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Prevalência de transtornos mentais comuns e fatores associados em estudantes de uma universidade pública brasileira

Resumo

Objetivo

Os objetivos deste estudo foram descrever o perfil dos estudantes das áreas da saúde e exatas de uma universidade pública da região Centro-Oeste, determinar a prevalência de Transtornos Mentais Comuns (TMC) entre estes estudantes e verificar os fatores sociodemográficos e relacionadas ao curso associados a sua ocorrência no contexto da pandemia.

Método

Estudo transversal e de correlação realizado de maio a setembro de 2020 com uma amostra de 493 estudantes que responderam a um questionário eletrônico sobre as variáveis sociodemográficas e ao Self Reporting Questionnaire - SRQ 20. Foram realizadas análises descritivas das variáveis e de regressão logística por meio do Statiscal Package for Social Sciences (SPSS), versão 21.0. Foi adotado ponto de corte ≥7 no SRQ-20 para suspeição de TMC.

Resultados

A prevalência de TMC na população estudada foi de 66,1%. Na comparação entre os grupos (com ou sem TMC), as maiores taxas de prevalência estavam vinculadas ao sexo feminino (p<0,001) e estar em acompanhamento de saúde (p<0,001). A análise de regressão indicou como preditores significativos para TMC ser do sexo feminino (p<0,001) e estar em algum curso da área de exatas (p=0,050).

Conclusão

A alta prevalência de TMC demonstra a importância de programas de prevenção do sofrimento psíquico centrados nas necessidades dos acadêmicos, considerando o seu contexto e realidade vivida, buscando à promoção de saúde, bem-estar e o cuidado dos estudantes universitários.

Palavras-chave:
Ensino Superior; Estudantes; Transtornos Mentais; Assistência em Saúde Mental

Abstract

Objective

Describe the profile of students in the health and exact undergraduate courses of a public university in the Midwest region of Brazil, determine the prevalence of Common Mental Disorders (CMD) among these students, and verify the sociodemographic and course-related factors associated with their occurrence.

Method

A cross-sectional and relational study was carried out from May to September 2020 with a sample of 493 students who answered a survey on sociodemographic variables and the Self-reporting Questionnaire (SRQ 20). We conducted descriptive analyses of the variables and logistic regression, using the Statistical Package for Social Sciences (SPSS), version 21.0. A cutoff point ≥7 was adopted in the SRQ-20 for suspected CMD.

Results

The prevalence of CMD in the sample was 66.1%. Comparison between the groups (with or without CMD) showed that the highest prevalence rates were linked to the female gender (p<0.001) and undergoing health care treatment (p<0.001). Regression analysis indicated significant predictors for CMD being female (p<0.001) and being enrolled in exact science courses (p=0.050).

Conclusion

The high prevalence of CMD reinforces the need to invest in the creation of care spaces that pay special attention to women and exact sciences students, in addition to discussing student assistance policies aimed at promoting the health, well-being, and care of university students.

Keywords:
Education Higher; Students; Mental Disorders; Mental Health Assistance

Introdução

Dados epidemiológicos recentes indicam um cenário preocupante relativo à experiência de sofrimento psíquico intenso pela população jovem mundial (World Health Organization, 2016World Health Organization - WHO. 2016). Prevención de la conducta suicida. Washington: OPS. Recuperado em 31 de março de 2022, de https://iris.paho.org/handle/10665.2/31167.
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), demonstrando que cerca de 10% a 20% dessas pessoas se encontram em sofrimento (World Health Organization, 2008World Health Organization - WHO. (2008). Pacto europeu para a saúde mental e o bem-estar: conferência de alto nível da OMS. Bruxelas: UE/OMS. Recuperado em 31 de março de 2022, de https://health.ec.europa.eu/system/files/2016-11/mhpact_pt_0.pdf.
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, 2013World Health Organization - WHO. (2013). Mental health action plan 2013-2020. Geneva: OMS. Recuperado em 31 de março de 2022, de https://apps.who.int/gb/ebwha/pdf_files/WHA66/A66_R8-en.pdf
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), sendo os mais prevalentes os transtornos mentais comuns (TMC).

Os TMC estão entre os problemas de saúde mental mais frequentes na população em geral. Eles se manifestam por meio de múltiplos sintomas: irritabilidade, insônia, dificuldade de concentração, esquecimento, queixas somáticas, fadiga, ansiedade e depressão. Embora esses sintomas estejam presentes a ponto de comprometer as atividades cotidianas das pessoas, impactando a sua capacidade produtiva e de desempenho, eles não preenchem critérios suficientes para diagnósticos formais de acordo com os manuais diagnósticos: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - 5ª edição (DSM-V) (American Psychiatric Association, 2014American Psychiatric Association - APA. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed.) e Classificação Internacional de Doenças - 11ª revisão (CID-11); no entanto, ainda assim, configuram-se como um problema de saúde pública (Araújo et al., 2003Araújo, T. M., Aquino, E., Menezes, G., Santos, G. O., & Aguiar, L. (2003). Aspectos psicossociais do trabalho e distúrbios psíquicos entre trabalhadoras de enfermagem. Revista de Saúde Pública,37(4), 424-433. , 2005Araújo, T. M., Pinho, O. S., & Almeida, M. M. G. (2005). Prevalência de TMC em mulheres e sua relação com as características sócio-demográficas e o trabalho doméstico. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, 5(3), 337-348.; Moreira et al., 2011Moreira, J. K. P., Bandeira, M., Cardoso, C. S., & Scalon, J. D. (2011). Prevalência de transtornos mentais comuns e fatores associados em uma população assistida por equipes do Programa Saúde da Família. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 60(3), 221-226.; Santos et al., 2019Santos, G. B., Alves, M. C., Goldbaum, M., Cesar, C. L., & Gianini, R. J. (2019). Prevalência de transtornos mentais comuns e fatores associados em moradores da área urbana de São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 35(11), 1-10.; Oliveira et al., 2020Oliveira, E. B., Zeitoune, R. C., Gallasch, C. H., Pérez Junior, E. F., Silva, A. V., & Souza, T. C. (2020). Trastornos mentales comunes en académicos de enfermería del ciclo profesional. Revista Brasileira de Enfermagem, 73(1), 1-6.).

Estudos demonstram um aumento no número de TMC, também, em jovens universitários (Duffy et al., 2019Duffy, A., Saunders, K., Malhi, G. S., Patten, S., Cipriani, A., McNevin, S. H., MacDonald, E., & Geddes, J. (2019). Mental health care for university students: a way forward? The Lancet Psychiatry, 6(11), 885-887.; Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis, 2018Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis - Fonaprace. (2018). V Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Instituições Federais de Ensino Superior. Brasília: Fonaprace.; Patton et al., 2016Patton, G. C., Sawyer, S. M., Santelli, J. S., Ross, D. A., Afifi, R., Allen, N. B., Arora, M., Azzopardi, P., Baldwin, W., Bonell, C., Kakuma, R., Kennedy, E., Mahon, J., McGovern, T., Mokdad, A. H., Patel, V., Petroni, S., Reavley, N., Taiwo, K., Waldfogel, J., Wickremarathne, D., Barroso, C., Bhutta, Z., Fatusi, A. O., Mattoo, A., Diers, J., Fang, J., Ferguson, J., Ssewamala, F., & Viner, R. M. (2016). Our future: a Lancet commission on adolescent health and wellbeing. Lancet, 387(10036), 2423-2478.). Sabe-se que a transição para a universidade coincide com um período crítico e de desafios para o estudante, caracterizado pela individualização e distanciamento da família e amigos, desenvolvimento de novas conexões sociais e aumento da autonomia e responsabilidade (Patton et al., 2016Patton, G. C., Sawyer, S. M., Santelli, J. S., Ross, D. A., Afifi, R., Allen, N. B., Arora, M., Azzopardi, P., Baldwin, W., Bonell, C., Kakuma, R., Kennedy, E., Mahon, J., McGovern, T., Mokdad, A. H., Patel, V., Petroni, S., Reavley, N., Taiwo, K., Waldfogel, J., Wickremarathne, D., Barroso, C., Bhutta, Z., Fatusi, A. O., Mattoo, A., Diers, J., Fang, J., Ferguson, J., Ssewamala, F., & Viner, R. M. (2016). Our future: a Lancet commission on adolescent health and wellbeing. Lancet, 387(10036), 2423-2478.).

Autores apontam que o ensino superior é marcado por ser um momento desafiador na vida dos jovens estudantes, considerando o caráter de adaptação (ritmo de estudo, metodologia de aprendizagem, exigência de autonomia) e a inexperiência em relação ao funcionamento do ambiente acadêmico, o que exige desses estudantes um confronto com múltiplas e complexas tarefas (Zbuinovicz & Mariotti, 2021Zbuinovicz, K. F., & Mariotti, M. C. (2021). The vulnerabilities of University Students: an integrative review. SciELO Preprints. Recuperado em 31 de março de 2022, de https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.3011.
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; Padovani et al., 2014Padovani, R. C., Neufeld, C. B., Maltoni, J., Barbosa, L. N. F., Souza, W. F., Cavalcanti, H. A. F., & Lameu, J. N. (2014). Vulnerabilidade e bem-estar psicológicos do estudante universitário. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 10(1), 2-10.; Neves & Dalgalarrondo, 2007Neves, M. C. C., & Dalgalarrondo, P. (2007). Transtornos mentais auto-referidos em estudantes universitários. Revista Brasileira de Psiquiatria, 56(4), 237-244.). Além disso, esse pode ser considerado um período de intensas mudanças pessoais, cognitivas, afetivas e sociais, uma vez que é composto pela diversidade de experiências acadêmicas que se associam aos desafios decorrentes do ingresso na universidade (Castro, 2017Castro, V. R. (2017). Reflexões sobre a saúde mental do estudante universitário: estudo empírico com estudantes de uma instituição pública de ensino superior. Revista Gestão em Foco, 9, 380-401.; Padovani et al., 2014Padovani, R. C., Neufeld, C. B., Maltoni, J., Barbosa, L. N. F., Souza, W. F., Cavalcanti, H. A. F., & Lameu, J. N. (2014). Vulnerabilidade e bem-estar psicológicos do estudante universitário. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 10(1), 2-10.).

Frente a esse cenário, existe um crescente aumento no número de Instituições de Ensino Superior (IES) preocupadas com a saúde mental de seus estudantes (Cerchiari et al., 2005Cerchiari, E. A. N., Caetano, D., & Faccenda, O. (2005). Utilização do serviço de saúde mental em uma universidade pública. Psicologia, 25(2), 252-265.; Malajovich et al., 2017Malajovich, N., Vilanova, A., Frederico, C., Cavalcanti, M. T., & Velasco, L. B. (2017). A juventude universitária na contemporaneidade: a construção de um serviço de atenção em saúde mental para estudantes. Mental, 11(21), 356-377.). Dados do V Relatório do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários Estudantis (2018), em uma amostra de 424.128 universitários, distribuídos em 65 IES, apontaram que 83,5% dos estudantes relataram ter passado por alguma dificuldade emocional nos últimos 12 meses, apresentando sentimentos de ansiedade (63,6%) e desânimo para desempenhar suas atividades (45,6%).

Essa temática teve um novo destaque dentro do universo acadêmico no início do ano de 2020, quando foi decretada a crise sanitária mundial em razão da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), a COVID-19. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Organização Pan-Americana da Saúde, 2009Organização Pan-Americana da Saúde - OPAS. (2009). Proteção da saúde mental em situações de epidemias. Recuperado em 31 de março de 2022, de https://www.paho.org/hq/dmdocuments/2009/Protecao-da-Saude-Mental-em-Situaciones-de-Epidemias--Portugues.pdf.
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), do ponto de vista da saúde mental, uma pandemia pode desencadear problemas psicossociais, especialmente pela magnitude do evento e o grau de vulnerabilidade no qual a pessoa se encontra no momento, ultrapassando a capacidade de enfrentamento da população afetada. Estudos conduzidos nesse período mostraram o impacto da pandemia em trabalhadores de saúde e de linha de frente, como equipe médica, profissionais de enfermagem e de serviços essenciais (Almeida et al., 2020Almeida, C. A. R. P. N., Almeida, G. A. R. P. N., Carvalho, M. R. C. T., & Marcolino, A. B. L. (2020). Aspectos relacionados à saúde mental dos profissionais de saúde durante a pandemia do Covid-19: uma revisão integrativa da literatura. Brazilian Journal of Health Review, 3(6), 19481-19491.; Chen et al., 2020Chen, Q., Liang, M., Li, Y., Guo, J., Fei, D., Wang, L., He, L., Sheng, C., Cai, Y., Xiaojun, L., Wang, L., & Zhang, Z. (2020). Mental health care for medical staff in China during the COVID-19 outbreak. The Lancet Psychiatry, 7(4), e15-e16.). Em relação à saúde mental dos universitários durante o surto da COVID-19, algumas pesquisas foram realizadas para compreender os reflexos do isolamento social e distanciamento físico na saúde e bem-estar desses estudantes.

Um estudo realizado com aproximadamente quinhentos universitários da área da saúde uma universidade pública brasileira mostrou que a maioria deles estava angustiada (89%) e preocupada (91,7%) com o contexto da pandemia (Martins et al., 2020Martins, A. B. T., Falcão, C. S. V., Pereira, Á. M. C., Carvalho, J. Q., Diogo, J. L., Eloy, Y. R. G., & Abdon, A. P. V. (2020). Sentimento de angústia e isolamento social de universitários da área da saúde durante a pandemia da COVID-19. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, 33, 1-9. ). Pesquisas nacionais e internacionais vêm evidenciando a alta prevalência de TMC entre estudantes universitários, e estudos apontaram um agravamento durante o período pandêmico (Oksanen et al., 2014Oksanen, A. M., Laimi, K., Löyttyniemi, E., & Kunttu, K. (2014). Trends of weekly musculoskeletal pain from 2000 to 2012: national study of Finnish university students. European Journal of Pain, 18(9), 1316-1322.; Tran et al., 2017Tran, A., Tran, L., Geghre, N., Darmon, D., Rampal, M., Brandone, D., Gozzo, J., Haas, H., Rebouillat-Savy, K., Caci, H., & Avillach, P. (2017). Health assessment of French university students and risk factors associated with mental health disorders. PLoS One, 12(11), 1-18.; Alsaleem et al., 2021Alsaleem, M. A., Alsaleem, S. A., Shehri, S. A., Awadalla, N. J., Mirdad, T. M., Abbag, F. I., & Mahfouz, A. A. (2021). Prevalence and correlates of university students’ perceived stress in southwestern Saudi Arabia. Medicine, 100(38), 1-5.; Lopes et al., 2022Lopes, F. M., Lessa, R. T., Carvalho, R. A., Reichert, R. A., Andrade, A. L. M., & Micheli, D. (2022). Transtornos mentais comuns em estudantes universitários: uma revisão sistemática da literatura. Psicologia em Pesquisa, 16(1), 1-23.), em especial em estudantes da área da saúde (Santos et al., 2017Santos, H. G. B., Marcon, S. R., Espinosa, M. M., Baptista, M. N., & de Paulo, P. M. C. (2017). Fatores associados à presença de ideação suicida entre universitários. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 25, 1-8.; Grether et al., 2019Grether, E. O., Becker, M. C., Menezes, H. M., & Nunes, C. R. D. O. (2019). Prevalência de transtornos mentais comuns entre estudantes de medicina da Universidade Regional de Blumenau (SC). Revista Brasileira de Educação Médica, 43(Supl.1), 276-285.; Tran et al., 2017Tran, A., Tran, L., Geghre, N., Darmon, D., Rampal, M., Brandone, D., Gozzo, J., Haas, H., Rebouillat-Savy, K., Caci, H., & Avillach, P. (2017). Health assessment of French university students and risk factors associated with mental health disorders. PLoS One, 12(11), 1-18.; Gomes et al., 2020Gomes, C. F. M., Pereira Junior, R. J., Cardoso, J. V., & Silva, D. A. (2020). Transtornos mentais comuns em estudantes universitários: abordagem epidemiológica sobre vulnerabilidades. SMAD. Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas, 16(1), 1-8.).

Nesse contexto, uma revisão sistemática com o objetivo de descrever e analisar as publicações científicas sobre a prevalência de TMC entre universitários brasileiros, considerando o período anterior ao surto da Covid-19 e o contexto de pandemia, evidenciou que, na comparação com dados sobre prevalência de TMC entre população geral e outros grupos específicos, as taxas de TMC entre universitários foram as mais elevadas, variando de 19 a 55,3% (Lopes et al., 2022Lopes, F. M., Lessa, R. T., Carvalho, R. A., Reichert, R. A., Andrade, A. L. M., & Micheli, D. (2022). Transtornos mentais comuns em estudantes universitários: uma revisão sistemática da literatura. Psicologia em Pesquisa, 16(1), 1-23.). Outro estudo, realizado durante a pandemia em cinco universidades públicas de diferentes regiões da Espanha com aproximadamente dois mil estudantes, evidenciou que as mulheres eram mais propensas a desenvolver TMC do que os homens, apresentando taxa de prevalência de 23,1% (Ballester et al., 2020Ballester, L., Alayo, I., Vilaguti, G., Almenara, J., Cebrià, A. I., Echeburúa, E., Gabilondo, A., Gili, M., Lagares, C., Piqueras, J. A., Roca, M., Soto-Sanz, V., Blasco, M. J., Castellví, P., Mortier, P., Bruffaertes, R., Auerbach, R. P., Nock, M. K., Kessler, R. C., & Jordi, A. (2020). Mental disorders in Spanish university students: Prevalence, age-of-onset, severe role impairment and mental health treatment. Journal of Affective Disorders, 273, 604-613.).

Son et al. (2020)Son, C., Hegde, S., Smith, A., Wang, X., & Sasangohar, F. (2020). Effects of COVID-19 on college students’ mental health in the United States: interview survey study. Journal of Medical Internet Research, 22(9), e21279. entrevistaram cerca de duzentos estudantes de um grande sistema universitário no Texas, Estados Unidos, e identificaram que 71% dos participantes indicaram que seu estresse e ansiedade aumentaram em razão da pandemia de COVID-19; 89% apresentaram dificuldade em se concentrar no trabalho acadêmico; 54% relataram que interações gerais com outras pessoas, como amigos, diminuíram significativamente; e 44% mencionaram que estavam experimentando alguns pensamentos depressivos no período pandêmico.

Entretanto, a sinalização de alta prevalência de TMC entre os estudantes universitários antecede o período da pandemia. Segundo o relatório do projeto de pesquisa sobre Estudantes Universitários Internacionais de Saúde Mental Mundial (WMH) da Organização Mundial da Saúde (WMH-ICS) envolvendo dezenove faculdades em oito países (Austrália, Bélgica, Alemanha, México, Irlanda do Norte, África do Sul, Espanha, Estados Unidos), há um elevado percentual de TMC entre esses estudantes (Auerbach et al., 2016Auerbach, R. P., Alonso, J., Axinn, W. G., Cuijpers, P., Ebert, D. D., Green, J. G., Hwang, I., Kessler, R. C., Liu, H., Mortier, P., Nock, M. K., Pinder-Amaker, S., Sampson, N. A., Aguilar-Gaxiola, S., Al-Hamzawi, A., Andrade, L. H., Benjet, C., Caldas-de-Almeida, J. M., Demyttenaere, K., Florescu, S., Girolamo, G., Gureje, O., Haro, J. M., Karam, E. G., Kiejna, A., Kovess-Masfety, V., Lee, S., McGrath, J. J., O’Neill, S. O., Pennell, B.-E., Scott, K., Ten Have, M., Torres, Y., Zaslavsky, A. M., Zarkov, Z., & Bruffaerts, R. (2016). Mental disorders among college students in the World Health Organization World Mental Health Surveys. Psychological Medicine, 46(14), 2955-2970.).

Oksanen et al. (2014)Oksanen, A. M., Laimi, K., Löyttyniemi, E., & Kunttu, K. (2014). Trends of weekly musculoskeletal pain from 2000 to 2012: national study of Finnish university students. European Journal of Pain, 18(9), 1316-1322. realizaram uma pesquisa com mais de 11.000 estudantes finlandeses, ao longo dos anos de 2000 a 2012, com o objetivo de explorar as mudanças na prevalência de sofrimento psíquico e sintomas psicológicos concomitantes entre estudantes universitários. Os resultados demonstraram um aumento na prevalência de sofrimento psíquico dos universitários ao longo dos anos. Em relação à depressão (de 13% para 15%) e à ansiedade (de 8% para 13%), com predominância em mulheres.

A literatura também apontou a existência de fatores associados ao sofrimento psíquico de estudantes universitários, como sexo feminino, idade, baixa renda, baixo apoio social, dificuldades nos relacionamentos e desempenho acadêmico (Verger et al., 2009Verger, P., Combes, J. B., Kovess-Masfety, V., Choquet, M., Guagliardo, V., Rouillon, F., & Peretti-Wattel, P. (2009). Psychological distress in first year university students: socioeconomic and academic stressors, mastery and social support in young men and women. Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology, 44(8), 643-650.; Costa et al., 2010Costa, E. F., Andrade, T. M., Silvany Neto, A. M., Melo, E. V., Rosa, A. C., Alencar, M. A., & Silva, A. M. (2010). Common mental disorders among medical students at Universidade Federal de Sergipe: a cross-sectional study. The British Journal of Psychiatry, 32(1), 11-19.; Graner & Cerqueira, 2019Graner, K. M., & Cerqueira, A. T. A. R. (2019). Revisão integrativa: sofrimento psíquico em estudantes universitários e fatores associados. Ciência & Saúde Coletiva,24(4), 1327-1346.; Ballester et al., 2020Ballester, L., Alayo, I., Vilaguti, G., Almenara, J., Cebrià, A. I., Echeburúa, E., Gabilondo, A., Gili, M., Lagares, C., Piqueras, J. A., Roca, M., Soto-Sanz, V., Blasco, M. J., Castellví, P., Mortier, P., Bruffaertes, R., Auerbach, R. P., Nock, M. K., Kessler, R. C., & Jordi, A. (2020). Mental disorders in Spanish university students: Prevalence, age-of-onset, severe role impairment and mental health treatment. Journal of Affective Disorders, 273, 604-613.).

Salienta-se que a discussão sobre a saúde mental e o sofrimento psíquico dos universitários data da década de cinquenta, reforçando uma preocupação constante com a saúde, bem-estar e desempenho acadêmico desses estudantes. Por isso, enfatiza-se a necessidade de estudos neste campo que possam compreender a problemática do sofrimento psíquico dessa população, considerando o contexto no qual a pessoa está inserida e os determinantes de saúde e sociais envolvidos na produção de saúde mental (Rossi & Cid, 2019Rossi, L. M., & Cid, M. F. B. (2019). Adolescências, saúde mental e crise: a história contada por familiares. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 27(4), 734-742. http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO1811.
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). Tal fato, demonstra, portanto, que investigações sobre TMC se tornam essenciais como indicativo de prevenção do sofrimento e promoção de saúde de estudantes universitários, justificando a necessidade de estudos que priorizem o rastreio de sofrimentos no ambiente acadêmico (Petro et al., 2020Petro, V. A., Fernandes, J. M., Silva, L. P., Reis, B. O. P., Pereira, S. S., Sailer, G. C., & Cardoso, L. (2020). Transtornos mentais comuns, estresse e autoestima em universitários da área da saúde do último ano. Research Social Development, 9(8), 1-21.; Cao et al., 2020Cao, W., Fang, Z., Hou, G., Han, M., Xu, X., Dong, J., & Zheng, J. (2020). The psychological impact of the Covid-19 epidemic on college students in China. Psychiatry Research, 287(112934), 1-5.).

Em suma, a saúde da população universitária é influenciada, direta ou indiretamente, por fatores individuais da pessoa e fatores ambientais, podendo ser elementos de predisposição para TMC e, consequentemente, para o sofrimento (World Health Organization, 2008World Health Organization - WHO. (2008). Pacto europeu para a saúde mental e o bem-estar: conferência de alto nível da OMS. Bruxelas: UE/OMS. Recuperado em 31 de março de 2022, de https://health.ec.europa.eu/system/files/2016-11/mhpact_pt_0.pdf.
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). Diante do exposto, os objetivos deste estudo foram descrever o perfil dos estudantes das áreas da saúde e exatas de uma universidade pública da região Centro-Oeste, determinar a prevalência de TMC entre esses estudantes e verificar os fatores sociodemográficos e relacionadas ao curso associados a sua ocorrência no contexto da pandemia.

Método

Este estudo seguiu as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos da Resolução nº 466 de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde, tendo sido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CAEE de número: 24451619.3.0000.8093).

Trata-se de um estudo com delineamento analítico, observacional, de corte transversal realizado de maio a setembro de 2020 em uma universidade pública do Centro-Oeste brasileiro.

A amostra foi composta por 493 estudantes dos cursos das áreas da saúde (enfermagem, farmácia, fisioterapia, fonoaudiologia, saúde coletiva e terapia ocupacional) e exatas (engenharia aeroespacial, engenharia automotiva, engenharia eletrônica, engenharia de energia e engenharia de software). Essa amostra revelou um poder estatístico apriorístico superior a 99,0%. Utilizou-se para a estimativa do poder alcançado o programa Power Analysis and Sample Size (PASS), versão 15.0.

Os critérios de inclusão foram: ser estudante de graduação de curso de áreas da saúde ou exatas de uma universidade pública da região Centro-Oeste brasileira, independente da faixa etária e sexo. Adotou-se como critérios de exclusão os estudantes que estavam afastados da graduação por motivo de saúde e que realizaram o trancamento parcial das atividades acadêmicas.

Os questionários utilizados nesta pesquisa foram um formulário sociodemográfico, composto pelas variáveis: sexo, idade, estado civil, cor da pele, renda familiar, moradia e informações acadêmicas e de saúde, como área do curso, ano na faculdade e se faziam acompanhamento psiquiátrico ou psicoterapia. Para o rastreamento de TMC, utilizou-se o Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20), um instrumento desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A versão brasileira foi validada por Mari & Williams (1986)Mari, J. J., & Williams, P. (1986). A validity study of a psychiatric screening questionnaire (SRQ-20) in primary care in the city of Sao Paulo. The British Journal of Psychiatry, 148, 23-26. e posteriormente por Gonçalves et al. (2008)Gonçalves, D. M., Stein, A. T., & Kapczinski, F. (2008). Avaliação de desempenho do Self-Reporting Questionnaire como instrumento de rastreamento psiquiátrico: um estudo comparativo com o Structured Clinical Interview for DSM-IV-TR. Cadernos de Saúde Pública, 24(2), 380-390., sendo composta por uma escala de 20 itens com alternativas de respostas dicotômica (sim e não) para cada uma das suas questões. O escore é obtido pela somatória das respostas afirmativas, sendo que cada item tem valor de um ponto. Dessa forma, optou-se por utilizar o critério que considera ausência ou não de sintomas de sofrimento psíquico, delimitando para este estudo o escore de corte do SRQ-20 em 7, ou seja, pontuações do SRQ-20 <7 representam ausência de TMC e SRQ-20 ≥7 refere-se à suspeição de TMC, conforme apontado na literatura (Santos et al., 2010Santos, K. O. B., Araújo, T. M., Pinho, P. S., & Silva, A. C. C. (2010). Avaliação de um instrumento de mensuração de morbidade psíquica: estudo de validação do Self-Reporting Questionaire (SRQ-20). Revista Baiana Saúde Pública, 34(3), 544-560.; Silva et al., 2014Silva, A. G., Cerqueira, A. T. A. R., & Lima, M. C. P. (2014). Apoio social e transtorno mental comum entre estudantes de Medicina. Revista Brasileira de Epidemiologia, 17(1), 229-242.; Paz de Lima, 2015Paz de Lima, P. J. (2015). Avaliação de transtornos mentais comuns em comunicades rurais em Atibaia/SP - Brasil. Cad.Bras. de Saúde Mental, 7(15), 101-121.).

Os estudantes foram convidados virtualmente (por e-mail institucional e redes socais mais utilizadas por eles) a responderem de forma online e voluntária aos questionários, os quais foram disponibilizados por meio da ferramenta do Google Formulário. Após o aceite, foi encaminhado um link de acesso que direcionava os participantes à página inicial da pesquisa, a qual continha o objetivo, o procedimento e as explicações acerca do estudo. Além disso, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) estava disponível para a leitura e foi assinado virtualmente por meio de um ícone de preenchimento obrigatório. Os instrumentos foram autoaplicáveis e anônimos.

A coleta online dos dados foi realizada no estágio inicial de lockdown no Brasil, que influenciou o desenho institucional das universidades de um modo geral, como alteração de calendário acadêmico, da grade curricular de cada curso, modificando a condução das disciplinas e demais atividades acadêmicas, as quais passaram a ser realizadas em ambientes virtuais de forma remota. Além disso, a pandemia impôs a diminuição do contato social, a vivência de momentos de insegurança e incerteza em diversos aspectos da vida cotidiana que demarcaram esse período e podem refletir nos achados deste estudo.

Para a análise, foi construída uma planilha eletrônica no programa Excel® e os achados coletados foram conferidos. O banco de dados foi importado para o software Statistical Package for The Social Sciences (SPSS), versão 21.0. A análise estatística descritiva foi realizada utilizando-se frequências absolutas e relativas para as variáveis categóricas. Além disso, calculou-se a taxa de prevalência, obtida segundo a fórmula:

C o e f i c i e n t e d e p r e v a l ê n c i a = n º d e c a s o s d e d e t e r m i n a d a d o e n ç a e m u m d a d o l o c a l e p e r í o d o p o p u l a ç ã o d o m e s m o l o c a l e p e r í o d o × 10 n (1)

Com o objetivo que comparou as variáveis categóricas (sexo, faixa etária, estado conjugal, arranjo de moradia, informações acadêmicas e de saúde) com ocorrência ou não de TMC (desfecho), foi feita a análise bivariada empregando-se razão de prevalência (RP) e razão de chances de prevalência (RCP). Com o propósito de analisar as variáveis preditoras, empregou-se o modelo de regressão logística, tendo como desfecho a ocorrência ou não de TMC. Nesta última análise, as variáveis faixa etária, renda e semestre foram consideradas numéricas. Este estudo considerou o intervalo de confiança de 95% e o nível de significância de 5% (p<0,05).

Resultados

Participaram do estudo 493 estudantes dos cursos das áreas da saúde e exatas. A idade média dos estudantes foi de 21,2 anos, variando de 20 a 24 anos (65,9%), sendo a maioria solteiros (95,1%), do sexo feminino (66,5%), com renda familiar de 4 até 10 salários mínimos (32,5%) e até 2 salários mínimos (31,0%), autodeclarados pretos/pardos (52,5%) e que moravam com os pais ou familiares (88,2%).

Em relação ao acesso à universidade, 47,5% ingressaram pelo Programa de Avaliação Seriada (PAS)1 1 O Programa de Avaliação Seriada (PAS) é uma forma de ingresso à universidade realizado em três etapas consecutivas ao final de cada ano do ensino médio. Nas duas primeiras o estudante é avaliado por seus conhecimentos por meio de provas de múltipla escolha. E a terceira etapa é adotada a nota do Enem. , com maior proporção de estudantes nos cursos da área da saúde (72,2%), respectivamente nos cursos de terapia ocupacional (19,1%) e saúde coletiva (13,8%), e que estavam cursando entre o segundo e quarto ano de faculdade (46,7%). Identificou-se que 79,5% dos estudantes não faziam acompanhamento voltado para a sua saúde. Do total de 350 estudantes da área da saúde, 277 eram mulheres e 73 homens, e dos 134 estudantes da área de exatas, 51 eram mulheres e 83 homens. Dentre os acadêmicos que estavam em tratamento, 42,6% faziam psicoterapia, 29,7% acompanhamento psiquiátrico e 27,7% realizavam ambas as intervenções de cuidado.

A prevalência de TMC, avaliada por meio do instrumento SRQ-20, foi de 66,1% (n=326). A partir das análises do SRQ-20, verificou-se que em média os estudantes apresentaram cerca de 10 sintomas (±4,7), variando entre zero e 19 sintomas. Observou-se, ainda, uma maior proporção de respostas afirmativas para as seguintes questões: “Sente-se nervoso(a), tenso(a) ou preocupado(a)?”; “Encontra dificuldades para realizar com satisfação suas atividades diárias?”; “Tem dificuldades para tomar decisões?” e “Você se cansa com facilidade?”

A Tabela 1, a seguir, apresenta a distribuição desses achados, considerando os valores absolutos e relativos para as respostas “sim” e “não”.

Tabela 1
Respostas às questões do instrumento SRQ-20 de estudantes universitários (n=493).

Na comparação entre os grupos, com e sem TMC, a maior proporção dos estudantes foi do sexo feminino (p<0,001) e que faz acompanhamento de saúde (p<0,001) (Tabela 2).

Tabela 2
Associação entre os TMC e as variáveis sociodemográficas de estudantes universitários (n=493).

Para verificar os fatores associados aos TMC entre os estudantes, foram consideradas como preditoras desse evento as variáveis sexo, faixa etária, arranjo de moradia, raça/cor, renda, curso e semestre de faculdade. Essas variáveis foram definidas a partir de consulta à Tabela 3, à literatura científica e respeitando a temporalidade em relação à ocorrência de TMC. Os preditores estatisticamente significativos para o indicativo de presença de TMC foram ser do sexo feminino (p<0,001) e ser de algum curso da área de exatas (p=0,050). Ressalta-se que o maior preditor de TMC foi a variável sexo feminino (RCP=3,10) (Tabela 3).

Tabela 3
Modelo final de regressão logística binomial para as variáveis associadas à ocorrência de TMC de estudantes universitários (n=493).

Discussão

Os resultados deste estudo mostraram majoritariamente uma população de jovens estudantes na faixa etária de 20 a 24 anos com média de 21,2 anos, o que corrobora o relatório Fonaprace (Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis, 2018Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis - Fonaprace. (2018). V Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Instituições Federais de Ensino Superior. Brasília: Fonaprace.), cujos resultados mostram que o grupo de estudantes com 20 anos ou mais tem aumentado a sua participação no ensino superior.

Observou-se também a predominância do sexo feminino (66,5%), o que coincide com os dados do relatório Fonaprace (Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis, 2018Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis - Fonaprace. (2018). V Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Instituições Federais de Ensino Superior. Brasília: Fonaprace.), que mostraram uma tendência de crescimento da participação de mulheres no ensino superior, 51,4% e 54,6% em 1996 e 2018, respectivamente.

Nesta pesquisa, vale apontar que a maior proporção de estudantes do sexo feminino graduandas da área da saúde, ao passo que os cursos da área de exatas apontaram maior número de estudantes do sexo masculino. A literatura aponta que a predominância do sexo feminino é característica de cursos da área da saúde (Oliveira et al., 2020Oliveira, E. B., Zeitoune, R. C., Gallasch, C. H., Pérez Junior, E. F., Silva, A. V., & Souza, T. C. (2020). Trastornos mentales comunes en académicos de enfermería del ciclo profesional. Revista Brasileira de Enfermagem, 73(1), 1-6.; Vieira et al., 2019Vieira, A., Monteiro, P. R. R., Carrieri, A. P., Guerra, V. A., & Brant, L. C. (2019). Um estudo das relações entre gênero e âncoras de carreira. Cadernos EBAPE.BR, 17(3), 577-589.), pelo entendimento de serem profissões de assistência e cuidado e, dessa forma, associadas ao público feminino, com a justificativa de que as mulheres estariam mais aptas para tais atividades (Hirata & Kergoat, 2007Hirata, H., & Kergoat, D. (2007). Novas configurações da divisão sexual do trabalho. Cadernos de Pesquisa, 37(132), 595-609.; Souza & Guedes, 2016Souza, L. P., & Guedes, D. R. (2016). A desigual divisão sexual do trabalho: um olhar sobre a última década. Estudos Avançados, 30(87), 123-139.). A pesquisa de Haddad et al. (2010)Haddad, A. E., Morita, M. R., Pierantoni, C. R., Brenelli, S. L., Passarella, T., & Campos, F. E. (2010). Formação de profissionais de saúde no Brasil: uma análise no período de 1991 a 2008. Revista de Saúde Pública, 44(3), 383-393. sobre a formação de profissionais na área da saúde, realizada a partir dos bancos de dados do Ministério da Educação, mostrou que as mulheres eram maioria em todos os cursos, exceto em educação física e entre os concluintes dos cursos de medicina. Entre os cursos de fonoaudiologia, serviço social, terapia ocupacional e nutrição, as mulheres representaram mais de 90% dos estudantes. Esses achados evidenciam questões de gênero impostas por uma sociedade tradicional, para que a mulher se enquadre dentro de um padrão pré-estabelecido, apesar da constatação de avanços e mudanças quanto ao reconhecimento social, sobretudo por sua inserção em diversos espaços profissionais.

Outro achado deste estudo refere-se ao fato de a maioria dos participantes se autodeclaram pretos ou pardos, de baixa renda e ingressantes pelo PAS. A partir da Lei nº 12.711, de 29 agosto de 2012 (Brasil, 2012Brasil. (2012, 29 de agosto). Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências. Diário Oficinal [da] República Federativa do Brasil, Brasília, seção 1, p. 1. Recuperado em 31 de março de 2022, de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm.
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), tem-se uma ampliação do ingresso ao ensino superior, que passa a incluir ainda mais jovens estudantes negros, indígenas, com deficiência, de escola pública e em situação de vulnerabilidade socioeconômica nas universidades (Brasil, 2008Brasil. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP. (2008). Por uma política de formação do magistério nacional: o Inep/MEC dos anos 1950/1960. Brasília: INEP. Recuperado em 31 de março de 2022, de https://download.inep.gov.br/publicacoes/diversas/historia_da_educacao/por_uma_politica_de_formacao_do_magisterio_nacional.pdf.
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). A permeabilidade social no ensino superior foi possível em razão das transformações que ampliaram o acesso à universidade, como o Programa Universidade para Todos - ProUni, o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) e, somado a isso, o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) associado às políticas afirmativas, expandindo para a inclusão de outras camadas sociais, na tentativa da democratização do acesso dos segmentos minoritários (Almeida, 2017Almeida, J. A. S. (2017). A Universidade de Brasília é promotora de saúde? A percepção dos alunos dos cursos da saúde (Dissertação de mestrado). Universidade de Brasília, Brasília. ).

Entretanto, há muitos desafios impostos para a permanência e conclusão do curso desses estudantes no ensino superior resultantes da falta de políticas efetivas e apoio institucional que, pela insuficiência de suporte aos acadêmicos, desencadeiam processos de evasão de estudantes de baixa renda, em situação de vulnerabilidade, gênero, que exercem atividade laboral em paralelo, dentre outros (Gilioli, 2016Gilioli, R. S. P. (2016). Evasão em Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil: expansão da rede, Sisu e desafios. Consultoria Legislativa dos Deputados (Estudo Técnico). Recuperado em 31 de março de 2022, de https://nupe.blumenau.ufsc.br/files/2017/05/evasao_institui%C3%A7%C3%B5es.pdf
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).

Desse modo, esse resultado se explica por conta do avanço nas políticas de cotas, o qual, ainda que tenha barreiras e enfrentamentos no acesso ao ensino superior, representa o direito à educação, sobretudo da igualdade de oportunidades e do reconhecimento da diversidade em nosso país, que permitem o engajamento dos estudantes para driblar os problemas enfrentados como situação de discriminação e preconceito no ambiente universitário.

Esse cenário de mudança de perfil de ingressantes coloca em evidência um novo desafio institucional, sobretudo na compreensão dos fatores sociais, ambientais e pessoais dos estudantes em relação à pobreza, às desigualdades, à saúde e à cultura, que podem dificultar a permanência desses acadêmicos na universidade, revelada em índices de evasão, abandono, trancamentos, adoecimentos, em especial, os TMC. Neste estudo, a prevalência de TMC foi de 66,1% (n=326), apontando na análise bivariada a associação com sexo feminino (p<0,001) e estudantes em acompanhamento de saúde (p<0,001) e como preditores estatisticamente significativos (modelo de regressão), sexo feminino (p <0,001) e estar em algum curso da área de exatas (p = 0,005). Esses dados são discutidos a seguir.

A prevalência de TMC na amostra estudada é um dado preocupante, especialmente porque são percentuais superiores aos apresentados em estudos nacionais e internacionais anteriores realizados com a mesma população alvo.

Como exemplo, tem-se uma ampla revisão integrativa da literatura realizada entre 2006 e 2016 por Graner & Cerqueira (2019)Graner, K. M., & Cerqueira, A. T. A. R. (2019). Revisão integrativa: sofrimento psíquico em estudantes universitários e fatores associados. Ciência & Saúde Coletiva,24(4), 1327-1346., na qual os autores mostraram que as investigações sobre TMC eram predominantemente com a população de estudantes da saúde, e que a prevalência do sofrimento psíquico, a partir do instrumento SRQ-20, tinha uma variação de 33,7 a 49,1%. Essa revisão destaca que a maioria dos estudos são voltadas para estudantes da área da saúde, em especial da medicina. Esses achados divergem dos resultados desta pesquisa, que apresentou uma taxa de prevalência de sofrimento expressivamente maior, dado que pode ser explicado pelo contexto da pandemia.

Destaca-se que a presente pesquisa foi realizada durante o início do período pandêmico, momento no qual ocorreu a suspensão do calendário acadêmico da universidade e afetou toda comunidade universitária, com alterações significativas nas rotinas diárias e impactos na saúde mental e no bem-estar das pessoas. Isso corrobora as diretrizes da Inter-Agency Standing Committee (2007Inter-Agency Standing Committee - IASC. (2007). Guidelines on mental health and psychosocial support in emergency settings. Geneva: IASC. Recuperado em 31 de março de 2022, de https://interagencystandingcommittee.org/iasc-reference-group-on-mental-health-and-psychosocial-support-in-emergency-settings
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), as quais pontuam que situações de emergência sanitária podem potencializar os riscos aos níveis individual, familiar, comunitário e social e desencadear, em determinados grupos, problemas psicológicos e/ou sociais, como em mulheres, idosos, pessoas em situação de vulnerabilidade.

Nessa direção, alguns estudos internacionais realizados no período da pandemia da COVID-19 com estudantes universitários, embora apresentem diferenças nas taxas de TMC identificadas, corroboram a predominância do sofrimento psíquico no público feminino. Um estudo realizado com mais de 2.500 estudantes etíopes no período de pandemia revelou que 50,8% relataram sintomas depressivos, 58% apontaram sintomas de ansiedade e 34,1% estavam com níveis de estresse, predominantemente mulheres (Lemma et al., 2012Lemma, S., Gelaye, B., Berhabe, Y., Worku, A., & Williams, A. M. (2012). Sleep quality and its psychological correlates among university students in Ethiopia: a cross-sectional study. BMC Psychiatry, 12(237), 1-7.). Naser et al. (2020)Naser, A. Y., Dahmash, E. Z., Al-Rousan, R., Alwafi, H., Alrawashdeh, H. M., Ghoul, I., Abidine, A., Bokhary, M. A., Al-Hadithi, H. T., Ali, D., Abuthawabeh, R., Abdelwahab, G. M., Alhartani, Y. J., Al Muhaisen, H., Dagash, A., & Alyami, H. S. (2020). Mental health status of the general population, healthcare professionals, and university students during 2019 coronavirus disease outbreak in Jordan: A cross-sectional study. Brain and Behavior, 10(8), 1-13. identificaram, durante o isolamento social em razão da COVID-19, em uma amostra de mais de 1.000 estudantes universitários jordanianos, uma taxa prevalência de TMC de 21,5%, e mostraram que as mulheres tinham maior risco de sofrimento psíquico quando comparadas aos homens.

As análises do modelo de regressão logística binomial deste estudo reforçaram esses achados, apontando que a probabilidade de desenvolver TMC estava associada às variáveis sexo feminino e estar em algum curso da área de exatas. Compartilhando desses achados, alguns estudos demonstraram que a variável sexo feminino tem influência positiva no desencadeamento de transtorno em estudantes da área da saúde e, consequentemente, no sofrimento psíquico (Costa et al., 2014Costa, E. F., Rocha, M. M., Santos, A. T., Melo, E. V., Martins, L. A., & Andrade, T. M. (2014). Common mental disorders and associated factors among final-year healthcare students. Revista da Associação Médica Brasileira, 60(6), 525-530.; Oliveira et al., 2020Oliveira, E. B., Zeitoune, R. C., Gallasch, C. H., Pérez Junior, E. F., Silva, A. V., & Souza, T. C. (2020). Trastornos mentales comunes en académicos de enfermería del ciclo profesional. Revista Brasileira de Enfermagem, 73(1), 1-6.). Considerando o contexto de pandemia, infere-se que o sofrimento pode ser influenciado pela sobreposição de papéis ocupacionais que a mulher obteve nesse período. Alguns estudos apontam que as mulheres assumem mais tarefas e responsabilidades na família, desempenhando diversos papéis ocupacionais, como o de cuidadora, mãe, esposa e serviços domésticos; portanto, a diminuição do apoio social para o cuidado com a família, filhos e tarefas profissionais tornam-se fatores que influenciam a participação das mulheres nas demandas acadêmicas (Arias et al., 2019Arias, G., Walter, L., Huamani, C., Julio, C., Ceballos, C., & Karla, D. (2019). Síndrome de Burnout en profesores de escuela y universidad: un análisis psicométrico y comparativo em la ciudad de Arequipa. Propósitos y Representaciones, 7(3), 72-110.; Aquino et al., 2021Aquino, E. M. L., Diele-Viegas, L. M., Pilecco, F. B., Reis, A. P., & Menezes, G. M. S. (2021). Mulheres das ciências médicas e da saúde e publicações brasileiras sobre Covid-19. Saúde em Debate, 45(1), 60-72.).

Por outro lado, aproximando-se dos resultados da presente pesquisa, Rocha et al. (2020)Rocha, I. L., Varão, F. S., & Nunes, J. R. (2020). Transtornos mentais comuns entre os estudantes do curso de medicina: prevalência e fatores associados. Brazilian Journal of Development, 6(12), 102989-103000. identificaram, em período pandêmico, utilizando o mesmo instrumento deste estudo, prevalência de 82,9% na suspeição de TMC entre estudantes de medicina de uma instituição privada. Já o estudo realizado na Universidade de Marshall, Estados Unidos da América, durante a pandemia, com 150 estudantes identificou que a maioria dos participantes apresentou sintomas de ansiedade (60,7%) e depressão (76,7%) (Lowe et al., 2020Lowe, B., Bryant-Melvin, K., Peterson, M., Hussain, N., & Holroyd, S. (2020). A retrospective study of students referred to a psychiatric clinic at a College Counseling Center in Appalachia. Southern Medical Journal, 113(5), 250-253.).

Uma possível razão para a alta prevalência de sofrimento psíquico no ambiente universitário pode ser a pressão causada pelas mudanças de papéis, tarefas de estudo, relacionamentos interpessoais e adaptabilidade, que podem afetar a saúde, o desempenho acadêmico e o estilo de vida (Padovani et al., 2014Padovani, R. C., Neufeld, C. B., Maltoni, J., Barbosa, L. N. F., Souza, W. F., Cavalcanti, H. A. F., & Lameu, J. N. (2014). Vulnerabilidade e bem-estar psicológicos do estudante universitário. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 10(1), 2-10.; Liu et al., 2019Liu, X., Ping, S., & Gao, W. (2019). Changes in undergraduate students’ psychological well-being as they experience university life. International Journal of Environmental Research and Public Health, 16(16), 1-14.), fatores que foram agravados durante o período de distanciamento físico e suspensão de atividades acadêmicas presenciais. Além disso, outros aspectos da vida estudantil foram afetados durante esse contexto de pandemia, como a experiência universitária, a proximidade entre as pessoas e construção de vínculos, a falta de se sentir pertencente à comunidade acadêmica, vivências que reafirmam a identidade pessoal e social dos estudantes universitários. Infere-se ainda que sentimentos de desesperança despertados durante o período de pandemia - não só pela crise sanitária em si, mas também pelo que ela impactou os aspectos políticos e socioeconômicos, especialmente no Brasil, gerando incertezas quanto às perspectivas futuras, altos índices de desemprego, que atingiu 29,8% da população, cerca de 4,1 milhões entre os mais jovens (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2021Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA. (2021). Desempenho recente do mercado de trabalho e perspectivas para o ano. Carta de Conjuntura, 51(6). Recuperado em 31 de março de 2022, de https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/210413_cc51_nota_mercado_de_trabalho.pdf
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) - podem interferir não só na rotina, mas também no enfrentamento de adversidades socioeconômicas e, consequentemente, nos (re)planejamentos futuros dos jovens, o que pode repercutir negativamente na saúde e na qualidade de vida nas pessoas (Fisher et al., 2022Fisher, G., Ahlberg, M., Cragle, C., Kudeh, D., Laytos, M., Lopes, K., Riesterer, C., Sedon, M., Scott, A., Sock, L., & Victor, J. (2022). Occupational engagement and quality of life in occupational therapy students and professionals during coronavirus pandemic. Open Journal of Social Sciences, 10(1), 211-239.).

Outro achado significativo foi a associação do TMC com a variável estar em acompanhamento de saúde. Silva (2021)Silva, E. P. (2021). Determinação Social da Saúde e Sofrimento Psíquico na Universidade: uma pesquisa com estudantes do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) do campus da USP de São Carlos (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. conduziu um estudo com estudantes de cursos de exatas durante o surto da COVID-19 e encontrou rastreio positivo para TMC de 72,9% utilizando o mesmo instrumento desta pesquisa, com associação significativa para ser mulher cisgênero, relatar dificuldades de permanência na universidade e estar em acompanhamento de saúde. Segundo Silva, os estudantes em acompanhamento de saúde possuem razão de chance de 5,12 mais vezes de desenvolver sofrimento psíquico do que os que não estão em tratamento.

Com relação ao modelo de regressão logística binomial, este estudo apontou que a probabilidade de desenvolver TMC está associada às variáveis sexo feminino e estar em algum curso da área de exatas. Compartilhando desses achados, alguns estudos demonstraram que a variável sexo feminino tem influência positiva no desencadeamento de TMC em estudantes da área da saúde e, consequentemente, de sofrimento psíquico (Costa et al., 2014Costa, E. F., Rocha, M. M., Santos, A. T., Melo, E. V., Martins, L. A., & Andrade, T. M. (2014). Common mental disorders and associated factors among final-year healthcare students. Revista da Associação Médica Brasileira, 60(6), 525-530.; Oliveira et al., 2020Oliveira, E. B., Zeitoune, R. C., Gallasch, C. H., Pérez Junior, E. F., Silva, A. V., & Souza, T. C. (2020). Trastornos mentales comunes en académicos de enfermería del ciclo profesional. Revista Brasileira de Enfermagem, 73(1), 1-6.). Considerando o contexto de pandemia, infere-se que o sofrimento pode ser influenciado pela sobreposição de papéis ocupacionais que as mulheres experimentaram nesse período.

Entretanto, divergindo dos dados desta pesquisa e considerando o período de pandemia, um estudo realizado com 300 estudantes chineses em seis universidades distintas não mostrou associação positiva com a variável sexo, mas o modelo de regressão multivariada mostrou a que a autoavaliação da saúde, a pressão do estudo e o apoio social foram preditores significativos para o sofrimento psíquico (Lei et al., 2021Lei, X., Liu, C., & Jiang, H. (2021). Mental health of college students and associated factors in Hubei of China. PLoS One, 16(7), 1-11.).

Apesar deste estudo apontar para um público majoritariamente de estudantes do sexo feminino, de cursos da área da saúde, constatou-se como preditor para o TMC estar em graduação de áreas de exatas. Uma hipótese é que o ambiente universitário ainda é marcado por relações hierárquicas, de preconceitos, com ideias conservadoras, de relações de poder e de discriminação de gênero (Oikawa, 2019Oikawa, F. M. (2019). Implicações do contexto universitário na saúde mental dos estudantes (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, Sorocaba. ). Especificamente para estudantes mulheres, há uma exigência social para que cumpram um padrão estabelecido, sobretudo para o engajamento em profissões específicas e por cobranças que recaem no sexo feminino (Zanello et al., 2015Zanello, V., Fiuza, G., & Costa, H. S. (2015). Saúde mental e gênero: facetas gendradas do sofrimento psíquico. Fractal: Revista de Psicologia, 27(3), 238-246.; Miguel, 2017Miguel, L. F. (2017). Voltando à discussão sobre capitalismo e patriarcado. Revista Estudos Feministas, 25(3), 1219-1237.; Vieira et al., 2019Vieira, A., Monteiro, P. R. R., Carrieri, A. P., Guerra, V. A., & Brant, L. C. (2019). Um estudo das relações entre gênero e âncoras de carreira. Cadernos EBAPE.BR, 17(3), 577-589.), situações causadas pela desigualdade de gênero e que podem gerar sofrimento. Por outro lado, pode-se inferir que cursos das áreas de exatas possuem poucas disciplinas ou espaços de cuidado, escuta e partilha de sofrimentos, como acontece com frequência em cursos da área da saúde, em razão da formação profissional.

Conclusão

Para os participantes desta pesquisa, os preditores para ocorrência de TMC estavam relacionados ao sexo e estar em algum curso da área de exatas. Apesar disso, não se desconsidera que outras variáveis possam influenciar no sofrimento psíquico, como consumo de álcool e outras drogas, sono, etnia, fatores do ambiente acadêmico, dentre outras.

A prevalência na amostra estudada é expressivamente mais alta em comparação aos estudos com a mesma população em cursos da área da saúde, podendo-se concluir que o sofrimento psíquico desses estudantes universitários piorou no período da pandemia de COVID-19.

O reconhecimento da existência de TMC e seus fatores associados no ambiente universitário pode permitir o desenvolvimento de ações de promoção à saúde e de estratégias de prevenção do sofrimento. Somado a isso, a articulação com canais e espaços de cuidado oferecidos pela própria universidade pode fornecer assistência e acolhimento aos estudantes, além de buscar o apoio na rede de saúde para a continuidade do cuidado.

Os achados deste estudo precisam ser considerados no contexto de algumas limitações: i) a amostra não permite a ampliação dos resultados para estudantes de outras universidades do país, mas possibilitam o rastreio epidemiológico, contribuindo para futuras investigações sobre o sofrimento psíquico de estudantes universitários; ii) estudos do tipo transversal não podem estabelecer uma relação de causa-efeito, além do viés relacionado ao momento da coleta de dados, no período da pandemia.

Nesse sentido, sugere-se que outras pesquisas sejam realizadas com o mesmo instrumento de rastreio para detectar sintomas relacionados aos TMC, como ansiedade e depressão, para estudantes tanto da área de exatas como da saúde, no período pós-pandemia, para comparação dos achados. Além disso, um estudo longitudinal possibilitaria determinar os principais preditores de sofrimento psíquico durante o período da graduação.

Em síntese, este estudo reforça a necessidade de investimento na criação de espaços de cuidado que tenham uma atenção especial às mulheres e também àquelas em cursos da área de exatas. Tais espaços são essenciais para o fortalecimento de vínculos, convívio e comunicação, e ainda como suporte na prevenção do sofrimento psíquico, além de discussões sobre políticas de assistência estudantil voltadas para a promoção da saúde da comunidade acadêmica.

  • 1
    O Programa de Avaliação Seriada (PAS) é uma forma de ingresso à universidade realizado em três etapas consecutivas ao final de cada ano do ensino médio. Nas duas primeiras o estudante é avaliado por seus conhecimentos por meio de provas de múltipla escolha. E a terceira etapa é adotada a nota do Enem.
  • Como citar: Rodrigues, D. S., Cruz, D. M. C., Nascimento, J. S., & Cid, M. F. B. (2022). Prevalência de transtornos mentais comuns e fatores associados em estudantes de uma universidade pública brasileira. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 30, e3305. https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO252833051

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Editado por

Editora de seção

Profa. Dra. Adriana Miranda Pimentel

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    18 Abr 2022
  • Revisado
    27 Abr 2022
  • Aceito
    06 Jul 2022
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Terapia Ocupacional Rodovia Washington Luis, Km 235, Caixa Postal 676, CEP: , 13565-905, São Carlos, SP - Brasil, Tel.: 55-16-3361-8749 - São Carlos - SP - Brazil
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