psicodramatistas que vieram depois, o Psicodrama não é visto nos compêndios de Psicologia da Personalidade e Psicologia do Desenvolvimento, áreas clássicas da psicologia, predominantemente positivista. Como abordagem em psicoterapia é oferecida em poucos cursos de graduação em psicologia brasileiros, que em sua maioria são adeptos à manutenção do império cognitivo, aspecto dominante nas ciências contemporâneas, tal como denuncia Boaventura de Souza Santos (2021)Santos, B. S. (2021). O fim do império cognitivo: A afirmação das epistemologias do Sul. Autêntica., cientista social e professor catedrático na Universidade de Coimbra.

No entanto, o Psicodrama permanece sendo vivido por muitos ao redor do mundo como terreno fértil para encontros e transformações, constituindo espaços de liberdade e criatividade, onde se pode respirar, (re)criar-se, mesmo em ambientes tóxicos e adoentados do cotidiano, transformando-o também. Cerca de um século após os escritos iniciais de Jacob Levy Moreno, após a verdade científica decorrente das ciências naturais ter sido questionada como absoluta, e com a emergência de novos paradigmas científicos, como o decolonial ou pós-abissal, outras traduções estão se tornando possíveis para sustentarem a filosofia moreniana de forma mais coerente com os seus princípios, afirmando sua cientificidade na diferença (Santos, 2021Santos, B. S. (2021). O fim do império cognitivo: A afirmação das epistemologias do Sul. Autêntica.).

Os movimentos decolonais partem dos limites dos valores civilizatórios, da insustentabilidade do antropoceno, buscando produzir possíveis saídas às crises contemporâneas. Esses movimentos afirmam ainda metodologias científicas ampliadas, resgatando sabedorias que foram apagadas do sistema de verdades que se tornou legítimo no mundo colonizado. Da mesma forma, o Psicodrama, quando assumido na sua integridade, retomando suas dimensões negadas no positivismo, tem um importante protagonismo na construção de psicologias mais amplas, ancoradas em saberes e valores contra-hegemônicos, considerados fundamentais para a reinvenção da sociabilidade humana, diminuição do sofrimento psíquico e criação de modos sustentáveis de viver (Santos, 2021Santos, B. S. (2021). O fim do império cognitivo: A afirmação das epistemologias do Sul. Autêntica.).

Neste artigo proponho refletir sobre a perspectiva decolonial para pensar e orientar a pesquisa e prática psicodramáticas, apresentando subsídios para a compreensão da decolonialidade e seus princípios, relacionando-os à proposta filosófica e conceitual elaborada por Moreno.

Desde que iniciei meu percurso como pesquisadora na pós-graduação, há mais de 20 anos, venho buscando aportes científicos para validar pesquisas propositivas tal como Moreno sugeriu sob o nome de pesquisa-ação. Na época do doutorado na Universidade de São Paulo, observei que os dados obtidos a partir de intervenções sociodramáticas revelavam aspectos da realidade que não podiam ser acessados por meio da fala, mas pela ação e, ao mesmo tempo, produziam transformações importantes nos participantes e na equipe de pesquisadores (Ribeiro & Andrade, 2006Ribeiro, D. F. & Andrade, A. S. (2006). A assimetria entre família e escola pública. Paideia (Ribeirão Preto), 16(35), 385–394. https://doi.org/10.1590/S0103-863X2006000300009
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). Desde então, adentrei no caminho de experimentar a metodologia psicodramática em pesquisa, atuando, logo após o término do doutorado, como docente/pesquisadora em um centro universitário municipal, no curso de Psicologia e no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional. No decorrer da trajetória, passei pela Psicologia Institucional, pela Etnografia, pela Esquizoanálise, e atualmente pela pesquisa decolonial, buscando aportes científicos que ancorem a perspectiva moreniana na pesquisa e na prática, sem mutilar aspectos importantes, mas pelo contrário, dando potência aos pressupostos filosóficos do Psicodrama.

No desenvolvimento deste artigo buscarei inicialmente situar histórica e contextualmente o marco decolonial, descrevendo suas decorrências e modos de fazer pesquisa. Em seguida, farei apontamentos sobre aspectos filosóficos e conceituais do Psicodrama, relacionando-os à perspectiva decolonial. Por fim, serão trazidas experiências de pesquisa sob os referenciais teórico-metodológicos expostos, destacando, na última seção, algumas decorrências para a prática psicodramática.

A proposta é superar a dicotomia entre pesquisa e prática, respondendo ao convite moreniano de cocriar, a partir do Encontro e do corpo em ação, por meio de uma rota circular: em que a teoria orienta o fazer e a prática conduz à produção de conhecimento.

DESENVOLVIMENTO

Um giro decolonial na metodologia científica

O pensamento decolonial decorre de uma crítica ao epistemicídio1 1 Boaventura de Souza Santos (2021) define epistemicídio como prática sistemática de destruição de formas de saber inferiorizadas diante dos valores do colonialismo moderno, propondo, ao contrário, que se identifique e valorize aquilo que nem sequer conta como conhecimento à luz das epistemologias dominantes. contra os sistemas de verdade minoritários, distantes do marco colonial eurocêntrico, cartesiano, positivista e racional, que estruturam de forma majoritária a produção científica ainda hoje. A novidade é que atualmente existem espaços insurgentes, grupos de pesquisadores que implementam com seriedade e competência novas possibilidades de se fazer ciência.

A perspectiva decolonial surge na América Latina, a partir de um grupo de pesquisadores que fundaram o Grupo Modernidade/Colonialidade no final dos anos 1990 (Edgardo Lander, Arthuro Escobar, Walter Mignolo, Enrique Dussel, Anibal Quijano e Fernando Coronil) com inspiração nos modos de vida dos povos originários, que revelam sistemas de valores e modos de vida bem diferentes daqueles hegemônicos no mundo globalizado (Ballestrin, 2013Ballestrin, L. (2013). América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, 11, 89–117. https://doi.org/10.1590/S0103-33522013000200004
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; Freitas, 2018Freitas, A. D. (2018). Notas sobre o contexto de trabalho do grupo modernidade/colonialidade | Universidade, horizontes utópicos e desafios teóricos. Realis, 8(2), 145–171. https://doi.org/10.51359/2179-7501.2018.241453
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). Sua influência gerou mudanças na constituição do Equador e Bolívia, derivando de uma perspectiva de vida antropocêntrica para uma perspectiva biocêntrica (Gudynas, 2019Gudynas, E. (2019). Direitos da Natureza: Ética biocêntrica e políticas ambientais (I. Ojeda, Trad.) Elefante.). Os movimentos são ainda incipientes, mas começam a constituir novos modos de pensar, mesmo que ainda existam inúmeras dificuldades em se vivenciar.

Eles questionam a colonialidade do poder (capitalismo, eurocentrismo), do saber (legado epistemológico eurocêntrico) e do ser (refere-se à experiência de vida dos seres tomados como inferiores, o que naturaliza violências). Propõem que se cultive uma sensibilidade às demandas dos corpos colonizados, para além dos valores e sistemas de verdades nos quais estamos todos — pesquisadores e pesquisados — imersos. Trata-se de aprendermos, em um vínculo de experimentação conjunta da realidade, novas compreensões e novos modos de viver.

Segundo Dulci e Malheiros (2021)Dulci, T. M. S. & Malheiros, M. R. (2021). Um giro decolonial à metodologia científica: Apontamentos epistemológicos para metodologias desde e para a américa latina. Revista Espirales, 174–193., alguns indícios sobre como fazer pesquisa no marco decolonial podem ser explicitados sem que haja um enrijecimento quanto a um caminho metodológico único e universal. Alguns pressupostos podem ser observados a seguir:

Desobediência epistêmica: o objetivo não é investigar o outro para conhecê-lo a partir do ponto de vista acadêmico e científico dominante, mas se conhecer diante do olhar do outro.

Antropologia por demanda: exposição radical à transformação demandada pelo outro.

Sentipensar: juntar razão e amor, corpo e coração (visão dos povos originários que não cindiam corpo e mente na compreensão do ser humano, tal como acontece na ciência cartesiana).

Corazonar: integrar afetividade e racionalidade como resposta espiritual e política, na qual todo conhecimento deve ser corporificado, e o efeito e a validade da pesquisa devem ser verificados a partir da existência concreta, nas transformações dos modos de vida de indivíduos e grupos sociais.

Escobar (2014)Escobar, A. (2014). Sentipensar con la tierra: Novas lecturas sobre desarrollo, território y diferencia. Ediciones UNAULA., na mesma linha de pensamento, sugere que o intelectual seja capaz de sentipensar com o território, pensar com o coração e a mente, com as culturas e os conhecimentos dos povos, levando em conta sentimentos, emoções e sensibilidade. Só assim se terá acesso às sabedorias insurgentes, que apontam sentidos outros de viver.

Segundo Mota Neto (2017)Mota Neto, J. C. (2017). Paulo Freire e Orlando Fals Borda na genealogia da pedagogia decolonial latino-americana. 38ª Reunião Nacional ANPED, São Luís. Disponível em: http://38reuniao.anped.org.br/sites/default/files/resources/programacao/trabalho_38anped_20 17_GT06_129.pdf. Acesso em: 22 nov. 2022.
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, o educador brasileiro Paulo Freire e o sociólogo colombiano Fals Borda são exemplos de intelectuais sentipensantes, pois integram em suas propostas razão crítica, emoção, compromisso e fé, criando um vínculo orgânico e participativo com as pessoas com quem trabalham, não dissociando a experiência/vivência da racionalidade. O autor afirma ainda que nessa perspectiva não cabe a arrogância, o elitismo e o academicismo tão presentes nos educadores/pesquisadores tradicionais, pois o educador/pesquisador decolonial enfrenta junto com os participantes as situações-limite, os desafios, engajando-se concretamente com eles, compreendendo seus desejos e medos. Dessa forma, a meta é a coconstrução de um projeto de emancipação que garanta o direito de todos à existência, ao trabalho, à liberdade, à justiça e à educação.

Decolonialidade, portanto, refere-se às teorias e às práticas de formação humana que capacitam os grupos para a luta contra a lógica opressiva da modernidade, tendo como horizonte a formação de um ser humano e de uma sociedade livre, amorosa, justa e solidária. O objetivo é provocar fissuras na ordem colonial e dar sustento a um modo distinto, inteiramente outro de estar no e com o mundo.

Nessa perspectiva, a pesquisa se revela como ato de alteridade, que implica num encontro dialógico com o Outro. Busca-se fazer uma ciência que transforme a realidade e se transforme ao mesmo tempo. São, portanto, pesquisas propositivas às demandas locais. Os pesquisadores devem sempre se perguntar: queremos colonizar ou dialogar (cocriar o novo a partir da escuta das vozes subalternizadas?). A pesquisa é então um pesquisar com e não sobre alguém, sendo a autocrítica necessária durante todo o processo. O objeto de estudo é uma construção conjunta — Quais questões emergem do diálogo com o outro? Assim, os objetivos a serem alcançados são comunitários, construídos no coletivo, não se podendo definir o problema de pesquisa aprioristicamente, pois ele emerge da troca intercultural (Dulci & Malheiros, 2021Dulci, T. M. S. & Malheiros, M. R. (2021). Um giro decolonial à metodologia científica: Apontamentos epistemológicos para metodologias desde e para a américa latina. Revista Espirales, 174–193.).

A pesquisa decolonial se justifica pela interculturalidade na relação entre pesquisador e pesquisado, a partir das experiências conjuntas, de onde as necessidades (problemas de pesquisa) se apresentam. Os participantes ensinam e deslocam os pesquisadores para fora do espaço da colonialidade do saber, e busca-se uma relação equitativa entre lógicas e práticas de pensar, atuar, viver que se revelam em processos de troca, diálogo e encontro.

A autocrítica parte da crítica à sociedade capitalista, cujos modos de vida majoritários se assentam no individualismo, na competição e no consumo, conduzindo de forma visível a humanidade à degradação sob a justificativa desenvolvimentista tradicional. Em resposta a essa visão, autores latino-americanos (Acosta, 2016Acosta, A. (2016). O bem viver: Uma oportunidade para imaginar outros mundos (T. Breda, Trad.). Autonomia Literária, Elefante.; Escobar, 2014Escobar, A. (2014). Sentipensar con la tierra: Novas lecturas sobre desarrollo, território y diferencia. Ediciones UNAULA.; Gudynas, 2019Gudynas, E. (2019). Direitos da Natureza: Ética biocêntrica e políticas ambientais (I. Ojeda, Trad.) Elefante.; Kothari et al., 2021Kothari, A., Salleh, A., Escobar, A., Demaria, F. & Acosta, A. (2021). Pluriverso: Um dicionário do pós-desenvolvimento (I. V. Eleonora, Trad.). Elefante.) vêm propondo que pensemos em alternativas ao desenvolvimento, apresentando o conceito de bem viver como proposta (sumak kawasay em kíchwa; suma qamaña em aymara; nhande-reko em guarani), em que se prima por uma transformação civilizatória que visa inicialmente desmercantilizar a Pacha Mama (mãe Terra), priorizando bens relacionais como amor, carinho, gratidão e reciprocidade. Nessa perspectiva são preciosas as relações que florescem contemplando o Encontro, em que com o outro, conhecemo-nos a nós mesmos.

Precisamos de um mundo reencantado com a vida, abrindo caminhos de diálogo e reencontro entre os seres humanos, enquanto indivíduos e comunidades, e de todos com a Natureza, entendendo que todos os seres humanos formamos parte da Natureza e que, no final das contas, somos Natureza (Acosta, 2016Acosta, A. (2016). O bem viver: Uma oportunidade para imaginar outros mundos (T. Breda, Trad.). Autonomia Literária, Elefante., p. 141).

Neste ponto vale notar que a crítica da Academia majoritária sobre esse modo de pesquisar incide justamente pelo deslocamento do marco colonial do saber instituído para a inclusão da sensibilidade e outros modos de conhecer, que vão além do modo tradicional e recognitivo2 2 Virgínia Kastrup, professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, discute as políticas cognitivas a partir do conceito de Aprendizagem elaborado por Gilles Deleuze (2008) na obra Diferença e Repetição, trazendo a ideia de que a sociedade ocidental assume políticas recognitivas nos processos de aprendizagem, ou seja, o processo se submete ao produto, que seria a obtenção de um saber, utilizado como veículo de dominação do mundo. Por outro lado, ela sugere que se pratique a cognição inventiva, em que aprender é fazer a cognição se diferenciar permanentemente de si mesma, por meio de uma política da invenção. Aqui aprender é ser capaz de problematizar, ser sensível às variações materiais que têm lugar em nossa cognição presente. (Kastrup, 2007Kastrup, V. (2007). A invenção de si e do mundo: Uma introdução do tempo e do coletivo no estudo da cognição. Autêntica.) de abordar a realidade.

ASPECTOS FILOSÓFICOS E EPISTEMOLÓGICOS DO PSICODRAMA E A PERSPECTIVA DECOLONIAL

Grosfoguel (2016)Grosfoguel, R. (2016). A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: Racismo/sexismo epistêmico e os quatro genicídios/epistemicídios do longo século XVI. Revista Sociedade e Estado, 31(1), 25–49., professor do Departamento de Estudos Étnicos da Universidade da Califórnia, tomando a críticas de Dussel (2008)Dussel, E. (2008). Meditaciones anti-cartesianas: Sobre el origen del anti-discurso filosófico de la Modernidad. Tabula Rasa, 9, 153–197. à filosofia cartesiana e de Boaventura de Souza Santos (2021)Santos, B. S. (2021). O fim do império cognitivo: A afirmação das epistemologias do Sul. Autêntica. às estruturas hegemônicas de conhecimento, afirma que a estrutura de conhecimento nas universidades ocidentalizadas modernas se afirma ao longo do século XVI a partir de quatro epistemicídios: 1) na conquista de Al-Andalus contra mulçumanos e judeus; 2) contra os povos nativos das Américas; 3) contra os povos africanos, conquistados e escravizados; 4) contra mulheres europeias acusadas de bruxaria. O autor postula que esses epistemicídios foram condição de possibilidade para o “cartesianismo idolátrico dos anos 1640, que assume o olho de Deus e arroga-se o direito de dizer penso, logo existo”, o que na verdade se tratava de um “extermino, logo existo” (Grosfoguel, 2016Grosfoguel, R. (2016). A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: Racismo/sexismo epistêmico e os quatro genicídios/epistemicídios do longo século XVI. Revista Sociedade e Estado, 31(1), 25–49., p. 25).

A conquista de Al-Andalus, contra os judeus sefarditas na Península Ibérica no século XV, realizou-se por meio de métodos de colonização e dominação, que depois foram utilizados também contra os povos originários das Américas. O genocídio e o epistemicídio caminharam juntos nesses dois acontecimentos. Em ambos, buscava-se cristianizar os povos, destruindo e inferiorizando o conhecimento e os modos de espiritualidade vivenciados por eles. Foram destruídas bibliotecas e códices indígenas, com aniquilação da espiritualidade e epistemicídio. O mesmo pode ser dito quanto aos outros dois epistemícidios. O cristianismo se afirmava como ideologia dominante e todos aqueles que eram considerados povos sem religião eram também povos sem alma, portanto excluídos da categoria de humanos, sendo perseguidos, devendo se converter para poderem existir (Grosfoguel, 2016Grosfoguel, R. (2016). A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: Racismo/sexismo epistêmico e os quatro genicídios/epistemicídios do longo século XVI. Revista Sociedade e Estado, 31(1), 25–49.).

Essa reflexão toca a história de J. L. Moreno, descendente de judeus, e dos psicodramatistas contemporâneos que lutam por um espaço de existência na comunidade científica, sem serem totalmente fagocitados pela lógica científica moderna e, portanto, excludente de visões de mundo que lhes escapam, inclusive da perspectiva filosófica original moreniana.

Moreno, assim como Espinosa, era judeu sefardita, cujas famílias buscaram abrigo em Istambul e Amsterdã, respectivamente, durante o reinado de Fernando de Aragão (1452–1516) e Isabel de Castela (1451–1505), em que os judeus foram obrigados a se converterem ao catolicismo, sob pena de perseguição, tortura e morte. Moreno admitia suas influências cabalísticas. Moreno e Espinosa apresentam uma noção parecida de Deus (Fonseca, 2018Fonseca, J. (2018) Essência e Personalidade: Elementos de psicologia relacional. Ágora.).

Fonseca (2018) faz um paralelo entre o mais importante livro da Cabala, que surgiu na Espanha no século XIII, Zohar, o livro do esplendor, com conceitos de Moreno e Espinosa, e aponta vários aspectos em comum. Um deles é o conceito de Deus-Natureza, imanente e espontâneo, do qual fazemos parte como microcosmo. Está pressuposta nessa abordagem uma horizontalidade radical, uma oposição ao Deus transcendente, patriarcal e punitivo que se constituiu na cultura Ocidental, naturalizando assimetrias de poder e subalternização da diferença, aspectos marcantes nos processos de colonização, tanto histórica como as colonizações contemporâneas.

Outro conceito em comum é a primazia dada à ação como potência de expressão. O saber erudito se baseia na língua dominante e a ciência moderna é um dos seus produtos. Santos (2021)Santos, B. S. (2021). O fim do império cognitivo: A afirmação das epistemologias do Sul. Autêntica. propõe como primordial nas experiências decoloniais, a ruptura com o império cognitivo que se instalou no Ocidente, e que traz em seu bojo injustiça epistêmica, ou seja, um apagamento do que não pode ser expresso pela linguagem tradicional. O que o corpo em ação revela, portanto, é um saber que produz uma ampliação nos modos de conhecer.

Tanto Moreno como Espinosa enxergam a expansão de si como criatividade, o que constitui ato de alegria. Para Moreno a alegria é um instrumento da saúde e a doença é vista primordialmente como algo produzido no coletivo, só nele podendo se libertar. Vale lembrar que Moreno foi duramente criticado por deslocar o eixo tradicional individualista na leitura das doenças psíquicas e realizar propostas terapêuticas que tivessem a humanidade como foco, trazendo a visão de doença para uma dimensão coletiva (Fonseca, 2018Fonseca, J. (2018) Essência e Personalidade: Elementos de psicologia relacional. Ágora.).

Pode-se dizer que a alegria aqui é vista como um instrumento terapêutico, pois incrementa a potência de agir, termo utilizado por Espinosa. Moreno também deixou ao mundo o legado da alegria e do riso, como herança impressa em sua lápide. O que surpreende é que ele trouxe essa questão em uma época em que a psiquiatria produzia primordialmente manicômios e compêndios descritivos de doenças, que por um lado permitiram conhecimento sobre modos de tratá-las, mas por outro lado criavam assimetrias abissais entre o doente e aquele que sabe o remédio, um distanciamento sujeito-objeto, necessário ao paradigma moderno de ciência, mas que produz minimização da intimidade, da tradução intercultural, e o apagamento dos saberes que nascem da experiência, que só emergem no mergulho e dissolução da distância entre observador e observado.

Assim como na Cabala, ambos os autores admitem a existência de uma unidade cósmica, na qual tudo permanece e se transforma ao mesmo tempo. Fonseca (2018)Fonseca, J. (2018) Essência e Personalidade: Elementos de psicologia relacional. Ágora. aponta que a Natureza naturante de Espinosa corresponde à espontaneidade-criatividade e a Natureza naturada à conserva cultural e que o mundo é um fluxo de fluxos. Para Moreno, não existe um reservatório de espontaneidade, ela surge quando solicitada a transformar-se em ato criativo, sendo a Divindade moreniana uma força espontânea da natureza, que se manifesta no Homem, enquanto centelha divina, mas tem a mesma substância do Deus cósmico (Fonseca, 2018Fonseca, J. (2018) Essência e Personalidade: Elementos de psicologia relacional. Ágora.). Conhecer o homem na visão moreniana é conhecer ao mesmo tempo o aspecto tangível da sua personalidade, seu cacho de papéis, mas também a espontaneidade que se manifesta ao ser solicitada por um mergulho na experiência, podendo dar origem a um ato criativo (Moreno, 1923/1984Moreno, J. L. (1984). O teatro da espontaneidade (M. S. Mourão Neto, Trad.). Summus. (Obra original publicada em 1923)). Vale ressaltar que o conceito de espontaneidade, fundamental da obra de Moreno, foi um dos que sofreu grande descaracterização a partir da tradução positivista. Espontaneidade se tornou fator “e” (Moreno, 1946/1993Moreno, J. L. (1993). Psicodrama (Á. Cabral, Trad.). Cultrix. (Obra original publicada em 1946)), e passou a ser explicado por meio de paradigmas distintos daquele de seu nascimento, mas mais próximos da ordem colonial.

Algumas cenas biográficas de Moreno também permitem que sejam alinhavados alguns marcos decoloniais. A primeira cena é seu nascimento em navio sem bandeira. Cidadão do mundo. Cosmopolita. Com ancestralidade sefardita. Povo que teve sua forma de conhecer e viver a espiritualidade perseguidas. Que se lançou aos mares em busca de outras terras. Povo da diáspora. Moreno se sente representado por esses aspectos, tal como revela em sua autobiografia (Moreno, 1997Moreno, J. L. (1997). J. L. Moreno: Autobiografia. (L. Cuschnir, Trad.). Saraiva.). Isso fazia dele um estrangeiro aos valores dominantes de sua época? Moreno questionou as principais instituições sociais e sua primeira obra, As Palavras do Pai (Moreno, 1920/1992Moreno, J. L. (1992). As palavras do pai (J. C. Landini & J. C. V Gomes, Trad.). Editorial Psy. (Obra original publicada em 1920)), trazia uma visão de homem e de mundo inusitadas, provocativas, provenientes de uma outra lógica, e que embasaram seus conceitos e métodos.

A segunda cena se refere ao menino que salta das cadeiras, voando como Deus e quebra seu braço direito. Almeida (1991)Almeida, W. C. (1991). Moreno: Encontro existencial com as psicoterapias. Ágora. faz referência à Cabala para pensar nesse símbolo do braço direito quebrado, concluindo que, metaforicamente, o que se quebra é a iniciação do intelecto, do conhecimento e da destruição (valores modernos/colonizados), enquanto o lado esquerdo se mantém intacto, simbolizando a emoção, o instinto e a criatividade. Pode-se dizer que isso faz de Moreno um intelectual sentipensante, cuja obra supera a cisão mente-corpo, e integra ação, emoção, sensação, intuição e pensamento, indo além dos binarismos modernos como: psicologia vs. sociologia, corpo vs. mente, saúde vs. doença, ciência vs. fé, sensibilidade vs. razão.

A terceira cena se refere ao trabalho de Moreno com as prostitutas de Spittelberg, zona boêmia vienense, em que, com mais dois amigos, buscou estar com essas mulheres na atitude de exposição radical à transformação demandada pelo outro, o que constitui a antropologia por demanda, também pressuposta na pesquisa decolonial. Ele e seus amigos se colocavam à disposição para uma escuta desse lugar desconhecido que o Outro — no caso as prostitutas — habita, não se colocando com elas a partir das formas conservadas predominantes na época: ou um tom policialesco e moralista, ou um tom higienista.

Moreno realiza a desobediência epistêmica, apontada como fundamental no pensamento decolonial, que propõe o conhecer-se diante do olhar do outro, através do outro, conceito que tem correspondência ao que Moreno chamou de tele, o qual foi desenvolvendo ao longo de sua vida, sendo definido, entre outras formas, como vínculo de mutualidade, em que há o sentimento e conhecimento da situação real do outro.

A quarta cena trazida é o episódio entre George e Bárbara, conhecido como nascimento do teatro terapêutico, em que Moreno verifica através de experimentações com teatro espontâneo, a necessidade de corporificação de aspectos psíquicos, que, ao se tornarem visíveis, possibilitam a transformação. A corporificação, ou o corpo em ação, promove conhecimento de outra ordem, que não a da lógica conservada, portanto representa uma alteridade. No marco decolonial, essa cena biográfica se alinha com o pressuposto de corazonar em que integrar afetividade e racionalidade, corporificar o conhecimento, se trata de um acontecimento ao mesmo tempo espiritual e político.

Na revisão do Psicodrama realizada por Naffah Neto (1997)Naffah Neto, A. (1997). Psicodrama: Descolonizando o imaginário. Plexus., que já na década de 1990 discutia aspectos da teoria moreniana que precisariam ser descolonizados, e que trazia como subtítulo da sua obra o termo descolonizando o imaginário, o teatro terapêutico é apontado como o verdadeiro locus onde se unificam o social e a psique, os aspectos público e privado da existência:

O privado reencontra, por fim, seu locus coletivo, e, o imaginário, rompendo seu espaço solipsista para revelar labirintos antes vividos como pessoais, pode agora buscar na massa anônima do público, ressonâncias a seu próprio grito. São as máscaras que caem para revelar o ator: é o teatro que se faz veículo para uma consciência prática e coletiva, é a vitória da espontaneidade, do ato criador, o nascimento do sociopsicodrama

(p. 192).

Moreno crítica o problema da objetividade do cientista na perspectiva positivista. Ele defende pesquisas propositivas, denominadas por ele de pesquisa-ação (Moreno, 1946/1993Moreno, J. L. (1993). Psicodrama (Á. Cabral, Trad.). Cultrix. (Obra original publicada em 1946)), assumindo a posição subjetiva e transformadora do pesquisador. Ainda na revisão de Naffah Neto (1997)Naffah Neto, A. (1997). Psicodrama: Descolonizando o imaginário. Plexus., a questão é colocada da seguinte forma:

Se o cientista é parte implicada na própria realidade social, ele que se valha de sua posição como abertura e uma estratégia metodológica, isto significa tão somente que sua posição não o privilegia mais do que aos outros sujeitos e que, nesse sentido, o experimento tem que ser um projeto movido do interior e envolvendo a participação conjunta de todos

(p. 139).

A “Regra da coação do pesquisador com o grupo” desembocando na “Regra da participação universal na ação” (ambas postuladas por Moreno) retomam o método socrático: a verdade e o caminho a serem seguidos jazem no âmago da própria experiência vivida pelo grupo e só por um processo gradual de conscientização e abertura a sua realidade de vida podem emergir

(p. 142).

A única forma de consciência verdadeira, totalizante e transformadora é a consciência prática, a consciência que se adquire na ação coletiva do próprio processo de criação e transformação da realidade. De nada adianta a consciência teórica e abstrata que não tem alicerces, que não é produto de uma experiência vivida

(p. 150).

Essa perspectiva também faz parte das proposições das pesquisas decoloniais, que supõem o pesquisar com, mais do pesquisar sobre alguém, sendo resultado da pesquisa a revelação dos processos de deslocamento a partir da conserva cultural, na qual estão imersos pesquisadores e pesquisados. Os atos de libertação se dão no Encontro, nos atritos entre as múltiplas vozes, incluindo as minoritárias, aquelas que somente o corpo em ação revela. Adentra-se provisoriamente no eixo espontâneo-criador para uma nova criação, e assim o processo inventivo se refaz uma vez mais, podendo se perpetuar indefinidamente.

O PSICODRAMA COMO MÉTODO DE PESQUISA: APROXIMAÇÕES DA PERSPECTIVA DECOLONIAL

Apresentarei quatro experiências de pesquisas em grupo, realizadas como pesquisadora e orientadora em um Programa de Pós-Graduação, que refletem o esforço de integrar as bases filosóficas e conceituais do Psicodrama a modos de pesquisar. A última experiência, ainda em processo de construção, assume a perspectiva decolonial, que apresenta muitas consonâncias com a teoria e metodologia psicodramáticas. No entanto as experiências anteriores constituíram aproximações a esse referencial, uma vez que foram utilizados aspectos teóricos e metodológicos do Psicodrama, que já conduziam a uma proximidade do que hoje se caracteriza como giro decolonial.

A primeira experiência aconteceu no período de 2006 a 2009, com uma pesquisa etnográfica em um bairro periférico de uma cidade industrial, que visava compreender o trabalho informal na indústria do calçado. Inicialmente foi trabalhado o grupo de pesquisadores (que contou com três bolsistas de Iniciação Científica da FAPESP e dois bolsistas de Iniciação Científica do CNPq) para que este se tornasse um ambiente favorável de troca e Encontro, a partir do qual cada pesquisador poderia acessar o eixo espontâneo criativo e formular problemas de pesquisa a partir do que lhe afetava no contato com o campo. Após o término das pesquisas, iniciou-se um trabalho interventivo, ligado a um estágio curricular em psicologia comunitária, em que as demandas levantadas pelas pesquisas puderam ser trabalhadas por meio de sociodramas: na associação de moradores e na constituição de um grupo de mulheres. Aqui já se observam alguns marcos decoloniais como antropologia por demanda, em que há uma exposição radical à transformação demandada pelo outro e um exercício de corazonar, que só ocorreu no final da pesquisa, em que os conhecimentos passaram a contribuir nas transformações dos modos de vida (conhecimento corporificado).

A segunda e a terceira experiências ocorreram de 2015 a 2020 e se estabeleceram com a parceria entre escolas públicas, a universidade e uma instituição privada (Oficina de Arte Lua Nova) que trabalha com psicodrama e arte para crianças, contando com pesquisadores de mestrado e iniciação científica, e estagiários de Psicologia Escolar. Foram realizados projetos de pesquisa-intervenção sociodramática que incluía tanto o trabalho grupal com estudantes e suas famílias, quanto professores e a equipe gestora da escola. A segunda experiência foi realizada no espaço da Oficina de Arte Lua Nova, com alunos de escolas públicas, e a terceira no espaço de uma escola estadual com graves queixas de violência. Os resultados de algumas dessas pesquisas podem ser verificados em artigos publicados (Barbosa et al., 2018Barbosa, N. P., Andrade, A. S., Ribeiro, D. F. & Gomes, A. T. (2018). Sociodrama com crianças no contexto escolar. Revista Brasileira de Psicodrama, 26(1), 117–125. https://doi.org/10.15329/2318-0498.20180008
https://doi.org/10.15329/2318-0498.20180...
; Ferreira et al., 2017Ferreira, L. P., Ribeiro, D. F., Gomes, A. T. & Andrade, A. S. (2017). Sociodrama de famílias: Um instrumento de potencialização da relação pais e filhos no contexto escolar. Revista Brasileira de Psicodrama, 25(1), 108–114. https://doi.org/10.15329/2318-0498.20170013
https://doi.org/10.15329/2318-0498.20170...
).

A escolha da metodologia da pesquisa-intervenção ocorreu por conta de esta ser uma das possibilidades contemporâneas de pesquisa propositiva. De acordo com Contro (2009)Contro, L. (2009). Veredas da pesquisa psicodramática: entre a pesquisa-ação crítica e a pesquisa-intervenção. Revista Brasileira de Psicodrama, 17(2), 13–24., o Psicodrama se encaixa no rol das pesquisas participativas, que buscam transformação social, podendo se aproximar tanto da pesquisa-intervenção, quanto da pesquisa-ação crítica. Buscou-se a experimentação de outros modos de existir, a criação de possibilidades e, ainda, “transformar para conhecer, pois o significado emerge das práticas e é inquieto e perspectivo” (Contro, 2009Contro, L. (2009). Veredas da pesquisa psicodramática: entre a pesquisa-ação crítica e a pesquisa-intervenção. Revista Brasileira de Psicodrama, 17(2), 13–24., p. 19). Aqui o corazonar já acontece claramente, com produção de conhecimento corporificado (utilização de dados provenientes de dramatizações) e a validade da pesquisa ligada às transformações ocorridas nos indivíduos e grupos.

A quarta experiência de pesquisa, que se iniciou em 2021 e está ainda em andamento, é aquela que busco dar ênfase neste artigo pela proposta de um deslocamento ainda mais radical do ponto de vista científico, assumindo o pensamento decolonial como proposta teórico-metodológica, buscando integrar, de forma ainda mais profunda na pesquisa, a base filosófica e conceitual do Psicodrama.

O processo se iniciou pelo convite à visita a um bairro de cerca de 250 pessoas, isolado geograficamente, historicamente criado para que os trabalhadores braçais utilizados na construção de uma usina hidrelétrica próxima vivessem. As queixas iniciais eram a falta de renda, apesar da proximidade com um grande rio e ponto turístico, além de aumento de alcoolismo e drogadição entre as pessoas da vila. O grupo de pesquisa conta com os moradores locais (especificamente pessoas que tenham 13 anos ou mais), uma psicóloga do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do município em que se localiza o bairro, psicodramatistas em formação, estagiários do quarto ano do curso de psicologia, além da equipe de pesquisadores: orientadora, uma mestranda e duas pesquisadoras de iniciação científica/CNPq. O nosso lugar de pesquisa nos liga à promoção de desenvolvimento local, e a primeira pergunta coletiva que surgiu foi: de qual desenvolvimento estamos falando? Deslocamo-nos, então, da perspectiva desenvolvimentista tradicional, para pensar em alternativas ao desenvolvimento e bem viver, de acordo com o marco decolonial.

Até o momento foi realizada uma visita coletiva no bairro, caminhando e deixando os acasos e os encontros acontecerem, escutando as estórias e histórias das pessoas e do local. Em seguida, o convite foi registrar em diário de campo as afecções sentipensantes vividas. Alguns fragmentos podem ser observados:

Os quintais de outros tempos, com ervas plantadas em potes de margarinas, orquídeas nascidas em casca de coco, os frangos criados nas varandas, barulhentos como as crianças soltas. As casas feitas de sobras, a paisagem exuberante pela janela simples. O bebê que foge de casa engatinhando e é resgatado pelo vizinho, o mentiroso gente boa, o colecionador de carros estragados, a benzedeira, o assassinato, a bebedeira coletiva. O acolhimento, o aconchego, a vontade de estar lá. A parceria se traduz em desejo, sem pretensão. Com-viver. Viver potente

(Diário coletivo – visita 1).

Assim, busca-se sentipensar com o território, realizando um engajamento concreto com tudo que ele traz, integrando corpo e mente, razão e emoção em uma pesquisa que realize o corazonar, ou seja, produzir conhecimento corporificado, cuja validade se dá pela cocriacão de sabedorias insurgentes e pelas transformações concretas nos modos de ser e de viver. Os problemas da pesquisa vão sendo criados e recriados a partir desses encontros, e até o momento três aspectos se destacaram: a relação com as águas, a relação com o trabalho e as práticas coletivas de saúde. O próximo passo será realizar sociodramas com o máximo de moradores que responderem ao convite, promovendo mergulhos na experiência e ampliação de saberes.

A intenção é que todos os processos ocorram no coletivo, desde a formulação do problema de pesquisa, até a análise dos dados, com atenção às disparidades de poder referentes aos quesitos raça/cor e gênero. As ferramentas de colheita3 3 Na perspectiva metodológica adotada troca-se o termo coleta de dados por colheita de dados, uma vez que a produção de conhecimento se dá na convergência entre pesquisador e pesquisado, como efeito da relação estabelecida entre ambos, não se fundamentando nem na realidade objetiva, nem na subjetividade do pesquisador, mas considerando que a realidade emerge no ato de conhecê-la. Por isso colhe-se dados (Passos & Kastrup, 2013). dos dados também devem se fundar no aspecto relacional, sendo cocriadas por pesquisadores e pesquisados por meio de intervenções sociopsicodramáticas.

Observa-se nesses exemplos de pesquisa, que a experimentação do Psicodrama como aporte teórico-metodológico leva a uma proximidade com o marco decolonial, assumindo formas não tradicionais de produção de conhecimento, valorizando produções sensíveis, artísticas, não verbais, ou seja, o corpo em ação, tomado um saber válido.

Outro aspecto a ser destacado é que tanto o Psicodrama como as perspectivas decoloniais se ancoram em ontologias relacionais, metodologias colaborativas, que propõem um conhecimento cocriado, coconstruído, em que o pesquisado não é colocado em lugar de passividade e interpretado a partir da lógica científica consolidada. Assume-se, ao invés, uma colheita de dados, pois os participantes se expressam a partir do encontro, onde ambos, pesquisador e pesquisado realizam o que Boaventura de Sousa Santos (2021)Santos, B. S. (2021). O fim do império cognitivo: A afirmação das epistemologias do Sul. Autêntica. chama de tradução intercultural, onde é tecida uma ecologia de saberes. Trata-se de deixar de ser extrativista, investigando o outro para conhecê-lo a partir de lentes colonizadoras, ou por meio do conhecimento científico dominante, mas se conhecer diante do olhar do outro. O objetivo da pesquisa é criar zonas libertárias em que se experimentam práticas decoloniais que afetam a todos.

Ainda de acordo com Santos (2021)Santos, B. S. (2021). O fim do império cognitivo: A afirmação das epistemologias do Sul. Autêntica., considerado um autor relevante nas críticas aos processos coloniais contemporâneos, as metodologias que se ancoram no marco decolonial, as quais ele nomeia de Epistemologias do Sul, ou metodologias pós-abissais, devem produzir conhecimento a partir de quatro princípios, que claramente se aproximam da proposta moreniana e que serão adotados na pesquisa em andamento.

O primeiro princípio é a luta, ou seja, é necessário um mergulho na situação concreta vivida, em que se revelam a um só tempo aspectos da conserva cultural e a busca da liberdade, ou a espontaneidade-criatividade, produzindo transformações.

O segundo princípio é a experiência, sem a qual não é possível conhecer, e que se dá por meio dos sentidos e dos sentimentos deles provenientes, em uma situação de reciprocidade, em que o observado se torna observador.

O terceiro princípio é o corpo, que no Ocidente é visto primordialmente como obstáculo à razão. Aqui é o grande guia para o conhecimento por meio das experiências profundas dos sentidos. Segundo Santos (2021)Santos, B. S. (2021). O fim do império cognitivo: A afirmação das epistemologias do Sul. Autêntica., a escuta profunda demanda auto silenciamento para ouvir o que foi silenciado. Já a visão é o sentido que mais precisa ser descolonizado, devendo ser tomado na sua tridimensionalidade (ver e ser visto ao mesmo tempo). O olfato, o paladar e o tato profundos possibilitam abertura de mundos, partilha de sentimentos, produção de intimidade necessária à troca intercultural. O autor destaca que no Ocidente, o tato é o sentido mais reservado e controlado e, no entanto, o mais poderoso e imediato. Moreno também propõe conceitos similares como o Encontro, a investigação por meio do corpo em ação e a experiência profunda dos sentidos, experimentados por meio da tridimensionalidade do palco.

O quarto princípio é a autoria, que remete à pergunta sobre quem usa o método. O pesquisador, o psicodramatista estão em qual grau no processo de emancipação/autodesaprendizagem (Santos, 2021Santos, B. S. (2021). O fim do império cognitivo: A afirmação das epistemologias do Sul. Autêntica.)? Para permitir coautoria é preciso sair do lugar de detentor do saber, aspecto atribuído aos cientistas na modernidade.

Diante dessa exposição, observa-se a legitimidade e importância da metodologia psicodramática nos processos de descolonização, seja na pesquisa ou nas práticas sociopsicodramáticas, que por vezes vivem uma inclusão inferiorizante no rol das ciências psicológicas, provavelmente pela aproximação com saberes até então desvalorizados, frutos de epistemicídios históricos. Na medida em que esses saberes se apresentam no cenário científico, exigindo voz e propondo contribuições importantes aos problemas civilizatórios atuais, o Psicodrama afirma seu protagonismo. No entanto ainda hoje é preciso resistir, pois, como afirma Santos (2021)Santos, B. S. (2021). O fim do império cognitivo: A afirmação das epistemologias do Sul. Autêntica., “o estatuto de um cientista pós-abissal integrado em comunidades e instituições científicas dominadas pelas epistemologias do Norte é, por via de regra, muito precário e vulnerável a muita hostilidade e marginalização” (p. 210).

DECORRÊNCIAS DO APORTE DECOLONIAL NAS PRÁTICAS SOCIOPSICODRAMÁTICAS

A questão do aporte científico que sustenta a prática psicodramática enfrenta os mesmos problemas que se configuram no campo da pesquisa e já foram colocados neste texto. A relação que se estabelece entre psicodramatista/cliente é da mesma ordem da relação pesquisador/pesquisado, e para que seja vivida tal como Moreno propôs, é necessário realizar uma fissura na conserva cultural, que estabelece o lugar do profissional da saúde de forma hierárquica diante daquele que busca o serviço, reproduzindo a lógica colonial do saber.

Na busca de legitimação do Psicodrama enquanto abordagem teórico-metodológica reconhecida no campo da ciência psicológica, muitas vezes parte-se de sistemas dominantes de saber-poder, enquadrando conceitos e práticas em conjuntos de verdades que se opõem à visão moreniana original, que neste artigo é colocada como próxima ao marco decolonial, ou seja, de fora dos valores ocidentais, hoje globalizados.

A pesquisa decolonial psicodramática, por outro lado, afirma a possibilidade de práticas sociodramáticas e psicoterapêuticas que se assentem em problemas e objetivos construídos a partir da Relação e do Encontro, sendo o corpo em ação a principal fonte de obtenção de conhecimento. Mas para adotar essa abordagem é necessário que o psicodramatista se afaste das verdades pré-estabelecidas na modernidade, da visão dominante de homem, de ciência e do que é considerado saúde e doença. Observa-se que Moreno não dicotomiza saúde e doença, mas as coloca como conceitos complementares, revelados simultaneamente em uma situação de mergulho na existência, cujo efeito da investigação da doença já implica em manifestação da saúde. Esses aspectos também se distanciam das tradições ocidentais, onde existe um sistema de verdade diagnóstica pré-existente, em que algum Poder fala pelo Outro, um saber científico, que é válido e importante, mas que nem sempre atribui legitimidade a saberes produzidos com o outro, na imersão em situações concretas, tridimensionais, na ação, quando há ampliação e aprofundamento dos sentidos, tal como se coloca necessário nas pesquisas decoloniais ou pós-abissais (Santos, 2021Santos, B. S. (2021). O fim do império cognitivo: A afirmação das epistemologias do Sul. Autêntica.).

Observa-se, então, a face político-espiritual da proposta moreniana, situando sua visão de homem em conexão com o Cosmos, sendo este um microcosmos no seio do macrocosmo. O mundo seria o lugar dessa irmandade política que se observa nos pequenos grupos: reprodutora de padrões ou inventora de insurgências e novos modos de ser e viver.

Por fim, a teoria psicodramática faz um convite à superação dos binarismos modernos tradicionais como psicologia e sociologia, saúde e doença, indivíduo e grupo, ciência e espiritualidade, brincar e aprender, se caracterizando como ferramenta de profundas transformações também no campo das práticas sociopsicoterápicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que a construção de um posicionamento crítico diante da colonialidade do poder, do saber e do ser inscritos na modernidade, eleva a prática psicodramática a um instrumento com poder de transformação e de possibilidades de realização da chamada utopia moreniana. Outros mundos, para além daqueles colonizados, podem se tornar possíveis.

A adesão e o enquadramento do Psicodrama à ciência positivista servem como estratégia de sobrevivência e busca de legitimidade, e possibilitam também apropriações contra-hegemônicas pela propagação de uma ciência insurgente. No entanto se faz necessário o resgate da proposta original e revolucionária de Moreno, aquela que ainda hoje sofre recorrentes epistemicídios, e cuja voz vem de um lugar de alteridade, trazendo diferenças radicais em relação a outras psicologias, mas que abre importantes caminhos para a criação de práticas eficientes e criativas.

Enxergo o Psicodrama no século XXI como preciosa ferramenta diante das crises civilizatórias, quando os limites do Antropoceno clamam por uma ética biocêntrica, quando temos nossa sobrevivência enquanto humanidade colocada em xeque. A célebre pergunta moreniana “Quem sobreviverá?” é atualíssima em cenários mundiais de guerra, pandemia, fome, desespero e depressão generalizados, além de graves cisões afetivas por conta de posicionamentos dicotômicos, que estabelecem rigidamente os limites entre o Bem e o Mal, legitimando o apagamento daqueles que se encontram do lado de lá da linha abissal. É interessante notar que a dicotomização do mundo e sua separação em opostos são instrumentos colonizadores, em plena atividade atualmente.

Moreno nos deu um antídoto para as dores e os descaminhos desses tempos. Podemos vivê-lo como nossa luta, sabendo do seu caráter transformador, mas também de sua exigência, pois se trata de praticar a autodesaprendizagem sempre, experimentando modos de driblar os apegos às partes da conserva cultural que não cabem mais. Por outro lado, sentimos os ventos da liberdade e da alegria por vivenciarmos um método que nos propõe um mergulho na existência, no sensível, que nos conecta uns aos outros, nos revelando e transformando, tornando-nos cocriadores.

Para nós, psicodramatistas, desejo coragem e afeto. Temos uma herança viva potente. Sigamos renascendo, de novo e de novo, a cada presença.

  • 1
    Boaventura de Souza Santos (2021)Santos, B. S. (2021). O fim do império cognitivo: A afirmação das epistemologias do Sul. Autêntica. define epistemicídio como prática sistemática de destruição de formas de saber inferiorizadas diante dos valores do colonialismo moderno, propondo, ao contrário, que se identifique e valorize aquilo que nem sequer conta como conhecimento à luz das epistemologias dominantes.
  • 2
    Virgínia Kastrup, professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, discute as políticas cognitivas a partir do conceito de Aprendizagem elaborado por Gilles Deleuze (2008)Deleuze, G. (2008) Diferença e repetição. São Paulo: 34. na obra Diferença e Repetição, trazendo a ideia de que a sociedade ocidental assume políticas recognitivas nos processos de aprendizagem, ou seja, o processo se submete ao produto, que seria a obtenção de um saber, utilizado como veículo de dominação do mundo. Por outro lado, ela sugere que se pratique a cognição inventiva, em que aprender é fazer a cognição se diferenciar permanentemente de si mesma, por meio de uma política da invenção. Aqui aprender é ser capaz de problematizar, ser sensível às variações materiais que têm lugar em nossa cognição presente.
  • 3
    Na perspectiva metodológica adotada troca-se o termo coleta de dados por colheita de dados, uma vez que a produção de conhecimento se dá na convergência entre pesquisador e pesquisado, como efeito da relação estabelecida entre ambos, não se fundamentando nem na realidade objetiva, nem na subjetividade do pesquisador, mas considerando que a realidade emerge no ato de conhecê-la. Por isso colhe-se dados (Passos & Kastrup, 2013)Passos, E. & Kastrup, V. (2013). Sobre a validação da pesquisa cartográfica: Acesso à experiência, consistência e produção de efeitos. Fractal, 25(2), 91–414. https://doi.org/10.1590/S1984-02922013000200011
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    .

AGRADECIMENTOS

Não aplicável.

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    Os dados estarão disponíveis mediante solicitação.
  • FINANCIAMENTO

    Não aplicável.

REFERÊNCIAS

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Editado por

Editora de seção: Marcia Almeida Batista. https://orcid.org/0000-0001-8043-6856

CONFLITO DE INTERESSE

A autora declara não haver conflito de interesse.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Fev 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    27 Set 2022
  • Aceito
    29 Nov 2022
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