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Relação entre suporte social percebido e catastrofização em indivíduos com dor crônica do joelho

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS:

Tanto a catastrofização como o suporte social influenciam os resultados na saúde de indivíduos com dor crônica. Porém, não há consenso sobre a relação entre esses fatores, sendo escassa a informação direcionada à articulação do joelho. O objetivo deste estudo foi descrever e compreender a relação entre o suporte social percebido e a catastrofização da dor em idosos com dor crônica do joelho.

MÉTODOS:

Foi feita a coleta de dados sociodemográficos, em conjunto com o preenchimento dos instrumentos West Haven-Yale Multidimensional Pain Inventory e Pain Catastrophizing Scale pelos participantes. A amostra foi constituída por 28 participantes, institucionalizados em regime de centro de dia dos distritos de Aveiro, Braga e Leiria (Portugal).

RESULTADOS:

Setenta e cinco por cento dos participantes apresentaram catastrofização clinicamente significativa e 64,3% referiram alto suporte social percebido. Verificou-se uma relação diretamente proporcional entre a elevada catastrofização e as respostas solícitas e de distração frequentes. Contrariamente, existe uma associação inversamente proporcional entre o elevado nível de catastrofização e as respostas negativas pouco frequentes na amostra recolhida.

CONCLUSÃO:

O suporte social útil contribui para uma resposta desadaptativa à dor, pelo aumento dos níveis de catastrofização, podendo a resposta catastrófica constituir um meio para solicitar apoio. Denota-se uma associação diretamente proporcional entre o suporte social percebido e a catastrofização da dor crônica do joelho nos participantes. Contudo, a relação demonstrou ser pobre/baixa, evidenciando a necessidade de considerar outros fatores no estudo da catastrofização.

Descritores:
Catastrofização; Dor crônica; Suporte social percebido

ABSTRACT

BACKGROUND AND OBJECTIVES:

Catastrophization and social support influence health outcomes in people with chronic pain. However, there is still no consensus regarding the relationship between these factors, and the information available in what relates to chronic pain in the knee joint is even scarcer. The objective of this study was to describe and understand the relationship between the perceived social support and pain catastrophization in adults with chronic knee pain.

METHODS:

Sociodemographic data were collected, and the West Haven-Yale Multidimensional Pain Inventory and Pain Catastrophizing Scale were completed by the participants. The sample included 28 participants attending daycare institutions in Aveiro, Braga and Leiria districts (Portugal).

RESULTS:

Seventy-five percent of the participants presented clinically significant catastrophization, and 64.3% reported high perceived social support. There is a direct relationship between high catastrophization and frequent solicitations and distraction responses. Conversely, an inverse association between high catastrophization levels and infrequent negative responses was observed in the collected sample.

CONCLUSION:

Useful social support contributes to a maladaptive response to pain by increasing catastrophization levels, and the catastrophic response may be a way to ask for support. There is a direct association between the perceived social support and the catastrophization of chronic knee pain in the participants. However, the association between these variables was poor/low evidencing the need to consider other factors in the catastrophization study.

Keywords:
Catastrophization; Chronic pain; Perceived social support

INTRODUÇÃO

A dor crônica (DC) constitui um problema de saúde pública em nível mundial11 IASP. How Prevalent Its Chronic Pain? Pain Clin Update. 2003;XI(2):1-4.,22 Azevedo LF, Costa-Pereira A, Mendonça L, Dias C, Castro-Lopes JM. Epidemiology of chronic pain: a population-based nationwide study on its prevalence, characteristics and associated disability in Portugal. J Pain. 2012;13(8):773-83.. Atualmente, a DC define-se pela permanência num período superior a 3 meses, não sendo considerados outros aspectos22 Azevedo LF, Costa-Pereira A, Mendonça L, Dias C, Castro-Lopes JM. Epidemiology of chronic pain: a population-based nationwide study on its prevalence, characteristics and associated disability in Portugal. J Pain. 2012;13(8):773-83.. Em Portugal, 37% da população adulta sofre de DC, resultando num forte impacto pessoal e social11 IASP. How Prevalent Its Chronic Pain? Pain Clin Update. 2003;XI(2):1-4.,22 Azevedo LF, Costa-Pereira A, Mendonça L, Dias C, Castro-Lopes JM. Epidemiology of chronic pain: a population-based nationwide study on its prevalence, characteristics and associated disability in Portugal. J Pain. 2012;13(8):773-83.. A DC no joelho em adultos é comum em nível mundial, sendo a maior porcentagem atribuível à osteoartrite, condição crônica, progressiva, e fortemente correlacionada com o envelhecimento33 Ilori T, Ladipo MM, Ogunbode AM, Obimakinde AM. Knee osteoarthritis and perceived social support amongst patients in a family medicine clinic. S Afr Fam Pract. 2016;1(1):1-5.

4 McDougall JJ. Arthritis and pain. Neurogenic origin of joint pain. Arthritis Res Ther. 2006;8(6):220.
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Considerando os diversos mecanismos fisiológicos que contribuem para a DC musculoesquelética, os atuais modelos conceituais de dor incorporam uma abordagem biopsicossocial, que envolve interações recíprocas entre fatores biológicos, psicológicos e sociais66 Adams LM, Turk DC. Psychosocial factors and central sensitivity syndromes. Curr Rheumatol Rev. 2015;11(2):96-108.

7 Edwards RR, Cahalan C, Mensing G, Smith M, Haythornthwaite JA. Pain, catastrophizing, and depression in the rheumatic diseases. Nat Rev Rheumatol. 2011;7(4):216-24.
-88 Gatchel RJ. The biopsychosocial model of chronic pain. In: Clinical Insights, editor. The biopsychosocial model of chronic pain. 2013. 5-17p.. No contexto dos fatores psicológicos, destaca-se a catastrofização que se define como um estado mental exageradamente negativo e irreal que surge no contexto da experiência de DC ou sua antecipação. A catastrofização engloba três dimensões: ruminação ou obsessão relacionada com a dor; magnificação ou exagero na valorização da ameaça que ela representa; e desvalorização da capacidade/recursos para o controle e gestão da experiência dolorosa99 Azevedo LF, Pereira AC, Dias C, Agualusa L, Lemos L, Romão J, et al. Questionários sobre dor crónica. tradução, adaptação cultural e estudo multicêntrico de validação de instrumentos para rastreio e avaliação do impacto da dor crónica. Dor. 2007;15:6-37.,1010 Leung L. Pain catastrophizing: an updated review. Indian J Psychol Med. 2012;34(3):204-17.. No que diz respeito aos fatores sociais relevantes nos modelos conceituais da dor, o suporte social assume uma importância determinante1111 López-Martínez AE, Esteve-Zarazaga R, Ramírez-Maestre C. Perceived social support and coping responses are independent variables explaining pain adjustment among chronic pain patients. J Pain. 2008;9(4):373-9.. O suporte social caracteriza-se como um conceito multifatorial, sendo definido como uma provisão de recursos entre prestador e receptor, de forma a promover o bem-estar deste último. Define-se suporte social percebido como o suporte que o indivíduo percebe como disponível em caso de necessidade, enquanto que o suporte social recebido descreve o suporte que foi efetivamente prestado1212 Bogossian FE. Social support: proposing a conceptual model for application to midwifery practice. Women Birth. 2007;20(4):169-73.,1313 Cramer D, Henderson S, Scott R. Mental health and adequacy of social support: a four-wave panel study. Br J Soc Psychol. 1997;35(Pt 2):285-95..

Duas perspectivas contraditórias explicam a relação entre suporte social e catastrofização em indivíduos com DC. Segundo o Communal Coping Model, a catastrofização surge como meio de o indivíduo solicitar assistência e respostas empáticas dos constituintes do seu ambiente social. Essas respostas, principalmente quando fornecidas pelo cônjuge, podem manter ou reforçar a expressão de dor. Por outro lado, outros estudos demonstraram que, quando fornecido por indivíduos que não pertencem à relação conjugal, níveis mais elevados de suporte social resultam em menor frequência e intensidade de dor1111 López-Martínez AE, Esteve-Zarazaga R, Ramírez-Maestre C. Perceived social support and coping responses are independent variables explaining pain adjustment among chronic pain patients. J Pain. 2008;9(4):373-9.,1414 Che X, Cash R, Fitzgerald P, Fitzgibbon BM. The social regulation of pain: autonomic and neurophysiological changes associated with perceived threat. J Pain. 2018;19(5):496-505.,1515 Sullivan MJ, Thorn B, Haythornthwaite JA, Keefe F, Martin M, Bradley LA, et al. Theoretical perspectives on the relation between catastrophizing and pain. Clin J Pain. 2001;17(1):52-64..

Assim, é fundamental desenvolver novos estudos e contribuir para a investigação nesta área de forma a esclarecer a relação contraditória entre esses fatores, influentes nos resultados em saúde de indivíduos com DC.

Desse modo, o presente estudo teve como objetivo responder à questão de investigação "Qual a relação entre o suporte social percebido e a catastrofização em indivíduos com DC no joelho"?

MÉTODOS

Estudo transversal descritivo conduzido com a participação de idosos institucionalizados em regime de centro de dia de 3 instituições dos distritos de Aveiro, Braga e Leiria (Portugal). Os participantes deste estudo tiveram como critérios de inclusão a idade superior a 65 anos e DC no joelho. Os indivíduos foram incluídos na amostra depois de explicados os procedimentos do estudo e após o preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), segundo a Declaração de Helsinque. Como critério de exclusão, considerou-se a incapacidade cognitiva que impedisse o preenchimento coerente dos instrumentos. O processo de coleta de dados compreendeu o pedido de autorização às instituições de coleta de dados e o posterior contato direto com os participantes.

Considerando as regras probabilísticas e de inferência estatística que asseguram a tendência para a normalidade em amostras que incluam 25 a 30 indivíduos, foram recrutados 30 indivíduos, mas apenas 28 reuniram condições estáveis de saúde durante o contato direto de coleta de dados. Após selecionados os 28 indivíduos que cumpriam os critérios, aplicou-se o questionário sociodemográfico de caracterização da amostra e da dor, previamente construído pelas investigadoras. Dos critérios caracterizadores da dor, apenas os valores referentes à sua intensidade não foram obtidos a partir do questionário sociodemográfico, tendo por base o item 1 da parte A do West Haven-Yale Multidimensional Pain Inventory (WHY-MPI), validado para a população portuguesa99 Azevedo LF, Pereira AC, Dias C, Agualusa L, Lemos L, Romão J, et al. Questionários sobre dor crónica. tradução, adaptação cultural e estudo multicêntrico de validação de instrumentos para rastreio e avaliação do impacto da dor crónica. Dor. 2007;15:6-37..

A avaliação do suporte social baseou-se também na aplicação do WHY-MPI, instrumento constituído por 52 itens, cotados de zero a 6, distribuídos em três partes distintas. Os itens 5, 10 e 15 da parte A foram utilizados para obter dados sobre a avaliação do suporte recebido pelo participante. Além disso, a parte B, que se subdivide em respostas negativas (itens 1, 4, 7, 14), respostas solícitas (itens 2, 3, 5, 8, 11 e 13) e respostas de distração (itens 6, 9, 12 e 14), permitiu obter dados alusivos ao suporte social percebido. No caso da predominância de respostas negativas o suporte social percebido diz-se punitivo, e quando é maior a frequência de respostas solícitas e de distração, o suporte social percebido designa-se útil99 Azevedo LF, Pereira AC, Dias C, Agualusa L, Lemos L, Romão J, et al. Questionários sobre dor crónica. tradução, adaptação cultural e estudo multicêntrico de validação de instrumentos para rastreio e avaliação do impacto da dor crónica. Dor. 2007;15:6-37.. A parte introdutória da referida escala forneceu dados acerca da pessoa significativa e da coabitação do participante com a mesma99 Azevedo LF, Pereira AC, Dias C, Agualusa L, Lemos L, Romão J, et al. Questionários sobre dor crónica. tradução, adaptação cultural e estudo multicêntrico de validação de instrumentos para rastreio e avaliação do impacto da dor crónica. Dor. 2007;15:6-37..

Para a avaliação da catastrofização da dor, utilizou-se a versão portuguesa da Pain Catastrophizing Scale (PCS)99 Azevedo LF, Pereira AC, Dias C, Agualusa L, Lemos L, Romão J, et al. Questionários sobre dor crónica. tradução, adaptação cultural e estudo multicêntrico de validação de instrumentos para rastreio e avaliação do impacto da dor crónica. Dor. 2007;15:6-37.. Esse instrumento é constituído por 13 itens, cotados de zero a 4, com uma pontuação total entre zero e 52. Pontuações superiores determinam níveis mais elevados de pensamentos catastróficos. O nível de catastrofização foi considerado clinicamente relevante quando a pontuação total na PCS foi superior ou igual a 30. Os 13 itens da PCS estão agrupados nas seguintes dimensões: ruminação (itens 8, 9, 10 e 11), ampliação (itens 6, 7 e 13), e desamparo (itens 1, 2, 3, 4, 5 e 12)99 Azevedo LF, Pereira AC, Dias C, Agualusa L, Lemos L, Romão J, et al. Questionários sobre dor crónica. tradução, adaptação cultural e estudo multicêntrico de validação de instrumentos para rastreio e avaliação do impacto da dor crónica. Dor. 2007;15:6-37.,1616 Sullivan MJ, Adams H, Sullivan ME. Communicative dimensions of pain catastrophizing: social cueing effects on pain behaviour and coping. Pain. 2004;107(3):220-6.,1717 Sullivan MJ. The Pain Catastrophizing Scale. User Manual. 2009. 3-22p..

Estudo com aprovação de ética (referência documento aprovação das 3 instituições: 108.03 fevereiro 2018; 3454.032018; 054.27 janeiro 2018). Identificador de Ensaios Clínicos: NCT02746835.

Análise estatística

Foi realizada uma análise descritiva dos dados obtidos do questionário sociodemográfico, WHY-MPI e PCS através da distribuição de frequências absolutas e relativas simples, de medidas de tendência central, como a média aritmética, e medidas de dispersão como o desvio padrão.

Na tabela 1 estão descritas as variáveis utilizadas para a análise dos resultados relativos ao suporte social percebido. Para as variáveis suporte social percebido, respostas negativas, respostas solícitas, respostas de distração, ruminação, ampliação e desamparo, foram definidos dois níveis de valores, tendo por base o ponto médio da amplitude de valores da pontuação total em cada variável. Por exemplo, abaixo e acima do ponto médio consideram-se, respectivamente, poucas e muitas respostas negativas, solícitas ou de distração. Em relação aos dados da catastrofização da dor, procedeu-se à análise da pontuação total da PCS, bem como do nível de catastrofização definido com base no valor de corte da escala.

Tabela 1
Variáveis analisadas para o estudo da relação entre o suporte social percebido e a catastrofização da dor crônica

A relação entre o suporte social e a catastrofização da dor foi avaliada através do coeficiente de correlação de Pearson entre a pontuação total da PCS e as várias dimensões da parte B da escala WHY-MPI (respostas negativas, solícitas e de distração). Adicionalmente, foi analisada a correlação entre a intensidade da dor e a pontuação total da PCS, com as várias dimensões da parte B da escala WHY-MPI calculando o coeficiente de correlação de Spearman ®. Para a interpretação dos valores obtidos foram considerados os seguintes intervalos-padrão: correlação pobre (r<0,30), fraca (r: 0,30-0,50), moderada (r: 0,50-0,70), forte (r: 0,70-0,90) e muito forte (r>0,90)1818 Broekmans T, Gijbels D, Eijnde BO, Alders G, Lamers I, Roelants M, et al. The relationship between upper leg muscle strength and walking capacity in persons with multiple sclerosis. Mult Scler. 2013;19(1):112-9..

Com base no Communal Coping Mode, foi construída uma tabulação cruzada entre as variáveis estado civil (casado; não casado) e nível de catastrofização (clinicamente significativo e não significativo), com intuito de perceber se a catastrofização da dor é superior entre indivíduos casados1111 López-Martínez AE, Esteve-Zarazaga R, Ramírez-Maestre C. Perceived social support and coping responses are independent variables explaining pain adjustment among chronic pain patients. J Pain. 2008;9(4):373-9..

Todos os procedimentos estatísticos foram realizados com o software IBM® SPSS® Statistics® versão 23.

RESULTADOS

A amostra foi constituída por 78,6% de indivíduos do sexo feminino e 21,4% do masculino, com média de idade de 79,25 anos. Dos 28 indivíduos, 39,3% são viúvos sendo também significativa a percentagem de casados (25%). Além disso, 64,3% dos inquiridos possuem apenas o 1º ciclo de escolaridade (4 anos).

Em relação à caracterização da dor, predomina a dor localizada (71,4%), anterior (60,7%), e contínua (60,7%), sendo mais frequente no joelho direito ou bilateral (35,7%). No que se refere à intensidade da dor, 39,3% dos participantes apresentam dor significativa, avaliada em 4 numa escala de zero a 6.

Mais da metade dos participantes (57,14%) identificaram pai, mãe, filho, ou outro familiar como sendo sua pessoa significativa, e é ainda considerável a percentagem da amostra (25%) que referiu o cônjuge. Cerca de 75% dos participantes vive com a pessoa significativa.

No que diz respeito à avaliação do suporte social recebido pelo participante, 64,3% indicaram possuir muito suporte (Tabela 2). Quanto às respostas por parte da pessoa significativa, a maioria indicou possuir poucas respostas negativas (89,3%), muitas respostas solícitas (67,9%) e poucas respostas de distração (60,7%).

Tabela 2
Suporte social percebido

A pontuação total da PCS apresentou uma média de 35,14, valor preditor de um nível de catastrofização clinicamente significativo (Tabela 3). Destaca-se que 75% dos participantes apresentaram catastrofização clinicamente significativa.

Tabela 3
Catastrofização da dor

No que diz respeito às diferentes dimensões da escala PCS (Tabela 4), verificou-se que a maioria dos participantes indicaram muita ruminação (67,9%), muita ampliação (71,4%) e muito desamparo (78,6%), não se verificando tendência dos dados para nenhuma das dimensões em específico.

Tabela 4
Dimensões da catastrofização

Com os dados do presente estudo foi verificada uma correlação pobre (r=0,219) entre: (i) a intensidade da dor e a pontuação total da PCS; (ii) a intensidade da dor e as respostas negativas (r=0,001), solícitas (r=0,191) e de distração (r=0,120) da pessoa significativa. Verificou-se ainda uma correlação positiva entre a pontuação total da PCS e as respostas solícitas e de distração, pobre (r=0,209) e fraca (r=0,342), respectivamente, com valores maiores para as respostas de distração. A correlação entre a pontuação total da PCS e as respostas negativas foi pobre e negativa (r=-0,162). Da relação entre as várias dimensões da parte B da escala WHY-MPI, destacou-se a correlação moderada positiva (r=0,624) entre as respostas solícitas e de distração, e a correlação moderada negativa (r=-0,591) entre as respostas solícitas e as respostas negativas (Tabela 5).

Tabela 5
Correlação entre a intensidade da dor e o score total da Pain Catastrophizing Scale. e as dimensões do suporte social e correlação entre o escore total e as dimensões de suporte social percebido

No sentido de compreender a tendência dos dados no que diz respeito à catastrofização entre os indivíduos casados, e sabendo que os mesmos identificaram como pessoa significativa o cônjuge, procedeu-se o cruzamento entre o estado civil e o nível de catastrofização, não se verificando uma tendência evidente entre as variáveis analisadas (Tabela 6).

Tabela 6
Cruzamento entre o valor de corte da Pain Catastrophizing Scale e o estado civil casado

DISCUSSÃO

A maioria dos estudos nesta área afirma que o suporte social percebido tem sido identificado como influente na gestão da dor em situações crônicas e que a catastrofização afeta negativamente os resultados na saúde de pessoas com dor1111 López-Martínez AE, Esteve-Zarazaga R, Ramírez-Maestre C. Perceived social support and coping responses are independent variables explaining pain adjustment among chronic pain patients. J Pain. 2008;9(4):373-9.,1414 Che X, Cash R, Fitzgerald P, Fitzgibbon BM. The social regulation of pain: autonomic and neurophysiological changes associated with perceived threat. J Pain. 2018;19(5):496-505.,1515 Sullivan MJ, Thorn B, Haythornthwaite JA, Keefe F, Martin M, Bradley LA, et al. Theoretical perspectives on the relation between catastrophizing and pain. Clin J Pain. 2001;17(1):52-64.. Contudo, a relação entre a percepção de suporte social e os níveis de catastrofização nos indivíduos com dor crônica no joelho não é consensual na literatura.

Dos resultados obtidos neste estudo foi possível observar que a maioria da amostra apresenta catastrofização clinicamente significativa (Tabela 3), com maior impacto na dimensão de desamparo. Esses resultados são consistentes com um estudo que investigou as associações entre as dimensões da catastrofização, concluindo que o desamparo tem um papel predominante na catastrofização em indivíduos com DC1919 Adachi T, Nakae A, Maruo T, Shi K, Maeda L, Saitoh Y, et al. The relationships between pain catastrophizing subcomponents and multiple pain-related outcomes in Japanese outpatients with chronic pain: a cross-sectional study. Pain Pract. 2018;17 [Epub ahead of print].. Em relação ao suporte social percebido, pode ainda observar-se que a maioria dos participantes apresentaram maior frequência de respostas solícitas e de distração, em comparação com a frequência de respostas negativas (Tabela 2). O mesmo se verificou em estudo realizado por Gauthier et al.2020 Gauthier LR, Rodin G, Zimmermann C, Warr D, Librach SL, Moore M, et al. The communal coping model and cancer pain: the roles of catastrophizing and attachment style. J Pain. 2012;13(12):1258-68. que demonstrou maior frequência de respostas solícitas e distrativas. Além disso, verificou-se que mais de metade da amostra deste estudo avaliou o suporte social recebido como frequente.

Segundo a literatura, a catastrofização está associada à ativação de áreas cerebrais envolvidas na resposta à dor, constituindo um comportamento desadaptativo que visa a obtenção de suporte social, podendo aumentar a intensidade da dor. Porém, a literatura aponta que quanto maior a intensidade da dor, maior a inibição das áreas cerebrais ativadas. Em concordância, os resultados do presente estudo demonstraram uma relação positiva, mas pobre entre a catastrofização e a intensidade da dor, o que pode ser explicado pelo nível significativo de intensidade da dor1010 Leung L. Pain catastrophizing: an updated review. Indian J Psychol Med. 2012;34(3):204-17.,2121 Krahé C, Springer A, Weinman JA, Fotopoulou A. The social modulation of pain: others as predictive signals of salience - a systematic review. Fornt Hum Neurosci. 2013;7:386.,2222 Suso-Ribera C, García-Palacios A, Botella C, Ribera-Canudas MV. Pain catastrophizing and its relationship with health outcomes: does pain intensity matter? Pain Res Manag. 2017;2017:9762864.. Assim, pode-se concluir que a leitura e a interpretação da catastrofização pelos profissionais de saúde deverá ser realizada considerando 2 eixos: o nível de suporte social e a quantificação da dor percebida, esta última através das escalas analógicas frequentemente usadas em contexto clínico.

No presente estudo de investigação, os resultados evidenciaram uma relação diretamente proporcional entre elevada catastrofização e respostas solícitas e de distração frequentes, assim como uma associação inversamente proporcional entre elevado nível de catastrofização e respostas punitivas pouco frequentes. Isto é, indivíduos com respostas solícitas e distrativas mais frequentes apresentam maior catastrofização, e indivíduos com respostas negativas mais frequentes possuem menor catastrofização. Estudos anteriores nessa área constataram uma tendência semelhante dos dados, explicando que, no contexto da DC, respostas solícitas e distrativas a comportamentos de dor e ausência de respostas negativas podem reforçar a catastrofização1111 López-Martínez AE, Esteve-Zarazaga R, Ramírez-Maestre C. Perceived social support and coping responses are independent variables explaining pain adjustment among chronic pain patients. J Pain. 2008;9(4):373-9.,2020 Gauthier LR, Rodin G, Zimmermann C, Warr D, Librach SL, Moore M, et al. The communal coping model and cancer pain: the roles of catastrophizing and attachment style. J Pain. 2012;13(12):1258-68.. Assim, nos casos analisados, um suporte social útil (em que predominam respostas solícitas e de distração), predispõe para uma resposta desadaptativa à dor, pelo aumento dos níveis de catastrofização. Tendo em conta as características da amostra do presente estudo, onde mais de 80% dos participantes identificaram a pessoa significativa como sendo algum familiar, os dados obtidos parecem reforçar que a prestação do cuidado por um elemento da família reforça a expressão da dor, dando resposta à questão original deste estudo. Se o profissional de saúde conhecer essa realidade e algumas estratégias de coping e educação dos cuidadores, poderá o profissional assumir um papel relevante na gestão da catastrofização da dor.

Este estudo apresentou algumas limitações. Por um lado, por se tratar de um estudo transversal, não permitiu afirmar a direcionalidade das relações. Por outro lado, a dimensão da amostra, bem como a concentração de idades numa faixa etária alta e estreita, pode também constituir uma limitação ao estudo, não permitindo generalizar as conclusões obtidas para a população restante. Mas se acrescenta que a disparidade entre o número de indivíduos do estado civil casado e dos demais estados não permitiu retirar conclusões passíveis de comparação com o Communal Coping Model. Além disso, a obtenção apenas de dados de autorrelato dos participantes acerca o suporte social não permitiu saber se a catastrofização da dor está associada à percepção de respostas de suporte ou à sua provisão real por parte da pessoa significativa. Assim sendo, em contexto clínico deve ser considerada a perspectiva não só do paciente como também da pessoa significativa de forma a perceber a qualidade da relação entre ambos, bem como o nível de suporte efetivamente fornecido no contexto real de vida do indivíduo.

CONCLUSÃO

Em suma, nos participantes do estudo, a associação entre suporte social percebido e catastrofização da DC no joelho demonstrou ser diretamente proporcional, mas baixa.

  • Fontes de fomento: não há.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2019

Histórico

  • Recebido
    06 Ago 2018
  • Aceito
    14 Dez 2018
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