Acessibilidade / Reportar erro

Terapia ocupacional e a expressão “produção de vida”: o que dizem as produções brasileiras?

Resumo

A produção de conhecimentos nacionais da terapia ocupacional se deu de maneira contextualizada em congruência com o desenvolvimento da profissão, em seus diversos campos de atuação. Nas últimas décadas, viu-se a proposição de perspectivas e conceitos ampliados que apontam possíveis interlocuções nessa pluralidade. Nesse sentido, este estudo buscou compreender como a expressão “produção de vida” tem sido utilizada pela literatura nacional da terapia ocupacional, com base em uma revisão bibliográfica de estratégia multidimensional. Consultou-se a base de dados LILACS e periódicos nacionais da área, identificando 29 produções com a expressão “produção de vida” ou semelhante para análise do perfil das publicações, autores, referências e sentidos envolvidos na compreensão da expressão. Os achados se tornaram numericamente mais significativos nos últimos dez anos; estes se relacionavam com temáticas da saúde mental, campo social, artes e cultura, saúde coletiva, fundamentos da terapia ocupacional e campo do trabalho; e os referenciais citaram autores da terapia ocupacional, psiquiatria, filosofia, psicanálise, psicologia, saúde coletiva e antropologia. A análise de sua compreensão indicou quatro categorias: trabalho como emancipação social; ampliação de ações em saúde; experiência criativa e transformação cultural; e manutenção da própria existência. Ressaltando a produção consistente sobre “produção de vida”, concluiu-se que a expressão envolve sentidos na construção de saberes-fazeres mais conectados com o mundo, com as diferentes formas de existir e de protagonizar a vida.

Palavras-chave:
Terapia Ocupacional; Formação de Conceito; Literatura de Revisão como Assunto

Abstract

The production of national knowledge of occupational therapy took place in a contextualized way in line with the development of the profession, in its various fields of activity. In the last decades, there were propositions of expanded perspectives and concepts that point to possible interlocutions in this plurality. In this sense, this study sought to understand how the expression “life production” has been used by the national literature of occupational therapy, based on a bibliographic review of multidimensional strategy. The LILACS database and national journals in the area were consulted, identifying 29 productions with the expression “production of life” or similar, to analyze the profile of publications, authors, and references and the meanings involved in understanding the expression. The findings have become numerically more significant over the past ten years; they were related to themes of mental health, social field, arts and culture, collective health, occupational therapy foundations, and work field; and the references cited occupational therapy, psychiatry, philosophy, psychoanalysis, psychology, collective health, and anthropology authors. The analysis of their understanding indicated four categories: work as social emancipation; expanding health actions; creative experience and cultural transformation; and maintenance of existence. Emphasizing the consistent production on the expression 'life production', we concluded that the expression involves meanings in the construction of know-how more connected to the world, the different ways of existing and being the protagonist of life.

Keywords:
Occupational Therapy; Concept Formation; Review Literature as Topic

Introdução

A institucionalização da terapia ocupacional no Brasil retoma o histórico dos primeiros cursos, em meados da década de 1950, acompanhando o Movimento Internacional de Reabilitação e a orientação técnica e positivista dos modelos que ganharam força nos países norte-americanos e europeus. A caracterização profissional brasileira ganha contornos próprios com as transformações do contexto nacional da década de 1970. Tanto o reconhecimento da profissão como nível superior, em 1969, quanto o cenário derivado do regime militar, entre 1964 e 1985, marcaram profundamente a formação universitária e o papel social da profissão (Cardinalli, 2017Cardinalli, I. (2017). Conhecimentos da terapia ocupacional no Brasil: um estudo sobre trajetórias e produções (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.; Reis & Lopes, 2018Reis, S. C. C. A. G., & Lopes, R. E. (2018). O início da trajetória de institucionalização acadêmica da terapia ocupacional no Brasil: o que contam os (as) docentes pioneiros (as) sobre a criação dos primeiros cursos. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 26(2), 255-270. http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO1154.
http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoA...
).

A participação na resistência política junto aos movimentos sociais no mesmo período da expansão dos cursos de graduação e a reformulação do currículo mínimo específico, entre 1970-80, convocou uma revisão sobre a dimensão ética, política e social na construção profissional. Além do mais, foi o início dos ingressos de terapeutas ocupacionais na pesquisa e na pós-graduação stricto sensu, aproximando as ciências humanas e sociais para pensar terapia ocupacional, o que embasou concepções críticas em relação aos fundamentos teórico-metodológicos da prática profissional (Cardinalli, 2017Cardinalli, I. (2017). Conhecimentos da terapia ocupacional no Brasil: um estudo sobre trajetórias e produções (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.; Galheigo et al., 2018Galheigo, S. M., Braga, C. P., Arthur, M. A., & Matsua, C. M. (2018). Produção de conhecimento, perspectivas e referências teórico-práticas na terapia ocupacional brasileira: marcos e tendências em uma linha do tempo. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 26(4), 723-738. http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO1773.
http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoA...
).

Nas décadas de 1990 e 2000, com o processo de consolidação da produção de conhecimento nacional, derivou-se na diferenciação de vertentes e campos de especialidades em terapia ocupacional, em decorrência da ampliação dos cenários de trabalho e no aprofundamento teórico das pesquisas e formações de pós-graduação em diferentes áreas (Cardinalli, 2017Cardinalli, I. (2017). Conhecimentos da terapia ocupacional no Brasil: um estudo sobre trajetórias e produções (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.). Esse movimento levou à constituição do que autores, como Mângia (1998)Mângia, E. F. (1998). Apontamentos sobre o campo da terapia ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 9(1), 5-13., chamaram de “múltiplas terapias ocupacionais”, levando em conta tal pluralidade, em sentido oposto ao da racionalidade científica moderna, para propor concepções mais flexíveis e complexas para a identidade profissional. As expressões “inter” ou “transdisciplinar” também ajudaram a explicar a construção desse campo de conhecimentos que se debruça sobre uma diversidade de demandas na interface com outros campos (Galheigo, 1999Galheigo, S. M. (1999). A transdisciplinaridade enquanto princípio e realidade das ações de saúde. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 10(2-3), 49-54.).

A aquisição de perspectivas e referenciais críticos para pensar e fazer terapia ocupacional é expressa na retomada das investigações históricas da profissão, após os anos 2010, revendo a posição de história única e convocando temas relacionados a fundamentos, perspectivas teórico-metodológicas e compreensões epistemológicas, na busca por abranger uma maior diversidade na produção de conhecimentos, incluindo vozes, metodologias e produções marginalizadas pela construção hegemônica da ciência (Melo, 2015Melo, D. O. C. V. (2015). Em busca de um ethos: narrativas da fundação da terapia ocupacional na cidade de São Paulo (1956-1969) (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Paulo, Santos.; Cardinalli, 2017Cardinalli, I. (2017). Conhecimentos da terapia ocupacional no Brasil: um estudo sobre trajetórias e produções (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.; Reis & Lopes, 2018Reis, S. C. C. A. G., & Lopes, R. E. (2018). O início da trajetória de institucionalização acadêmica da terapia ocupacional no Brasil: o que contam os (as) docentes pioneiros (as) sobre a criação dos primeiros cursos. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 26(2), 255-270. http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO1154.
http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoA...
; Galheigo et al., 2018Galheigo, S. M., Braga, C. P., Arthur, M. A., & Matsua, C. M. (2018). Produção de conhecimento, perspectivas e referências teórico-práticas na terapia ocupacional brasileira: marcos e tendências em uma linha do tempo. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 26(4), 723-738. http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO1773.
http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoA...
).

Por outro lado, questões como o que é terapia ocupacional e qual sua função social se destacam pelo desafio que requer investigar possíveis aproximações e diálogos dessa construção múltipla de conhecimentos teórico-práticos, sem ignorar a contextualização da realidade na qual o campo se desenvolveu.

Na pesquisa de Cardinalli (2017)Cardinalli, I. (2017). Conhecimentos da terapia ocupacional no Brasil: um estudo sobre trajetórias e produções (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos., as cinco interlocutoras, participantes do estudo, expressaram concepções diversas sobre a profissão que, de alguma forma, voltam-se para a dimensão da vida, como: a terapia ocupacional nasceu para tirar a pessoa da internação e levá-la para a vida; uma possível unidade comum da profissão seria trabalhar a qualidade da vida ocupacional; a participação social, a autonomia e a liberdade seriam valores na tarefa da profissão de fazer a vida acontecer de uma forma melhor; o acesso aos fazeres humanos, aos cotidianos e aos modos de vida são seus recursos humanos de produção da vida; e a terapia ocupacional investe na atividade humana como território existencial onde a vida acontece e a produção de vida se dá pela potência dessas atividades no mundo.

Supondo que essa motivação que direciona para a vida seja uma ideia convergente ou, ao menos, indica certa interlocução no sentido de um possível objetivo profissional, este estudo se dedicou a aprofundar tal questão dentro do campo da terapia ocupacional. Optou-se, especificamente, pela expressão “produção de vida”, sendo uma proposição já enunciada pela terapeuta ocupacional Quarentei (2001)Quarentei, M. S. (2001). Terapia ocupacional e produção de vida. In Anais do 7º Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional (pp. 1-8). Porto Alegre: ABRATO., por dois motivos de interesse: a) olhar para uma perspectiva de terapia ocupacional brasileira; e b) por ter sido proposta no cenário da prática profissional, ou seja, marginal à institucionalidade acadêmico-científica.

Concordamos com Cardinalli (2017)Cardinalli, I. (2017). Conhecimentos da terapia ocupacional no Brasil: um estudo sobre trajetórias e produções (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. ao ressaltar a produção de conhecimentos constituída a partir das práticas clínicas, sociais, assistenciais, culturais, dentre outras. Os saberes produzidos de forma independente perderam visibilidade perante os discursos e padrões científicos, porém, mobilizações sociais contribuíram historicamente para mudanças na produção nacional da profissão. O diálogo entre diferentes espaços de produção alimenta a constituição de redes de conhecimentos e sentidos compartilhados em terapia ocupacional.

A “produção de vida”, para Quarentei (2001)Quarentei, M. S. (2001). Terapia ocupacional e produção de vida. In Anais do 7º Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional (pp. 1-8). Porto Alegre: ABRATO., é a produção de modos de existir no mundo, o que envolve a sua criação e possibilita o entendimento de que a vida humana é construída por meio de um “continuum de atividades” (Quarentei, 2001Quarentei, M. S. (2001). Terapia ocupacional e produção de vida. In Anais do 7º Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional (pp. 1-8). Porto Alegre: ABRATO., p. 2). Sendo assim, para a autora, terapeutas ocupacionais participam da criação e recriação da vida estimulando atividades permeadas de afetos, “[...] no sentido de que atividades podem ser nosso chão, um lugar para nos deslocarmos, ocuparmos e existirmos e, até ou principalmente, do modo que gostamos, preferimos. Ocupar as atividades, e não mais sermos ocupados por elas” (Quarentei, 2001Quarentei, M. S. (2001). Terapia ocupacional e produção de vida. In Anais do 7º Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional (pp. 1-8). Porto Alegre: ABRATO., p. 6). Sua compreensão, em sentido filosófico, provoca que terapeutas ocupacionais pensem a terapia ocupacional em vez de oferecer uma definição, teorias e metodologias prontas (Cardinalli, 2017Cardinalli, I. (2017). Conhecimentos da terapia ocupacional no Brasil: um estudo sobre trajetórias e produções (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.).

A expressão “produção de vida” pode ser encontrada em outras publicações de terapeutas ocupacionais, ainda que não se faça menção de que seja um compartilhamento da mesma concepção (Kinker, 1997Kinker, F. S. (1997). Trabalho como produção de vida. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 8(1), 42-48.; Buelau et al., 2009Buelau, R. M., Inforsato, E. A., & Lima, E. M. F. A. (2009). Exercícios de sonhar junto: criatividade e experiências estéticas no acompanhamento de uma criança. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 164-170. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v20i3p164-170.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
; Lima et al., 2009Lima, E. M. F. A., Canguçu, D. F., Moraes, C., & Inforsato, E. A. (2009). PACTO adolescentes: arte e corpo na invenção de dispositivos em terapia ocupacional para produção de vida e saúde na adolescência. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 157-163. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v20i3p157-163.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
). Nesse sentido, buscando aprofundar na reflexão sobre “produção de vida” na função social da terapia ocupacional no Brasil, este presente estudo realizou uma revisão da literatura nacional com intuito de compreender como a expressão tem sido utilizada pelas terapeutas ocupacionais brasileiras.

Procedimentos Metodológicos

Trata-se de uma revisão de literatura com adoção da estratégia multidimensional de investigação, a qual busca ampliar a visão do tema, conhecer as redes de conhecimento e averiguar como foram historicamente construídas, auxiliando no entendimento da contextualização do tema. Todos os procedimentos seguidos proporcionaram uma forma de revisão que foi além de uma listagem. Com essa estratégia, as técnicas não são rígidas e sim abertas a imprevistos e modificações ao longo do percurso (Pádua, 2014Pádua, E. M. M. (2014). Pesquisa e complexidade: estratégias metodológicas multidimensionais. Curitiba: CRV.).

O levantamento sistemático de artigos publicados em periódicos seguiu as etapas: 1) levantamento bibliográfico identificando as bases de dados e análise de títulos, ano, palavras-chave e autoria das publicações; 2) exame das referências para averiguação das fontes de pesquisas comum, percebendo divergências ou semelhanças entre as abordagens escolhidas; 3) elaboração de uma síntese comentada com base na leitura de cada artigo, tecendo comentários analíticos sobre cada um, servindo como base para a discussão; 4) criação de um quadro de referências para análise geral das sínteses comentadas, gerando a discussão e conclusão da pesquisa (Pádua, 2014Pádua, E. M. M. (2014). Pesquisa e complexidade: estratégias metodológicas multidimensionais. Curitiba: CRV.).

A pesquisa foi realizada entre março e maio de 2019, com buscas na base de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), com os descritores “terapia ocupacional” AND “produção de vida”, além dos próprios portais dos periódicos brasileiros: Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional (CBTO), Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo (RTO) e Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional (REVISBRATO), utilizando para esses apenas o descritor “produção de vida”.

Como critérios de inclusão, o estudo abarcou somente produções em formato de artigo científico, relato de experiências e revisão de literatura, com autoria de terapeutas ocupacionais brasileiras e elaboradas no idioma português, considerando publicações até maio de 2019. Ademais, a expressão “produção de vida” ou semelhante (“produção da vida” em seis artigos e “produção cotidiana da vida” em um artigo) poderia estar presente no corpo do texto, ou seja, para além do título, resumo e palavras-chave, para uma análise mais aprofundada de sua utilização e compreensão.

Foram encontradas 35 produções diretamente nos periódicos brasileiros, sendo quatro nos CBTO, 29 na RTO e duas na REVISBRATO. Na base de dados LILACS, foram encontradas 53; como oito delas eram repetidas, somaram-se 45 produções por essa base. Do total de 80 achados, utilizando os critérios de inclusão, foram selecionados 29 artigos para a revisão de literatura. A Figura 1 ilustra o processo de busca e seleção.

Figura 1
Fluxograma dos caminhos da revisão de literatura.

Os dados gerais dos 29 artigos foram registrados e organizados em uma planilha do Excel®, sendo eles: ano de publicação, periódico, tipo de artigo, autores, título, palavras-chave e resumo. Todos os artigos foram lidos para identificação da expressão “produção de vida” no corpo do texto.

As etapas que seguiram a análise multidimensional das produções derivaram na identificação das autorias das produções, que apresentam a expressão, os referenciais teórico-metodológicos que alimentam concepções e as temáticas teórico-práticas envolvidas. A síntese comentada procurou compreender os sentidos da expressão “produção de vida” juntamente com seus referenciais e indicar possíveis aproximações e dissonâncias. Para tanto, foram tecidos comentários sobre a utilização da expressão por cada artigo, servindo como base para a discussão dos resultados.

Resultados

Caracterização dos dados

A primeira publicação é de 1997. Entre os anos de 2003 e 2005, encontrou-se cinco artigos e, partir de 2009, identificou-se um número crescente de artigos publicados, totalizando 23 até 2019. Não houve publicações entre os anos de 1998 a 2002 e de 2006 até 2008 (Figura 2).

Figura 2
Publicações por período.

Em relação aos tipos de publicação, embora as denominações variem com o periódico, foram encontrados 22 artigos originais com resultados de pesquisas sobre o campo da terapia ocupacional, o que sugere a predominância deste formato para desenvolvimento de proposições teórico-metodológicas. Os sete artigos restantes se dividiram em: três relatos de experiência, dois artigos de reflexão, um artigo de revisão e um artigo classificado como espaço aberto.

Na análise dos autores, encontrou-se 48 nomes distintos. As autoras mais recorrentes foram Eliane Dias de Castro, Elizabeth Maria Freire de Araújo Lima e Erika Alvarez Inforsato, cada qual assinando três artigos. Já Ana Lucia Marinho Marques, Andréa do Amparo Carotta de Angeli, Denise Dias Barros, Elisabete Ferreira Mângia, Fernando Sfair Kinker, Leonardo José Costa de Lima, Mara Cristina Ribeiro, Thayane Pereira da Silva Ferreira e Thelma Simões Matsukura compõem a autoria de dois artigos cada um. Os demais autores apareceram somente uma vez na autoria (Figura 3).

Figura 3
Nuvem de palavras com os autores e autoras.

Temáticas de investimento

Com relação aos campos de especialidade da terapia ocupacional brasileira, encontrou-se produções relativas aos seguintes grupos, de acordo com seu assunto preponderante: saúde mental (14 artigos, 48%), campo social (cinco artigos, 17%), artes e cultura (quatro artigos, 14%), saúde coletiva (três artigos, 10%), fundamentos da terapia ocupacional (dois artigos, 7%) e campo do trabalho (um artigo, 3%) (Figura 4).

Figura 4
Números de artigos por categoria temática.

Os artigos do grupo de saúde mental abordam temáticas como: experiências em serviços extra-hospitalares e seus projetos terapêuticos em uma perspectiva da reabilitação psicossocial (Fiorati & Saeki, 2011Fiorati, R. C., & Saeki, T. (2011). A inserção da reabilitação psicossocial nos serviços extra hospitalares de saúde mental: o conflito entre racionalidade instrumental e racionalidade prática. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 22(1), 76-84. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v22i1p76-84.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
); o desenvolvimento do autismo de crianças e adolescentes sob a ótica da família (Minatel & Matsukura, 2014Minatel, M., & Matsukura, T. (2014). Famílias de crianças e adolescentes com autismo: cotidiano e realidade de cuidados em diferentes etapas do desenvolvimento. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 25(2), 126-134. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v25i2p126-134.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
); a participação de usuários da saúde mental em pesquisas e o potencial terapêutico desse processo, com o auxílio de terapeutas ocupacionais (Dimov & Ricci, 2016Dimov, T., & Ricci, E. C. (2016). A pesquisa acadêmica como atividade humana: participação de usuários da saúde mental e as contribuições da terapia ocupacional. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 24(3), 651-658. http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoEN0674.
http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoE...
); reflexões sobre o hospital psiquiátrico e a lógica do abandono (Kinker, 2012Kinker, F. S. (2012). O lugar do hospital psiquiátrico na atualidade: da disciplina ao abandono. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 23(2), 178-185. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v23i2p178-185.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
); a relação da reforma psiquiátrica com o mundo do trabalho para usuários da saúde mental (Kinker, 1997Kinker, F. S. (1997). Trabalho como produção de vida. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 8(1), 42-48.; Luiz et al., 2018Luiz, C. C. A., Leal, E. M., & Galletti, M. C. (2018). Desafios enfrentados por usuários da saúde mental. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 29(1), 63-69. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v29i1p63-69.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
); a importância dos Serviços Residenciais Terapêuticos na atenção e produção do cuidado em saúde mental (Marques & Mângia, 2013Marques, A. L., & Mângia, E. (2013). Ser, estar, habitar: serviços residenciais terapêuticos no município de Campinas, SP. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 23(3), 245-252. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v23i3p245-252.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
; Castilho, 2012Castilho, J. (2012). A terapia ocupacional e o serviço residencial terapêutico no município de Belo Horizonte, MG. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 23(3), 230-236. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v23i3p230-236.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
); os processos de desinstitucionalização de pessoas que viveram em hospitais psiquiátricos, buscando entendimentos na Política de Saúde Mental (Mângia & Marques, 2004Mângia, E., & Marques, A. (2004). Desinstitucionalização e serviços residenciais terapêuticos: novas perspectivas para o campo da reabilitação psicossocial. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 15(3), 129-135. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v15i3p129-135.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
); o cuidado em saúde mental realizado em serviços territoriais denominados Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) (Ribeiro, 2014Ribeiro, M. C. (2014). Os Centros de Atenção Psicossocial como espaços promotores de vida: relatos da desinstitucionalização em Alagoas. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 24(3), 174-182. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v24i3p174-182.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
; Castro & Maxta, 2010Castro, L., & Maxta, B. (2010). Práticas territoriais de cuidado em saúde mental: experiências de um centro de atenção psicossocial no município do Rio de Janeiro. Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas, 6(1), 1-11. http://dx.doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v6i1p1-11.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.1806-697...
); os diversos olhares sobre pessoas com transtorno mental, reconhecendo-os como protagonistas da sua própria vida (Ferreira et al., 2018Ferreira, T. P. S., Sampaio, J., & Gomes, L. (2018). Novos olhares para outros modos de existência. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 29(1), 70-79. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v29i1p70-79.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
); intervenções artísticas como recurso para terapia ocupacional junto com usuários da Saúde Mental (Silva & Raccioni, 2015Silva, M. L., & Raccioni, T. M. (2015). Oficinas de teatro como recurso terapêutico ocupacional em um serviço residencial terapêutico. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(2), 267-273. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v26i2p267-273.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
; Batista & Ribeiro, 2016Batista, N. S., & Ribeiro, M. C. (2016). O uso da música como recurso terapêutico em saúde mental. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 27(3), 336-341. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v27i3p336-341.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
).

A categoria do campo social reuniu temas referentes ao habitar de crianças e adolescentes em abrigos, ressaltando que é uma vida atravessada por processos sociais, políticos e históricos (Luvizaro & Galheigo, 2011Luvizaro, N., & Galheigo, S. (2011). Considerações sobre o cotidiano e o habitar de crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional em abrigo. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 22(2), 191-199. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v22i2p191-199.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
); ao trabalho de terapia ocupacional junto com jovens autores de atos infracionais (Almeida, 2003Almeida, M. M. (2003). Grupo de Terapia Ocupacional com jovens após o cumprimento de medidas socioeducativas um espaço para produção de vida. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 11(2), 106-110.); às intervenções de terapeutas ocupacionais com a população em situação de rua (Ghirardi et al., 2005Ghirardi, M. I. G., Lopes, S. R., Barros, D. D., & Galvani, D. (2005). Vida na rua e cooperativismo: transitando pela produção de valores. Interface: Comunicacao, Saude, Educacao, 9(18), 601-610. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-32832005000300014.
http://dx.doi.org/10.1590/S1414-32832005...
; Andrade et al., 2014Andrade, L. P., Costa, S. L., & Marquetti, F. C. (2014). A rua tem um ímã, acho que é a liberdade: potência, sofrimento e estratégias de vida entre moradores de rua na cidade de Santos, no litoral do Estado de São Paulo. Saúde e Sociedade, 23(4), 1248-1261. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902014000400011.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902014...
); e desafios enfrentados em moradias estudantis (Gemelgo & Barros, 2015Gemelgo, F. A. K., & Barros, D. D. (2015). Reflexões em torno do sentimento de desterritorialização e do desafio da autoestima na experiência da moradia estudantil. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 23(4), 803-814. http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoRE0650.
http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoR...
).

Os artigos relacionados às artes e cultura retratam a importância da criatividade e das experiências estéticas (Buelau et al., 2009Buelau, R. M., Inforsato, E. A., & Lima, E. M. F. A. (2009). Exercícios de sonhar junto: criatividade e experiências estéticas no acompanhamento de uma criança. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 164-170. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v20i3p164-170.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
); relatos de projetos envolvendo o diálogo com artistas plásticos e arte que, dentre vários objetivos, alcançaram o incentivo de processos socioculturais na participação cultural (Lima et al., 2009Lima, E. M. F. A., Canguçu, D. F., Moraes, C., & Inforsato, E. A. (2009). PACTO adolescentes: arte e corpo na invenção de dispositivos em terapia ocupacional para produção de vida e saúde na adolescência. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 157-163. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v20i3p157-163.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
; Castro et al., 2011Castro, E. D., Saito, C., Drumond, F., & Lima, L. (2011). Ateliês de corpo e arte: inventividade, produção estética e participação sociocultural. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 22(3), 254-262. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v22i3p254-262.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
); e a vinculação da produção cultural com a terapia ocupacional, resultando em uma ampliação da atuação profissional (Castro et al., 2009Castro, E., Inforsato, E., Angeli, A., & Lima, E. (2009). Formação em terapia ocupacional na interface das artes e da saúde: a experiência do PACTO. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 149-156. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v20i3p149-156.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
).

Os artigos sobre saúde coletiva abordam a concepção de deficiência e a sua relação com o território, trazendo observações da Estratégia de Saúde da Família e das contribuições da terapia ocupacional (Gelatti & Angeli, 2019Gelatti, M. D., & Angeli, A. A. C. (2019). Um corpo: cartografando trajetórias de vida de sujeitos com sequelas de acidente vascular cerebral. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 27(1), 149-167. http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoao1697.
http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoa...
); o cuidado em saúde desenvolvido em redes na Atenção Básica em Saúde (Ferreira & Costa, 2017Ferreira, T. P. S., & Costa, C. T. (2017). Saúde e redes vivas de cuidado: articulando ações estratégicas no território com vista ao cuidado integral na atenção básica. Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, 1(3), 269-281.); e as intervenções e contribuições da terapia ocupacional no consultório na rua (Prodocimo et al., 2018Prodocimo, C., Milek, G., & Ferigato, S. (2018). Atuação da terapia ocupacional no consultório na rua. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 29(3), 270-279. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v29i3p270-279.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
).

O grupo de fundamentos consistiu em artigos que discutiram a complexidade da relação terapeuta-paciente no campo da terapia ocupacional (Castro, 2005Castro, E. D. (2005). Inscrições da relação terapeuta-paciente no campo da terapia ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 16(1), 14-21. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v16i1p14-21.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
) e a exploração do conceito de cotidiano na terapia ocupacional brasileira (Salles & Matsukura, 2013Salles, M., & Matsukura, T. S. (2013). Estudo de revisão sistemática sobre o uso do conceito de cotidiano no campo da terapia ocupacional no Brasil. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(2), 265-273. http://dx.doi.org/10.4322/cto.2013.028.
http://dx.doi.org/10.4322/cto.2013.028...
).

O único artigo sobre campo do trabalho apresenta a história do trabalho humano da escravatura até a era capitalista vigente, levando em consideração como essas dinâmicas de trabalho se entrelaçam com a vida do trabalhador (Oliveira, 2003Oliveira, A. J. (2003). Passeio pelo mundo do trabalho. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 14(1), 27-33. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v14i1p27-33.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
).

Referenciais teórico-metodológicos

A expressão “produção de vida” apareceu 41 vezes na soma entre todos os artigos encontrados, sendo que 32 dessas menções citavam referências nos trechos em que estavam contidas. Na contagem por artigo, 21 publicações mencionaram somente uma vez a expressão, seis artigos continham duas vezes “produção de vida” no corpo do texto e em dois artigos a expressão apareceu quatro vezes.

Analisando os referenciais citados junto aos trechos que mencionam a expressão “produção de vida”, vê-se autores das seguintes áreas: terapia ocupacional (24 referências), psiquiatria (7), filosofia (6), psicanálise (2), psicologia (2), saúde coletiva (2) e antropologia (1). Nove artigos não citaram nenhuma referência nos trechos com a expressão “produção de vida”.

As autoras terapeutas ocupacionais brasileiras foram as mais citadas: Eliane Dias de Castro (3 citações), Elisabete Ferreira Mângia (3), Elizabeth Maria Freire de Araújo Lima (2), Fernanda Nicácio (2), Maria Inês Britto Brunello (2), Mariângela Scaglione Quarentei (2), Berenice Rosa Francisco (1), Dilma de Melo Silva (1), Erika Alvarez Inforsato (1), Fernanda Cristina Marquetti (1), Isabela Aparecida de Oliveira Lussi (1), Mara Cristina Ribeiro (1), Mariana Moraes Salles (1), Melissa Tieko Muramoto (1), Sabrina Helena Ferigato (1) e Thelma Simões Matsukura (1).

Do campo da psiquiatria, foram utilizadas referências dos italianos Franco Rotelli (3 citações), Benedetto Saraceno (2) e Franco Basaglia (1), além do brasileiro Ricardo Luiz Narciso Moebus (1). A filosofia é representada pelos autores franceses Félix Guattari (3), Gilles Deleuze (2) e o alemão Friedrich Engels (1). Pela psicanálise, são referenciados os brasileiros Fernando Tenório (1) e Gilberto Safra (1). Já pela psicologia são duas autorias: os brasileiros Alex Reinecke de Alverga (1) e Magda Diniz Bezerra Dimenstein (1). Foram indicados pela saúde coletiva os brasileiros Ricardo Burg Ceccim (1) e Emerson Elias Merhy (1). Por fim, José Guilherme Cantor Magnani (1) pela antropologia.

No cruzamento de dados, Marquetti, Ribeiro, Ferigato e Matsukura são autoras que se referenciam nas próprias publicações. Castro, Mângia, Lima, Inforsato e Salles estão tanto na autoria de artigos quanto nas referências de outros artigos entre os achados. Considerando tais investimentos em uma rede de conhecimentos (Cardinalli, 2017Cardinalli, I. (2017). Conhecimentos da terapia ocupacional no Brasil: um estudo sobre trajetórias e produções (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.) sobre o tema, vê-se seus interlocutores e campos de diálogo (Figure 5).

Figure 5
Nuvem de palavras com as referências utilizadas.

Cruzando os dados das temáticas dos artigos com as áreas dos autores referenciados, vê-se diálogos entre os saberes: os artigos com temática da saúde mental utilizaram referenciais da terapia ocupacional, da psiquiatria, da psicologia, da saúde coletiva, da filosofia e da psicanálise ao mencionar a expressão “produção de vida”; os do campo social se embasaram na terapia ocupacional, na psiquiatria e na antropologia nesses trechos específicos; os das artes e cultura citaram a psicanálise, a terapia ocupacional e a filosofia; nos da saúde coletiva viu-se terapia ocupacional, filosofia e a própria saúde coletiva; os artigos sobre fundamentos referenciam a terapia ocupacional e a psiquiatria; e o único artigo sobre trabalho utilizou uma referência da filosofia relacionada à expressão.

Discussão

A análise das compreensões dos trechos que citavam “produção de vida” apontou quatro categorias de discussão referentes aos diferentes usos e acepções atribuídas à expressão, sendo elas: trabalho como emancipação social; ampliação de ações em saúde; experiência criativa e transformação cultural; e manutenção da própria existência. Importante ressaltar que essa categorização não se relaciona diretamente com as temáticas gerais dos artigos, como apresentadas anteriormente.

Produção de vida pelo trabalho como emancipação social

A questão do trabalho está relacionada à terapia ocupacional desde sua origem, tendo sua compreensão se modificado junto às revisões da profissão, criticando o caráter moralizante e de controle e reconhecendo sua centralidade na expressão da condição humana e sua organização social. A revisão da compreensão acompanhou movimentos sociais como a desinstitucionalização e a garantia de espaços sociais para a população referida. O trabalho é visto, de acordo com Lancman et al. (2016)Lancman, S., Barros, J. O., Jardim, T. A., & Mângia, E. F. (2016). Saúde, Trabalho e Terapia ocupacional, uma relação indissociável. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 27(2), 1-2. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v27i2pi.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
, como um meio em que os indivíduos possam se engajar socialmente e participar do mundo, além de exercitarem sua cidadania e criarem redes de suporte social. Sendo assim, os aspectos subjetivos relacionados ao trabalho na sociedade interferem na construção do próprio mundo e podem servir como apoio à emancipação social de sujeitos e grupos.

Quatro artigos trazem a expressão “produção de vida” relacionada ao trabalho como possibilidade de emancipação, sendo eles: Trabalho como produção de vida (Kinker, 1997Kinker, F. S. (1997). Trabalho como produção de vida. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 8(1), 42-48.), usando Rotelli para abordar o assunto; Passeio pelo mundo do trabalho (Oliveira, 2003Oliveira, A. J. (2003). Passeio pelo mundo do trabalho. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 14(1), 27-33. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v14i1p27-33.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
), utilizando o referencial de Engels; O lugar do hospital psiquiátrico na atualidade: da disciplina ao abandono (Kinker, 2012Kinker, F. S. (2012). O lugar do hospital psiquiátrico na atualidade: da disciplina ao abandono. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 23(2), 178-185. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v23i2p178-185.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
), sem referências sobre a expressão; Desafios enfrentados por usuários da saúde mental: reflexões sobre narrativas acerca do trabalho dentro e fora de oficinas de geração de trabalho e renda (Luiz et al., 2018Luiz, C. C. A., Leal, E. M., & Galletti, M. C. (2018). Desafios enfrentados por usuários da saúde mental. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 29(1), 63-69. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v29i1p63-69.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
), em em que Lussi foi a referência.

O trabalho é visto como forma de estar e agir no mundo e relacionado à qualidade da vida, considerando sua centralidade no modo de vida ocidental e na produção capitalista. Abordando a história do trabalho humano pela perspectiva marxista, Oliveira (2003)Oliveira, A. J. (2003). Passeio pelo mundo do trabalho. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 14(1), 27-33. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v14i1p27-33.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
explica que sua função na produção da vida material consiste na busca consciente por satisfazer suas próprias necessidades. Dialeticamente, o trabalho também se faz fundamento da vida humana, posto que cria e interfere no próprio sujeito da ação.

Desta forma, pautado no referencial marxista, entende-se que o trabalho enquanto práxis ou atividade humana ao suprir as necessidades humanas é capaz de conscientizar o sujeito da ação, modificando a si próprio e a realidade a qual pertence. Assim como a realidade sócio-histórica forma os sujeitos, poderá ser transformada pelo trabalho desses ou de outros sujeitos que compartilham tal realidade social. Como o trabalho está intrinsecamente ligado à trama social e histórica, aos cotidianos e modos de vida, as mudanças em suas relações afetam diretamente as condições de existência e a capacidade de produzir a vida.

O trabalho produz de forma material e simbólica a manutenção da vida, reproduzindo também processos de dominação, formas de opressão e prejuízos nas relações sociais dos trabalhadores, assim como dos que estão à margem ou excluídos do mundo do trabalho. Por outro lado, “[...] o trabalho é importante ferramenta para a emancipação social e recurso que promove o autoconhecimento, auto-realização, aquisição de direitos, cidadania e produção de vida” (Luiz et al., 2018Luiz, C. C. A., Leal, E. M., & Galletti, M. C. (2018). Desafios enfrentados por usuários da saúde mental. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 29(1), 63-69. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v29i1p63-69.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
, p. 65).Uma vez que possibilite aos sujeitos a transformação de si e a criação de relações com outros e com o mundo em que vive, é possível apostar na “[...] ampliação da capacidade tecnológica, ao invés de ser um produtor de exclusão, poderia ser a possibilidade de resgatar ao homem experiências do trabalho, de arte, de lazer que enriquecem a existência” (Kinker, 1997Kinker, F. S. (1997). Trabalho como produção de vida. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 8(1), 42-48., p. 46).

Pensar criticamente sobre trabalho nos padrões de sociabilidade da modernidade, atrelados à lógica do mercado, envolve não apenas os métodos de controle, mas também a capitalização dos afetos. Isso possibilita ações em terapia ocupacional como agenciamento de novas relações sociais, colaborando na criação de sentidos de vida e de territórios existenciais, que possibilitem modos de existência além de uma sociabilidade mercadológica. A liberdade, enquanto debate central sobre trabalho, permite possibilidades promissoras de existência e produção de vida (Kinker, 2012Kinker, F. S. (2012). O lugar do hospital psiquiátrico na atualidade: da disciplina ao abandono. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 23(2), 178-185. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v23i2p178-185.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
).

Produção de vida na ampliação de ações em saúde

O conceito de saúde nesta categoria é abordado para além de um processo saúde-doença, relacionado às mudanças de concepções e às políticas sociais de saúde do contexto brasileiro após os anos 1980. As ações em saúde, de modo ampliado, são aquelas implicadas na vida e no cuidado de maneira integral e multidimensional. A produção de cuidado estaria envolvida com os vários “mundos de existência” (Ferreira & Costa, 2017Ferreira, T. P. S., & Costa, C. T. (2017). Saúde e redes vivas de cuidado: articulando ações estratégicas no território com vista ao cuidado integral na atenção básica. Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, 1(3), 269-281., p. 270), possibilitando que os sujeitos possam produzir vida em seus territórios materiais e subjetivos. Como terapeutas ocupacionais compreendem que o indivíduo “[...] se produz e é produzido nos seus fazeres e relações do cotidiano” (Ferreira & Costa, 2017Ferreira, T. P. S., & Costa, C. T. (2017). Saúde e redes vivas de cuidado: articulando ações estratégicas no território com vista ao cuidado integral na atenção básica. Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, 1(3), 269-281., p. 276), contribuem para essa concepção de saúde ampliada junto a equipes no âmbito territorial e comunitário.

Oito artigos empregam a expressão “produção de vida” com base nas ações ampliadas em saúde, são eles: Inscrições da relação terapeuta-paciente no campo da terapia ocupacional (Castro, 2005Castro, E. D. (2005). Inscrições da relação terapeuta-paciente no campo da terapia ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 16(1), 14-21. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v16i1p14-21.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
), utilizando Basaglia como referencial teórico; Vida na rua e cooperativismo: transitando pela produção de valores (Ghirardi et al., 2005Ghirardi, M. I. G., Lopes, S. R., Barros, D. D., & Galvani, D. (2005). Vida na rua e cooperativismo: transitando pela produção de valores. Interface: Comunicacao, Saude, Educacao, 9(18), 601-610. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-32832005000300014.
http://dx.doi.org/10.1590/S1414-32832005...
), que não cita referência junto à expressão; Práticas territoriais de cuidado em saúde mental: experiências de um centro de atenção psicossocial no município do Rio de Janeiro (Castro & Maxta, 2010Castro, L., & Maxta, B. (2010). Práticas territoriais de cuidado em saúde mental: experiências de um centro de atenção psicossocial no município do Rio de Janeiro. Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas, 6(1), 1-11. http://dx.doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v6i1p1-11.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.1806-697...
), citando Tenório; A inserção da reabilitação psicossocial nos serviços extra-hospitalares de saúde mental: o conflito entre racionalidade instrumental e racionalidade prática (Fiorati & Saeki, 2011Fiorati, R. C., & Saeki, T. (2011). A inserção da reabilitação psicossocial nos serviços extra hospitalares de saúde mental: o conflito entre racionalidade instrumental e racionalidade prática. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 22(1), 76-84. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v22i1p76-84.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
), citando Mângia e Nicácio; Os Centros de Atenção Psicossocial como espaços promotores de vida: relatos da desinstitucionalização em Alagoas (Ribeiro, 2014Ribeiro, M. C. (2014). Os Centros de Atenção Psicossocial como espaços promotores de vida: relatos da desinstitucionalização em Alagoas. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 24(3), 174-182. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v24i3p174-182.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
), que não coloca referência; Saúde e redes vivas de cuidado integral na atenção básica: articulando ações estratégicas no território (Ferreira & Costa, 2017Ferreira, T. P. S., & Costa, C. T. (2017). Saúde e redes vivas de cuidado: articulando ações estratégicas no território com vista ao cuidado integral na atenção básica. Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, 1(3), 269-281.), utilizando Mângia e Muramoto; Novos olhares para outros modos de existência (Ferreira et al., 2018Ferreira, T. P. S., Sampaio, J., & Gomes, L. (2018). Novos olhares para outros modos de existência. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 29(1), 70-79. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v29i1p70-79.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
), utilizando Alverga e Dimenstein, Rotelli, Merhy, Moebus, Deleuze e Guattari como referências; Um corpo: cartografando trajetórias de vida de sujeitos com sequelas de acidente vascular cerebral (Gelatti & Angeli, 2019Gelatti, M. D., & Angeli, A. A. C. (2019). Um corpo: cartografando trajetórias de vida de sujeitos com sequelas de acidente vascular cerebral. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 27(1), 149-167. http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoao1697.
http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoa...
), referindo Castro, Lima, Brunello, Ceccim, Deleuze e Guattari.

Interligada ao trabalho em saúde, a produção de vida amplia a compreensão de sujeito em suas diversas dimensões relacionais, como um ser social que se produz em redes, inserido em um mapa de existência que abrange multiplicidades e realidades na produção de vida. Assim, a atuação de terapeutas ocupacionais nessa rede da existência envolve uma perspectiva da saúde “[...] entendida como um estado de produção de vida” (Ghirardi et al., 2005Ghirardi, M. I. G., Lopes, S. R., Barros, D. D., & Galvani, D. (2005). Vida na rua e cooperativismo: transitando pela produção de valores. Interface: Comunicacao, Saude, Educacao, 9(18), 601-610. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-32832005000300014.
http://dx.doi.org/10.1590/S1414-32832005...
, p. 609).

Nota-se aproximações entre as ações de saúde e a vida que acontece nos territórios. Nesse sentido, compreende-se território por duas vias: como um ente concreto, “[...] dinâmico, vivo, repleto de inter-relações... [com] papel essencial sobre a vida do indivíduo e do corpo social” (Lima & Yasui, 2014Lima, E. M. F. A., & Yasui, S. (2014). Territórios e sentidos: espaço, cultura, subjetividade e cuidado na atenção psicossocial. Saúde em Debate, 38(102), 593-606. http://dx.doi.org/10.5935/0103-1104.20140055.
http://dx.doi.org/10.5935/0103-1104.2014...
, p. 596), e relativo às subjetividades, em sua concepção como território existencial pela perspectiva de Deleuze e Guattari, “[...] que envolve espaços construídos com elementos materiais e afetivos do meio, que, apropriados e agenciados de forma expressiva, findam por constituir lugares para viver” (Lima & Yasui, 2014Lima, E. M. F. A., & Yasui, S. (2014). Territórios e sentidos: espaço, cultura, subjetividade e cuidado na atenção psicossocial. Saúde em Debate, 38(102), 593-606. http://dx.doi.org/10.5935/0103-1104.20140055.
http://dx.doi.org/10.5935/0103-1104.2014...
, p. 599).

A expressão relacionada à perspectiva de produção do cuidado, com referência à filosofia da diferença, não se trata de um bem-estar físico, psíquico e emocional de forma genérica, constituem-se ações que acompanham afetos, fluxos e linhas de fuga em mapas e territórios existenciais de cada um, seus mundos e subjetividades, afirmando e produzindo a vida. Para além da atuação em terapia ocupacional, “[...] a visibilidade da produção de vida e cuidado na loucura permitiu que os trabalhadores da saúde propusessem outras ofertas de cuidado não asilares, não desterritorializadas, não institucionalizadas” (Ferreira et al., 2018Ferreira, T. P. S., Sampaio, J., & Gomes, L. (2018). Novos olhares para outros modos de existência. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 29(1), 70-79. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v29i1p70-79.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
, p. 76).

Somando à perspectiva da desinstitucionalização para o cuidado em saúde mental, tem-se como horizonte um trabalho em rede que promove valorização e protagonismo dos sujeitos. Ou seja, ações que amplificam as possibilidades de exercício de seus direitos, desejos, criação de vivências, histórias e trocas. Por fim, as transformações de espaços de não convivência para espaços de vida coletivos como um novo lugar social (Ribeiro, 2014Ribeiro, M. C. (2014). Os Centros de Atenção Psicossocial como espaços promotores de vida: relatos da desinstitucionalização em Alagoas. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 24(3), 174-182. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v24i3p174-182.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
). Assim, a terapia ocupacional atua na criação de estratégias que compõem e organizam a rede de cuidados, tendo em vista os territórios existenciais, de circulação, pertencimento e de produção de vida.

Produção de vida na experiência criativa e transformação cultural

As práticas artísticas em terapia ocupacional, assim como precursores à sua institucionalização no país, estiveram inicialmente associadas à expressão de emoções e conteúdos inconscientes. Com as lutas sociais pela redemocratização brasileira e pelos direitos, por exemplo, das pessoas com deficiências, a promoção de práticas corporais e artísticas ganharam novos sentidos sob contexto de desconstrução e reconstrução material e simbólica da vida e da subjetividade. Estas são associadas à reorientação de conceitos como saúde, reabilitação, cidadania e atividade, que passaram a conduzir experimentações teórico-práticas na profissão (Castro, 2000Castro, E. D. (2000). Arte, corpo e terapia ocupacional: aproximação, intersecções e desdobramentos. Revista de Terapia Ocupacional, 11(1), 7-12.).

Seis artigos apontam experiências criativas relacionadas à expressão “produção de vida”: Formação em terapia ocupacional na interface das artes e da saúde: a experiência do PACTO (Castro et al., 2009Castro, E., Inforsato, E., Angeli, A., & Lima, E. (2009). Formação em terapia ocupacional na interface das artes e da saúde: a experiência do PACTO. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 149-156. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v20i3p149-156.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
), tendo Guattari como referencial teórico; PACTO adolescentes: arte e corpo na invenção de dispositivos em terapia ocupacional para produção de vida e saúde na adolescência (Lima et al., 2009Lima, E. M. F. A., Canguçu, D. F., Moraes, C., & Inforsato, E. A. (2009). PACTO adolescentes: arte e corpo na invenção de dispositivos em terapia ocupacional para produção de vida e saúde na adolescência. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 157-163. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v20i3p157-163.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
) não citam referência; Exercícios de sonhar junto: criatividade e experiências estéticas no acompanhamento de uma criança (Buelau et al., 2009Buelau, R. M., Inforsato, E. A., & Lima, E. M. F. A. (2009). Exercícios de sonhar junto: criatividade e experiências estéticas no acompanhamento de uma criança. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 164-170. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v20i3p164-170.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
), que menciona Safra; Ateliês de corpo e arte: inventividade, produção estética e participação sociocultural (Castro et al., 2011Castro, E. D., Saito, C., Drumond, F., & Lima, L. (2011). Ateliês de corpo e arte: inventividade, produção estética e participação sociocultural. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 22(3), 254-262. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v22i3p254-262.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
), no qual a referência foi Inforsato; Oficinas de teatro como recurso terapêutico ocupacional em um serviço residencial terapêutico (Silva & Raccioni, 2015Silva, M. L., & Raccioni, T. M. (2015). Oficinas de teatro como recurso terapêutico ocupacional em um serviço residencial terapêutico. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(2), 267-273. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v26i2p267-273.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
), que referiram Rotelli, Castro e Silva; O uso da música como recurso terapêutico em saúde mental (Batista & Ribeiro, 2016Batista, N. S., & Ribeiro, M. C. (2016). O uso da música como recurso terapêutico em saúde mental. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 27(3), 336-341. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v27i3p336-341.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
), em que Ribeiro foi a referência.

Todos os artigos nesta categoria colocam a terapia ocupacional na interface com arte, cultura, experiência estética e/ou processos criativos, trazendo novos sentidos para compreender as vidas humanas e promover novas possibilidades para a existência. São espaços de experimentação, invenção e significação de experiências como criação de territórios existenciais, fabricando outras formas de comunicação e de vida. As expressões artísticas se tornam iniciativas de produção de vida, sociabilidade, criatividade e transformação dos espaços de não convivência em espaços compartilhados.

A terapia ocupacional muito tem a contribuir. Ao criarmos um campo de experimentação onde formas estéticas e simbólicas podem ser inventadas e articuladas através da atividade humana e da abertura ao contato com a alteridade, promovemos um cuidado com a experiência dos sujeitos no mundo, fundamental para a criação de novos territórios existenciais e, consequentemente, para a produção de vida (Buelau et al., 2009Buelau, R. M., Inforsato, E. A., & Lima, E. M. F. A. (2009). Exercícios de sonhar junto: criatividade e experiências estéticas no acompanhamento de uma criança. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 164-170. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v20i3p164-170.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
, p. 167).

O envolvimento ativo com experiências estéticas e de criação potencializa a existência humana, a percepção de si como ser criador ao mesmo tempo em que se aprende nas relações com o mundo, como espaços possíveis de expressão e transformação cultural e da subjetividade, onde também se produz a vida. Isso favorece e fortalece a expressão de traços de autoria, agenciamento de novas possibilidades e autogestão. Assim, novas possibilidades de experiência, conhecimento e criação acionam o movimento de produção de vida e de subjetividade.

Um movimento vivo se propôs a partir desta convivência e, para este grupo, pôde-se acolher aquilo que era vital de ser vivenciado. Pode-se dizer que este momento do trabalho engendrou potência, potência da vida que quer prosseguir. O corpo é uma fonte de conhecimentos, suas respostas e sua forma podem orientar a pessoa constantemente (Castro et al., 2011Castro, E. D., Saito, C., Drumond, F., & Lima, L. (2011). Ateliês de corpo e arte: inventividade, produção estética e participação sociocultural. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 22(3), 254-262. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v22i3p254-262.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
, p. 257).

A centralização e a redefinição das atividades, como humanas e culturais, para a terapia ocupacional no Brasil, estão permeadas pelas possibilidades de conexão e criação, facilitando a compreensão da produção e da fruição artística e cultural relacionadas à vida coletiva e cotidiana. “Mover-se em outros espaços, abrir-se às experiências coletivas que dialogavam com as produções, fortaleceram e provocaram ressonâncias para os fazeres grupais” (Castro et al., 2011Castro, E. D., Saito, C., Drumond, F., & Lima, L. (2011). Ateliês de corpo e arte: inventividade, produção estética e participação sociocultural. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 22(3), 254-262. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v22i3p254-262.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
, p. 260). Isso significou alinhar experimentação, criação, produção de vida e de subjetividade (Castro et al., 2011Castro, E. D., Saito, C., Drumond, F., & Lima, L. (2011). Ateliês de corpo e arte: inventividade, produção estética e participação sociocultural. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 22(3), 254-262. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v22i3p254-262.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
).

Produção de vida como manutenção da própria existência

Esta categoria envolve artigos que referenciam Mariângela Quarentei ao mencionar a produção de vida em relação à condição existencial, compartilham temas de investimento com a autora, como a desinstitucionalização (Quarentei, 1999Quarentei, M. S. (1999). Criando lugar(res) para a falta de lugar. Interface, 1(5), 195-202.), ou consideram as atividades humanas para se referirem aos saberes e fazeres em terapia ocupacional (Quarentei, 2006Quarentei, M. S. (2006). Ética, estética e atividade humana: experimentar, criar... afirmar, territórios, vidas... belezas. In Anais do Seminário Aberto do Coletivo de Estudos de Terapia Ocupacional e Produção de Vida. Botucatu.). Portanto, esta é a categoria que mais diretamente dialoga com a autora e sua concepção sobre terapia ocupacional como produção de vida.

Onze artigos operam a expressão “produção de vida” com o sentido da condição de existência, são eles: Grupo de terapia ocupacional com jovens após o cumprimento de medidas socioeducativas um espaço para produção de vida (Almeida, 2003Almeida, M. M. (2003). Grupo de Terapia Ocupacional com jovens após o cumprimento de medidas socioeducativas um espaço para produção de vida. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 11(2), 106-110.), embasando-se em Quarentei; Desinstitucionalização e serviços residenciais terapêuticos: novas perspectivas para o campo da reabilitação psicossocial (Mângia & Marques, 2004Mângia, E., & Marques, A. (2004). Desinstitucionalização e serviços residenciais terapêuticos: novas perspectivas para o campo da reabilitação psicossocial. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 15(3), 129-135. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v15i3p129-135.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
), sem referências; Considerações sobre o cotidiano e o habitar de crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional em abrigo (Luvizaro & Galheigo, 2011Luvizaro, N., & Galheigo, S. (2011). Considerações sobre o cotidiano e o habitar de crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional em abrigo. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 22(2), 191-199. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v22i2p191-199.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
), que apontam Francisco e Saraceno; A terapia ocupacional e o serviço residencial terapêutico no município de Belo Horizonte, MG (Castilho, 2012Castilho, J. (2012). A terapia ocupacional e o serviço residencial terapêutico no município de Belo Horizonte, MG. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 23(3), 230-236. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v23i3p230-236.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
), em que Saraceno, Mângia e Nicácio são citados; Ser, estar, habitar: serviços residenciais terapêuticos no município de Campinas, SP (Marques & Mângia, 2013Marques, A. L., & Mângia, E. (2013). Ser, estar, habitar: serviços residenciais terapêuticos no município de Campinas, SP. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 23(3), 245-252. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v23i3p245-252.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
), em que não houve referência; Estudo de revisão sistemática sobre o uso do conceito de cotidiano no campo da terapia ocupacional no Brasil (Salles & Matsukura, 2013Salles, M., & Matsukura, T. S. (2013). Estudo de revisão sistemática sobre o uso do conceito de cotidiano no campo da terapia ocupacional no Brasil. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(2), 265-273. http://dx.doi.org/10.4322/cto.2013.028.
http://dx.doi.org/10.4322/cto.2013.028...
), referenciando Castro, Lima e Brunello; A rua tem um ímã, acho que é a liberdade: potência, sofrimento e estratégias de vida entre moradores de rua na cidade de Santos, no litoral do Estado de São Paulo (Andrade et al., 2014Andrade, L. P., Costa, S. L., & Marquetti, F. C. (2014). A rua tem um ímã, acho que é a liberdade: potência, sofrimento e estratégias de vida entre moradores de rua na cidade de Santos, no litoral do Estado de São Paulo. Saúde e Sociedade, 23(4), 1248-1261. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902014000400011.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902014...
), em que a própria Marquetti é referenciada; Famílias de crianças e adolescentes com autismo: cotidiano e realidade de cuidados em diferentes etapas do desenvolvimento (Minatel & Matsukura, 2014Minatel, M., & Matsukura, T. (2014). Famílias de crianças e adolescentes com autismo: cotidiano e realidade de cuidados em diferentes etapas do desenvolvimento. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 25(2), 126-134. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v25i2p126-134.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
), referindo Salles e Matsukura; Sentimento de desterritorialização e o desafio da autoestima na experiência da moradia estudantil (Gemelgo & Barros, 2015Gemelgo, F. A. K., & Barros, D. D. (2015). Reflexões em torno do sentimento de desterritorialização e do desafio da autoestima na experiência da moradia estudantil. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 23(4), 803-814. http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoRE0650.
http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoR...
), que mencionam Magnani; A pesquisa acadêmica como atividade humana: participação de usuários da saúde mental e as contribuições da terapia ocupacional (Dimov & Ricci, 2016Dimov, T., & Ricci, E. C. (2016). A pesquisa acadêmica como atividade humana: participação de usuários da saúde mental e as contribuições da terapia ocupacional. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 24(3), 651-658. http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoEN0674.
http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoE...
), em que a referência foi Quarentei; Atuação da terapia ocupacional no Consultório na Rua (Prodocimo et al., 2018Prodocimo, C., Milek, G., & Ferigato, S. (2018). Atuação da terapia ocupacional no consultório na rua. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 29(3), 270-279. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v29i3p270-279.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
), citando a própria Ferigato.

Vê-se uma preocupação com as atividades da vida expressas no cotidiano, no qual habitam necessidades, desejos e interesses. A vida cotidiana produz modos de vida únicos, porém, também compartilhados. Nesse sentido, o cotidiano não se limita a “atividades instrumentais” ou à análise do “desempenho ocupacional” enquanto categorias e métricas técnicas a serem colocadas sobre os sujeitos por um saber alheio a ele. A reflexão sobre conceitos como atividades humanas, cotidianos e modos de vida visam a não sobrepor saberes-poderes sobre o sujeito, compreendendo-o como condutor de sua própria realidade, sendo o saber-fazer terapêutico ocupacional apenas mais um elemento agenciador nesse processo, ou seja, aciona outra postura profissional e uma relação de composição e compromisso com a produção de vida.

A transformação e produção de vida, portanto, constituem-se como objetivos da atuação profissional. “A terapia ocupacional preocupa-se com a produção de vida das pessoas que atende e a vida é composta no cotidiano; é nas pequenas ações do dia a dia que nos construímos enquanto seres humanos” (Salles & Matsukura, 2013Salles, M., & Matsukura, T. S. (2013). Estudo de revisão sistemática sobre o uso do conceito de cotidiano no campo da terapia ocupacional no Brasil. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(2), 265-273. http://dx.doi.org/10.4322/cto.2013.028.
http://dx.doi.org/10.4322/cto.2013.028...
, p. 266).

Os referenciais, as visões de mundo e os posicionamentos ético-políticos de terapeutas ocupacionais frente a práticas pautadas e envolvidas com a produção de vida tornam-se facilitadores de novas experiências e potencializam os efeitos dos encontros, da construção, das formas de se relacionar no mundo e da expressão das subjetividades. Para isso, as atividades são catalisadoras de mudanças, efetivam experiências, ampliam possibilidades de existir no mundo, para a produção de mais vida.

Retoma-se também a questão da emancipação na transformação das relações, saberes e práticas, em oposição ao controle institucional, no sentido das transformações dos cotidianos, possibilitando os novos modos de agir e de se expressar frente às realidades, como apontam Marques & Mângia (2013Marques, A. L., & Mângia, E. (2013). Ser, estar, habitar: serviços residenciais terapêuticos no município de Campinas, SP. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 23(3), 245-252. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v23i3p245-252.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
, p. 251):

[...] a construção da qualidade da vida cotidiana está ligada à produção de vida e à transformação concreta da realidade, e passa por potencializar a expressão das diversas subjetividades, resgatar identidades e histórias de vida e revalorizar as ações cotidianas.

A concepção da produção de vida como manutenção do existir, intimamente relacionada a conteúdos subjetivos e a realidades e cotidianos, retoma também a compreensão de território já mencionada na segunda categoria em uma reflexão filosófica e afetiva. Com tais compreensões, as proposições em terapia ocupacional se distanciam da concepção técnica reprodutível que predispõe uma ideia generalista sobre qualidade de vida, para reconhecerem a diversidade e a singularidade de experiências e a complexidade da existência humana compartilhada.

Considerações Finais

A compreensão do campo da terapia ocupacional, em meio à sua diversificação teórico-prática, tem como desafio conhecer, investir e questionar seus fundamentos, concepções e diálogos em destaque na contemporaneidade. Em sua diversidade, é importante dar oportunidade às contribuições que podem ser pertinentes para as diferentes formas de fazer e pensar terapia ocupacional, levando em consideração sua relação com o todo (Guajardo et al., 2015Guajardo, A., Kronenberg, F., & Ramugondo, E. L. (2015). Southern occupational therapies: emerging identities, epistemologies and practices. South African Journal of Occupational Therapy, 45(1), 3-10. http://dx.doi.org/10.17159/2310-3833/2015/v45no1a2.
http://dx.doi.org/10.17159/2310-3833/201...
).

A temática estudada revelou outros sentidos da complexidade de um debate contemporâneo imerso na rede de conhecimentos produzida pela terapia ocupacional no Brasil e que permanece em construção, constituição e transformação em seus percursos histórico, científico, ético e político. Ademais, valoriza a produção de suas interlocutoras na articulação, amplificação e difusão da profissão.

Foi possível verificar certa abrangência da diversidade de cenários teórico-práticos, sendo o campo da saúde mental o que mais operou a expressão “produção de vida”, seguido do social, arte e cultura, saúde coletiva, fundamentos da terapia ocupacional e campo do trabalho. Ressalta-se que tais campos, com certa facilidade, dialogam entre si pelo compartilhamento de referenciais teórico-metodológicos e perspectivas, o que pode indicar uma tendência pela utilização da expressão.

As reflexões levantadas buscaram aprofundar aproximações, marcando diferenças, nas formas de conceber a “produção de vida” na/pela terapia ocupacional. Embora as categorias de análise propostas se aproximem da identificação dos cenários mencionados – sendo a) trabalho como emancipação social; b) ampliação de ações em saúde; c) experiência criativa e transformação cultural; e d) manutenção da própria existência –, nem sempre houve uma ligação direta entre eles, a exemplo da saúde mental, a qual esteve presente em todas as categorias. Portanto, verificou-se que as categorias apresentam compreensões que não foram constituídas com base nos campos de especialidade da terapia ocupacional brasileira.

No geral, tais elaborações revelaram sentidos conceituais da expressão “produção de vida” na construção de saberes-fazeres da terapia ocupacional no Brasil mais conectados com o mundo, além das diversas realidades e formas de existir e protagonizar a vida. Se, por um lado, a expressão se aproxima de possíveis objetivos profissionais, no sentido de considerar o trabalho para emancipação social, conceber a saúde ampliada em suas práticas de cuidado, valorizar a criação e transformação cultural pelas/das pessoas e priorizar a manutenção da existência de forma singular e compartilhada, por outro, é visto que os sentidos revelados a distanciam de metodologias pré-determinadas, reprodutíveis e acríticas.

A investigação dos sentidos identificados possibilitou uma convergência com processos anti-hegemônicos e perspectivas teórico-metodológicas críticas implicadas à realidade e às lutas do cenário nacional, para promoção de práticas desinstitucionalizantes, territoriais, em rede, coletivas, públicas, enquanto direito e cidadania, sem menosprezar as singularidades e subjetividades, como exercício de criação e emancipação, relacionado a concepções sobre atividade, fazer, ação, trabalho e cotidiano desenvolvidas pela profissão nacionalmente. Assim, derivou-se uma produção de conhecimento que se fez em ato, com abertura à composição e outras percepções, modos de viver e pensar, o que qualificou sua construção. Verifica-se a presença de relações vivas que marcam e caracterizam o saber-fazer dessa profissão.

Enquanto lacunas da pesquisa, artigos impressos que não foram encontrados não puderam ser analisados, havendo produções referentes à temática que não foram incluídas, o que ainda representa um dificultador no acesso e divulgação das produções nacionais. A possibilidade de realizar a busca apenas pelo banco de dados LILACS também apresentou restrições, pois nem todas as edições dos periódicos e revistas estão indexadas. Além disso, indica-se que houve a inclusão de expressões semelhantes ao escopo da revisão, no entanto, dentro dos sentidos identificados, não foi observada nenhuma divergência ou desvio analítico da discussão.

Por fim, pode-se concluir que a expressão “produção de vida” não possui uma única acepção para a terapia ocupacional brasileira, tampouco se deriva de um único referencial teórico, ainda que seja possível encontrar sentidos compartilhados. Ressalta-se a consistente elaboração teórico-reflexiva de terapeutas ocupacionais com relação à temática, representando um campo de estudo fértil para estudos epistemológicos da produção nacional e para o desenvolvimento de práticas emancipatórias com possibilidades de aprofundamento investigativo.

  • Como citar: Albuquerque, G. M. P., Cardinalli, I., & Bianchi, P. C. (2021). Terapia ocupacional e a expressão “produção de vida”: o que dizem as produções brasileiras? Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 29, e2133. https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAR2133
  • 1
    As referências Almeida (2003)Almeida, M. M. (2003). Grupo de Terapia Ocupacional com jovens após o cumprimento de medidas socioeducativas um espaço para produção de vida. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 11(2), 106-110., Andrade et al. (2014)Andrade, L. P., Costa, S. L., & Marquetti, F. C. (2014). A rua tem um ímã, acho que é a liberdade: potência, sofrimento e estratégias de vida entre moradores de rua na cidade de Santos, no litoral do Estado de São Paulo. Saúde e Sociedade, 23(4), 1248-1261. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902014000400011.
    http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902014...
    , Batista & Ribeiro (2016)Batista, N. S., & Ribeiro, M. C. (2016). O uso da música como recurso terapêutico em saúde mental. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 27(3), 336-341. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v27i3p336-341.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
    , Buelau et al. (2009)Buelau, R. M., Inforsato, E. A., & Lima, E. M. F. A. (2009). Exercícios de sonhar junto: criatividade e experiências estéticas no acompanhamento de uma criança. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 164-170. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v20i3p164-170.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
    , Cardinalli (2017)Cardinalli, I. (2017). Conhecimentos da terapia ocupacional no Brasil: um estudo sobre trajetórias e produções (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos., Castilho (2012)Castilho, J. (2012). A terapia ocupacional e o serviço residencial terapêutico no município de Belo Horizonte, MG. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 23(3), 230-236. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v23i3p230-236.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
    , Castro (2000Castro, E. D. (2000). Arte, corpo e terapia ocupacional: aproximação, intersecções e desdobramentos. Revista de Terapia Ocupacional, 11(1), 7-12., 2005Castro, E. D. (2005). Inscrições da relação terapeuta-paciente no campo da terapia ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 16(1), 14-21. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v16i1p14-21.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
    ), Castro et al. (2009Castro, E., Inforsato, E., Angeli, A., & Lima, E. (2009). Formação em terapia ocupacional na interface das artes e da saúde: a experiência do PACTO. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 149-156. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v20i3p149-156.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
    , 2011Castro, E. D., Saito, C., Drumond, F., & Lima, L. (2011). Ateliês de corpo e arte: inventividade, produção estética e participação sociocultural. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 22(3), 254-262. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v22i3p254-262.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
    ), Castro & Maxta (2010)Castro, L., & Maxta, B. (2010). Práticas territoriais de cuidado em saúde mental: experiências de um centro de atenção psicossocial no município do Rio de Janeiro. Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas, 6(1), 1-11. http://dx.doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v6i1p1-11.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.1806-697...
    , Dimov & Ricci (2016)Dimov, T., & Ricci, E. C. (2016). A pesquisa acadêmica como atividade humana: participação de usuários da saúde mental e as contribuições da terapia ocupacional. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 24(3), 651-658. http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoEN0674.
    http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoE...
    , Ferreira & Costa (2017)Ferreira, T. P. S., & Costa, C. T. (2017). Saúde e redes vivas de cuidado: articulando ações estratégicas no território com vista ao cuidado integral na atenção básica. Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, 1(3), 269-281., Ferreira et al. (2018)Ferreira, T. P. S., Sampaio, J., & Gomes, L. (2018). Novos olhares para outros modos de existência. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 29(1), 70-79. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v29i1p70-79.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
    , Fiorati & Saeki (2011)Fiorati, R. C., & Saeki, T. (2011). A inserção da reabilitação psicossocial nos serviços extra hospitalares de saúde mental: o conflito entre racionalidade instrumental e racionalidade prática. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 22(1), 76-84. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v22i1p76-84.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
    , Gelatti & Angeli (2019)Gelatti, M. D., & Angeli, A. A. C. (2019). Um corpo: cartografando trajetórias de vida de sujeitos com sequelas de acidente vascular cerebral. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 27(1), 149-167. http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoao1697.
    http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoa...
    , Gemelgo & Barros (2015)Gemelgo, F. A. K., & Barros, D. D. (2015). Reflexões em torno do sentimento de desterritorialização e do desafio da autoestima na experiência da moradia estudantil. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 23(4), 803-814. http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoRE0650.
    http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoR...
    , Ghirardi et al. (2005)Ghirardi, M. I. G., Lopes, S. R., Barros, D. D., & Galvani, D. (2005). Vida na rua e cooperativismo: transitando pela produção de valores. Interface: Comunicacao, Saude, Educacao, 9(18), 601-610. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-32832005000300014.
    http://dx.doi.org/10.1590/S1414-32832005...
    , Kinker (1997Kinker, F. S. (1997). Trabalho como produção de vida. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 8(1), 42-48., 2012Kinker, F. S. (2012). O lugar do hospital psiquiátrico na atualidade: da disciplina ao abandono. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 23(2), 178-185. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v23i2p178-185.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
    ), Lima et al. (2009)Lima, E. M. F. A., Canguçu, D. F., Moraes, C., & Inforsato, E. A. (2009). PACTO adolescentes: arte e corpo na invenção de dispositivos em terapia ocupacional para produção de vida e saúde na adolescência. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 157-163. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v20i3p157-163.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
    , Luiz et al. (2018)Luiz, C. C. A., Leal, E. M., & Galletti, M. C. (2018). Desafios enfrentados por usuários da saúde mental. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 29(1), 63-69. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v29i1p63-69.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
    , Luvizaro & Galheigo (2011)Luvizaro, N., & Galheigo, S. (2011). Considerações sobre o cotidiano e o habitar de crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional em abrigo. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 22(2), 191-199. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v22i2p191-199.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
    , Mângia & Marques (2004)Mângia, E., & Marques, A. (2004). Desinstitucionalização e serviços residenciais terapêuticos: novas perspectivas para o campo da reabilitação psicossocial. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 15(3), 129-135. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v15i3p129-135.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
    , Marques & Mângia (2013)Marques, A. L., & Mângia, E. (2013). Ser, estar, habitar: serviços residenciais terapêuticos no município de Campinas, SP. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 23(3), 245-252. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v23i3p245-252.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
    , Minatel & Matsukura (2014)Minatel, M., & Matsukura, T. (2014). Famílias de crianças e adolescentes com autismo: cotidiano e realidade de cuidados em diferentes etapas do desenvolvimento. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 25(2), 126-134. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v25i2p126-134.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
    , Oliveira (2003)Oliveira, A. J. (2003). Passeio pelo mundo do trabalho. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 14(1), 27-33. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v14i1p27-33.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
    , Prodocimo et al. (2018)Prodocimo, C., Milek, G., & Ferigato, S. (2018). Atuação da terapia ocupacional no consultório na rua. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 29(3), 270-279. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v29i3p270-279.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
    , Ribeiro (2014)Ribeiro, M. C. (2014). Os Centros de Atenção Psicossocial como espaços promotores de vida: relatos da desinstitucionalização em Alagoas. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 24(3), 174-182. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v24i3p174-182.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
    , Salles & Matsukura (2013)Salles, M., & Matsukura, T. S. (2013). Estudo de revisão sistemática sobre o uso do conceito de cotidiano no campo da terapia ocupacional no Brasil. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(2), 265-273. http://dx.doi.org/10.4322/cto.2013.028.
    http://dx.doi.org/10.4322/cto.2013.028...
    e Silva & Raccioni (2015)Silva, M. L., & Raccioni, T. M. (2015). Oficinas de teatro como recurso terapêutico ocupacional em um serviço residencial terapêutico. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(2), 267-273. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v26i2p267-273.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
    foram levantadas na revisão de literatura.

Referências1 1 As referências Almeida (2003), Andrade et al. (2014), Batista & Ribeiro (2016), Buelau et al. (2009), Cardinalli (2017), Castilho (2012), Castro (2000, 2005), Castro et al. (2009, 2011), Castro & Maxta (2010), Dimov & Ricci (2016), Ferreira & Costa (2017), Ferreira et al. (2018), Fiorati & Saeki (2011), Gelatti & Angeli (2019), Gemelgo & Barros (2015), Ghirardi et al. (2005), Kinker (1997, 2012), Lima et al. (2009), Luiz et al. (2018), Luvizaro & Galheigo (2011), Mângia & Marques (2004), Marques & Mângia (2013), Minatel & Matsukura (2014), Oliveira (2003), Prodocimo et al. (2018), Ribeiro (2014), Salles & Matsukura (2013) e Silva & Raccioni (2015) foram levantadas na revisão de literatura.

  • Almeida, M. M. (2003). Grupo de Terapia Ocupacional com jovens após o cumprimento de medidas socioeducativas um espaço para produção de vida. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 11(2), 106-110.
  • Andrade, L. P., Costa, S. L., & Marquetti, F. C. (2014). A rua tem um ímã, acho que é a liberdade: potência, sofrimento e estratégias de vida entre moradores de rua na cidade de Santos, no litoral do Estado de São Paulo. Saúde e Sociedade, 23(4), 1248-1261. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902014000400011
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902014000400011
  • Batista, N. S., & Ribeiro, M. C. (2016). O uso da música como recurso terapêutico em saúde mental. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 27(3), 336-341. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v27i3p336-341
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v27i3p336-341
  • Buelau, R. M., Inforsato, E. A., & Lima, E. M. F. A. (2009). Exercícios de sonhar junto: criatividade e experiências estéticas no acompanhamento de uma criança. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 164-170. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v20i3p164-170
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v20i3p164-170
  • Cardinalli, I. (2017). Conhecimentos da terapia ocupacional no Brasil: um estudo sobre trajetórias e produções (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.
  • Castilho, J. (2012). A terapia ocupacional e o serviço residencial terapêutico no município de Belo Horizonte, MG. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 23(3), 230-236. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v23i3p230-236
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v23i3p230-236
  • Castro, E. D. (2000). Arte, corpo e terapia ocupacional: aproximação, intersecções e desdobramentos. Revista de Terapia Ocupacional, 11(1), 7-12.
  • Castro, E. D. (2005). Inscrições da relação terapeuta-paciente no campo da terapia ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 16(1), 14-21. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v16i1p14-21
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v16i1p14-21
  • Castro, E. D., Saito, C., Drumond, F., & Lima, L. (2011). Ateliês de corpo e arte: inventividade, produção estética e participação sociocultural. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 22(3), 254-262. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v22i3p254-262
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v22i3p254-262
  • Castro, E., Inforsato, E., Angeli, A., & Lima, E. (2009). Formação em terapia ocupacional na interface das artes e da saúde: a experiência do PACTO. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 149-156. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v20i3p149-156
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v20i3p149-156
  • Castro, L., & Maxta, B. (2010). Práticas territoriais de cuidado em saúde mental: experiências de um centro de atenção psicossocial no município do Rio de Janeiro. Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas, 6(1), 1-11. http://dx.doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v6i1p1-11
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v6i1p1-11
  • Dimov, T., & Ricci, E. C. (2016). A pesquisa acadêmica como atividade humana: participação de usuários da saúde mental e as contribuições da terapia ocupacional. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 24(3), 651-658. http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoEN0674
    » http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoEN0674
  • Ferreira, T. P. S., & Costa, C. T. (2017). Saúde e redes vivas de cuidado: articulando ações estratégicas no território com vista ao cuidado integral na atenção básica. Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, 1(3), 269-281.
  • Ferreira, T. P. S., Sampaio, J., & Gomes, L. (2018). Novos olhares para outros modos de existência. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 29(1), 70-79. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v29i1p70-79
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v29i1p70-79
  • Fiorati, R. C., & Saeki, T. (2011). A inserção da reabilitação psicossocial nos serviços extra hospitalares de saúde mental: o conflito entre racionalidade instrumental e racionalidade prática. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 22(1), 76-84. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v22i1p76-84
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v22i1p76-84
  • Galheigo, S. M. (1999). A transdisciplinaridade enquanto princípio e realidade das ações de saúde. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 10(2-3), 49-54.
  • Galheigo, S. M., Braga, C. P., Arthur, M. A., & Matsua, C. M. (2018). Produção de conhecimento, perspectivas e referências teórico-práticas na terapia ocupacional brasileira: marcos e tendências em uma linha do tempo. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 26(4), 723-738. http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO1773
    » http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO1773
  • Gelatti, M. D., & Angeli, A. A. C. (2019). Um corpo: cartografando trajetórias de vida de sujeitos com sequelas de acidente vascular cerebral. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 27(1), 149-167. http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoao1697
    » http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoao1697
  • Gemelgo, F. A. K., & Barros, D. D. (2015). Reflexões em torno do sentimento de desterritorialização e do desafio da autoestima na experiência da moradia estudantil. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 23(4), 803-814. http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoRE0650
    » http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoRE0650
  • Ghirardi, M. I. G., Lopes, S. R., Barros, D. D., & Galvani, D. (2005). Vida na rua e cooperativismo: transitando pela produção de valores. Interface: Comunicacao, Saude, Educacao, 9(18), 601-610. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-32832005000300014
    » http://dx.doi.org/10.1590/S1414-32832005000300014
  • Guajardo, A., Kronenberg, F., & Ramugondo, E. L. (2015). Southern occupational therapies: emerging identities, epistemologies and practices. South African Journal of Occupational Therapy, 45(1), 3-10. http://dx.doi.org/10.17159/2310-3833/2015/v45no1a2
    » http://dx.doi.org/10.17159/2310-3833/2015/v45no1a2
  • Kinker, F. S. (1997). Trabalho como produção de vida. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 8(1), 42-48.
  • Kinker, F. S. (2012). O lugar do hospital psiquiátrico na atualidade: da disciplina ao abandono. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 23(2), 178-185. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v23i2p178-185
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v23i2p178-185
  • Lancman, S., Barros, J. O., Jardim, T. A., & Mângia, E. F. (2016). Saúde, Trabalho e Terapia ocupacional, uma relação indissociável. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 27(2), 1-2. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v27i2pi
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v27i2pi
  • Lima, E. M. F. A., & Yasui, S. (2014). Territórios e sentidos: espaço, cultura, subjetividade e cuidado na atenção psicossocial. Saúde em Debate, 38(102), 593-606. http://dx.doi.org/10.5935/0103-1104.20140055
    » http://dx.doi.org/10.5935/0103-1104.20140055
  • Lima, E. M. F. A., Canguçu, D. F., Moraes, C., & Inforsato, E. A. (2009). PACTO adolescentes: arte e corpo na invenção de dispositivos em terapia ocupacional para produção de vida e saúde na adolescência. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(3), 157-163. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v20i3p157-163
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v20i3p157-163
  • Luiz, C. C. A., Leal, E. M., & Galletti, M. C. (2018). Desafios enfrentados por usuários da saúde mental. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 29(1), 63-69. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v29i1p63-69
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v29i1p63-69
  • Luvizaro, N., & Galheigo, S. (2011). Considerações sobre o cotidiano e o habitar de crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional em abrigo. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 22(2), 191-199. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v22i2p191-199
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v22i2p191-199
  • Mângia, E. F. (1998). Apontamentos sobre o campo da terapia ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 9(1), 5-13.
  • Mângia, E., & Marques, A. (2004). Desinstitucionalização e serviços residenciais terapêuticos: novas perspectivas para o campo da reabilitação psicossocial. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 15(3), 129-135. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v15i3p129-135
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v15i3p129-135
  • Marques, A. L., & Mângia, E. (2013). Ser, estar, habitar: serviços residenciais terapêuticos no município de Campinas, SP. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 23(3), 245-252. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v23i3p245-252
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v23i3p245-252
  • Melo, D. O. C. V. (2015). Em busca de um ethos: narrativas da fundação da terapia ocupacional na cidade de São Paulo (1956-1969) (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Paulo, Santos.
  • Minatel, M., & Matsukura, T. (2014). Famílias de crianças e adolescentes com autismo: cotidiano e realidade de cuidados em diferentes etapas do desenvolvimento. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 25(2), 126-134. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v25i2p126-134
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v25i2p126-134
  • Oliveira, A. J. (2003). Passeio pelo mundo do trabalho. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 14(1), 27-33. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v14i1p27-33
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v14i1p27-33
  • Pádua, E. M. M. (2014). Pesquisa e complexidade: estratégias metodológicas multidimensionais. Curitiba: CRV.
  • Prodocimo, C., Milek, G., & Ferigato, S. (2018). Atuação da terapia ocupacional no consultório na rua. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 29(3), 270-279. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v29i3p270-279
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v29i3p270-279
  • Quarentei, M. S. (1999). Criando lugar(res) para a falta de lugar. Interface, 1(5), 195-202.
  • Quarentei, M. S. (2001). Terapia ocupacional e produção de vida. In Anais do 7º Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional (pp. 1-8). Porto Alegre: ABRATO.
  • Quarentei, M. S. (2006). Ética, estética e atividade humana: experimentar, criar... afirmar, territórios, vidas... belezas. In Anais do Seminário Aberto do Coletivo de Estudos de Terapia Ocupacional e Produção de Vida. Botucatu.
  • Reis, S. C. C. A. G., & Lopes, R. E. (2018). O início da trajetória de institucionalização acadêmica da terapia ocupacional no Brasil: o que contam os (as) docentes pioneiros (as) sobre a criação dos primeiros cursos. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 26(2), 255-270. http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO1154
    » http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO1154
  • Ribeiro, M. C. (2014). Os Centros de Atenção Psicossocial como espaços promotores de vida: relatos da desinstitucionalização em Alagoas. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 24(3), 174-182. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v24i3p174-182
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v24i3p174-182
  • Salles, M., & Matsukura, T. S. (2013). Estudo de revisão sistemática sobre o uso do conceito de cotidiano no campo da terapia ocupacional no Brasil. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(2), 265-273. http://dx.doi.org/10.4322/cto.2013.028
    » http://dx.doi.org/10.4322/cto.2013.028
  • Silva, M. L., & Raccioni, T. M. (2015). Oficinas de teatro como recurso terapêutico ocupacional em um serviço residencial terapêutico. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(2), 267-273. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v26i2p267-273
    » http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v26i2p267-273

Editado por

Editora de seção Profa. Dra. Beatriz Prado Pereira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Abr 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    05 Ago 2020
  • Aceito
    08 Dez 2020
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Terapia Ocupacional Rodovia Washington Luis, Km 235, Caixa Postal 676, CEP: , 13565-905, São Carlos, SP - Brasil, Tel.: 55-16-3361-8749 - São Carlos - SP - Brazil
E-mail: cadto@ufscar.br