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Efeitos dos exercícios sobre a dor e a capacidade funcional em pacientes oncológicos hospitalizados

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS:

São escassos os estudos que avaliaram os efeitos da fisioterapia sobre a dor oncológica com instrumentos multidimensionais. O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos da fisioterapia sobre a dor e a capacidade funcional em pacientes oncológicos hospitalizados.

MÉTODOS:

Estudo quase-experimental, composto por 40 participantes com idade média de 51±18 anos, avaliados pré e pós intervenção fisioterapêutica pela escala verbal numérica, Questionário de Dor de McGill, Questionário Internacional de Atividade Física, teste de sentar e levantar da cadeira e capacidade funcional pelo questionário Eastern Cooperative Oncology Group. Os participantes foram estratificados de acordo com o número de sessões realizadas em grupo 1 ≤ 5 atendimentos (n=25) e grupo 2 ≥ 6 atendimentos (n=15).

RESULTADOS:

Houve redução da dor oncológica mensurada pelos descritores sensitivo (p=0,02) e misto (p=0,05) do questionário de McGill e na escala visual numérica (p=0,03) nos pacientes que realizaram no mínimo seis sessões de fisioterapia. Houve correlação significativa (r=0,81; p<0,001) entre a redução da dor mensurada pela escala visual numérica e a redução da dor mensurada pelo questionário McGill Total. Não houve diferenças significativas no teste de sentar e levantar e no questionário de capacidade funcional pelo Eastern Cooperative Oncology Group.

CONCLUSÃO:

Foram necessárias no mínimo seis sessões de fisioterapia com ênfase na cinesioterapia para promover redução da dor oncológica em pacientes hospitalizados. Recomenda-se o uso do instrumento multidimensional na avaliação da dor oncológica em pacientes hospitalizados submetidos à fisioterapia.

Descritores:
Dor do câncer; Fisioterapia; Mensuração da dor; Neoplasia

ABSTRACT

BACKGROUND AND OBJECTIVES:

There are few studies evaluating the effects of physiotherapy with multidimensional instruments on cancer pain. The objective of this study was to evaluate the effects of physiotherapy on pain and functional capacity in hospitalized cancer patients.

METHODS:

This is a quasi-experimental study including 40 participants with a mean age of 51±18 years assessed before and after physiotherapy interventions, using the verbal numerical rating scale, the McGill Pain Questionnaire - Short Form, the International Physical Activity Questionnaire, the Sit-to-Stand test, and the Eastern Cooperative Oncology Group questionnaire for functional capacity evaluation. The participants were classified according to the number of performed sessions: group 1≤ 5 sessions (n=25) and group 2 ≥ 6 sessions (n=15).

RESULTS:

There was a reduction in cancer pain measured by sensory (p=0.02) and mixed descriptors (p=0.05) of the McGill questionnaire as well as by the numerical visual scale (p=0.03) in patients who performed at least six physiotherapy sessions. There was a significant correlation (r=0.81; p<0.001) between the reduction in pain measured by the numerical visual scale and the reduction in pain measured by the Total McGill questionnaire. There were no significant differences in the Sit-to-Stand test and the Eastern Cooperative Oncology Group functional capacity questionnaire.

CONCLUSION:

At least six sessions of physiotherapy with emphasis on kinesiotherapy were needed to promote a reduction of cancer pain in hospitalized patients. We recommend the use of multidimensional instruments in the evaluation of cancer pain in hospitalized patients submitted to physiotherapy.

Keywords:
Cancer pain; Neoplasm; Pain measurement; Physiotherapy

INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer é um problema de saúde pública nos países em desenvolvimento, onde estima-se que nas próximas décadas acometerá 80% dos indivíduos com mais de 20 milhões de novos casos para 202511 Instituto Nacional do Câncer. Fisioterapia em oncologia (INCA). [Acesso em: 5 de novembro de 2018]. Disponível em:http://www.inca.gov.br/estimativa/2016/estimativa-2016-v11.pdf.
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. Na oncologia, a fisioterapia surge com intuito de preservar, manter e restaurar a integridade cinético funcional dos órgãos e sistemas do paciente oncológico, bem como prevenir os distúrbios causados pelo tratamento da doença22 Instituto Nacional do Câncer. Fisioterapia em oncologia (INCA). [Acesso em: 5 de novembro de 2018]. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=682.
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. A fisioterapia em oncologia atua de forma integral e interdisciplinar na promoção da saúde em todos os níveis de atenção, resgatando a funcionalidade do indivíduo33 Matheus LBG, Silva LLS, Figueiredo LC. Fisioterapia em oncologia In: Santos M, Corrêa ST, Faria BBDL, Siqueira MSG, Reis DEP, Abreu CKA, et al. (editores). Diretrizes oncológicas. 1ª ed. Rio Janeiro: Elsevier; 2017..

A maioria dos pacientes oncológicos apresenta queixa de dor, e o seu controle/atenuação está entre as prioridades da equipe multiprofissional22 Instituto Nacional do Câncer. Fisioterapia em oncologia (INCA). [Acesso em: 5 de novembro de 2018]. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=682.
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. A dor do câncer pode estar localizada em vários locais anatômicos e com diferentes causas, sendo considerada uma dor mista44 Raphael J, Ahmedzai S, Hester J, Urch C, Barrie J, Williams J, et al. Cancer pain: part 1: pathophysiology; oncological, pharmacological, and psychological treatments: a perspective from the British Pain Society endorsed by the UK Association of Palliative Medicine and the Royal College of General Practitioners. Pain Med. 2010;11(5):742-64.. Além da dor, os pacientes podem apresentar restrição de amplitude de movimento, alteração de sensibilidade, fraqueza muscular, síndrome da rede axilar, linfedema e alterações cicatriciais33 Matheus LBG, Silva LLS, Figueiredo LC. Fisioterapia em oncologia In: Santos M, Corrêa ST, Faria BBDL, Siqueira MSG, Reis DEP, Abreu CKA, et al. (editores). Diretrizes oncológicas. 1ª ed. Rio Janeiro: Elsevier; 2017.. A fisioterapia pode contribuir com técnicas específicas, permitindo o alívio da dor e a melhora na qualidade de vida44 Raphael J, Ahmedzai S, Hester J, Urch C, Barrie J, Williams J, et al. Cancer pain: part 1: pathophysiology; oncological, pharmacological, and psychological treatments: a perspective from the British Pain Society endorsed by the UK Association of Palliative Medicine and the Royal College of General Practitioners. Pain Med. 2010;11(5):742-64.. Um estudo retrospectivo relatou que a intervenção da fisioterapia promoveu melhoras da funcionalidade de pacientes em cuidados paliativos55 Montagnini M, Lodhi M, Born W. The utilization of physical therapy in palliative care unit. J Palliat Med. 2003;6(1):11-7.. Estudos prospectivos são necessários para melhor compreensão desta área de atuação profissional sobre a dor oncológica em ambiente hospitalar55 Montagnini M, Lodhi M, Born W. The utilization of physical therapy in palliative care unit. J Palliat Med. 2003;6(1):11-7.. Exercícios físicos regulares também podem atenuar a dor pela redução da fosforilação dos receptores do sistema endógeno, aumento nos níveis de serotonina e ativação dos opioides nas vias inibitórias no sistema nervoso central (SNC)66 Lima VL, Abner TS, Sluka KA. Does exercise increase or decrease pain? Central mechanisms underlying these two phenomena. J Physiol. 2017;595(13):4141-50.. Entretanto, poucos estudos avaliaram os efeitos da cinesioterapia sobre a dor oncológica em ambiente hospitalar.

Dentro desse contexto, o objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos dos exercícios terapêuticos sobre a dor oncológica e a capacidade funcional em pacientes hospitalizados.

MÉTODOS

Realizou-se uma pesquisa quase-experimental, com avaliação pré e pós-intervenção, em pacientes hospitalizados portadores de câncer. Utilizou-se como critérios de inclusão: idade superior a 18 anos, diagnóstico de câncer por meio de exame anatomopatológico, em atendimento de fisioterapia hospitalar nos meses de março a julho de 2018. Foram excluídos os pacientes com doença neurológica, doença reumática agudizada, incapazes de deambular ou de realizar os testes propostos solicitados pelo fisioterapeuta. O cálculo amostral foi obtido por meio do software G*Power, utilizando os valores do questionário de Dor de McGill. A amostra foi estimada em 40 indivíduos, considerando intervalo de confiança de 95% e nível de significância de 5% com tamanho do efeito de 0,80. A coleta de dados foi realizada no Hospital São Vicente de Paulo do município de Passo Fundo/RS.

Todos foram avaliados com um questionário semiestruturado na internação e na alta hospitalar. Foram coletadas as seguintes informações clínicas, tempo de internação, tipo de tumor, história do tratamento anterior à quimioterapia (cirúrgico e/ou radioterapia e/ou hormonioterapia), intenção de tratamento com quimioterapia e/ou radioterapia (curativo, neoadjuvante, adjuvante ou paliativo). Além disso, os pacientes foram questionados quanto à presença de doenças associadas, uso de fármacos durante a internação, prática regular de atividade física e tabagismo. A classificação nutricional foi determinada pelo índice de massa corporal (IMC), verificada através do peso e estatura conforme faixa etária, e pontos de corte pré-estabelecidos. Na população idosa77 Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do ministério da saúde (SISVAN). Sistema que informa a classificação nutricional conforme o Índice de Massa Corporal (IMC)[Acesso em: 3 de agosto de 2017]. Disponível em:http://tabnet.datasus.gov.br/cgi-win/SISVAN/CNV/notas_sisvan.html.
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, os valores de referência do IMC foram classificados como baixo peso ≤22kg/m22 Instituto Nacional do Câncer. Fisioterapia em oncologia (INCA). [Acesso em: 5 de novembro de 2018]. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=682.
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, eutrófico >22kg/m22 Instituto Nacional do Câncer. Fisioterapia em oncologia (INCA). [Acesso em: 5 de novembro de 2018]. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=682.
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e <27kg/m22 Instituto Nacional do Câncer. Fisioterapia em oncologia (INCA). [Acesso em: 5 de novembro de 2018]. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=682.
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e sobrepeso IMC ≥27kg/m22 Instituto Nacional do Câncer. Fisioterapia em oncologia (INCA). [Acesso em: 5 de novembro de 2018]. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=682.
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. Na população adulta77 Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do ministério da saúde (SISVAN). Sistema que informa a classificação nutricional conforme o Índice de Massa Corporal (IMC)[Acesso em: 3 de agosto de 2017]. Disponível em:http://tabnet.datasus.gov.br/cgi-win/SISVAN/CNV/notas_sisvan.html.
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi-win/SIS...
, os valores de referência foram classificados como baixo peso <18,5kg/m22 Instituto Nacional do Câncer. Fisioterapia em oncologia (INCA). [Acesso em: 5 de novembro de 2018]. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=682.
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; eutrófico ≥18,5 e <25,0kg/m22 Instituto Nacional do Câncer. Fisioterapia em oncologia (INCA). [Acesso em: 5 de novembro de 2018]. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=682.
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; sobrepeso: ≥25 e <30,0kg/m22 Instituto Nacional do Câncer. Fisioterapia em oncologia (INCA). [Acesso em: 5 de novembro de 2018]. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=682.
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; e obesidade: ≥30kg/m22 Instituto Nacional do Câncer. Fisioterapia em oncologia (INCA). [Acesso em: 5 de novembro de 2018]. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=682.
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.

Para a avaliação da dor, cada indivíduo recebeu uma folha com a escala verbal numérica (EVN), classificando a sua dor em notas que variam de zero a 10, conforme a intensidade da sensação, sendo zero quando há ausência de dor e 10 a maior intensidade imaginável88 Barbosa IM, Sales DS, Oliveira LM, Sampaio DV, Milhome AG. Pain in onco-hematologic patients and its association with analgesia. Rev Dor. 2016;17(3):178-82.. O questionário de Dor de McGill é um instrumento multidimensional para medir a dor através da localização, intensidade e o seu comportamento considerando as dimensões sensitiva, afetiva, avaliativa e mista99 Pimenta CA, Teixeira MJ. Questionário de dor McGill: proposta de adaptação para a língua portuguesa. Rev Esc Enferm USP. 1996;30(3):473-83.. Apresenta confiabilidade e boa validade em pacientes oncológicos88 Barbosa IM, Sales DS, Oliveira LM, Sampaio DV, Milhome AG. Pain in onco-hematologic patients and its association with analgesia. Rev Dor. 2016;17(3):178-82.,1010 Mangia SA, Coqueiro NLO, Azevedo FC, Araujo HTS, Amorim EO, Alves CNR, et al. What clinical, functional, and psychological factors before treatment are predictors of poor quality of life in cancer patients at the end of chemotherapy? Rev Assoc Med Bras. 2017;63(11):978-87..

O Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) considera atividades de caminhada, atividades físicas de intensidade moderada e intensidade vigorosa, e vem sendo utilizado em pacientes oncológicos1010 Mangia SA, Coqueiro NLO, Azevedo FC, Araujo HTS, Amorim EO, Alves CNR, et al. What clinical, functional, and psychological factors before treatment are predictors of poor quality of life in cancer patients at the end of chemotherapy? Rev Assoc Med Bras. 2017;63(11):978-87.. A interpretação do IPAQ foi em conformidade com as recomendações sugeridas pelo grupo de revisores científicos1111 International Physical Activity Questionnaire IPAQ (2004). Guidelines for Data Processing and Analysis of the International Physical Activity Questionnaire (IPAQ) Short Form. Version 2.0. [Acesso em: 7 maio de novembro de 2018]. Disponível em(http://www.ipaq.ki.se) Acesso em 07/05/2018.
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. O teste de sentar e levantar (TSL) da cadeira avaliou a força e resistência dos membros inferiores1010 Mangia SA, Coqueiro NLO, Azevedo FC, Araujo HTS, Amorim EO, Alves CNR, et al. What clinical, functional, and psychological factors before treatment are predictors of poor quality of life in cancer patients at the end of chemotherapy? Rev Assoc Med Bras. 2017;63(11):978-87.. Ao sinal, o participante tinha que se erguer, ficar totalmente em pé e então retornar à posição sentada. O participante foi encorajado a completar o maior número de repetições possíveis em 30 segundos1212 Rikli RE, Jones J. Teste de Aptidão Física para Idosos. Barueri SP: Manole; 2008.. A capacidade funcional foi avaliada por meio da escala Eastern Cooperative Oncology Group (ECOG), um método de medida global do desempenho funcional1313 Oken MM, Creech RH, Tormey DC, Horton J, Davis TE, McFadden ET, et al. Toxicity and response criteria of the Eastern Cooperative Oncology Group. Am J Clin Oncol. 1982;5(6):649-55. que vem sendo utilizado em paciente oncológicos1414 Machado L, Saad IA, Honma HN, Morcillo AM, Zambon L. Evolution of performance status, body mass index, and six-minute walk distance in advanced lung cancer patients undergoing chemotherapy. J Bras Pneumol. 2010;36(5):588-94. English, Portuguese.,1515 Pereira EE, Santos NB, Sarges ES. Avaliação da capacidade funcional do paciente oncogeriátrico hospitalizado. Rev Pan-Amaz Saude. 2014;5(4):37-44..

Em todos os atendimentos, o fisioterapeuta realizou uma anamnese detalhada com testes funcionais e exame físico, sendo elaborados, a partir disso, os planos terapêuticos. Os pacientes realizaram exercícios de fortalecimento com halter e faixa elástica1616 Henke CC, Cabri J, Fricke L, Pankow W, Kandilakis G, Feyer PC, et al. Strength and endurance training in the treatment of lung cancer patients in stages IIIA/IIIB/IV. Support Care Cancer. 2014;22(1):95-101., alongamentos musculares ativos e passivos, e exercícios aeróbicos através de caminhada no corredor ou ciclo ergômetro de baixa a moderada intensidade33 Matheus LBG, Silva LLS, Figueiredo LC. Fisioterapia em oncologia In: Santos M, Corrêa ST, Faria BBDL, Siqueira MSG, Reis DEP, Abreu CKA, et al. (editores). Diretrizes oncológicas. 1ª ed. Rio Janeiro: Elsevier; 2017.. Nos casos de plaquetopenia, os exercícios foram ativos assistidos ou de mobilização passiva. A conduta respiratória consistiu em padrões ventilatórios, reexpansão pulmonar e técnicas de higiene brônquica33 Matheus LBG, Silva LLS, Figueiredo LC. Fisioterapia em oncologia In: Santos M, Corrêa ST, Faria BBDL, Siqueira MSG, Reis DEP, Abreu CKA, et al. (editores). Diretrizes oncológicas. 1ª ed. Rio Janeiro: Elsevier; 2017.. Em média, as sessões de fisioterapia tiveram duração de 20 a 30 minutos e realizadas uma vez ao dia. Os pacientes foram estratificados de acordo com o número de sessões realizadas. No grupo 1 foram incluídos os que realizaram ≤ 5 atendimentos e no grupo 2 os que realizaram ≥6 atendimentos.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Passo Fundo (UPF) sob o número 2.572.490, respeitando a resolução 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde e com assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Análise estatística

A estatística descritiva foi realizada com média e desvio padrão para as variáveis quantitativas e frequências absolutas e relativas para as variáveis categóricas. O teste de Kolmogorov-Smirnov foi utilizado para analisar a distribuição dos dados. As comparações entre os valores pré e pós- intervenção foram analisadas pelo teste de Wilcoxon. As variáveis categóricas foram analisadas pelo teste Qui-quadrado. A correlação entre a EVN e o questionário McGill foi realizada pelo teste de Spearman após o cálculo dos deltas de variação (pós-intervenção - pré-intervenção). Foram considerados significativos valores de p≤0,05.

RESULTADOS

Foram avaliados 40 pacientes, onde a maioria era do sexo masculino 25 (62,5%) e com idade média de 51,93±18,35 anos. Os tumores sólidos prevaleceram em 21 (52,5%) pacientes, conforme descrito na tabela 1.

Tabela 1
Características da amostra (n=40).

A tabela 2 mostra as avaliações da EVN, McGill, ECOG e do teste do sentar e levantar pré e pós-intervenção da fisioterapia. No grupo com ≥ 6 sessões de fisioterapia, os instrumentos que avaliaram a dor, EVN e McGill Total, apresentaram diminuição significativa nos escores (p=0,04 e p=0,03) no período pós-intervenção, respectivamente. Os subitens Sensitivo e Misto do questionário de McGill, apresentaram diminuição significativa nos escores (p=0,02; p=0,05) no período pós-intervenção, respectivamente. Não se encontrou diferenças significativas no teste de sentar e levantar e na escala de capacidade funcional ECOG.

Tabela 2
Avaliações da dor, Eastern Cooperative Oncology Group e o teste do sentar e levantar pré e pós-intervenção da fisioterapia

A tabela 3 mostra o uso de fármacos para a redução da dor durante o período de internação, classificados como não opioides, opioides e ausência de fármacos para dor. Não houve diferenças significativas entre os grupos estratificados pelo número de sessões de fisioterapia. Esse resultado sugere que a redução nos escores de dor estejam relacionados à intervenção fisioterapêutica quando ≥ 6 sessões.

Tabela 3
Fármacos para o controle da dor prescritos durante o período de internação, estratificados pelo número de sessões de fisioterapia

Houve correlação significativa (r=0,81; p<0,001) entre a redução da dor mensurada pela EVN e a redução da dor mensurada pelo questionário McGill Total. Ambos os instrumentos foram capazes de mensurar a redução da dor oncológica dos pacientes submetidos à fisioterapia.

DISCUSSÃO

Os resultados encontrados demonstraram que a fisioterapia com ênfase na cinesioterapia reduziu a dor oncológica de pacientes hospitalizados. A EVN e o questionário de McGill mostraram diminuição da dor nos pacientes que realizaram no mínimo seis sessões de fisioterapia. Além disso, encontrou-se forte associação entre os dois instrumentos de avaliação da dor pós-intervenção da fisioterapia.

Corroborando o presente estudo, Rett et al.1717 Rett MT, Mesquita PJ, Mendonça AR, Moura DP, DeSantana JM. A cinesioterapia reduz a dor no membro superior de mulheres submetidas à mastectomia ou quadrantectomia. Rev Dor. 2012;13(3):201-7. relataram que a cinesioterapia contribuiu efetivamente na redução da dor do membro superior em paciente com câncer de mama. Esses autores mostraram que a diminuição da dor ocorreu a partir da 10ª sessão de fisioterapia1717 Rett MT, Mesquita PJ, Mendonça AR, Moura DP, DeSantana JM. A cinesioterapia reduz a dor no membro superior de mulheres submetidas à mastectomia ou quadrantectomia. Rev Dor. 2012;13(3):201-7.. A atuação da fisioterapia nos pacientes em cuidados paliativos pode ser realizada com técnicas manuais de distração, massagem e relaxamento1818 Barawid E, Covarrubias N, Tribuzio B, Liao S. The benefits of rehabilitation for palliative care patients. Am J Hosp Palliat Med 2015;32(1):34-43.. Um estudo realizado por Reis et al.1919 Reis AD, Pereira PT, Diniz RR, de Castro Filha JG, Dos Santos AM, Ramallo BT, et al. Effect of exercise on pain and functional capacity in breast cancer patients. Health Qual Life Outcomes. 2018;16(1):58., composto por exercícios aeróbicos, resistidos e de flexibilidade, foi capaz de reduzir a intensidade da dor em pacientes submetidos ao tratamento oncológico. Estudos sugerem que os exercícios físicos possam modular o sistema endógeno de inibição da dor66 Lima VL, Abner TS, Sluka KA. Does exercise increase or decrease pain? Central mechanisms underlying these two phenomena. J Physiol. 2017;595(13):4141-50.. Em pacientes com câncer avançado, a analgesia produzida por seis sessões de fisioterapia incluindo técnicas de massagem, mobilização e cinesioterapia foi relatada por López-Sendín et al.2020 López-Sendín N, Alburquerque-Sendín F, Cleland JA, Fernández-de-las-Peñas C. Effects of physical therapy on pain and mood in patients with terminal cancer: A pilot randomized clinical trial. J Altern Complement Med. 2012;18(5):480-6., corroborando os presentes resultados.

Embora a dor seja uma sensação subjetiva e particular de cada paciente, deve-se adotar métodos adequados na avaliação da dor do paciente oncológico. O questionário de McGill avalia a dor de forma multidimensional com escore geral ou em dimensões sensitiva, afetiva, avaliativa e mista2121 Mendes PM, Avelino FV, Santos AM, Falcão LM, Dias SR, Soares AH. Aplicação da escala de McGill para avaliação da dor em pacientes oncológicos. Rev Enferm UFPE. 2016;10(11):4051-7.. O McGill fornece dados abrangentes, capazes de identificar aspectos físicos, psicológicos ou comportamentais da dor88 Barbosa IM, Sales DS, Oliveira LM, Sampaio DV, Milhome AG. Pain in onco-hematologic patients and its association with analgesia. Rev Dor. 2016;17(3):178-82.. Por outro lado, a EVN é uma escala unidimensional que mensura a intensidade da dor, muito utilizada devido a sua rapidez de entendimento2222 Martinez JE, Grassi DC, Marques LG. Analysis of the applicability of different pain questionnaires in three hospital settings: outpatient clinic, ward and emergency unit. Rev Bras Reumatol. 2011;51(4):299-308. English, Portuguese..

No presente estudo houve prevalência de sedentarismo, corroborando os resultados encontrados por Rogers et al.2323 Rogers LQ, Markwell SJ, Courneya KS, McAuley E, Verhulst S. Physical activity type and intensity among rural breast cancer survivors: patterns and associations with fatigue and depressive symptoms. J Cancer Surviv. 2011;5(1):54-61., que avaliaram o nível de atividade física em 483 pacientes com câncer de mama. A presente amostra apresentou peso corporal abaixo do ideal em 55% dos pacientes, IMC ≤22kg/m2 nos idosos ou <18,5kg/m2 nos adultos com menos de 60 anos. Segundo um estudo que avaliou o estado nutricional de 96 pacientes oncológicos, houve predominância de desnutrição nessa população2424 Dos Santos CA, Ribeiro AQ, Rosa Cde O, Ribeiro Rde C. [Depression, cognitive deficit and factors associated with malnutrition in elderly people with cancer]. Cienc Saude Colet. 2015;20(3):751-60., corroborando os presentes resultados. O baixo peso geralmente está associado à perda progressiva de massa corporal, comprometimento funcional e ao tratamento por quimioterapia2424 Dos Santos CA, Ribeiro AQ, Rosa Cde O, Ribeiro Rde C. [Depression, cognitive deficit and factors associated with malnutrition in elderly people with cancer]. Cienc Saude Colet. 2015;20(3):751-60..

Dois estudos2525 Boaventura AP, Vedovato CA, Santos FF. Perfil dos pacientes oncológicos atendidos em uma unidade de emergência. Cien Enferm. 2015;21(2):51-62.,2626 Visentin A, Mantovani MF, Kalinke LP, Boller S, Sarquis LM. Palliative therapy in adults with cancer: a cross-sectional study. Rev Bras Enferm. 2018;71(2):252-8. English, Portuguese. caracterizaram os perfis clínicos dos pacientes oncológicos, demonstrando prevalência do sexo masculino, diagnóstico de tumores sólidos, realizando tratamento com quimioterapia paliativa, apresentando como sinal e sintomas mais comum a dor, resultados que corroboram com este estudo.

Um ensaio clínico randomizado avaliou os efeitos do treinamento aeróbio associado ao fortalecimento muscular em pacientes com câncer de pulmão em tratamento quimioterápico2727 Pyszora A, Budzynski J, Wójcik A, Prokopv A, Krajnik M. Physiotherapy programme reduces fatigue in patients with advanced cancer receiving palliative care: randomized controlled trial. Support Care Cancer. 2017;25(9):2899-908. Erratum in: Support Care Cancer. 2017;25(9):2909.. Os autores relataram redução da fadiga relacionada ao câncer e melhora da independência funcional das atividades da vida diária, mensuradas pelo Índice de Barthel, após o programa de exercícios físicos supervisionados2727 Pyszora A, Budzynski J, Wójcik A, Prokopv A, Krajnik M. Physiotherapy programme reduces fatigue in patients with advanced cancer receiving palliative care: randomized controlled trial. Support Care Cancer. 2017;25(9):2899-908. Erratum in: Support Care Cancer. 2017;25(9):2909.. Os estudos de Pereira, Santos e Sarges1515 Pereira EE, Santos NB, Sarges ES. Avaliação da capacidade funcional do paciente oncogeriátrico hospitalizado. Rev Pan-Amaz Saude. 2014;5(4):37-44. e Mangia et al.1010 Mangia SA, Coqueiro NLO, Azevedo FC, Araujo HTS, Amorim EO, Alves CNR, et al. What clinical, functional, and psychological factors before treatment are predictors of poor quality of life in cancer patients at the end of chemotherapy? Rev Assoc Med Bras. 2017;63(11):978-87. relataram que a capacidade funcional avaliada pelo questionário ECOG e o TSL pode contribuir na elaboração de planos de cuidados para assistência ao paciente oncológico, sendo que por meio da identificação da funcionalidade norteiam-se medidas que previnem ou reduzem o comprometimento funcional e os riscos de complicações. Entretanto, no presente estudo não foram observadas mudanças significativas na capacidade funcional após a intervenção da fisioterapia.

CONCLUSÃO

O programa de fisioterapia com mínimo de seis sessões e ênfase na cinesioterapia promoveram redução da dor oncológica em pacientes hospitalizados. No questionário McGill, a frequência dos descritores sensitivo e misto diminuiu após a intervenção da fisioterapia.

REFERENCES

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Set 2019
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2019

Histórico

  • Recebido
    09 Dez 2018
  • Aceito
    02 Jul 2019
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