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Festschrift em homenagem ao Professor Antonio José Romera Valverde

Festschrift in honor of Professor Antonio José Romera Valverde

Festschrift en honor al profesor Antonio José Romera Valverde

A partir desta edição, a Revista de Filosofia Aurora inaugura uma sessão temática em homenagem a um dos seus editores, o Professor Antonio José Romera Valverde, como celebração de seus setenta anos e, principalmente, de sua enorme contribuição para a pesquisa de Filosofia em solo brasileiro. A Aurora tem a alegria de ter sido veículo de vários de seus artigos e, nesta ocasião, rende-se ao talento, à erudição e à acuidade teórica de um dos mais instigantes pensadores brasileiros. Mas o Professor Valverde é bem mais do que isso: é uma pessoa admirável, de uma rara educação e de um primoroso senso de fraternidade, cunhado com toques de humor e de humildade epistemológica exemplar. Apresentando-se como um dos maiores especialistas em Filosofia da Renascença, seus estudos têm alimentado um grande número de “seguidores/as”, entre colegas, estudantes e, principalmente, orientandos e orientandas de várias universidades nacionais e internacionais. A partir da “terra da garoa” e dos corredores da PUC-SP, sua presença inspira muitas pessoas. Algumas delas foram convidadas a participar desta homenagem. Por razões óbvias, os convites foram limitados, dado que a profusão de amigos/as exigiria um espaço que este veículo não dispõe. O que aqui se publicará, portanto, é apenas um exemplo do debate profundo que o Valverde mantém com seus interlocutores/as.

A Revista de Filosofia Aurora agradece profundamente ao Prof. Dr. Marcelo Perine por ter aceitado o convite para organizar esta homenagem. Não haveria uma pessoa mais disposta, compreensiva e conhecedora do trabalho do Valverde e, nisso, a Aurora teve muita sorte. As pessoas convidadas expressam o horizonte de diálogo que o próprio Valverde nutriu ao longo dos anos e do qual surgiram inúmeros e frutíferos debates.

O Festschrift ao Professor Antonio José Romera Valverde é um encontro de amigos e amigas que, simbolicamente, representam todos esses interlocutores. Trata-se da celebração de uma vida que se dispôs - como é o mais devido, filosoficamente falando - ao diálogo. E com isso, testemunha a urgência de uma prática que agora mesmo, desfalece na incapacidade de suportar o diferente, o dissonante e o contraditório. Como diálogo teórico, essa festa testemunha o que o próprio Valverde pratica: o sempre renovado gosto pelo debate, capaz de aceitar as diferenças e aprender com elas.

O Festschrift será publicado nos próximos quatro números da Revista de Filosofia Aurora e contará com artigos dos seguintes colegas: Celso Favaretto, Ericson Falabretti, Gian Luca Potestà, Ivan Domingues, Ivo Ibri, Marcelo Perine, Paulo Raphael de O. Andrade, Lilian Simone Fonseca, Luiz C. Bombassaro, Mario Porta, Sidnei Francisco e Wolfgang Leo Maar.

Para terminar este editorial, a Aurora publica um depoimento emotivo de uma das colegas e amigas mais diletas de Valverde, a Professora Salma Tannus Muchail. Com suas palavras, traduzimos tanto o sentimento de toda comunidade filosófica da Aurora, que também está cheia de Pedaços de lembranças:

“O pedaço mais longínquo talvez seja o da mineirice. O motivo da lembrança, entre outros, é que a mineirice do Valverde cruza com a minha em casual coincidência. É raríssimo encontrar, na grande metrópole paulistana, alguém que tenha conhecimento da pequenina ‘Cidade do Prata’, localizada no Triângulo Mineiro, onde nasci e vivi meus primeiros anos. Ora, pois não é que o Valverde, mineiro de Poços de Caldas, conhece pessoalmente minha querida e distante cidade? Dessa casualidade trago a referência a um livro, igualmente raro, cujo título é: Vamos esperar o sol... É uma coletânea escrita a várias mãos, em homenagem a Arnaldo Afonso de Souza (homem erudito, que sabia de cor Os Lusíadas, de Camões), também nascido no Prata, pai da Maria Helena e sogro do Valverde. Tive o prazer de receber um exemplar desta tão particular publicação. Nela encontro, entre outras, fotos do Colégio São Luiz, atual Colégio Estadual do Prata, onde habitei o universo das primeiras letras e dos primeiros números. Nesta coletânea, um texto bem-humorado do Valverde, pontilhado de sinais que lhe são característicos; com efeito, ali ele fala de ‘situações saia justa’, faz menção ao Renascimento, inventa a expressão ‘mineiraltices fundantes’.

Outro pedaço de lembrança é a vivência da dupla relação com o Valverde, primeiro como aluno, depois como colega. Trago como referência o trecho inicial de um discurso do Valverde, de 2004. Conferido a mim pelo Conselho Universitário da PUC/SP, o título de ‘professora emérita’ partiu da iniciativa do Valverde com o apoio de Márcio Alves da Fonseca, à época, respectivamente, chefe do Departamento e Coordenador do Curso de Graduação em Filosofia. Do discurso, a passagem inicial:

‘A memória afetiva viaja no tempo e como num processo de pentimento - pelo retirar das camadas sobrepostas de tinta numa mesma pintura - vejo-me seu aluno do Curso de Filosofia (...). Décadas após felicito a Professora-primeira, minha primeira professora de Filosofia (...)’. Hoje, outro tanto tempo depois, repito suas palavras de colega para saudar o aluno das primeiras lições.

Mais um ‘causo’, este bem mais recente, é a ‘aula magna’ do primeiro semestre de 2022, que tive a honra de ministrar para o Curso de Filosofia da PUC/SP, a convite do Programa de Estudos Pós-Graduados sob a atual coordenação do Professor Valverde. Desta aula, extraio dois traços que escolho aqui inserir para ofertar ao nosso homenageado. Primeiramente, algumas reflexões contidas naquela aula tratam de Dom Quixote e do Renascimento: ofereço-as por ser este o belo período histórico da filosofia ao qual o Professor Valverde escolheu dedicar-se. Em segundo lugar, uma certa mistura de pensamento e poesia que marca o estilo daquela aula, terminando com remissões a poetas mineiros (como Guimarães Rosa e Milton Nascimento): também lhe ofereço porque creio ser do seu gosto.

Finalmente, permito-me recolocar-me na posição de professora para externar uma suspeita que é também expressão de um desejo. Suspeito que o Valverde é um daqueles professores de filosofia que, além de ‘profissional’ do pensamento, traz (ou esconde) dentro de si uma certa chama de sensibilidade poética; afinal, é ele quem, há algum tempo, mesmo em ofícios burocráticos, saudava seus colegas com uma exclamação pouco usual, buscada em algum português clássico, e com certo tempero artístico. Repito a exclamação para reavivar aquela chama e com ela saudá-lo: Alvíssaras!”

Parabéns, caro amigo Valverde. Que tudo continue sempre azul!

Referências

  • VALVERDE, A. J. R. Apontamentos à fortuna crítica de Il Principe, de Machiavelli: de Gentillet a Gramsci e a recepção brasileira.Pensando: Revista de Filosofia (Ufpi), v. 10, n. 21, p. 26-43, 2019. DOI: https://doi.org/10.26694/.v10i21.9082.
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  • VALVERDE, A. J. R. Trabalho, ócio, preguiça: cumpre imaginar Sísifo feliz! Revista de Filosofia Aurora, Curitiba: Editora PUCPRESS, v. 30, N. 50, p. 424-449, 2018b. DOI: https://doi.org/10.7213/1980-5934.30.050.AO04
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  • VALVERDE, A. J. R. Aportes a Oratio De Hominis Dignitate, de Pico Della Mirandola. Revista de Filosofia Aurora, Curitiba, v. 21, n. 29, p. 457-480, 2009. DOI: https://periodicos.pucpr.br/aurora/article/view/2608
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  • VALVERDE, A. J. R.; SGANZERLA, A. (Org.); FALABRETTI, E. (Org.) . O Pensamento Político em Movimento: Ensaios de Filosofia Política, II. 1. ed. Curitiba-PR: PUCPRESS, 2018a. v. 1. 518p .

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Ago 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    11 Maio 2023
  • Aceito
    11 Maio 2023
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