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Considerações sobre o novo conceito de dor

Senhor editor,

Nos últimos 41 anos a definição de dor adotada pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) e divulgada amplamente pelo mundo conceituava a dor como “uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada a uma lesão tecidual real ou potencial, ou descrita nos termos de tal lesão”. Quando foi elaborada essa definição, era suficiente para abranger a dor da maneira como ela era conhecida naquele momento. Entretanto, as últimas décadas foram marcadas por um desenvolvimento tecnológico intenso e, associado a ele, um melhor entendimento das condições e dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos na nocicepção. Houve também aumento na humanização da medicina como um todo. O ser humano passou a ser olhado com a empatia e a complexidade que merece e o conceito de dor total, assim como seus aspectos multidisciplinares, ganhou espaço na comunidade médica.

Atualmente, é sabido que a dor nem sempre está relacionada a uma lesão tecidual evidente em termos histopatológicos, e que o estado emocional do paciente influencia diretamente a percepção que ele tem sobre a dor. Sendo assim, pacientes com dor crônica ou outros problemas que afetam a estabilidade psicológica podem apresentar quadros mais intensos de dor relatada. Dessa forma, cada vez mais, a comunidade médica entendeu que a percepção dolorosa é extremamente individual e altamente influenciada por fatores externos.

Diante disso, a IASP elaborou novo conceito, capaz de abraçar tudo que foi conquistado em termos de avanços tecnológicos e clínicos, para a definição de dor. Dessa forma, atualmente a dor passou a ser conceituada como “uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidual real ou potencial”.

Essa atualização do conceito de dor, publicada pela força tarefa da IASP em julho de 202011 Raja SN, Carr DB, Cohen M, Finnerup NB, Flor H, Gibson S, et al. The revised International Association for the Study of Pain definition of pain: concepts, challenges, and compromises. Pain. 2020;23. doi: 10.1097/j.pain.0000000000001939. Online ahead of print.
https://doi.org/10.1097/j.pain.000000000...
, e traduzida para o português pela Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED)22 https://sbed.org.br/wp-content/uploads/2020/08/Defini%C3%A7%C3%A3o-revi-sada-de-dor_3.pdf
https://sbed.org.br/wp-content/uploads/2...
,33 Jornal Dor (Publicação da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor - Ano XVIII - 2º Trimestre de 2020 - edição 74, 11-8p., ressalta a presença de dor mesmo na ausência de lesão, por meio de um enunciado objetivo, sucinto e validado para diversos idiomas e

culturas, contemplado em uma única frase, beneficiando pesquisadores e clínicos pela delimitação do conceito a ser investigado. Embora aceita pela maioria, vários clínicos e alguns pacientes manifestaram sua insatisfação com a atualização do conceito, principalmente por meio das redes sociais. Consideramos importante destacar que a definição de dor proposta pela IASP não tem a ambição de estabelecer diagnóstico, conduzir plano de tratamento nem de prever prognóstico aos pacientes com dor. As notas que seguem ao enunciado atualizado de dor enfatizam a variabilidade da manifestação clínica da dor e os diversos componentes que compõem a dor; e evidenciam o respeito à subjetividade de cada paciente com dor. Reconhecemos e aplaudimos o esforço da força tarefa e o rigor metodológico descrito no artigo que publicou o novo conceito, que atualiza de modo elegante o entendimento que a comunidade científica tem atualmente sobre esse fenômeno dinâmico, a dor!

REFERENCES

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Set 2020
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2020
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