Acessibilidade / Reportar erro

Gramática de construções, estrutura da informação e construções interrogativas: evidências do russo sobre um campo de pesquisa em aberto

Information structure, construction grammar, and interrogative constructions: evidence from russian in an open research field

RESUMO

O artigo investiga a estrutura da informação em construções interrogativas, em uma perspectiva construcionista Para isso, avalia o referencial teórico da Gramática de Construções para o estudo do fenômeno, apresenta uma breve tipologia de construções interrogativas polares em línguas naturais e, com base em dados extraídos do Corpus Nacional da Língua Russa (ruscorpora.ru), propõe uma análise preliminar da configuração pragmática de interrogativas polares com a partícula li em russo, sugerindo padrões mais especificados de forma e significado que sinalizam a possibilidade de desdobramento da construção em ao menos dois tipos: um tipo marcado para foco argumental, caso em que o elemento focalizado codifica um argumento da sentença interrogativa, e um tipo não marcado, o qual parece se adaptar à estrutura focal da construção com a qual a interrogativa se combina.

Palavras-chave:
Gramática de Construções; Estrutura da Informação; Construções interrogativas; Russo

ABSTRACT

This paper analyzes information structure in interrogative constructions, from a constructionist perspective. Thus, it evaluates Construction Grammar approach to the phenomenon, provides a brief typology of polar interrogative constructions in natural languages and, using data extracted from Russian National Corpus (ruscorpora.ru) offers a preliminary analysis of pragmatic configuration of polar interrogative constructions with li particle in Russian suggesting more specific patterns of form and meaning which reveal the division of the construction in at least two types: a marked type for argument focus, in which the focused element encodes an argument of the interrogative sentence, and an unmarked type, which seems to adapt to the focus structure of the construction it combines with.

Keywords:
Construction Grammar; Information Structure; Interrogative constructions; Russian

Introdução

Desde o Círculo Linguístico de Praga a estrutura da informação (EI)1 1 Os termos estrutura da informação, estrutura informacional e a abreviação EI serão utilizados de forma intercambiada neste artigo. tem sido estudada por um número expressivo de estudiosos, de modo que, atualmente, estão disponíveis variados estudos no campo, que fornecem ampla contribuição quanto a categorias importantes que o fenômeno abarca, em termos de distinções do tipo dado-novo, tópico-foco, pressuposição-asserção2 2 Para alguns exemplos, conferir Firbas (1966, 1972), Halliday (1967, 2014); Chafe (1976, 1987), Prince (1981, 1986), Vallduví (1992), Lambrecht (1994, 2000, 2001), Krifka (2008), Fery e Ishihara (2016). . No entanto, grande parte dos estudos na área considera sentenças declarativas, aparentemente sem atribuir investigação sistemática robusta a um amplo conjunto de enunciados, como sentenças exclamativas, imperativas e interrogativas em seus variados tipos e cujo estudo poderia contribuir para um maior entendimento de fenômenos abarcados pela EI.

De fato, parece haver algumas razões para a concentração da maioria dos estudos da EI em sentenças declarativas. Esse tipo sentencial é considerado o não marcado nas línguas naturais e, além disso, tem sido objeto de investigação dos lógicos à luz das proposições evocadas no que se refere a condições de verdade, o que tem assegurado um espaço produtivo para reflexões no nível proposicional também para os linguistas.

A Gramática de Construções (GC)3 3 O termo Gramática de Construções e sua abreviação GC serão intercambiados no decorrer deste artigo. , abordagem adotada neste trabalho, tem oferecido uma proposta de análise bastante detalhada sobre o modo com o qual línguas naturais codificam a estrutura informacional da sentença4 4 Para um panorama sobre como a estrutura da informação é analisada em GC, ver Lambrecht (1994, 2000, 2001), Leino (2013), Hilpert (2014). . Porém, tal como ocorre em outras abordagens teóricas, suas incursões sobre tipos sentenciais outros que não as declarativas têm sido ainda relativamente tímidas no que tange ao estudo da EI, embora o modelo construcionista exiba ferramental apropriado para desenvolver análise do tipo.

Considerando o arcabouço teórico da GC, o presente artigo consiste em uma reflexão inicial sobre como a abordagem construcionista desenvolvida para a estrutura da informação pode ser utilizada no estudo de sentenças interrogativas em línguas naturais. Para desenvolver a proposta, o trabalho se debruça especificamente sobre as interrogativas polares (ou interrogativas sim-não), valendo-se de um ferramental metodológico qualitativo. Nesse sentido, considera primeiramente a proposta da GC para o estudo da EI e observa o potencial de codificação formal de sentenças interrogativas polares em línguas naturais, de acordo com as propostas atuais dos estudos tipológicos. Em seguida, com base no arcabouço analítico da gramática de construções, fornece uma descrição da construção interrogativa polar com a partícula li em russo, analisando sua estrutura informacional, mais especificamente no que diz respeito à estrutura focal da sentença5 5 O trabalho é fruto de reflexões desenvolvidas no âmbito dos dois primeiros módulos do curso Forma, Função e Processamento do Foco, ministrado junto ao Programa de Pós-Graduação em Linguística, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no primeiro semestre do ano de 2021. .

O artigo divide-se em cinco partes: a primeira consiste nesta breve introdução; a segunda apresenta a proposta da GC para o estudo da estrutura da informação como um componente da gramática da sentença; a terceira fornece uma breve tipologia das interrogativas em línguas naturais, selecionando um tipo específico do russo para análise e apresentando a metodologia adotada; a quarta descreve a construção interrogativa com a partícula li, em russo, apresentando uma análise preliminar de sua estrutura informacional, mais especificamente sobre sua estrutura focal; a quinta tece algumas considerações finais sobre o tema, concluindo o trabalho e apresentando perspectivas de desenvolvimento futuro.

Gramática de Construções e Estrutura Informacional da Sentença

Tal como amplamente difundido na literatura especializada, a Gramática de Construções emerge como uma abordagem para a arquitetura gramatical, promovendo a integração entre sintaxe e léxico e tomando como unidade básica de investigação a construção. Esta última é tida como um pareamento de forma e significado que, em seu polo formal, pode conter informações de natureza fonológica, morfológica e/ou sintática e, em seu polo de significado, pode conter informações de natureza semântica, pragmática e/ou discursivo-funcional. Além disso, a GC orienta-se para a estrutura de superfície, foca na variabilidade entre as línguas naturais, sem prever categorias gramaticais primitivas, sugerindo que o conhecimento linguístico do falante consiste em uma rede de construções interligadas por meio de um conjunto diversificado de relações. Os enunciados concretos da língua seriam, portanto, o resultado de um processo que combina uma série de construções dessa rede.

A esse propósito, uma frase como Quem deu o livro para José? seria uma instância da combinação de um conjunto de construções, desde as fonologicamente especificadas como quem, dar, o, livro, para, José, até construções mais esquemáticas (abstrata e não fonologicamente especificadas) como a construção de estrutura argumental, a construção de sintagma nominal, a de sintagma preposicional e, também, a construção interrogativa de conteúdo (ou interrogativa QU).

No que tange ao campo da estrutura da informação, a GC conta com a contribuição robusta de Lambrecht (1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994.), que estabelece a seguinte definição do fenômeno:

ESTRUTURA DA INFORMAÇÃO: componente da gramática da sentença em que proposições, como representações conceptuais de estados de coisas, são pareadas com estruturas léxico-gramaticais de acordo com os estados mentais dos interlocutores, que usam e interpretam essas estruturas como unidades de informação em dados contextos discursivos. (LAMBRECHT, 1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994., p. 5)6 6 Tradução própria. No original: that component of sentence grammar in which propositions as conceptual representations of states of affairs are paired with lexicogrammatical structures in accordance with the mental states of interlocutors who use and interpret these structures as units of information in given discourse contexts.

Tomando-se a definição acima, observa-se que, como parte da gramática da sentença, a EI exibe um padrão que pareia forma e significado. No plano da forma, têm-se estruturas léxico-gramaticais que, no plano do significado, refletem de forma associativa a representação mental tanto de proposições quanto de referentes, assim como a própria relação entre referentes e proposições. Atente-se igualmente para o fato de que essa relação intricada entre a representação mental de referentes e de proposições considera os estados mentais dos interlocutores, assim como os contextos discursivos nos quais os enunciados ocorrem. Nessa proposta são consideradas essencialmente três dimensões: 1) a proposicional; 2) a da representação mental dos referentes no discurso; e 3) a das relações pragmáticas entre referentes e proposições. Essas três dimensões serão discutidas nas subseções abaixo.

Dimensão proposicional da EI

Em GC, é somente na dimensão proposicional que a informação pode ser veiculada. Segundo Lambrecht (1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994.), informar alguém sobre alguma coisa é induzir uma mudança em seu estado de conhecimento, adicionando uma ou mais proposições. Aqui, proposições são tidas como representações mentais de estados de coisas, sem levar em consideração a análise desenvolvida pelos lógicos no que se refere a condições de verdade.

Para ilustrar esse ponto, Lambrecht (1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994.) argumenta que se alguém diz I just find out that Susan is married (Acabei de saber que a Susan é casada) e o interlocutor sabe que Susan na verdade não é casada, é possível dizer que o falante tem uma crença falsa sobre o estado civil de Susan e, portanto, a proposição “Susan é casada” pode ser considerada falsa. Nesse caso, o interlocutor pode corrigir o falante, dizendo It’s not truth that Susan is married (Não é verdade que Susan é casada), mas ainda assim ele evoca a mesma proposição “Susan é casada”, de modo que a proposição permanece como representação mental para o falante e ouvinte, mesmo não sendo verdadeira. Do ponto de vista da EI é a existência (e o estado cognitivo) dessa representação mental que conta como informação e não a validação da proposição como verdadeira ou falsa. Em suma, o que importa para o estudo da EI no campo proposicional, em perspectiva construcionista, é a relação entre estados da mente e as estruturas sentenciais e não exatamente a relação entre as proposições e os estados de coisas em termos lógicos. É importante que o leitor tenha isso em mente, para discussões futuras sobre interrogativas polares, na próxima seção.

Seguindo a linha de pensamento apresentada acima, pode-se dizer que o ato de informar envolve a avaliação constante por parte do falante em relação aos estados de conhecimento do interlocutor, associados às proposições evocadas pelas sentenças, em uma dinâmica que envolve acrescentar conteúdo que o falante assume que o interlocutor ainda não conhece - a asserção pragmática - a um conjunto de conhecimentos que o falante assume já serem conhecidos ou compartilhados com o interlocutor - a pressuposição pragmática. Nesse sentido, a veiculação de informação é um fenômeno relacional, em que conteúdo que o falante presume não ser compartilhado é relacionado com conteúdo que o falante presume já ser compartilhado com o ouvinte. Para que fique mais claro, observe-se o exemplo do português, abaixo:

(1) ... o mais importante era dignificar a educação que o meu pai e minha mãe me deram.

Diante do exemplo em (1), extraído de uma entrevista do cantor Seu Jorge para o programa Roda Viva, da TV Cultura, é possível observar um conjunto de proposições léxico-gramaticalmente evocadas pela sentença, que contam como pressuposições pragmáticas e são elencadas abaixo:

  • É possível assumir que o falante tenha pais;

  • Os pais do falante lhe deram educação;

Existe um conjunto de coisas que o falante considera importantes e desse conjunto há algo que ele acredita encontrar-se no topo da hierarquia de coisas importantes.

As pressuposições supramencionadas encontram codificação léxico-gramatical na sentença. A pressuposição em (a), por exemplo, se observa por meio das construções de sintagma nominal definido com pronome possessivo, coordenadas entre si, meu pai e minha mãe, ao passo que a contida em (b) é codificada pela oração relativa que meu pai e minha mãe me deram. Já a contida em (c) é codificada pelo sintagma nominal definido na construção de modificação de grau o mais importante.

De acordo com Lambrecht (1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994.), uma forma possível de testar se de fato as pressuposições acima existem como tais na sentença em (1) é o “teste da mentira” (lie-test) proposto por Etershik-Shir e Lappin (1979ERTESCHIK-SHIR, N.; LAPPIN, Shalom. Dominance and the Functional Explanation of Island Phenomena. Theoretical Linguistics, v. 6, n. 1-3, p. 41-85, 1979., 1983ERTESCHIK-SHIR, Nomi; LAPPIN, S. Under stress: a functional explanation of sentence stress. Journal of Linguistics, v. 19, n. 2, p. 419-453, 1983.). Se, ao ouvir a sentença em (1), o interlocutor retruca com a frase isso não é verdade, essa frase, em primeira instância, seria entendida como desafiando o fato de o falante considerar dignificar a educação recebida como o mais importante. Ela não estaria desafiando o fato de o falante ter pais, ou o fato de os pais terem lhe dado educação ou a existência de algo que o falante considera como mais importante. Conforme Etershik-Shir e Lappin, o teste de mentira só consegue desafiar a asserção da sentença e não o que é pressuposto. Com isso, encontra-se também a asserção pragmática da sentença em (1), a saber, a informação de que o que o falante considera como mais importante pode ser identificado como dignificar a educação dada a ele pelos pais.

Ao analisar as pressuposições com maior grau de escrutínio, Lambrecht (1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994.) propõe que elas podem ser de quatro tipos: i) pressuposição de conhecimento: referente ao estado de conhecimento que o falante assume que o interlocutor possui no momento da enunciação, a qual geralmente envolve a existência de uma proposição aberta pressuposta em que uma variável x carece de identificação; ii) pressuposição de identificabilidade: relativa à expectativa que o falante tem sobre a capacidade de o ouvinte identificar os referentes apresentados no discurso; iii) pressuposição de consciência: relativa aos estados de ativação temporários que o falante espera que os referentes assumam na mente do ouvinte; e iv) pressuposição de topicalidade: relativa ao status dos referentes tidos pelo falante como tópicos de interesse atual na conversação. Como será visto mais abaixo, os tipos de pressuposição contidos em (ii), (iii) e (iv) estão diretamente correlacionados com as demais dimensões da EI a serem descritas mais abaixo.

Representação mental dos referentes

Se na dimensão proposicional, o olhar se volta para o estado de conhecimento do falante em relação às proposições, na dimensão da representação mental dos referentes do discurso o que importa é a identificabilidade, ou seja, as expectativas do falante em relação a em que medida o interlocutor é capaz de identificar dado referente no contexto comunicativo.

Com isso em vista, Lambrecht (1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994.) sugere que a distinção entre referentes identificáveis e não identificáveis está conceptualmente relacionada à distinção entre proposições pragmaticamente construídas como pressuposições ou asserções. Como foi visto acima, pressuposições são aquelas para as quais se assume que falante e ouvinte possuem uma representação no momento da enunciação, ao passo que asserções são aquelas para as quais se espera que somente o falante tenha uma representação. Em se tratando de identificabilidade, um referente tido como identificável é aquele para o qual tanto o falante como o ouvinte possuem uma representação, ao passo que um referente não identificável é aquele para o qual somente o falante possui uma representação.

Quando o referente é não identificado, o falante precisa criar uma representação para o ouvinte via expressão lexical indefinida. Quando o referente é tido como identificável, seu status pode variar de acordo com o estado de consciência ou de ativação presumido do interlocutor. Os três estados de ativação propostos por Chafe (1987CHAFE, Wallace. Cognitive constraints on information flow. In: TOMLIN, Russell. Coherence and grounding in discours: typological studies in language. Vol XI. Amsterdam: John Benjamins, 1987. p. 21-52. ) e adotados por Lambrecht (1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994.) para os referentes são os seguintes:

  • ativado: se estiver “aceso” (lit up) no foco de consciência dos interlocutores no momento da enunciação. Seu estado de ativação cessa, logo que um novo referente assume o foco de consciência dos interlocutores. A esse tipo de referente é comum, por exemplo, a referência pronominal.

  • acessível ou semiativado: um referente é considerado acessível ou semiativado em três situações: a) se seu estado de ativação tiver sido reduzido em relação ao estado ativo anterior (caso em que se denomina textualmente acessível); b) se seu estado de ativação tiver aumentado em relação ao estado inativo por pertencer a um conjunto de expectativas associadas a um esquema ou a um frame (caso em que pode ser denominado inferível); c) se seu estado de ativação tiver sido aumentado em relação ao estado inativo, dada sua presença saliente no mundo exterior (caso em que se classifica como situacionalmente acessível);

  • inativo: um referente é considerado inativo quando só está armazenado na memória de longo prazo dos interlocutores, ou seja, se não tiver sido ativado por nada dito antes no contexto da enunciação, se não pertence a um conjunto de expectativas associadas a um esquema ou frame ativado, ou, ainda, se não está saliente no mundo exterior.

Considerando, portanto, as categorias cognitivas de identificabilidade e ativação, Lambrecht (1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994.) fornece uma proposta amalgamada para a taxonomia da representação dos referentes. Nessa proposta, a identificabilidade é superordenada e diz respeito às expectativas do falante em relação ao nível de conhecimento do ouvinte sobre dado referente, correlacionando-se com a noção de pressuposição de identificabilidade apresentada acima.

No plano da codificação léxico-gramatical, quando os referentes são tidos como não identificáveis para o ouvinte, eles tendem a exibir proeminência prosódica e, em línguas que possuem a categoria gramatical de artigo, podem ser codificados como indefinidos (um rapaz, um ônibus etc.), caracterizados como novos em folha não ancorados7 7 Unanchored brand-new, assumindo a nomenclatura de Prince (1981). . Podem, ainda, ser codificados por meio da combinação de sintagmas definidos e indefinidos (um rapaz com quem trabalho, um amigo da minha mãe etc.), caso em que são caracterizados como novos em folha ancorados8 8 Anchored brand-new, ainda segundo Prince (1981) .

Uma vez que os referentes são tidos, pelo falante, como identificáveis para o ouvinte, eles devem estar necessariamente em um dos três estados de ativação mencionados, o que se relaciona diretamente à noção de pressuposição de consciência. No plano léxico-gramatical, referentes ativados tendem a ser codificados por expressões não acentuadas (pronomes, clíticos, flexões, elementos nulos), mas podem ocorrer também, ainda que não prototipicamente, como expressões lexicais definidas ou indefinidas (sempre não acentuadas). Já referentes identificáveis tidos como inativos geralmente apresentam proeminência prosódica e tendem a ser codificados por SNs lexicais definidos, ao menos em inglês, segundo Lambrecht (1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994., cap. 3). No caso de referentes tidos como acessíveis, Lambrecht (1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994.) argumenta que não há correlatos fonológicos ou morfológicos diretos, de modo que podem ser codificados tanto como ativados, quanto como inativos, ainda que haja correlatos indiretos do ponto de vista sintático, como aponta Chafe (1987CHAFE, Wallace. Cognitive constraints on information flow. In: TOMLIN, Russell. Coherence and grounding in discours: typological studies in language. Vol XI. Amsterdam: John Benjamins, 1987. p. 21-52. ) quando argumenta que a maioria dos sujeitos tende a codificar referentes ativados ou semi-ativados, mas não referentes inativos.

Tópico e foco

Por fim, a terceira dimensão - que relaciona referentes e proposições - inclui as categorias de tópico e foco. Em Gramática de Construções, a categoria de tópico é tida com base na relação de aboutness entre um referente e a proposição na qual se insere. A noção de aboutness é emprestada de Strawson (1964STRAWSON, P. F. Identifying reference and truth-values. Theoria, v. 30, n. 2, p. 96-118, 1964.), para quem o tópico é visto como a questão de interesse sobre a qual trata uma declaração. Para Lambrecht (1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994.), essa definição, em certo modo tida como vaga, explica a dificuldade eventual que se tem em determinar o tópico de uma sentença, em línguas que carecem de uma marca ou ordem formal específica indicadora de topicalidade, como é o caso de línguas como inglês e português.

A categoria de foco, por sua vez, em Gramática de Construções, é definida como o componente semântico de uma proposição através do qual a asserção difere da pressuposição9 9 Tradução própria. No original: The semantic component of a pragmatically structured proposition whereby the assertion differs from the presupposition (LAMBRECHT, 1994, p. 213) . Considerando-se a definição proposta por Lambrecht (1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994.), é possível concluir que o foco consiste no elemento principal da asserção e, nesse sentido, o ponto de concentração do que é tido como informação nova.

Determinar o tópico e o foco de uma sentença requer que o contexto discursivo em que ela se insere seja considerado. Em uma frase do tipo The children went to school (As crianças foram para a escola), por exemplo, a depender de como o contexto se configura, Lambrecht (1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994.) mostra que a mesma sentença pode apresentar configurações pragmáticas distintas quanto à codificação tópica e focal da sentença. Observem-se os exemplos abaixo:

(2.a) (What did the children do next?) The children went to SCHOOL.

(2.b) (Who went to school?) The CHILDREN went to school.

(2.c) (What happened?) The CHILDREN went to SCHOOL!

Segundo Lambrecht (1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994.), apenas (2.a) reproduz um exemplo em que o SN the children é construído como o tópico da sentença, pois aqui a sentença se configura de modo a aumentar o conhecimento do interlocutor sobre as crianças. O que se vê em (2.a) é uma estrutura em que a configuração sintática do tipo sujeito-predicado, com proeminência prosódica recaindo em SCHOOL (em caixa alta), corresponde à configuração pragmática do tipo tópico-comentário ou uma estrutura de foco no predicado. Nela o tópico é codificado por meio do SN the children, com função sintática de sujeito, e o comentário é expresso como predicado da sentença, organizado pragmaticamente como o foco. Em (2.b), a sentença se organiza de modo que o sujeito da oração, the CHILDREN codifica o foco da sentença, identificando uma variável em uma proposição aberta pressuposta do tipo ‘x went to school’ e, dessa vez, a proeminência prosódica recai justamente no sujeito. Tem-se aqui uma configuração pragmática do tipo foco-pressuposição, ou de foco argumental. Em (2.c), observa-se a organização pragmática da sentença de tal modo que ela como um todo se encontra sob o escopo da asserção, carecendo, portanto, de qualquer tipo de pressuposição. De acordo com Lambrecht (1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994.), sentenças desse tipo tendem a apresentar mais de um ponto de proeminência prosódica na sentença, que, no exemplo em questão, são CHILDREN e SCHOOL, configurando-se assim uma estrutura de foco sentencial.

O que se observa nos exemplos (2.a-c) é a mesma cadeia sintática com contornos melódicos distintos, codificando relações semânticas equivalentes, porém com configurações pragmáticas distintas. Na trilha dos estudiosos de Praga10 10 Tome-se Danes (1966) como um exemplo proeminente. , sentenças desse tipo são analisadas por Lambrecht (1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994.) como alosentenças, ou seja, sentenças semanticamente equivalentes, porém com configurações formais e conteúdos pragmáticos distintos. Esse tipo de análise é caro à GC, uma vez que se acomoda particularmente em um de seus princípios funcionais amplamente defendidos na literatura, a saber, o da não-sinonímia, segundo o qual diferenças formais implicam necessariamente em diferenças no polo semântico ou pragmático (cf. GOLDBERG 1995GOLDBERG, Adele E. Constructions: a construction grammar approach to argument structure. Chicago: Chicago University Press, 1995., p. 68).

Outros tipos de alosentenças envolvem frases com ordem de constituintes distintas, além de construções de deslocamento à esquerda, topicalização, clivadas de diversos tipos, todas elas correlacionadas com algum tipo de especificação pragmática relativa à estrutura informacional da sentença. Sobre esses tipos de construção, um vasto conjunto de material bibliográfico foi produzido11 11 Um panorama sobre construções de estrutura da informação pode ser visto em Hilpert (2014). . Contudo, em GC, tem-se observado amplamente a descrição de construções desse tipo pelo prisma de sentenças declarativas, com poucas exceções. Uma dessas exceções pode ser conferida no trabalho de Michaelis e Lambrecht (1996MICHAELIS, Laura A.; LAMBRECHT, Knud. Toward a construction-based theory of language function: the case of nominal extraposition. Language, v. 72, n. 2, p. 215-247, 1996. ), objeto da próxima subseção.

Estrutura da informação em tipos sentenciais não declarativos

Em um texto de 1996, Michaelis e Lambrecht (1996MICHAELIS, Laura A.; LAMBRECHT, Knud. Toward a construction-based theory of language function: the case of nominal extraposition. Language, v. 72, n. 2, p. 215-247, 1996. ) dedicam-se ao estudo da construção de extraposição nominal em inglês. Esse tipo de construção envolve a correferência entre um SN pós-verbal e um sujeito pronominal em início de sentença, como ocorre na construção de deslocamento à direita, porém na forma de uma sentença exclamativa, como demonstra a última linha do exemplo (3) abaixo:

(3) [Inglês - Michaelis e Lambrecht, 1996MICHAELIS, Laura A.; LAMBRECHT, Knud. Toward a construction-based theory of language function: the case of nominal extraposition. Language, v. 72, n. 2, p. 215-247, 1996. , p. 232]

A(1): Where’s Buttsy? B: He’s slipped in to see Senator What’s-His-Face.

A(2): It’s AMAZING the ACCESS he’s got!

Para analisar a sentença contida em 3.A(2), Michaelis e Lambrecht (1996MICHAELIS, Laura A.; LAMBRECHT, Knud. Toward a construction-based theory of language function: the case of nominal extraposition. Language, v. 72, n. 2, p. 215-247, 1996. ) argumentam que, do ponto de vista pragmático, a construção de extraposição nominal exibe uma restrição de estrutura informacional, que requer que o SN extraposto denote um referente que não esteja ainda ativo, mas que seja acessível a partir do tópico discursivo. Em 3.A(2) conhecer senadores envolve acesso a esses senadores.

Segundo os pesquisadores, essa restrição se manifesta, no plano da forma, não somente prosodicamente, mas também através da definitude. Assim, uma sentença como It’s amazing the difference! seria totalmente aceitável, ao passo que a troca do artigo definido por um indefinido (It’s amazing *a difference!) seria inaceitável, o que se explica, por razões cognitivas. Não se pode comunicar ao interlocutor a surpresa em relação a algo, a não ser que o interlocutor tenha algum tipo de conhecimento anterior a respeito, caso contrário, é melhor utilizar uma sentença apresentativa com there do tipo There is an amazing difference!

Além das questões postas acima para a construção de extraposição nominal, Michaelis e Lambrecht (1996MICHAELIS, Laura A.; LAMBRECHT, Knud. Toward a construction-based theory of language function: the case of nominal extraposition. Language, v. 72, n. 2, p. 215-247, 1996. ) também diferenciam a construção em pauta da construção de deslocamento à direita, já citada, considerando o prisma pragmático, no que se refere à estrutura informacional. Enquanto a construção de deslocamento à direita codifica o SN deslocado à direita como o tópico da sentença, em uma configuração do tipo comentário-tópico, os autores concluem que, na construção de extraposição nominal, o SN extraposto figura como foco, o qual incide sobre a sentença inteira, configurando-se assim uma estrutura de foco sentencial.

A abordagem para a estrutura da informação apresentada nesta seção busca apresentar primeiramente uma definição conceitual para categorias como pressuposição e asserção pragmáticas, identificabilidade e ativação, tópico e foco e como sua representação mental se combina com a codificação formal da sentença. Nesse sentido, acredita-se que a GC oferece um ferramental adequado para lidar não somente com sentenças do tipo declarativo, mas também com outros tipos sentenciais, incluindo-se aqui não somente as exclamativas, como mostrado por Michaelis e Lambrecht (1996MICHAELIS, Laura A.; LAMBRECHT, Knud. Toward a construction-based theory of language function: the case of nominal extraposition. Language, v. 72, n. 2, p. 215-247, 1996. ), mas também as interrogativas, como será explorado na seção “Construções interrogativas e estrutura da informação” deste artigo.

Para dar início a uma investigação preliminar da estrutura informacional de sentenças interrogativas polares, é importante, antes de tudo, que se chegue a um entendimento comum sobre as possibilidades de codificação desse tipo sentencial em línguas naturais, razão pela qual uma breve tipologia das interrogativas polares será apresentada na próxima seção.

Interrogativas polares em línguas naturais e aspectos metodológicos

Questionar parece ser uma atividade humana essencial e não é à toa que os estudiosos observam tipos sentenciais desenvolvidos especificamente para codificar essa atividade em muitas línguas. Dos tipos de sentença geralmente identificados nas línguas naturais, as interrogativas consistem em mecanismos desenvolvidos prototipicamente de modo a requerer informação entre os interlocutores12 12 De forma não prototípica, é possível observar interrogativas, cuja função não é obter uma resposta do interlocutor (cf. CHISHOLM et al., 1984) . Segundo Siemund (2001SIEMUND, Peter. Interrogative constructions. In: HASPELMATH, Martin; KÖNIG, Ekkehard; OESTERREICHER, Wulf; RAIBLE, Wolfgang. (eds.). Language Typology and Language Universals. Berlin: Walter de Gruyter, 2001. p. 1010-1028.), dependendo do tipo de informação buscada, as línguas naturais tendem a diferenciar ao menos três tipos de interrogativas: i) as polares ou sim-não; ii) as de conteúdo ou interrogativas QU; e iii) as alternativas13 13 Para uma tipologia detalhada sobre a categoria de interrogativas, conferir Chisholm et al. (1984), Sadock e Zwicky (1985), Siemund (2001) e König e Siemund (2007). . Esta seção se restringe às interrogativas polares, apresentando um breve panorama desse tipo de construção em línguas naturais, para que na seção seguinte seja possível desenvolver o raciocínio sobre a relação entre interrogativas e estrutura informacional em perspectiva construcionista.

König e Siemund (2007KÖNIG, Ekkehard; SIEMUND, Peter. Speech act distinctions in grammar. In: SHOPEN, Timothy. Language typology and syntactic description. Volume I: Clause Structure. 2. ed. Cambridge: Cambridge University Press, 1985. p. 155-196.) mostram que, no que diz respeito às interrogativas polares, é possível identificar, entre as línguas, ao menos seis modos de expressão, que envolvem as estratégias enumeradas e exemplificadas abaixo. Algumas línguas podem exibir mais de uma das estratégias interrogativas apresentadas abaixo.

a) marcação de um padrão entoacional específico: se nas declarativas o padrão entoacional tende a ser descendente nas mais diversas línguas documentadas, nas interrogativas ele tende a ser ascendente, com poucas exceções atestadas14 14 Segundo König e Siemund (2007, p. 292), casos de entonação ascendente em declarativas e descendente em interrogativas podem ocorrer, porém, são considerados raros. Os autores mencionam as línguas fante (Niger-Congo, Kwa) e grebo (Niger-Congo, Kru). . Os dados abaixo, do russo e do português respectivamente, ilustram o contorno entoacional de interrogativas, com a respectiva notação.

(4) [Russo - Odé, 2008ODÉ, C. Transcription of russian intonation, tori, an interactive research tool and learning module on the internet. In: Dutch Contributions to the Fourteenth International Congress of Slavists: Ohrid: Linguistics (SSGL 34). Amsterdam/New York: Rodopi, 2008. p. 431-449., p. 438]15 15 Abreviações da glosa utilizada neste artigo: 1: primeira pessoa; 2: segunda pessoa; 3: terceira pessoa; S: singular; F: feminino; TOP: tópico; INT: partícula interrogativa; LOC: locativo; NEG: negativo; PASSIV: passiva; CL: classificador; ANIM: animado; PRES: presente; VIS: evidencial visual; REM: remoto; PST: passado; NONVIS: evidencial não visual; PL: plura; DAT: dativo; GEN: genitivo; ENF: ênfase; IND: indefinido;

H*+L L%

On-a pried-et na kaníkuly

3S-F vir-3S para férias

‘Ela virá para as férias?’

(5) [Português - Moraes, 2006MORAES, João Antônio. Melodic contours of yes/no questions in Brazilian Portuguese. ExLing 2006: Proceedings of 1st Tutorial and Research Workshop on Experimental Linguistics, Athens, Greece, 2006. p. 117-120., p.118]

L+H* L+H* L%

Os garotos se esforçam?

Em (4) tem-se um exemplo do russo, em que é possível observar um onset de tom ascendente, seguido de um tom baixo, na sílaba tônica do último elemento sentencial, conforme mostra Odé. Em português, dentre os padrões de perguntas possíveis, tem-se o exemplo (5), associado a um padrão neutro de interrogativa polar, considerado não marcado e caracterizado, segundo Moraes (2006MORAES, João Antônio. Melodic contours of yes/no questions in Brazilian Portuguese. ExLing 2006: Proceedings of 1st Tutorial and Research Workshop on Experimental Linguistics, Athens, Greece, 2006. p. 117-120.), por um onset de tom médio, seguido de um tom alto sobre a sílaba tônica acentuada em posição final na sentença.

b) partículas interrogativas: diversas línguas apresentam partículas interrogativas com considerável variação tipológica no que tange à sua localização na sentença. Em algumas línguas, o escopo da partícula incide sobre a sentença inteira, como é possível ver em um exemplo do japonês:

(6) [Japonês - Hinds (1984, p. 158, apud KÖNIG e SIEMUND, 2007, p.294)

Yamada-san wa ginkoo de hataraite-imasu ka?

Yamada-Mr TOP banco em trabalhando INT

‘O Senhor Yamada trabalha em um banco?’

Em outras línguas, o escopo da partícula parece incidir mais propriamente sobre um dos elementos da sentença e, nesse caso, os tipologistas costumam propor que a partícula funciona como uma espécie de clítico. Em russo, por exemplo, quando é utilizada a partícula interrogativa li, ela ocorre regularmente em segunda posição, com escopo sobre o primeiro constituinte da sentença, como mostra o exemplo (8) e como será visto com mais detalhes na próxima seção.

(7) [Russo - Corpus Nacional da Língua Russa - debate - 2016] Suŝestvu-et li segodnja v Rossi-i realʹnaja političeskaja oppozicija? Existir-3S INT hoje em Russia-LOC real política oposição ‘Existe na Rússia hoje uma oposição política real?’

c) marcas interrogativas especiais (tags): segundo König e Siemund (2007), marcas interrogativas guardam alguma similaridade em relação às partículas, com o diferencial de que as primeiras geralmente adicionam conteúdo, levantando expectativas em relação à resposta positiva ou negativa. Os autores apresentam um exemplo do próprio inglês para ilustrar esse tipo de sentença:

(8) [Inglês - König e Siemund, 2007, p.296]

a. You like ice-cream, don’t you?

b. You don’t like ice-cream, do you?

d) estruturas disjuntivas: os tipologistas têm identificado em algumas línguas um tipo específico de construção interrogativa polar que faz uso de um esquema do tipo A-não-A, como se observa em chinês, em (9), havendo a possibilidade de o material idêntico no sintagma verbal ser omitido, como em (10) e (11), de acordo com Li e Thompson (1984LI, Charles; THOMPSON, Sandra. Mandarin. In: CHISHOLM, William; MILIC, Louis; GREPPIN, John. Interrogativity: A Colloquium on the grammar, typology and pragmatics of questions in seven diverse languages. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company , 1984. p. 47-62., p.53):

(9) [Chinês - Li e Thompson 1984LI, Charles; THOMPSON, Sandra. Mandarin. In: CHISHOLM, William; MILIC, Louis; GREPPIN, John. Interrogativity: A Colloquium on the grammar, typology and pragmatics of questions in seven diverse languages. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company , 1984. p. 47-62., p. 53]

tā zài jiā bu zài jiā?

3S em casa NEG em casa

‘Ele está em casa?’

(10) [Chinês - Li e Thompson 1984LI, Charles; THOMPSON, Sandra. Mandarin. In: CHISHOLM, William; MILIC, Louis; GREPPIN, John. Interrogativity: A Colloquium on the grammar, typology and pragmatics of questions in seven diverse languages. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company , 1984. p. 47-62., p. 53]

tā zài bu zài jiā?

3SG em NEG em casa

‘Ele está em casa?’

(11) [Chinês - Li e Thompson 1984LI, Charles; THOMPSON, Sandra. Mandarin. In: CHISHOLM, William; MILIC, Louis; GREPPIN, John. Interrogativity: A Colloquium on the grammar, typology and pragmatics of questions in seven diverse languages. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company , 1984. p. 47-62., p. 53]

tā zài jiā bu zài?

3SG em casa NEG em

‘Ele está em casa?’

e) mudança na ordem de constituintes: considerado raro nas línguas naturais, manifesta-se no grupo germânico das línguas indoeuropeias, como demonstram os exemplos extraídos de König e Siemund (2007), para quem a estratégia mais comum de modificação da ordem para expressar interrogativas é por o verbo finito em posição inicial na sentença.

(12) [Sueco - König e Siemund, 2007, p. 298]

a. Lars läser tidningen.

Lars lê o.jornal

‘Lars está lendo o jornal’

b. Läser Lars tidningen?

lê Lars o.jornal

‘Lars está lendo o jornal?’

f) flexão verbal específica: algumas línguas exibem marcas verbais específicas para sentenças interrogativas e declarativas. É o caso, por exemplo, da língua tariana, da família arawak, falada no noroeste da região amazônica do Brasil. Segundo Aikhenvald (2020AIKHENVALD, A. Y. Questions in Tariana (Arawak family, northwestern Amazonia, Brazil). 16 September 2020, LCRC Workshop on Questions. Disponível em: Disponível em: https://www.jcu.edu.au/__data/assets/pdf_file/0018/1228221/Questions-in-Tariana-2020.pdf . Acesso em: 29 set. 2021.
https://www.jcu.edu.au/__data/assets/pdf...
), tariana exibe marcadores de tempo e evidencialidade, obrigatórios em sentenças interrogativas polares, que contrastam com marcadores de tempo e evidencialidade em sentenças declarativas.

(13) [Tariana - Aikhenvald 2020AIKHENVALD, A. Y. Questions in Tariana (Arawak family, northwestern Amazonia, Brazil). 16 September 2020, LCRC Workshop on Questions. Disponível em: Disponível em: https://www.jcu.edu.au/__data/assets/pdf_file/0018/1228221/Questions-in-Tariana-2020.pdf . Acesso em: 29 set. 2021.
https://www.jcu.edu.au/__data/assets/pdf...
, p. 4]

a. pi- yeka- nite alia=nha? (interrogativa)

2S-conhecer-’PASSIV’+CL:ANIM existir=PRES.VIS.INT ‘Há alguém conhecido? Lit. Há (alguém) conhecido para você’ (em uma aldeia onde vamos ter de passar a noite)

b. alia=na (resposta)

existir-REM.PST.VIS

‘Há’ (Da última vez que estive lá eu os vi)

c. pi- na =mha litena? (interrogativa)

2S-querer=PRES.NONVIS.INT mais

‘Você quer mais?’

d. nu-na =mha tuki (resposta)

1S-querer=PRES.NONVIS um.pouco

‘(Sim), eu quero um pouco’

Ainda que as estratégias utilizadas para codificar interrogativas polares nas línguas sejam variadas, é possível identificar uma função comum entre elas, qual seja, a de elicitar a confirmação ou a refutação, por parte do interlocutor, em relação à proposição evocada na sentença. No nível proposicional, diferentemente das declarativas, que envolvem a codificação de uma proposição que é afirmada, a proposição evocada por interrogativas polares requer a confirmação ou refutação da proposição por parte do interlocutor. Se nas declarativas, a sentença é prototipicamente codificada de modo a fornecer informação ao interlocutor, nas interrogativas, ela é prototipicamente codificada de modo a obter informação do interlocutor. Isso não quer dizer que ao produzir uma sentença interrogativa, o falante não esteja induzindo uma mudança no estado de conhecimento do interlocutor, adicionando uma proposição. Nesse caso a asserção pragmática deve ser compreendida não como uma proposição que é afirmada, mas como uma proposição que expressa algum tipo de dúvida por parte do falante ou, nas palavras de Davies (2006DAVIES, Eirian. Speaking, telling and assertion. Interrogatives and mood in English. Functions of Language, v. 13, n. 2, p. 151-196, 2006.), uma espécie de meio do caminho entre uma sentença declarativa com polaridade positiva e uma com polaridade negativa.

Nesse sentido, a proposição como representação mental que o falante tem compartilhada com o ouvinte somente depois de este ter ouvido a sentença é manifestada como uma possibilidade, com força ilocucionária específica, requerendo do ouvinte uma confirmação ou refutação. Assim, apesar de declarativas e interrogativas diferirem na forma com a qual a proposição é apresentada, elas não diferem necessariamente na organização sentencial em pressuposição e asserção, em termos lambrechtianos. A proposição evocada pela sentença interrogativa ainda assim consiste em uma relação entre estados da mente e estruturas sentenciais. Por essa razão, defende-se aqui que os conceitos de pressuposição e asserção pragmática tal como apresentados na seção “Gramática de Construções e Estrutura Informacional da Sentença” deste artigo podem ser utilizados também para sentenças do tipo interrogativo.

Para desenvolver a análise preliminar a ser apresentada na próxima seção, foram analisados dados de situações reais de comunicação do russo, extraídos da seção multimídia do Corpus Nacional da Língua Russa, disponível em https://ruscorpora.ru/new/search-murco.html. A seção multimídia conta com um conjunto de 1.098 documentos, todos em formato de vídeo, anotados para aspectos morfossintáticos e com suas respectivas transcrições também disponíveis, perfazendo um total de 5.114.560 palavras.

Dos padrões de codificação das interrogativas polares, mencionados acima, a língua russa exibe ao menos três (o que se vale exclusivamente de recursos prosódicos, o que recorre ao uso de partículas interrogativas e o que utiliza tags interrogativas), mas para a discussão empreendida neste artigo, foi utilizado apenas o padrão com a partícula interrogativa li, já exemplificado em (7) acima e que será descrito com maiores detalhes na seção seguinte deste artigo.

Para realizar a busca de dados no corpus, foram considerados gêneros que propiciassem a formulação de perguntas “sinceras”, ou seja, perguntas que de fato visam a elicitação de uma resposta positiva ou negativa quanto à proposição evocada. Os gêneros selecionados incluem debates e entrevistas no rádio e na televisão, seções de perguntas e respostas em seminários acadêmicos e entrevistas sociolinguísticas. A busca no corpus foi feita através da já mencionada partícula li, que pode ocorrer em sentenças simples ou encaixadas, e em combinação com lexemas específicos em expressões idiomáticas. Para os fins deste trabalho, foram utilizadas apenas interrogativas simples. Após a filtragem dos dados, a busca retornou 113 exemplos, que foram utilizados para a análise qualitativa, desenvolvida abaixo, na próxima seção.

Construções interrogativas e estrutura da informação

Esta seção debruça-se sobre a construção interrogativa polar com a partícula li em russo, analisando sua estrutura informacional, mais especificamente quanto à sua estrutura focal. A construção com li foi escolhida, dado o seu caráter marcado em relação à interrogativa polar padrão, que usa recursos exclusivamente prosódicos. Sendo o elemento marcado na classe de interrogativas polares, é possível que aspectos de sua estrutura informacional estejam mais salientes para o pesquisador, facilitando assim uma análise preliminar do fenômeno nesse tipo sentencial.

Do ponto de vista formal, a construção interrogativa com li pode ser descrita conforme o padrão sequencial [X li Y], em que, o elemento X, em primeira posição, funciona como o escopo da interrogação, admitindo elementos de natureza diversificada, ainda que a frequência de ocorrência de verbos seja nitidamente superior em relação às demais possibilidades, como já descrito na literatura (cf. Comrie, 1984COMRIE, Bernard. Russian. In: CHISHOLM, William; MILIC, Louis; GREPPIN, John. Interrogativity: a colloquium on the grammar, typology and pragmatics of questions in seven diverse languages. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 1984, p. 7-46. , Timberlake 2004TIMBERLAKE, Alan. A reference grammar of Russian. Cambridge: Cambridge University Press , 2004. ). Em seguida, observa-se, em segunda posição na sentença, a partícula interrogativa li, descrita como um clítico interrogativo. Por fim, tem-se o elemento Y, que codifica os demais elementos da sentença, os quais também podem ser de natureza diversa. Os exemplos abaixo ilustram instâncias do padrão analisado.

(14) [Corpus Nacional da Língua Russa - Programa de televisão - Entrevista]

[...] uspe-ete li postroitʹ stadion k čempionatu mira?

conseguir-2PL INT construir estádio para campeonato mundo

‘O senhor vai conseguir construir o estádio para a copa do mundo?’

(15) [Corpus Nacional da Língua Russa - Aula gravada - 2013]

I eŝë odin vopros vdogonku/ u každogo li est’ duša?

e mais um pergunta no encalço em todo INT haver alma

E mais uma pergunta em seguida/ Todos tem alma?

Em (14), verifica-se o verbo uspet’ na posição X e, seguindo a partícula li na posição Y, têm-se os demais elementos da sentença, a saber postroit’ stadion k čempionatu mira, que funciona como complemento do verbo uspet’, em primeira posição. Em (15), o sintagma preposicionado u každogo ocupa a posição X, seguido pela partícula li. Na posição Y ocorrem os demais elementos da sentença, codificados na forma do predicado est’ duša. Em ambos os casos, o escopo da interrogação reside no elemento X: em (14), o falante indaga se o interlocutor vai conseguir construir o estádio para o período da copa do mundo e em (15) indaga se é todo mundo que tem uma alma.

Do ponto de vista pragmático, postulam-se alguns contextos para o uso da construção interrogativa com li. Para Comrie (1984COMRIE, Bernard. Russian. In: CHISHOLM, William; MILIC, Louis; GREPPIN, John. Interrogativity: a colloquium on the grammar, typology and pragmatics of questions in seven diverse languages. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 1984, p. 7-46. ), interrogativas desse tipo sempre veiculam um elemento de incredulidade. Segundo Kovtunova (1980KOVTUNOVA, I. Voprositel’nye predlozhenia. In: SHVEDOVA, N. (ed.). Russkaya Grammatika. Moskva: Nauka, 1980. p. 386-401.), no entanto, a incredulidade em relação ao que é dito não é obrigatória, ainda que observável em alguns contextos. Timberlake (2004TIMBERLAKE, Alan. A reference grammar of Russian. Cambridge: Cambridge University Press , 2004. ) afirma, ainda, que o uso da construção com li é mais característica da língua escrita ou de variantes formais do discurso oral.

Outro ponto discutido refere-se ao elemento focal da sentença. Comrie (1984COMRIE, Bernard. Russian. In: CHISHOLM, William; MILIC, Louis; GREPPIN, John. Interrogativity: a colloquium on the grammar, typology and pragmatics of questions in seven diverse languages. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 1984, p. 7-46. ) e King (1995KING, Tracy Holloway. Configuring topic and focus in Russian. Stanford: CSLI Publications, 1995.) defendem que elementos que ocupam a posição X encontram-se em foco, com o que é fácil concordar, já que o escopo da interrogação recai sobre o elemento X. Os exemplos abaixo, apresentados por King (1995KING, Tracy Holloway. Configuring topic and focus in Russian. Stanford: CSLI Publications, 1995.), ilustram o ponto em questão.

(16) [King, 1995KING, Tracy Holloway. Configuring topic and focus in Russian. Stanford: CSLI Publications, 1995., p. 137]

[Knigu] li Anna pročitala?

livro INT Anna ler

Anna leu [um livro-foco]? (Foi um livro que a Anna leu? - não uma revista)

(17) [King, 1995KING, Tracy Holloway. Configuring topic and focus in Russian. Stanford: CSLI Publications, 1995., p. 137]

Pročitala li Anna knigu?

ler INT Anna livro

Ana leu o livro?

Os exemplos fornecidos por King (1995KING, Tracy Holloway. Configuring topic and focus in Russian. Stanford: CSLI Publications, 1995.) parecem identificar o foco exclusivamente através da codificação formal da sentença. No que se refere ao exemplo (16), King (1995KING, Tracy Holloway. Configuring topic and focus in Russian. Stanford: CSLI Publications, 1995.) limita-se a dizer que o material em posição anterior à partícula encontra-se em foco, ao passo que o material posterior à partícula li codifica informação pressuposta. No que se refere ao exemplo (17), a autora ressalta que, como é o verbo que ocorre em posição anterior a li, é a oração inteira que está sendo questionada.

Como já dito na seção 2 deste artigo, a GC postula ao menos três tipos configuração pragmática da sentenças, no que tange à estrutura focal das sentenças de línguas naturais: a que organiza a sentença em um tipo de estrutura tópico-comentário, que pode ser entendida como a estrutura de foco predicativo, tida como não marcada nas línguas do mundo; a que organiza a sentença de modo que apenas um de seus argumentos se encontra em foco, caso em que se tem uma estrutura de foco argumental, e por fim, o tipo em que a sentença como um todo se iguala ao foco, de modo que se tem uma estrutura de foco sentencial. Tomando-se essa perspectiva de análise, uma questão que se coloca é se a construção com li exibe algum tipo específico de estrutura focal.

Segundo a interpretação sugerida por King (1995KING, Tracy Holloway. Configuring topic and focus in Russian. Stanford: CSLI Publications, 1995.), a construção com li poderia se organizar, no que tange à estrutura informacional, ao menos de duas maneiras distintas. Quando apenas um argumento da sentença está focalizado, a sentença interrogativa parece se organizar como uma proposição aberta pressuposta, em que o elemento presente na posição X identifica uma variável, como se observa nos exemplos (15) e (16) acima, o que parece uma interpretação contundente. Tem-se aqui, portanto, uma a estrutura de foco argumental. No entanto, quando o verbo ocupa a primeira posição, não fica claro, a partir da interpretação de King (1995KING, Tracy Holloway. Configuring topic and focus in Russian. Stanford: CSLI Publications, 1995.), qual tipo de estrutura focal se configura na sentença, se uma estrutura de foco no predicado ou se uma estrutura de foco sentencial, pois a autora não parece fazer diferença entre os dois tipos de configuração focal.

Dos 113 dados reais de comunicação utilizados para a análise qualitativa empreendida aqui, apenas 14 exibiram algum argumento na posição de X (na forma de SN, Sprep ou SAdv), configurando claramente uma estrutura de foco argumental. Uma análise quantitativa, que considere um banco de dados maior, em momento futuro, poderá indicar se esse tipo de estrutura focal é frequente ou não na construção em pauta.

Por outro lado, a maior parte dos dados encontrados na presente análise exibe o verbo na posição X, em consonância com a descrição amplamente observada na literatura. No que diz respeito a esse tipo de configuração, pode-se, portanto, levantar um questionamento: quando o verbo se encontra em primeira posição, com a configuração [VERBO + LI + Y], que estrutura de foco se observa na sentença, foco no predicado ou foco sentencial?

Para responder a essa questão, consideram-se as definições para as estruturas de foco no predicado e de foco sentencial, propostas por Lambrecht (2000LAMBRECHT, Knud. When Subjects Behave Like Objects: An analysis of the merging of S and O in sentence focus constructions across languages. Studies in Language, v. 24, n. 3, p. 611-682, 2000.):

CONSTRUÇÃO DE FOCO NO PREDICADO: Construção sentencial que expressa uma proposição pragmaticamente estruturada, na qual o sujeito é o tópico (portanto, dentro da pressuposição) e na qual o predicado expressa informação nova sobre esse tópico). O domínio de foco é o predicado (ou parte dele) (LAMBRECHT, 2000LAMBRECHT, Knud. When Subjects Behave Like Objects: An analysis of the merging of S and O in sentence focus constructions across languages. Studies in Language, v. 24, n. 3, p. 611-682, 2000., p. 615).16

CONSTRUÇÃO DE FOCO SENTENCIAL: Construção sentencial formalmente marcada como expressando uma proposição pragmaticamente estruturada em que tanto o sujeito como o predicado estão em foco. O domínio focal é a sentença menos qualquer argumento tópico não sujeito (LAMBRECHT, 2000LAMBRECHT, Knud. When Subjects Behave Like Objects: An analysis of the merging of S and O in sentence focus constructions across languages. Studies in Language, v. 24, n. 3, p. 611-682, 2000., p. 617)17.

Diante da análise das estruturas de foco, Lambrecht (2000LAMBRECHT, Knud. When Subjects Behave Like Objects: An analysis of the merging of S and O in sentence focus constructions across languages. Studies in Language, v. 24, n. 3, p. 611-682, 2000.) sugere, ainda, três princípios básicos, a saber: 1) o princípio do contraste paradigmático, segundo o qual as construções de foco no predicado e sentencial precisam ser minimamente distintas do ponto de vista formal; 2) o princípio da destopicalização, de acordo com o qual a marcação de foco sentencial envolve o cancelamento de marcas prosódicas e morfossintáticas associadas aos sujeitos como expressões tópicas em sentenças com estrutura de foco no predicado e 3) o princípio da neutralização sujeito-objeto, em que os sujeitos de uma construção de foco sentencial tendem a ser gramaticalmente codificados com alguns ou todos os traços prosódicos e/ou morfossintáticos associados a objetos focais em uma construção de foco predicativo correspondente.

Considerando as definições e princípios supramencionados, 10 instâncias aleatórias de uso da construção interrogativa com li, que apresentavam o verbo em primeira posição, foram analisadas, tomando-se como base as dimensões da estrutura informacional propostas por Lambrecht (1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994.) em sua análise construcionista já discutida na seção 2 deste artigo. Identificaram-se os tipos de pressuposição evocados pela sentença (de conhecimento, identificabilidade, consciência e topicalidade), assim como a asserção pragmática e, em seguida, buscou-se observar a extensão do foco na sentença. Se o foco da sentença se estendia por sujeito e predicado, ela era tida como uma instância de estrutura de foco sentencial. Se o foco da sentença se concentrava somente sobre o predicado da sentença, excluindo-se aqui o sujeito, ela era classificada como uma instância de estrutura de foco no predicado. Como critério para identificar a extensão do foco, foi observado se o sujeito da oração assumia dois ou mais traços propostos por Lambrecht (2000LAMBRECHT, Knud. When Subjects Behave Like Objects: An analysis of the merging of S and O in sentence focus constructions across languages. Studies in Language, v. 24, n. 3, p. 611-682, 2000.) como comuns a objetos focais18 18 Esses traços incluem: 1) proeminência prosódica; 2) posição linear específica em relação ao verbo; 3) co-ocorrência com partículas focais; 4) ausência de concordância gramatical com o verbo; 5) marcação de caso não nominativo; 6) status de constituinte único na sequência verbo-objeto restrições de anáfora zero. , já que o princípio de destopicalização do sujeito envolve a atribuição de traços de objeto em foco ao sujeito. Os exemplos (18) e (19) abaixo ilustram a análise empreendida:

(18) [Corpus Nacional da Língua Russa - entrevista sobre buracos negros 2016]

I estʹ li u nih kak-ie-to sostavn-ye čast-i?

e haver INT em 3PL.GEN qual-PL-IND componente-PL parte-PL

‘Eles têm algumas partes componentes?’

Pressuposições:

De conhecimento: -------

De identificabilidade: o interlocutor é capaz de identificar o referente de nih (eles), como se referindo a buracos negros, tópico discursivo.

De consciência: o referente denotado por nih está ativo no momento da enunciação de (18);

De topicalidade: O referente buracos negros é tópico no discurso.

Asserção: U černykh dyr est’ sostavn-ye čast-i? (lit. Nos buracos negros há algumas partes componentes? “Os buracos negros têm algumas partes componentes?)

Foco: U černykh dyr est’ sostavn-ye čast-i? (têm algumas partes componentes?)

(19) [Corpus Nacional da Língua Russa

Tramp / seksist/ […] / èto styd i pozor. Kak že tak? [...]

Trump sexista isso humilhação e vergonha como ENF assim

Mož-et li on ostanovitʹ progress?

poder-3S INT 3S paralisar progresso

Trump é sexista. [...] Isso é uma humilhação e uma vergonha. Como assim? [...] Ele pode paralisar o progresso?

Pressuposições:

De conhecimento: -------

De identificabilidade: o interlocutor é capaz de identificar o referente de on (ele), como se referindo a Trump e é capaz de assumir o referente de progresso como identificável.

De consciência: o referente denotado por nih está ativo no momento da enunciação de (19) e o referente denotado por progresso é inferível do contexto correlacionado à Trump ser sexista e essa ser uma propriedade não progressista;

De topicalidade: O interlocutor consegue identificar o referente Trump como tópico de interesse atual do discurso, sobre o qual será possível fazer um comentário C.

Asserção: C= Mož-et ostanovitʹ progress? (pode paralisar o progresso?)

Foco: Mož-et ostanovitʹ progress? (pode paralisar o progresso?)

No exemplo (18), de um programa de entrevistas em que um entrevistador e um entrevistado conversam sobre buracos negros, a sentença (18) parece não evocar qualquer tipo de pressuposição de conhecimento ou seja, qualquer tipo de proposição tida como dada pelo interlocutor antes de ouvir a sentença enunciada. O único conteúdo que o falante parece assumir como compartilhado entre ele e o ouvinte refere-se à capacidade de o interlocutor identificar o referente do pronome pessoal no caso genitivo nih no sintagma preposicionado u nih e interpretá-lo como ativo como tópico discursivo no contexto geral da conversa, mas não necessariamente como tópico sentencial, já que esse elemento não é codificado como sujeito e nem ocorre em construção de tópico específica. A asserção da sentença, por seu turno, consiste na indagação sobre se os buracos negros possuem algumas partes componentes. Além disso, a sentença é configurada de modo a lançar foco não somente sobre o verbo existencial, que se encontra em primeira posição na sentença, mas também sobre o sujeito que exibe posição linear específica em relação ao verbo, localizando-se ao final da sentença, é não identificável e expresso como indefinido, o que impossibilita o uso de anáforas para se referir ao sujeito, e, além disso, exibe proeminência prosódica, da mesma forma como ocorre com objetos focais. Com isso, adotando-se a proposta de Lambrecht, o foco estende-se tanto pelo sujeito como pelo predicado, no exemplo (18), configurando uma estrutura de foco sentencial.

Diferente configuração se observa no exemplo (19), em que a sentença apresenta um tópico de interesse atual do discurso (Trump), codificado na forma de sujeito, em posição padrão em relação ao verbo, identificável, ativo e, portanto, não proeminente prosodicamente, sobre o qual é possível realizar um comentário C, manifestado na forma de uma pergunta. Nesse sentido, a asserção consiste na identificação desse comentário C, feito sobre o tópico de relevância atual no discurso. Nesse tipo de sentença, o foco se estende somente pelo predicado da sentença, excluindo-se aqui o sujeito, o que configura uma estrutura de foco no predicado.

A análise desenvolvida permite verificar que, quando o verbo se encontra na posição X, a construção pode exibir uma estrutura de foco no predicado ou uma estrutura de foco sentencial a depender de fatores como o contexto e a interação da construção interrogativa com outras construções da língua, do mesmo modo como sentenças declarativas simples, como indicado na seção 2 acima. Em (18), por exemplo, a interação da interrogativa com a construção possessiva locativa, a qual em russo codifica o elemento possuído como sujeito, parece ter impactado na configuração da sentença como uma estrutura de foco sentencial, pois se sabe que em russo nesse tipo de construção é comum a focalização do sujeito (TIMBERLAKE, 2004TIMBERLAKE, Alan. A reference grammar of Russian. Cambridge: Cambridge University Press , 2004. ). Já em (19), exemplo em que a construção interrogativa se combina com uma construção de estrutura argumental transitiva, na qual o sujeito costuma ser codificado como tópico, a sentença exibiu uma estrutura de foco no predicado.

Em suma, quando o elemento que ocorre na posição X da construção é um argumento, a configuração da estrutura focal da sentença na construção é a de foco argumental. Porém, quando a posição X é ocupada por um verbo, aparentemente mais fatores parecem entrar em jogo, como a interação da construção com construções recrutadas para serem combinadas com a interrogativa. O esquema abaixo, na figura 1, exibe uma breve descrição preliminar dos aspectos apresentados nesta seção de análise, em que a rede de construções interrogativas polares com li é descrita. À esquerda, em posição subordinada, é possível observar a especificação de forma e significado que considera a posição X preenchida por um argumento sentencial. Essa configuração de forma associa-se a uma estrutura informacional de foco argumental, em que o referente codificado em posição X identifica uma variável em uma proposição aberta pressuposta. Uma análise quantitativa a ser desenvolvida oportunamente poderá indicar o grau de representatividade que esse padrão assume na rede. À direita, também em posição subordinada, observa-se a especificação de forma e significado que considera a posição X sendo preenchida por um elemento predicador, geralmente o verbo. Essa configuração formal parece ser não marcada para estrutura informacional, acomodando-se às especificações de estrutura informacional de outras construções com as quais se combina. Em posição superordenada encontra-se a uma construção hierarquicamente mais abstrata na rede taxonômica, cujo polo de significado requer maior atenção em um momento oportuno.

Figura 1.
Esquema da rede construcional da interrogativa com li em russo

O esquema apresentado acima é o mais seguro a se propor diante da análise desenvolvida até o presente estágio da pesquisa. Porém, em certa medida, ele parece não se coadunar perfeitamente ao princípio do contraste, postulado por Lambrecht (2000LAMBRECHT, Knud. When Subjects Behave Like Objects: An analysis of the merging of S and O in sentence focus constructions across languages. Studies in Language, v. 24, n. 3, p. 611-682, 2000.), segundo o qual as línguas tendem a diferenciar minimamente construções de foco no predicado e foco sentencial. Nesse sentido, seria possível que a construção com li apresente alguma especificidade ainda não observada pelos pesquisadores e que possa contribuir para a diferenciação entre ambos os tipos de estrutura?

Um aspecto possível de ser observado na sentença, porém ainda não descrito em trabalhos que versam sobre a construção interrogativa polar com li refere-se à tendência de elementos ativados ou semi-ativados no discurso ocorrerem em posição imediatamente posterior à partícula interrogativa, como se observa nos exemplos apresentados e pode ser conferido com mais detalhes nos exemplos a seguir.

(20) [Corpus Nacional da Língua Russa - Debate na TV - 2016]

Stepan Stepanyč/ gotovy li {vy} obsuditʹ s “Otkrytoj Rossiej”?

Stepan Stenanytch disposto INT 2PL discutir com aberta Rússia

Stepan Stepanytch, o senhor está disposto a discutir com ONG Rússia Aberta?

(21) [Corpus Nacional da Língua Russa - Debate na TV - 2015]

No pomogaet li {krizis} ne prinimatʹ nekotor-ye

mas ajudar INT crise NEG tomar alguma-PL

neprijatnye rešeni-ja pri tak-oj neprijatnoj situacii?

Desagradável-PL decisão-PL em tal-LOC desagradável-LOC situação-LOC

Mas a crise ajuda a não tomar algumas decisões desagradáveis diante de dessa situação desagradável?

Em (20), o pronome pessoal vy, apresentado entre chaves, refere-se à segunda pessoa do discurso, ou seja, o interlocutor presente na situação de fala é semi-ativado, pois situacionalmente é dado no discurso. Em (21), em um debate sobre economia em que se discute a crise econômica no país, krizis como elemento já mencionado no contexto anterior encontra-se semi-ativado no discurso.

Em ambos os casos, assim como nos demais exemplos da construção, os elementos mais ativados em uma hierarquia de ativação parecem ocorrer mais próximos da partícula li à direita. Se essa observação se confirmar como um slot especificado na construção, seria natural esperar, portanto, que quando exibir uma estrutura de foco no predicado, a construção interrogativa com li obrigatoriamente apresentará o sujeito imediatamente posterior a li, já que o sujeito sendo codificado como o tópico na sentença tende a vir expresso como referente identificado e ativo no discurso. Por outro lado, quando a construção exibir uma estrutura de foco sentencial haveria uma restrição quanto ao uso do sujeito nessa posição, já que em estruturas desse tipo o sujeito perde as marcas que o caracterizariam como tópico. Assim, seria possível postular não dois, mas três nós mais especificados na rede da construção interrogativa com li, para cada um dos tipos de estrutura focal possíveis de serem codificados pela interrogativa polar com li. Porém, uma análise quantitativa robusta precisaria ser levada a cabo, o que será desenvolvido em estágio posterior desta pesquisa.

Considerações finais

Este artigo se debruçou sobre como a Gramática de Construções pode ser utilizada para o estudo da estrutura informacional de interrogativas polares em línguas naturais. Para isso, discorreu sobre como a EI é tratada em Gramática de Construções, mostrando que as mesmas dimensões de análise adotadas para o estudo de sentenças declarativas podem ser utilizadas para a investigar sentenças interrogativas.

O trabalho se debruçou mais especificamente sobre a construção interrogativa polar com a partícula li em russo, descrevendo-a como um padrão de forma e significado. A construção foi descrita como um padrão sequencial [X LI Y], em que o elemento X figura como o escopo da interrogação e pode assumir natureza distinta. Quando codifica um argumento da sentença, a construção configura uma estrutura de foco argumental, em que o referente codificado pelo argumento identifica uma variável X em uma proposição aberta pressuposta. Quando codifica um elemento predicador, geralmente na forma de um verbo, a construção pode configurar uma estrutura de foco no predicado ou uma estrutura de foco sentencial, aparentemente a depender do tipo de construção com o qual se combina. Assim, é possível postular na rede da construção interrogativa com li ao menos dois nós de forma e significado: o que organiza a sentença como uma estrutura de foco argumental e o que a organiza de forma não marcada para as estruturas de foco no predicado e sentencial.

Por outro lado, a análise qualitativa empreendida permitiu observar que a posição imediatamente posterior à partícula li parece exibir comportamento específico, apresentando elementos mais ativados (ativados e semiativos) no discurso. Se esse comportamento se revelar estatisticamente significativo, talvez seja possível postular que, para estruturas de foco no predicado, esta posição deve ser considerada obrigatoriamente como a posição do sujeito, ao passo que para construções de foco sentencial, haveria uma restrição de sujeitos ocuparem essa posição, já que uma de suas propriedades em estruturas de foco sentencial é a destopicalização.

Nesse sentido, este trabalho se coloca como um pontapé inicial para uma agenda de estudos sobre como a estrutura da informação pode ser codificada em sentenças interrogativas, contribuindo para o conjunto de estudos que se debruçam sobre a estrutura informacional de outros tipos sentenciais que não as declarativas. Estágios posteriores de desenvolvimento da pesquisa destinam-se a avaliar quantitativamente a construção interrogativa polar com li, considerando as três possibilidades de configuração da estrutura focal e analisando com maior detalhamento os slots da construção. Esse caminho permitirá entender um pouco mais sobre a configuração focal da construção em pauta, sendo possível aprofundar o conhecimento sobre como sua rede taxonômica se organiza, bem como sobre que tipo de relação a construção interrogativa com li mantém com outras construções da língua.

REFERÊNCIAS

  • AIKHENVALD, A. Y. Questions in Tariana (Arawak family, northwestern Amazonia, Brazil). 16 September 2020, LCRC Workshop on Questions. Disponível em: Disponível em: https://www.jcu.edu.au/__data/assets/pdf_file/0018/1228221/Questions-in-Tariana-2020.pdf Acesso em: 29 set. 2021.
    » https://www.jcu.edu.au/__data/assets/pdf_file/0018/1228221/Questions-in-Tariana-2020.pdf
  • CHAFE, Wallace. Givenness, contrastiveness, definiteness, subjects, topics and. point of view. In: LI, Charles. (ed.). Subject and topic New York: Academic Press, 1976, p. 25-55.
  • CHAFE, Wallace. Cognitive constraints on information flow. In: TOMLIN, Russell. Coherence and grounding in discours: typological studies in language. Vol XI. Amsterdam: John Benjamins, 1987. p. 21-52.
  • CHISHOLM, William; MILIC, Louis; GREPPIN, John. Interrogativity: a colloquium on the grammar, typology and pragmatics of questions in seven diverse languages. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 1984.
  • COMRIE, Bernard. Russian. In: CHISHOLM, William; MILIC, Louis; GREPPIN, John. Interrogativity: a colloquium on the grammar, typology and pragmatics of questions in seven diverse languages. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 1984, p. 7-46.
  • DANEŠ, František. A three-level approach to syntax. In: Travaux linguistiques de Prague Prague: Éditions de L’Academie Tchécoslovaque des Sciences, 1966. p. 225-240.
  • DAVIES, Eirian. Speaking, telling and assertion. Interrogatives and mood in English. Functions of Language, v. 13, n. 2, p. 151-196, 2006.
  • ERTESCHIK-SHIR, N.; LAPPIN, Shalom. Dominance and the Functional Explanation of Island Phenomena. Theoretical Linguistics, v. 6, n. 1-3, p. 41-85, 1979.
  • ERTESCHIK-SHIR, Nomi; LAPPIN, S. Under stress: a functional explanation of sentence stress. Journal of Linguistics, v. 19, n. 2, p. 419-453, 1983.
  • FERY, Caroline; ISHIHARA, Shinichiro. The Oxford handbook of information structure Oxford: Oxford University Press, 2016.
  • FIRBAS, J. On defining theme in Functional Sentence Perspective. In: Travaux linguistiques de Prague Prague: Éditions de L’Academie Tchécoslovaque des Sciences , 1966. p. 267-288.
  • GOLDBERG, Adele E. Constructions: a construction grammar approach to argument structure. Chicago: Chicago University Press, 1995.
  • HALLIDAY, M. K. A. Notes on transitivity and theme in English, Part 3. Journal of Linguistics, v. 3, n. 1, p. 199-244, 1967.
  • HALLIDAY, M. K. A. An introduction to functional grammar London: Edward Arnold, 2014.
  • HILPERT, Martin. Construction grammar and its application to English Edinburgh: Edinburgh University Press, 2014.
  • KING, Tracy Holloway. Configuring topic and focus in Russian Stanford: CSLI Publications, 1995.
  • KÖNIG, Ekkehard; SIEMUND, Peter. Speech act distinctions in grammar. In: SHOPEN, Timothy. Language typology and syntactic description Volume I: Clause Structure. 2. ed. Cambridge: Cambridge University Press, 1985. p. 155-196.
  • KOVTUNOVA, I. Voprositel’nye predlozhenia. In: SHVEDOVA, N. (ed.). Russkaya Grammatika Moskva: Nauka, 1980. p. 386-401.
  • KRIFKA, Manfred. Basic Notions of Information Structure. Acta Linguistica Hungarica, v. 55, n. 1-4, p. 243-276, 2008.
  • LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994.
  • LAMBRECHT, Knud. When Subjects Behave Like Objects: An analysis of the merging of S and O in sentence focus constructions across languages. Studies in Language, v. 24, n. 3, p. 611-682, 2000.
  • LAMBRECHT, Knud. A framework for the analysis of cleft constructions. Linguistics, v. 39, n. 3, p. 463-516, 2001.
  • LEINO, Jaakko. Information Structure. In: HOFFMAN, Thomas.; TROUSDALE, Graeme. The Oxford handbook of construction grammar Oxford: Oxford University Press , 2013.
  • LI, Charles; THOMPSON, Sandra. Mandarin. In: CHISHOLM, William; MILIC, Louis; GREPPIN, John. Interrogativity: A Colloquium on the grammar, typology and pragmatics of questions in seven diverse languages. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company , 1984. p. 47-62.
  • MICHAELIS, Laura A.; LAMBRECHT, Knud. Toward a construction-based theory of language function: the case of nominal extraposition. Language, v. 72, n. 2, p. 215-247, 1996.
  • MORAES, João Antônio. Melodic contours of yes/no questions in Brazilian Portuguese. ExLing 2006: Proceedings of 1st Tutorial and Research Workshop on Experimental Linguistics, Athens, Greece, 2006. p. 117-120.
  • ODÉ, C. Transcription of russian intonation, tori, an interactive research tool and learning module on the internet. In: Dutch Contributions to the Fourteenth International Congress of Slavists: Ohrid: Linguistics (SSGL 34). Amsterdam/New York: Rodopi, 2008. p. 431-449.
  • PRINCE, Ellen. Toward a taxonomy of given-new information. In: COLE, Peter (ed.). Radical Pragmatics New York: Academic Press , 1981. p. 223-255.
  • SADOCK, Jerrold; ZWICKY, Arnold Z. Speech act distinctions in syntax. In: SHOPEN, Timothy (ed.). Language typology and syntactic description: volume 1, Clause Structure. Cambridge: Cambridge University Press , 1985. p. 155-196.
  • SIEMUND, Peter. Interrogative constructions. In: HASPELMATH, Martin; KÖNIG, Ekkehard; OESTERREICHER, Wulf; RAIBLE, Wolfgang. (eds.). Language Typology and Language Universals Berlin: Walter de Gruyter, 2001. p. 1010-1028.
  • STRAWSON, P. F. Identifying reference and truth-values. Theoria, v. 30, n. 2, p. 96-118, 1964.
  • TIMBERLAKE, Alan. A reference grammar of Russian Cambridge: Cambridge University Press , 2004.
  • VALLDUVÍ, Enric. The informational component 1992. Disserttion (PhD) - University of Pennsylvania, Philadelphia, 1992.

Notas

  • 1
    Os termos estrutura da informação, estrutura informacional e a abreviação EI serão utilizados de forma intercambiada neste artigo.
  • 2
    Para alguns exemplos, conferir Firbas (1966FIRBAS, J. On defining theme in Functional Sentence Perspective. In: Travaux linguistiques de Prague. Prague: Éditions de L’Academie Tchécoslovaque des Sciences , 1966. p. 267-288., 1972), Halliday (1967HALLIDAY, M. K. A. Notes on transitivity and theme in English, Part 3. Journal of Linguistics, v. 3, n. 1, p. 199-244, 1967., 2014HALLIDAY, M. K. A. An introduction to functional grammar. London: Edward Arnold, 2014.); Chafe (1976CHAFE, Wallace. Givenness, contrastiveness, definiteness, subjects, topics and. point of view. In: LI, Charles. (ed.). Subject and topic. New York: Academic Press, 1976, p. 25-55., 1987CHAFE, Wallace. Cognitive constraints on information flow. In: TOMLIN, Russell. Coherence and grounding in discours: typological studies in language. Vol XI. Amsterdam: John Benjamins, 1987. p. 21-52. ), Prince (1981PRINCE, Ellen. Toward a taxonomy of given-new information. In: COLE, Peter (ed.). Radical Pragmatics. New York: Academic Press , 1981. p. 223-255., 1986), Vallduví (1992VALLDUVÍ, Enric. The informational component. 1992. Disserttion (PhD) - University of Pennsylvania, Philadelphia, 1992.), Lambrecht (1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994., 2000LAMBRECHT, Knud. When Subjects Behave Like Objects: An analysis of the merging of S and O in sentence focus constructions across languages. Studies in Language, v. 24, n. 3, p. 611-682, 2000., 2001LAMBRECHT, Knud. A framework for the analysis of cleft constructions. Linguistics, v. 39, n. 3, p. 463-516, 2001.), Krifka (2008KRIFKA, Manfred. Basic Notions of Information Structure. Acta Linguistica Hungarica, v. 55, n. 1-4, p. 243-276, 2008.), Fery e Ishihara (2016FERY, Caroline; ISHIHARA, Shinichiro. The Oxford handbook of information structure. Oxford: Oxford University Press, 2016.).
  • 3
    O termo Gramática de Construções e sua abreviação GC serão intercambiados no decorrer deste artigo.
  • 4
    Para um panorama sobre como a estrutura da informação é analisada em GC, ver Lambrecht (1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994., 2000LAMBRECHT, Knud. When Subjects Behave Like Objects: An analysis of the merging of S and O in sentence focus constructions across languages. Studies in Language, v. 24, n. 3, p. 611-682, 2000., 2001LAMBRECHT, Knud. A framework for the analysis of cleft constructions. Linguistics, v. 39, n. 3, p. 463-516, 2001.), Leino (2013LEINO, Jaakko. Information Structure. In: HOFFMAN, Thomas.; TROUSDALE, Graeme. The Oxford handbook of construction grammar. Oxford: Oxford University Press , 2013.), Hilpert (2014HILPERT, Martin. Construction grammar and its application to English. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2014.).
  • 5
    O trabalho é fruto de reflexões desenvolvidas no âmbito dos dois primeiros módulos do curso Forma, Função e Processamento do Foco, ministrado junto ao Programa de Pós-Graduação em Linguística, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no primeiro semestre do ano de 2021.
  • 6
    Tradução própria. No original: that component of sentence grammar in which propositions as conceptual representations of states of affairs are paired with lexicogrammatical structures in accordance with the mental states of interlocutors who use and interpret these structures as units of information in given discourse contexts.
  • 7
    Unanchored brand-new, assumindo a nomenclatura de Prince (1981PRINCE, Ellen. Toward a taxonomy of given-new information. In: COLE, Peter (ed.). Radical Pragmatics. New York: Academic Press , 1981. p. 223-255.).
  • 8
    Anchored brand-new, ainda segundo Prince (1981PRINCE, Ellen. Toward a taxonomy of given-new information. In: COLE, Peter (ed.). Radical Pragmatics. New York: Academic Press , 1981. p. 223-255.)
  • 9
    Tradução própria. No original: The semantic component of a pragmatically structured proposition whereby the assertion differs from the presupposition (LAMBRECHT, 1994LAMBRECHT, Knud. Information structure and sentence form: Topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press , 1994., p. 213)
  • 10
    Tome-se Danes (1966DANEŠ, František. A three-level approach to syntax. In: Travaux linguistiques de Prague. Prague: Éditions de L’Academie Tchécoslovaque des Sciences, 1966. p. 225-240. ) como um exemplo proeminente.
  • 11
    Um panorama sobre construções de estrutura da informação pode ser visto em Hilpert (2014HILPERT, Martin. Construction grammar and its application to English. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2014.).
  • 12
    De forma não prototípica, é possível observar interrogativas, cuja função não é obter uma resposta do interlocutor (cf. CHISHOLM et al., 1984CHISHOLM, William; MILIC, Louis; GREPPIN, John. Interrogativity: a colloquium on the grammar, typology and pragmatics of questions in seven diverse languages. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 1984.)
  • 13
    Para uma tipologia detalhada sobre a categoria de interrogativas, conferir Chisholm et al. (1984CHISHOLM, William; MILIC, Louis; GREPPIN, John. Interrogativity: a colloquium on the grammar, typology and pragmatics of questions in seven diverse languages. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 1984.), Sadock e Zwicky (1985SADOCK, Jerrold; ZWICKY, Arnold Z. Speech act distinctions in syntax. In: SHOPEN, Timothy (ed.). Language typology and syntactic description: volume 1, Clause Structure. Cambridge: Cambridge University Press , 1985. p. 155-196.), Siemund (2001SIEMUND, Peter. Interrogative constructions. In: HASPELMATH, Martin; KÖNIG, Ekkehard; OESTERREICHER, Wulf; RAIBLE, Wolfgang. (eds.). Language Typology and Language Universals. Berlin: Walter de Gruyter, 2001. p. 1010-1028.) e König e Siemund (2007).
  • 14
    Segundo König e Siemund (2007, p. 292), casos de entonação ascendente em declarativas e descendente em interrogativas podem ocorrer, porém, são considerados raros. Os autores mencionam as línguas fante (Niger-Congo, Kwa) e grebo (Niger-Congo, Kru).
  • 15
    Abreviações da glosa utilizada neste artigo: 1: primeira pessoa; 2: segunda pessoa; 3: terceira pessoa; S: singular; F: feminino; TOP: tópico; INT: partícula interrogativa; LOC: locativo; NEG: negativo; PASSIV: passiva; CL: classificador; ANIM: animado; PRES: presente; VIS: evidencial visual; REM: remoto; PST: passado; NONVIS: evidencial não visual; PL: plura; DAT: dativo; GEN: genitivo; ENF: ênfase; IND: indefinido;
  • 16
    Tradução própria. No original: Sentence construction expressing a pragmatically structured proposition in which the subject is a topic (hence within the presupposition) and in which the predicate expresses new information about this topic. The focus domain is the predicate phrase (or part of it).
  • 17
    Tradução própria. No original: Sentence construction formally marked as expressing a pragmatically structured proposition in which both the subject and the predicate are in focus. The focus domain is the sentence, minus any topical non-subject arguments. 18 Esses traços incluem: 1) proeminência prosódica; 2) posição linear específica em relação ao verbo; 3) co-ocorrência com partículas focais; 4) ausência de concordância gramatical com o verbo; 5) marcação de caso não nominativo; 6) status de constituinte único na sequência verbo-objeto restrições de anáfora zero.
  • 18
    Esses traços incluem: 1) proeminência prosódica; 2) posição linear específica em relação ao verbo; 3) co-ocorrência com partículas focais; 4) ausência de concordância gramatical com o verbo; 5) marcação de caso não nominativo; 6) status de constituinte único na sequência verbo-objeto restrições de anáfora zero.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Maio 2023
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    05 Out 2021
  • Aceito
    10 Dez 2021
Programas de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal Fluminense (UFF) Rua Professor Marcos Waldemar de Freitas Reis, s/n, Bloco C - sala 518, CEP 24210-201 - Niterói, Rio de Janeiro, Brasil., Telefone +55 21 2629-2600 - Niterói - RJ - Brazil
E-mail: gragoata.egl@id.uff.br