Acessibilidade / Reportar erro

Parâmetros e resultados da neuromodulação não invasiva no manejo da dor pélvica crônica: revisão integrativa da literatura

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS:

A dor pélvica crônica (DPC) é caracterizada pela persistência da dor na região pélvica por mais de seis meses, afetando tanto homens quanto mulheres e causando prejuízos significativos na qualidade de vida (QV). Duas das principais abordagens não invasivas são Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) e a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC). Nesse contexto, esta pesquisa realizou uma revisão integrativa da literatura com o intuito de resumir os resultados de estudos relevantes, buscando identificar os principais parâmetros utilizados no tratamento da DPC. O objetivo foi fornecer uma visão abrangente sobre essas técnicas de neuromodulação e suas aplicações específicas no controle da dor pélvica crônica.

CONTEÚDO:

Para esta revisão integrativa, as buscas eletrônicas ocorreram nas bases de dados Pubmed, Scielo, PEDro, Medline, Cochrane e Scopus, verificando estudos em português, inglês ou espanhol. “Dor pélvica”, “estimulação transcraniana por corrente contínua” e “estimulação magnética transcraniana” e suas derivações foram pesquisadas nos três idiomas em estudos entre 2013 e 2023. Sete estudos foram incluídos para análise. Ambas as técnicas apresentaram efeitos positivos no manejo da DPC, melhorando os níveis de dor e a QV em proporções relevantes. Entretanto, ainda não há um consenso sobre os parâmetros aplicados nas técnicas de EMT e ETCC para DPC.

CONCLUSÃO:

A neuromodulação não invasiva melhora os níveis de dor e a QV em pacientes com DPC. São necessários mais estudos para que relações mais confiáveis de parâmetros possam ser preestabelecidas e a ausência de um maior número de estudos limita conclusões acerca do assunto.

Descritores
Dor crônica; Dor pélvica; Estimulaçao magnética transcraniana; Estimulaçao transcraniana por corrente contínua; Neuromodulaçao não invasiva

ABSTRACT

BACKGROUND AND OBJECTIVES:

Chronic Pelvic Pain (CPP) is characterized by persistent pain in the pelvic region for more than six months, affecting both men and women and causing significant impairment in quality of life (QoL). Two of the main non-invasive approaches are Transcranial Magnetic Stimulation (TMS) and Transcranial Direct Current Stimulation (tDCS). These techniques aim to modulate neural activity and promote pain relief. In this context, this research conducted an integrative literature review to summarize the results of relevant studies, aiming to identify the key parameters used in TMS and tDCS for CPP treatment. The objective was to assess the effect and efficacy of non-invasive neuromodulation as a therapeutic intervention for CPP.

CONTENTS:

For this integrative review, electronic searches were conducted in Pubmed, Scielo, PEDro, Medline, Cochrane, and Scopus databases, examining studies in Portuguese, English, or Spanish. The keywords “pelvic pain,” “transcranial direct current stimulation,” and “transcranial magnetic stimulation” and their derivatives were searched in the three languages in studies from 2013 to 2023. Seven studies were included for analysis. Both techniques showed positive effects in managing CPP, improving pain levels and quality of life to a relevant extent. However, there is still no consensus on the parameters applied in TMS and tDCS techniques for CPP.

CONCLUSION:

Non-invasive neuromodulation improves pain levels and quality of life in patients with CPP. Further studies are needed to establish more reliable parameter relationships, and the limited number of studies restricts definitive conclusions on the subject.

Keywords
Chronic pain; Non-invasive neuromodulation; Pelvic pain; Transcranial magnetic stimulation; Transcranial direct current stimulation

DESTAQUES

  • Há uma necessidade de padronização e consenso sobre os parâmetros das técnicas de neuromodulação para dor pélvica crônica.

  • A área de estimulação inclui o córtex motor e o córtex pré-frontal dorsolateral.

  • As técnicas de neuromodulação, como a Estimulação Magnética Transcraniana e a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua, demonstraram potencial para tratar não apenas a dor, mas também outros aspectos, como sono, queixas cognitivas, fadiga, catastrofização, depressão e humor em pacientes com dor pélvica crônica.

DESTAQUES

  • Há uma necessidade de padronização e consenso sobre os parâmetros das técnicas de neuromodulação para dor pélvica crônica.

  • A área de estimulação inclui o córtex motor e o córtex pré-frontal dorsolateral.

  • As técnicas de neuromodulação, como a Estimulação Magnética Transcraniana e a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua, demonstraram potencial para tratar não apenas a dor, mas também outros aspectos, como sono, queixas cognitivas, fadiga, catastrofização, depressão e humor em pacientes com dor pélvica crônica.

INTRODUÇÃO

A dor pélvica crônica (DPC) é a dor na região pélvica que persiste por ao menos seis meses, afetando ambos os sexos e diminuindo o bem-estar geral, a funcionalidade diária e a saúde emocional. Ela também pode induzir sintomas de ansiedade e depressão11 Divandari N, Manshadi FD, Shokouhi N, Vakili M, Jaberzadeh S. Effect of one session of tDCS on the severity of pain in women with chronic pelvic pain. J Bodyw Mov Ther. 2019;23(3):678-82.. Aproximadamente 4% a 16% das mulheres têm DPC, sendo que um terço delas precisa de ajuda médica devido aos sintomas graves22 Calabrò RS, Billeri L, Porcari B, Pignolo L, Naro A. When two is better than one: a pilot study on transcranial magnetic stimulation plus muscle vibration in treating chronic pelvic pain in women. Brain Sci. 2022;12(3):396.. A prevalência de DPC supera a de doenças como asma ou enxaqueca, o que representa uma preocupação significativa para a saúde pública33 Nogueira AA, Reis FJC, Poli Neto OB. Abordagem da dor pélvica crônica em mulheres. Rev Bras Ginecol Obstet. 2006;28(12):733-40..

A fisiopatologia da DPC é complexa, muitas vezes ligada a vários distúrbios, incluindo distúrbios neurológicos, neuroendócrinos e de estresse. Várias condições de dor pélvica podem coexistir, com sobreposição de sintomas atribuída a mecanismos como a sensibilidade cruzada viscero-visceral, em que a atividade em um órgão pode hipersensibilizar outro. Essa exposição prolongada a estímulos de dor pode levar à sensibilização central, uma percepção alterada da dor no sistema nervoso central (SNC) devido à neuroplasticidade44 Lamvu G, Carrillo J, Ouyang C, Rapkin A. Chronic pelvic pain in women: a review. JAMA, 2021;325(23):2381-91.,55 Stratton P, Khachikyan I, Sinaii N, Ortiz R, Shah J. Association of chronic pelvic pain and endometriosis with signs of sensitization and myofascial pain. Obstet Gynecol. 2015;125(3):719-28..

A natureza multifatorial da DPC inclui dimensões ginecológicas, urológicas, gastrointestinais e psicológicas66 Engeler D. Guidelines on chronic pelvic pain. Eur Assoc Urol. 2022.. Uma abordagem abrangente é vital, mas cerca de 60% das mulheres afetadas nunca recebem um diagnóstico definitivo33 Nogueira AA, Reis FJC, Poli Neto OB. Abordagem da dor pélvica crônica em mulheres. Rev Bras Ginecol Obstet. 2006;28(12):733-40.. O tratamento atual da DPC prioriza o controle dos sintomas. A neuromodulação não invasiva, parte do campo em expansão da neuromodulação, surge como uma via terapêutica promissora77 Shi JY, Paredes Mogica JA, De EJB. Non-surgical management of chronic pelvic pain in females. Curr Urol Rep. 2022;23(10):245-54..

De acordo com a Sociedade Internacional de Neuromodulação (SIN), a neuromodulação atua diretamente no SNC, gerando uma alteração ou modulação da atividade neural por meio da distribuição de agentes elétricos ou farmacológicos em uma área específica. Entre os tipos de neuromodulação, as técnicas de estimulação cerebral não invasiva (NIBS) são consideradas terapias promissoras88 Zheng Y, Mao YR, Yuan TF, Xu DS, Cheng LM. Multimodal treatment for spinal cord injury: a sword of neuroregeneration upon neuromodulation. Neural Regen Res. 2020;15(8):1437-50., utilizadas no tratamento de várias condições de dor, como dor neuropática, inflamatória, trigeminal e nociplástica99 Toledo RS, Stein DJ, Sanches PRS, da Silva LS, Medeiros HR, Fregni F, Caumo W, Torres ILS. rTMS induces analgesia and modulates neuroinflammation and neuroplasticity in neuropathic pain model rats. Brain Res. 2021;1762:147427., incluindo a dor pélvica crônica. Essa técnica envolve a modulação da atividade neural por meio da aplicação de uma corrente elétrica ou magnética em uma área-alvo1010 Kesikburun S. Non-invasive brain stimulation in rehabilitation. Turk J Phys Med Rehabil. 2022;68(1):1-8..

As principais técnicas não invasivas são a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) e a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC)1111 Soler MD, Kumru H, Pelayo R, Vidal J, Tormos JM, Fregni F, Navarro X, Pascual-Leone A. Effectiveness of transcranial direct current stimulation and visual illusion on neuropathic pain in spinal cord injury. Brain. 2010 Sep;133(9):2565-77.. O mecanismo de ambas as técnicas não é entendido por completo, mas foi sugerido que elas modulam a função cerebral, induzindo a neuroplasticidade no SNC por meio da modificação do potencial de repouso da membrana e alterando a atividade neuronal por meio da aplicação direta de uma corrente elétrica ou da criação de um campo elétrico com indução magnética no couro cabeludo44 Lamvu G, Carrillo J, Ouyang C, Rapkin A. Chronic pelvic pain in women: a review. JAMA, 2021;325(23):2381-91.. A EMT promove a despolarização, enquanto a ETCC altera o potencial da membrana neuronal. As regiões afetadas incluem a rede cortical pré-frontal, inclusive o córtex pré-frontal dorsolateral (CPFDL) e o córtex motor primário (M1)1212 Mahoney JJ 3rd, Hanlon CA, Marshalek PJ, Rezai AR, Krinke L. Transcranial magnetic stimulation, deep brain stimulation, and other forms of neuromodulation for substance use disorders: Review of modalities and implications for treatment. J Neurol Sci. 2020;418:117149..

A EMT é uma técnica neuromoduladora segura baseada na lei de Faraday da indução eletromagnética. Uma bobina colocada no couro cabeludo gera um campo magnético perpendicular que atinge a região-alvo, tornando a técnica não invasiva. Devido às suas características variáveis em relação ao tempo, o mecanismo gera um campo e correntes elétricas no local-alvo1313 Somaa FA, de Graaf TA, Sack AT. Transcranial magnetic stimulation in the treatment of neurological diseases. Front Neurol. 2022;13:793253.. Essa ferramenta usa um campo eletromagnético para alterar a atividade elétrica neuronal e modificar os padrões de disparo, resultando em várias modificações de conectividade88 Zheng Y, Mao YR, Yuan TF, Xu DS, Cheng LM. Multimodal treatment for spinal cord injury: a sword of neuroregeneration upon neuromodulation. Neural Regen Res. 2020;15(8):1437-50.. Além disso, a EMT de baixa frequência frequência (1 Hz), cadência de pulso de 1 ms e intensidade de 200 mT (militeslas) demonstrou efeitos analgésicos devido aos seus efeitos inibitórios no cérebro99 Toledo RS, Stein DJ, Sanches PRS, da Silva LS, Medeiros HR, Fregni F, Caumo W, Torres ILS. rTMS induces analgesia and modulates neuroinflammation and neuroplasticity in neuropathic pain model rats. Brain Res. 2021;1762:147427..

Um conjunto de diretrizes1414 Lefaucheur JP, Aleman A, Baeken C, Benninger DH, Brunelin J, Di Lazzaro V, Filipović SR, Grefkes C, Hasan A, Hummel FC, Jääskeläinen SK, Langguth B, Leocani L, Londero A, Nardone R, Nguyen JP, Nyffeler T, Oliveira-Maia AJ, Oliviero A, Padberg F, Palm U, Paulus W, Poulet E, Quartarone A, Rachid F, Rektorová I, Rossi S, Sahlsten H, Schecklmann M, Szekely D, Ziemann U. Evidence-based guidelines on the therapeutic use of repetitive transcranial magnetic stimulation (rTMS): An update (2014-2018). Clin Neurophysiol. 2020 Feb;131(2):474-528. mencionou os efeitos promissores da EMT em diferentes casos de dor crônica (DC), concentrando-se nos dois principais alvos da EMT no domínio da dor, ou seja, M1 e CPFDL. Estudos demonstraram que a EMT tem sido usada com sucesso quando aplicada a M1 e CPFDL em casos de DC, incluindo enxaquecas, dores de cabeça e dor lombar. Os resultados demonstraram redução significativa na intensidade da dor persistente após a aplicação da técnica, com efeitos duradouros por várias semanas. Pesquisas sobre dor lombar também mostraram um efeito analgésico significativo após um protocolo de aplicação de 5 dias no M1 direito. No entanto, ainda há poucos dados sobre outras síndromes de DC para recomendar parâmetros específicos de EMT1515 Leung A, Metzger-Smith V, He Y, Cordero J, Ehlert B, Song D, Lin L, Shahrokh G, Tsai A, Vaninetti M, Rutledge T, Polston G, Sheu R, Lee R. Left dorsolateral prefrontal cortex rTMS in alleviating MTBI related headaches and depressive symptoms. Neuromodulation. 2018;21(4):390-401

16 Ambriz-Tututi M, Alvarado-Reynoso B, Drucker-Colín R. Analgesic effect of repetitive transcranial magnetic stimulation (rTMS) in patients with chronic low back pain. Bioelectromagnetics. 2016;37(8):527-35.
-1717 Leung A, Shukla S, Fallah A, Song D, Lin L, Golshan S, Tsai A, Jak A, Polston G, Lee R. Repetitive transcranial magnetic stimulation in managing mild traumatic brain injury-related headaches. Neuromodulation. 2016;19(2):133-41..

Os efeitos fisiológicos da ETCC no controle da dor têm sido estudados desde a década de 1960. Essa intervenção induz mudanças no potencial da membrana neuronal ao alterar as concentrações de íons extracelulares. Portanto, a ETCC é vista como uma intervenção puramente modulatória, promovendo alterações plásticas sinápticas e regulação positiva no M1, potencialmente modificando, indiretamente, a percepção da dor por meio dos núcleos talâmicos1111 Soler MD, Kumru H, Pelayo R, Vidal J, Tormos JM, Fregni F, Navarro X, Pascual-Leone A. Effectiveness of transcranial direct current stimulation and visual illusion on neuropathic pain in spinal cord injury. Brain. 2010 Sep;133(9):2565-77..

Em diretrizes baseadas em evidências1818 Lefaucheur JP, Antal A, Ayache SS, Benninger DH, Brunelin J, Cogiamanian F, Cotelli M, De Ridder D, Ferrucci R, Langguth B, Marangolo P, Mylius V, Nitsche MA, Padberg F, Palm U, Poulet E, Priori A, Rossi S, Schecklmann M, Vanneste S, Ziemann U, Garcia-Larrea L, Paulus W. Evidence-based guidelines on the therapeutic use of transcranial direct current stimulation (tDCS). Clin Neurophysiol. 2017 Jan;128(1):56-92., a ETCC tem como alvo o M1 ou o CPFDL em casos de DC, com a maioria dos estudos aplicando estimulação anódica ao M1 do hemisfério contralateral (para dor focal ou lateralizada) ou ao M1 do hemisfério dominante (para dor mais difusa). Estudos demonstraram que uma única sessão de ETCC pode proporcionar um alívio significativo da dor1818 Lefaucheur JP, Antal A, Ayache SS, Benninger DH, Brunelin J, Cogiamanian F, Cotelli M, De Ridder D, Ferrucci R, Langguth B, Marangolo P, Mylius V, Nitsche MA, Padberg F, Palm U, Poulet E, Priori A, Rossi S, Schecklmann M, Vanneste S, Ziemann U, Garcia-Larrea L, Paulus W. Evidence-based guidelines on the therapeutic use of transcranial direct current stimulation (tDCS). Clin Neurophysiol. 2017 Jan;128(1):56-92..

A confiabilidade da aplicação da intervenção é avaliada com base em fatores como segurança, tolerabilidade, custo e, principalmente, efeitos adversos. A ETCC, em particular, tem uma taxa de efeitos adversos de 10% a 40% entre os indivíduos submetidos à neuromodulação, sendo os principais efeitos adversos, coceira, dor de cabeça, sensação de queimação, desconforto e formigamento1919 Woods AJ, Antal A, Bikson M, Boggio PS, Brunoni AR, Celnik P, Cohen LG, Fregni F, Herrmann CS, Kappenman ES, Knotkova H, Liebetanz D, Miniussi C, Miranda PC, Paulus W, Priori A, Reato D, Stagg C, Wenderoth N, Nitsche MA. A technical guide to tDCS, and related non-invasive brain stimulation tools. Clin Neurophysiol. 2016;127(2):1031-48. Por outro lado, a EMT pode induzir sintomas não graves, como dor de cabeça, desconforto e dor no local da estimulação. Todos os sintomas relatados são leves e transitórios2020 Wang WL, Wang SY, Hung HY, Chen MH, Juan CH, Li CT. Safety of transcranial magnetic stimulation in unipolar depression: A systematic review and meta-analysis of randomized-controlled trials. J Affect Disord. 2022;301:400-25.

Os parâmetros utilizados são um dos fatores que influenciam diretamente o efeito terapêutico das NIBS. Na EMT essas medidas podem ser exemplificadas e moduladas com base no tipo de campo magnético, amplitude, tipo de bobina, frequência e número de sessões. Os parâmetros utilizados desempenham um papel significativo na influência dos efeitos terapêuticos da NIBS. No caso da estimulação magnética transcraniana repetitiva (EMTr), essas medidas incluem o tipo de campo magnético, a amplitude, o tipo de bobina, a frequência e o número de sessões2121 Baptista AF, Fernandes AMBL, Sá KN, Okano AH, Brunoni AR, Lara-Solares A, Jreige Iskandar A, Guerrero C, Amescua-García C, Kraychete DC, Caparelli-Daquer E, Atencio E, Piedimonte F, Colimon F, Hazime FA, Garcia JBS, Hernández-Castro JJ, Cantisani JAF, Karina do Monte-Silva K, Lemos Correia LC, Gallegos MS, Marcolin MA, Ricco MA, Cook MB, Bonilla P, Schestatsky P, Galhardoni R, Silva V, Delgado Barrera W, Caumo W, Bouhassira D, Chipchase LS, Lefaucheur JP, Teixeira MJ, de Andrade DC. Latin American and Caribbean consensus on noninvasive central nervous system neuromodulation for chronic pain management (LAC2-NIN-CP). Pain Rep. 2019 Jan 9;4(1):e692.. Estudos anteriores mostraram que diferentes protocolos de EMTr podem aumentar ou suprimir a atividade neural, bem como afetar a duração dos efeitos da estimulação88 Zheng Y, Mao YR, Yuan TF, Xu DS, Cheng LM. Multimodal treatment for spinal cord injury: a sword of neuroregeneration upon neuromodulation. Neural Regen Res. 2020;15(8):1437-50.. Por outro lado, na ETCC são considerados parâmetros como amplitude, duração, tamanho do eletrodo e número de sessões.

Apesar do número crescente de publicações que abordam o papel das NIBS no tratamento da DPC, persiste uma variabilidade notável nos resultados e nas abordagens metodológicas dos estudos. Essa inconsistência ressalta a necessidade imperativa de uma revisão e de uma síntese da literatura existente. Consequentemente, o objetivo principal do presente estudo foi avaliar o efeito e a eficácia da neuromodulação não invasiva como uma intervenção terapêutica para a DPC.

CONTEÚDO

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura com o objetivo de resumir os resultados de um conjunto de pesquisas sobre um tópico específico. Essa abordagem tem como objetivo vincular as evidências de pesquisa às práticas de saúde, com o potencial de contribuir para a assistência médica. Para organizar as informações e conduzir o estudo, foram seguidas seis etapas do processo de revisão integrativa2222 Mendes KDS, Silveira RCCP, Galvão CM. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Contexto Enfermagem, 2008;17(4):758-64..

A primeira etapa envolveu a identificação do tópico e a formulação da questão orientadora da pesquisa. A segunda etapa foi o estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão, seguido de uma pesquisa bibliográfica nos bancos de dados selecionados. Na terceira etapa, o objetivo foi identificar os estudos selecionados. A quarta etapa envolveu a categorização dos estudos selecionados. A quinta etapa consistiu na análise e discussão dos resultados. Finalmente, na sexta etapa, foi apresentada a revisão integrativa2323 Souza MT, Silva MD, Carvalho RD. Integrative review: what is it? How to do it? Einstein (São Paulo). 2010;8(1):102-6.. A pesquisa dos estudos ocorreu na seguinte ordem: busca nas bases de dados usando termos MeSH e palavras-chave, leitura dos títulos, seleção e leitura dos resumos dos estudos pré-selecionados.

A questão orientadora desta revisão foi: “Quais são os parâmetros usados na estimulação magnética transcraniana (EMT) e na estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) disponíveis na literatura para o tratamento da dor pélvica crônica”?

As buscas foram realizadas em seis bancos de dados: Pubmed, Scielo, PEDro (Physiotherapy Evidence Database), Medline, Scopus (SciVerse Scopus) e Cochrane. Os termos de pesquisa usados foram “Pelvic Pain” para dor pélvica, “Transcranial direct current stimulation” para ETCC e “Transcranial magnetic stimulation” para EMT, com base nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). O operador booleano “AND” foi usado para combinar os termos de pesquisa.

Foram excluídos os artigos que apresentavam duplicações entre os bancos de dados, que estavam fora do período de 10 anos (janeiro de 2013 a maio de 2023) e que não eram ensaios clínicos. Os critérios de elegibilidade incluíram artigos relacionados ao tópico e disponíveis em texto completo em português, inglês ou espanhol (Figura 1 para ETCC e figura 2 para EMT).

Figura 1
Critérios de elegibilidade dos artigos incluídos - ETCC

Figura 2
Critérios de elegibilidade dos artigos incluídos - EMT

A extração dos dados das leituras completas foi realizada para preencher uma tabela com os critérios de elegibilidade; após a seleção final dos estudos, foi realizada uma revisão integrativa com análise crítica dos resultados.

RESULTADOS

A pesquisa produziu um total de 50 artigos. No entanto, após aplicar os critérios de elegibilidade, apenas 7 artigos foram incluídos nesta revisão: 3 relacionados à ETCC e 4 relacionados à EMT. Entre eles, havia 2 estudos-piloto, 1 estudo de caso, 1 estudo observacional transversal e 3 ensaios clínicos. Vários motivos levaram à exclusão dos artigos restantes, incluindo o envolvimento com tópicos que não se alinhavam ao escopo desta revisão, falta de relevância significativa para o tema, estudos que já eram revisões, estudos que ainda não haviam sido realizados, bem como artigos com acesso restrito ou disponibilidade em outros idiomas que não português, inglês ou espanhol.

Para apresentar os resultados, os artigos incluídos foram agrupados e estruturados. A tabela 1 contém os artigos sobre ETCC, enquanto a tabela 2 inclui os artigos sobre EMT.

Tabela 1
Dados dos artigos sobre estimulação transcraniana por corrente contínua selecionados
Tabela 2
Dados dos artigos sobre EMT selecionados

DISCUSSÃO

Este estudo envolveu a coleta de dados sobre o tratamento de DPC usando técnicas NIBS: ETCC e EMT. Os resultados apresentados destacam a escassez de estudos sobre a relação entre as técnicas de NIBS e a DPC. Essa escassez pode ser atribuída à natureza complexa da DPC, que é uma condição multifatorial com um diagnóstico desafiador de sua etiologia.

De acordo com um estudo2121 Baptista AF, Fernandes AMBL, Sá KN, Okano AH, Brunoni AR, Lara-Solares A, Jreige Iskandar A, Guerrero C, Amescua-García C, Kraychete DC, Caparelli-Daquer E, Atencio E, Piedimonte F, Colimon F, Hazime FA, Garcia JBS, Hernández-Castro JJ, Cantisani JAF, Karina do Monte-Silva K, Lemos Correia LC, Gallegos MS, Marcolin MA, Ricco MA, Cook MB, Bonilla P, Schestatsky P, Galhardoni R, Silva V, Delgado Barrera W, Caumo W, Bouhassira D, Chipchase LS, Lefaucheur JP, Teixeira MJ, de Andrade DC. Latin American and Caribbean consensus on noninvasive central nervous system neuromodulation for chronic pain management (LAC2-NIN-CP). Pain Rep. 2019 Jan 9;4(1):e692., abordar pacientes com DPC representa um desafio para os profissionais de saúde. Muitas vezes, afirma-se que as mulheres com DPC têm de conviver com a dor, e muitos profissionais, incapazes de resolver a questão, ficam frustrados e rotulam a dor da paciente como um problema emocional, abandonando o caso em seguida. Neste estudo, a neuromodulação foi considerada como uma intervenção em potencial, pois estudos anteriores sugeriram seu potencial para tratar não apenas a dor, mas também outros aspectos, como sono, queixas cognitivas, fadiga, catastrofização, depressão e humor2121 Baptista AF, Fernandes AMBL, Sá KN, Okano AH, Brunoni AR, Lara-Solares A, Jreige Iskandar A, Guerrero C, Amescua-García C, Kraychete DC, Caparelli-Daquer E, Atencio E, Piedimonte F, Colimon F, Hazime FA, Garcia JBS, Hernández-Castro JJ, Cantisani JAF, Karina do Monte-Silva K, Lemos Correia LC, Gallegos MS, Marcolin MA, Ricco MA, Cook MB, Bonilla P, Schestatsky P, Galhardoni R, Silva V, Delgado Barrera W, Caumo W, Bouhassira D, Chipchase LS, Lefaucheur JP, Teixeira MJ, de Andrade DC. Latin American and Caribbean consensus on noninvasive central nervous system neuromodulation for chronic pain management (LAC2-NIN-CP). Pain Rep. 2019 Jan 9;4(1):e692..

Os parâmetros das técnicas de NIBS mais comumente usadas para DPC ainda estão sujeitos a debate, e pode haver achados divergentes nos estudos publicados. Com relação à área de estimulação para EMT, um estudo1818 Lefaucheur JP, Antal A, Ayache SS, Benninger DH, Brunelin J, Cogiamanian F, Cotelli M, De Ridder D, Ferrucci R, Langguth B, Marangolo P, Mylius V, Nitsche MA, Padberg F, Palm U, Poulet E, Priori A, Rossi S, Schecklmann M, Vanneste S, Ziemann U, Garcia-Larrea L, Paulus W. Evidence-based guidelines on the therapeutic use of transcranial direct current stimulation (tDCS). Clin Neurophysiol. 2017 Jan;128(1):56-92. mencionou a aplicação no M1 e no CPFDL, enquanto outro estudo2121 Baptista AF, Fernandes AMBL, Sá KN, Okano AH, Brunoni AR, Lara-Solares A, Jreige Iskandar A, Guerrero C, Amescua-García C, Kraychete DC, Caparelli-Daquer E, Atencio E, Piedimonte F, Colimon F, Hazime FA, Garcia JBS, Hernández-Castro JJ, Cantisani JAF, Karina do Monte-Silva K, Lemos Correia LC, Gallegos MS, Marcolin MA, Ricco MA, Cook MB, Bonilla P, Schestatsky P, Galhardoni R, Silva V, Delgado Barrera W, Caumo W, Bouhassira D, Chipchase LS, Lefaucheur JP, Teixeira MJ, de Andrade DC. Latin American and Caribbean consensus on noninvasive central nervous system neuromodulation for chronic pain management (LAC2-NIN-CP). Pain Rep. 2019 Jan 9;4(1):e692. apresentou parâmetros potenciais para o tratamento da DPC usando uma bobina em forma de oito posicionada sobre a região do M1. O CPFDL desempenha um papel crucial no processamento cognitivo e emocional, inclusive na modulação da dor. Ele está envolvido no controle cognitivo da dor, regulando a atenção, a emoção e os processos cognitivos relacionados à dor.

A estimulação do CPFDL pode modular a rede de dor do cérebro, influenciando a percepção da dor e reduzindo a sua intensidade da dor. O córtex motor está envolvido na geração e na modulação dos sinais de dor. A estimulação do M1 pode modular a excitabilidade e a atividade das redes neurais envolvidas no processamento da dor e modular a transmissão dos sinais de dor, alterando a percepção da dor. Duas pesquisas2424 Pinot-Monange A, Moisset X, Chauvet P, Gremeau AS, Comptour A, Canis M, Pereira B, Bourdel N. Repetitive transcranial magnetic stimulation therapy (rTMS) for endometriosis patients with refractory pelvic chronic pain: a pilot study. J Clin Med. 2019;8(4):508.,2626 Nikkola J, Holm A, Seppänen M, Joutsi T, Rauhala E, Kaipia A. Repetitive transcranial magnetic stimulation for chronic prostatitis/chronic pelvic pain syndrome: a prospective pilot study. Int Neurourol J. 2020;24(2):144-9. realizaram estudos-piloto e determinaram o M1 como a área-alvo para o tratamento da DPC, apoiando as diretrizes propostas por outro autor1414 Lefaucheur JP, Aleman A, Baeken C, Benninger DH, Brunelin J, Di Lazzaro V, Filipović SR, Grefkes C, Hasan A, Hummel FC, Jääskeläinen SK, Langguth B, Leocani L, Londero A, Nardone R, Nguyen JP, Nyffeler T, Oliveira-Maia AJ, Oliviero A, Padberg F, Palm U, Paulus W, Poulet E, Quartarone A, Rachid F, Rektorová I, Rossi S, Sahlsten H, Schecklmann M, Szekely D, Ziemann U. Evidence-based guidelines on the therapeutic use of repetitive transcranial magnetic stimulation (rTMS): An update (2014-2018). Clin Neurophysiol. 2020 Feb;131(2):474-528.. Além disso, um estudo2525 Zakka TRM, Yeng LT, Teixeira MJ, Rosi Júnior J. Dor pélvica crônica não visceral: tratamento multidisciplinar. Relato de caso. Rev Dor. 2013;14(3):231-3. realizou uma pesquisa observacional de corte transversal usando a área M1 e relatou efeitos analgésicos no tratamento da DPC.

Com relação à frequência usada na EMT, os estudos descritos2424 Pinot-Monange A, Moisset X, Chauvet P, Gremeau AS, Comptour A, Canis M, Pereira B, Bourdel N. Repetitive transcranial magnetic stimulation therapy (rTMS) for endometriosis patients with refractory pelvic chronic pain: a pilot study. J Clin Med. 2019;8(4):508.

25 Zakka TRM, Yeng LT, Teixeira MJ, Rosi Júnior J. Dor pélvica crônica não visceral: tratamento multidisciplinar. Relato de caso. Rev Dor. 2013;14(3):231-3.
-2626 Nikkola J, Holm A, Seppänen M, Joutsi T, Rauhala E, Kaipia A. Repetitive transcranial magnetic stimulation for chronic prostatitis/chronic pelvic pain syndrome: a prospective pilot study. Int Neurourol J. 2020;24(2):144-9. chegaram a um consenso sobre o uso de 10 Hz para o tratamento da DPC. Quanto à determinação da cadência de pulsos, dois estudos2424 Pinot-Monange A, Moisset X, Chauvet P, Gremeau AS, Comptour A, Canis M, Pereira B, Bourdel N. Repetitive transcranial magnetic stimulation therapy (rTMS) for endometriosis patients with refractory pelvic chronic pain: a pilot study. J Clin Med. 2019;8(4):508.,2626 Nikkola J, Holm A, Seppänen M, Joutsi T, Rauhala E, Kaipia A. Repetitive transcranial magnetic stimulation for chronic prostatitis/chronic pelvic pain syndrome: a prospective pilot study. Int Neurourol J. 2020;24(2):144-9. usaram 1.500 trens de pulsos por sessão, enquanto outro estudo2525 Zakka TRM, Yeng LT, Teixeira MJ, Rosi Júnior J. Dor pélvica crônica não visceral: tratamento multidisciplinar. Relato de caso. Rev Dor. 2013;14(3):231-3. optou pelo dobro dessa quantidade. Todos os estudos encontraram efeitos positivos nos limiares de dor em suas respectivas amostras. Outro parâmetro a ser considerado é a duração do trem de pulso e o intervalo entre os trens de pulsos. Dois estudos22 Calabrò RS, Billeri L, Porcari B, Pignolo L, Naro A. When two is better than one: a pilot study on transcranial magnetic stimulation plus muscle vibration in treating chronic pelvic pain in women. Brain Sci. 2022;12(3):396.,2626 Nikkola J, Holm A, Seppänen M, Joutsi T, Rauhala E, Kaipia A. Repetitive transcranial magnetic stimulation for chronic prostatitis/chronic pelvic pain syndrome: a prospective pilot study. Int Neurourol J. 2020;24(2):144-9. forneceram valores para esses parâmetros, com uma proporção de 5s a 26s e 10s a 20s, respectivamente. Por fim, o limiar motor em repouso (LMR) e a duração da sessão não foram especificados por todos os autores, apenas por um2525 Zakka TRM, Yeng LT, Teixeira MJ, Rosi Júnior J. Dor pélvica crônica não visceral: tratamento multidisciplinar. Relato de caso. Rev Dor. 2013;14(3):231-3., que determinou um LMR de 80% com uma duração de sessão de 15 minutos. Em resumo, todos os artigos apoiam a eficácia e a segurança da terapia com EMT como uma alternativa viável para o tratamento da DPC.

Com relação à ETCC, a padronização da área-alvo é fundamental para garantir os efeitos desejados nos limiares de dor. Um estudo clínico controlado duplo-cego11 Divandari N, Manshadi FD, Shokouhi N, Vakili M, Jaberzadeh S. Effect of one session of tDCS on the severity of pain in women with chronic pelvic pain. J Bodyw Mov Ther. 2019;23(3):678-82. usou o M1 e o CPFDL como áreas-alvo para o tratamento de DPC, o que resultou em um resultado positivo na redução dos limiares de dor. Além disso, um ensaio clínico randomizado de 2016 utilizou o M1 e o lado contralateral da área supraorbital em uma população com DPC, resultando em um impacto significativo e positivo nos limiares sensoriais e de dor2727 Simis M, Reidler JS, Duarte Macea D, Moreno Duarte I, Wang X, Lenkinski R, Petrozza JC, Fregni F. Investigation of central nervous system dysfunction in chronic pelvic pain using magnetic resonance spectroscopy and noninvasive brain stimulation. Pain Pract. 2015;15(5):423-32.. Além disso, uma pesquisa2828 Harvey MP, Watier A, Dufort Rouleau É, Léonard G. Non-invasive stimulation techniques to relieve abdominal/pelvic pain: Is more always better? World J Gastroenterol. 2017;23(20):3758-60. combinou a ETCC com a estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS), com aplicação da ETCC na região M1 contralateral à dor, e da TENS nas regiões abdominal inferior e/ou lombar, juntamente à região tibial. Com base na análise de uma única sessão, essa combinação não produziu benefícios adicionais em pacientes com DPC.

Com relação à amplitude, um estudo11 Divandari N, Manshadi FD, Shokouhi N, Vakili M, Jaberzadeh S. Effect of one session of tDCS on the severity of pain in women with chronic pelvic pain. J Bodyw Mov Ther. 2019;23(3):678-82. optou por 0,3 mA, enquanto outros estudos2727 Simis M, Reidler JS, Duarte Macea D, Moreno Duarte I, Wang X, Lenkinski R, Petrozza JC, Fregni F. Investigation of central nervous system dysfunction in chronic pelvic pain using magnetic resonance spectroscopy and noninvasive brain stimulation. Pain Pract. 2015;15(5):423-32.,2828 Harvey MP, Watier A, Dufort Rouleau É, Léonard G. Non-invasive stimulation techniques to relieve abdominal/pelvic pain: Is more always better? World J Gastroenterol. 2017;23(20):3758-60. optaram por 2 mA. Em termos de tempo de aplicação, apenas um estudo2828 Harvey MP, Watier A, Dufort Rouleau É, Léonard G. Non-invasive stimulation techniques to relieve abdominal/pelvic pain: Is more always better? World J Gastroenterol. 2017;23(20):3758-60. diferiu, com duração de sessão de 20 minutos, enquanto os demais autores utilizaram sessões de 30 minutos. Alguns desses achados se alinham com as recomendações publicadas2121 Baptista AF, Fernandes AMBL, Sá KN, Okano AH, Brunoni AR, Lara-Solares A, Jreige Iskandar A, Guerrero C, Amescua-García C, Kraychete DC, Caparelli-Daquer E, Atencio E, Piedimonte F, Colimon F, Hazime FA, Garcia JBS, Hernández-Castro JJ, Cantisani JAF, Karina do Monte-Silva K, Lemos Correia LC, Gallegos MS, Marcolin MA, Ricco MA, Cook MB, Bonilla P, Schestatsky P, Galhardoni R, Silva V, Delgado Barrera W, Caumo W, Bouhassira D, Chipchase LS, Lefaucheur JP, Teixeira MJ, de Andrade DC. Latin American and Caribbean consensus on noninvasive central nervous system neuromodulation for chronic pain management (LAC2-NIN-CP). Pain Rep. 2019 Jan 9;4(1):e692., que sugerem o M1 contralateral ou o lado dominante como áreas-alvo, usando uma amplitude de 2 mA e uma duração de sessão de 20 a 30 minutos.

Os resultados dos estudos avaliados geralmente coincidem, com as técnicas mencionadas mostrando potencial para melhorar os sintomas da dor e aumentar a QV dos participantes, com efeitos adversos mínimos. Esses achados ressaltam a relevância das técnicas de NIBS para a DPC e enfatizam a necessidade de mais ensaios clínicos randomizados envolvendo populações maiores.

As NIBS são uma abordagem inovadora no campo da pesquisa e do tratamento neurocientífico. Essas técnicas oferecem a capacidade de modular a atividade cerebral sem a necessidade de intervenções cirúrgicas ou implantação de eletrodos. Embora sejam muito promissoras, é essencial reconhecer os efeitos adversos associados a elas. Os efeitos adversos mais graves relatados são convulsões e síncope neurocardiogênica. Os efeitos adversos menores incluem dor de cabeça, desconforto no couro cabeludo, tremores, fadiga e tinitus. Entretanto, em um contexto mais amplo, vale a pena observar que esses efeitos são relativamente poucos e a maioria é transitória2626 Nikkola J, Holm A, Seppänen M, Joutsi T, Rauhala E, Kaipia A. Repetitive transcranial magnetic stimulation for chronic prostatitis/chronic pelvic pain syndrome: a prospective pilot study. Int Neurourol J. 2020;24(2):144-9..

Os estudos incluídos nesta revisão foram limitados em termos de escopo e tamanho da amostra, geralmente envolvendo apenas uma única sessão de NIBS. É necessário realizar mais ensaios clínicos randomizados e controlados, bem projetados e em larga escala, com populações mais amplas, várias sessões de tratamento e acompanhamento de longo prazo para estabelecer relações de parâmetros mais confiáveis. Além disso, foi identificado um número limitado de publicações sobre o tema, o que dificultou a realização desta revisão, mesmo considerando as limitações inerentes à metodologia utilizada em uma revisão integrativa.

CONCLUSÃO

As técnicas de NIBS, especialmente quando têm como alvo o córtex M1, surgem como um caminho promissor para aliviar a DPC. Os estudos revisados neste artigo demonstraram melhorias significativas nos níveis de dor e na QV geral dos pacientes. Especificamente, o córtex M1 tem sido utilizado com frequência, destacando sua possível relevância no controle da DPC. Entretanto, apesar desses resultados animadores, ainda não há consenso sobre os parâmetros precisos para o uso de técnicas como a EMT e a ETCC especificamente para a DPC. À medida que o campo avança, é imperativo realizar mais pesquisas para otimizar e padronizar esses parâmetros, garantindo a eficácia e a segurança dos pacientes.

REFERENCES

  • 1
    Divandari N, Manshadi FD, Shokouhi N, Vakili M, Jaberzadeh S. Effect of one session of tDCS on the severity of pain in women with chronic pelvic pain. J Bodyw Mov Ther. 2019;23(3):678-82.
  • 2
    Calabrò RS, Billeri L, Porcari B, Pignolo L, Naro A. When two is better than one: a pilot study on transcranial magnetic stimulation plus muscle vibration in treating chronic pelvic pain in women. Brain Sci. 2022;12(3):396.
  • 3
    Nogueira AA, Reis FJC, Poli Neto OB. Abordagem da dor pélvica crônica em mulheres. Rev Bras Ginecol Obstet. 2006;28(12):733-40.
  • 4
    Lamvu G, Carrillo J, Ouyang C, Rapkin A. Chronic pelvic pain in women: a review. JAMA, 2021;325(23):2381-91.
  • 5
    Stratton P, Khachikyan I, Sinaii N, Ortiz R, Shah J. Association of chronic pelvic pain and endometriosis with signs of sensitization and myofascial pain. Obstet Gynecol. 2015;125(3):719-28.
  • 6
    Engeler D. Guidelines on chronic pelvic pain. Eur Assoc Urol. 2022.
  • 7
    Shi JY, Paredes Mogica JA, De EJB. Non-surgical management of chronic pelvic pain in females. Curr Urol Rep. 2022;23(10):245-54.
  • 8
    Zheng Y, Mao YR, Yuan TF, Xu DS, Cheng LM. Multimodal treatment for spinal cord injury: a sword of neuroregeneration upon neuromodulation. Neural Regen Res. 2020;15(8):1437-50.
  • 9
    Toledo RS, Stein DJ, Sanches PRS, da Silva LS, Medeiros HR, Fregni F, Caumo W, Torres ILS. rTMS induces analgesia and modulates neuroinflammation and neuroplasticity in neuropathic pain model rats. Brain Res. 2021;1762:147427.
  • 10
    Kesikburun S. Non-invasive brain stimulation in rehabilitation. Turk J Phys Med Rehabil. 2022;68(1):1-8.
  • 11
    Soler MD, Kumru H, Pelayo R, Vidal J, Tormos JM, Fregni F, Navarro X, Pascual-Leone A. Effectiveness of transcranial direct current stimulation and visual illusion on neuropathic pain in spinal cord injury. Brain. 2010 Sep;133(9):2565-77.
  • 12
    Mahoney JJ 3rd, Hanlon CA, Marshalek PJ, Rezai AR, Krinke L. Transcranial magnetic stimulation, deep brain stimulation, and other forms of neuromodulation for substance use disorders: Review of modalities and implications for treatment. J Neurol Sci. 2020;418:117149.
  • 13
    Somaa FA, de Graaf TA, Sack AT. Transcranial magnetic stimulation in the treatment of neurological diseases. Front Neurol. 2022;13:793253.
  • 14
    Lefaucheur JP, Aleman A, Baeken C, Benninger DH, Brunelin J, Di Lazzaro V, Filipović SR, Grefkes C, Hasan A, Hummel FC, Jääskeläinen SK, Langguth B, Leocani L, Londero A, Nardone R, Nguyen JP, Nyffeler T, Oliveira-Maia AJ, Oliviero A, Padberg F, Palm U, Paulus W, Poulet E, Quartarone A, Rachid F, Rektorová I, Rossi S, Sahlsten H, Schecklmann M, Szekely D, Ziemann U. Evidence-based guidelines on the therapeutic use of repetitive transcranial magnetic stimulation (rTMS): An update (2014-2018). Clin Neurophysiol. 2020 Feb;131(2):474-528.
  • 15
    Leung A, Metzger-Smith V, He Y, Cordero J, Ehlert B, Song D, Lin L, Shahrokh G, Tsai A, Vaninetti M, Rutledge T, Polston G, Sheu R, Lee R. Left dorsolateral prefrontal cortex rTMS in alleviating MTBI related headaches and depressive symptoms. Neuromodulation. 2018;21(4):390-401
  • 16
    Ambriz-Tututi M, Alvarado-Reynoso B, Drucker-Colín R. Analgesic effect of repetitive transcranial magnetic stimulation (rTMS) in patients with chronic low back pain. Bioelectromagnetics. 2016;37(8):527-35.
  • 17
    Leung A, Shukla S, Fallah A, Song D, Lin L, Golshan S, Tsai A, Jak A, Polston G, Lee R. Repetitive transcranial magnetic stimulation in managing mild traumatic brain injury-related headaches. Neuromodulation. 2016;19(2):133-41.
  • 18
    Lefaucheur JP, Antal A, Ayache SS, Benninger DH, Brunelin J, Cogiamanian F, Cotelli M, De Ridder D, Ferrucci R, Langguth B, Marangolo P, Mylius V, Nitsche MA, Padberg F, Palm U, Poulet E, Priori A, Rossi S, Schecklmann M, Vanneste S, Ziemann U, Garcia-Larrea L, Paulus W. Evidence-based guidelines on the therapeutic use of transcranial direct current stimulation (tDCS). Clin Neurophysiol. 2017 Jan;128(1):56-92.
  • 19
    Woods AJ, Antal A, Bikson M, Boggio PS, Brunoni AR, Celnik P, Cohen LG, Fregni F, Herrmann CS, Kappenman ES, Knotkova H, Liebetanz D, Miniussi C, Miranda PC, Paulus W, Priori A, Reato D, Stagg C, Wenderoth N, Nitsche MA. A technical guide to tDCS, and related non-invasive brain stimulation tools. Clin Neurophysiol. 2016;127(2):1031-48
  • 20
    Wang WL, Wang SY, Hung HY, Chen MH, Juan CH, Li CT. Safety of transcranial magnetic stimulation in unipolar depression: A systematic review and meta-analysis of randomized-controlled trials. J Affect Disord. 2022;301:400-25
  • 21
    Baptista AF, Fernandes AMBL, Sá KN, Okano AH, Brunoni AR, Lara-Solares A, Jreige Iskandar A, Guerrero C, Amescua-García C, Kraychete DC, Caparelli-Daquer E, Atencio E, Piedimonte F, Colimon F, Hazime FA, Garcia JBS, Hernández-Castro JJ, Cantisani JAF, Karina do Monte-Silva K, Lemos Correia LC, Gallegos MS, Marcolin MA, Ricco MA, Cook MB, Bonilla P, Schestatsky P, Galhardoni R, Silva V, Delgado Barrera W, Caumo W, Bouhassira D, Chipchase LS, Lefaucheur JP, Teixeira MJ, de Andrade DC. Latin American and Caribbean consensus on noninvasive central nervous system neuromodulation for chronic pain management (LAC2-NIN-CP). Pain Rep. 2019 Jan 9;4(1):e692.
  • 22
    Mendes KDS, Silveira RCCP, Galvão CM. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Contexto Enfermagem, 2008;17(4):758-64.
  • 23
    Souza MT, Silva MD, Carvalho RD. Integrative review: what is it? How to do it? Einstein (São Paulo). 2010;8(1):102-6.
  • 24
    Pinot-Monange A, Moisset X, Chauvet P, Gremeau AS, Comptour A, Canis M, Pereira B, Bourdel N. Repetitive transcranial magnetic stimulation therapy (rTMS) for endometriosis patients with refractory pelvic chronic pain: a pilot study. J Clin Med. 2019;8(4):508.
  • 25
    Zakka TRM, Yeng LT, Teixeira MJ, Rosi Júnior J. Dor pélvica crônica não visceral: tratamento multidisciplinar. Relato de caso. Rev Dor. 2013;14(3):231-3.
  • 26
    Nikkola J, Holm A, Seppänen M, Joutsi T, Rauhala E, Kaipia A. Repetitive transcranial magnetic stimulation for chronic prostatitis/chronic pelvic pain syndrome: a prospective pilot study. Int Neurourol J. 2020;24(2):144-9.
  • 27
    Simis M, Reidler JS, Duarte Macea D, Moreno Duarte I, Wang X, Lenkinski R, Petrozza JC, Fregni F. Investigation of central nervous system dysfunction in chronic pelvic pain using magnetic resonance spectroscopy and noninvasive brain stimulation. Pain Pract. 2015;15(5):423-32.
  • 28
    Harvey MP, Watier A, Dufort Rouleau É, Léonard G. Non-invasive stimulation techniques to relieve abdominal/pelvic pain: Is more always better? World J Gastroenterol. 2017;23(20):3758-60.
  • 29
    Krishnan C, Santos L, Peterson MD, Ehinger M. Safety of noninvasive brain stimulation in children and adolescents. Brain Stimul. 2015;8(1):76-87.
  • 30
    Louppe JM, Nguyen JP, Robert R, Buffenoir K, de Chauvigny E, Riant T, Péréon Y, Labat JJ, Nizard J. Motor cortex stimulation in refractory pelvic and perineal pain: report of two successful cases. Neurourol Urodyn. 2013;32(1):53-7.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Out 2023
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2023

Histórico

  • Recebido
    07 Jun 2023
  • Aceito
    28 Ago 2023
Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 937 Cj2 - Vila Mariana, CEP: 04014-012, São Paulo, SP - Brasil, Telefones: , (55) 11 5904-2881/3959 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: dor@dor.org.br