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Apreciação do sentido: o acento e as modulações do conteúdo

Appreciation of meaning: The accent and modulations of content

RESUMO:

Este texto busca explicar o processo de “prosodização do conteúdo” introduzido por Claude Zilberberg durante a formulação de sua semiótica tensiva. Com efeito, inspirado no funcionamento prosódico das línguas naturais com seus acentos e modulações, ascendentes e descendentes, o autor propôs diversas combinações do que chamou de "incrementos" (mais menos, menos mais, menos menosetc.) para descrever as modulações de conteúdo que ora se elevam em direção ao “acento da significação” (o conteúdo mais impactante), ora declinam e se afastam dele. Esses movimentos estão sempre associados às oscilações da sensibilidade humana tanto no plano da expressão quanto no plano do conteúdo. Mas é neste último que, fazendo uso dos referidos incrementos, podemos avaliar os nossos mecanismos cotidianos de apreciação do sentido, atribuindo-lhe maior ou menor destaque. Trata-se, pois, de um modo especial de ampliar o potencial teórico e analítico do modelo semiótico a partir de categorias que antes pertenciam apenas ao plano da expressão. Essas proposições teóricas são aqui ilustradas por algumas análises de colunas publicadas em jornais brasileiros.

Palavras-chave:
semiótica; prosódia; incrementos; intensidade

ABSTRACT:

This paper explores the process of "content prosodization" introduced by Claude Zilberberg in the course of the formulation of his tensive semiotics. Inspired by the prosodic functioning of natural languages, with their ascending and descending accents and modulations, the author proposed various combinations of what he called "increments" (plus minus, minus plus, minus minus, etc.) to describe the modulations of content that sometimes rise toward the "meaning accent" (the most impactful content) and sometimes decline and move away from it. These movements are always associated with the oscillations of human sensibility both in the plane of expression and in the plane of content. But it is in the latter that we can evaluate our daily mechanisms of meaning appreciation, attributing greater or lesser prominence to it by making use of the increments. It is, therefore, a special way of expanding the theoretical and analytical potential of the semiotic model from categories that previously belonged only to the plane of expression. These theoretical propositions are illustrated here by some analyses of columns published in Brazilian newspapers.

Keywords:
semiotics; prosody; increments; intensity

Noção de “espera”

Os primeiros modelos lançados pela semiótica narratológica não dispunham do conceito de “espera”. Talvez as ciências da linguagem dos anos 1960 e 1970 o considerassem demasiadamente subjetivo para figurar na linha de frente dos estudos textuais, estribados àquela altura no pensamento estrutural. Outra conduta evitada pelos pioneiros da semiótica era, pela mesma razão, a abordagem analítica do tempo. Temporalidade e subjetividade, duas noções inseparáveis da concepção de espera, vagavam fora do horizonte teórico daqueles pesquisadores.

Acontece que estava em jogo nessa época a construção de uma gramática narrativa com arcabouço conceitual suficientemente amplo para a descrição de todo e qualquer texto, verbal ou não-verbal, que se apresentasse como portador de sentido homogêneo. De que modo chegar a um resultado satisfatório se ambos os termos, gramática e narrativa, pressupunham as relações subjetivas e temporais mobilizadas pela noção de espera?

Quando a gramática de uma língua natural, por exemplo, identifica as construções morfológicas e sintáticas previsíveis na criação dos seus respectivos discursos, tal gramática está, em outros termos, revelando as formações linguísticas esperadas por seus falantes.1 1 Nessa linha, o Dicionário de Semiótica se reporta à estética da recepção alemã e à expressão “horizonte de espera”, empregada por Hans Robert Jauss para se referir à “previsibilidade das formas de organização discursiva do leitor” (GREIMAS; COURTÉS, 2008, p. 196). No caso de uma gramática narrativa, o caráter temporal da espera é ainda mais crucial para se explicar as fases relatadas no texto (o sentimento de falta, as alianças entre sujeitos, a busca do objeto etc.). Não obstante, A. J. Greimas - autor que trouxe a teoria narrativa para o centro da então incipiente pesquisa semiótica - só se propôs a investigar com afinco o conceito de espera no início dos anos 1980, quando a reflexão sobre os temas subjetivos e passionais passou a ser incontornável para o desenvolvimento da teoria que fundara.2 2 Referimo-nos ao aparecimento em 1981 do texto intitulado “De la colère” em um dos documentos de pesquisa publicados pelo Grupo de Pesquisas Sêmio-linguísticas (Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris), no qual Greimas apresenta um método para a descrição semântica de figuras passionais. Este ensaio faz parte do segundo volume da obra Sobre o Sentido II, já traduzido para o português por Dilson Ferreira da Cruz (GREIMAS, 2014). O autor concebeu, então, uma “espera simples”, a que caracteriza o sujeito que deseja a conjunção com o seu objeto de valor, e uma “espera fiduciária”, a que caracteriza o sujeito que confere a um segundo sujeito a obrigação (imaginária) de mantê-lo em conjunção com o seu objeto de valor (GREIMAS, 2014Greimas, Algirdas Julien. Sobre o sentido II. São Paulo: Edusp, 2014., p. 236). A partir dessa dupla definição da espera, o semioticista examinou a composição narrativa e modal implícita em diversas figuras passionais, como frustração, decepção, satisfação, ofensa, vingança, cólera etc.

O que chama a atenção, porém, é a presença anterior desse conceito entre os verbetes selecionados para compor o primeiro volume do Dicionário de Semiótica3 3 Trata-se da obra original intitulada Sémiotique: dictionnaire raisonné de la théorie du langage, Vol. I (Paris: Hachette), escrita por Algirdas Julien Greimas em colaboração com Joseph Courtés. Embora estejamos utilizando aqui a versão brasileira deste dicionário, não concordamos com a tradução de attente por “expectativa”. No nosso entender, se fosse essa a acepção do termo no original, os autores teriam escrito expectative e não attente. Por isso, nas citações, adotaremos sempre a expressão “espera” no lugar de “expectativa”. , lançado em 1979, no qual figuravam apenas as noções já consagradas na primeira fase de constituição da teoria. O ensaio “De la colère” só seria publicado dois anos depois e mesmo que a reflexão sobre a espera já estivesse em gestação nos encontros de Greimas com o seu grupo de pesquisa, as acepções abonadas pelo dicionário não se referem às categorizações propostas no trabalho citado. Por outro lado, a simples inclusão de espera no dicionário, com sua carga de “temporalização” e “aspectualidade imperfectiva”, ainda que com a advertência de se tratar de definição provisória, já anunciava a tendência tensiva que, em seguida, desembocaria na proposta de Claude Zilberberg. Mas o que dizer então da segunda acepção de espera arrolada no citado verbete do dicionário, considerando que esta obra ainda era marcada pelas ambições científicas do estruturalismo espacializante: “Pelo nome espera designa-se o significado de um dos termos do prosodema entonação, homologável à curva melódica dos enunciados interrogativos” (GREIMAS; COURTÉS, 2008Greimas, Algirdas Julien; Courtès, Joseph. Dicionário de Semiótica. São Paulo: Contexto, 2008., p. 196).

Conceito-chave para se compreender o plano do conteúdo, a estrutura narrativa vinha então amparada por um conceito prosódico do plano da expressão. Mais especificamente, a espera do sujeito perfazia uma pergunta (à maneira da entonação interrogativa) cuja resposta se configurava nas demais etapas do percurso narrativo. Talvez os autores não se dessem conta à época do alcance dessa formulação, mas cremos hoje que começava ali a “prosodização do conteúdo”4 4 Esta expressão resume o projeto tensivo desenvolvido por Claude Zilberberg a partir da década de 1980 (ZILBERBERG, 1993, p. 82; 2001, p. 55; 2011, p. 120, entre inúmeras outras menções). , ou seja, a inclusão do acento e das modulações intensivas ou distensivas como parâmetros fundamentais para a análise semiótica.

Grande entusiasta do pensamento temporal e aforístico de Paul Valéry, Zilberberg sempre adotou a sua ideia de espera (do sujeito) em contraposição à de surpresa causada pelo acontecimento. Para o pensador e poeta francês, os acontecimentos produzem impactos nas pessoas justamente por romper “construções” subjetivas fixadas em suas esperas, o que inclui as gramáticas (tanto a narrativa como a de língua). Só vivemos plenamente a surpresa quando ela transgride a estrutura ou, se preferirmos, subverte a espera. E o poeta vai diretamente ao ponto: “a estrutura é, portanto, comparável à espera”5 5 No original: “La structure est donc comparable à l’attente” (VALÉRY, 1973, p. 1315). (VALÉRY, 1973ValÉry, Paul. Cahiers. Paris: Gallimard, 1973. Tome 1., p. 1315, tradução nossa). É o espaço lógico que se faz tempo.

Temos aí, de modo extremamente conciso, a razão da ausência da espera na semiótica durante a fase de implantação do seu esquema narrativo. Nesse modelo sincrônico, a estrutura fazia as vezes da espera, mas esta última noção tem a vantagem de introduzir o tempo na epistemologia semiótica e, com ele, o valor do universo sensível: “a sensibilidade está relacionada com a espera”6 6 No original: “La sensibilité est en relation avec attente” (VALÉRY, 1973, p. 1315). (VALÉRY, 1973ValÉry, Paul. Cahiers. Paris: Gallimard, 1973. Tome 1., p. 1315, tradução nossa). Portanto, está relacionada também com os enunciados interrogativos e seus fluxos ascendentes que sempre culminam no acento. E, como sabemos, para Zilberberg (2011Zilberberg, Claude. Elementos de Semiótica Tensiva. São Paulo: Ateliê Editorial, 2011.), o acento é justamente a unidade de medida da afetividade, que desfruta da ambivalência de atuar tanto no plano da expressão como no plano do conteúdo. Se, para o primeiro plano, já dispomos de critérios metodológicos consagrados, que contemplam a energia em si, a frequência e a duração, para o segundo, contamos com as medidas propostas pelo semioticista francês a partir dos incrementos (ou sílabas tensivas) mais e menos, cuja combinatória produz intervalos de aumento e diminuição que nos ajudam a entender a modulação gradativa ascendente atraída pela ênfase acentual e, em seguida, a modulação descendente, a qual, em certas ocasiões, atinge o inacento.

Nossa apresentação do acento em versão desacelerada, a que vimos chamando de “acento analítico”, foi inspirada pela abordagem prosódica que marcou especialmente a última fase da teoria de Zilberberg, mas que já estava delineada em seus textos anteriores, nos quais o acento figura como “a forma exemplar da intensidade”. O autor chega a dizer com todas as letras que “a intensidade vem a ser a expressão analítica do sensível”7 7 No original: “L’intensité devient l’expression analytique du sensible” (ZILBERBERG, 2000, p. 104). (ZILBERBERG, 2000Zilberberg, Claude. Esquisse d’une grammaire du sublime chez Longin. Langages, n. 137, 2000., p. 104, tradução nossa). Mas ainda falta descrever melhor o que Zilberberg entende por “prosodização” e como esse conceito gera um modelo (ou ritmo) de “esperas” que nos ajuda a compreender nossas experiências individuais e coletivas.

Semiótica do acento e das modulações

Sabemos que a semiótica tensiva se atém aos prosodemas acento e modulação, que serviram para Louis Hjelmslev definir respectivamente os elementos intensos e extensos do plano da expressão e compará-los aos morfemas, também intensos e extensos, do plano do conteúdo.8 8 Hjelmslev sugeria certa equivalência categorial entre, de um lado, elementos linguísticos de abrangência local, como acentos (no plano da expressão) e morfemas nominais (no plano do conteúdo) e, de outro, elementos de abrangência global, como modulações (no plano da expressão) e morfemas verbais (no plano do conteúdo). Definia os primeiros como elementos intensos e os últimos como extensos (HJELMSLEV, 1991, p. 175). Ampliando bastante a perspectiva do linguista dinamarquês, Zilberberg passou a utilizar indistintamente os dois prosodemas em ambos os planos da linguagem. Nesse ponto, lhe foi decisiva a leitura do filósofo Ernst Cassirer que já havia adotado o acento como critério para identificar conteúdos sagrados - postos em evidência - na consciência mítica de algumas comunidades estudadas. Contudo, se o acento, no sentido de ênfase ou destaque, é uma noção que fala por si, ainda são poucas as considerações sobre a modulação não somente no plano da expressão, mas principalmente no plano do conteúdo.

No primeiro plano, a modulação hjelmsleviana traz uma acepção próxima à de entoação (ou “entonação”) adotada pelo Dicionário de Semiótica: algo como a melodia que necessariamente acompanha os nossos discursos orais. Ela não costuma alterar a significação particular das palavras, mas exerce sempre um impacto decisivo sobre o sentido (ou direção) sonoro tomado pela frase (TOMAS, 1966Tomás, Navarro. Manual de entonacion española. México: Colection Malaga, 1966., p. 8). E é justamente em nome desse sentido que a modulação se relaciona com o acento. No segmento inicial da frase asseverativa, a modulação geralmente se eleva até atingir o ápice do acento agudo e, em seguida, distende-se em direção ao inacento, numa região mais grave da voz9 9 Essas etapas são denominadas prótase / apódose pela retórica e anticadência / cadência por Navarro Tomas (1966). . A elevação do primeiro segmento, assim como a elevação dos enunciados interrogativos, indica, como já vimos, um compromisso com a espera, mais especificamente com a espera da continuidade discursiva, em geral uma curva melódica descendente típica da conclusão asseverativa ou da resposta a uma indagação.

Para o plano do conteúdo, Zilberberg concebe dois gêneros de modulação que também se definem por relação ao “acento da significação” (CASSIRER, 2013Cassirer, Ernst. Linguagem e Mito. São Paulo: Perspectiva, 2013., p. 108) e podem ser esquematizados a partir dos mencionados incrementos que compõem o acento analítico. Propomos, pois, chamar de modulação pré-acentual a que se desenvolve na direção ascendente, passando pelas etapas menos menos e mais mais, e de modulação pós-acentual a que toma a direção descendente, ou seja, a que passa pelas etapas menos mais e mais menos (ZILBERBERG, 2011Zilberberg, Claude. Elementos de Semiótica Tensiva. São Paulo: Ateliê Editorial, 2011., p. 254) (Figura 1):

Figura 1:
Modulações apreciativas

A primeira modulação é a que rejeita o estado de “vacuidade” (somente menos) e delineia a espera de um restabelecimento de conteúdo, narrativo e/ou apreciativo, cujo resultado final pode adquirir um efeito de acento. Caso essa etapa de espera seja omitida e já tenhamos diretamente o acento, estaremos diante de um acontecimento imprevisto. De todo modo, é o acento, inesperado ou construído, que desencadeia a segunda modulação, encarregada de desfazer a alta tonicidade do impacto afetivo num processo de resolução explicativa que diminui sua intensidade em proveito da abrangência lógica da abordagem (alta extensidade). A modulação pós-acentual responde ao acento de conteúdo assim como a entoação descendente (apódose, cadência...) responde ao acento de expressão, ponto culminante da prótase. Nessa resposta podemos ter uma resolução gradativa do momento considerado tônico (passando por menos mais e mais menos) ou uma anulação pura e simples do acento sem qualquer rito de passagem. Algo próximo do que as redes sociais chamam hoje de “cancelamento”.

É nesse jogo entre as modulações e o acento no plano do conteúdo que reside a prosodização da semiótica, tão almejada por Zilberberg. Vejamos um pouco mais.

Modulações pré-acentual e pós-acentual

O silêncio que precede a comunicação oral ou, se preferirmos, o estado anterior ao início de uma curva entoativa, traz a mesma vacuidade e dispersão que encontramos na zona do inacento (somente menos), onde nada é suficientemente expressivo para nos chamar a atenção. Como ainda não há identificação de um valor10 10 Talvez possamos falar nesse caso em “valência”, no sentido que lhe foi dado por Greimas e Fontanille no volume Semiótica das Paixões (1993): “A valência é uma ‘sombra’ que suscita o ‘pressentimento’ do valor.” (GREIMAS; FONTANILLE, 1993, p. 44) , também não existe o sentimento de falta nem o de espera que poderiam nos mover em direção ao objeto. Em termos mais atuais, poderíamos dizer que o excesso de mistura corresponde à dissolução dos valores no campo da extensidade. É quando nossa capacidade afetiva de reconhecimento do valor relevante tende a zero.

Semelhante estado puro de somente menos é bem mais nítido no universo teórico que no factual. Nosso cérebro está “programado” para rapidamente selecionar valores, por mais que o mundo ao redor se apresente heterogêneo e difuso. Isso não decorre da inclinação lógica do ser humano, mas, ao contrário, do impulso afetivo para firmar juízos e apreciações antes de qualquer ponderação metódica. Esse impulso traz sempre a tonicidade necessária para a realização da triagem de conteúdo que põe em curso a modulação pré-acentual. Inicia-se assim, como vimos, a negação da extenuidade e, caso haja um crescimento progressivo, entraremos na região do acento que se manifesta entre o recrudescimento (mais mais) e a plenitude (somente mais). Em suma, a configuração do valor em meio a conteúdos dispersos já anuncia o sentimento de sua falta e, por conseguinte, desperta a espera de restabelecimento do conteúdo até então enfraquecido pelo inacento. Em outras palavras, o silêncio ou a dissipação indistinta dos dados de nossa existência suscita também uma pergunta, mas de outra natureza: qual é o valor relevante? Num movimento simultâneo de triagem e tonificação, a modulação pré-acentual costuma responder a tal questão por meio de sucessivas apreciações que culminam no acento. Em geral, esse processo dispõe da narrativa como gramática subjacente.

Apreciação do sentido

A própria noção de progresso narrativo, núcleo da proposta inicial de Greimas, confirma essa hipótese quando admite que o “ser semiótico” define-se por aumentos gradativos de modalidades e papéis actanciais (GREIMAS; COURTÉS, 2008Greimas, Algirdas Julien; Courtès, Joseph. Dicionário de Semiótica. São Paulo: Contexto, 2008., p. 334). Mas estamos propensos a considerar que tais aumentos no nível narrativo só se estabelecem deveras mediante suas respectivas constatações no nível apreciativo, como se dependessem sempre de um julgamento (uma sanção) que os legitime. Afinal, um sujeito só atinge realmente o seu objeto de valor se essa união for celebrada por alguém em alguma instância.11 11 A semiótica narratológica atribui essa função ao destinador julgador. Hjelmslev já identificava esse nível de “apreciação coletiva” como “a substância por excelência, a única substância (no sentido mais estrito desse termo) que do ponto de vista semiótico é imediatamente pertinente” (HJELMSLEV, 1991Hjelmslev, Louis. Ensaios Linguísticos. São Paulo: Perspectiva , 1991., p. 65-66). Sua preocupação era com a substância do conteúdo que, nas línguas maternas, já apresenta um verdadeiro sistema adjetival responsável pela classificação dos conteúdos. Nesse sentido, segundo o linguista, uma grandeza vale para a comunidade por ser mais bela, mais frágil, mais escura, mais veloz, mais autêntica etc. do que outra e, portanto, já ingressa no universo do sentido com essa primeira apreciação. Se pensarmos nessa apreciação coletiva tendo por base os incrementos de Zilberberg, arriscamos dizer que uma grandeza ganha presença efetiva no campo tensivo de acordo com o seu grau de acentuação. Tal grandeza pode permanecer num grau mínimo de existência ou mesmo de subsistência (menos menos, por exemplo), mas pode também atingir o ponto máximo de sua presença (mais mais ou somente mais, por exemplo), destacando-se assim de todas as demais grandezas (ZILBERBERG, 2001Zilberberg, Claude. De l’affect à la valeur. In: Castellana, Marcello (org.).Texte et valeur. Paris: L’Harmattan, 2001.).

Adotar o ponto de vista prosódico na análise semiótica corresponde, portanto, a introduzir o afeto como medida para o exame do conteúdo. Tal perspectiva tem como ferramenta os incrementos que emulam as fases das curvas entoativas dirigindo-se ora ao acento, ora ao inacento. Decorrem daí as modulações pré-acentual e pós-acentual. Tomemos um exemplo.

Em coluna recentemente publicada no jornal O Estado de S. Paulo (março, 2022), o antropólogo Roberto DaMatta relata o prazer, digamos, relativo de ter um livro publicado. Perfaz, de início, a modulação pré-acentual:

Você, leitor, provavelmente não conhece a felicidade que é ver o que você durante meses imaginou, garimpando pensamentos e palavras, num livro impresso. Um conjunto de páginas com a capa e a cara de um objeto industrial atraente contendo uma narrativa. Algo com começo, meio e fim, escrito com as palavras de uma língua infinita que a todos pertence. O livro é um milagre (DAMATTA, 2022DaMatta, Roberto. O livro como um milagre. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C5, 9 mar. 2022., p. C5).

O enunciador pressupõe o desconhecimento total do enunciatário a respeito do seu tema (somente menos). Constrói de forma detalhada e, ao mesmo tempo, concisa (pois, trata-se de uma coluna de jornal) o seu objeto de valor, tornando-o a cada frase mais atraente até coroá-lo com a máxima acentuação: “O livro é um milagre.”

Temos aí claramente uma trajetória narrativa, mas conduzida por uma modulação ascendente plena de julgamentos positivos parciais que, somados, garantem ao “livro” a condição de objeto quase sagrado (“milagre”). “Toda a luz aqui se reúne”, diria Cassirer, no “campo focal da significação” (2013Cassirer, Ernst. Linguagem e Mito. São Paulo: Perspectiva, 2013., p. 108). Se se tratasse de uma inflexão entoativa no plano da expressão, estaríamos no auge da prótase, a elevação que desperta em nós a espera de uma resposta melódica descendente. O que temos no plano do conteúdo, porém, é a exacerbação do mais ou ainda do somente mais, o apogeu do acento, que pede, igualmente, uma resposta de caráter menos intenso, quem sabe menos emotivo. Em outras palavras, salvo no caso de adoção de uma recursividade indefinida (aumento do aumento do aumento...), o que se espera como continuidade do somente mais são as relativizações, os desdobramentos explicativos ou até mesmo a negação do conteúdo enfatizado. O que se espera é a modulação descendente em versão gradativa, brusca ou mesmo misturando esses dois andamentos em diversas argumentações.

O colunista suspende o acento de maneira taxativa:

Ledo engano, porém, pensar que o texto imaginado e agora industrializado vá levar multidões a degustá-lo e os críticos e, principalmente, os colegas a consagrá-lo. O que geralmente ocorre é o oposto... (DAMATTA, 2022DaMatta, Roberto. O livro como um milagre. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C5, 9 mar. 2022., p. C5).

Mas a função dessa “virada” um tanto brusca é apenas a de reverter nossa espera e prepará-la para a modulação pós-acentual, pois logo vem a argumentação que diminui o ritmo da descendência:

Publicado, o livro sai da alçada do autor e entra na impessoalidade do mercado. Entre esses espaços há, porém, uma mediação: uma noite ritualizada de autógrafos (DAMATTA, 2022DaMatta, Roberto. O livro como um milagre. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C5, 9 mar. 2022., p. C5).

Afinal, como deixa entender o texto, o êxito futuro do livro não depende mais do autor, mas, sim, da “impessoalidade do mercado”. Além disso, há quase sempre uma sessão de autógrafos que de algum modo prolonga um pouco mais a influência do acento ou, se preferirmos, os efeitos do “milagre”. O mais menos, que parecia cobrir todo o campo de desilusão do autor com o seu livro (“ledo engano...”), recua para uma pequena atenuação (menos mais), já que não vive mais a plenitude do livro recém-fabricado, mas ainda resta o reconhecimento de amigos, colegas e leitores eventualmente interessados.

Essas oscilações no âmbito das modulações retratam bem a inconstância emocional que leva o enunciador a rever frequentemente as medidas de sua apreciação do conteúdo. Já vimos, elas podem seguir as progressões previstas no nosso esquema, mas podem saltar etapas em decorrência de um andamento acelerado ou mesmo retroceder alguns graus de modulação, como no caso que acabamos de relatar. Podem até mesmo dar lugar a outro esquema de apreciação que em geral opera paralelamente. Nessa linha, DaMatta (2022DaMatta, Roberto. O livro como um milagre. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C5, 9 mar. 2022.), na sequência, faz outra reflexão sobre o rito dos autógrafos identificando cada dedicatória como nova consagração do livro, uma vez que, ao menos em princípio, aproxima escritor e leitor antes mesmo da esperada leitura. Agora o acento recai sobre o encontro desses personagens motivado pelo lançamento da obra. Mas mesmo nesse novo cenário pode haver inversão de expectativa. Nos termos do colunista:

[...] um aluno pediu um autógrafo em um dos meus livros. Ao abrir a publicação, o prazer da dedicatória desapareceu, pois, comprado num sebo, ele já havia sido autografado para um colega quando lançado cerca de dois anos passados (DAMATTA, 2022DaMatta, Roberto. O livro como um milagre. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C5, 9 mar. 2022., p. C5).

A decepção do autor é indisfarçável e confirmada nas palavras do texto. Num átimo, ele modula do acento ao inacento, omitindo as fases intermediárias que poderiam servir para ponderar sua opinião sobre o que havia acontecido:

Foi com um sentimento de ter sido descartado que reassinei novamente a obra, agora duplamente consagrada por mim mesmo, depois de ter dormido nas prateleiras poeirentas de um sebo cujo nome diz tudo. (DAMATTA, 2022DaMatta, Roberto. O livro como um milagre. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C5, 9 mar. 2022., p. C5).

No relato do antropólogo, é o próprio aluno interessado na dedicatória que, reparando a expressão decepcionada do escritor, tenta modular o seu “sentimento de ter sido descartado”, dizendo ser comum esse tipo de “coincidência” (dois autógrafos no mesmo livro). Seu esforço era no sentido de recuperar um tanto do prazer da dedicatória, talvez um menos mais no lugar do somente menos. Mas prevalece essa última apreciação, uma vez que a atitude do colega soava ao colunista como “desprezo e falta de consideração”.

O breve texto ainda avança mais um pouco, mostrando que a significação perdura enquanto houver novas formas de apreciação. Ao tomar conhecimento dessa reflexão do antropólogo sobre os livros, um editor, seu amigo, refaz todo o esquema do acento analítico propondo novas modulações e preservando a metáfora do milagre. No seu modo de ver e avaliar, é comum que os livros adquiram certa autonomia e, antes de atingir o seu verdadeiro esplendor, sofram um “milagre às avessas”, como se isso fosse um impulso necessário para recobrar suas forças. Nesse sentido, depois do lançamento, eles costumam perder o encanto, o brilho, e desaparecer entre seus pares no mundo difuso dos sebos. É quando, no plano do inacento (somente menos), tais obras se tornam invisíveis. Em compensação, ainda segundo o editor, eles tendem a voltar discretamente (menos menos) às mãos de possíveis leitores e, aí sim, com a chance de serem abertos e lidos (mais mais). Nessa versão, o verdadeiro milagre concentra-se, não tanto no livro, mas na sua leitura (somente mais):

Contei essa história ao meu amigo José Mário Pereira, emérito editor, e ele relatou ser comum esse milagre às avessas de livros que andam, como se vivos fossem, dos autógrafos ao sebo e, de lá, voltam calados, mas felizes com a possibilidade do milagre de serem abertos, lidos e prontos a difundir [suas mensagens], no seu modo silencioso e humilde [...]. (DAMATTA, 2022DaMatta, Roberto. O livro como um milagre. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C5, 9 mar. 2022., p. C5).

Mudam-se as grandezas, as argumentações e a abrangência do conteúdo, mas permanecem os acentos, as modulações e as medidas apreciativas dando suporte ao que chamamos de sentido no nosso universo individual e comunitário.

Categorizações cotidianas

Outro colunista, Gregório Duvivier, em estilo irônico e humorístico nos oferece um exemplo lapidar de modulação ascendente, pré-acentual, a partir da reflexão sobre o conceito bem brasileiro de “amigo pessoal”. Diz ele, numa de suas crônicas semanais (DUVIVIER, 2022DUVIVIER, Gregório. Amigo pessoal. Folha de S. Paulo, São Paulo, 13 abr. 2022, p. C5. ), que o amigo pessoal difere, em primeiro lugar, do “amigo coletivo”, geralmente “mediado por uma turma”. Este último amigo, por sua vez, não se confunde com o “colega” nem com o “conhecido”, aquele que, curiosamente, “não conhecemos muito bem”. O que dizer, por fim, do “semiconhecido”, esse quase desconhecido? Mesmo mantendo o tom satírico, Duvivier cria em sua coluna categorias que precedem e ajudam a entender o termo acentuado, o amigo pessoal:

Existe uma hierarquia: o semiconhecido está abaixo do conhecido, que vem logo abaixo do colega, que vem antes do amigo coletivo, que precede o amigo pessoal (DUVIVIER, 2022DUVIVIER, Gregório. Amigo pessoal. Folha de S. Paulo, São Paulo, 13 abr. 2022, p. C5. , p. C5).

Além do preenchimento das etapas modulatórias ascendentes que já descrevemos acima, o colunista ainda propõe “partições” (ZILBERBERG, 2011Zilberberg, Claude. Elementos de Semiótica Tensiva. São Paulo: Ateliê Editorial, 2011., p. 57), ou seja, subdivisões12 12 Tratamos das partições em recente artigo sobre a origem silábica dos acentos prosódicos (TATIT, 2021). das etapas de aumento, mostrando didaticamente as gradações tônicas que conduzem o conteúdo ao seu apogeu acentual (Figura 2):

Figura 2:
Partições pré-acentuais

Só completamos os dados da figura com a noção logicamente subentendida de “desconhecido”. Ela retrata bem a extensidade difusa, indefinida, distante ainda dos projetos de triagem que trazem os primeiros indícios de uma futura acentuação. No nível do menos menos, o autor sugere as partições “semiconhecido” e “conhecido”, dois estágios de modulação crescente que se afastam um pouco da indeterminação anterior sem contudo adquirir posição de ênfase na esfera acentual. As partições seguintes, “colega” e “amigo coletivo”, no domínio do mais mais, já denotam triagem consumada e início da tonicidade que pode eventualmente converter “colega” ou “amigo coletivo” em “amigo pessoal” (somente mais).

Sempre com redação saborosa, Duvivier valoriza os estágios de formação do acento principal, desacelerando, por assim dizer, o impacto do conceito em destaque: “puristas da amizade dirão que amigos não pessoais não podem ser chamados de amigos. Discordo” (DUVIVIER, 2022DUVIVIER, Gregório. Amigo pessoal. Folha de S. Paulo, São Paulo, 13 abr. 2022, p. C5. , p. C5). Para ele, o colega ou o amigo coletivo podem ser companhia agradável, divertida e, acima de tudo, o embrião de um novo amigo pessoal. Delineia assim a trajetória implicativa entre fases subsequentes da modulação pré-acentual, examinando em particular a passagem final do estágio mais mais ao somente mais.

Basta chover um pouco mais. E vocês ficarem ilhados no escritório. Ou basta um porre, uma viagem, um acidente, um pneu furado. O que separa um amigo coletivo de um amigo pessoal, muitas vezes, é um perrengue. Mas pode ser uma carona - de preferência daquelas demoradas, na hora do rush. Se cair um temporal, melhor ainda. Entre um silêncio e outro, você vai abrir uma chaga, e ele vai compartilhar uma memória, você vai rebater com uma esperança, ele vai contar um segredo. Pronto. Ali […] o amigo pessoal acaba de nascer (DUVIVIER, 2022DUVIVIER, Gregório. Amigo pessoal. Folha de S. Paulo, São Paulo, 13 abr. 2022, p. C5. , p. C5).

Nesse desfecho encontra-se o núcleo acentual do texto, dotado de alta tonicidade, mas não de alta aceleração. Assim como a definição semiótica de acontecimento, o elemento acentuado sempre recai sobre um conteúdo que tem importância para o homem, mas não podemos dizer que, neste caso, a ideia de “amigo pessoal” tenha nascido inesperadamente. As narrativas prévias sugeridas pelo autor são modos de construção progressiva que exemplificam o caráter analítico do acento: seu brilho final decorre de convivências e compartilhamentos de conteúdo que pouco a pouco geram a amizade pessoal. Portanto, tudo indica que o acento traz a ênfase típica do acontecimento, mas não necessariamente a sua velocidade de aparição.

Cabe observar ainda que não são propriamente as situações (chuva, carona, acidente) vivenciadas que determinam o avanço acentual da amizade, mas sim o êxito da comunicação entre os personagens durante os “perrengues”: o compartilhamento de infortúnios, lembranças, confidências etc. No fundo, o que está em jogo é o nascimento da confiança mútua nos interstícios da conversa pessoal ou, em outras palavras, a apreciação positiva que ambos fazem do período de convívio.

Quanto ao aumento gradativo da tonicidade através de suas partições, não podemos esquecer que o mesmo ocorre no plano da expressão. Para se atingir a elevação máxima da prótase é comum que tenhamos segmentos entoativos intermediários que vão adiando a ocorrência do ápice acentual. A ascendência melódica que conduz o trecho inicial da frase “se chover (prótase) não sairei de casa (apódose)” pode ser desdobrada em outros segmentos, tais como “se chover / e eu estiver sem carro / e ainda ninguém vier me buscar (auge da prótase) / não sairei de casa”. São essas as partições que podem ser transferidas ao plano do conteúdo e que resultam em progressões como “conhecido”, “colega”, “amigo coletivo” e “amigo pessoal”.

No nosso entender, portanto, Gregório Duvivier acabou produzindo uma versão analítica do conceito brasileiro de “amigo pessoal”, na medida em que o identificou em meio (e em comparação) a outras noções de mesma natureza e assinalou passo a passo o seu aumento de tonicidade até atingir o ponto de prestígio que normalmente lhe atribuímos em nossa comunidade. Mesmo sem intenção pedagógica (longe disso!), ele demonstrou de maneira didática que o conceito acentuado pressupõe etapas de construção (“hierarquias”), as quais, em nossas interações dinâmicas do dia-a-dia, ficam apenas subentendidas.

Resolução extensiva

Se o texto fosse, por exemplo, sobre a importância de um determinado “amigo pessoal” na sua vida, o acento sobre esse conceito já estaria social e linguisticamente assegurado para que o autor pudesse discorrer sobre a dedicação e a afeição desse amigo numa situação específica. O sentimento de amizade em si, em seu esplendor, já teria sido vivenciado pelo enunciador com tal intensidade que agora só lhe restaria tentar explicá-lo, atenuando o afeto e traduzindo-o em discurso. Essa passagem, do somente mais ao menos mais (figura 1), funciona em geral como resolução do acento, ou seja, como decomposição do impacto ou da ênfase conceitual num primeiro grau de extensidade. Trata-se aqui de uma fase produtiva da expansão do conteúdo, em que imperam os argumentos e as explicações esclarecedoras. A fase seguinte, caracterizada como mais menos (idem) já prevê alguma diluição, seja por excesso de extensidade, na qual tudo se mistura com tudo, seja por se aproximar da anulação do acento e da extenuação dos valores, quando nada mais tem importância.

As modulações ajudam-nos a entender melhor a noção de extensidade e suas tendências à concentração ou difusão. No parágrafo anterior, comentamos a modulação pós-acentual, a que vai da intensidade (mítica, afetiva) à extensidade (lógica, resolutiva), ou seja, do somente mais ao menos mais. Essa última etapa pode se alongar “indefinidamente” (por exemplo, um livro inteiro sobre um fenômeno ou um conceito que monopolizou a atenção da sociedade), explorando a difusão extensiva. Mas pode também se estender no sentido de exaurir o tema e retirar-lhe o acento - esgotá-lo em seu vigor emotivo. É quando passamos à etapa mais menos ou atingimos o somente menos.

Esperamos que a modulação pré-acentual tenha ficado clara no texto de Duvivier: a ampla extensidade contida na noção de “desconhecido”, ou mesmo de “conhecido” (aquele com quem temos ligeiras relações sem nenhuma intimidade), tende a se concentrar e a se destacar a partir das noções de “colega” e “amigo coletivo”, até alcançar a máxima ênfase no conceito de “amigo pessoal”. Essa modulação sempre contrai a extensidade e conduz nossa atenção para o termo tonificado.

Acentuação e resolução

Mas a diferença entre as modulações pré-acentual e pós-acentual nem sempre é trivial. As apreciações podem tomar um rumo difuso (expandido) ou seletivo (contraído). Duvivier inicia a sua coluna sob o impacto afetivo da noção de “amigo pessoal”: “gosto dessa categoria tão brasileira.” O que vem depois é pura resolução discursiva. O autor checa o uso da expressão em outros idiomas, avalia sua especificidade no Brasil, compara a sua acepção com as de termos próximos, enfim, expande o seu campo de indagação. Logo, porém, começa a fechar o cerco e a selecionar os conceitos que, a cada etapa, recebe um tônus maior até reencontrar, agora de forma gradual e sistemática, o ápice acentual responsável pelo título do texto. Portanto, uma coisa é a argumentação que se estende pelo universo de conteúdo (pós-acentual) e outra, a que se contrai em busca da palavra-chave que motivou o discurso ou o fenômeno (pré-acentual). Uma abre a extensidade, enquanto a outra a comprime. Uma atenua o efeito do acento, enquanto a outra o constrói ou reforça. Tais modulações se cruzam, mas não se confundem.

Talvez possamos dizer que, na vida, nos pautamos pelos acentos cujas incidências realçam os seus principais conteúdos. Afinal, sempre esperamos encontrá-los e, depois disso, não os esquecemos jamais. Caso sejam de natureza disfórica, receamos encontrá-los, mas se isso for inevitável, também não mais os esquecemos. Já as modulações, embora não produzam tais impactos, consomem quase todo o nosso tempo de vida, pois fazem as passagens, longas ou breves, entre os acentos. Cabe aqui, portanto, parafrasear o conhecido aforismo de Paul Valéry (1974ValÉry, Paul. Cahiers. Paris: Gallimard , 1974. Tome 2.): o mundo vale pelos acentos e dura pelas modulações.13 13 « Le monde ne vaut que par les extrêmes et ne dure que par les moyens. Il ne vaut que par les ultras et ne dure que par les modérés » [O mundo vale pelos extremos e dura pelos meios. Vale pelos radicais e dura pelos moderados.] (VALÉRY, 1974, p. 1368). Claro que nos reportamos diretamente à primeira frase do adágio valeriano. Nesse “vale” está contida nossa constante apreciação - sempre mais afetiva que lógica - do mundo e dos semelhantes, seja ela construída passo a passo pela modulação ascendente do acento ou apreendida repentinamente em forma de acontecimento inesperado que elide as etapas progressivas da tonicidade. No significado de “dura”, por sua vez, estão contidos os movimentos de expansão e contração do sentido ou as modulações propriamente ditas.

No caso da expansão, temos um conteúdo que se estende e, nesse processo, pode chegar a um detalhamento meticuloso do objeto ou conceito acentuado, o que contribui para apurar a sua compreensão lógica, mas também, por outro lado, para diminuir o seu impacto emotivo (menos mais). Sem contar que muitas vezes esse processo tende a uma vastidão indefinida que mais dissipa do que esmiúça o conteúdo em foco (mais menos). A dissipação aqui decorre do excesso de dispersão (mistura da mistura da mistura...) e seu resultado não difere muito da simples anulação acentual, a qual, como vimos, suprime bruscamente as etapas degressivas da modulação pós-acentual. Já no caso da contração do sentido, temos o movimento inverso de triagem dos valores, algo que ocorre em geral depois das miscelâneas factuais ou discursivas levadas ao paroxismo ou, o que dá no mesmo, depois do esgotamento de um conteúdo. A permanecer nesse estágio de somente menos poderíamos supor, inspirados ainda pelo aforismo do poeta francês, que então a vida não “vale” nada! Pelo menos essa vida sem acentos. Nasce, assim, a modulação pré-acentual, sempre disposta a consagrar novo conteúdo por seleção e tonificação. Em outras palavras, a vida continua “valendo” porque sentimos falta de algo relevante que se configura gradualmente ou que já sobrevém plenamente configurado.

Dessa maneira, é comum que o desenrolar dos fenômenos com forte repercussão social ou mesmo o desdobramento discursivo de temas especialmente instigantes, depois de certa expansão comunicacional ou analítica, tendam a se concentrar em imagens ou expressões emblemáticas que representam o processo como um todo e dispensam as informações complementares ou as argumentações explicativas já elaboradas. Do ponto de vista semiótico, a difusão extensiva, quanto mais fecunda, mais sugere uma posterior contração simbólica que, por sua vez, compreende alta seletividade conjugada à intensificação. É com esse elemento acentuado que nos relacionamos emocionalmente, ora desejando-o, ora repelindo-o - mas nunca com indiferença. Isso não significa que a emoção deixe de se espalhar também pelas modulações que sucedem ou antecedem o acento, e sim que a forma concentrada da tonicidade já contém em si um apelo emotivo. Mesmo que se trate de um conceito abstrato construído ao longo do texto, sua redução a poucas palavras ou a uma frase curta vem sempre com força própria que não se reproduz em seus desdobramentos explicativos. É quando nos apegamos a um “belo conceito”, à “síntese elegante de uma teoria” ou à “poeticidade da ciência astronômica” etc. Há sempre um afeto em jogo, mesmo se as palavras subjetivas não estiverem presentes.14 14 Essa tendência da linguagem verbal a se concentrar em palavras ou sentenças breves (provérbios, máximas, aforismos etc.) manifesta a força afetiva da modulação pré-acentual.

Salto acentual

Mas há ainda o salto acentual, quando um acontecimento inesperado com altíssimo valor afetivo surpreende o enunciador e “rouba a cena” que vinha sendo montada num contexto lógico e claramente implicativo. É o caso de “Amantes tardios”, coluna escrita por Eugênio Bucci no jornal Estado de S. Paulo de 02 de junho de 2022.

O ponto de partida desse texto é o acessório que com certa frequência nos dias atuais encapa os jornais impressos, veiculando no espaço correspondente ao das principais manchetes da primeira página um informe publicitário que, no fundo, se aproveita da atenção imediata do leitor, para anunciar um produto comercial. Acostumado a esta altura com tais mensagens, o assinante escaldado costuma atribuir valor zero (somente menos) a essa sobrecapa, limitando-se a descartá-la quase que automaticamente. O próprio colunista admite que faz isso com frequência (“Eu sempre jogo fora todas as ‘capas promocionais’. Nem tomo conhecimento”), mas, desta feita, parece inclinado a receber esses anúncios como sinais de uma época que pede a integração do jornalismo com a publicidade, ainda que historicamente essas áreas não tivessem sido pautadas por objetivos comuns.

Tal simulação de primeira página, antes inadmissível no âmbito dos jornais de prestígio, agora parece ser tolerada e até incentivada para “salvar o negócio” cada vez menos favorável à produção do jornal impresso. Já se pode ver aí certa valorização da chamada capa promocional. O compartilhamento desse espaço nobre de notícias, mesmo que por um brevíssimo intervalo de tempo anterior ao descarte, aumenta o poder de atração da peça publicitária nem que seja apenas por tornar visível algo que talvez se perdesse nos cadernos secundários do mesmo jornal.

Com a descrição meticulosa dessa sobrecapa promocional, que se adere graficamente ao cabeçalho e ao logotipo do periódico, o colunista já demonstra algum entusiasmo com o acordo promissor dos dois setores profissionais que até então caminhavam paralelamente, mas não se misturavam nos espaços de fruição do público. É como se o jornalismo reconhecesse o papel incontornável da publicidade no mundo contemporâneo e oferecesse o seu aval perante leitores cativos. Temos até aí a modulação de reaproveitamento (menos menos) do que estava fadado ao simples descarte.

Mas dá-se então o salto acentual. O que realmente extasiou o autor foi uma capa promocional específica, criada para incrementar as vendas do “dia dos namorados”. A data comemorativa justificava a construção publicitária de cenas amorosas e, consequentemente, a exibição de roupas íntimas com suas devidas logomarcas. Algo, porém, deixou o enunciador “mesmerizado”: a “faixa etária” avançada dos modelos contratados para a promoção. Em vez dos pós-adolescentes habituais, eram dois idosos seminus que manifestavam sensualidade e forte atração entre si.

Aqui, sim, o termômetro da apreciação do colunista atinge o grau máximo do impacto afetivo:

Não consegui desgrudar minhas retinas fatigadas da fotografia em que um homem e uma mulher se abraçam de olhos fechados... A imagem prima pelo realismo, quase dá para ouvir os sussurros...O que me espantou, na manhã de domingo, foi a faixa etária dos modelos, já passados da terceira idade... Mas adorei... Em meio ao conservadorismo assexuado dos textos jornalísticos, vibrei com a libido de peles envelhecidas sequiosas por grudarem uma na outra (BUCCI, 2022Bucci, Eugênio. Amantes Tardios. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. A6, 02 jun. 2022. , p. A6).

Nada mais compatível com o conceito de acontecimento tão enaltecido pela semiótica tensiva de Zilberberg. Nada mais próximo da exclamação no plano da expressão, no sentido de grito, interjeição ou mesmo palavras que condensam emoção e não se dirigem a ninguém em especial. O enunciador encontra-se realmente siderado pelas imagens do informe publicitário, chegando a ouvir os “sussurros” libidinosos das personagens fotografadas, já que elas se mostram ativas diante da sua passividade estarrecida. No fundo, o acontecimento é o fenômeno que queima etapas modulatórias da ascendência gradativa e atinge diretamente o acento máximo de conteúdo (somente mais). Nesse caso, o impacto sofrido pelo colunista é de natureza claramente sensitiva, a ponto de precisar de algum tempo para conseguir descrever o ocorrido em termos racionais.

Só então aparecem as atenuações que jamais explicam o impacto em si, mas propõem conjecturas a respeito dos motivos que o desencadearam. É quando a apreciação do autor da crônica se desdobra no plano da extensidade em busca desses motivos. Ele observa assim que a volúpia das peles envelhecidas contradiz o “fetiche” mercantilista de que só há beleza e atração entre jovens. Cogita ainda que talvez ele próprio tenha se identificado com as personagens da terceira idade, uma vez que, a partir da sugestiva capa, até se sentiu orgulhoso de seus traços pessoais indicando a velhice que se avizinha.

Muito brevemente essa expansão temática (ou modulação pós-acentual) passa a se contrair e a tomar forma de uma síntese metafórica, agora sob controle do enunciador, que se expressa no encontro do casal como símbolo de uma aproximação, também tardia, entre jornalismo e publicidade, não mais apenas como práticas rivais, mas sobretudo como protagonistas de um enlace necessário às suas respectivas continuidades no mercado. Essa é a esperança do colunista que até “faz figa” (este gesto antiquado...) para que se realize. Já se pode notar um novo compromisso afetivo do autor que se define em direção à concentração e ao acento, desta vez construído progressivamente em seu próprio discurso.

Epílogo

A modulação pós-acentual é sempre um caso de mergulho na extensidade ou, se preferirmos, na resolução (ou atenuação) do impacto causado pela ênfase emotiva. Mas ingressar na extensidade significa também dosar o grau de abrangência de um conteúdo para mais ou para menos. No primeiro caso, temos a expansão do tema em diversas frentes analíticas que podem tanto enriquecer o conhecimento em causa como diluí-lo em excessiva dispersão. No segundo, temos a concentração do tema em noções, figuras ou metáforas sintéticas que, como tais, selecionam o essencial do conteúdo anteriormente expandido e adquirem consistência simbólica suficiente para percorrer as etapas tonificantes da modulação pré-acentual (menos menosmais mais). Ou seja, o aumento da densidade de presença (concentração) de um conteúdo já é sinal de aumento da sua tonicidade. No exemplo que acabamos de examinar, os comentários decorrentes da luxúria dos idosos exibida na capa publicitária e as suspeitas do próprio colunista de ter se identificado com a cena fazem parte da expansão temática. A ideia de um acasalamento atual do jornalismo com a publicidade já se configura como um conteúdo em concentração ou uma proposta que se expõe ao acento. Sua ascendência é gradativa, dependente da argumentação, e difere do salto acentual que queima etapas da tonificação e chega diretamente ao somente mais, típico do acontecimento inesperado.

Resta lembrar que a diluição pode proceder do excesso de expansão ou, nesse caso, de dispersão, mas pode também queimar etapas de descendência e chegar imediatamente ao somente menos. Vimos isso no exemplo do colunista Roberto DaMatta, quando, ao autografar um exemplar de seu livro, percebe que outrora já havia assinado a mesma obra para um colega, o qual, em seguida, encaminhou-a a um sebo. Seu entusiasmo com o livro se transforma em decepção afetiva e se dilui sem qualquer etapa transitória de argumentação.

Se nossa vida é sempre a espera do que vale a pena no campo afetivo e a própria espera é sempre um sinal dessa sensibilidade, não nos surpreende que a busca dos acentos se dê tanto nas inflexões entoativas do plano da expressão como nas modulações de sentido do plano do conteúdo. “Prosodizar” o conteúdo, principal intenção declarada da semiótica tensiva, significa introduzir a intensidade acentual, mediada pelas extensidades modulatórias, no cerne do modelo descritivo e repropor, agora em base sintáxica, o isomorfismo entre os planos da linguagem.

Referências

  • Bucci, Eugênio. Amantes Tardios. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. A6, 02 jun. 2022.
  • Cassirer, Ernst. Linguagem e Mito São Paulo: Perspectiva, 2013.
  • DaMatta, Roberto. O livro como um milagre. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C5, 9 mar. 2022.
  • DUVIVIER, Gregório. Amigo pessoal. Folha de S. Paulo, São Paulo, 13 abr. 2022, p. C5.
  • Greimas, Algirdas Julien; Courtès, Joseph. Dicionário de Semiótica São Paulo: Contexto, 2008.
  • Greimas, Algirdas Julien; Fontanille, Jacques. Semiótica das Paixões: Dos estados de coisas aos estados de alma. São Paulo: Ática, 1993.
  • Greimas, Algirdas Julien. Sobre o sentido II São Paulo: Edusp, 2014.
  • Hjelmslev, Louis. Ensaios Linguísticos São Paulo: Perspectiva , 1991.
  • Tatit, Luiz. O ritmo que vem das sílabas. Estudos Semióticos, v. 17, n. 3, p. 1-18, 2021.
  • Tomás, Navarro. Manual de entonacion española México: Colection Malaga, 1966.
  • ValÉry, Paul. Cahiers Paris: Gallimard, 1973. Tome 1.
  • ValÉry, Paul. Cahiers Paris: Gallimard , 1974. Tome 2.
  • Zilberberg, Claude. Le schéma narratif à l’épreuve. Protée, v. 21, n. 1, p. 65-87, 1993.
  • Zilberberg, Claude. Esquisse d’une grammaire du sublime chez Longin. Langages, n. 137, 2000.
  • Zilberberg, Claude. De l’affect à la valeur. In: Castellana, Marcello (org.).Texte et valeur Paris: L’Harmattan, 2001.
  • Zilberberg, Claude. Elementos de Semiótica Tensiva São Paulo: Ateliê Editorial, 2011.
  • 1
    Nessa linha, o Dicionário de Semiótica se reporta à estética da recepção alemã e à expressão “horizonte de espera”, empregada por Hans Robert Jauss para se referir à “previsibilidade das formas de organização discursiva do leitor” (GREIMAS; COURTÉS, 2008Greimas, Algirdas Julien; Courtès, Joseph. Dicionário de Semiótica. São Paulo: Contexto, 2008., p. 196).
  • 2
    Referimo-nos ao aparecimento em 1981 do texto intitulado “De la colère” em um dos documentos de pesquisa publicados pelo Grupo de Pesquisas Sêmio-linguísticas (Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris), no qual Greimas apresenta um método para a descrição semântica de figuras passionais. Este ensaio faz parte do segundo volume da obra Sobre o Sentido II, já traduzido para o português por Dilson Ferreira da Cruz (GREIMAS, 2014Greimas, Algirdas Julien. Sobre o sentido II. São Paulo: Edusp, 2014.).
  • 3
    Trata-se da obra original intitulada Sémiotique: dictionnaire raisonné de la théorie du langage, Vol. I (Paris: Hachette), escrita por Algirdas Julien Greimas em colaboração com Joseph Courtés. Embora estejamos utilizando aqui a versão brasileira deste dicionário, não concordamos com a tradução de attente por “expectativa”. No nosso entender, se fosse essa a acepção do termo no original, os autores teriam escrito expectative e não attente. Por isso, nas citações, adotaremos sempre a expressão “espera” no lugar de “expectativa”.
  • 4
    Esta expressão resume o projeto tensivo desenvolvido por Claude Zilberberg a partir da década de 1980 (ZILBERBERG, 1993Zilberberg, Claude. Le schéma narratif à l’épreuve. Protée, v. 21, n. 1, p. 65-87, 1993., p. 82; 2001Zilberberg, Claude. De l’affect à la valeur. In: Castellana, Marcello (org.).Texte et valeur. Paris: L’Harmattan, 2001., p. 55; 2011Zilberberg, Claude. Elementos de Semiótica Tensiva. São Paulo: Ateliê Editorial, 2011., p. 120, entre inúmeras outras menções).
  • 5
    No original: “La structure est donc comparable à l’attente” (VALÉRY, 1973ValÉry, Paul. Cahiers. Paris: Gallimard, 1973. Tome 1., p. 1315).
  • 6
    No original: “La sensibilité est en relation avec attente” (VALÉRY, 1973ValÉry, Paul. Cahiers. Paris: Gallimard, 1973. Tome 1., p. 1315).
  • 7
    No original: “L’intensité devient l’expression analytique du sensible” (ZILBERBERG, 2000Zilberberg, Claude. Esquisse d’une grammaire du sublime chez Longin. Langages, n. 137, 2000., p. 104).
  • 8
    Hjelmslev sugeria certa equivalência categorial entre, de um lado, elementos linguísticos de abrangência local, como acentos (no plano da expressão) e morfemas nominais (no plano do conteúdo) e, de outro, elementos de abrangência global, como modulações (no plano da expressão) e morfemas verbais (no plano do conteúdo). Definia os primeiros como elementos intensos e os últimos como extensos (HJELMSLEV, 1991Hjelmslev, Louis. Ensaios Linguísticos. São Paulo: Perspectiva , 1991., p. 175).
  • 9
    Essas etapas são denominadas prótase / apódose pela retórica e anticadência / cadência por Navarro Tomas (1966Tomás, Navarro. Manual de entonacion española. México: Colection Malaga, 1966.).
  • 10
    Talvez possamos falar nesse caso em “valência”, no sentido que lhe foi dado por Greimas e Fontanille no volume Semiótica das Paixões (1993): “A valência é uma ‘sombra’ que suscita o ‘pressentimento’ do valor.” (GREIMAS; FONTANILLE, 1993Greimas, Algirdas Julien; Fontanille, Jacques. Semiótica das Paixões: Dos estados de coisas aos estados de alma. São Paulo: Ática, 1993., p. 44)
  • 11
    A semiótica narratológica atribui essa função ao destinador julgador.
  • 12
    Tratamos das partições em recente artigo sobre a origem silábica dos acentos prosódicos (TATIT, 2021Tatit, Luiz. O ritmo que vem das sílabas. Estudos Semióticos, v. 17, n. 3, p. 1-18, 2021. ).
  • 13
    « Le monde ne vaut que par les extrêmes et ne dure que par les moyens. Il ne vaut que par les ultras et ne dure que par les modérés » [O mundo vale pelos extremos e dura pelos meios. Vale pelos radicais e dura pelos moderados.] (VALÉRY, 1974ValÉry, Paul. Cahiers. Paris: Gallimard , 1974. Tome 2., p. 1368). Claro que nos reportamos diretamente à primeira frase do adágio valeriano.
  • 14
    Essa tendência da linguagem verbal a se concentrar em palavras ou sentenças breves (provérbios, máximas, aforismos etc.) manifesta a força afetiva da modulação pré-acentual.

Editado por

Editora-chefe dos Estudos de Linguagem:

Bethania Mariani

Editores convidados:

Pierluigi Basso-Fossali, Renata Mancini

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Dez 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    30 Maio 2023
  • Aceito
    30 Jun 2023
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