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O reggae em São Luís: identidade cultural e o surgimento da Jamaica brasileira

Resumo

O presente artigo discute a chegada e consolidação do reggae em São Luís. Constata-se que São Luiz é o território fora da Jamaica onde o gênero musical mais faz sucesso, tendo incorporado pela sua população, principalmente por negros, uma série de hábitos particulares durante a apropriação do reggae jamaicano, deste modo, o regueiro de São Luís criou laços únicos com o ritmo jamaicano e essa relação perdura até os dias atuais. Estes aspectos contribuíram para que São Luís fosse concebido como ‘Jamaica Brasileira’. O objetivo da pesquisa é analisar a relação do reggae com a população ludovicense, suas particularidades e simbolismos. Como resultados, identificou-se que a relação sociedade e reggae existente em São Luís possuem singularidades, que expressam aspectos históricos, culturais, raciais e de resistência.

Palavras-chave
Reggae; Identidade Cultural; Jamaica Brasileira; São Luís; Maranhão

Abstract

This article discusses the arrival and consolidation of reggae in São Luís. It appears that São Luiz is the territory outside Jamaica where the musical genre is most successful, having incorporated by its population, mainly by blacks, a series of particular habits during the appropriation of Jamaican reggae, in this way, the regueiro of São Luís created unique bonds with Jamaican rhythm and that relationship endures to the present day. These aspects contributed to São Luís being conceived as 'Brazilian Jamaica'. The objective of the research is to analyze the relationship between reggae and the population of Ludovic, its particularities and symbolism. As a result, it was identified that the relationship between society and reggae existing in São Luís has singularities, which express historical, cultural, racial and resistance aspects.

Keywords:
Reggae; Cultural Identity; Brazilian Jamaica; São Luís; Maranhão

Resumen

Este artículo trata sobre la llegada y consolidación del reggae en São Luís. Parece que São Luiz es el territorio fuera de Jamaica donde el género musical tiene más éxito, habiendo incorporado en su población, principalmente negra, una serie de hábitos particulares durante la apropiación del reggae jamaiquino, así, el regueiro de São Luís creó lazos únicos con el ritmo jamaiquino y esa relación perdura hasta el día de hoy. Estos aspectos contribuyeron a que São Luís fuera concebida como la 'Jamaica brasileña'. El objetivo de la investigación es analizar la relación entre el reggae y la población de Ludovic, sus particularidades y simbología. Como resultado, se identificó que la relación entre sociedad y reggae existente en São Luís tiene singularidades, que expresan aspectos históricos, culturales, raciales y de resistencia.

Palabras clave:
Reggae; Identidad cultural; Jamaica brasileña; São Luís; Maranhão

Introdução

O reggae é um ritmo musical nascido na Jamaica, que reflete a cultura desse povo, surgindo nas áreas mais pobres do referido país, o estilo musical logo se tornou popular em todo o território da ilha caribenha, tendo como maior expoente de seu sucesso o cantor jamaicano Bob Marley. Em razão de uma grande aceitação das músicas pela sociedade local, logo outros cantores se destacaram e a propagação do reggae pelo país é instantânea.

O sucesso das músicas de Marley e outros cantores foi tão significativo em seu país, que o reggae passa a transcender as fronteiras da Jamaica e torna-se um ritmo musical conhecido também em outros continentes. No Brasil, os principais registros apontam para a presença do reggae em solo nacional em meados da década de 1970 (SILVA, 1995SILVA, Carlos Benedito Rodrigues da. Da terra das primaveras à ilha do amor: reggae, lazer e identidade cultural. São Luis: Editora EDUFMA, 1995.).

A popularização do reggae em solo brasileiro deu-se principalmente na cidade de São Luís, capital do estado do Maranhão. Embora alguns outros ritmos musicais advindos do Caribe já fazerem sucesso em território ludovicense anteriormente a chegada do reggae, dos quais destacam-se: salsa, merengue e lambada (ARAÚJO, 2004ARAÚJO, Elaine Peixoto. O reggae ludovicense: uma leitura do seu sistema léxico semântico. Revista Philologus - Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos - Ano 10, Número 28, Rio de Janeiro: CiFEFil, 2004.). Nenhum desses antecessores se popularizou e passou a fazer parte da cultura local como o reggae.

Conforme aponta Santos (2000)SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. São Paulo: Record. 2000., a difusão das culturas pelos mais diversos tipos de territórios existentes no mundo, é atualmente um fenômeno comum em função das oportunidades propiciadas pela globalização, portanto, novos hábitos e costumes podem ser incorporados pelas mais diversas sociedades. Nesse contexto, compreende-se que a chegada do reggae em São Luís, se integra ao referido cenário relatado pelo autor, uma vez que parte da cultura jamaicana se estabelece como elemento partícipe da identidade ludovicense.

A explicação para essa referida identificação de São Luís para com o reggae, pode ser compreendida a partir de alguns prismas, nesse sentido, elencamos algumas semelhanças entre os lugares que podem explicar tal fenômeno. Poderíamos iniciar a partir de fatores meramente geográficos, como o fato de ambos os territórios estarem situados em ilhas e integrarem o mesmo continente, mas seria uma análise superficial, rasa. Aspectos étnicos e socioeconômicos chamam mais atenção, uma vez que a concentração de pobreza na Jamaica e em São Luís possuem índices elevados, além de possuírem considerável presença de negros em suas populações.

Tais características podem ser relacionadas a um processo histórico de colonização na Jamaica e também no Brasil, onde a chegada de negros nesses locais é fruto da atividade escravista (MORAIS; ARAÚJO, 2008MORAIS, Maria do Carmo Lima; ARAÚJO, Patrícia Carla Viana. O reggae, da Jamaica ao maranhão: presença e evolução. In: Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, 4., 2008, Salvador. IV Encontro... Salvador: ENECULT, 2008. Disponível em: <http://www.cult.ufba.br/enecult2008/14539.pdf >. Acesso realizado em agosto de 2021.
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). Essa realidade pode ser identificada no surgimento do reggae na Jamaica, as letras das composições traziam mensagens de forte cunho social, apontando as inúmeras mazelas sofridas pelo povo negro ao longo da história da sociedade. No caso de São Luís, vale destacar que a popularização do ritmo se deu de forma majoritária através das classes populares da cidade, ou seja, os mais pobres, e em sua grande maioria, estes são negros.

Em função da diferença das línguas, a maior parte da população regueira da ilha do Maranhão não compreendia as letras das músicas nos primórdios do ritmo em solo maranhense, portanto, as críticas sociais entoadas pelos cantores jamaicanos só eram conhecidas por poucos que conseguiam interpretar o idioma britânico. Mas isto não foi um problema para os adeptos do reggae em São Luís, pois, com a sua consolidação em território ludovicense outras particularidades que também expressam a identidade cultural dessa sociedade surgiram.

Portanto, objetiva-se nesse estudo discutir a formação dessa identidade cultural de São Luís para com o ritmo jamaicano, fenômeno que culminou na alcunha da cidade como Jamaica Brasileira (MORAIS, 2008MORAIS, Maria do Carmo Lima. A invenção da expressão “Jamaica brasileira”. Revista Cambiassu, São Luís, ano, v. 18, p. 126-141, 2008.). Para êxito desse anseio, realizasse um resgate histórico da chegada do reggae na capital maranhense, com reflexões sobre a sua comercialização, sua difusão e integração à cultura local.

O artigo encontra-se estruturado em quatro seções, essa primária, que apresenta o objeto de estudo e a problematização da pesquisa; a segunda parte, que trata da origem do reggae na Jamaica; o terceiro momento está voltado a uma discussão a respeito do ritmo jamaicano em território ludovicense; e por fim, efetuamos algumas considerações sobre os resultados obtidos durante a realização do trabalho.

Origem do reggae

A Jamaica é uma nação localizada na América do Norte, sua capital é Kingston. O idioma oficial do país é o inglês, “mas usa-se comumente uma mistura de inglês arcaico e vocabulário africano, sendo que mais de 90% da população jamaicana é de origem africana” (PENHA, 2003PENHA, Talita Lima. Reggae, Identidade Cultural e Atividade Turística de São Luís do Maranhão. 64 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia). Universidade de Brasília, 2003., p. 32). O país foi colonizado por espanhóis e ingleses, tendo recebido ao longo de sua história uma quantidade significativa de negros advindos da África para serem escravizados em solo jamaicano. Através de muitas revoltas, somente em 1833 a Jamaica alcança a abolição da escravidão em seu território (PENHA, 2003PENHA, Talita Lima. Reggae, Identidade Cultural e Atividade Turística de São Luís do Maranhão. 64 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia). Universidade de Brasília, 2003.). Como fruto desse período herdou uma nação caracterizada com uma série de mazelas sociais.

Este cenário se perpetua também nas décadas posteriores, estabelecendo a Jamaica como uma nação com índices de pobreza elevados. É sobre a égide dessas condições que surge o reggae no país caribenho, retratando em suas letras o cotidiano de miséria vivenciado na ilha, relacionando tais problemáticas com as ações de seus colonos em território jamaicano, clamando pela igualdade racial.

Entretanto, convém ressaltar que o reggae é resultado de uma evolução de ritmos antecessores que já faziam um certo sucesso entre a população local, “na década de 1950, o Rhythm and Blues estava no auge, e em Kingston (atual capital da Jamaica) e Spanish, esse era o som que mais agradava os jamaicanos” (MORAIS; ARAÚJO, 2008MORAIS, Maria do Carmo Lima; ARAÚJO, Patrícia Carla Viana. O reggae, da Jamaica ao maranhão: presença e evolução. In: Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, 4., 2008, Salvador. IV Encontro... Salvador: ENECULT, 2008. Disponível em: <http://www.cult.ufba.br/enecult2008/14539.pdf >. Acesso realizado em agosto de 2021.
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, p. 3).

Ainda conforme Morais e Araújo (2008)MORAIS, Maria do Carmo Lima; ARAÚJO, Patrícia Carla Viana. O reggae, da Jamaica ao maranhão: presença e evolução. In: Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, 4., 2008, Salvador. IV Encontro... Salvador: ENECULT, 2008. Disponível em: <http://www.cult.ufba.br/enecult2008/14539.pdf >. Acesso realizado em agosto de 2021.
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, este ritmo popularizado na década de 1950 foi fundamental para o surgimento de outro importante sucessor, o mento. A respeito desse estilo musical, “[...] desenvolveu-se baseado no ritmo das músicas de trabalho que ajudavam os escravos a sobreviver através de longas horas de esforço estafante com a picareta” (CARDOSO, 1997, p.18). Posteriormente os ritmos continuam este processo de desenvolvimento.

Durante a década de 60 considerado o primórdio do reggae, a mistura do mento com rhythm and blues, temperada pelas influências deixadas pelos tambores africanos do tempo da escravidão, originou o ska (batida nervosa com tempo acelerado), ritmo que nasceu na rua com filiação direta dos guetos e que teve adoção automática do povo. As bandas de ska animavam os navios de turistas que visitavam a Jamaica, atraídos por um ritmo diferente que ‘fervilhou’ a ilha por anos a fio (PENHA, 2003PENHA, Talita Lima. Reggae, Identidade Cultural e Atividade Turística de São Luís do Maranhão. 64 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia). Universidade de Brasília, 2003., p. 33).

Ratificando essa narrativa, Morais e Araújo (2008MORAIS, Maria do Carmo Lima; ARAÚJO, Patrícia Carla Viana. O reggae, da Jamaica ao maranhão: presença e evolução. In: Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, 4., 2008, Salvador. IV Encontro... Salvador: ENECULT, 2008. Disponível em: <http://www.cult.ufba.br/enecult2008/14539.pdf >. Acesso realizado em agosto de 2021.
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, p. 4) ressaltam que o ska possui “uma batida mais acelerada que a anterior e caracteriza principalmente, um movimento de afirmação identitária”. Ainda sobre o referido ritmo:

Essa forma musical nativa proveniente de tanta labuta, juntamente com o rhythm & blues americano, motivaram o surgimento do ska, que, por sua vez, originou um outro ritmo, o rocksteady. A transição do rocksteady para o reggae acontece no momento em que esta marcação do baixo se torna ainda mais acentuada e a pulsação mais lenta, dando uma maior cadência ao novo ritmo (ARAÚJO, 2004ARAÚJO, Elaine Peixoto. O reggae ludovicense: uma leitura do seu sistema léxico semântico. Revista Philologus - Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos - Ano 10, Número 28, Rio de Janeiro: CiFEFil, 2004., p. 3).

Como apresentado até o momento, apreende-se que o surgimento do reggae está condicionado ao processo de desenvolvimento de outros ritmos populares na Jamaica, que também já expressavam a realidade histórica do país.

Passando por diversos estilos, desde o seu surgimento, o reggae pôde experimentar novas perspectivas musicais e instrumentais trazidas pelos colonizadores da região e adaptá-las à sua realidade social e histórica. Assim sendo, suas letras são compostas numa língua mista, o crioulo jamaicano, resultado de encontros múltiplos que se deram ao longo da história do lugar, uma marca de hibridismo cultural (MORAIS; ARAÚJO, 2008MORAIS, Maria do Carmo Lima; ARAÚJO, Patrícia Carla Viana. O reggae, da Jamaica ao maranhão: presença e evolução. In: Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, 4., 2008, Salvador. IV Encontro... Salvador: ENECULT, 2008. Disponível em: <http://www.cult.ufba.br/enecult2008/14539.pdf >. Acesso realizado em agosto de 2021.
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, p. 3).

Em razão da inserção desses novos elementos musicais nos ritmos, chegou-se ao que atualmente conhecemos como reggae, ou àquilo que é denominado em São Luís como reggae roots.

Chamado também de reggae de raiz, é um estilo que retrata todas as lástimas trazidas com a modernização da Jamaica, como o desemprego, a falta de moradia, as condições de trabalho precárias, não correspondendo com as expectativas da população após a independência. Atrelado à filosofia rastafari, manifestava um sentimento de rebeldia e descontentamento, o qual foi sendo destacado nas letras das músicas de Bob Marley, um dos principais ícones da música jamaicana, foi o elo entre o reggae e a filosofia rasta, projetando o movimento para além das fronteiras territoriais. Além destas características, o Roots é marcado primordialmente por sua fidelidade rítmica ao reggae jamaicano tradicional (MORAIS; ARAÚJO, 2008MORAIS, Maria do Carmo Lima; ARAÚJO, Patrícia Carla Viana. O reggae, da Jamaica ao maranhão: presença e evolução. In: Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, 4., 2008, Salvador. IV Encontro... Salvador: ENECULT, 2008. Disponível em: <http://www.cult.ufba.br/enecult2008/14539.pdf >. Acesso realizado em agosto de 2021.
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, p. 4).

A respeito da origem do ritmo, reitera-se que “nasceu nos chamados ‘bairros de lata’ da Jamaica, bairros da periferia edificados em barracões de zinco. É através desse dado que se depreende que, desde o seu aparecimento, o reggae sempre foi um som do gueto” (ARAÚJO, 2004ARAÚJO, Elaine Peixoto. O reggae ludovicense: uma leitura do seu sistema léxico semântico. Revista Philologus - Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos - Ano 10, Número 28, Rio de Janeiro: CiFEFil, 2004., p. 3). Portanto, este é um estilo musical genuinamente jamaicano, que retrata a identidade desse povo por meio dessa arte.

Em função dessa caracterização histórica e cultural personificada nas letras das canções, o reggae se populariza na Jamaica como nenhum outro estilo musical antecessor, tendo assim início a sua trajetória de sucesso no país e posteriormente, além das suas fronteiras.

O reggae concentra boa parte da expressão social, cultural e política da Jamaica, com compositores e cantores, que se tornaram profetas, críticos sociais e líderes espirituais no país. Como expressão máxima do reggae jamaicano no mundo está Robert Nesta Marley que, com a banda ‘The Wailers’, foi responsável pela explosão do reggae para além das fronteiras jamaicanas. O sucesso internacional dos ‘Wailers’ serviu para abrir as portas para outros vários cantores e compositores jamaicanos, que começaram a excursionar e a editar seus discos fora do país, desde o início dos anos 70, com uma nova proposta, arrebatando o resto do mundo com mensagens contra a discriminação racial (PENHA, 2003PENHA, Talita Lima. Reggae, Identidade Cultural e Atividade Turística de São Luís do Maranhão. 64 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia). Universidade de Brasília, 2003., p. 35).

Como ressalta a autora, os cantores de reggae dessa época, compreenda-se décadas de 1960 e 1970, sobretudo, possuíram um papel ímpar para a propagação do estilo musical e cultural jamaicano ser reconhecido em outros países. Assim proporcionando que o reggae chegasse até São Luís, local que seria o território de maior sucesso do ritmo fora da Jamaica.

O reggae na Jamaica brasileira

O título de Jamaica Brasileira é popularmente relacionado à São Luís, em razão desse município brasileiro ser o território não jamaicano onde o ritmo mais faz sucesso. Chegando à capital maranhense em meados da década de 1970, o reggae logo é consolidado como um dos principais estilos musicais da cultura popular ludovicense, tendo maior apelo, sobretudo das camadas sociais de baixa renda, realidade semelhante à vivenciada pela ilha caribenha.

Com a sua aceitação pela população de São Luís, o reggae torna-se não apenas um ritmo musical admirado pelos frequentadores das festas locais que possuíam a música jamaicana como principal atração. Igualmente à Jamaica, o reggae é também sinônimo de identidade e cultura para os regueiros ludovicenses, embora não seja um movimento igualitário ao jamaicano, na ilha maranhense o ritmo cria suas próprias raízes, tradições e expressa também parte da cultura negra.

O reggae chega em território maranhense em meados da década de 1970, sendo trazido do Pará para as cidades do Maranhão, fator atribuído à construção neste período, da estrada de ferro de Carajás, construída pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), interligando os dois estados, portanto, esse período é marcado por uma forte troca cultural entre ambos, em virtude dos trabalhadores da referida obra, serem em sua grande maioria maranhenses e paraenses.

Em algumas cidades paraenses, já era comum a presença de ritmos advindos da região do Caribe, portanto, o reggae era apenas mais um por lá, mas ao chegar em São Luís e outros municípios do estado, como os da região da baixada maranhense, o estilo musical teve uma identificação completamente distinta daquela existente no estado vizinho (BRASIL, 2011BRASIL, Marcus Ramúsyo de Almeida. O reggae no Maranhão: sociologia da cultura e produção simbólica. Aurora Revista de Arte, Mídia e Política, n. 12, p. 88-101, 2011.). Uma outra versão sobre a origem do reggae no Maranhão, diz respeito a “[...] um apreciador de músicas caribenhas, conhecido como Riba Macedo, teria tido acesso a alguns discos de reggae vindos de Belém, levandoos a festas embaladas pelos sons do Caribe em São Luís” (SANTOS, 2009SANTOS, Fábio Abreu. Produção e consumo do reggae das radiolas em São Luís/MA: significados, simbolismo e aspectos mercadológicos. 245 f. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2009., p. 125).

Segundo Penha (2003)PENHA, Talita Lima. Reggae, Identidade Cultural e Atividade Turística de São Luís do Maranhão. 64 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia). Universidade de Brasília, 2003., em razão das características étnicas e sociais da Jamaica e do Maranhão serem semelhantes, a consumação do reggae em território maranhense por parte das camadas sociais populares foi instantânea. Porém, cabe ressaltar que o ritmo não fez sucesso em todo Maranhão de modo uniforme, tendo como principais áreas de êxito, a região norte do estado, onde localiza-se São Luís, o epicentro do reggae maranhense, e também na região da baixada maranhense.

Essa concentração do reggae nas referidas áreas, nos aguça algumas reflexões sobre as motivações do seu sucesso no Maranhão, ou em partes dele, a tese de Penha (2003)PENHA, Talita Lima. Reggae, Identidade Cultural e Atividade Turística de São Luís do Maranhão. 64 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia). Universidade de Brasília, 2003. que discorre sobre as semelhanças étnicas e sociais com a Jamaica é interessante, mas o Pará e outros estados brasileiros também não possuíam realidade parecida? Sem falar nas outras áreas do território maranhense onde o reggae não teve o mesmo desfecho da capital. Fato é que “o reggae é tocado hoje, de norte a sul do país, e cada lugar se identificou de forma diferenciada, como é o caso de São Luís, que há mais de 30 anos acolheu o ritmo jamaicano” (MORAIS; ARAÚJO, 2008MORAIS, Maria do Carmo Lima; ARAÚJO, Patrícia Carla Viana. O reggae, da Jamaica ao maranhão: presença e evolução. In: Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, 4., 2008, Salvador. IV Encontro... Salvador: ENECULT, 2008. Disponível em: <http://www.cult.ufba.br/enecult2008/14539.pdf >. Acesso realizado em agosto de 2021.
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, p. 5).

Em São Luís, após a sua difusão em todo o território local, algumas festas frequentadas pelas camadas sociais pobres começaram a inserir o gênero musical jamaicano em seus repertórios, atraindo assim, cada vez mais novos adeptos. Observa-se nesse momento o surgimento de algumas particularidades do reggae ludovicense, como por exemplo, que “a música que na sua origem jamaicana era dançada individualmente foi re-coreografada a partir daí o reggae ganha em sensualidade com a ginga maranhense, sendo dançado em pares” (BRASIL, 2011BRASIL, Marcus Ramúsyo de Almeida. O reggae no Maranhão: sociologia da cultura e produção simbólica. Aurora Revista de Arte, Mídia e Política, n. 12, p. 88-101, 2011., p. 89).

Outros aspectos também foram readaptados na medida em que o reggae foi se introduzindo na cultura maranhense, Brasil (2011BRASIL, Marcus Ramúsyo de Almeida. O reggae no Maranhão: sociologia da cultura e produção simbólica. Aurora Revista de Arte, Mídia e Política, n. 12, p. 88-101, 2011., p. 89) aponta que “outra resignificação foi no nome das músicas. Como a grande maioria dos adeptos do novo gênero não entendia o inglês, uma forma particular de identificar a música foi a criação dos melôs”. Essa prática consistia na denominação de determinadas músicas de acordo com algumas motivações particulares, em muitos casos, surgiam nomenclaturas de melôs que não possuíam nenhuma relação com os títulos originais dos reggaes.

Ilustrando este processo de denominação com exemplos, a música Sweet P. do grupo Fabulous Five é chamada, pelos regueiros maranhenses, de “melô da chuva”. Esta denominação não tem qualquer tipo de relação com sua letra: na ocasião em que foi lançada em São Luís pelo dj Carlinhos Tijolada no clube Barraca de Pau na Cidade Operária, chovia torrencialmente e, por conta deste fenômeno da natureza, a música foi designada desta forma (ARAÚJO, 2004ARAÚJO, Elaine Peixoto. O reggae ludovicense: uma leitura do seu sistema léxico semântico. Revista Philologus - Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos - Ano 10, Número 28, Rio de Janeiro: CiFEFil, 2004., p. 12).

Portanto, conforme apresentado pela autora, percebe-se que as denominações dos melôs surgem em função das mais diversas possibilidades, deixando de lado as mensagens entoadas pelos cantores das músicas. Uma das formas mais comuns de denominação de melôs, deu-se em razão da adaptação fonética das letras dos reggaes, que são cantadas em inglês pelos cantores jamaicanos, assim, a junção de alguns fonemas resulta em uma variedade de títulos, expressando mais uma faceta do reggae de São Luís.

A música White Witch da banda Andrea True Conection é conhecida na cidade por “melô do caranguejo”, contudo, o motivo, neste caso, foi a adaptação fonética (adaptação que, aliás, já inspira um interesse para pesquisas posteriores). Em seu refrão, há trecho em que é perguntado What’s gonna get you? (expressão idiomática inglesa que significa O que te chamará a atenção?, O que irá te prender?), o regueiro maranhense, ao escutar este refrão, acomodou a expressão ao sistema fonológico de sua língua materna, o Português, passando a cantar “olha o caranguejo”. E, assim, nasceu o “melô do caranguejo” (ARAÚJO, 2004ARAÚJO, Elaine Peixoto. O reggae ludovicense: uma leitura do seu sistema léxico semântico. Revista Philologus - Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos - Ano 10, Número 28, Rio de Janeiro: CiFEFil, 2004., p. 12-13).

Um outro caso emblemático, diz respeito à música Love Got The Power (amor tem o poder), da banda jamaicana The Gladiators, que faz grande sucesso em São Luís até os dias atuais, a canção foi denominada popularmente como o “melô de Black Power”. Essa criação dos melôs evidencia uma prática peculiar criada pelos regueiros do Maranhão.

Com a consolidação do reggae em São Luís, surgiram ao longo das décadas de 1980 e 1990 inúmeros clubes de reggae espalhados pela cidade, atraindo um grande número de pessoas, a chamada massa regueira. Neste contexto, destacamos o papel desempenhado pelos donos de radiolas e os DJs.

O trabalho dos primeiros locutores e dos dj´s também foram de essencial importância para a criação de uma linguagem própria ao regueiro. Termos como “pedra”, que designa um bom reggae, “magnatas”, que se referem aos grandes empresários donos dos grandes clubes e “radiolas” de reggae são exemplos da constituição de um léxico próprio. As radiolas representam a versão maranhense dos “Sound System” jamaicanos, que impressionam pela potência sonora e pelo grande impacto visual que proporcionam. (BRASIL, 2011BRASIL, Marcus Ramúsyo de Almeida. O reggae no Maranhão: sociologia da cultura e produção simbólica. Aurora Revista de Arte, Mídia e Política, n. 12, p. 88-101, 2011., p. 89).

Segundo Santos (2009)SANTOS, Fábio Abreu. Produção e consumo do reggae das radiolas em São Luís/MA: significados, simbolismo e aspectos mercadológicos. 245 f. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2009., os clubes e as radiolas tiveram uma importância singular no processo de consolidação do reggae no Maranhão. E como resultado do sucesso do gênero, instaurou-se também, sobretudo em São Luís, uma indústria do reggae, com alguns empresários investindo de forma significativa nas possibilidades de arrecadação através do reggae.

Dentre os principais agentes envolvidos nesse mercado, destacam-se os donos de radiolas e de clubes de reggae. Esse cenário resultou em uma propagação do agora produto reggae ainda maior. Durante a década de 1990 surgem vários clubes, radiolas, bares temáticos, programas de TV e rádio. Todos estes citados, tendo o reggae como principal atração, tamanho era o sucesso do ritmo jamaicano na capital do Maranhão. A mídia local teve um papel de destaque no reggae em São Luís, “foi através dela que surgiu pela primeira vez a expressão Jamaica Brasileira além de outros termos como: Babilônia, Jah, Roots, que fazem parte da temática do reggae na Jamaica” (ARAÚJO, 2008, p. 135).

Um mercado de grande relevância se instaurou em São Luís, fazendo com que adeptos do reggae tivessem cada vez mais opções de consumação do produto, em contrapartida, houve também uma concentração de produção e difusão do reggae por parte de um grupo de empresários, “[...] a maioria dos programas de rádio pertence aos ‘capitalizados’ donos de radiola, para divulgar suas radiolas e clubes de reggae, além dos programas de televisão” (MORAIS; ARAÚJO, 2008MORAIS, Maria do Carmo Lima; ARAÚJO, Patrícia Carla Viana. O reggae, da Jamaica ao maranhão: presença e evolução. In: Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, 4., 2008, Salvador. IV Encontro... Salvador: ENECULT, 2008. Disponível em: <http://www.cult.ufba.br/enecult2008/14539.pdf >. Acesso realizado em agosto de 2021.
http://www.cult.ufba.br/enecult2008/1453...
, p. 8).

No âmbito das radiolas, destaca-se a Itamaraty, a maior em estrutura e uma das mais populares entre os regueiros do Maranhão. Porém, existem outras concorrentes que disputam o mercado do reggae e o lucro. Inclusive, uma das estratégias desse setor é a promoção de festas em clubes de reggae, dos chamados duelos, onde as radiolas se enfrentam num revezamento de músicas, disputando qual possui as melhores canções, este tipo de evento possui um apelo considerável por parte da massa regueira (SANTOS, 2009SANTOS, Fábio Abreu. Produção e consumo do reggae das radiolas em São Luís/MA: significados, simbolismo e aspectos mercadológicos. 245 f. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2009.).

As radiolas tornaram-se parte da cultura do reggae em São Luís, foram evoluindo ao longo do tempo, suas estruturas foram ampliadas, os números de caixas de som aumentaram, e elas ficaram mais modernas e maiores. O dj de reggae atualmente é uma profissão muito conhecida no Maranhão. E os empresários que investem nesse setor, continuam a lucrar com a contínua popularidade do gênero musical.

Com relação à musica em si, destacamos que o reggae em São Luís passou a ganhar cantores locais, e também passou a consumir reggaes de cantores e bandas jamaicanas novas, o estilo roots, que foi o primeiro a chegar em solo ludovicense, foi sendo substituído, porém, ainda é o preferido no Maranhão, visto como reggae clássico, ou raiz. Os reggaes atuais são mais mecanizados, perderam os ruídos advindos dos discos de vinis, é um produto moderno, que se transformou, mas continua a integrar a cultura da Jamaica Brasileira.

O reggae como parte da identidade cultural de São Luís

Conforme o reggae se estabelece como parte cultural da cidade de São Luís, compreende-se que houve um processo de apropriação e manipulação do ritmo jamaicano pela população ludovicense (MORAIS, 2008MORAIS, Maria do Carmo Lima. A invenção da expressão “Jamaica brasileira”. Revista Cambiassu, São Luís, ano, v. 18, p. 126-141, 2008.). As particularidades originadas da consumação do reggae pelos maranhenses, refletem também aspectos sociais relacionados a uma realidade local. A relação do gênero musical com a população, ocorre de forma distinta, se comparada à Jamaica.

A população negra é a grande consumidora do reggae em território ludovicense, aspecto que pode ser atribuído aos fatores étnicos e históricos já comentados na seção antecessora, mas pode ser relacionado ao sucesso do gênero musical em bairros populares da capital maranhense, deste modo, as festas de reggae atraíam, principalmente, a população de baixa renda da urbe.

Apesar do sucesso do reggae ser presente em toda a cidade, a elite social local não aderiu ao fenômeno, em razão de fatores como por exemplo, o estilo musical ser considerado por estes como ‘coisa de pretos’, além do surgimento de um estigma a respeito dos regueiros, que eram criminalizados socialmente pelos grupos hegemônicos, as festas de reggae eram vistas como espaços de consumação de drogas ilícitas.

Porém, os locais onde aconteciam as festas de reggae, eram apenas ambientes onde a parcela pobre da sociedade se reunia para um momento de diversão, “os espaços eram vistos como lugares de lazer e entretenimento, para aqueles que não tinham condições de frequentar os melhores clubes da cidade” (ARAÚJO, 2008, p. 134). Os estereótipos não condizem com a realidade do movimento reggae em São Luís.

Ao longo das décadas posteriores à 1970, quando o reggae chegou em território maranhense, o gênero fica cada vez mais forte em São Luís e nem mesmo as visões discriminatórias por parte da elite diminuem o seu sucesso, a Jamaica Brasileira é instituída por negros e pobres da cidade.

Convém ressaltar que a referida alcunha de Jamaica Brasileira também causou incômodo nas classes sociais elitistas da cidade, estes grupos “se sentiram ultrajados com a comparação e se manifestaram contra o uso da expressão achando empobrecedor comparar São Luís, dantes conhecida como a Atenas Brasileira, com um país com referências negra e pobre como a Jamaica” (ARAÚJO, 2008, p. 136).

Porém, os protestos contra a difusão da nomenclatura de Jamaica Brasileira não foram capazes de inibir a sua popularização em São Luís. Percebe-se ao longo da década de 1990 um fortalecimento do reggae na capital, com o surgimento de bares e clubes que contribuíram ainda mais para a disseminação do ritmo e também dessa denominação da cidade.

A cultura reggae em São Luís cria suas próprias raízes, com dialetos próprios, hábitos, festas e demais costumes. O seu sucesso é tão grande na cidade que até os dias atuais o reggae ainda é o gênero musical preferido de grande parte dos ludovicenses. Encontra-se na urbe inúmeras marcas da presença do reggae como parte da cultura local, uma expressão dessa realidade é a existência do único museu do reggae existente no mundo fora da Jamaica (Foto 1).

Foto 1
Museu do reggae em São Luís.

Inaugurado pelo Governo do Estado Maranhão em 2018, o museu do reggae está localizado no centro histórico da São Luís, em um de seus casarões, conta com um acervo variado de elementos que fazem parte da história do reggae na Jamaica e também no Maranhão. Dentre estes elementos, destaca-se a presença de uma ilustração de um modelo de radiola (Foto 2), uma das marcas do reggae local.

Foto 2
Modelo de radiola presente no museu do reggae de São Luís.

Foto 3
Disco de Bob Marley exposto no museu do reggae de São Luís.

Existe também no museu a exposição de uma grande coleção de discos de vinis de inúmeros cantores jamaicanos que fizeram sucesso ao longo da inserção do estilo musical jamaicano em São Luís.

No mesmo período do museu, foi inaugurada também ao seu lado a praça do reggae (Foto 4), que conta com atrações do gênero como djs e bandas, o local atrai uma grande quantidade de pessoas para se divertir em um espaço público aos embalos do ritmo jamaicano.

Foto 4
Praça do reggae em São Luís.

Portanto, percebe-se que o reggae em São Luís possui um forte apelo popular ainda nos dias atuais, reforçando as raízes históricas do ritmo jamaicano na cidade. Os jovens, sobretudo os dos bairros populares, universitários e outros simpatizantes continuam a consumir o reggae ludovicense, a Jamaica Brasileira continua cada vez mais viva.

Considerações finais

Ao longo da construção da pesquisa, constatou-se que o sucesso do reggae em território ludovicense é imensurável, podendo ser atribuído aos inúmeros fatores mencionados ao longo deste artigo. Desde a sua chegada em território ludovicense, o reggae já passou a conquistar inúmeros adeptos, porém, nem mesmo o mais otimista poderia imaginar que a partir daquele momento, era iniciada uma relação única, que perduraria ao longo de várias décadas.

Tendo uma identificação maior com as camadas sociais populares, o reggae em São Luís se instaurou na cidade por meio das festas com radiolas, fenômeno que já era comum na cidade, principalmente nos bairros populares. Com a inserção de reggaes na programação musical desses ambientes, a música jamaicana logo tornouse uma das preferidas dos frequentadores desses espaços.

Naquele momento, final de 1970 e início da década de 1980, o ritmo já era conhecido mundialmente e com a morte de seu maior nome, Bob Marley (1981), o estilo musical teve apelo ainda maior, ganhando uma massa de novos apreciadores, porém, fora da Jamaica, nada se comparava ao que acontecia em São Luís.

As relações estabelecidas da ilha do Maranhão com o reggae, assim como na Jamaica, extrapolam os limites musicais, o reggae não é apenas um estilo musical que desperta interesse na sociedade de São Luís, longe disso, longe de ser apenas isso. O reggae transformou-se em um estilo de vida, é um modo de expressar indignação por diferenças sociais, é também uma forma de ressaltar a importância do negro, dos artistas negros e de sua cultura.

Em razão de já existirem manifestações culturais na cidade maranhense que expressassem e valorizassem a cultura negra, como por exemplo: o tambor de crioula e o bumba-meu-boi, estas não foram obstáculos para a inserção do reggae como mais um elemento integrante da cultura local que reflete a historicidade, identidade e cultura negra. Assim, o reggae em São Luís se consolida, é transformado e cria suas próprias raízes, genuinamente ludovicenses.

Apesar das transformações globais ocorridas com o reggae nas últimas décadas, advindas, sobretudo, do avanço tecnológico da era moderna, resultando na modernização do ritmo. Alguns hábitos são alterados, como por exemplo: a troca dos discos de vinis pelas músicas em CDs, embora em São Luís, a preferência pelo reggae roots é tão alta, que ainda são encontrados inúmeros bares tocando reggae em vinil.

Assim como qualquer outro gênero musical, o reggae também foi modernizado, surgiram novas bandas internacionais e até locais (em São Luís), mas as festas em clubes de reggae com as radiolas permanecem. O movimento reggae da capital maranhense parece fazer sempre questão de ressaltar a importância dos clássicos, das músicas de sucesso dos primórdios do reggae na cidade. Apesar de toda a transformação do reggae, as relações da massa regueira ludovicense com o reggae continua intacta, uma simbiose quase perfeita.

Através desses laços fora criada essa identidade cultural da cidade com o reggae ao longo do tempo, apesar de geograficamente distante do país originário desse estilo de música, São Luís se apropriou do reggae e hoje é impossível pensar em aspectos que fazem parte da cultura ludovicense, sem mencionar o reggae como um elemento importante para este povo.

References

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  • BRASIL, Marcus Ramúsyo de Almeida. O reggae no Maranhão: sociologia da cultura e produção simbólica. Aurora Revista de Arte, Mídia e Política, n. 12, p. 88-101, 2011.
  • MORAIS, Maria do Carmo Lima. A invenção da expressão “Jamaica brasileira”. Revista Cambiassu, São Luís, ano, v. 18, p. 126-141, 2008.
  • MORAIS, Maria do Carmo Lima; ARAÚJO, Patrícia Carla Viana. O reggae, da Jamaica ao maranhão: presença e evolução. In: Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, 4., 2008, Salvador. IV Encontro... Salvador: ENECULT, 2008. Disponível em: <http://www.cult.ufba.br/enecult2008/14539.pdf >. Acesso realizado em agosto de 2021.
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  • O IMPARCIAL. Quinta do Reggae é suspensa temporariamente no Centro Histórico 2019. Disponível em: https://oimparcial.com.br/entretenimento-e-cultura/2019/08/quinta-do-reggae-esuspensa-temporaria-no-centro-historico/> Acesso realizado em agosto de 2021.
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  • PENHA, Talita Lima. Reggae, Identidade Cultural e Atividade Turística de São Luís do Maranhão 64 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia). Universidade de Brasília, 2003.
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  • SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. São Paulo: Record. 2000.
  • SILVA, Carlos Benedito Rodrigues da. Da terra das primaveras à ilha do amor: reggae, lazer e identidade cultural. São Luis: Editora EDUFMA, 1995.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    25 Jan 2023
  • Aceito
    30 Mar 2023
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