Acessibilidade / Reportar erro

Um panorama das práticas comunitárias da terapia ocupacional na América Latina

Resumo

Introdução

A história recente da terapia ocupacional (TO) mostra, em escala global, grande preocupação com questões sociocomunitárias que afetam as ocupações e o cotidiano das pessoas. Terapeutas ocupacionais, atuando na sociedade e atendendo a suas demandas, buscam promover inclusão, emancipação e participação na vida sociocomunitária das pessoas. Não obstante, estudos latino-americanos sobre as intervenções comunitárias de terapeutas ocupacionais ainda são escassos, o que sugere pesquisas mais específicas sobre os contornos e fundamentos dessas intervenções.

Objetivo

Investigar a produção de terapeutas ocupacionais sobre as práticas comunitárias em terapia ocupacional, priorizando os conceitos utilizados para fundamentar essas intervenções, na América Latina, entre 2006 e 2016.

Método

Uma revisão de escopo foi realizada nos idiomas português e espanhol. A busca pelos artigos foi feita por meio das bases de dados do Portal de Periódicos da CAPES, de questionários para informantes chave, além de busca manual em revistas de terapia ocupacional. Foram usados os descritores: terapia ocupacional, práticas, intervenção, comunidade e terapia ocupacional social, nos dois idiomas.

Resultados

A análise temática do material mostrou que há grande diversidade nas práticas desenvolvidas em comunidade, que vêm crescendo nos últimos anos. Não obstante, a fundamentação teórico-metodológica, bem como as definições conceituais ainda são escassas.

Conclusão

As práticas comunitárias desenvolvidas por terapeutas ocupacionais, embora mais frequentes, ainda não são sistematicamente investigadas na América Latina. Recomenda-se maior aprofundamento teórico e metodológico dos modelos identificados para a consolidação do campo.

Palavras-chave:
Terapia Ocupacional; Prática Profissional; Participação da Comunidade; América Latina

Abstract

Introduction

The recent history of Occupational Therapy (OT) shows, on a global scale, great concern about socio-communal issues that affect people's occupations and daily lives. Occupational therapists, acting in society and meeting its demands, seek to promote inclusion, emancipation, and participation in the socio-communal life of people. Nevertheless, Latin American studies on community interventions realized by occupational therapists are still scarce, suggesting more specific research on the designs and foundations of these interventions.

Objective

To investigate the production by occupational therapists on community practices in Occupational Therapy, prioritizing the concepts used to support these interventions in Latin America, between 2006 and 2016.

Method

A scoping review was carried out in Portuguese and Spanish. We searched for the articles through the CAPES Portal of Periodical databases, questionnaires for key informants, and manual searches in Occupational Therapy journals. The descriptors applied were: occupational therapy, practices, intervention, community, and occupational social therapy, in both languages.

Results

The thematic analysis of the material showed that there is great diversity in the practices developed in the community, which have been growing in recent years. Nevertheless, theoretical-methodological foundations, as well as conceptual definitions, are still scarce.

Conclusion

Community practices developed by occupational therapists, although more frequent, are still not systematically investigated in Latin America. Greater theoretical and methodological work on identified models is recommended for the consolidation of the field.

Keywords:
Occupational Therapy; Professional Practice; Community Participation; Latin America

1 Introdução

Em escala global, nas últimas décadas, as questões sociocomunitárias que afetam as ocupações e o cotidiano das pessoas têm grande relevância na terapia ocupacional (Farias & Laliberte, 2016Farias, L., & Laliberte, R. D. (2016). A critical interpretive synthesis of the uptake of critical perspectives in occupational science. Journal of Occupational Science, 23(1), 33-50.; Farias et al., 2016Farias, L., Laliberte, R. D., & Magalhães, L. (2016). Illustrating the importance of critical epistemology to realize the promise of occupational justice. OTJR, 36(4), 234-243., 2017Farias, L., Laliberte, R. D., & Magalhães, L. (2017). Reclaiming the potential of transformative scholarship to enable social justice. International Journal of Qualitative Methods, 16, 1-10., 2018Farias, L., Laliberte, R. D., Pollard, N., Schiller, S., Malfitano, A., Thomas, K., & van Bruggen, H. J. (2018). Critical dialogical approach: A methodological direction for occupation-based social transformative work. Scandinavian Journal of Occupational Therapy, 4(26), 235-245.; Galheigo, 2011Galheigo, S. (2011). What needs to be done? Occupational therapy responsibilities and challenges regarding human rights. Australian Occupational Therapy Journal, 58(2), 60-66.; Gerlach et al., 2017Gerlach A. J., Teachman, G., Laliberte-Rudman, D., Aldrich, R. M., & Huot, S. (2017). Expanding beyond individualism: Engaging critical perspectives on occupation. Scandinavian Journal of Occupational Therapy, 25(1), 35-43. https://doi.org/10.1080/11038128.2017.1327616.
https://doi.org/10.1080/11038128.2017.13...
). As primeiras experiências comunitárias na terapia ocupacional, na América Latina, originaram-se nos anos 1970, a partir dos movimentos da reforma psiquiátrica e do modelo comunitário em saúde mental (Paganizzi, 2015aPaganizzi, L. (2015a). Sobre la emergencia de los fundamentos sociales de nuestra profesión: producciones argentinas de los años´80. In Anais do 9º Congreso Argentino de Terapia Ocupacional (pp.274-279). Argentina: Fundación La Hendija.; Nabergoi, 2013Nabergoi, M. (2013). El proceso de transformación de la atención psiquiátrica hacia el enfoque de cuidados en salud mental en Argentina. Participación de terapia ocupacional en la construcción del campo de la salud mental en la ciudad de Buenos Aires (1957-1976) (Tese de doutorado). Universidade Nacional de Lanús, Buenos Aires.). Esses processos impactaram o exercício profissional e levaram à desinstitucionalização, não apenas da psiquiatria, mas também de um conjunto de práticas de outros profissionais, incluindo as terapeutas ocupacionais1 1 As autoras deste artigo apoiam o combate ao uso do masculino genérico (falso neutro) nas publicações. Deste modo, sempre que possível, utilizaremos o feminino genérico, já que, estatisticamente, as terapeutas ocupacionais são maioria, nos países estudados nesta revisão (Franco & Cervera, 2006). . Assim, as intervenções passaram também a ser desenvolvidas em novos espaços, nas organizações comunitárias, nos clubes, entre outros (Navarrete et al., 2015Navarrete, E., Cantero, P., Guajardo, A., Sepúlveda, R., & Moruno, P. (2015). Aproximación a la Sociedad y a la Comunidad desde la Terapia Ocupacional. In E. Navarrete, P. Cantero, A. Guajardo, R. Sepúlveda & P. Moruno. (Eds.), Terapia Ocupacional y Exclusión Social (pp. 15-63). Santiago: Segismundo SpA.). Nessas práticas os profissionais buscam promover participação social e emancipação para melhorar as condições de vida das pessoas (Kronenberg et al., 2006Kronenberg, F., Simó Algado, S., & Pollard, N. (2006). Terapia Ocupacional sin Fronteras: aprendiendo del espíritu de supervivientes. Buenos Aires: Ed. Panamericana.), articulando as demandas individuais, coletivas e institucionais (Malfitano, 2016Malfitano, A. P. S. (2016). Contexto Social e atuação social: generalizações e especificidades na terapia ocupacional. In R. E. Lopes & A. P. S. Malfitano (Orgs.), Terapia Ocupacional Social: desenhos teóricos e contornos práticos (pp. 117-133). São Carlos: EDUFSCar.).

Navarrete et al. (2015)Navarrete, E., Cantero, P., Guajardo, A., Sepúlveda, R., & Moruno, P. (2015). Aproximación a la Sociedad y a la Comunidad desde la Terapia Ocupacional. In E. Navarrete, P. Cantero, A. Guajardo, R. Sepúlveda & P. Moruno. (Eds.), Terapia Ocupacional y Exclusión Social (pp. 15-63). Santiago: Segismundo SpA. mostram que terapeutas ocupacionais, historicamente, sempre precisaram de ferramentas para desenvolver teorias e ações de forma sistemática e sólida, argumentando que apenas nas últimas décadas têm sido produzidos trabalhos aprofundados sobre a influência das questões sociais na participação ocupacional. Essa opinião é corroborada por colegas chilenas e chilenos (Pino et al., 2015Pino, M. J., Ceballos, C. M., & Hernández, S. R. (2015). Terapia ocupacional comunitaria crítica: diálogos y reflexiones para iniciar una propuesta colectiva. TOG A Coruña, 12(22), 1-20.).

No caso deste estudo, adotamos a expressão terapia ocupacional comunitária numa tentativa de abranger as diferentes práticas que são desenvolvidas na América Latina, considerando espaços para além dos consultórios e das instituições de saúde tradicionais, além de abordagens voltadas ao coletivo, diferentemente dos modelos individualizados de cuidado e promoção social. Como discutiremos adiante, essa denominação está longe de ser consensual, mas aparenta ser a que representa majoritariamente os modelos adotados pelas terapeutas latino-americanas, como se observou nesta revisão.

1.1 Teorizar sobre a comunidade: um desafio teórico e prático

Comunidade é um conceito controverso que possui perspectivas afiliadas a diferentes modos de pensar a organização social (Correia & Akerman, 2015Correia, R. L., & Akerman, M. (2015). Desenvolvimento local participativo, rede social de suporte e ocupação humana: relato de experiência em projeto de extensão. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(1), 159-165.; Costa, 2012Costa, S. L. (2012). Terapia Ocupacional Social: dilemas e possibilidades da atuação junto a Povos e Comunidades Tradicionais. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 20(1), 43-54.). A despeito disso, no âmbito da terapia ocupacional, Oliver & Galheigo (2016)Oliver, F. C., & Galheigo, S. M. (2016). Terapia Ocupacional en la Comunidad: desafíos para el acceso a los derechos. In A. S. Simó, C. A. Guajardo & O. F. Corrêa (Eds.), Terapias ocupacionales desde el sur: derechos humanos, ciudadanía y participación (pp. 341-356). Chile: USACH. mostram que as práticas realizadas na comunidade podem ajudar a enfrentar as problemáticas na vida cotidiana das pessoas com deficiência, bem como daquelas em situação de ruptura das redes sociais e de suporte. Assim, as autoras explicam que é indispensável entender as condições de exclusão social não como um problema individual, mas como parte de um processo social.

Embora teorizações sobre comunidade propostas por terapeutas ocupacionais sejam raras, a literatura traz noções relacionadas, como a participação comunitária, por exemplo (Barros et al., 2007Barros, D. D., Lopes, R. E., & Galheigo, S. M. (2007). Novos espaços, novos sujeitos: a Terapia Ocupacional no trabalho territorial e comunitário. In C. R. Galvão & A. Cavalcanti (Eds.), Terapia ocupacional: Fundamentação e prática (pp. 353-358). São Paulo: Guanabara Koogan.). Neste caso, com base em uma perspectiva inspirada pelas teorias de participação popular, o uso do termo supõe o engajamento das pessoas de uma comunidade que se envolvem nos assuntos locais, criando oportunidades para contribuir no desenvolvimento local e na distribuição mais equitativa dos resultados que este engajamento gera (Barros et al., 2007Barros, D. D., Lopes, R. E., & Galheigo, S. M. (2007). Novos espaços, novos sujeitos: a Terapia Ocupacional no trabalho territorial e comunitário. In C. R. Galvão & A. Cavalcanti (Eds.), Terapia ocupacional: Fundamentação e prática (pp. 353-358). São Paulo: Guanabara Koogan.). Deste modo, assinala-se o engajamento dos grupos na solução de problemas comuns e que almejam “a conquista da emancipação social e política dessa população” (Barros et al., 2007Barros, D. D., Lopes, R. E., & Galheigo, S. M. (2007). Novos espaços, novos sujeitos: a Terapia Ocupacional no trabalho territorial e comunitário. In C. R. Galvão & A. Cavalcanti (Eds.), Terapia ocupacional: Fundamentação e prática (pp. 353-358). São Paulo: Guanabara Koogan., p. 357). Nesse sentido, Palacios, terapeuta ocupacional chilena, afirma em relação às práticas comunitárias de terapia ocupacional: “[…] a participação em ocupações coletivas através de ações de fortalecimento comunitário pode permitir uma construção de sentido de comunidade […]” (Palacios, 2015Palacios, M. (2015). Ocupación Colectiva, Sentido de Comunidad y Bienestar psicosocial. In P. Caro-Vines, R. Morrison & M. Palacios (Eds.), Colegio de Terapeutas Ocupacionales de Chile (pp. 143-159). Santiago: Ediciones On Demand., p. 245, tradução nossa).

Diferentemente, as terapeutas ocupacionais norte-americanas Scaffa & Reitz (2014)Scaffa, M. E., & Reitz, S. M. (2014). Occupational therapy community-based practice settings. Filadelfia: F.A. Davis. sugerem uma definição específica de comunidade, inspirada por Green & Raeburn (1990 apud Scaffa & Reitz, 2014Scaffa, M. E., & Reitz, S. M. (2014). Occupational therapy community-based practice settings. Filadelfia: F.A. Davis., p. 5, tradução nossa), como “[…] uma reunião não institucional de pessoas unidas por objetivos comuns ou outros propósitos”. As autoras também citam O‘Connell (1988 apud Scaffa & Reitz, 2014Scaffa, M. E., & Reitz, S. M. (2014). Occupational therapy community-based practice settings. Filadelfia: F.A. Davis., p. 5, tradução nossa), ao descrever o “[…] espaço no qual as pessoas pensam por si mesmas, sonham seus sonhos e se juntam para criar e celebrar sua comum humanidade […]”. Embora esses conceitos até possam ser vistos como idealizados e historicamente descontextualizados, mostram uma perspectiva ligada à dimensão ocupacional, ao pertencimento e aos projetos coletivos. Ademais, Scaffa & Reitz (2014)Scaffa, M. E., & Reitz, S. M. (2014). Occupational therapy community-based practice settings. Filadelfia: F.A. Davis. lembram que as práticas comunitárias, por se desenvolverem nos ambientes cotidianos das pessoas, geram visibilidade ao trabalho de terapeutas ocupacionais, que neste caso atuam oferecendo respostas às necessidades ocupacionais da comunidade. Isto nos levou a realizar uma revisão de escopo da literatura, concebida com base nos pressupostos de Arksey & O’Malley (2005)Arksey, H., & O’Malley, L. (2005). Scoping studies: towards a methodological framework. International Journal of Social Research Methodology, 8(1), 19-32., com o objetivo de investigar o que terapeutas ocupacionais têm produzido sobre as práticas comunitárias em terapia ocupacional, priorizando os conceitos utilizados para fundamentar essas intervenções, na América Latina, entre 2006 e 2016.

2 Considerações Metodológicas

A revisão de escopo da literatura (scoping review), também chamada de panorâmica, foi proposta pelas inglesas Arksey & O’Malley (2005)Arksey, H., & O’Malley, L. (2005). Scoping studies: towards a methodological framework. International Journal of Social Research Methodology, 8(1), 19-32., ainda que suas diretrizes venham sendo seguidamente ampliadas e refinadas (Colquhoun et al., 2014Colquhoun, H. L., Levac, D., O’brien, K. K., Straus, S., Tricco, A. C., Perrier, L., Kastner, M., & Moher, D. (2014). Scoping reviews: time for clarity in definition, methods, and reporting. Journal of Clinical Epidemiology, 67(12), 1291-1294.; O’Brien et al., 2016O’Brien, K. K., Colquhoun, H., Levac, D., Baxter, L., Tricco, A. C., Straus, S., Wickerson, L., Nayar, A., Moher, D., & O'Malley, L. (2016). Advancing scoping study methodology: a web-based survey and consultation of perceptions on terminology, definition and methodological steps. BMC Health Services Research, 16(1), 305.; Grant & Booth, 2009Grant, M. J., & Booth, A. (2009). A typology of reviews: an analysis of 14 review types and associated methodologies. Health Information and Libraries Journal, 26(2), 91-108.; Tricco et al., 2016Tricco, A. C., Lillie, E., Zarin, W., O’Brien, K., Colquhoun, H., Kastner, M., Levac, D., Ng, C., Sharpe, J. P., Wilson, K., Kenny, M., Warren, R., Wilson, C., Stelfox, H. T., & Straus, S. E. (2016). A scoping review on the conduct and reporting of scoping reviews. BMC Medical Research Methodology, 16(1), 1-10.). Trata-se de um modelo de síntese de literatura adequado a tópicos ainda pouco explorados e aborda temas amplos para os quais diferentes desenhos de estudo podem ser sintetizados, inclusive a chamada literatura cinza. A ideia central é descrever e organizar a abrangência da produção científica sobre um determinado tópico, na qual a qualidade (robustez metodológica) dos trabalhos incluídos não é avaliada (Peters et al., 2017Peters, M. D. J., Godfrey, C., McInerney, P., Baldini Soares, C., Khalil, H., & Parker, D. (2017) Scoping Reviews. In E Aromataris & Z Munn (Eds)., Joanna Briggs Institute Reviewer’s Manual(pp. 408-446). The Joanna Briggs Institute. Recuperado em 23 de abril de 2017, de https://reviewersmanual.joannabriggs.org/
https://reviewersmanual.joannabriggs.org...
).

Conforme os passos sugeridos por Arksey & O’Malley (2005)Arksey, H., & O’Malley, L. (2005). Scoping studies: towards a methodological framework. International Journal of Social Research Methodology, 8(1), 19-32., cinco fases foram realizadas: 1. identificação da pergunta de pesquisa; 2. seleção dos artigos relevantes a serem analisados; 3. consolidação da amostra; 4. extração dos dados dos artigos de acordo com a pergunta de pesquisa; 5. análise numérico/temática e relato dos resultados. Uma sexta etapa, adicional (Colquhoun et al., 2014Colquhoun, H. L., Levac, D., O’brien, K. K., Straus, S., Tricco, A. C., Perrier, L., Kastner, M., & Moher, D. (2014). Scoping reviews: time for clarity in definition, methods, and reporting. Journal of Clinical Epidemiology, 67(12), 1291-1294.), foi realizada exclusivamente para a busca de material em espanhol, conforme detalharemos a seguir.

Duas perguntas guiaram o estudo: 1. O que as terapeutas ocupacionais produziram sobre as práticas comunitárias em TO na América Latina, entre 2006 e 2016? 2. Quais conceitos têm sido utilizados para fundamentar essas intervenções?

Estratégias de busca, tanto de artigos revisados pelos pares quanto de literatura cinza, foram iniciadas com base no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que engloba bases de dados internacionais importantes da área. Teses e dissertações foram excluídas. A primeira busca resultou em 295 artigos em português e apenas 2 em língua espanhola. Considerando o baixo número de artigos em espanhol, estratégias adicionais de busca foram adotadas para o idioma, o que determinou a consulta a informantes chave por meio de correio eletrônico enviado a terapeutas ocupacionais aos quais tínhamos acesso2 2 Aqueles terapeutas ocupacionais cujo contato (e-mail) aparecia nos artigos ou livros relativos à temática das práticas comunitárias. na América Latina e que poderiam oferecer informações a respeito. Além disso, entramos em contato com entidades latino-americanas representativas de terapeutas ocupacionais, solicitando trabalhos escritos sobre a temática, conforme sugerem Arksey & O’Malley (2005)Arksey, H., & O’Malley, L. (2005). Scoping studies: towards a methodological framework. International Journal of Social Research Methodology, 8(1), 19-32., bem como Colquhoun et al. (2014)Colquhoun, H. L., Levac, D., O’brien, K. K., Straus, S., Tricco, A. C., Perrier, L., Kastner, M., & Moher, D. (2014). Scoping reviews: time for clarity in definition, methods, and reporting. Journal of Clinical Epidemiology, 67(12), 1291-1294.. Uma busca exaustiva nas revistas de terapia ocupacional, com textos em espanhol da América Latina, também foi realizada: Revista Argentina de Terapia Ocupacional, Revista Ocupación Humana (Colômbia), Revista Chilena de Terapia Ocupacional, Revista ContexTO (Chile).

A primeira busca foi feita com base em combinações dos termos: terapia ocupacional, práticas, comunidade, intervenção, bem como dos seus correspondentes em idioma espanhol. As expressões terapia ocupacional social e território foram anexadas em uma segunda busca, em resposta ao alto número de ocorrências quando buscamos artigos em português. Conforme sugerem Arksey & O’Malley (2005)Arksey, H., & O’Malley, L. (2005). Scoping studies: towards a methodological framework. International Journal of Social Research Methodology, 8(1), 19-32., na revisão de escopo se prevê a possibilidade de adicionar ou remover expressões, em resposta aos achados provenientes das buscas. As duas expressões não foram identificadas nos estudos publicados em idioma espanhol.

Ao final, foram incluídos estudos empíricos, teóricos e relatos de experiência publicados em português e espanhol, devido ao interesse em identificar estudos mais acessíveis ao conjunto dos profissionais na América Latina. A busca considerou o período entre 2006-2016 ao constatar que a produção teórica tem aumentado nas últimas décadas (Navarrete et al., 2015Navarrete, E., Cantero, P., Guajardo, A., Sepúlveda, R., & Moruno, P. (2015). Aproximación a la Sociedad y a la Comunidad desde la Terapia Ocupacional. In E. Navarrete, P. Cantero, A. Guajardo, R. Sepúlveda & P. Moruno. (Eds.), Terapia Ocupacional y Exclusión Social (pp. 15-63). Santiago: Segismundo SpA.).

A busca resultou em 325 trabalhos em português e espanhol obtidos pelas nomeadas estratégias de busca: 297 foram coletados por meio das bases de dados, 20 textos foram obtidos por meio dos informantes chave e 8 foram extraídos das revistas de terapia ocupacional latino-americanas, em espanhol.

Adicionalmente, um conjunto de critérios de relevância (Kastner et al., 2012Kastner, M., Tricco, A. C., Soobiah, C., Lillie, E., Perrier, L., Horsley, T., & Straus, S. E. (2012). What is the most appropriate knowledge synthesis method to conduct a review? Protocol for a scoping review. BMC Medical Research Methodology, 12, 1-10.) foi aplicado à inclusão do material, contendo os seguintes elementos:

  1. 1

    descrever práticas realizadas por terapeutas ocupacionais em abordagens comunitárias;

  2. 2

    ter sido publicado no período e regiões propostos;

  3. 3

    estar disponível em português ou espanhol;

  4. 4

    descrever pesquisas, intervenções ou discussões teóricas sobre estas práticas.

Foram selecionados apenas documentos que atendiam aos 4 critérios. Com base na leitura dos títulos e resumos dos 325 artigos iniciais, foram excluídos aqueles que não se referiam às práticas da terapia ocupacional na comunidade ou da chamada terapia ocupacional social. Excluímos também as revisões de literatura, que não devem ser incluídas em revisões, para evitar a duplicação da análise do mesmo artigo (Lopes & Fracolli, 2008Lopes, A. L. M., & Fracolli, L. A. (2008). Revisão sistemática de literatura e metassíntese qualitativa: considerações sobre sua aplicação na pesquisa em enfermagem. Texto & Contexto - Enfermagem, 17(4), 771-778.). A busca foi realizada pelas duas primeiras autoras, em separado, para cada idioma. Sempre que houve dúvida sobre a inclusão de um artigo ou material, a resolução final foi feita pela terceira autora.

Finalmente, dos 325 trabalhos obtidos pelas estratégias de busca (Portal de CAPES, consulta a informantes chave e busca exaustiva em revistas de TO), apenas 56 foram selecionados para análise final pois respondiam aos critérios de relevância, conforme Figura 1.

Figura 1
Fluxograma da busca na literatura e inclusão de artigos.

Os artigos selecionados foram lidos na íntegra para a extração dos dados. A descrição e análise dos artigos foi organizada no modelo matricial (Garrard, 2016Garrard, J. (2016). Health sciences literature review made easy: the matrix method. Massachusetts: Jones & Bartlett Learning.), contendo as seguintes colunas: título, autores, data e lugar da publicação/apresentação, objetivos/ propósito/ pergunta de pesquisa, população, localização, estratégias utilizadas, principais resultados, recomendações e perguntas para investigações futuras. Atenção especial foi dada aos conceitos empregados para fundamentar as práticas comunitárias. Uma análise temática dos achados foi realizada, buscando responder às duas perguntas de pesquisa (Braun & Clarke, 2006Braun, V., & Clarke, V. (2006). Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research in Psychology, 3(2), 77-101.).

3 Práticas Comunitárias na Terapia Ocupacional na América Latina: um Campo Desenvolvido com Base em Muitas Vertentes

Esta revisão de literatura apontou grande diversidade de perspectivas e abordagens na produção desenvolvida por terapeutas ocupacionais no campo das práticas em comunidade. Dos estudos incluídos, a maioria é de natureza qualitativa (88,8%), além disso, duas pesquisas mistas (quali-quanti) foram encontradas e apenas uma investigação utilizou métodos quantitativos.

De modo geral, houve um crescimento constante da produção na área, embora apenas autores radicados em 4 países da América Latina tenham sido identificados: Argentina, Brasil, Chile e Colômbia.

3.1 Estudos sobre as práticas comunitárias de terapia ocupacional: uma tipologia

Os 56 trabalhos incluídos na revisão foram publicados ou foram apresentados em congressos entre os anos de 2006 e 2016, sendo 23 (41,07%) do Brasil, 22 (39,28%) da Argentina, 9 (16,07%) do Chile e 2 (3,58%) da Colômbia.

Os trabalhos e publicações encontrados no Brasil são majoritariamente artigos de pesquisa (63,6%), seguidos dos relatos de experiência (22,7%) e ensaios de orientação teórica (13,7%). Na Argentina, os relatos de experiência preponderam (52,2%), seguidos dos artigos teóricos (26,1%) e artigos de pesquisa (21,7%). As publicações chilenas priorizaram artigos de pesquisa (83,3%), enquanto as publicações colombianas se distribuíram igualmente entre a pesquisa e o relato de experiências (Figura 2).

Figura 2
Distribuição dos tipos de trabalho por país.

A Figura 3 mostra a distribuição dos artigos de cada país, no período abrangido. Observa-se que, nos anos recentes, a produção sobre a temática tem aumentado, já que 60% do material analisado concentra-se nos últimos quatro anos da década considerada (2012-2016).

Figura 3
Produções por ano e país.

Nas tabelas a seguir, a primeira (Tabela 1) refere-se aos autores, anos de publicação e plataformas de publicação dos artigos, e a segunda (Tabela 2) refere-se aos autores, anos e fontes da literatura cinza incluída na revisão (enviados pelos informantes chave).

Tabela 1
Autores, ano e plataformas das publicações.
Tabela 2
Autores, ano e plataformas dos estudos da literatura cinza (idioma espanhol).

3.2 Os fundamentos teóricos das práticas de terapeutas ocupacionais com enfoque comunitário

Para efeito de organização do texto, dividiremos os achados em dois grandes grupos: estudos em português e estudos em espanhol.

3.2.1 Práticas comunitárias nos países de língua espanhola

Em idioma espanhol foram identificados poucos trabalhos de natureza teórica sobre as práticas comunitárias. Somente dois artigos procuraram conceituar as referidas práticas (Paganizzi, 2015bPaganizzi, L. (2015b). TO en Comunidad – Comunidad en TO. In Anais do 9º Congreso Argentino de Terapia Ocupacional (pp.22-33). Argentina: Fundación La Hendija ; Oyarzun et al., 2009Oyarzun, S. N., Zolezzi, G. R., Núñez, S. J., & Palacios, T. M. (2009). Hacia la construcción de las prácticas comunitarias de terapeutas ocupacionales en Chile, desde una mirada socio histórica, desde 1972 hasta la actualidad. Revista Chilena de Terapia Ocupacional, (9), 149-165.), e quatro trabalhos desenvolveram definições de comunidade, utilizando referenciais da Psicologia Comunitária e da Sociologia (Pino et al., 2015Pino, M. J., Ceballos, C. M., & Hernández, S. R. (2015). Terapia ocupacional comunitaria crítica: diálogos y reflexiones para iniciar una propuesta colectiva. TOG A Coruña, 12(22), 1-20.; Palacios & Morán, 2016Palacios, M., & Morán, P. J. (2016). Reconstrucción del sentido de comunidad y ocupaciones colectivas: experiencia de transformación de prácticas de salud primaria rural. In A. S. Simó, C. A. Guajardo & O. F. Corrêa (Eds.), Terapias ocupacionales desde el sur: derechos humanos, ciudadanía y participación (pp. 415-430). Chile: USACH.; Pino & Ceballos, 2015Pino, M. J., & Ceballos, C. M. (2015). Terapia ocupacional comunitaria y rehabilitación basada en la comunidad: hacia una inclusión socio-comunitaria. Revista Chilena de Terapia Ocupacional, 15(2), 1-15.). A terapeuta ocupacional Liliana Paganizzi argumenta que, na Argentina, a prática em comunidade se caracteriza como:

[...] uma prática que amplia o cenário profissional para o território de vida das pessoas com deficiência e/ou em situação de risco social, também comunidade se desenvolve como uma estratégia dentro do campo da saúde mental, e que na atualidade comunidade pode se pensar como um fundamento em crescimento que amplia o campo disciplinar (Paganizzi, 2015bPaganizzi, L. (2015b). TO en Comunidad – Comunidad en TO. In Anais do 9º Congreso Argentino de Terapia Ocupacional (pp.22-33). Argentina: Fundación La Hendija , p.1, tradução nossa).

A autora propõe, então, um “archi concepto” (Paganizzi, 2015bPaganizzi, L. (2015b). TO en Comunidad – Comunidad en TO. In Anais do 9º Congreso Argentino de Terapia Ocupacional (pp.22-33). Argentina: Fundación La Hendija , p. 1), já que não seria possível pensá-lo a partir de um único lugar, e deveria ser descrito em “[...] três categorias provisórias: uma prática profissional, uma estratégia, e um fundamento em crescimento” (Paganizzi, 2015bPaganizzi, L. (2015b). TO en Comunidad – Comunidad en TO. In Anais do 9º Congreso Argentino de Terapia Ocupacional (pp.22-33). Argentina: Fundación La Hendija , p. 1, tradução nossa).

As chilenas Oyarzun et al. (2009)Oyarzun, S. N., Zolezzi, G. R., Núñez, S. J., & Palacios, T. M. (2009). Hacia la construcción de las prácticas comunitarias de terapeutas ocupacionales en Chile, desde una mirada socio histórica, desde 1972 hasta la actualidad. Revista Chilena de Terapia Ocupacional, (9), 149-165. também investigaram as práticas comunitárias. No estudo, as terapeutas ocupacionais entrevistadas apontaram três elementos centrais nessas práticas: “[...] a cotidianidade, a experiência e o significado que se dá a elas” (Oyarzun et al., 2009Oyarzun, S. N., Zolezzi, G. R., Núñez, S. J., & Palacios, T. M. (2009). Hacia la construcción de las prácticas comunitarias de terapeutas ocupacionales en Chile, desde una mirada socio histórica, desde 1972 hasta la actualidad. Revista Chilena de Terapia Ocupacional, (9), 149-165., p. 14, tradução nossa).

Por outro lado, a Reabilitação Baseada na Comunidade (RBC), estratégia impulsionada pelos organismos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), aparece em sete trabalhos latinos dos países nomeados (Argentina, Brasil, Chile e Colômbia). Neste caso, Pellegrini (2006Pellegrini, M. (2006). Terapia ocupacional en la rehabilitación basada en la comunidad –RBC. Terapia-Ocupacional.com: El portal en español de Terapia Ocupacional. Recuperado em 23 de abril de 2017, de http://www.terapia-ocupacional.com/articulos/Rehabilitacion_comunidad_terapia_ocupacional_Pellegrini.shtml
http://www.terapia-ocupacional.com/artic...
, p. 1, tradução nossa) propõe:

Na RBC as intervenções estão orientadas, na maioria dos casos, para a integração social do indivíduo. A ênfase do trabalho está baseada na avaliação do perfil funcional e o encaminhamento de recursos que possam compensar as incapacidades e permitam a plena integração em seu meio natural.

García-Ruiz & Quintana (2015García-Ruiz, S., & Quintana, P. (2015). Las redes de los afectos: aprendizajes en la Red de Rehabilitación Basada en Comunidad de las Américas. Revista de la Facultad de Medicina, 63(1), 161-168., p. 162, tradução nossa) enquadram a estratégia da RBC na perspectiva de direitos, explicando que “[…] pretende dar cumprimento aos princípios da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência a partir do desenvolvimento comunitário [...]”. Deste modo, as práticas comunitárias desenvolvidas por profissionais da Argentina, Chile e Colômbia parecem ter recebido influências da RBC. Nesse sentido, é interessante a crítica que apresentam Guajardo-Córdoba et al. (2015Guajardo-Córdoba, A., Recabarren-Hernández, E., Asún-Salazar, D., Zamora-Astudillo, C., & Cottet-Soto, P. (2015). Evaluación de la estrategia de rehabilitación de base comunitaria (RBC) desde la perspectiva de la comunidad y los equipos locales de rehabilitación. Revista de la Facultad de Medicina, 63(1), 41-50., p. 49, tradução nossa) após estudo sobre a RBC nos territórios chilenos:

O que subjaz é uma visão de comunidade como território, setor ou residência com articulação com atores ou indivíduos, centrada na oferta de reabilitação. Desta forma, a RBC-CCR3 3 Centros comunitários de reabilitação. adquire uma forma de externalização de ações hospitalares e uma descentralização a nível local dos sistemas de reabilitação, mais que um processo de inclusão e trabalho comunitário, no qual se compreenda a comunidade como sujeito ator.

Cabe ressaltar ainda que a RBC vem sendo valorizada pela World Federation of Occupational Therapists (2018)World Federation of Occupational Therapists - WFOT (2018). Definition of Occupational Therapy. Recuperado em 26 de Setembro de 2018, de http://www.wfot.org/AboutUs/AboutOccupationalTherapy/DefinitionofOccupationalTherapy. aspx.
http://www.wfot.org/AboutUs/AboutOccupat...
, que tem reafirmado a importância do trabalho de terapeutas ocupacionais com base nas possibilidades de intervenção com pessoas com deficiência, na comunidade. Contudo, a despeito das vertentes identificadas anteriormente, alguns autores assinalam que ainda é necessário avançar nas discussões acerca das práticas comunitárias (Pino et al., 2015Pino, M. J., Ceballos, C. M., & Hernández, S. R. (2015). Terapia ocupacional comunitaria crítica: diálogos y reflexiones para iniciar una propuesta colectiva. TOG A Coruña, 12(22), 1-20.; Guajardo-Córdoba et al., 2015Guajardo-Córdoba, A., Recabarren-Hernández, E., Asún-Salazar, D., Zamora-Astudillo, C., & Cottet-Soto, P. (2015). Evaluación de la estrategia de rehabilitación de base comunitaria (RBC) desde la perspectiva de la comunidad y los equipos locales de rehabilitación. Revista de la Facultad de Medicina, 63(1), 41-50.).

Para além de um aprofundamento teórico, argumentam, é necessária a elaboração de políticas públicas para trabalhos comunitários em contextos específicos, como é o caso, por exemplo, das populações rurais. Guajardo-Córdoba et al. (2015Guajardo-Córdoba, A., Recabarren-Hernández, E., Asún-Salazar, D., Zamora-Astudillo, C., & Cottet-Soto, P. (2015). Evaluación de la estrategia de rehabilitación de base comunitaria (RBC) desde la perspectiva de la comunidad y los equipos locales de rehabilitación. Revista de la Facultad de Medicina, 63(1), 41-50., p. 49, tradução nossa) resume:

[...] é imperiosa a reconceituação do comunitário e é necessário estabelecer distinções a partir da reconceituação contemporânea dos territórios e comunidades rurais no desenho de políticas públicas que seguem ligadas às categorias da sociologia da modernização dos anos 50, o urbano e o rural como tipos ideais contrapostos.

3.2.2 Práticas comunitárias descritas em português

Curiosamente, os autores brasileiros apresentaram uma perspectiva bastante singular com relação às práticas realizadas fora do âmbito individual. Trabalhos no idioma português mostraram marcos teóricos ligados ao campo da terapia ocupacional social para justificar suas ações no âmbito sociocomunitário (Costa, 2012Costa, S. L. (2012). Terapia Ocupacional Social: dilemas e possibilidades da atuação junto a Povos e Comunidades Tradicionais. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 20(1), 43-54.; Lopes et al., 2011aLopes, R. E., Borba, P. L. O., & Cappellaro, M. (2011a). Acompanhamento individual e articulação de recursos em terapia ocupacional social: compartilhando uma experiência. O Mundo da Saúde, 35(2), 233-238.; Barros et al., 2013Barros, D. D., Galvanib, D., Almeida, M. C., & Soares, C. R. S. (2013). Cultura, economia, política e saber como espaços de significação na Terapia Ocupacional Social: reflexões sobre a experiência do Ponto de Encontro e Cultura. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(3), 583-594.; Paiva et al., 2013Paiva, L. F. A., Souza, F. R., Saviolic, K. C., & Vieira, J. L. (2013). A Terapia Ocupacional na Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(3), 595-600.; Lima et al., 2009Lima, E., Inforsato, E., Lima, L., & Castro, E. (2009). Ação e criação na interface das artes e da saúde. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 143-148.; Castro & Silva, 2007Castro, E. D., & Silva, D. M. (2007). Atos e fatos de cultura: territórios das práticas, interdisciplinaridade e as ações na interface da arte e promoção da saúde. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 18(3), 102-112.). De fato, a expressão terapia ocupacional social é usada de modo frequente nos artigos examinados. Terapia ocupacional comunitária praticamente não aparece na literatura em português, embora, aparentemente, as duas expressões descrevam algo conceitualmente semelhante.

Malfitano (2005Malfitano, A. P. S. (2005). Campos e núcleos de intervenção na terapia ocupacional social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 16(1), 1-8. https://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v16i1p1-8.
https://doi.org/10.11606/issn.2238-6149....
, p. 3) descreve “[...] a constituição de intervenções no campo social é composta por uma diversidade de áreas que têm internamente discussões a realizar para ofertar as suas contribuições”. Sobre os limites e as possibilidades das ações da terapeuta ocupacional, ao se propor a trabalhar nesse campo, a autora revela que essa profissional “[...] deve debater alguns pontos chave de sua atuação, tais como: os limites da clínica, as possibilidades da promoção da convivência, o caminhar entre o individual e o coletivo e entre o técnico e o político” (Malfitano, 2005Malfitano, A. P. S. (2005). Campos e núcleos de intervenção na terapia ocupacional social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 16(1), 1-8. https://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v16i1p1-8.
https://doi.org/10.11606/issn.2238-6149....
, p. 3).

Entretanto, alguns autores (Correia & Akerman, 2015Correia, R. L., & Akerman, M. (2015). Desenvolvimento local participativo, rede social de suporte e ocupação humana: relato de experiência em projeto de extensão. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(1), 159-165.; Costa, 2012Costa, S. L. (2012). Terapia Ocupacional Social: dilemas e possibilidades da atuação junto a Povos e Comunidades Tradicionais. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 20(1), 43-54.; Macedo & Barros, 2010Macedo, M., & Barros, D. (2010). Saúde e serviços assistenciais na experiência de jovens Guarani da comunidade Boa Vista. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 21(3), 182-188.) avançam na definição dos fundamentos do trabalho de terapeutas ocupacionais nas intervenções com base em uma perspectiva comunitária, como é o caso do estudo desenvolvido por Costa (2012)Costa, S. L. (2012). Terapia Ocupacional Social: dilemas e possibilidades da atuação junto a Povos e Comunidades Tradicionais. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 20(1), 43-54., que adota o conceito de comunidade compreendida com base no campo da psicossociologia. A autora concebe os “sentidos de comunidade” como construção identitária: “[…] o trabalho do terapeuta ocupacional social com povos e comunidades tradicionais parte do princípio de que a ocupação, entendida como direito social, é aquela que, coletivamente, significa e produz significado social” (Costa, 2012Costa, S. L. (2012). Terapia Ocupacional Social: dilemas e possibilidades da atuação junto a Povos e Comunidades Tradicionais. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 20(1), 43-54., p. 44). Nesta perspectiva, a comunidade é compreendida “[…] não como delimitação espacial, mas como construção coletiva de identidade […]” (Costa, 2012Costa, S. L. (2012). Terapia Ocupacional Social: dilemas e possibilidades da atuação junto a Povos e Comunidades Tradicionais. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 20(1), 43-54., p. 47).

Outro fundamento encontrado para o trabalho baseado em práticas coletivas, que concorda com a construção coletiva de “comunidade”, é o conceito de desenvolvimento local participativo:

[...] é na vida cotidiana que se expressam estruturas e valores da dimensão política macro social. As dimensões subjetivas e objetivas, marcadas por questões históricas, culturais, políticas e sociais implicam nos processos de desenvolvimento local, educativos e formativos dos atores envolvidos (Correia & Akerman, 2015Correia, R. L., & Akerman, M. (2015). Desenvolvimento local participativo, rede social de suporte e ocupação humana: relato de experiência em projeto de extensão. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(1), 159-165., p. 160).

Neste caso, os autores sustentam uma concepção de comunidade que a situa enquanto conhecimento que emerge do engajamento dos sujeitos nas práticas coletivas.

Com relação a grupos sociais específicos, entre os três únicos artigos que discutiram a temática das pessoas com deficiência, dois foram realizados com adultos (Aoki & Oliver, 2013Aoki, M., & Oliver, F. C. (2013). Pessoas com deficiência moradoras de bairro periférico da cidade de São Paulo: estudo de suas necessidades. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(2), 391-398.; Aoki et al., 2014Aoki, M., Oliver, F. C., Cancegliero, A. B. C., & Colussi, J. (2014). Grupo de Convivência Família Mosaico: participação de pessoas com deficiência na comunidade. O Mundo da Saúde, 38(2), 149-158.), tendo como objetivo a participação comunitária, e um focalizou crianças com deficiência (Brunello et al., 2006Brunello, M. I. B., Jurdi, A. P., Angeli, A. A. C., Carvalho, C. C., & Kou, V. (2006). A criação de um espaço para a existência: o Espaço Lúdico Terapêutico. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 17(1), 4-9.), porém, dando mais atenção ao trabalho em grupos, no interior de instituições, como a família e a escola.

O uso da abordagem da Reabilitação Baseada na Comunidade (RBC) também aparece em textos brasileiros, embora menos frequentemente no período desta revisão, sendo um importante recurso para o trabalho de algumas terapeutas ocupacionais (Aoki et al., 2014Aoki, M., Oliver, F. C., Cancegliero, A. B. C., & Colussi, J. (2014). Grupo de Convivência Família Mosaico: participação de pessoas com deficiência na comunidade. O Mundo da Saúde, 38(2), 149-158.). Neste trecho, as autoras avaliam a construção de práticas coletivas:

A reflexão sobre as condições de vida e as necessidades apresentadas por essa população têm sido cruciais para a manutenção e desenvolvimento do grupo e para a implementação de outras alternativas assistenciais em saúde e reabilitação no âmbito do território (Aoki et al., 2014Aoki, M., Oliver, F. C., Cancegliero, A. B. C., & Colussi, J. (2014). Grupo de Convivência Família Mosaico: participação de pessoas com deficiência na comunidade. O Mundo da Saúde, 38(2), 149-158., p. 151).

A revisão mostrou que um desafio que se coloca para as práticas comunitárias na reabilitação é o favorecimento de cuidados centralizados no desenvolvimento e restabelecimento funcional dos sujeitos (aspectos motores e sensoriais, sobretudo). Aoki & Oliver (2013)Aoki, M., & Oliver, F. C. (2013). Pessoas com deficiência moradoras de bairro periférico da cidade de São Paulo: estudo de suas necessidades. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(2), 391-398. advertem que, na maior parte dos casos, as intervenções oferecem pouca ou nenhuma consideração às questões emocionais, familiares e do contexto sociocultural, tanto com relação às pessoas com deficiência quanto aos seus familiares, e, portanto, por vezes negligenciam o desenvolvimento das práticas de cuidado integral. Conclui-se que as referidas práticas são realizadas no âmbito comunitário, mas objetivam aspectos outros que não a construção de vínculos comunitários e/ou o engajamento social.

3.3 O conceito de território na terapia ocupacional

O território é o lugar em que desembocam todas as ações, todas as paixões, todos os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é, onde a história do homem plenamente se realiza a partir das manifestações da sua existência. A Geografia passa a ser aquela disciplina tornada mais capaz de mostrar os dramas do mundo, da nação, do lugar (Santos, 1999Santos, M. (1999). O território e o saber local: algumas categorias de análise. Cadernos Ippur, 2, 15-25., p. 7).

Embora nem sempre seja devidamente detalhado, o conceito de território parece ser central nos estudos em idioma português (Araujo et al., 2013Araujo, K. R. A., Alves, T. D. C., Lima, T., Santos, V., & Gallassi, A. D. (2013). Experiências da Terapia Ocupacional em um Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) do Distrito Federal. Revista Eletrônica Gestão & Saúde, 4(3), 63-71.; Baldani & Castro, 2007Baldani, A. C., & Castro, E. D. (2007). Construindo espaços de habitar: ações de terapia ocupacional com uma criança em situação de risco social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 18(1), 1-10.; Barros et al., 2013Barros, D. D., Galvanib, D., Almeida, M. C., & Soares, C. R. S. (2013). Cultura, economia, política e saber como espaços de significação na Terapia Ocupacional Social: reflexões sobre a experiência do Ponto de Encontro e Cultura. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(3), 583-594.; Castro & Silva, 2007Castro, E. D., & Silva, D. M. (2007). Atos e fatos de cultura: territórios das práticas, interdisciplinaridade e as ações na interface da arte e promoção da saúde. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 18(3), 102-112.; Gomes & Brito, 2013Gomes, J. A., & Brito, C. M. (2013). Apoio matricial e terapia ocupacional: uma experiência de abordagem na saúde da criança. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 24(1), 81-86.; Jardim et al., 2008Jardim, T., Afonso, V., & Pires, I. (2008). A terapia ocupacional na Estratégia de Saúde da Família - evidências de um estudo de caso no município de São Paulo. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 19(3), 167-175.; Lopes et al., 2011aLopes, R. E., Borba, P. L. O., & Cappellaro, M. (2011a). Acompanhamento individual e articulação de recursos em terapia ocupacional social: compartilhando uma experiência. O Mundo da Saúde, 35(2), 233-238.; Paiva et al., 2013Paiva, L. F. A., Souza, F. R., Saviolic, K. C., & Vieira, J. L. (2013). A Terapia Ocupacional na Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(3), 595-600.; Silva & Menta, 2014Silva, R. A. S., & Menta, S. A. (2014). Abordagem de terapeutas ocupacionais em Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) no estado de Alagoas. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 22(2), 243-250.; Tszesnioski et al., 2015Tszesnioski, L. C., Nóbrega, K. B. G., Lima, M. L. T., & Facundes, V. L. D. (2015). Construindo a rede de cuidados em saúde mental infanto juvenil: intervenções no território. Ciencia & Saúde Coletiva, 20(2), 363-370.). Dos 23 estudos encontrados, 10 empregam o conceito em algum grau de detalhamento, ou, pelo menos, o citam. Esses autores observam o território com base em uma perspectiva política, examinando, sobretudo, os aspectos ligados às desigualdades, mas também às interações sociais. Isto envolve não apenas a noção de território como espaço geográfico, mas como lócus que pressupõe relações e trocas (Oliver & Barros, 1999Oliver, F. C., & Barros, D. D. (1999). Reflexionando sobre desinstitucionalización y terapia ocupacional. Materia Prima, 4(13), 17-20. apud Lopes et al., 2011aLopes, R. E., Borba, P. L. O., & Cappellaro, M. (2011a). Acompanhamento individual e articulação de recursos em terapia ocupacional social: compartilhando uma experiência. O Mundo da Saúde, 35(2), 233-238., p. 235). Ao aprofundar essa discussão, as autoras esclarecem que o território significa:

A delimitação geográfica de uma determinada região, ocupada por uma comunidade, incluindo em seu conceito, necessariamente, a constituição histórica local e as relações socioeconômicas e culturais ali desenvolvidas, onde se observam diferentes formas de vida, de realização de trocas sociais (Lopes et al., 2011aLopes, R. E., Borba, P. L. O., & Cappellaro, M. (2011a). Acompanhamento individual e articulação de recursos em terapia ocupacional social: compartilhando uma experiência. O Mundo da Saúde, 35(2), 233-238., p. 235).

A forma como é descrita a construção de espaços coletivos para se alcançar atividades significativas para a vida das pessoas envolvidas, promovidas por terapeutas ocupacionais, mostrou certa similaridade:

Espaços e atividades em que pessoas e grupos podem tecer seus pedaços e desenhar seus circuitos, ressaltando que o sentido só pode se manifestar caso as atividades guardem inseparável a dimensão sociopolítica, cultural e afetiva de pessoas, de grupos e de comunidades (Barros, 2004Barros, D. D. (2004). Terapia ocupacional social: o caminho se faz ao caminhar. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 15(3), 90-97., p. 11-12 apud Barros et al., 2013Barros, D. D., Galvanib, D., Almeida, M. C., & Soares, C. R. S. (2013). Cultura, economia, política e saber como espaços de significação na Terapia Ocupacional Social: reflexões sobre a experiência do Ponto de Encontro e Cultura. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(3), 583-594.).

O espaço físico e afetivo no qual ocorrem as relações sociais cotidianas do sujeito, marcadas pela convivência presencial. Tais territórios compartilhados participam da construção das memórias deste coletivo, elemento fundamental da produção de suas tradições (Costa, 2008Costa, S. L. (2008). Os sentidos da comunidade: construções intergeracionais de memória coletiva na Ilha das Caieiras, em Vitória/ES (Tese de Doutorado). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. apud Costa 2012Costa, S. L. (2012). Terapia Ocupacional Social: dilemas e possibilidades da atuação junto a Povos e Comunidades Tradicionais. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 20(1), 43-54., p. 48).

Neste caso, são os níveis, as formas e os sentidos de engajamento de indivíduos, articulados aos contextos históricos, que parecem interessar aos autores. Entretanto, a transferência dos espaços tradicionais de intervenção dos terapeutas ocupacionais para um novo lócus, qual seja, a rua, os espaços públicos, tudo aquilo que Milton Santos (1999Santos, M. (1999). O território e o saber local: algumas categorias de análise. Cadernos Ippur, 2, 15-25., p. 7) chama de “lugares de realização do mundo”, parece transformar substancialmente a prática dos profissionais, como se vê nos exemplos a seguir:

Foram percorridos outros espaços de cultura e arte da cidade de São Paulo que apresentavam possibilidades de participação das pessoas e de suas produções, no sentido de efetuarem trocas sociais e afetivas, num território que viabilizasse a circulação dos participantes e de suas obras por meio de vendas, exposições, frequência em feiras, capacitação artística, entre outras ações visando a participação social e a produção cultural dos participantes (Castro et al., 2013Castro, E. D., Asanuma, G. D., Barbosa, N. D., & Ghirardi, M. G. (2013). Agenciamentos coletivos na experimentação do PACTO Trabalho. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(1), 163-170., p. 166).

Busca-se ampliar o universo de relações dos sujeitos atendidos, enriquecer o cotidiano, redefinir papéis sociais promovendo a constituição e convivência grupal e a circulação social. Para que isto ocorra, nossas ações práticas se dão também no território da cidade (Lima et al., 2009Lima, E., Inforsato, E., Lima, L., & Castro, E. (2009). Ação e criação na interface das artes e da saúde. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 143-148., p. 146).

A identificação de uma área e/ou população vulnerável ou em risco para que as equipes Saúde da Família e NASF desenvolvam ações efetivas na produção da saúde em um território, com foco na articulação dos serviços de saúde com outros serviços e políticas sociais ​(Silva & Menta, 2014Silva, R. A. S., & Menta, S. A. (2014). Abordagem de terapeutas ocupacionais em Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) no estado de Alagoas. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 22(2), 243-250., p. 245).

O trabalho constituído na interface entre a terapia ocupacional e as artes, gera potência ao deslocar a clínica para o campo da invenção e produzir novos agenciamentos para os técnicos e para os usuários. A aposta é que novas sociabilidades e novas formas de resistências aos processos de exclusão possam ser engendradas a partir desta proposta (Lima et al., 2009Lima, E., Inforsato, E., Lima, L., & Castro, E. (2009). Ação e criação na interface das artes e da saúde. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 143-148., p. 147).

Vale assinalar que Milton Santos, considerado um dos maiores geógrafos do mundo, legou aos pesquisadores da área de saúde um sólido instrumental com respeito ao conceito de território. Como nos mostram Faria & Bortolozzi (2009Faria, R. M., & Bortolozzi, A. (2009). Espaço, território e saúde: contribuições de Milton Santos para o tema da Geografia da Saúde no Brasil. Ra’eGa: O Espaço Geográfico em Análise, (17), 31-41., p. 39): “[…] a utilização dos conceitos de espaço e território em Milton Santos permitiu mudar o foco de atenção, que antes era centrado na doença, para os determinantes sociais das condições de saúde”. Isto determinou um redesenho das análises epidemiológicas, com impacto imediato sobre a produção em diversos campos da saúde e da promoção de bem-estar: “[…] a categoria – espaço – em Milton Santos permitiu à Epidemiologia mudar o foco usual de análise centrada na doença para a análise das condições de ocorrência das mesmas” (Faria & Bortolozzi, 2009Faria, R. M., & Bortolozzi, A. (2009). Espaço, território e saúde: contribuições de Milton Santos para o tema da Geografia da Saúde no Brasil. Ra’eGa: O Espaço Geográfico em Análise, (17), 31-41., p. 35). É preciso considerar, entretanto, que ainda que muitas vezes as práticas desenvolvidas por terapeutas ocupacionais se apropriem do conceito de território, não nos foi possível identificar a contribuição de Milton Santos nos modelos descritos nos artigos incluídos na revisão. Isso nos intriga, já que, em outros campos das intervenções sociais, esse legado é bastante claro (Faria & Bortolozzi, 2009Faria, R. M., & Bortolozzi, A. (2009). Espaço, território e saúde: contribuições de Milton Santos para o tema da Geografia da Saúde no Brasil. Ra’eGa: O Espaço Geográfico em Análise, (17), 31-41.).

4 Lacunas na Literatura

Cabe assinalar que, dos estudos examinados (56), apenas quatro são relatos de experiência que se propõem a traçar um panorama das atividades de ensino, pesquisa e extensão à comunidade, realizadas com propósitos educativos (Castro et al., 2013Castro, E. D., Asanuma, G. D., Barbosa, N. D., & Ghirardi, M. G. (2013). Agenciamentos coletivos na experimentação do PACTO Trabalho. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(1), 163-170.; Coutinho et al., 2009Coutinho, S., Castro, E. D., Inforsato, E. A., Lima, L. J. C., Galvanese, A. T., Asanuma, G., & Lima, E. M. F. A. (2009). Ações de Terapia Ocupacional no território da cultura: a experiência de cooperação entre o Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC USP) e o Laboratório de Estudos e Pesquisas Arte e Corpo em Terapia Ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 188-192.; Lopes et al., 2011bLopes, R. E., Borba, P. L. O., Trajber, N. K. A., Silva, C. R., & Cuel, B. T. (2011b). Oficinas de atividades com jovens da escola pública: tecnologias sociais entre educação e terapia ocupacional. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, 15(36), 277-288.; Lima et al., 2009Lima, E., Inforsato, E., Lima, L., & Castro, E. (2009). Ação e criação na interface das artes e da saúde. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 143-148.). Para Freire (2011)Freire, P. (2011). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra., a extensão universitária se caracteriza como um campo de práticas comunicativas entre a Instituição de Ensino Superior e o contexto sociocomunitário. Embora importante, a formação educacional dos novos profissionais não parece ser um tema suficientemente investigado no campo das práticas comunitárias, o que certamente traz prejuízos ao desenvolvimento do campo, sobretudo para os novos profissionais.

Do mesmo modo, esta revisão não identificou definições teóricas específicas e detalhadas sobre práticas comunitárias de terapia ocupacional. Nos textos em espanhol, apenas uma autora realiza uma aproximação sobre a comunidade em terapia ocupacional (Paganizzi, 2015bPaganizzi, L. (2015b). TO en Comunidad – Comunidad en TO. In Anais do 9º Congreso Argentino de Terapia Ocupacional (pp.22-33). Argentina: Fundación La Hendija , tradução nossa), considerando-a com base em três categorias: prática que amplia o campo de ação, estratégia no campo da saúde mental e fundamentos das práticas.

Deste modo, coincidindo com Guajardo-Córdoba et al. (2015)Guajardo-Córdoba, A., Recabarren-Hernández, E., Asún-Salazar, D., Zamora-Astudillo, C., & Cottet-Soto, P. (2015). Evaluación de la estrategia de rehabilitación de base comunitaria (RBC) desde la perspectiva de la comunidad y los equipos locales de rehabilitación. Revista de la Facultad de Medicina, 63(1), 41-50., Pino et al. (2015)Pino, M. J., Ceballos, C. M., & Hernández, S. R. (2015). Terapia ocupacional comunitaria crítica: diálogos y reflexiones para iniciar una propuesta colectiva. TOG A Coruña, 12(22), 1-20. & Paganizzi (2015b)Paganizzi, L. (2015b). TO en Comunidad – Comunidad en TO. In Anais do 9º Congreso Argentino de Terapia Ocupacional (pp.22-33). Argentina: Fundación La Hendija , parece-nos claro que é imperioso incrementar a elaboração teórica e as discussões sobre os conceitos que fundamentam a noção de comunidade, bem como as práticas que nela se desenvolvem. Também chama a atenção o fato de não termos detectado trabalhos com temáticas sobre os povos tradicionais, indígenas, primeiros povoadores, nos textos em espanhol.

No caso dos artigos em português, embora alguns autores utilizem a expressão comunitário, nota-se que partem de teorias, perspectivas metodológicas e políticas distintas, que são apenas mencionadas. Outros termos encontrados, como território (Araujo et al., 2013Araujo, K. R. A., Alves, T. D. C., Lima, T., Santos, V., & Gallassi, A. D. (2013). Experiências da Terapia Ocupacional em um Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) do Distrito Federal. Revista Eletrônica Gestão & Saúde, 4(3), 63-71.; Barros et al., 2013Barros, D. D., Galvanib, D., Almeida, M. C., & Soares, C. R. S. (2013). Cultura, economia, política e saber como espaços de significação na Terapia Ocupacional Social: reflexões sobre a experiência do Ponto de Encontro e Cultura. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(3), 583-594.; Castro & Silva, 2007Castro, E. D., & Silva, D. M. (2007). Atos e fatos de cultura: territórios das práticas, interdisciplinaridade e as ações na interface da arte e promoção da saúde. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 18(3), 102-112.; Gomes & Brito, 2013Gomes, J. A., & Brito, C. M. (2013). Apoio matricial e terapia ocupacional: uma experiência de abordagem na saúde da criança. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 24(1), 81-86.; Jardim et al., 2008Jardim, T., Afonso, V., & Pires, I. (2008). A terapia ocupacional na Estratégia de Saúde da Família - evidências de um estudo de caso no município de São Paulo. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 19(3), 167-175.; Lopes et al., 2011aLopes, R. E., Borba, P. L. O., & Cappellaro, M. (2011a). Acompanhamento individual e articulação de recursos em terapia ocupacional social: compartilhando uma experiência. O Mundo da Saúde, 35(2), 233-238.; Paiva et al., 2013Paiva, L. F. A., Souza, F. R., Saviolic, K. C., & Vieira, J. L. (2013). A Terapia Ocupacional na Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(3), 595-600.; Silva & Menta, 2014Silva, R. A. S., & Menta, S. A. (2014). Abordagem de terapeutas ocupacionais em Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) no estado de Alagoas. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 22(2), 243-250.), e RBC (Aoki et al., 2014Aoki, M., Oliver, F. C., Cancegliero, A. B. C., & Colussi, J. (2014). Grupo de Convivência Família Mosaico: participação de pessoas com deficiência na comunidade. O Mundo da Saúde, 38(2), 149-158.), certamente ampliam o escopo das práticas realizadas na comunidade, mas, embora caracterizem de um modo distinto o trabalho comunitário, ainda demandam melhor teorização. Isto porque acreditamos que os problemas aqui identificados, bem como suas vinculações com as práticas comunitárias, precisam ser examinados e disponibilizados, inclusive nas instâncias de formação de futuras terapeutas ocupacionais. Não somente o debate profissional, mas também espaços curriculares dedicados ao assunto, obviamente resultarão em profissionais mais bem preparadas para enfrentar os desafios impostos pelas problemáticas sociais contemporâneas.

5 Limitações do Estudo

Apesar do cuidado no desenho desta revisão, reconhecemos que há limitações. Apenas artigos em espanhol e português foram examinados. Evidentemente, buscas em outros idiomas poderiam ter ampliado o escopo dos estudos encontrados. É possível que profissionais latino-americanos publiquem artigos em outros idiomas, mas nos pareceu que, nesta primeira aproximação com o problema, seria interessante centralizar o estudo nos dois principais idiomas da região. É importante também considerar que as dificuldades de indexação de estudos e de comunicações científicas, mas também os critérios de busca, de inclusão e exclusão podem ter influenciado na seleção final dos artigos, assim como ter provocado a perda de algum material relevante. Apesar de termos combinado três estratégias de busca: busca nas bases de dados, busca nos jornais de terapia ocupacional da América Latina em espanhol, coleta de material com informantes chave, não foram encontrados materiais de vários países da América Latina, nos quais terapeutas ocupacionais atuam, a saber, México, Uruguai, Peru, entre outros. Ademais, a comunicação que se estabeleceu por correio eletrônico enviado às associações de terapia ocupacional mostrou-se improdutiva devido à falta de respostas (com exceção da associação colombiana). Da correspondência eletrônica enviada a profissionais solicitando estudos na temática, apenas 55% (21/38) das terapeutas ocupacionais contatadas responderam. Deste modo, vários países latino-americanos não estão representados nesta revisão da literatura.

Um outro aspecto a ser considerado foi a ocorrência da chamada RBC nas buscas feitas no idioma espanhol. Esta expressão, que não havia sido incluída entre os termos das buscas, apareceu em sete artigos encontrados e, como tal, foi detalhada. Evidentemente, futuros estudos deverão aprofundar esse aspecto, notadamente identificando as condições locais que fizeram com que a expressão fosse adotada com maior frequência nos países hispânicos.

Não obstante, foram examinados 56 artigos da década 2006-2016, o que nos leva a supor que os dados obtidos sejam relevantes para produzir um primeiro panorama geral das práticas da área.

6 Considerações Finais

No conjunto de trabalhos analisados, observou-se uma grande diversidade de intervenções exercidas por terapeutas ocupacionais, que são denominadas ou concebidas como comunitárias. Isso mostra as circunstâncias nas quais a terapia ocupacional pode gerar inclusão social, autonomia e melhores condições de vida para grupos que se encontram em situação de vulnerabilidade. Isto também revela que ainda não existe consenso no uso de terminologias específicas no âmbito dessas práticas, bem como em relação ao próprio conceito de comunidade.

Algumas produções científicas carecem de estruturas claras e sistemáticas, já que nem sempre ficam explícitas as estratégias de pesquisa, os objetivos e os fundamentos teóricos adotados.

Ressalta-se, entretanto, uma crescente preocupação das terapeutas ocupacionais acerca do trabalho com coletivos. A revisão nos permitiu concluir, portanto, que as práticas comunitárias desenvolvidas por terapeutas ocupacionais, embora mais frequentes atualmente, ainda não têm sido sistematicamente investigadas na América Latina, assim como precisam de maior aprofundamento teórico e metodológico.

  • 1
    As autoras deste artigo apoiam o combate ao uso do masculino genérico (falso neutro) nas publicações. Deste modo, sempre que possível, utilizaremos o feminino genérico, já que, estatisticamente, as terapeutas ocupacionais são maioria, nos países estudados nesta revisão (Franco & Cervera, 2006)Franco, P. V., & Cervera, J. P. (2006). Manual para o uso não sexista da linguagem: O que bem se diz... bem se entende. Rio Grande do Sul: UNIFEM/REPEM..
  • 2
    Aqueles terapeutas ocupacionais cujo contato (e-mail) aparecia nos artigos ou livros relativos à temática das práticas comunitárias.
  • 3
    Centros comunitários de reabilitação.
  • Como citar: Vinzón, V., Allegretti, M., & Magalhães, L. (2020). Um panorama das práticas comunitárias da terapia ocupacional na América Latina. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional. 28(2), 600-620. https://doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAR1891
  • Fonte de Financiamento A primeira autora contou com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Referências

  • Aoki, M., & Oliver, F. C. (2013). Pessoas com deficiência moradoras de bairro periférico da cidade de São Paulo: estudo de suas necessidades. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(2), 391-398.
  • Aoki, M., Oliver, F. C., Cancegliero, A. B. C., & Colussi, J. (2014). Grupo de Convivência Família Mosaico: participação de pessoas com deficiência na comunidade. O Mundo da Saúde, 38(2), 149-158.
  • Araujo, K. R. A., Alves, T. D. C., Lima, T., Santos, V., & Gallassi, A. D. (2013). Experiências da Terapia Ocupacional em um Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) do Distrito Federal. Revista Eletrônica Gestão & Saúde, 4(3), 63-71.
  • Arenaza, M. V., Pradolini, V., & Serra, C. (2007). Volver a la escuela: una puerta de entrada. In Anais do 7º Congreso Argentino, 7 Congreso Latinoamericano de Terapia Ocupacional Mar del Plata.
  • Arévalo, H. M., & Yáñez, A. J. (2016). Factores contextuales que influyen en la participación comunitaria en actividades de ocio y tiempo libre en personas en situación de discapacidad física. Revista Chilena de Terapia Ocupacional, 16(2), 163-173.
  • Arksey, H., & O’Malley, L. (2005). Scoping studies: towards a methodological framework. International Journal of Social Research Methodology, 8(1), 19-32.
  • Baldani, A. C., & Castro, E. D. (2007). Construindo espaços de habitar: ações de terapia ocupacional com uma criança em situação de risco social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 18(1), 1-10.
  • Barros, D. D. (2004). Terapia ocupacional social: o caminho se faz ao caminhar. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 15(3), 90-97.
  • Barros, D. D., Galvanib, D., Almeida, M. C., & Soares, C. R. S. (2013). Cultura, economia, política e saber como espaços de significação na Terapia Ocupacional Social: reflexões sobre a experiência do Ponto de Encontro e Cultura. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(3), 583-594.
  • Barros, D. D., Lopes, R. E., & Galheigo, S. M. (2007). Novos espaços, novos sujeitos: a Terapia Ocupacional no trabalho territorial e comunitário. In C. R. Galvão & A. Cavalcanti (Eds.), Terapia ocupacional: Fundamentação e prática (pp. 353-358). São Paulo: Guanabara Koogan.
  • Braun, V., & Clarke, V. (2006). Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research in Psychology, 3(2), 77-101.
  • Brunello, M. I. B., Jurdi, A. P., Angeli, A. A. C., Carvalho, C. C., & Kou, V. (2006). A criação de um espaço para a existência: o Espaço Lúdico Terapêutico. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 17(1), 4-9.
  • Brunello, M. I. B., Murasaki, A. K., & Nóbrega, J. B. G. (2010). Oficina de construção de jogos e brinquedos de sucata: ampliando espaços de aprendizado, criação e convivência para pessoas em situação de vulnerabilidade social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 21(1), 98-103.
  • Castro, E. D., & Silva, D. M. (2007). Atos e fatos de cultura: territórios das práticas, interdisciplinaridade e as ações na interface da arte e promoção da saúde. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 18(3), 102-112.
  • Castro, E. D., Asanuma, G. D., Barbosa, N. D., & Ghirardi, M. G. (2013). Agenciamentos coletivos na experimentação do PACTO Trabalho. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(1), 163-170.
  • Cella, A., & Polinelli, S. (2008). Nuevos desafíos en Terapia Ocupacional Comunitaria. Terapia-Ocupacional.com Recuperado em 2 de junho de 2017, de http://www.terapia ocupacional.com/articulos/Nuevos_desafios_Terapia_ocupacional_comunitaria.shtml
    » http://www.terapia
  • Chaura, L. E. (2015). Implicancias profesionales de Salud Mental en contextos rurales. Determinantes sociales, territorio y salud mental. In Anales del 9º Congreso Argentino de Terapia Ocupacional. Paraná: Fundación La Hendija.
  • Colquhoun, H. L., Levac, D., O’brien, K. K., Straus, S., Tricco, A. C., Perrier, L., Kastner, M., & Moher, D. (2014). Scoping reviews: time for clarity in definition, methods, and reporting. Journal of Clinical Epidemiology, 67(12), 1291-1294.
  • Correia, R. L., & Akerman, M. (2015). Desenvolvimento local participativo, rede social de suporte e ocupação humana: relato de experiência em projeto de extensão. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(1), 159-165.
  • Costa, S. L. (2012). Terapia Ocupacional Social: dilemas e possibilidades da atuação junto a Povos e Comunidades Tradicionais. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 20(1), 43-54.
  • Costa, S. L. (2008). Os sentidos da comunidade: construções intergeracionais de memória coletiva na Ilha das Caieiras, em Vitória/ES (Tese de Doutorado). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
  • Coutinho, S., Castro, E. D., Inforsato, E. A., Lima, L. J. C., Galvanese, A. T., Asanuma, G., & Lima, E. M. F. A. (2009). Ações de Terapia Ocupacional no território da cultura: a experiência de cooperação entre o Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC USP) e o Laboratório de Estudos e Pesquisas Arte e Corpo em Terapia Ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 188-192.
  • D’Angelo, M. (2007). De los niños con discapacidad y sus familias, al acompañamiento a familias de los sectores populares. In Anales do 7º Congreso Argentino de Terapia Ocupacional, 7º. Congreso Latinoamericano de Terapia Ocupacional Mar del Plata.
  • Faria, R. M., & Bortolozzi, A. (2009). Espaço, território e saúde: contribuições de Milton Santos para o tema da Geografia da Saúde no Brasil. Ra’eGa: O Espaço Geográfico em Análise, (17), 31-41.
  • Farias, L., & Laliberte, R. D. (2016). A critical interpretive synthesis of the uptake of critical perspectives in occupational science. Journal of Occupational Science, 23(1), 33-50.
  • Farias, L., Laliberte, R. D., & Magalhães, L. (2016). Illustrating the importance of critical epistemology to realize the promise of occupational justice. OTJR, 36(4), 234-243.
  • Farias, L., Laliberte, R. D., & Magalhães, L. (2017). Reclaiming the potential of transformative scholarship to enable social justice. International Journal of Qualitative Methods, 16, 1-10.
  • Farias, L., Laliberte, R. D., Pollard, N., Schiller, S., Malfitano, A., Thomas, K., & van Bruggen, H. J. (2018). Critical dialogical approach: A methodological direction for occupation-based social transformative work. Scandinavian Journal of Occupational Therapy, 4(26), 235-245.
  • Ferro, L. F., Cardoso, M. M., Fedato, G., & Fracaro, C. C. (2012). Grupo de Convivência em Saúde Mental: perspectivas de usuários e a experiência do curso de Terapia Ocupacional da Universidade Federal do Paraná. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 23(2), 146-152.
  • Franco, P. V., & Cervera, J. P. (2006). Manual para o uso não sexista da linguagem: O que bem se diz... bem se entende. Rio Grande do Sul: UNIFEM/REPEM.
  • Freire, P. (2011). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
  • Galheigo, S. (2011). What needs to be done? Occupational therapy responsibilities and challenges regarding human rights. Australian Occupational Therapy Journal, 58(2), 60-66.
  • García-Ruiz, S., & Quintana, P. (2015). Las redes de los afectos: aprendizajes en la Red de Rehabilitación Basada en Comunidad de las Américas. Revista de la Facultad de Medicina, 63(1), 161-168.
  • Garrard, J. (2016). Health sciences literature review made easy: the matrix method. Massachusetts: Jones & Bartlett Learning.
  • Gerlach A. J., Teachman, G., Laliberte-Rudman, D., Aldrich, R. M., & Huot, S. (2017). Expanding beyond individualism: Engaging critical perspectives on occupation. Scandinavian Journal of Occupational Therapy, 25(1), 35-43. https://doi.org/10.1080/11038128.2017.1327616
    » https://doi.org/10.1080/11038128.2017.1327616
  • Gomes, J. A., & Brito, C. M. (2013). Apoio matricial e terapia ocupacional: uma experiência de abordagem na saúde da criança. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 24(1), 81-86.
  • Grant, M. J., & Booth, A. (2009). A typology of reviews: an analysis of 14 review types and associated methodologies. Health Information and Libraries Journal, 26(2), 91-108.
  • Guajardo-Córdoba, A., Recabarren-Hernández, E., Asún-Salazar, D., Zamora-Astudillo, C., & Cottet-Soto, P. (2015). Evaluación de la estrategia de rehabilitación de base comunitaria (RBC) desde la perspectiva de la comunidad y los equipos locales de rehabilitación. Revista de la Facultad de Medicina, 63(1), 41-50.
  • Jardim, T., Afonso, V., & Pires, I. (2008). A terapia ocupacional na Estratégia de Saúde da Família - evidências de um estudo de caso no município de São Paulo. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 19(3), 167-175.
  • Kastner, M., Tricco, A. C., Soobiah, C., Lillie, E., Perrier, L., Horsley, T., & Straus, S. E. (2012). What is the most appropriate knowledge synthesis method to conduct a review? Protocol for a scoping review. BMC Medical Research Methodology, 12, 1-10.
  • Kronenberg, F., Simó Algado, S., & Pollard, N. (2006). Terapia Ocupacional sin Fronteras: aprendiendo del espíritu de supervivientes. Buenos Aires: Ed. Panamericana.
  • Lima, E., Inforsato, E., Lima, L., & Castro, E. (2009). Ação e criação na interface das artes e da saúde. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 143-148.
  • Lopes, A. L. M., & Fracolli, L. A. (2008). Revisão sistemática de literatura e metassíntese qualitativa: considerações sobre sua aplicação na pesquisa em enfermagem. Texto & Contexto - Enfermagem, 17(4), 771-778.
  • Lopes, R. E., Borba, P. L. O., & Cappellaro, M. (2011a). Acompanhamento individual e articulação de recursos em terapia ocupacional social: compartilhando uma experiência. O Mundo da Saúde, 35(2), 233-238.
  • Lopes, R. E., Borba, P. L. O., Trajber, N. K. A., Silva, C. R., & Cuel, B. T. (2011b). Oficinas de atividades com jovens da escola pública: tecnologias sociais entre educação e terapia ocupacional. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, 15(36), 277-288.
  • Macedo, M., & Barros, D. (2010). Saúde e serviços assistenciais na experiência de jovens Guarani da comunidade Boa Vista. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 21(3), 182-188.
  • Malfitano, A. P. S. (2005). Campos e núcleos de intervenção na terapia ocupacional social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 16(1), 1-8. https://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v16i1p1-8
    » https://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v16i1p1-8
  • Malfitano, A. P. S. (2016). Contexto Social e atuação social: generalizações e especificidades na terapia ocupacional. In R. E. Lopes & A. P. S. Malfitano (Orgs.), Terapia Ocupacional Social: desenhos teóricos e contornos práticos (pp. 117-133). São Carlos: EDUFSCar.
  • Mengelberg, G. E. (2013). Intervención de Terapia Ocupacional con familiares de usuários de servicios psiquiátricos. WFOT Bulletin, 67, 17-20.
  • Metz, M. I. (2013). Análisis situacional y propuestas de acción en contextos vulnerables desde la terapia ocupacional comunitaria. In Anais do 5º Congreso Internacional de Investigación y Práctica Profesional en Psicología, 20ª Jornadas de Investigación Noveno Encuentro de Investigadores en Psicología del MERCOSUR. Buenos Aires: Universidad de Buenos Aires. Recuperado em 6 de setembro de 2016, de https://www.aacademica.org/000-054/892
    » https://www.aacademica.org/000-054/892
  • Moreira, A. B. (2008). Terapia Ocupacional: história crítica e abordagens territoriais/comunitárias. Vita et Sanitas, 2(2), 79-91.
  • Muñoz, C. G. M. (2014). La labor de la terapia ocupacional en el marco de los determinantes sociales de la salud en chile. Revista Chilena de Terapia Ocupacional, 14(1), 73-80.
  • Nabergoi, M. (2013). El proceso de transformación de la atención psiquiátrica hacia el enfoque de cuidados en salud mental en Argentina. Participación de terapia ocupacional en la construcción del campo de la salud mental en la ciudad de Buenos Aires (1957-1976) (Tese de doutorado). Universidade Nacional de Lanús, Buenos Aires.
  • Narvaez, S. (2015). Emprendimientos sociales. El trabajo como posibilidad de inclusión social. In Anais do 9º Congreso Argentino de Terapia Ocupacional (pp.58-62). Argentina: Fundación La Hendija.
  • Navarrete, E., Cantero, P., Guajardo, A., Sepúlveda, R., & Moruno, P. (2015). Aproximación a la Sociedad y a la Comunidad desde la Terapia Ocupacional. In E. Navarrete, P. Cantero, A. Guajardo, R. Sepúlveda & P. Moruno. (Eds.), Terapia Ocupacional y Exclusión Social (pp. 15-63). Santiago: Segismundo SpA.
  • O’Brien, K. K., Colquhoun, H., Levac, D., Baxter, L., Tricco, A. C., Straus, S., Wickerson, L., Nayar, A., Moher, D., & O'Malley, L. (2016). Advancing scoping study methodology: a web-based survey and consultation of perceptions on terminology, definition and methodological steps. BMC Health Services Research, 16(1), 305.
  • Oliver, F. C., & Barros, D. D. (1999). Reflexionando sobre desinstitucionalización y terapia ocupacional. Materia Prima, 4(13), 17-20.
  • Oliver, F. C., & Galheigo, S. M. (2016). Terapia Ocupacional en la Comunidad: desafíos para el acceso a los derechos. In A. S. Simó, C. A. Guajardo & O. F. Corrêa (Eds.), Terapias ocupacionales desde el sur: derechos humanos, ciudadanía y participación (pp. 341-356). Chile: USACH.
  • Ossandón, M. P. (2014). Rehabilitación basada en la comunidad frente a la realidad chilena. Revista Chilena de Terapia Ocupacional, 14(2), 219-230.
  • Oyarzun, S. N., Zolezzi, G. R., Núñez, S. J., & Palacios, T. M. (2009). Hacia la construcción de las prácticas comunitarias de terapeutas ocupacionales en Chile, desde una mirada socio histórica, desde 1972 hasta la actualidad. Revista Chilena de Terapia Ocupacional, (9), 149-165.
  • Paganizzi, L. (2009). Sobre la recuperación de personas con trastorno mental. In Anais do 8º Congreso Latinoamericano, 1º Congreso Peruano de Terapia Ocupacional. Lima.
  • Paganizzi, L. (2015a). Sobre la emergencia de los fundamentos sociales de nuestra profesión: producciones argentinas de los años´80. In Anais do 9º Congreso Argentino de Terapia Ocupacional (pp.274-279). Argentina: Fundación La Hendija.
  • Paganizzi, L. (2015b). TO en Comunidad – Comunidad en TO. In Anais do 9º Congreso Argentino de Terapia Ocupacional (pp.22-33). Argentina: Fundación La Hendija
  • Paiva, L. F. A., Souza, F. R., Saviolic, K. C., & Vieira, J. L. (2013). A Terapia Ocupacional na Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(3), 595-600.
  • Palacios, M. (2015). Ocupación Colectiva, Sentido de Comunidad y Bienestar psicosocial. In P. Caro-Vines, R. Morrison & M. Palacios (Eds.), Colegio de Terapeutas Ocupacionales de Chile (pp. 143-159). Santiago: Ediciones On Demand.
  • Palacios, M. (2016). Investigación acción participativa respecto a ocupaciones colectivas y territorio con jóvenes transgresores. Revista Terapéutica Ciencia, Tecnología y Arte, 9, 15-20.
  • Palacios, M., & Morán, P. J. (2016). Reconstrucción del sentido de comunidad y ocupaciones colectivas: experiencia de transformación de prácticas de salud primaria rural. In A. S. Simó, C. A. Guajardo & O. F. Corrêa (Eds.), Terapias ocupacionales desde el sur: derechos humanos, ciudadanía y participación (pp. 415-430). Chile: USACH.
  • Pellegrini, M. (2006). Terapia ocupacional en la rehabilitación basada en la comunidad –RBC. Terapia-Ocupacional.com: El portal en español de Terapia Ocupacional Recuperado em 23 de abril de 2017, de http://www.terapia-ocupacional.com/articulos/Rehabilitacion_comunidad_terapia_ocupacional_Pellegrini.shtml
    » http://www.terapia-ocupacional.com/articulos/Rehabilitacion_comunidad_terapia_ocupacional_Pellegrini.shtml
  • Peters, M. D. J., Godfrey, C., McInerney, P., Baldini Soares, C., Khalil, H., & Parker, D. (2017) Scoping Reviews. In E Aromataris & Z Munn (Eds)., Joanna Briggs Institute Reviewer’s Manual(pp. 408-446). The Joanna Briggs Institute. Recuperado em 23 de abril de 2017, de https://reviewersmanual.joannabriggs.org/
    » https://reviewersmanual.joannabriggs.org/
  • Pino, M. J., & Ceballos, C. M. (2015). Terapia ocupacional comunitaria y rehabilitación basada en la comunidad: hacia una inclusión socio-comunitaria. Revista Chilena de Terapia Ocupacional, 15(2), 1-15.
  • Pino, M. J., Ceballos, C. M., & Hernández, S. R. (2015). Terapia ocupacional comunitaria crítica: diálogos y reflexiones para iniciar una propuesta colectiva. TOG A Coruña, 12(22), 1-20.
  • Pradolini, V. (2013). Políticas y prácticas para el fortalecimiento familiar. WFOT Bulletin, 67, 30-32.
  • Pradolini, V. A. (2009). Las políticas sociales territorializadas en un barrio popular de Villa María, Córdoba. In Anais do 27º Congreso de la Asociación Latinoamericana de Sociología. 8º Jornadas de Sociología de la Universidad de Buenos Aires. Asociación Latinoamericana de Sociología Buenos Aires.
  • Pradolini, V. A. (2010). Promoción de derechos humanos “en” y “con las” familias. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 21(3), 255-262.
  • Robles, G. O., Sales, S., & Caraffa, M. J. (2007). Aportes de terapia ocupacional en la comunidad dirigidos a los matriculados en el “CBU” para alumnos con necesidades educativas elementales. In Anais do 7 Congreso Argentino, 7º Congreso Latinoamericano de Terapia Ocupacional Mar del Plata.
  • Santacruz, G. M. L. (2006). Calidad de vida, un reto para el terapeuta ocupacional en salud mental comunitária. Revista Ocupación Humana, 1(3-4), 33-50.
  • Santos, M. (1999). O território e o saber local: algumas categorias de análise. Cadernos Ippur, 2, 15-25.
  • Scaffa, M. E., & Reitz, S. M. (2014). Occupational therapy community-based practice settings. Filadelfia: F.A. Davis.
  • Silva, R. A. S., & Menta, S. A. (2014). Abordagem de terapeutas ocupacionais em Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) no estado de Alagoas. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 22(2), 243-250.
  • Spampinato, S. B., & Testa, D. E. (2016). Emprendimientos Sociales en Salud Mental. Transformar desde “abajo”. Revista Argentina de Terapia Ocupacional, 2(2), 19-27.
  • Tricco, A. C., Lillie, E., Zarin, W., O’Brien, K., Colquhoun, H., Kastner, M., Levac, D., Ng, C., Sharpe, J. P., Wilson, K., Kenny, M., Warren, R., Wilson, C., Stelfox, H. T., & Straus, S. E. (2016). A scoping review on the conduct and reporting of scoping reviews. BMC Medical Research Methodology, 16(1), 1-10.
  • Tszesnioski, L. C., Nóbrega, K. B. G., Lima, M. L. T., & Facundes, V. L. D. (2015). Construindo a rede de cuidados em saúde mental infanto juvenil: intervenções no território. Ciencia & Saúde Coletiva, 20(2), 363-370.
  • Tundidor, M. (2013). Puntos de encuentro entre justicia ocupacional y social, exclusión de oportunidades, pobreza y salud mental. Margen, (69), 1-9.
  • Vega, M. C., Campisi, M. A., Donati, M., & García Cein, E. (2010). El derecho a la salud. Concepciones, representaciones, prácticas y participación social: reflexiones en Terapia Ocupacional. In Anales del 15º Congreso Internacional de la Federación Mundial de Terapeutas Ocupacionales Richmond: Think Business Events.
  • Vega, M. C., Campisi, M. A., Donati, M., & García Cein, E. (2013). Aportes a la construcción de prácticas de Terapia Ocupacional en el fortalecimiento de la participación y los derechos ciudadanos a partir del impacto de la Asignación Universal por Hijo en Argentina. In Anais do 10º Congreso Latinoamericano de Terapia Ocupacional, 5º Congreso Venezolano de Terapia Ocupacional Caracas.
  • Vega, M. C., Sícoli, M., Campisi, M. A., Colombo, S. M., García Cein, E., Donati, M., & Lucifora, S. (2009). Contribuciones de una investigación participativa a las políticas sociales y de salud. Reflexiones desde los Centros de Desarrollo Infantil. In Anales del 8ª Jornadas Nacionales de Debate Interdisciplinario en Salud Y Población Buenos Aires: Universidad de Buenos Aires.
  • World Federation of Occupational Therapists - WFOT (2018). Definition of Occupational Therapy. Recuperado em 26 de Setembro de 2018, de http://www.wfot.org/AboutUs/AboutOccupationalTherapy/DefinitionofOccupationalTherapy. aspx.
    » http://www.wfot.org/AboutUs/AboutOccupationalTherapy/DefinitionofOccupationalTherapy.
  • Yujnovsky, N. (2016). Emprendimientos productivos em Salud Mental. del hospital monovalente a la comunidad. Revista Argentina de Terapia Ocupacional, 2(2), 25-34.
  • Zorzoli, F. J. M., & Chaura, L. E. (2013). Reflexiones sobre los derechos de participación Social, y el proceso de Televisión Digital en Argentina y Latinoamérica. In Anais do 10º Congreso Latinoamericano de Terapia Ocupacional, 5º Congreso Venezolano de Terapia Ocupacional Caracas.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jul 2020
  • Data do Fascículo
    Apr-June 2020

Histórico

  • Recebido
    05 Fev 2019
  • Revisado
    22 Abr 2019
  • Revisado
    07 Jul 2019
  • Aceito
    07 Ago 2019
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Terapia Ocupacional Rodovia Washington Luis, Km 235, Caixa Postal 676, CEP: , 13565-905, São Carlos, SP - Brasil, Tel.: 55-16-3361-8749 - São Carlos - SP - Brazil
E-mail: cadto@ufscar.br