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Terapia ocupacional e meio rural: uma revisão de escopo

Resumo

O mundo rural é um território de extrema importância para a sociedade como um todo; não obstante, tende ainda a ser visto como algo separado desta e, muitas vezes marginalizado em relação ao meio urbano. Além disso, é tido como um espaço atrasado, desatualizado e rústico em alguns contextos, como no brasileiro. A falta de acesso a bens sociais acaba por limitar as perspectivas da pessoa que vive nesse território, diminuindo sua autonomia e oportunidade de escolhas com relação à sua própria vida. Tanto no âmbito mundial quanto nacional, a terapia ocupacional, em suas diferentes subáreas, tem buscado contribuir para a resolução de problemáticas que envolvem contextos e sujeitos diversos que ocupam e vivem no meio rural. Assim, o objetivo primário deste estudo foi realizar uma revisão de escopo que abrangesse publicações nacionais e estrangeiras, procurando apreender, sistematizar e divulgar a produção científica na interface da terapia ocupacional com o mundo rural, analisando-a criticamente, de modo a perceber suas potencialidades e fragilidades, considerando as diversas ruralidades e contextos mundo afora. Foram encontrados resultados dos cinco continentes com dados necessários para essa sistematização e para uma síntese dessa produção. Tais resultados foram estudados, analisados e distribuídos em seis categorias configuradas a partir dos assuntos específicos abordados. Conclui-se que estudos relevantes foram realizados na interface terapia ocupacional-mundo rural, voltando-se a fatores que influenciam a atuação profissional nesses territórios, ao mesmo tempo em que propõem métodos, estratégias e programas de prática e formação para superar importantes desafios.

Palavras-chave:
Terapia Ocupacional; Espaço Rural; Ruralidade; Revisão do Estado da Arte

Abstract

The rural world is a territory of extreme importance for society as a whole; nevertheless, it still tends to be seen as something separate from it and often marginalized in relation to the urban environment. In addition, it is seen as a backward, outdated and rustic space in some contexts, such as the Brazilian one. The lack of access to social goods ends up limiting the perspectives of people living in this territory, reducing their autonomy and opportunity to make choices about their own lives. Both worldwide and nationally, occupational therapy, in its different subareas, has sought to contribute to the resolution of problems involving different contexts and subjects who occupy and live in rural areas. Thus, the primary objective of this study was to carry out a scope review that covered national and foreign publications, seeking to apprehend, systematize and disseminate scientific production in the interface of occupational therapy with the rural world, critically analyzing it, in order to perceive its potential and weaknesses, considering the different ruralities and contexts around the world. Results from five continents were found with data necessary for this systematization and for a synthesis of this production. Such results were studied, analyzed and distributed in six categories configured from the specific subjects addressed. It is concluded that relevant studies were carried out in the occupational therapy-rural world interface, focusing on factors that influence professional performance in these territories, while proposing methods, strategies and practice, and training programs to overcome important challenges.

Keywords:
Occupational Therapy; Rural Areas; Rurality; State of the Art Review

Introdução

Entende-se o mundo rural como um território sociocultural integrado à sociedade como um todo, estando em interação dinâmica com o meio urbano e contextos diversos do mundo contemporâneo em um continuum campo - a cidade (Wanderley, 2001Wanderley, M. N. (2001). A ruralidade no Brasil moderno. Por um pacto social no desenvolvimento rural. In N. Giarracca (Org.), Una nueva ruralidad en America Latina? (pp. 31-44). Buenos Aires: CLACSO.). O mundo rural se faz presente em um duplo espaço. O primeiro, um espaço físico com características próprias construídas a partir do processo histórico da ocupação do campo, desenvolvendo dinâmicas sociais de dominação, baseadas na lógica de posse e utilização de recursos naturais, como a terra e a água. O segundo, o espaço da vida cotidiana, no qual se vive a vida com suas singularidades e características identitárias (Wanderley, 2001Wanderley, M. N. (2001). A ruralidade no Brasil moderno. Por um pacto social no desenvolvimento rural. In N. Giarracca (Org.), Una nueva ruralidad en America Latina? (pp. 31-44). Buenos Aires: CLACSO.).

Assim, o território rural apresenta contextos, histórias e significados de extrema importância para a sociedade como um todo. No entanto, ele ainda é visto como algo separado da sociedade e , ao mesmo tempo, marginalizado em relação ao meio urbano (Wanderley, 2001Wanderley, M. N. (2001). A ruralidade no Brasil moderno. Por um pacto social no desenvolvimento rural. In N. Giarracca (Org.), Una nueva ruralidad en America Latina? (pp. 31-44). Buenos Aires: CLACSO.).

No contexto brasileiro, ele é tido muitas vezes como um espaço atrasado, desatualizado e rústico em relação ao meio de maior aglomeração populacional e detentor de maior número de equipamentos de educação, cultura e saúde - o urbano. A densidade populacional mais rarefeita no campo e a privação de acesso aos meios citados são fatores que influenciam a marginalização do “mundo rural”. A “cidade, com suas funções centralizadoras e concentradoras, seria depositária do poder público e distribuidora dos serviços públicos e privados, destinados a todos os munícipes, rurais e urbanos” (Wanderley, 1997, p. 3). A concentração de recursos e órgãos judiciais no centro urbano influencia totalmente a autonomia rural enquanto um meio singular, pois o torna refém da condição imposta judicialmente por aquele, o que acentua a desigualdade entre esses meios, uma vez que o último está incluso como uma extensão do primeiro, não como um lugar com demandas próprias e que requer serviços comuns, mas, igualmente, alguns específicos. Isso é agravado, também, pela localização de principais serviços públicos e privados nas cidades, o que piora a condição de se viver no meio rural, com desvantagens sociais condicionadas justamente pela falta de acesso (Wanderley, 1997).

Nesse sentido, esse espaço sofre, historicamente, com um processo de marginalização em relação ao urbano, não apenas pela dominância cultural deste, mas por falta de políticas públicas e pelos conflitos que envolvem a concentração fundiária que caracteriza o mundo rural no Brasil desde o período colonial. A falta de acesso a bens sociais, ainda que fosse possível relevar a posse da terra, a recursos e equipamentos, acaba por limitar as perspectivas das pessoas que nela vivem, conformando-as a papéis culturais construídos com base no processo histórico da marginalização, o que diminui sua autonomia e oportunidades de escolhas com relação a suas próprias vidas (Wanderley, 2001Wanderley, M. N. (2001). A ruralidade no Brasil moderno. Por um pacto social no desenvolvimento rural. In N. Giarracca (Org.), Una nueva ruralidad en America Latina? (pp. 31-44). Buenos Aires: CLACSO.).

Tanto no âmbito mundial quanto nacional, sabemos da realização de diversos trabalhos da área de terapia ocupacional, na busca de contribuir para a resolução de problemáticas que envolvem contextos e sujeitos que ocupam e vivem nesse território (Regan, 1982Regan, N. N. (1982). The implementation of occupational therapy services in rural school systems. The American Journal of Occupational Therapy, 36(2), 85-89.; Farias et al., 2019Farias, M. N., Faleiro, W., & Lopes, R. E. (2019). Juventudes do campo no Brasil: migração, educação e terapia ocupacional social. Revista Chilena de Terapia Ocupacional, 19(2), 51-61.).

O processo de marginalização do campo, ou do mundo rural, se reflete não só no cotidiano das pessoas que nele vivem, mas também naquilo para o quê se voltam diversos profissionais, seja em termos de formação, seja de sua contribuição para técnicas específicas, entre eles os terapeutas ocupacionais (Regan, 1982Regan, N. N. (1982). The implementation of occupational therapy services in rural school systems. The American Journal of Occupational Therapy, 36(2), 85-89.; Wills & Case-Smith, 1996Wills, K., & Case-Smith, J. (1996). Perceptions and experiences of occupational therapists in rural schools. The American Journal of Occupational Therapy, 50(5), 370-379.).

A prática terapêutico-ocupacional no meio rural pode ser caracterizada de diversas maneiras. Ela pode ser de caráter comunitário, como experiências em escolas rurais, em geral de cunho generalista, como descrevem Wills & Case-Smith (1996)Wills, K., & Case-Smith, J. (1996). Perceptions and experiences of occupational therapists in rural schools. The American Journal of Occupational Therapy, 50(5), 370-379., que se adapta de acordo com a demanda, a idade e o contexto das pessoas e comunidades, pontuando-se a necessidade do respeito e da valorização do território rural e com vistas à equidade em relação à população urbana e ao acesso à educação, à cultura, entre outros bens sociais (Regan, 1982Regan, N. N. (1982). The implementation of occupational therapy services in rural school systems. The American Journal of Occupational Therapy, 36(2), 85-89.; Wills & Case-Smith, 1996Wills, K., & Case-Smith, J. (1996). Perceptions and experiences of occupational therapists in rural schools. The American Journal of Occupational Therapy, 50(5), 370-379.).

Regan (1982)Regan, N. N. (1982). The implementation of occupational therapy services in rural school systems. The American Journal of Occupational Therapy, 36(2), 85-89. e Johnson et al. (2003)Johnson, A., Johnson, S., Zurawski, N., Siegel, A., & Dougherty, D. (2003). The experiences of being a rural occupational therapist. Journal of Undergraduate Research, 6, 1-9., em pesquisas no contexto rural estadunidense, demonstram as diferenças de diversas esferas ocupacionais entre o meio rural e o meio urbano, considerando a falta de investimento em infraestrutura por parte do Estado em relação ao meio rural. Em decorrência disso, por exemplo, o déficit no ensino de escolas rurais na década de 1980 era alarmante quando comparado ao das zonas urbanas. Pontua-se que a ação da terapia ocupacional no campo escolar poderia ajudar a minimizar esse déficit, propondo uma integração dos recursos comunitários e políticos em prol da garantia de um sistema de ensino adequado às demandas do contexto. Todavia, aponta-se que o terapeuta ocupacional rural poderia entrar em conflito com terapeutas ocupacionais de outras subáreas por falta de conhecimento das singularidades requeridas para a intervenção no meio rural por parte destes (Regan, 1982Regan, N. N. (1982). The implementation of occupational therapy services in rural school systems. The American Journal of Occupational Therapy, 36(2), 85-89.).

Johnson et al. (2003)Johnson, A., Johnson, S., Zurawski, N., Siegel, A., & Dougherty, D. (2003). The experiences of being a rural occupational therapist. Journal of Undergraduate Research, 6, 1-9., em estudo junto a terapeutas ocupacionais que trabalham no meio rural estadunidense, com o objetivo de traçar as características desses profissionais de um modo geral, evidenciam que eles trazem três componentes principais em suas práticas profissionais: a) conhecimento geral das subáreas de atuação e, ao mesmo tempo, maestria em nenhuma delas, uma vez que ainda não havia uma quantidade de estudos voltados para a profissão no contexto rural, o que tornava difícil ou mesmo impossibilitava essa especialização em alguma linha de conhecimento; b) a necessidade de adaptabilidade do profissional ao meio em que trabalhava; e c) o lidar com um rol amplo e diverso de demandas a serem atendidas. Quanto ao meio, essas autoras o caracterizaram como comunidades de poucos recursos políticos e materiais e, em decorrência disso, pontuaram como sendo necessária uma reestruturação dessas comunidades a fim de se melhorar tais condições. Contudo, segundo as autoras, os profissionais que participaram da pesquisa colocaram que a interação entre comunidade e profissional era constante e estreita em razão da adaptação do terapeuta ocupacional ao seu trabalho e à comunidade.

Na Austrália, a falta de investimento público no setor da saúde em territórios rurais foi vista como acarretadora de impedimentos à prática terapêutico-ocupacional (Millsteed, 2000Millsteed, J. (2000). Issues affecting Australia’s rural occupational therapy workforce. The Australian Journal of Rural Health, 8(2), 73-76.; McAuliffe & Barnett, 2009McAuliffe, T., & Barnett, F. (2009). Factors influencing occupational therapy students’ perceptions of rural and remote practice. The Internacional Eletronic Journal of Rural and Remote Health Research, 1(9), 1-12.). Porém, para além do poder público, o isolamento e o distanciamento de outros profissionais também acarretariam problemas de diversas naturezas à prática do terapeuta ocupacional do meio rural. A distribuição desigual de profissionais influenciaria não só o acesso das pessoas aos serviços de terapia ocupacional, bem como a formação desses profissionais, tendo em vista o distanciamento de instituições que ofertam cursos de terapia ocupacional do meio rural e o déficit de referenciais teórico-metodológicos nessa área. Uma proposta para enfrentar esse problema foi o movimento de educação rural como forma de minimizar a desvantagem rural-urbana na Austrália. As estratégias desse movimento incluíam fomentar a aproximação da universidade como um todo, e também da área de terapia ocupacional, da questão da ruralidade, na tentativa de melhorar a percepção do aluno de terapia ocupacional sobre o meio rural e de aumentar o número de futuros profissionais que pudessem se interessar em trabalhar com essa temática (Millsteed, 2000Millsteed, J. (2000). Issues affecting Australia’s rural occupational therapy workforce. The Australian Journal of Rural Health, 8(2), 73-76.; McAuliffe & Barnett, 2009McAuliffe, T., & Barnett, F. (2009). Factors influencing occupational therapy students’ perceptions of rural and remote practice. The Internacional Eletronic Journal of Rural and Remote Health Research, 1(9), 1-12.).

No Brasil, Farias et al. (2019)Farias, M. N., Faleiro, W., & Lopes, R. E. (2019). Juventudes do campo no Brasil: migração, educação e terapia ocupacional social. Revista Chilena de Terapia Ocupacional, 19(2), 51-61. trazem a discussão da intervenção de terapia ocupacional social em escolas no meio rural no processo de democratização da escola pública nesse território, focalizando as necessidades dos jovens, uma vez que essa população sofre exclusão social por conta das desvantagens históricas de acesso a diversos serviços e direitos, incluindo a permanência na educação escolar. Esses autores propõem que o terapeuta ocupacional se coloque em uma posição que contribua para o reconhecimento das necessidades e potencialidades em diversas esferas da vida e dos interesses dos jovens rurais, em âmbitos micro e macrossociais, lidando com o estereótipo do campo e daqueles que nele vivem como residual e atrasado.

Com base nesses estudos, percebe-se que a terapia ocupacional no meio rural tem sido trabalhada e/ou pautada tanto no Brasil quanto em alguns outros países. Tais trabalhos nos fazem observar os potenciais para explorar esse assunto, pois trazem uma forma de compreender, problematizar, fundamentar e divulgar a prática terapêutico-ocupacional, mas, ao mesmo tempo, delineiam um campo de conhecimento pouco disseminado, em construção, em desenvolvimento. Assim, optou-se por realizar uma revisão de escopo com o objetivo de sintetizar o conhecimento de modo a mapear conceitos, evidências e lacunas em produções acadêmicas relacionadas à terapia ocupacional e ao mundo rural, de uma forma sistemática e seletiva (Arksey & O’Malley, 2005Arksey, H., & O’Malley, L. (2005). Scoping studies: towards a methodological framework. International Journal of Social Research Methodology, 8(1), 19-32. http://dx.doi.org/10.1080/1364557032000119616.
http://dx.doi.org/10.1080/13645570320001...
; Colquhoun et al., 2014Colquhoun, H. L., Levac, D., O’Brien, K., Straus, S., Tricco, A. C., Perrier, L., Kastner, M., & Moher, D. (2014). Scoping reviews: time for clarity in definition, methods, and reporting. Journal of Clinical Epidemiology, 67(12), 1291-1294. http://dx.doi.org/10.1016/j.jclinepi.2014.03.013.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jclinepi.201...
), com vistas a agregar elementos para colaborar com a qualificação de intervenções específicas da área em territórios, contextos e com sujeitos do mundo rural e, por fim, ainda que indiretamente, a incorporar essa temática ao conteúdo de disciplinas que deveriam compor a formação profissional inicial em terapia ocupacional.

Metodologia

Foi realizada uma revisão de escopo, uma vez que esse tipo de estudo possibilita sistematizar e mapear as principais fontes, assuntos e conceitos referentes a uma determinada área (Mays et al., 2001Mays, N., Roberts, E., & Popay, J. (2001). Synthesising research evidence. In N. Fulop, P. Allen, A. Clarke & N. Black (Orgs.), Studying the organisation and delivery of health services: research methods (pp.188-220). Londres: Routledge.). Assim como Levac et al. (2010)Levac, D., Colquhoun, H., & O’Brien, K. K. (2010). Scoping studies: advancing the methodology. Implementation Science, 5(69), 1-9. sistematizaram, primeiramente, foi elaborada a questão de pesquisa (Arksey & O’Malley, 2005Arksey, H., & O’Malley, L. (2005). Scoping studies: towards a methodological framework. International Journal of Social Research Methodology, 8(1), 19-32. http://dx.doi.org/10.1080/1364557032000119616.
http://dx.doi.org/10.1080/13645570320001...
; Levac et al., 2010Levac, D., Colquhoun, H., & O’Brien, K. K. (2010). Scoping studies: advancing the methodology. Implementation Science, 5(69), 1-9.), a saber: “O que foi produzido sobre a interface da terapia ocupacional com o mundo rural?”. Com esse mote, foi feita uma busca nas bases acadêmicas de dados Web of Science e Scopus e na biblioteca eletrônica SciELO, para o levantamento de estudos relevantes até o ano de 2020. Com o auxílio da ferramenta Excel® , foi criada uma planilha para a revisão de textos possivelmente duplicados. Em seguida, utilizando-se a ferramenta Mendeley® , foram lidos os títulos e resumos dos estudos para a inclusão inicial daqueles que abordassem a interface da terapia ocupacional com o meio rural, os quais, na etapa seguinte, foram lidos na íntegra. Com essa leitura, foram reunidos os textos que relacionassem a terapia ocupacional com o meio rural ou com suas populações sob a perspectiva da área. Por fim, os estudos de fato incluídos de acordo com os critérios estabelecidos foram agrupados, analisados, mapeados e categorizados de acordo com o(s) assunto(s) especificamente abordado(s), autores, periódicos, locais e anos de publicação, utilizando-se as ferramentas supracitadas.

A fim de melhor qualificar as buscas a serem feitas, procedeu-se a uma consulta junto a uma bibliotecária, funcionária da Biblioteca Comunitária da Universidade Federal de São Carlos, no intuito de montar uma chave de pesquisa que abrangesse o maior número de estudos possível. Assim, os descritores utilizados nas buscas foram: “occupational therapy”, “occupational therapist”, “rural population”, “rural community”, “rural area”, “rural health”, “rural health service” e “rural health center”.

Para a sistematização dos dados, foram utilizadas as ferramentas supracitadas e, de forma complementar, o The Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA), extension for scoping reviews (PRISMA-ScR) (Moher et al., 2009Moher, D., Liberati, A., Tetzlaff, J., & Altman, D. G. (2009). Preferred reporting items for systematic reviews and meta-analyses: the PRISMA statement. PLoS Medicine, 6(7), 1-6.; Tricco et al., 2018Tricco, A. C., Lillie, E., Zarin, W., O’Brien, K. K., Colquhoun, H., Levac, D., Moher, D., Peters, M., Horsley, T., Weeks, L., Hempel, S., Akl, E. A., Chang, C., McGowan, J., Stewart, L., Hartling, L., Aldcroft, A., Wilson, M. G., Garritty, C., Lewin, S., Godfrey, C. M., Macdonald, M. T., Langlois, E. V., Soares-Weiser, K., Moriarty, J., Clifford, T., Tunçalp, Ö., & Straus, S. E. (2018). PRISMA extension for scoping reviews (prisma-scr): checklist and explanation. Annals of Internal Medicine, 169(7), 467-473.) e, para tanto, utilizou-se ainda a ferramenta Canva® .

Resultados

Um total de 582 estudos foram encontrados a partir das buscas. A planilha criada permitiu a sistematização dos trabalhos de acordo com título, autores, ano de publicação e periódico no qual foi publicado. Desse modo, 86 (14,8%) trabalhos foram excluídos por estarem duplicados. Em seguida, foram feitas as leituras dos títulos e dos resumos dos 496 trabalhos restantes. Desses, 363 (73,1%) foram eliminados por não abordarem, de fato, alguma interface da terapia ocupacional com o meio rural e um foi excluído (0,2%) por não poder ser acessado; assim, 132 estudos foram incluídos, sendo 126 (25,4%) por articularem nos textos dos seus resumos as temáticas “terapia ocupacional” e “mundo rural” e seis outros (1,2%), cuja leitura de seus resumos não forneceu evidências suficientes sobre atenderem ou não aos critérios de inclusão estabelecidos, para que sua leitura na integra pudesse fornecer essas evidências. Na etapa seguinte, com a leitura completa dos 132 textos remanescentes, 49 (37,1%) foram excluídos por não atenderam aos critérios e nove (6,8%) por não ter sido possível o acesso a sua versão integral. Desse modo, 74 (56,1%) estudos foram incluídos nesta revisão e classificados de acordo com os temas abordados, como esquematizado na Figura 1 a seguir:

Figura 1
Etapas da sistematização dos dados.

Portanto, dos 582 estudos inicialmente encontrados, 74 (12,7%) foram mantidos e categorizados, sendo o mais antigo deles publicado em 1982 e o último em 2020, conforme a Figura 2:

Figura 2
Distribuição dos artigos ao longo dos anos. Fontes: Web of Science, Scopus e SciELO (2020)Scientific Eletronic Library Online - SciELO. (2020). Scientific Eletronic Library Online. Rome: SciELO. Recuperado em 14 de junho de 2022, de https://scielo.org/pt/..

Esses 74 textos foram relidos integralmente e sua análise permitiu que fossem distribuídos nos seguintes eixos criados: 29 (39,2%) em Perspectivas e percepções de terapeutas ocupacionais sobre a prática no meio rural; 25 (33,8%) em Metodologias de trabalho no meio rural; 10 (13,5%) em Estudo de uma população com viés terapêutico-ocupacional; seis (8,1%) em Impactos de uma prática sobre uma população; três (4%) em À procura de uma educação eficiente; e um (1,3%) não coube em nenhum desses eixos, como disposto na Tabela 1.

Tabela 1
Distribuição dos estudos selecionados em categorias.

O eixo referente às perspectivas e percepções de terapeutas ocupacionais sobre a prática no meio rural reúne dados sobre essa prática a partir do relato de terapeutas ocupacionais e de estudantes da área. As metodologias de trabalho no meio rural apresentam, discutem e discorrem sobre demandas, estratégias, métodos e programas voltados ao atendimento a diferentes populações. Já os estudos de populações com o viés terapêutico-ocupacional se voltam para as esferas dos fazeres e das ocupações de populações específicas que residem no meio rural, relacionando-os com as bases teóricas de estudos sobre o meio rural. O eixo referente aos impactos de uma prática sobre a população apresenta dados que expressam as consequências e a validação de práticas de terapeutas ocupacionais que utilizaram recursos e métodos específicos para atender a demandas das populações rurais. Quanto ao eixo “à procura de uma educação eficiente”, a proposta foi reunir estratégias utilizadas por terapeutas ocupacionais e pelo meio acadêmico da área para manter e/ou transformar a prática baseada em evidências utilizando processos educativos. Por fim, o artigo não classificado em nenhum desses eixos tem como foco um meio de transporte mais rápido e eficiente para terapeutas ocupacionais se locomoverem por longas distâncias no meio rural.

Um total de 177 autores e coautores publicaram estudos sobre terapia ocupacional em interface com o mundo rural, sendo que 160 (90%) o fizeram apenas uma vez e 17 (10%), duas ou mais vezes. Eles estavam filiados a instituições localizadas nos cinco continentes, sendo 175 vinculados a instituições de um único país e dois com vínculos a instituições de países diferentes, com destaque nessa distribuição para a Oceania (n=73), com todos autores e coautores vinculados a instituições na Austrália, como apresentado na Tabela 2.

Tabela 2
Número de autores e coautores e suas instituições por país e continente.

Os estudos estavam distribuídos em 29 periódicos, dos quais 19 (65,5%) publicaram um estudo e 10 (34,5%) publicaram dois ou mais (Tabela 3). O periódico com o maior número de publicações foi o Australian Occupational Therapy Journal (n=18).

Tabela 3
Periódicos que publicaram dois ou mais estudos.

Discussão

Os contextos rurais ao redor do mundo podem ser bem diferentes, assim, a prática profissional em terapia ocupacional pode ganhar características específicas de acordo com o local onde se dá. No entanto, a falta de profissionais, os desafios das longas distâncias e o isolamento são aspectos comuns (Quintyn, 1986Quintyn, M. (1986). The occupational therapy Northern Outreach Program: a description. Canadian Journal of Occupational Therapy, 53(4), 223-228.; Kenkre, 1994Kenkre, I. R. (1994). Occupational therapy in rural India. Occupational Therapy International, 1(1), 29-35.; Stagnitti, 2008Stagnitti, K. (2008). Occupational therapy practice in rural and remote South Australia. The Australian Journal of Rural Health, 16(5), 253-254.). A falta de terapeutas ocupacionais atuantes no meio rural está bem documentada em diversos estudos (Millsteed, 2000Millsteed, J. (2000). Issues affecting Australia’s rural occupational therapy workforce. The Australian Journal of Rural Health, 8(2), 73-76.; Peterson et al., 2003Peterson, C., Ramm, K., & Ruzicka, H. (2003). Occupational therapists in rural healthcare: a “jack of all trades”. Occupational Therapy in Health Care, 17(1), 55-62.; Lannin & Longland, 2003Lannin, N., & Longland, S. (2003). Critical shortage of occupational therapists in rural Australia: changing our long-held beliefs provides a solution. Australian Occupational Therapy Journal, 50(3), 184-187.; Bateman, 2012Bateman, C. (2012). ‘One size fits all’ health policies crippling rural rehab - therapists. South African Medical Journal, 102(4), 200-208.; Merrit et al., 2013Merrit, J., Perkins, D., & Boreland, F. (2013). Regional and remote occupational therapy: a preliminary exploration of private occupational therapy practice. Australian Occupational Therapy Journal, 60(4), 276-287.). No mesmo recorte, profissionais e estudantes de graduação relatam que esse isolamento de outros profissionais da área demanda algumas habilidades específicas (Polatajko & Quintyn, 1986Polatajko, H., & Quintyn, M. (1986). Factors affecting occupational therapy job site selection in underserviced areas. Canadian Journal of Occupational Therapy, 53(3), 151-158.; Markewitz, 1992Markewitz, K. (1992). Training in a foreign land that is home. Occupational Therapy in Health Care, 8(1), 89-96.; Daly et al., 1997Daly, J., Adamson, L., Chang, E., & Bell, P. (1997). The research and educational priorities of rural occupational therapists. Australian Health Review,20(1), 129-138.; Mills & Millsteed, 2002Mills, A., & Millsteed, J. (2002). Retention: an unresolved workforce issue affecting rural occupational therapy services. Australian Occupational Therapy Journal, 49(4), 170-181.; Lee & Mackenzie, 2003Lee, S., & Mackenzie, L. (2003). Starting out in rural new South Wales: the experiences of new graduate occupational therapists. The Australian Journal of Rural Health, 11(1), 36-43.; Steenbergen & Mackenzie, 2004Steenbergen, K., & Mackenzie, L. (2004). Professional support in rural New South Wales: perceptions of new graduate occupational therapists. The Australian Journal of Rural Health, 12(4), 160-165.; Devine, 2006Devine, S. (2006). Perceptions of occupational therapists practising in rural Australia: a graduate perspective. Australian Occupational Therapy Journal, 53(3), 205-210.; McAuliffe & Barnett, 2009McAuliffe, T., & Barnett, F. (2009). Factors influencing occupational therapy students’ perceptions of rural and remote practice. The Internacional Eletronic Journal of Rural and Remote Health Research, 1(9), 1-12.; Wielandt & Taylor, 2010Wielandt, P. M., & Taylor, E. (2010). Understanding rural practice: implications for occupational therapy education in Canada. Rural and Remote Health, 10(1488), 1-13.; McAuliffe & Barnett, 2010McAuliffe, T., & Barnett, F. (2010). Perceptions towards rural and remote practice: a study of final year occupational therapy students studying in a regional university in Australia. Australian Occupational Therapy Journal, 57(5), 293-300.; Van Rensburg & Toit, 2016Van Rensburg, E. J., & Toit, S. H. J. D. (2016). The value of a rural service learning experience for final year undergraduate occupational therapy students. South African Journal of Occupational Therapy, 46(1), 9-14.; Naidoo et al., 2017bNaidoo, D., Wyk, J. V., & Waggie, F. (2017b). Occupational therapy graduates’ reflections on their ability to cope with primary healthcare and rural practice during community service. South African Journal of Occupational Therapy, 47(3), 39-45.), sendo pontuado, igualmente, a necessidade de um raciocínio profissional de cunho generalista e uma formação profissional continuada direcionada às demandas de diversas naturezas do meio rural, o que leva à descrição desses profissionais como “especialistas generalistas” (Mills & Millsteed, 2002Mills, A., & Millsteed, J. (2002). Retention: an unresolved workforce issue affecting rural occupational therapy services. Australian Occupational Therapy Journal, 49(4), 170-181.).

As populações residentes do meio rural, por sua vez, podem sofrer um processo de ruptura em sua vida cotidiana, seja por acidentes, pela marginalização social ou pelo isolamento (Crouch, 2008Crouch, R. B. (2008). A community-based stress management programme for an impoverished population in South Africa. Occupational Therapy International, 15(2), 71-86.; Kingston et al., 2010Kingston, G., Tanner, B., & Gray, M. A. (2010). The functional impact of a traumatic hand injury on people who live in rural and remote locations. Disability and Rehabilitation, 32(4), 326-335.; Parsons & Stanley, 2008Parsons, L., & Stanley, M. (2008). The lived experience of occupational adaptation following acquired brain injury for people living in a rural area. Australian Occupational Therapy Journal, 55(4), 231-238.; Prieto-Bueno & Cantero-Garlito, 2020Prieto-Bueno, J. M., & Cantero-Garlito, P. A. (2020). Situación ocupacional y recursos sociales de las mujeres mayores en situación de dependencia atendidas por un servicio de ayuda a domicilio en el ámbito rural. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 28(3), 950-966.). Nesse sentido, o processo de adaptação parece requerer uma reorganização dos fazeres e das ocupações da vida diária (Kingston et al., 2010Kingston, G., Tanner, B., & Gray, M. A. (2010). The functional impact of a traumatic hand injury on people who live in rural and remote locations. Disability and Rehabilitation, 32(4), 326-335.; Parsons & Stanley, 2008Parsons, L., & Stanley, M. (2008). The lived experience of occupational adaptation following acquired brain injury for people living in a rural area. Australian Occupational Therapy Journal, 55(4), 231-238.). Tais reorganizações se mostram fundamentais para a promoção de saúde, a qualidade de vida e para a própria sobrevivência (Iwarsson et al., 1998Iwarsson, S., Isacsson, A., Persson, D., & Scherstén, B. (1998). Occupation and survival: a 25-year follow-up study of an aging population. The American Journal of Occupational Therapy, 52(1), 65-70.).

O processo de rupturas no cotidiano afetaria não só as pessoas que as sofrem, mas também aquelas que compõem a rede social em seu entorno, o que levaria as pessoas a sentirem as mudanças em seus cotidianos e no engajamento ocupacional1 1 Entendido como a performance ou o próprio fazer das ocupações quando se tem um produto a ser alcançado (McDougall et al., 2014). de forma diferente, a depender do contexto no qual estão inseridas (Kingston et al., 2010Kingston, G., Tanner, B., & Gray, M. A. (2010). The functional impact of a traumatic hand injury on people who live in rural and remote locations. Disability and Rehabilitation, 32(4), 326-335.; McDougall et al., 2014McDougall, C., Buchanan, A., & Peterson, S. (2014). Understanding primary carers’ occupational adaptation and engagement. Australian Occupational Therapy Journal, 61(2), 83-91.; Naidoo et al., 2017aNaidoo, D., Wyk, J. V., & Joubert, R. (2017a). Community stakeholders’ perspectives on the role of occupational therapy in primary healthcare: implications for practice. African Journal of Disability, 6(255), 1-12.; Naidoo et al., 2016Naidoo, D., Gurayah, T., Kharva, N., Stott, T., Trend, S. J., Mamame, T., & Mtolo, S. (2016). Having a child with cancer: African mothers’ perspective. South African Journal of Occupational Therapy, 46(3), 49-54.; Parsons & Stanley, 2008Parsons, L., & Stanley, M. (2008). The lived experience of occupational adaptation following acquired brain injury for people living in a rural area. Australian Occupational Therapy Journal, 55(4), 231-238.).

A desigualdade social também é algo que perpassa o cotidiano de muitas pessoas no mundo rural. A pobreza, a vulnerabilidade social e a exploração da mão de obra são fatores estressores que afetam a participação social de pessoas de diversas idades (Bartie et al., 2016Bartie, M., Dunnell, A., Kaplan, J., Oosthuizen, D., Smit, D., Dyk, A. V., Cloete, L., & Duvenage, M. (2016). The play experiences of preschool children from a low-socio-economic rural community in Worcester, South Africa. Occupational Therapy International, 23(2), 91-102.; Crouch, 2008Crouch, R. B. (2008). A community-based stress management programme for an impoverished population in South Africa. Occupational Therapy International, 15(2), 71-86.; Prieto-Bueno & Cantero-Garlito, 2020Prieto-Bueno, J. M., & Cantero-Garlito, P. A. (2020). Situación ocupacional y recursos sociales de las mujeres mayores en situación de dependencia atendidas por un servicio de ayuda a domicilio en el ámbito rural. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 28(3), 950-966.; Santos & Menta, 2016Santos, A. C., & Menta, S. A. (2016). Reflecting the interface between rural work and mental health of citriculture workers. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 24(4), 765-775. http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoAO0718.
http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoA...
). No entanto, atividades físicas e de relaxamento podem servir como estratégias promotoras de saúde e qualidade de vida (Crouch, 2008Crouch, R. B. (2008). A community-based stress management programme for an impoverished population in South Africa. Occupational Therapy International, 15(2), 71-86.).

Assim, com a singularidade das demandas do meio rural, terapeutas ocupacionais podem defrontar-se com diversas necessidades, implicando práticas que se voltam para os tratamentos de doenças crônicas, como o linfedema (King & Coman, 1993King, S., & Coman, M. (1993). Managing lymphoedema in a rural and remote area as a sole occupational therapy practitioner. The Australian Journal of Rural Health, 2(1), 9-12.), para a prescrição e confecção de tecnologia assistiva (Cronin, 2018Cronin, A. F. (2018). Assistive technology reasoning in rural school-based occupational therapy. Assistive Technology, 30(4), 209-217.; Murphy, 1996Murphy, D. (1996). Lycrac working splint for the rheumatoid arthritic hand with MCP ulnar deviation. The Australian Journal of Rural Health, 4(4), 217-220.), para o manejo do estresse pós-traumático (Bontempo et al., 2008Bontempo, T., Westmacott, L., Paterson, J., & Paterson, M. (2008). The development of a resource guide on post traumatic stress disorder for rural health care workers. Asia Pacific Disability Rehabilitation Journal, 19(2), 34-49.), para trabalhos de adaptação ergonômica (Bowman, 2012Bowman, P. J. (2012). Ergonomics work assessment in rural industrial settings: a student occupational therapy project. Work, 43(3), 323-329.), trabalhos na área do desenvolvimento infantil (Cronin, 2018Cronin, A. F. (2018). Assistive technology reasoning in rural school-based occupational therapy. Assistive Technology, 30(4), 209-217.; Lust & Donica, 2011Lust, C. A., & Donica, D. K. (2011). Effectiveness of a handwriting readiness program in head start: a two-group controlled trial. The American Journal of Occupational Therapy, 65(5), 560-568.) e na área de saúde mental (McKinstry & Cusick, 2015McKinstry, C., & Cusick, A. (2015). Australia needs more occupational therapists in rural mental health services. Australian Occupational Therapy Journal, 62(5), 275-276.).

Com isso, alguns instrumentos para a intervenção foram desenvolvidos para o trabalho com populações específicas. O ¡Vivir mi Vida!, por exemplo, é um método para a intervenção com populações latinas de 50 a 64 anos e trabalhadores do meio rural nos Estados Unidos da América (Niemiec et al., 2019Niemiec, S. L. S., Blanchard, J., Vigen, C. L. P., Martínez, J., Guzmán, L., Fluke, M., & Carlson, M. (2019). A pilot study of the ¡Vivir Mi Vida! lifestyle intervention for rural-dwelling, late-midlife Latinos: study design and protocol. OTJR: Occupation, Participation and Health, 39(1), 5-13.). O Crosstrainer Programme (CTP) é um método de intervenção sul-africano voltado para o desenvolvimento infantil em regiões rurais com escassez recursos e acesso a serviços (Villiers et al., 2019Villiers, D., Homan, A., & Rooyen, C. (2019). Early childhood development and the crosstrainer programme in rural Mahikeng. South African Journal of Occupational Therapy, 49(2), 18-23.). O Capabilities, Opportunities, Resources and Environments (CORE) é uma abordagem de intervenção inclusiva que visa potencializar as capacidades, as oportunidades, os recursos e o ambiente da pessoa atendida, inclusive no meio rural (Pereira et al., 2020Pereira, R. B., Whiteford, G., Hyett, N., Weekes, G., Tommaso, A. D., & Naismith, J. (2020). Capabilities, Opportunities, Resources and Environments (CORE): using the CORE approach for inclusive, occupation-centred practice. Australian Occupational Therapy Journal, 67(2), 162-171.).

Esses textos vão na direção de confirmar e promover a contribuição do profissional da área de terapia ocupacional. Mesmo que ele compartilhe o ambiente de trabalho com colegas de outras profissões, seria capaz de identificar demandas relacionadas ao cotidiano que, muitas vezes, nem os outros membros da equipe e tampouco a população atendida, conseguiriam identificar (Murphy & Lam, 2002Murphy, D. D., & Lam, C. L. K. (2002). Functional needs: agreement between perception of rural patients and health professionals in China. Occupational Therapy International, 9(2), 91-110.).

No entanto, a prática terapêutico-ocupacional em Atenção Primária em Saúde no meio rural possibilitaria uma inserção do profissional nessa comunidade através do setor de saúde, ao mesmo tempo que permitiria ao profissional uma ação territorial, assim como uma articulação com a população de forma mais horizontalizada, uma prática mais comunitária e participativa (Van Rensburg & Toit, 2016Van Rensburg, E. J., & Toit, S. H. J. D. (2016). The value of a rural service learning experience for final year undergraduate occupational therapy students. South African Journal of Occupational Therapy, 46(1), 9-14.; Souza et al., 2021Souza, A. M. M., Guimarães, A. L. A., Andrade, L. M., Andrade, J. A., Cruz, T. F., Carvalho, J. F. J. S., Santos, J. R., & Hernandes, R. S. (2021). Terapia ocupacional e práticas na atenção primária em saúde: revisão integrativa da literatura. Brazilian Journal of Health Review, 4(2), 8577-8598.), fazendo com que essas práticas ganhassem um lugar importante na ação profissional quando no território rural.

Barros et al. (2002)Barros, D. D., Ghirardi, M. I. G., & Lopes, R. E. (2002). Terapia ocupacional social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 13(3), 95-103. colocam a importância da apreensão da dimensão territorial na prática profissional, dimensão que não diz apenas de um espaço geograficamente demarcado, mas construído histórica, cultural e economicamente, que pressupõe maneiras de existir, de se relacionar, trabalhar e sonhar. Os trabalhos aqui em estudo colocam, em alguma medida, essa questão, embora, em grande parte das vezes, o território rural seja enfatizado muito mais pela sua composição geográfica, o que sinaliza a necessidade de se ampliar essa apreensão.

Em diálogo com esse debate, em outros locais do mundo, um desenho de prática profissional no meio rural é a denominada terapia ocupacional comunitária, que consiste na colaboração do profissional com as pessoas em sua comunidade e contexto (Townsend et al., 1988Townsend, E. A., Anderson, S. C., & Jenner, S. (1988). Developing rural health services: an occupational therapy case study. Canadian Journal of Public Health, 79(2), 92-96.). A terapia ocupacional comunitária é colocada como uma abordagem que poderia ser utilizada para mobilizar as pessoas a pensarem e criarem ações para potencializar o contexto em que vivem, melhorando a qualidade de vida e promovendo saúde (Watson, 2013Watson, R. (2013). A population approach to occupational therapy. South African Journal of Occupational Therapy, 43(1), 35-39.). Poderia ser, também, combinada com outras abordagens a fim de melhorar a perspectiva e a inserção do profissional nas comunidades rurais (Lauckner & Stadnyk, 2014Lauckner, H. M., & Stadnyk, R. L. (2014). Examining an occupational perspective in a rural Canadian age-friendly consultation process. Australian Occupational Therapy Journal, 61(6), 376-383.).

Bianchi & Malfitano (2020)Bianchi, P. C., & Malfitano, A. P. S. (2020). Território e comunidade na terapia ocupacional brasileira: uma revisão conceitual. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 28(2), 621-639. destacam diferentes sentidos de comunidade empregados no âmbito da terapia ocupacional. Segundo essas autoras, comunidades podem ser grupos sociais, um espaço físico e até um descritor de vulnerabilidades sociais; além disso, elas relacionam participação social, pertencimento e contexto dos sujeitos na comunidade de uma forma plural, o que implica uma ideia de intervenção terapêutico-ocupacional comunitária que se descola da prática clínica tradicional, voltando-se para processos coletivos e comunitários.

Diante das longas distâncias a serem percorridas pelos profissionais para realizar intervenções presencialmente, as tecnologias de comunicação e informação se mostraram grandes facilitadores para tanto (Taylor & Lee, 2005Taylor, R., & Lee, H. (2005). Occupational therapists’ perception of usage of information and communication technology (ICT) in Western Australia and the association of availability of ICT on recruitment and retention of therapists working in rural areas. Australian Occupational Therapy Journal, 52(1), 51-56.; Wakeford et al., 2005Wakeford, L., Wittman, P. P., White, M. W., & Schmeler, M. R. (2005). Telerehabilitation position paper. The American Journal of Occupational Therapy, 59(6), 656-660.; Hoffmann & Cantoni, 2008Hoffmann, T., & Cantoni, N. (2008). Occupational therapy services for adult neurological clients in Queensland and therapists’ use of telehealth to provide services. Australian Occupational Therapy Journal, 55(4), 239-248.; Hegel et al., 2011Hegel, M. T., Lyons, K. D., Hull, J. G., Kaufman, P., Urquhart, L., Li, Z., & Ahles, T. A. (2011). Feasibility study of a randomized controlled trial of a telephone-delivered problem-solving-occupational therapy intervention to reduce participation restrictions in rural breast cancer survivors undergoing chemotherapy. Psycho-Oncology, 20(10), 1092-1101.; Chedid et al., 2013Chedid, R. J., Dew, A., & Veitch, C. (2013). Barriers to the use of information and communication technology by occupational therapists working in a rural area of New South Wales. Australian Occupational Therapy Journal, 60(3), 197-205.). O teleatendimento possibilitaria que mais pessoas tivessem acesso ao serviço de terapia ocupacional sem sair de seu território. Permitiria que os profissionais atendessem às demandas de orientação e prescrição de atividades (Chedid et al., 2013Chedid, R. J., Dew, A., & Veitch, C. (2013). Barriers to the use of information and communication technology by occupational therapists working in a rural area of New South Wales. Australian Occupational Therapy Journal, 60(3), 197-205.), auxiliando o acompanhamento, o manejo e as orientações relacionadas às demandas das pessoas atendidas, além de ser também uma forma de atender a pessoa em seu contexto de vida (Gardner et al., 2016Gardner, K., Bundy, A., & Dew, A. (2016). Perspectives of rural carers on benefits and barriers of receiving occupational therapy via information and communication technologies. Australian Occupational Therapy Journal, 63(2), 117-122.; Hoffmann et al., 2008Hoffmann, T., Russel, T., Thompson, L., Vincent, A., & Nelson, M. (2008). Using the internet to assess activities of daily living and hand function in people with Parkinson’s disease. NeuroRehabilitation, 23(3), 253-261.; Langbecker et al., 2019Langbecker, D. H., Caffery, L., Taylor, M., Theodoros, D., & Smith, A. C. (2019). Impact of school-based allied health therapy via telehealth on children’s speech and language, class participation and educational outcomes. Journal of Telemedicine and Telecare, 25(9), 559-565.).

Porém, o teleatendimento depende do acesso a recursos necessários tanto por parte da pessoa atendida quanto do profissional, e inviabiliza o atendimento de demandas que implicam um contato direto e próximo da pessoa atendida (Hoffmann & Cantoni, 2008Hoffmann, T., & Cantoni, N. (2008). Occupational therapy services for adult neurological clients in Queensland and therapists’ use of telehealth to provide services. Australian Occupational Therapy Journal, 55(4), 239-248.). Além disso, em alguns países, como no Brasil, o teleatendimento não é permitido pelos órgãos que regulam a profissão, o que, todavia, foi exceção durante a pandemia de COVID-19 (Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, 2013Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional - COFFITO. (2013, 8 de julho). Resolução nº 425, de 08 de julho de 2013. Estabelece o Código de Ética e Deontologia da Terapia Ocupacional. Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Brasília. Recuperado em 25 de março de 2022, de https://www.coffito.gov.br/nsite/?page_id=3386
https://www.coffito.gov.br/nsite/?page_i...
, 2020Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional - COFFITO. (2020, 20 de março). Resolução nº 516, de 20 de março de 2020. Teleconsulta, telemonitoramento e teleconsultoria. Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Brasília. Recuperado em 25 de março de 2022, de https://www.coffito.gov.br/nsite/?p=15825
https://www.coffito.gov.br/nsite/?p=1582...
), indicando a necessidade de uma discussão mais aprofundada sobre esse procedimento entre os terapeutas ocupacionais (World Federation of Occupational Therapists, 2021World Federation of Occupational Therapists - WFOT. (2021, maio). Occupational therapy and telehealth. Recuperado em 27 de abril de 2020, de https://wfot.org/resources/occupational-therapy-and-telehealth
https://wfot.org/resources/occupational-...
).

Diversos fatores influenciam a tomada de decisão do profissional quanto a atuar no meio rural, como experiência pessoal prévia e gostos pessoais em relação ao estilo de vida rural (Markewitz, 1992Markewitz, K. (1992). Training in a foreign land that is home. Occupational Therapy in Health Care, 8(1), 89-96.; Mills & Millsteed, 2002Mills, A., & Millsteed, J. (2002). Retention: an unresolved workforce issue affecting rural occupational therapy services. Australian Occupational Therapy Journal, 49(4), 170-181.). Não obstante, a prática nesse meio é desafiadora, uma vez que, assim como o meio urbano, o meio rural é singular e possui uma variedade de demandas, mas com menos serviços e profissionais para atendê-las. Ademais, estudos relatam a falta de suporte para o terapeuta ocupacional rural, o que, de modo geral, pode levar a uma sensação de isolamento. Além disso, o trabalho na comunidade rural pode desencadear problemas pessoais, como a dificuldade para fazer amizades, rejeição da comunidade, problemas de privacidade e a educação de filhos (Mills & Millsteed, 2002Mills, A., & Millsteed, J. (2002). Retention: an unresolved workforce issue affecting rural occupational therapy services. Australian Occupational Therapy Journal, 49(4), 170-181.).

Uma forma de preparar o profissional da área de terapia ocupacional para atuar no meio rural é a educação. Pensando nisso, a Universidade de Dakota do Sul, nos EUA, adicionou a seu currículo um módulo relacionado ao meio rural, favorecendo que estudantes da área pudessem discutir e estudar esse contexto de uma forma voltada especificamente para a terapia ocupacional (Smallfield & Anderson, 2008Smallfield, S., & Anderson, A. J. (2008). Addressing agricultural issues in health care education: an occupational therapy curriculum program description. The Journal of Rural Health, 24(4), 369-374.).

Algumas estratégias para lidar com a sensação de isolamento e a falta de suporte profissional mencionadas foram formuladas, como a criação de um vínculo de trocas com outros terapeutas ocupacionais rurais e estratégias de Educação Permanente (Steenbergen & Mackenzie, 2004Steenbergen, K., & Mackenzie, L. (2004). Professional support in rural New South Wales: perceptions of new graduate occupational therapists. The Australian Journal of Rural Health, 12(4), 160-165.). Na Austrália, há a referência de um estudo que se voltou para a perspectiva de terapeutas ocupacionais sobre a prática rural e a falta de suporte para o profissional foi documentada. Uma estratégia foi criar uma rede virtual para a troca de informações (Elliot-Schmidt & Strong, 1995Elliot-Schmidt, R., & Strong, J. (1995). Rural occupational therapy practice: a survey of rural practice and clinical supervision in rural Queensland and Northern New South Wales. The Australian Journal of Rural Health, 3(3), 122-131.). Ainda, outra maneira de se manter preparado e atualizado sobre as práticas profissionais no meio rural seria por meio de estratégias de educação continuada, que podem ser de cunho autônomo ou sistematizada em forma de cursos por alguma instituição de referência (Hu, 2012Hu, D. (2012). Occupational therapists’ involvement views, and training needs of evidence-based practice: a rural perspective. International Journal of Therapy and Rehabilitation, 19(11), 618-628.; Nipp et al., 2014Nipp, C. M., Vogtle, L. K., & Warren, M. (2014). Clinical application of low vision rehabilitation strategies after completion of a computer-based training module. Occupational Therapy in Health Care, 28(3), 296-305.). Com isso, conforme Hu (2012)Hu, D. (2012). Occupational therapists’ involvement views, and training needs of evidence-based practice: a rural perspective. International Journal of Therapy and Rehabilitation, 19(11), 618-628., muitos terapeutas ocupacionais atuantes no meio rural inglês teriam o hábito de manter uma rotina de estudos para realizar a prática baseada em evidências.

Nesse panorama, vale destacar que o profissional de terapia ocupacional pode se inserir em outros setores além do setor de saúde, como o da educação ou o da assistência social, mesmo que, por vezes, veicule uma prática baseada em respostas atinentes à saúde, o que demanda uma discussão dessa propriedade. A ação de terapeutas ocupacionais no âmbito escolar rural poderia ajudar a minimizar a desigualdade do ensino em relação às escolas urbanas, propondo uma integração dos recursos comunitários e políticos em prol da garantia de um sistema de ensino adequado às demandas do setor nesse contexto (Regan, 1982Regan, N. N. (1982). The implementation of occupational therapy services in rural school systems. The American Journal of Occupational Therapy, 36(2), 85-89.). O profissional de terapia ocupacional também pode trabalhar nesse recorte da escola no meio rural de forma a se colocar em uma posição de articulador social que contribua para o reconhecimento das necessidades e potencialidades presentes nas vidas dessas sujeitos, bem como seus interesses, nas esferas micro e macrossociais (Farias et al., 2019Farias, M. N., Faleiro, W., & Lopes, R. E. (2019). Juventudes do campo no Brasil: migração, educação e terapia ocupacional social. Revista Chilena de Terapia Ocupacional, 19(2), 51-61.).

Apesar da presença de práticas territoriais, comunitárias, presenciais e remotas em terapia ocupacional direcionadas ao mundo rural, a necessária preocupação com suas singularidades culturais, sociais e históricas foram pouco abordadas, considerando a importância da apreensão dos contextos de vida e do cotidiano para a profissão de modo geral. Além disso, estudos voltados para a percepção dos usuários dos serviços do profissional sobre essa prática também foram poucos, o que acaba deixando lacunas sobre as adequações necessárias para que a mesma possa ser mais efetiva para quem a recebe. Essa falta acaba sendo reflexo da contradição vivida pelo terapeuta ocupacional atuante do meio rural, uma vez que a formação inicial não tem se voltado propriamente para essa temática, talvez também em decorrência da falta de estudos que tomem a temática em suas especificidades como central para a área.

Conclusão

O meio rural é um contexto com características únicas e singulares, com diversas demandas, mas com um número insuficiente de terapeutas ocupacionais nele atuantes. Estudos sobre a terapia ocupacional na interface com o meio rural têm sido produzidos desde a década de 1980; porém, esse assunto permanece com pouca visibilidade na área.

Apesar deste estudo ter abrangido apenas três bases de dados que, embora tenham sua relevância acadêmica bastante reconhecida, não representam o todo, e que, além disso, ter incluindo artigos publicados somente nas línguas inglesa, espanhola e portuguesa, assinalando-se, portanto, essas limitações e a importância de que outros estudos possam superá-las, este trabalho sistematizou as referências e os principais achados sobre a temática, podendo-se afirmar que o suporte profissional e a fundamentação teórica para diversas problemáticas que são da alçada do terapeuta ocupacional no meio rural ainda são escassos e insuficientes.

As práticas terapêutico-ocupacionais nesse âmbito ocorrem em diversos países no mundo, lançando mão de diferentes metodologias de trabalho que buscam lidar com as especificidades de cada lugar. Faz-se notar as práticas comunitárias e de teleatendimento, assim como a presença da temática, entre profissionais e pesquisadores australianos, seguidos pelos estadunidenses e sul-africanos.

Ademais, percebeu-se diversas possibilidades de ação voltadas a uma perspectiva coletiva e socialmente referenciada. Todavia, essas dimensões do trabalho ainda precisam ser melhor discutidas, como as questões em torno das problemáticas histórico-sociais relacionadas a vulnerabilidades coletivas, sociais e culturais.

Esse seria, a exemplo, um caminho interessante para informar a ação profissional no território rural brasileiro, marcado pela Questão Agrária, tendo em vista que envolve problemáticas relacionadas ao uso, à posse e à propriedade da terra, inerente ao capitalismo e, no caso do Brasil, marcada historicamente pela concentração fundiária, das quais decorrem importantes conflitos e desigualdades sociais no campo, como a expulsão e exploração dos camponeses, a luta pela terra e pela reforma agrária, a violência e repressão, os movimentos de resistência pela existência no espaço rural e os modelos de desenvolvimento em disputa. Envolvendo, assim, aspectos sociais, políticos e econômicos, como também a resistência camponesa, que luta por espaços de vida, pela reforma agrária e pela democratização da terra.

Por fim, nota-se que os estudos analisados podem contribuir para a prática profissional e, pensando o contexto brasileiro, podem ajudar a avançar as tecnologias de ação, seja na aplicação contextualizada do que já existe, como o uso do teleatendimento e da prática terapêutico-ocupacional comunitária, seja com a identificação dos gargalos, como a necessidade de se desenvolver uma compreensão mais cultural, social e coletiva da ação no território/mundo rural.

  • 1
    Entendido como a performance ou o próprio fazer das ocupações quando se tem um produto a ser alcançado (McDougall et al., 2014McDougall, C., Buchanan, A., & Peterson, S. (2014). Understanding primary carers’ occupational adaptation and engagement. Australian Occupational Therapy Journal, 61(2), 83-91.).
  • Como citar: Silva, M. F., Farias, M. N., & Lopes, R. E. (2022). Terapia ocupacional e meio rural: uma revisão de escopo. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 31, e3347. https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAR256533471

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Editado por

Editora de seção

Profa. Dra. Ana Paula Serrata Malfinato

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jan 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    14 Jun 2022
  • Revisado
    28 Jun 2022
  • Revisado
    02 Ago 2022
  • Aceito
    26 Set 2022
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Terapia Ocupacional Rodovia Washington Luis, Km 235, Caixa Postal 676, CEP: , 13565-905, São Carlos, SP - Brasil, Tel.: 55-16-3361-8749 - São Carlos - SP - Brazil
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