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Terapêuticas não farmacológicas para disfunções sexuais dolorosas em mulheres: revisão integrativa

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS:

Disfunções sexuais associadas a sintomas dolorosos podem repercutir sobre a funcionalidade gênito-pélvica feminina. O objetivo deste estudo foi identificar terapêuticas não farmacológicas analgésicas utilizadas em disfunções sexuais dolorosas a fim de contribuir com a prática clínica e terapêutica no cuidado integral à saúde sexual feminina.

CONTEÚDO:

Trata-se de revisão integrativa realizada nas bases de dados Pubmed, LILACS, Scielo, PEDro e Biblioteca Virtual da Saúde. As buscas foram realizadas utilizando as combinações: “dysfunction” AND “pain” AND ‘’sexual’’ AND ‘’treatment’’. Os critérios de inclusão permitiram a análise de seis artigos publicados no período de janeiro de 2009 a agosto de 2019. Observou-se que as disfunções na musculatura do assoalho pélvico podem estar associadas a quadros álgicos e disfunções sexuais, de modo que intervenções não farmacológicas analgésicas podem proporcionar maior relaxamento muscular e autopercepção perineal, reduzindo, assim, sintomas dolorosos no ciclo de resposta sexual.

CONCLUSÃO:

O tratamento de disfunções sexuais dolorosas com utilização de recursos não farmacológicos, através de técnicas como a massagem perineal, liberação miofascial, treinamento muscular, biofeedback, dilatadores vaginais, eletroestimulação e radiofrequência visam proporcionar melhora no desempenho sexual e na qualidade de vida feminina.

Descritores:
Dor pélvica; Saúde da mulher; Sexualidade

ABSTRACT

BACKGROUND AND OBJECTIVES:

Sexual dysfunctions associated with pain symptoms can affect female genito-pelvic functionality. The objective of this study was to identify non-pharmacological analgesic therapies used in painful sexual dysfunctions to guide clinical and therapeutic practice in comprehensive care of women’s sexual health.

CONTENTS:

An integrative review, carried out in the Pubmed, LILACS, Scielo, PEDro and Biblioteca Virtual de Saúde databases. The searches were performed using the combinations: “dysfunction” AND “pain” AND “sexual” AND “treatment”. The inclusion criteria allowed the analysis of six articles published between January 2009 and August 2019. It was observed that dysfunctions in the muscles of the pelvic floor may be associated with pain and sexual dysfunctions, thus, non-pharmacological analgesic interventions can provide greater muscle relaxation and perineal self-perception, reducing painful symptoms in the sexual response cycle.

CONCLUSION:

The treatment of painful sexual dysfunctions with the use of non-pharmacological resources, using techniques such as perineal massage, myofascial release, muscle training, biofeedback, vaginal dilators, electrostimulation, and radiofrequency aim to improve sexual performance and quality of life for women.

Keywords:
Pelvic pain; Sexuality; Women’s health

INTRODUÇÃO

A disfunção sexual (DS) apresenta-se como um problema de saúde cada vez mais frequente em mulheres, envolvendo fatores biológicos, psicológicos, relacionais e socioculturais, sendo, portanto, de causalidade multifatorial. A DS pode incluir disfunção no desejo/excitação sexual, disfunção do orgasmo e dor genito-pélvica11 Santos SR, Oliveira CM. Disfunção sexual na mulher: uma abordagem prática. Rev Port Med Geral Fam. 2015;31(5):351-3.. Dentre as disfunções e distúrbios que afetam a saúde sexual feminina, destaca-se a dispareunia, desconforto após ou no decurso da relação sexual, caracterizada como incômodo, ardência ou até mesmo quadro doloroso que compromete o desempenho sexual. Em estudo feito nos EUA, estima-se a incidência de dispareunia entre 8 e 21% no público feminino22 Laumann EO, Paik A, Rosen RC. Sexual dysfunction in the United States: prevalence and predictors. 1999;281(6):537-44..

Todavia, ainda ocorrem barreiras no processo de adesão à reabilitação pélvica33 Ghaderi F, Bastani P, Hajebrahimi S, Jafarabadi MA, Berghmans B. Pelvic floor rehabilitation in the treatment of women with dyspareunia: a randomized controlled clinical trial. Int Urogynecol J. 2019;30(11):1849-55.. A dispareunia44 Holanda JB, Abuchaim ES, Coca KP, Abraão AC. Disfunção sexual e fatores associados relatados no período pós-parto. Acta Paul Enferm. 2014;27(6):573-8. é uma das principais disfunções sexuais no puerpério, comprometendo o desejo, a satisfação e a frequência das relações sexuais, possivelmente relacionada ao pós-parto, presença de episiotomia e/ou lacerações e à amamentação. Ressalta-se, também, que a dispareunia afeta a vida sexual de mulheres com endometriose e no climatério55 Lima RV, Pereira AMG, Beraldo FB, Gazzo C, Martins JA, Lopes RGC. Função sexual feminina em mulheres com suspeita de endometriose com infiltração profunda. Rev Bras Ginecol. 2018;40(3):115-20.. Outra disfunção sexual dolorosa é denominada de vaginismo, quando há contração involuntária e espasmódica na musculatura do canal vaginal que pode estar relacionada a fatores psicológicos, a hipertonia dos músculos do assoalho pélvico (MAP), a hipersensibilidade no introito vaginal, impedindo, assim, a penetração66 Berghmans B. Physiotherapy for pelvic pain and female sexual dysfunction: an untapped resource. Int Urogynecol J. 2018; 29(5):631-8..

Pode haver a associação de quadros álgicos a eventos traumáticos66 Berghmans B. Physiotherapy for pelvic pain and female sexual dysfunction: an untapped resource. Int Urogynecol J. 2018; 29(5):631-8. na região da MAP, sejam eles por violência sexual ou episiotomias, e a fatores congênitos de formação do canal vaginal. Dessa forma, há repercussão sobre a funcionalidade gênito-pélvica e o desempenho sexual feminino.

O processo característico de dor na região genital também pode estar relacionado a situações inflamatórias, como infecções, tornando a área vulvar e vaginal hipersensível ao toque. Outro aspecto que contribui para sensação álgica na atividade sexual da mulher é a síndrome geniturinária da menopausa (SGM), associada a atrofia vaginal, redução de lubrificação e ressecamento vaginal77 Amaral AD, Pinto AM. Female genito-pelvic pain/penetration disorder: review of the related factors and overall approach. Rev Bras Ginecol Obstet. 2018;40(12):787-93..

Entre as DS destaca-se, ainda, a vulvodínia, a qual é caracterizada pela hipersensibilidade vulvar, dor e irritação na região genital feminina88 Bachmann GA, Brown CS, Phillips NA, Wood R, Foster DC. Effect of gabapentin on sexual function in vulvodynia: a randomized, placebo-controlled trial. Am J Obstet Gynecol. 2019;220(1):89. E1-89. E8.. Há casos de dores crônicas gênito-pélvicas associadas a vulvodínia, ocorrendo dor ao mínimo aumento da pressão sobre a genitália mesmo em atividades de vida diária (AVD). Tais sinais e sintomas tornam-se relevantes na condução da avaliação funcional pélvica e na definição do plano terapêutico99 Kim SJ, Kim J, Yoon H. Sexual pain and IC/BPS in women. BMC Urol. 2019;19(1):47..

As DS dolorosas costumam impactar mulheres sexualmente ativas diretamente, podendo a disfunção gênito-pélvica gerar limitações e restrições de atividades e participação social feminina, de acordo com a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF)66 Berghmans B. Physiotherapy for pelvic pain and female sexual dysfunction: an untapped resource. Int Urogynecol J. 2018; 29(5):631-8.. Dessa maneira, a fisioterapia na saúde da mulher, ao realizar o manejo terapêutico em diferentes modalidades, desempenha importante papel na reinserção dessas mulheres ao ciclo funcional e indolor no âmbito da sexualidade.

Nesse sentido, objetivou-se identificar terapêuticas analgésicas não farmacológicas utilizadas em diferentes DS a fim de contribuir com a prática clínica e terapêutica no cuidado integral à saúde sexual feminina.

CONTEÚDO

Este estudo caracteriza-se como uma revisão integrativa, realizada nas bases: Pubmed, LILACS, Scielo, PEDro e Biblioteca Virtual da Saúde. A pergunta norteadora do estudo foi “identificar quais modalidades terapêuticas não farmacológicas são utilizadas para induzir a analgesia em mulheres com DS dolorosas”. As buscas foram realizadas, utilizando as combinações: “dysfunction” AND “pain” AND “sexual” AND “treatment”. Os critérios de inclusão foram artigos completos e publicados no período de janeiro de 2009 a agosto de 2019 nos idiomas português, inglês e espanhol; estudos com delineamento metodológico de ensaio clínico controlado e randomizado apresentando análise para o desfecho dor; ensaios cínicos não randomizados com relevância temática; artigos de revisão que apresentaram no título e resumo intervenção não farmacológica para analgesia na reabilitação pélvica para disfunção sexual.

Os artigos identificados pela estratégia de busca inicial foram analisados observando os critérios de elegibilidade definidos no protocolo de pesquisa e classificados com base na categorização da Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ) para a classificação de evidências1010 Galvão CM. Níveis de evidência. Acta Paul. Enferm. 2006;19(2):5-5. em sete níveis: nível 1, evidências provenientes de revisão sistemática ou metanálise dos relevantes ensaios clínicos randomizados controlados ou oriundas de diretrizes clínicas baseadas em revisões sistemáticas de ensaios clínicos randomizados controlados; nível 2, evidências derivadas de, pelo menos, um ensaio clínico randomizado controlado bem delineado; nível 3, evidências obtidas de ensaios clínicos bem delineados sem randomização; nível 4, evidências provenientes de estudos de coorte e de caso-controle bem delineados; nível 5, evidências originárias de revisão sistemática de estudos descritivos e qualitativos; nível 6, evidências derivadas de um único estudo descritivo ou qualitativo; nível 7, evidências oriundas de opinião de autoridades e/ou relatório de comitês de especialistas.

A revisão foi realizada de acordo com as diretrizes do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis (PRISMA)1111 Galvão TF, Pansani TSA, Harrad D. Principais itens para relatar Revisões sistemáticas e meta-análises: a recomendação PRISMA. Epidemiol Serv Saúde. 2015;24(2):335-42.. As etapas da pesquisa estão demonstradas na figura 1, de acordo com o procedimento metodológico proposto no estudo. Foram excluídos estudos em duplicidade nas bases de dados.

Figura 1
Seleção dos estudos

Após a realização da pesquisa nas bases de dados foram encontrados 463 estudos no total dos quais 24 foram provenientes da Scielo, 425 da Pubmed, 14 da PEDro e BVS. Nesse sentido, foram considerados de acordo com os critérios de elegibilidade 20 estudos nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola. A presente revisão incluiu seis artigos, os quais apontaram modalidades terapêuticas não farmacológicas para analgesia relacionada à disfunção sexual, com descrição na tabela 1. Os 14 artigos excluídos não abordavam terapêuticas não farmacológicas para DS.

Tabela 1
Características dos artigos incluídos na revisão

Mediante o levantamento dos artigos, a tabela 1 apresenta características dos seis artigos incluídos, os quais evidenciam modalidades terapêuticas para disfunções sexuais femininas.

Os artigos analisados na revisão integrativa apontam, com base na classificação da AHRQ1010 Galvão CM. Níveis de evidência. Acta Paul. Enferm. 2006;19(2):5-5., níveis 2, 3, 5 e 6 de evidência, corroborando a literatura científica66 Berghmans B. Physiotherapy for pelvic pain and female sexual dysfunction: an untapped resource. Int Urogynecol J. 2018; 29(5):631-8.,1616 Stein SR, Pavan FV, Nunes EFC, Latorre GFS. Entendimento da fisioterapia pélvica como opção de tratamento para as disfunções do assoalho pélvico por profissionais de saúde da rede pública. Rev Ciênc Med. 2018;27(2):65-72.,1717 Retzky SS, Rogers JRRM. Urinary incontinence in women. Clin Symposia. 1995;47(3):2-32. para a prática clínica e terapêutica nas disfunções sexuais. Destacaram-se os recursos terapêuticos manuais, como a massagem perineal e liberação miofascial, e recursos eletroterapêuticos na diminuição de quadros álgicos no ciclo de resposta sexual.

A funcionalidade gênito-pélvica é associada ao desempenho da MAP, a qual, quando enfraquecida, potencializa a emergência de disfunções no sistema geniturinário1818 Gosling JA, Dixon JS, Critchley HO, Thompson SA. A comparative study of the human external sphincter and periurethral levator ani muscle. Br J Urol. 1981;53(1):35-41.,1919 Assis TR, Sá AC, Amaral WN, Batista EM, Formiga CK, Conde DM. Efeito de um programa de exercícios para o fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico de multíparas. Rev Bras Ginecol Obstet. 2013;35(1):10-5.. A MAP também tem importante papel na função sexual, portanto, o treinamento dessa musculatura é indispensável para o aumento da capacidade de contração voluntária, resistência e relaxamento muscular pélvico1414 Barreto KL, Mesquita YA, Santos Junior FFU, Gameiro MO. Treinamento da força muscular do assoalho pélvico e os seus efeitos nas disfunções sexuais femininas. Motri. 2018;14(1):424-7..

Além do treinamento da MAP, estudos11 Santos SR, Oliveira CM. Disfunção sexual na mulher: uma abordagem prática. Rev Port Med Geral Fam. 2015;31(5):351-3.,77 Amaral AD, Pinto AM. Female genito-pelvic pain/penetration disorder: review of the related factors and overall approach. Rev Bras Ginecol Obstet. 2018;40(12):787-93.,1414 Barreto KL, Mesquita YA, Santos Junior FFU, Gameiro MO. Treinamento da força muscular do assoalho pélvico e os seus efeitos nas disfunções sexuais femininas. Motri. 2018;14(1):424-7. apontam a relevância de outras modalidades terapêuticas não farmacológicas no tratamento de disfunções sexuais dolorosas por oferecer maior eficácia, baixo custo e baixo potencial de riscos à saúde da mulher.

Massagem perineal/massagem de Thiele

O emprego da técnica de massagem perineal em casos de mulheres com dispareunia associada à DPC aponta resultados satisfatórios na redução da dor durante as relações sexuais. A massagem promove o relaxamento da musculatura perineal aliviando, assim, pontos de tensão existentes durante o percurso do músculo e uma dessensibilização na região, o que diminui as recorrências de processos álgicos, não apenas durante o ato sexual, mas também colabora positivamente nos casos de dores pélvicas. Apresenta, assim, resultados benéficos à qualidade de vida das mulheres com dispareunia/DPC1212 Silva APM, Montenegro ML, Gurian MBF, Mitidieri AM, Silva LL, Benedicto PL, et al. Perineal massage improves the dyspareunia caused by tenderness of the pelvic floor muscles. Rev Bras Ginecol Obstet. 2017;39(1):26-30.. Também há outras técnicas com esse tipo de ação, como será descrito no artigo.

Com as técnicas manuais é possível induzir analgesia na MAP e diminuir sua atividade contrátil. Por meio de técnicas de massagens realizadas no canal vaginal das mulheres com dispareunia, é possível a desativação de pontos-gatilho dolorosos e estimular a circulação sanguínea no local, aspecto relevante no processo de reestabelecimento da atividade muscular22 Laumann EO, Paik A, Rosen RC. Sexual dysfunction in the United States: prevalence and predictors. 1999;281(6):537-44.. Dessa forma, a Fisioterapia, por meio de técnicas não farmacológicas e utilizando-se de recursos terapêuticos manuais, como a liberação miofascial, contribui satisfatoriamente no tratamento da dor provocada por disfunções a nível muscular/miofascial66 Berghmans B. Physiotherapy for pelvic pain and female sexual dysfunction: an untapped resource. Int Urogynecol J. 2018; 29(5):631-8..

Treinamento muscular da região pélvica

A reabilitação e o fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico possuem efeitos satisfatórios na vida sexual das mulheres. O treinamento e a conscientização da MAP têm sido apontados como técnicas para auxiliar no tratamento das disfunções sexuais femininas1414 Barreto KL, Mesquita YA, Santos Junior FFU, Gameiro MO. Treinamento da força muscular do assoalho pélvico e os seus efeitos nas disfunções sexuais femininas. Motri. 2018;14(1):424-7.,1919 Assis TR, Sá AC, Amaral WN, Batista EM, Formiga CK, Conde DM. Efeito de um programa de exercícios para o fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico de multíparas. Rev Bras Ginecol Obstet. 2013;35(1):10-5..

O TMAP promove o aumento da força dos músculos do trígono urogenital e do levantador do ânus, melhorando a resposta do reflexo sensório-motor, contração involuntária da MAP durante o orgasmo, o fluxo sanguíneo pélvico e a lubrificação vaginal1313 Piassaroli VP, Hardy E, Andrade NF, Ferreira NO, Ossis MJO. Treinamento dos músculos do assoalho pélvico nas disfunções sexuais femininas. Rev Bras Ginecol Obstet. 2010; 32(5):234-40..

Biofeedback pressórico e eletromiográfico

A utilização de estímulos sensoriais proprioceptivos através do aparelho de biofeedback favorece o processo de reconhecimento e autopercepção da região perineal e da MAP. O biofeedback pressórico é utilizado com a introdução na região vaginal da sonda inflável endocavitária, a qual deve ser associada à contração da musculatura para ganho de força e resistência. O aparelho permite o feedback visual dos níveis pressóricos da MAP. Além disso, a combinação do biofeedback com os exercícios de treinamento da MAP potencializa a força, a percepção e o desempenho muscular2020 Cacchioni T, Wolkowitz C. Treating women's sexual difficulties: the body work of sexual therapy. Sociol Health Illn. 2011;33(2):266-79..

A proposta terapêutica da técnica do biofeedback em casos de pacientes com dispareunia consiste em reduzir o ciclo de dor-espasmo-dor presente no ato da penetração. É técnica de baixo custo e promove resultados para a redução da dor e dessensibilização perineal33 Ghaderi F, Bastani P, Hajebrahimi S, Jafarabadi MA, Berghmans B. Pelvic floor rehabilitation in the treatment of women with dyspareunia: a randomized controlled clinical trial. Int Urogynecol J. 2019;30(11):1849-55.,2020 Cacchioni T, Wolkowitz C. Treating women's sexual difficulties: the body work of sexual therapy. Sociol Health Illn. 2011;33(2):266-79..

Dilatadores vaginais

Os dilatadores vaginais contribuem positivamente na ampliação da elasticidade do canal vaginal, desempenhando papel terapêutico não farmacológico para o vaginismo e dispareunia. Seu manejo auxilia no processo adaptativo miofascial da vagina, permitindo a progressão no tamanho dos dilatadores de acordo com o processo de aceitação da paciente, respeitando seus limites de conforto, de modo a contribuir com a redução da percepção dolorosa durante a relação sexual66 Berghmans B. Physiotherapy for pelvic pain and female sexual dysfunction: an untapped resource. Int Urogynecol J. 2018; 29(5):631-8.,2020 Cacchioni T, Wolkowitz C. Treating women's sexual difficulties: the body work of sexual therapy. Sociol Health Illn. 2011;33(2):266-79.. De acordo com revisão publicada pela Cochrane2121 Melnik T, Hawton K, McGuire H. Interventions for vaginismus. Cochrane Database Syst Rev. 2012;(12):CD001760., a dessensibilização sistemática, que pode incluir técnicas de relaxamento e o uso de dilatadores progressivamente maiores, parece ter eficácia quando comparada à terapia cognitiva ou às intervenções farmacológicas2222 Carvalho JC, Agualusa LM, Moreira LM, Costa JC. Terapêutica multimodal do vaginismo: abordagem inovadora por meio de infiltração de pontos gatilho e radiofrequência pulsada do nervo pudendo. Rev Bras Anestesiol. 2017;67(6):632-6..

Eletroestimulação

A eletroestimulação como terapêutica não farmacológica aplicada à disfunção sexual tem demonstrado eficácia devido a seus efeitos terapêuticos como analgesia, relaxamento muscular e aumento da circulação local2222 Carvalho JC, Agualusa LM, Moreira LM, Costa JC. Terapêutica multimodal do vaginismo: abordagem inovadora por meio de infiltração de pontos gatilho e radiofrequência pulsada do nervo pudendo. Rev Bras Anestesiol. 2017;67(6):632-6.,2323 Wolpe RE, Toriy MAS, Zombowski K, Sperandio FF. Atuação da fisioterapia nas disfunções sexuais femininas: uma revisão sistemática. Acta Fisiatr. 2015;22(2):87-92., promovendo melhora nas queixas dolorosas e na sensibilidade perineal. Esta técnica consiste na colocação intravaginal de eletrodo vaginal ou eletrodo de superfície na região perineal, com baixa frequência na TENS ou média/alta frequência para reforço muscular, o qual promove estímulos elétricos na região pudenda e sacral, devendo a intensidade ser ajustada ao nível sensório-motor de acordo com o objetivo terapêutico e conforto da paciente. Esta modalidade também induz a conscientização do assoalho pélvico, a analgesia e o fortalecimento muscular.

Terapia com a radiofrequência fracionada microablativa (RFFMA)

No período pós-menopausa há o surgimento frequente de alterações na região genital feminina, tais transformações podem impactar na funcionalidade pélvica. Esse conjunto de alterações com a redução da lubrificação vaginal, a estenose vaginal por perda do componente elástico e por parte da redução do colágeno, quadros álgicos, desconfortos e dispareunia podem interferir negativamente no desempenho sexual e satisfação pessoal durante o ato sexual.

Esse complexo de alterações é conhecido como a SGM1515 Kamilos MF, Borrelli CL. Nova opção terapêutica na síndrome geniturinária da menopausa: estudo piloto utilizando radiofrequência fracionada microablativa. Einstein. 2017;15(4):445-51.. Uma forma de tratamento consiste na aplicação do laser ou a RFFMA diretamente no canal e introito vaginais com intuito de estimular a neocolagênese e a neoelastogênese na mucosa vaginal e acelerar o processo de reestruturação das células epiteliais da região genital. Dessa maneira, a aplicação da técnica RFFMA contribui satisfatoriamente na redução dos efeitos de secura vaginal e dispareunia, reduzindo a queixa dolorosa1515 Kamilos MF, Borrelli CL. Nova opção terapêutica na síndrome geniturinária da menopausa: estudo piloto utilizando radiofrequência fracionada microablativa. Einstein. 2017;15(4):445-51..

Em síntese, as modalidades terapêuticas não-farmacológicas aplicadas a DS dolorosas vêm demonstrando sua eficácia e evidência científica, todavia, a literatura ainda é incipiente na área, sendo necessários mais estudos clínicos randomizados controlados, com comparação de técnicas e demonstração de suas efetividades.

CONCLUSÃO

O tratamento de DS dolorosas com a utilização de recursos não farmacológicos visa promover a saúde sexual feminina induzindo a analgesia e o relaxamento da MAP por meio de técnicas como a massagem perineal, liberação miofascial, TMAP, biofeedback, dilatadores vaginais, eletroestimulação e radiofrequência.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Out 2021
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2021

Histórico

  • Recebido
    16 Jul 2020
  • Aceito
    11 Jul 2021
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